Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS ANEMIA FERROPRIVA: A anemia ferropriva é causada pela deficiência de ferro, sendo considerada uma das doenças mais frequentes em todo o mundo, e a principal representante das anemias microcítica e normocrômica. METABOLISMO DO FERRO: Como é um metal pesado, o ferro não se encontra frequentemente em sua forma livre (tóxica e insolúvel), mas sim ligado a múltiplas proteínas, como citocromo, mioglobina (estoque de O2 nos músculos esqueléticos) e, com maior destaque, a hemoglobina, nas quais compõe o grupo heme. Além desses compostos, o ferro pode ser armazenado em múltiplos tecidos, dessa vez como ferritina (depósito) ou hemossiderina (associada a macrófagos da medula óssea, fígado e baço). A absorção intestinal de ferro é regulada constantemente de acordo com a necessidade desse mineral, mantendo uma média de 0,5 a 2 mg por dia, suficientes para suprir as perdas orgânicas. Situações em que os estoques férricos estão escassos levam ao aumento global de sua absorção, mesmo as menos eficientes. O ferro consumido na dieta pode assumir várias apresentações, como fígado, proteínas de origem animal, feijão e espinafre. Ressalta-se também que sua ingestão junto a produtos com ftalatos e cálcio pode levar ao retardo na captação intestinal, ao passo que a vitamina C é um grande potencializador desse processo. Alimentos associados a alterações na captação do ferro da dieta Além dessa influência “externa”, a forma assumida pelo ferro nos alimentos também está diretamente relacionada à facilidade com a qual o intestino realizará sua absorção: Ferro heme: encontrado em carnes, é o tipo mais absorvível dessa substância; Ferro não heme (inorgânico): está presente em vegetais, tendo absorção limitada à presença de ácido clorídrico e diversos outros fatores no TGI. Para que esse mineral esteja disponível para ser incorporado à hemoglobina, primeiro é necessário que ele deixe o lúmen intestinal. Isso ocorre por meio de diversos processos, a saber: Passagem pela membrana apical do enterócito: é mediado pelo DMT1, que também carrega outros minerais diversos. Após essa etapa inicial, o ferro inorgânico deve se tornar biodisponível (Fe2+ - ferro ferroso), o que ocorre por intermédio da DcytB; “Bifurcação” no citoplasma: após penetrar nos enterócitos, o ferro pode tanto ser armazenado como ferritina em meio intracelular, como ser direcionado à circulação; Homens adultos saudáveis possuem cerca de 3 a 4 g de ferro em seu organismo, volume que é 30 a 40% menor em mulheres na idade fértil (fruto da perda de sangue durante a menstruação). Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS Transporte pela membrana basolateral: caso a última opção acima seja preferida, o ferro será novamente oxidado a Fe3+ pela hefaestina, de modo que possa ser carreado pela ferritina, único exportador desse mineral. Etapas da absorção intestinal de ferro Com o final da “travessia” pelo enterócito, o ferro atinge o plasma, se ligando à transferrina, que recebe tanto o mineral oriundo da dieta quanto aquele “reciclado” pelo corpo, liberando-o para os músculos, eritroblastos ou outros tecidos. Essa interação é mediada pelo TfR1, presente na maioria dos tipos celulares, e pelo TfR2, mais “especializado”, uma vez que é encontrado somente nos hepatócitos, células eritroides e nas criptas duodenais. No tecido-alvo esse complexo entre transferrina e TfR é endocitado, processo que causa nova redução a ferro ferroso, permitindo sua liberação para o citoplasma (uso da DMT1), a partir de onde passa a integrar múltiplos processos. Como principais reguladores de todo esse mecanismo metabólico, destacam-se: Bloqueio mucoso: representa a modulação da absorção intestinal baseada na dieta, impedindo a criação de depósitos excessivos de ferritina a partir da interação entre proteínas HPE das criptas e o receptor de transferrina; Hepcidina: substância que reduz a taxa de absorção férrica por meio do controle de expressão da ferroportina, presente em macrófagos ou no fígado, modulando a exposição de seus receptores; Impacto da hepicidina no metabolismo do ferro Regulação hematopoiética: mediante a elevação da eritropoietina e do GDF-15, a absorção de ferro também