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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELETROTÉCNICA CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO ALEXANDRE DE CAMARGO BRUNO AUGUSTO ANTUNES LUCAS PLENTZ MOTTA ESTUDO DO CONTROLE DIGITAL DE UM RETIFICADOR BOOST TRIFÁSICO BIDIRECIONAL ATRAVÉS DE MODULAÇÃO VETORIAL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2018 ALEXANDRE DE CAMARGO BRUNO AUGUSTO ANTUNES LUCAS PLENTZ MOTTA ESTUDO DO CONTROLE DIGITAL DE UM RETIFICADOR BOOST TRIFÁSICO BIDIRECIONAL ATRAVÉS DE MODULAÇÃO VETORIAL Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado à disciplina de TCC 2, do curso de Engenharia de Controle e Automação do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) como requisito para obtenção do título de Engenheiro de Controle e Automação. Orientador: Adriano Ruseler, Dr. Eng. CURITIBA 2018 A folha de aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso de Engenharia de Controle e Automação ALEXANDRE DE CAMARGO BRUNO AUGUSTO ANTUNES LUCAS PLENTZ MOTTA ESTUDO DO CONTROLE DIGITAL DE UM RETIFICADOR BOOST TRIFÁSICO BIDIRECIONAL ATRAVÉS DE MODULAÇÃO VETORIAL Este Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação foi julgado e aprovado como requisito parcial para a obtenção do Título de Engenheiro de Controle e Automação, do curso de Engenharia de Controle e Automação do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Os alunos foram arguidos pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado. Curitiba, 22 de Novembro de 2018. ____________________________________ Prof. Esp. Paulo Sergio Walenia Coordenador de Curso Engenharia de Controle e Automação ____________________________________ Prof. Dr. Marcelo de Oliveira Rosa Responsável pelos Trabalhos de Conclusão de Curso de Engenharia do Controle e Automação do DAELT BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Prof. Dr. Adriano Ruseler Universidade Tecnológica Federal do Paraná Orientador _____________________________________ Prof. Dr. Alceu André Badin Universidade Tecnológica Federal do Paraná _____________________________________ Prof. Dr. Daniel Flores Cortez Universidade Tecnológica Federal do Paraná RESUMO ANTUNES, Bruno Augusto; CAMARGO, Alexandre de; MOTTA, Lucas Plentz. Estudo do controle digital de um retificador boost trifásico bidirecional através de modulação vetorial. 2018. 114 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Bacharelado em Engenharia de Controle e Automação), Departamento Acadêmico de Eletrotécnica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2018. Os retificadores são dispositivos de Eletrônica de Potência muito utilizados no cotidiano e na indústria. Eles são os responsáveis pela conversão de energia alternada (CA) em energia contínua (CC). Porém, tanto os retificadores controlados através de técnicas tradicionais de baixa frequência como os não controlados apresentam desvantagens tais como: baixo fator de potência na entrada; presença de harmônicas de corrente; e superdimensionamento de equipamentos do sistema de potência. Visando diminuir tais desvantagens, muito se tem pesquisado sobre as técnicas de modulação, tendo como destaque a espacial vetorial. O presente trabalho abrange o estudo, a simulação e a implementação da técnica de modulação espacial vetorial – SVPWM, para realizar o controle de um retificador boost bidirecional de dois níveis. Esta técnica está voltada para aplicações em inversores de tensão, logo, têm-se a necessidade de adaptá-la para o uso em conversores CA- CC. O trabalho propõe a implementação dos conceitos através do projeto de um retificador utilizando um módulo de potência e uma placa microcontroladora. Foram analisados os aspectos positivos e negativos das técnicas de modulação e diferentes topologias de conversores. Uma vez implementado, serão apresentados os resultados obtidos e objetivos alcançados pelo projeto, assim como sugestões para trabalhos futuros. Palavras-chave: eletrônica de potência, retificação, retificador, modulação vetorial, SVPWM. ABSTRACT ANTUNES, Bruno Augusto; CAMARGO, Alexandre de; MOTTA, Lucas Plentz. Study of the digital control of a bidirectional three-phase boost rectifier using space vector modulation. 2018. 114 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Bacharelado em Engenharia de Controle e Automação), Departamento Acadêmico de Eletrotécnica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2018. The rectifiers are Power Electronics devices commonly used in daily life and in the industry. They are responsible for convert the alternate current (AC) into direct current (DC). Yet, either controlled or non-controlled rectifiers by traditional techniques present some disadvantages such as low input power factor, presence of current harmonics and oversizing of the power system. Aiming to reduce these disadvantages, many studies in the field of modulation techniques have been done in which the space vector modulation have stood out. This paper embraces the research, simulation and implementation of the Space Vector modulation technique – SVPWM, to control a two levels bidirectional boost rectifier. This technique is mainly oriented to applications with voltage source inverters – VSI, thus there is a need to adapt it for AC-DC converters. Some specific aspects of modulation techniques and converters topologies were analyzed. In order to establish the concepts, this work proposes the development of a bidirectional boost rectifier using a power drive and a microcontroller board. Once implemented, the obtained results and achieved objectives will be presented, as well as suggestions for future works. Keywords: power electronics, rectification, rectifier, space vector, SVPWM. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Retificador trifásico não controlado. .......................................................... 20 Figura 2 - Formas de onda de tensão e corrente do retificador não controlado. ....... 21 Figura 3 - Formas de onda das correntes de entrada do retificador não controlado. 21 Figura 4 - Retificador trifásico controlado a tiristores. ............................................... 22 Figura 5 - Formas de onda de tensão e corrente do retificador controlado a tiristores. .................................................................................................................................. 22 Figura 6 - Formas de onda das correntes de entrada do retificador controlado a tiristores. .................................................................................................................... 23 Figura 7 - Conversor CA-CC PWM trifásico bidirecional. .......................................... 24 Figura 8 - Razão cíclica D. ........................................................................................ 26 Figura 9 - Modulação por Largura de Pulso. ............................................................. 27 Figura 10 – Pulso PWM gerado através da comparação entre a onda portadora e a referência senoidal. ................................................................................................... 28 Figura 11 - Transformada de Clarke αβ0. ................................................................. 31 Figura 12 - Transformada de Park dq0. .................................................................... 31 Figura 13 - Conversor CA-CC boost trifásico bidirecional. ........................................ 32 Figura 14 - Retificador bidirecional simplificado. .......................................................33 Figura 15 - Circuito elétrico equivalente do retificador. ............................................. 34 Figura 16 – Estados Topológicos de chaveamento. .................................................. 36 Figura 17 - Vetores representados nos eixos αβ. ...................................................... 38 Figura 18 - Vetor SV representado no setor 3. .......................................................... 40 Figura 19 - Sinais de comando para o setor 3........................................................... 43 Figura 20 - Sinais de comando em cada um dos setores. ........................................ 46 Figura 21 - Definição dos setores. ............................................................................. 47 Figura 22 - Diagrama de controle para o retificador boost bidirecional. .................... 48 Figura 23 - Circuitos equivalentes para as componentes de corrente. ...................... 51 Figura 24 - Diagrama de blocos do retificador em componentes dq0. ...................... 54 Figura 25 - Diagrama de blocos do retificador, controle de corrente e desacoplamento em componentes dq0. .................................................................... 56 Figura 26 – Diagrama de blocos dos compensadores de corrente. .......................... 58 Figura 27 – Diagrama de blocos do compensador de tensão. .................................. 59 Figura 28 - Diagrama de blocos simplificado para a malha de tensão. ..................... 60 Figura 29 - Forma de onda de tensão de saída, 400refV V . .................................... 62 Figura 30 – Razões cíclicas na saída do bloco de SVPWM. ..................................... 63 Figura 31 – Perfil da onda de saída na carga com degraus de tensão. .................... 63 Figura 32 - Perfil da onda de saída na carga com degraus de carga. ....................... 64 Figura 33 - Formas de onda de tensão e corrente na entrada do retificador controlado.................................................................................................................. 65 Figura 34 - Formas de onda das correntes de entrada do retificador controlado. ..... 65 Figura 35 – LAUNCHXL-F28377S LaunchPad. ........................................................ 66 Figura 36 – Mapa de pinagem do LAUNCHXL-F28377S. ......................................... 67 Figura 37 – FSBB30CH60C Motion SPM 3 Series. ................................................... 67 Figura 38 – Mapa de pinagem do FSBB30CH60C. ................................................... 68 Figura 39 – Aspecto final dos indutores com núcleo toroidal construídos. ................ 72 Figura 40 – Resultado do condicionamento de corrente CA. .................................... 73 Figura 41 – Resultado do condicionamento de tensão CA. ...................................... 73 Figura 42 – Resultado do condicionamento de tensão CC. ...................................... 73 Figura 43 - Layout do protótipo elaborado no SoftCAD Eagle................................... 74 Figura 44 - Esquemático de Sincronização dos módulos ePWM. ............................. 78 Figura 45 – Senoide a1 gerada para a aplicação do SVPWM. ................................. 82 Figura 46 – Senoide b1 gerada para a aplicação do SVPWM. ................................. 82 Figura 47 – Ângulo entre os sinais de entrada a1 e b1 (atan2). ................................ 82 Figura 48 – Razões cíclicas Ta e Tb do SVPWM após implementação das macros via CodeComposer. ................................................................................................... 83 Figura 49 – Sinal PWM fornecido pelo LaunchPad. Canal 1 sinal ePWM6A e Canal2 ePWM6B. .................................................................................................................. 84 Figura 50 – Deadband entre os sinais ePWM6A e ePWM6B. .................................. 84 Figura 51 – Gráfico da relação tensão de saída do sensor pela corrente medida. ... 85 Figura 52 - Foto do Protótipo durante ensaio como modo Buck. .............................. 86 Figura 53 - Conexões no circuito de bootstrap. ......................................................... 88 Figura 54 – Resultado do teste do conversor em modo Buck. .................................. 88 Figura 55 - Tensão de linha para teste em modo inversor em malha aberta. ........... 89 Figura 56 - Teste retificador controlado por DLL. ...................................................... 90 Figura 57 - Teste retificador controlado por DLL com degrau de carga. ................... 91 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Combinação vetorial. ................................................................................ 35 Tabela 2 - Combinação vetorial. ................................................................................ 36 Tabela 3 - Vetores nos eixos αβ. ............................................................................... 37 Tabela 4 - Vetores nos eixos αβ. ............................................................................... 37 Tabela 5 - Intervalos de aplicação para os setores de . ...................................... 41 Tabela 6 - Sequência de vetores para setor 3. .......................................................... 42 Tabela 7 - Sinais de comando para obtenção do vetor 3V . ....................................... 42 Tabela 8 - Sequência de vetores para os setores 1 a 6. ........................................... 43 Tabela 9 - Intervalo de aplicação e razões cíclicas dos sinais de comando dos interruptores. ............................................................................................................. 44 Tabela 10 - Intervalo de aplicação e razões cíclicas dos sinais de comando dos interruptores. ............................................................................................................. 45 Tabela 11 - Parâmetros de simulação do sistema .................................................... 61 Tabela 12 - Especificações do núcleo MMT026T4718 .............................................. 69 Tabela 13 - Especificações do condutor AWG19 ...................................................... 70 Tabela 14 - Resumo do projeto dos indutores ........................................................... 71 Tabela 15 – Conexões da função ADC. .................................................................... 76 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10 1.1 TEMA .................................................................................................. 10 1.1.1 Delimitação do Tema .................................................................... 12 1.2 PROBLEMAS E PREMISSAS ............................................................. 12 1.3 OBJETIVOS ........................................................................................ 13 1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................... 13 1.3.2 Objetivos Específicos ................................................................... 13 1.4 JUSTIFICATIVA .................................................................................. 14 1.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................ 15 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................ 15 2 DESENVOLVIMENTO BIBLIOGRÁFICO .................................................. 