aumenta, independentemente de estoques prévios. Ciclo do ferro no organismo Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS ETIOLOGIA DA ANEMIA FERROPRIVA: A deficiência de ferro pode apresentar múltiplas causas, como sangramentos, ingesta insuficiente e aumento da demanda metabólica, como o crescimento. Nota-se que fatores nutricionais raramente são a única etiologia da anemia. Principais causas da deficiência de ferro Como principais fatores de risco para o desenvolvimento desse quadro, destacam- se: Crianças entre 6 meses e 2 anos de idade; Gestantes; Doadores frequentes de sangue; Indivíduos em treinamento físico intenso; Indivíduos que ingerem ferro heme em baixa quantidade. ACHADOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICO: Uma vez que as anemias carenciais se instalam de forma lenta, o organismo consegue se adaptar e continuar assintomático, mesmo com níveis baixos de hemoglobina. Os sintomas, quando presentes, seguem um padrão comum à maioria das anemias carenciais: Palidez cutaneomucosa; Vertigem; Cefaleia; Hipotensão postural e lipotimia; Fraqueza e astenia; Anorexia; Sopros sistólicos, palpitações e angina; Alterações na pele e fâneros: o Quelite angular; Lesões no canto da boca, conhecidas como quelite angular o Coiloníquia (unhas em formato de colher). Exemplo de unha afetada por coiloníquia Um ponto de destaque, no entanto, é a pica, perversão do apetite que pode causar desejo de consumir itens pouco usuais, como gelo, arroz cru ou tijolos. Na investigação clínica, cabe lembrar que a deficiência de ferro é sempre secundária a algo, então se torna necessário identificar sinais de alerta na alimentação ou predisposições a sangramentos. Nos exames complementares, as alterações mais significativas são: Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIAS Alterações laboratoriais sugestivas de anemia ferropriva Diminuição da ferritina sérica (≤ 12 ng/mL): é um sinal precoce de carência nutricional, precedendo a anemia em si; É a melhor forma para comprovar a deficiência de ferro. Aumento da capacidade de ligação do ferro; Não é patognomônica da anemia, podendo ser observada em doenças infecciosas, inflamações e até mesmo após o consumo de álcool Depleção de transferrina; Suas alterações são inversamente proporcionais à carência por ferro. Microcitose e diminuição da concentração de hemoglobina (hipocromia); Hemácias normais (A) e microcíticas (B) em esfregaço Alteração do RDW: as hemácias tendem à anisocitose com o aumento da concentração de células diminutas. Corresponde a uma alteração inicial em pacientes anêmicos. Evolução das alterações fisiológicas na anemia e seu impacto laboratorial Como diagnósticos diferenciais é necessário descartar outras causas de anemia microcítica e hipocrômica, como as talassemias ou a anemia de doenças crônicas, comum em pacientes hospitalizados. Para excluir a betatalassemia, é necessário realizar a eletroforese de hemoglobina, que indica níveis elevados de Hb A2. Fluxograma para investigação de anemias microcíticas Após a confirmação laboratorial, é imprescindível investigar perdas sanguíneas, buscando-as exaustivamente, principalmente em idosos > 65 anos. Júlia Figueirêdo – FADIGA, PERDA DEPESO E ANEMIAS TRATAMENTO: A primeira escolha no manejo da anemia ferropriva é a reposição de ferro por via oral, lembrando sempre de controlar a doença de base (quando possível). Essa estratégia deve ser mantida por cerca de 6 meses, de forma a normalizar índices laboratoriais e repor estoques de ferro. Após a regularização do quadro, recomenda-se que o tratamento seja mantido por mais 3 a 6 meses. O medicamento mais comum para esse processo é o sulfato ferroso (120 a 180 mg de ferro elementar/dia). Seu principal efeito colateral é o desconforto abdominal, remediado por administrações junto às refeições (cítricos são recomendados para estimular a absorção). Quando realizado corretamente, há elevação média de cerca de 2 g/dL após 3 semanas. A microcitose é corrigida mais lentamente. Estratégias parenterais devem ser escolhida somente se houverem perdas sanguíneas intensas, intolerância real ao tratamento VO ou doenças que prejudiquem a absorção via TGI. Dose: 200 mcg de ferro em infusões controladas
Compartilhar