17 2.1 RETIFICAÇÃO .................................................................................... 17 2.2 TOPOLOGIAS DE RETIFICADORES ................................................. 18 2.2.1 Retificadores não controlados ...................................................... 19 2.2.2 Retificadores controlados .............................................................21 2.3 TÉCNICAS DE MODULAÇÃO ............................................................ 25 2.3.1 Modulação por largura de pulso – PWM ........................................... 25 2.3.2 Modulação Senoidal ......................................................................... 27 2.3.3 Modulação Espacial Vetorial ............................................................. 28 2.4 MODELAGEM DE SISTEMAS ............................................................ 29 3 MODELAGEM E DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA ............................. 32 3.1 ANÁLISE DA TOPOLOGIA ..................................................................... 32 3.1.1 Análise dos vetores disponíveis ........................................................ 35 3.1.2 Implementação dos vetores .............................................................. 39 3.1.3 Sequência dos vetores ..................................................................... 41 3.2 ESTRATÉGIA DE CONTROLE............................................................... 48 3.2.1 Modelagem do Retificador ................................................................ 49 3.2.2 Controle de Corrente ........................................................................ 57 3.2.3 Controle de Tensão .......................................................................... 59 3.3 SIMULAÇÃO PRELIMINAR .................................................................... 61 4 DESENVOLVIMENTO DO PROTÓTIPO ................................................... 66 4.1 DIMENSIONAMENTO DO HARDWARE ................................................ 66 4.1.1 Microcontrolador ............................................................................... 66 4.1.2 Módulo de Potência ...................................................................... 67 4.1.3 Indutores ....................................................................................... 69 4.1.4 Circuitos de Condicionamento .......................................................... 72 4.1.5 Desenvolvimento do Protótipo .......................................................... 74 4.2 PROGRAMAÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLE .............................. 75 4.2.1 Conversão Analógico-Digital (ADC) .................................................. 75 4.2.2 Modulação por Largura de Pulso (PWM) .......................................... 77 4.2.3 Modulação Vetorial Espacial (SVPWM) ............................................ 79 5 RESULTADOS ALCANÇADOS ................................................................. 81 5.1 TESTES INICIAIS ............................................................................... 81 5.2 TESTES EM MODO CONVERSOR CC-CC (BUCK) .......................... 86 5.3 TESTES EM MODO CONVERSOR CC-CA EM MALHA ABERTA (INVERSOR) ................................................................................................. 89 5.4 TESTES NOMINAIS – SIMULAÇÃO UTILIZANDO DLL ..................... 90 6 CONCLUSÃO ............................................................................................ 92 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 93 ANEXOS .......................................................................................................... 97 ANEXO A – Dimensionamento do sistema de controle realizado no software MATLAB. ....................................................................................................... 97 ANEXO B – Simulação realizada no software PSIM. .................................. 100 ANEXO C – Esquemáticos do protótipo no software Eagle. ....................... 101 ANEXO D – Lista de materiais. ................................................................... 105 ANEXO E – Configurações das funções periféricas f28377S. .................... 107 ANEXO F – Códigos DLL. ........................................................................... 110 10 1 INTRODUÇÃO Neste primeiro capítulo serão apresentados o tema e sua delimitação, os problemas e premissas, os objetivos e a justificativa, e o contexto geral do trabalho. 1.1 TEMA A energia elétrica, desde sua geração até a transmissão, pode ser processada e controlada através de técnicas e equipamentos abrangidos pela eletrônica de potência (EP), devendo atender a uma grande gama de cargas com variadas tensões e correntes. Assim como em outras áreas da engenharia, a eletrônica de potência está presente em vários setores, como por exemplo: residencial, comercial, industrial, transportes, etc. Dentre os aparelhos mais importantes, encontram-se os conversores de energia elétrica. Desde o desenvolvimento (ou invento, advento) da eletrônica de potência, cresceu a variedade de conversores, evoluindo dos retificadores não controlados para retificadores controlados, inversores e fontes chaveadas e um número ainda maior desses aparelhos (BLAUTH, 1999). Em termos de processamento e conversão de energia, em uma escala global os retificadores podem ser considerados como os mais utilizados (BLAUTH, 1999). Outro componente de extrema importância para a área de EP são os semicondutores de potência, nos quais também se verificaram melhorias e aprimoramentos, permitindo aplicações e uso de técnicas com maiores graus de complexidade. O destaque destes componentes está relacionado com os níveis de tensão e corrente que estes suportam, sendo o IGBT (Insulated Gate Bipolar Transistor) o mais utilizado atualmente devido a suas características de alta eficiência e um rápido chaveamento (BLAUTH, 1999). Retificadores são dispositivos responsáveis pela conversão de tensões ou correntes alternadas (CA) em tensões e correntes contínuas (CC). Tais retificadores podem ser divididos em retificadores controlados, onde a tensão média de saída pode ser variada e controlada, e retificadores não controlados, nos quais a tensão média de saída depende apenas da tensão aplicada na entrada. Podem ser aplicados em diversas faixas de potência: baixa (carregadores de celular), média 11 (acionamento de motores elétricos) e alta (sistemas de transmissão de corrente contínua em alta tensão – HVDC). Também podem ser categorizados de acordo com o número de fases na entrada: retificadores monofásicos e retificadores trifásicos. A estrutura mais conhecida para conversores CA-CC trifásicos é a do retificador Boost trifásico bidirecional, que será o foco deste trabalho (BLAUTH, 1999; BORGONOVO, 2001) Visando diminuir tais desvantagens e, porventura, a melhoria no desempenho de conversores, muito se tem pesquisado sobre o desenvolvimento de retificadores trifásicos com um alto fator de potência. Para tal, o estudo de novas técnicas e novas abordagens tem ganhado certo destaque, como por exemplo estratégias de controle e também diferentes tipos de modulação, desde sua concepção e desempenho (BACON, 2015). A mais conhecida das técnicas de modulação, em eletrônica de potência, é a chamada Modulação por Largura de Pulso (Pulse Width Modulation - PWM). Diferentes métodos de controle que geram os padrões PWM podem ser encontrados em vários livros e artigos, com enfoque na corrente e tensão como variáveis de controle, sendo que o desempenho do conversor irá depender da técnica de modulação empregada (BACON, 2015). Percebendo-se a importância de estudos no campo da modulação PWM, duas técnicas relacionadas à largura de pulso têm recebido atenção em diversas publicações e aplicações na área industrial, a saber: a modulação por largura de pulso senoidal (Sinusoidal Pulse Width Modulation - SPWM) e a modulação vetorial espacial (Space Vector Pulse Width Modulation - SVPWM). Essas técnicas estão voltadas para aplicações em controle de inversores, logo, há a necessidade de adaptá-las para o uso em conversores (BATISTA et al., 2015). O estudo proposto para desenvolvimentoconsiste no controle digital de um retificador Boost trifásico bidirecional de dois níveis através da modulação vetorial espacial, atentando para as especificações e implementação da técnica, a fim de que seja possível sua utilização em conversores CA-CC. 12 1.1.1 Delimitação do Tema Com um vasto uso de retificadores trifásicos em escala global e com a necessidade do estudo de técnicas de modulação aplicadas a conversores CA-CC trifásicos, decidiu-se empregar as técnicas de modulação PWM para o controle digital de um retificador boost. Optou-se pela implementação da técnica de modulação vetorial espacial, tendo em vista a apresentação de índices de modulação até 15% superiores em relação à modulação senoidal (BACON, 2015; SASI, 2013). Em detrimento desta vantagem, não será considerado um estudo sobre modulação vetorial senoidal. A técnica SVPWM é voltada para sistemas trifásicos, visto que seu sistema de equações se baseia na decomposição vetorial de uma fonte trifásica (HOLMES, LIPO, 2003). Para este estudo serão utilizados os conceitos de eficiência energética tradicionais, potências ativa e reativa. Logo, conclui-se que tais conceitos são suficientes para avaliar a eficácia de um conversor CA-CC de baixa potência e em uma rede trifásica equilibrada (BATISTA et al., 2015). Desta forma, este trabalho irá se concentrar no desenvolvimento da modulação vetorial aplicada a um retificador trifásico de dois níveis com aplicações práticas, utilizando-se o microprocessador C2000 Delfino MCUs F28377S LaunchPad da Texas Instruments e o módulo de potência FSBB30CH60 Motion SPM 3 Series da Fairchild. 1.2 PROBLEMAS E PREMISSAS A técnica de modulação vetorial é um assunto pouco abordado durante o curso, com isso é necessário que haja um aprofundamento teórico sobre a técnica e suas aplicações diretas. Além disso, a maioria dos estudos a respeito desta técnica é voltada para conversores CC-CA, com isso existe a necessidade de adaptar as equações matemáticas para modelos CA-CC. Outra dificuldade está na elaboração e realização do circuito elétrico. O desenvolvimento do layout do circuito apresenta um elevado grau de complexidade, pois devem ser considerados os efeitos de interferência eletromagnética entre os 13 componentes juntamente com os valores de potência do conversor. Como o circuito apresenta certo grau de sensibilidade quanto aos componentes, assim a probabilidade de haver retrabalhos e ou reposição de materiais é alta. Quanto ao projeto por inteiro, a principal característica que interfere em seu desenvolvimento é a possibilidade de se tornar muito complexo, tanto na adaptação do módulo de potência inteligente para que ele funcione como um retificador como na elaboração do algoritmo de controle, ou ainda, que o projeto se torne inviável economicamente. 1.3 OBJETIVOS Este tópico irá apresentar os objetivos geral e específicos determinados para este trabalho. 1.3.1 Objetivo Geral Discutir, aplicar e analisar a técnica de modulação vetorial espacial em um retificador trifásico de dois níveis, e estabelecer, através das referências teóricas uma estratégia de controle para esta topologia específica de retificador, e posteriormente, desenvolver o hardware e firmware necessários para o emprego da técnica utilizando um microprocessador. 1.3.2 Objetivos Específicos - Desenvolver uma topologia para as partes mecânicas e elétricas do sistema, definindo seus componentes, materiais, dimensões e potência a serem utilizados no retificador e controlador; - Realizar os cálculos necessários sobre o circuito elétrico do sistema; - Realizar uma revisão bibliográfica sobre as eficiências do controle do sistema através de modulação vetorial; 14 - Desenvolvimento e Implementação de um firmware para a utilização da técnica com o microprocessador C2000 Delfino MCUs F28377S LaunchPad da Texas Instruments; - Projeto do retificador Boost; elaboração do circuito elétrico e montagem do protótipo. 1.4 JUSTIFICATIVA A aplicação da modulação vetorial espacial em retificadores trifásicos despertou interesse pois é um assunto pouco explorado até ao momento e ao serem analisados os possíveis resultados deste estudo e as vantagens quando comparado a um retificador controlado convencional, por exemplo: a melhoria do fator de potência na entrada; e do rendimento do sistema conversor. Existe a possibilidade de aplicar o sistema proposto em frenagens de motores elétricos, associado a um inversor de frequência, ou à regeneração da elétrica utilizando uma ponte retificadora controlada em configuração antiparalela (LEONHARD, 2001). Outra possibilidade de aplicação do retificador seria na geração de energia por geração eólica, na qual a tensão gerada precisa ser retificada e controlada para ser utilizada ou injetada na rede elétrica, uma vez que sua frequência e amplitude variam com o vento (CARDOSO, 2016). Sistemas de energia renovável necessitam de um alto grau de aproveitamento na geração de energia elétrica. A técnica de modulação vetorial espacial possibilita uma melhora no rendimento de inversores e retificadores (CARDOSO, 2016). O conversor CC-CA trifásico é um dos mais utilizados no mundo quando se trata de injetar a energia proveniente de fontes fotovoltaicas na rede elétrica (BURGER, 2008). Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), além dos sistemas de energia renovável, a área de telecomunicações também exige um elevado fator de potência em suas fontes, com poucas distorções harmônicas. Os retificadores convencionais possuem um baixo fator de potência devido a presença de componentes harmônicas nas correntes drenadas da rede (BORGONOVO, 15 2001). Portanto retificadores controlados pela técnica SVPWM seriam possivelmente uma alternativa a este problema. 1.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS No primeiro momento será realizado o estudo do funcionamento do retificador boost bidirecional e da utilização do módulo de potência inteligente como retificador. Para contextualizar o retificador, será analisado o seu uso em sistema eólicos de pequeno porte (1 kW – quilowatt) e, assim, adequar os valores de tensão e corrente para a elaboração do circuito elétrico e seus componentes (TIBOLA, 2009). Com a topologia definida, será então realizada uma revisão bibliográfica sobre o microprocessador C2000 da Texas Instruments e sobre a modulação vetorial espacial com a adaptação de suas equações matemáticas a serem aplicadas em conversores CA-CC, visando otimizar o algoritmo de controle a ser utilizado pelo microprocessador, seguido por simulações com o controle digital implementado e que posteriormente será aplicado no DSP. Ao fim da revisão bibliográfica será iniciada a fase de desenvolvimento do projeto físico, com um estudo aprofundado do módulo de potência inteligente, seus cálculos térmicos e detalhes de layout, com a construção do circuito elétrico, em seguida com a programação do microprocessador. Com o conversor concluído, serão realizados testes para verificar o funcionamento e o rendimento do retificador projetado. 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO O trabalho a seguir será composto por seis capítulos. Este primeiro capítulo contém uma breve descrição do conteúdo do trabalho, envolvendo fundamentação, contexto teórico e uma abordagem geral do que será desenvolvido. No capítulo 2 serão realizadas revisões bibliográficas, divididas em duas partes. Na primeira parte, será abrangida a contextualização dos diferentes tipos de 16 conversores CA-CC trifásicos e em seguida será apresentado um estudo realizado a respeito das técnicas de modulação como estratégias de controle, descrevendo o método de modulação vetorial espacial. O capítulo 3 irá tratar da concepção do retificador e do controlador. Com a topologia definida para o retificador, será realizadaa modelagem do sistema utilizando as transformadas de Park e Clarke, resultando em um modelo matemático adaptado para conversores CA-CC. Uma simulação inicial, para comprovar a modelagem, será descrita. O capítulo 4 é destinado ao desenvolvimento do protótipo e possuirá duas partes: dimensionamento do circuito elétrico e de potência, detalhando a placa impressa e os materiais utilizados. A segunda parte será composta pela programação do sistema de controle responsável pelo SVPWM, via softwares Matlab/Simulink, PSIM e Codecomposer, com uma descrição e análise das principais partes do código elaborado. No capítulo 5 constará a apresentação dos resultados alcançados pelo projeto, além da análise dos valores obtidos durante os testes realizados com o protótipo. Por final, o capítulo 6 consistirá na conclusão do trabalho, explicitando se os objetivos inicialmente propostos foram alcançados, bem como sugestões de pesquisas referentes ao tema a serem desenvolvidas por trabalhos futuros. Equation Chapter 2 Section 1 17 2 DESENVOLVIMENTO BIBLIOGRÁFICO No início deste capítulo serão abordados alguns conceitos básicos de retificadores, de forma breve, visto que este é um objeto de amplo estudo nos cursos de graduação, não havendo a necessidade de uma análise mais detalhada. O tópico 2.3, Estratégias de Controle, abordará a revisão a respeito das técnicas de modulação, responsáveis pela realização do controle da tensão de saída em conversores. 2.1 RETIFICAÇÃO A energia elétrica é fornecida, principalmente, através de uma rede com distribuição em corrente alternada. Apesar disso, muito dos componentes eletrônicos atuais como: notebooks, celulares, dentre outros, tem sua alimentação através de tensão contínua. Logo, tem-se a necessidade de realizar a conversão de energia (POMILIO, 2009). Os conversores são equipamentos que realizam o tratamento eletrônico da energia elétrica, e são utilizados para o controle do fluxo de energia elétrica entre sistemas elétricos (BARBI, 2006). A retificação, efetuada por diodos retificadores, é o processo de conversão de tensões e correntes alternadas em tensões e correntes contínuas (CA-CC). A amplitude da tensão contínua na saída é determinada pela amplitude da tensão alternada de alimentação do sistema. É comum encontrar componente da tensão alternada na saída do sistema retificador, assim, é possível dizer que a saída não é pura. Esta componente é chamada “ondulação”, e pode ser eliminada através da implementação de filtros após o retificador (AHMED, 2000). Dois conceitos são de extrema importância para se medir a eficiência de um processo de retificação: o fator de potência e distorções harmônicas de corrente e tensão. Fator de Potência (FP) é definido como a relação entre a potência média consumida pela carga, potência ativa (P), e a potência total do sistema, chamada de potência de aparente (S). A potência aparente é o produto entre tensão eficaz ( )efV e corrente eficaz ( )efI da fonte de alimentação (BORGONOVO, 2001). 18 . . P F P S (2.1) .ef efS V I (2.2) Através da análise dos valores de potência média e tensão e corrente eficazes e manipulação destas relações, têm-se: . . cos( )F P (2.3) Sendo a defasagem angular entre tensão e corrente de entada (BORGONOVO, 2001). Porém a equação (2.3) só é válida para tensão de alimentação e corrente de entrada senoidais e com a mesma frequência. Caso diferente, esta relação deixa de ser válida. A iTDH corresponde a taxa de distorção harmônica de corrente, definida de acordo com o padrão IEEE (2010) por: 2 2 1 nef i n ef I TDH I (2.4) E nefI representa a corrente eficaz da n-ésima componente de corrente entrada; O tópico a seguir apresenta as diferenças entre diferentes topologias de retificadores, vantagens e desvantagens, analisadas perante o fator de potência e os harmônicos de tensão e corrente. 2.2 TOPOLOGIAS DE RETIFICADORES Como foi mencionado no tópico anterior, retificadores são conversores capazes de transformar energia elétrica alternada para contínua, CA-CC. Os retificadores são classificados principalmente de acordo com: o número de fases da tensão de entrada (monofásicos, trifásicos, hexafásicos); em função do tipo de conexão dos elementos retificadores (topologia em meia ponte ou ponte 19 completa); e de acordo com a sua capacidade em regular o valor da tensão de saída (não controlados e controlados) (POMILIO, 2009). Esta última classificação será discutida nos subtópicos seguintes. De acordo com sua capacidade de controlar e regular a tensão de saída, os retificadores podem ser divididos em não controlados e controlados. Os retificadores não controlados utilizam diodos como elementos de retificação enquanto os controlados utilizam transistores ou tiristores. 2.2.1 Retificadores não controlados A maioria dos sistemas retificadores utilizados são os não-controlados, devido a sua simplicidade, confiabilidade, robustez e baixo preço. Contudo, permitem apenas fluxo unidirecional de corrente e causam altos níveis de correntes harmônicas (BOGDAN, IRWIN, 2011). As estruturas retificadoras não controladas de construção mais simples são as monofásicas. Este tipo de retificador é muito utilizado em aplicações de baixa potência, por apresentar uma estrutura simples, confiável, barata, no entanto, para cargas de maior potência é desejável o uso de retificadores trifásicos (foco deste trabalho), já que, as três fases permitem um melhor equilíbrio entre as correntes de entrada do circuito, reduzindo as ondulações na saída facilitando uma possível aplicação de um filtro (AHMED, 2000). Assim como os monofásicos, os retificadores trifásicos também podem ser divididos em dois grupos principais, os retificadores de meia onda, os quais utilizam apenas três diodos em sua construção, e os retificadores de onda completa, os quais utilizam seis diodos para retificação (POMILIO, 2009). 20 Figura 1 - Retificador trifásico não controlado. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Na Figura 1 têm-se um retificador trifásico de ponte completa com seis diodos conectados em “ponte de Graetz” e filtro de saída capacitivo. Estes dispositivos não podem ter a tensão média de saída controlada (POMILIO, 2009). Para reduzir a ondulação da tensão de saída, um conjunto de capacitores eletrolíticos de valor elevado (representado na Figura 1 como 0C ), é normalmente conectado à saída retificada, em paralelo com a carga 0R . Além disso, estes circuitos apresentam um baixo fator de potência na entrada e uma alta taxa de distorção nas correntes. Quanto menor o FP de entrada do retificador, menor é a potência ativa máxima que pode ser absorvida. Já as componentes harmônicas de corrente podem causar um mau funcionamento de outros equipamentos ligados à rede. Elas provocam ressonâncias no sistema de potência, causando, dessa forma, maiores perdas em transformadores e outros equipamentos do sistema. Esses problemas são fatores limitantes no desempenho do retificador, exigindo um superdimensionamento dos equipamentos além de não estarem de acordo com o padrão internacional IEEE 519, que limita a quantidade de harmônicas em um sistema (BOGDAN, IRWIN, 2011). A Figura 2 demonstra uma simulação contendo o fator de potência de entrada do retificador, com um valor de 0,58 e a Figura 3 a distorção harmônica total (THD) através da forma de onda da corrente, em um valor de 139,31%. 21 Figura 2 - Formas de onda de tensão e corrente do retificador não controlado. Fonte: elaborado pelo autor. Figura 3 - Formas de onda das correntes de entrada do retificador não controlado. Fonte: elaborado pelo autor. 2.2.2 Retificadores controlados A partir do item 2.2.1 pode-se concluir que retificadorespassivos, ou seja, não controlados, não possuem as características recomendadas para aplicações com normas rígidas, e.g., sistemas de telecomunicações (BORGONOVO, 2001). Os retificadores controlados possuem uma vasta aplicação na indústria, como por exemplo acionamento de motores CC e alimentação de redes de transmissão CC (POMILIO, 2009). Para contornar estes problemas, os diodos começaram a ser substituídos por chaves controladas (tiristores), que através de uma estratégia de controle permitem 22 variar a tensão média na saída, e melhorar o desempenho de uma forma geral (POMILIO, 2009). Em sua configuração mais básica o retificador trifásico controlado a tiristores é composto por seis interruptores comandados, 1T a 6T , como mostrado na Figura 04. As formas de onda de tensão e corrente de entrada, resultando em um fator de potência de 0,43 são apresentadas na Figura 05. (BOGDAN, IRWIN, 2011). Figura 4 - Retificador trifásico controlado a tiristores. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et. al. (2003) Figura 5 - Formas de onda de tensão e corrente do retificador controlado a tiristores. Fonte: elaborado pelo autor. Esta topologia é principalmente usada no acionamento de motores CC quando se é necessário realizar a operação em dois quadrantes do plano tensão x corrente. 23 Porém, na implementação deste circuito, não pode haver inversão na polaridade da corrente, como por exemplo durante o momento de frenagem do motor (POMILIO, 2009). Logo, este retificador permite, somente, um fluxo unidirecional de potência, o que se torna um fator negativo em sua implementação. Apesar de conseguir manter certo equilíbrio entre as fases do retificador, o uso de tiristores como dispositivos de controle acarreta em alguns problemas para a rede de energia elétrica, assim como os retificadores não controlados, dentre eles podem ser citados: presença de distorção harmônica nas correntes de entrada, ilustrado na Figura 6 com THD=206,68%; distorção das tensões de alimentação; e interferência eletromagnética, prejudicando o funcionamento de outros equipamentos conectados à rede (FONT et al., 2003). Figura 6 - Formas de onda das correntes de entrada do retificador controlado a tiristores. Fonte: elaborado pelo autor. Nos últimos anos, com o desenvolvimento da eletrônica de potência, conversores controlados por PWM tiveram um importante crescimento no mercado de conversão CA-CC. Dois avanços tecnológicos permitiram essa mudança: a introdução dos transistores IGBT no mercado, que permitiram a manufatura de módulos conversores robustos e de baixo custo; e o desenvolvimento de microprocessadores de baixo custo, (e.g., processadores digitais de sinais – DSPs) para aplicações em tempo real, permitindo a implementação de esquemas de controle vetorial complexo para conversores PWM (BOGDAN, IRWIN, 2011). 24 No caso de retificadores controlados por PWM, uma das topologias mais conhecidas é o conversor CA-CC trifásico bidirecional boost, apresentado na Figura 7. Fazendo uso de seis interruptores IGBT, esta topologia tem como principal característica possibilitar que o fluxo de potência seja bidirecional. Como se trata de uma topologia elevadora (boost) a tensão de saída deverá ser maior do que o valor máximo da tensão de entrada (FONT et al., 2003). Figura 7 - Conversor CA-CC PWM trifásico bidirecional. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et. al. (2003). A vantagem na utilização dos IGBTs como componentes de chaveamento controlado está na redução das distorções harmônicas. Em contrapartida, a elaboração dos circuitos de comando e controle exige um maior esforço quando comparado com a topologia controlada por tiristores. Sua maior desvantagem é apresentar a possibilidade de ocorrer um curto-circuito no barramento CC (FONT et al., 2003). As principais técnicas de modulação serão apresentadas no tópico a seguir, juntamente com uma análise mais aprofundada de seu funcionamento assim como vantagens e desvantagens de cada uma. 25 2.3 TÉCNICAS DE MODULAÇÃO O controle de conversores, ou seja, o valor da sua tensão de saída, pode ser feita através de técnicas de modulação AM (amplitude modulada), FM (frequência modulada) ou modulação por largura de pulso (PWM). Tais modulações podem ser implementadas de maneira analógica, através de circuitos integrados e transistores, ou de forma digital por meio de microprocessadores DSP (FILHO, 2007). A técnica PWM pode ser implementada de diversas formas, dentre elas: senoidal, histerese, modulação vetorial espacial, modulação ótima ou modulação aleatória (FILHO, 2007). O objeto de estudo deste trabalho é a técnica de modulação vetorial espacial, SVPWM. Suas vantagens e desvantagens serão comparadas às modulações por largura de pulso simples e senoidal. 2.3.1 Modulação por largura de pulso – PWM Uma das técnicas mais utilizadas para realizar o controle de conversores é a técnica conhecida como modulação por largura de pulso, PWM, a qual varia o período de duty-cycle (razão cíclica) dos interruptores, presentes na entrada do conversor, com uma elevada frequência de chaveamento para alcançar uma tensão média de saída em baixas frequências (HOLMES, LIPO, 2003). Esta técnica consiste da utilização de uma série de pulsos de uma onda quadrada com razão cíclica variável (Figura 8). A razão cíclica, D , é definida como a relação em que o interruptor permanece ligado, onT ,com o tempo total de um ciclo, T (BARBI, 2006). Desta forma, on T D T (2.5) Onde 0 1D . O próximo intervalo é definido offT , e neste tempo o interruptor permanece aberto, cortando a alimentação. 26 Figura 8 - Razão cíclica D. Fonte: elaborado pelo autor baseado em HOLMES & LIPO (2003). Ao variar a razão cíclica, está sendo controlada a quantidade de energia que é entregue a carga. Por exemplo, se tivermos um circuito com uma lâmpada alimentada por uma bateria 9V com 0,1D (ou 10%), com certa frequência de chaveamento, resultaria em uma tensão média disponível equivalente a 0,9V para a lâmpada (BARR, 2001). Se o sistema da lâmpada permanecer ligado por cinco segundos e desligado por outros cinco segundos (equivalente a um duty-cycle de 50%), porém apresentar uma frequência de modulação baixa (menor que 100 Hz), a tensão resultante na lâmpada será de 4,5V. Entretanto, a lâmpada é energizada com a tensão resultante durante os primeiros cinco segundos e no próximo intervalo de tempo permance desenergizada. Para que o sistema simule a lâmpada ligada durante o período inteiro, com uma intensidade menor, é necessário que a frequência de modulação seja elevada. Frequências comuns de modulação variam de 1 kHz até 200 kHz (BARR, 2001). Com o intuito de manter uma relação linear entre o sinal de controle e a tensão média de saída, a portadora deve apresentar uma variação linear ( )pv . Complementando este fato, é necessário que a sua frequência seja no mínimo 10 vezes maior que a frequência do sinal modulador. Esta característica facilita a filtragem do valor médio, mantendo na carga uma tensão contínua de valor proporcional à tensão de controle ( )cv (POMILIO, 2009). 27 Figura 9 - Modulação por Largura de Pulso. Fonte: POMILIO (2009). A Figura 9 ilustra o comportamento de um modulador PWM com o sinal modulante ( )cv contínuo e a onda portadora ( )pv .como um sinal dente de serra. A variação na largura do pulso resultante ocorre com a variação da tensão cv , pois só existe tensão na saída do comparador quando a amplitude do sinal de referência ( )cv é maior do que a amplitude da portadora, logo, mantendo as características da portadora, para se alterar a largura de pulso na saída é necessário alterar a amplitude da tensão de referência. 2.3.2 Modulação Senoidal Dentre diversas técnicasde modulação utilizadas, pode-se citar a técnica por largura de pulso senoidal (Sinusoidal Pulse Width Modulation - SPWM), que funciona de forma análoga a PWM, mas para gerar uma onda quadrada, é realizada comparação entre dois sinais de tensão, sendo estes um sinal senoidal de referência normalmente em baixa frequência (modulante) e o outro um sinal triangular em alta frequência, por exemplo, o chamado sinal dente-de-serra (portadora) (HOLMES, LIPO, 2003) O citado sinal dente-de-serra consiste numa série de pulsos triangulares. Quando a onda referência, modulante, possui amplitude maior que a portadora, o pulso de onda quadrada tem nível alto, e nível baixo quando a sua amplitude é menor, como pode ser visto na Figura 10. A frequência do sinal senoidal de referência ( )fm é igual à frequência fundamental da tensão de saída do inversor, ou seja, constante. Já a frequência da 28 forma de onda triangular ( )fp determina a frequência de chaveamento do conversor e geralmente é mantida constante. A razão entre essas duas frequências ( / )fp fm define-se como índice de frequência de modulação mf (BACON, 2015). A figura a seguir exemplifica a operação citada, apresentando a comparação das entradas sobrepostas e o resultado de saída. Figura 10 – Pulso PWM gerado através da comparação entre a onda portadora e a referência senoidal. Fonte: POMILIO (2009). A vantagem da comparação com uma senoidal é que o fator de distorção e os harmônicos de mais baixa ordem são reduzidos significativamente (RASHID,1999). A escolha do sinal de referência é outro ponto importante, pois a forma de onda utilizada na modulação determina a quantidade de conteúdo harmônico. Ondas triangulares são preferíveis às ondas dentes de serra porque sua simetria fornece menos componentes harmônicos (TREVISO,2006) 2.3.3 Modulação Espacial Vetorial A modulação espacial vetorial (Space Vector Modulation - SVM) é uma técnica de modulação muito utilizada, que pode ser aplicada tanto em retificadores quanto em inversores. Quando utilizada, apresenta vantagens em relação às técnicas PWM comuns, como um menor número de comutações nas chaves de potência e redução 29 das componentes harmônicas das correntes de entrada dos retificadores (HOLMES, LIPO, 2003). Outro importante fator a ser considerado na comparação dos métodos é o índice de modulação mais elevado da SVM quando comparado com a técnica SPWM, apesar da relativa dificuldade de implementação da primeira técnica em relação a segunda. Inicialmente, este tipo de modulação foi utilizado em inversores trifásicos, sendo posteriormente aplicada em conversores estáticos CA-CA trifásicos e monofásicos, e em outras topologias de inversores trifásicos (BATISTA, 2006; PINHEIRO, 2005). Nesta análise, a modulação SVM é aplicada ao conversor CA-CC trifásico, conforme relatado anteriormente. Cinco etapas são necessárias para a correta implementação da técnica de modulação vetorial. São elas: determinação dos vetores de comutação; identificação dos planos de separação; identificação dos planos limites; obtenção das matrizes de decomposição e definição da sequência de distribuição dos vetores (PINHEIRO, 2005). A técnica de modulação vetorial está baseada no princípio conhecido como campo girante, as tensões de alimentação de um circuito obedecem a este princípio, o qual, determina que a tensão resultante tem amplitude constante e gira com velocidade igual a (FONT et al., 2003). Os conceitos de campo girante são a base para a aplicação da técnica de modulação vetorial tanto em retificadores quanto em inversores. As determinações dos vetores disponíveis, os vetores resultantes e o sinal de controle em cada uma das chaves são dependentes da topologia de cada conversor, por isso, no capítulo 3, o tema de modulação será abordado novamente, mas com o foco específico para a topologia escolhida, com o modelamento e detalhamento necessários. 2.4 MODELAGEM DE SISTEMAS A modelagem consiste em uma técnica de análise das características dinâmicas de um sistema através de um modelo matemático. Este modelo matemático é definido como de um conjunto de equações que representa as características do sistema de forma precisa ou aproximada. Entretanto, um sistema 30 não necessariamente será representando por apenas um modelo matemático. Existem diversas formas, dependendo de um ponto de vista, de se encontrar este conjunto de equações que satisfaça as condições do sistema (OGATA, 2010). A dinâmica de muitos sistemas, sendo eles mecânicos, elétricos, térmicos, econômicos, entre outros, devem ser descritos em termos de equações diferenciais. Para se obter estas equações diferenciais, devem ser seguidas as leis físicas que regem um sistema em particular – por exemplo, as Leis de Newton para sistemas mecânicos ou as Leis de Kirchhoff para sistemas elétricos (OGATA, 2010). Um dos pontos que devem ser levados em conta na modelagem do sistema é a relação entre a simplicidade e precisão do modelo. Durante a obtenção do modelo matemático, as vezes é necessário ignorar certas condições, como não linearidades, para que se tenha uma análise simples do problema. Quanto mais complexa a modelagem, mais precisa ela será. Porém, na maioria das vezes, pode-se desconsiderar estas não linearidades pois os seus efeitos na resposta de um sistema são pequenos (OGATA, 2010). A modelagem de retificadores trifásicos apresenta grande complexidade utilizando-se metodologias mais comuns, e, na maioria das vezes, o modelo obtido não é muito confiável devido às considerações feitas durante a obtenção do conjunto de equações. Tendo em vista esse problema, o sistema deste trabalho será modelado através das transformadas de Clarke ( 0 ) e Park ( 0dq ), as quais fornecem um modelo matemático mais preciso para conversores CA-CC, utilizando uma metodologia simples (FONT et al., 2003). A transformada de Clarke (Figura 11) é utilizada para representar um sistema trifásico através de um sistema bifásico estacionário de eixos e (BARBI, 1985). 31 Figura 11 - Transformada de Clarke αβ0. Fonte: TEXAS INSTRUMENTS (1998). Já a transformada de Park atua sobre o sistema ortogonal estático transformando-o em um referencial rotacional de duas dimensões, d e q , como pode ser visto na Figura 12 (BARBI, 1985). Figura 12 - Transformada de Park dq0. Fonte: TEXAS INSTRUMENTS (1998). Ambas transformadas constituem uma ferramenta de grande importância que simplifica a modelagem do sistema e facilita a implementação de seus compensadores (FONT et al., 2003). Equation Chapter (Next) Section 1 32 3 MODELAGEM E DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA A topologia definida para este trabalho é a do retificador boost trifásico bidirecional (representada na Figura 13), por se tratar de uma configuração clássica e amplamente discutida. 3.1 ANÁLISE DA TOPOLOGIA Figura 13 - Conversor CA-CC boost trifásico bidirecional. Fonte: elaborado pelo autor com base em BARBI et al. (2010). Considerando o circuito de alimentação trifásico, a tensão em cada uma das fases está defasada 120º em relação às outras duas (BARBI, 2010). Dessa forma, podemos representar as tensões na entrada como: 1 2 3 ( ) .sin( . ) ( ) .sin( . 120 ) ( ) .sin( . 120 ) p p p V t V t V t V t V t V t (3.1) Para que o vetor resultante, após a transformação de Park, fique em fase com o eixo direto do sistema 0dq , é necessário realizar uma defasagem de 90º em (3.1), resultando em: 1 2 3 ( ) .sin( . 90º ) ( ) .sin( . 30 ) ( ) .sin( . 210 ) p p p V t V t V t V t V t V t (3.2) 33 Ao analisar o funcionamento deste retificador, considera-se que as indutâncias de entrada possuem o mesmo valor e tensão de saída como fontede tensão CCV . Outra consideração é que cada ramo do retificador é equivalente a um interruptor, de maneira que as chaves do mesmo ramo abrem e fecham de forma complementar, simplificando o circuito (Figura 14). Figura 14 - Retificador bidirecional simplificado. Fonte: elaborado pelo autor com base em BARBI et al. (2010). Como foi definido no tópico 2.3.1, a razão cíclica é a relação entre o tempo que a chave permanece fechada, ONT , e o período de chaveamento. Sendo que a chave permanecerá aberta ( OFFT ) no intervalo complementar. ON T D T (3.3) 1OFFT D (3.4) A partir de (3.3) e (3.4) definem-se as expressões da tensão média de cada chave em relação o ponto Y . Com elas é possível ter uma representação do circuito elétrico equivalente do retificador, como pode ser visto na Figura 15. 34 1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 3 ( ) ( ). (1 ( )). .( ( ) 0.5) 2 2 ( ) ( ). (1 ( )). .( ( ) 0.5) 2 2 ( ) ( ). (1 ( )). .( ( ) 0.5) 2 2 O O S O O O S O O O S O V V V t D t D t V D t V V V t D t D t V D t V V V t D t D t V D t (3.5) Figura 15 - Circuito elétrico equivalente do retificador. Fonte: elaborado pelo autor com base em BARBI et al. (2010). Sabe-se que o sistema é equilibrado, logo: 1 2 3( ) ( ) ( ) 0S S SV t V t V t (3.6) Em um sistema equilibrado, as fases podem ser analisadas separadamente, e, a partir da Figura 15, é possível escrever o seguinte grupo de equações: 1 1 1 2 2 2 3 3 3 ( ) ( ) . ( ) 0 ( ) ( ) . ( ) 0 ( ) ( ) . ( ) 0 S S S di t V t L V t dt di t V t L V t dt di t V t L V t dt (3.7) Substituindo a equação (3.5) na equação (3.7), resulta em: 1 1 1 2 2 2 3 3 3 ( ) ( ) . .( ( ) 0,5) 0 ( ) ( ) . .( ( ) 0,5) 0 ( ) ( ) . .( ( ) 0,5) 0 di t V t L Vo D t dt di t V t L Vo D t dt di t V t L Vo D t dt (3.8) 35 3.1.1 Análise dos vetores disponíveis As descrições dos vetores disponíveis, assim como as técnicas de controle apresentadas, são diretamente relacionadas à topologia escolhida, necessitando de uma nova análise no caso de aplicada em outro modelo de conversor. Os tópicos 3.1.1, 3.1.2 e 3.1.3 foram baseados em (FONT et al., 2003). O início da aplicação da técnica de modulação vetorial consiste na determinação dos vetores disponíveis e consequentemente os estados topológicos do conversor. Para sinais de tensão senoidal nas entradas do retificador, os valores de tensão s tensões nos pontos A, B e C podem assumir valores positivos (P), quando se encontram no semiciclo positivo do seno, ou valores negativos (N), quando se encontram no semiciclo negativo. Para a estrutura apresentada anteriormente são três tensões na entrada, com elas podendo assumir dois valores (P ou N), dessa forma verifica-se a presença de oito ( 32 ) vetores disponíveis para retratar os estados topológicos do conversor (FONT et al., 2003). A Tabela 2 demostra os vetores possíveis no conversor. Cada coordenada nos vetores apresentados representa o estado das chaves superiores em cada um dos ramos ( 1 1 1A B C S S S ), sendo o valor “1” para a chave fechada e “0” para aberta, o estado das chaves nos ramos inferiores sempre será o oposto ao valor da chave superior correspondente ao mesmo ramo. A Figura 16 representa o estado topológico do circuito para cada combinação de vetores possível. Tabela 1 - Combinação vetorial. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Vetor Ponto A Ponto B Ponto C VAB VBC VCA 0(0 0 0)V N N N 0 0 0 1(1 0 0)V P N N 0V 0 0V 2(1 1 0)V P P N 0 0V 0V 3(0 1 0)V N P N 0V 0V 0 4(0 1 1)V N P P 0V 0 0V 36 Tabela 2 - Combinação vetorial. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Vetor Ponto A Ponto B Ponto C VAB VBC VCA 5(0 0 1)V N N P 0 0V 0V 6(1 0 1)V P N P 0V 0V 0 7 (1 1 1)V P P P 0 0 0 Figura 16 – Estados Topológicos de chaveamento. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). 37 Com o modelo obtido anteriormente agora é possível reduzir o sistema composto por três eixos para um sistema composto por apenas dois eixos, simplificando as técnicas de controle que serão futuramente empregadas ao conversor (BOGDAN & IRWIN, 2011). A transformada 0 é definida por: 1 1 1 2 2 2 2 1 1 . 1 3 2 2 3 3 0 2 2 M (3.9) Aplicando a equação (3.9) aos vetores disponíveis apresentados anteriormente, têm-se como resultado seis vetores, não nulos, representados no sistema de coordenadas . Dois destes vetores ( 0V e 7V ) apresentam módulo igual a zero e os demais tem o valor de módulo igual a 2 / 3 , como observado na equação (3.10). Todos os vetores apresentam ângulo de separação de 60 entre cada um deles, formando um hexágono regular, que pode ser observado na Figura 17 . Tabela 3 - Vetores nos eixos αβ. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Vetor Coordenadas [α β] 0(0 0 0)V 0 0 1(1 0 0)V 2 0 3 2(1 1 0)V 1 2 26 3(0 1 0)V 1 2 26 4(0 1 1)V 2 0 3 Tabela 4 - Vetores nos eixos αβ. 38 Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Vetor Coordenadas [α β] 5(0 0 1)V 1 2 26 6(1 0 1)V 1 2 26 7 (1 1 1)V 0 0 Os vetores representados nos eixos podem ser resumidos pela seguinte expressão: ( 1) 3 2 . 1...6 3 0 0,7 j i i e i V i (3.10) Figura 17 - Vetores representados nos eixos αβ. Fonte: FONT et al. (2003). 39 Vale ressaltar que a transformada alterou os valores de amplitude dos vetores, e que estes estão diretamente relacionados aos estados topológicos do conversor (FONT et al., 2003). 3.1.2 Implementação dos vetores Observa-se na Figura 17 que os vetores não nulos dividem o plano em seis setores simétricos. O sinal de comando dos interruptores, ligados as fases A , B e C , é um vetor sintetizado ( )SV obtido através do uso de dois vetores não nulos adjacentes em cada setor. O vetor SV é responsável pela realização dos estados topológicos do conversor (PINHEIRO et al., 2005). Utilizando como referência o setor 3, a projeção do vetor SV no plano pode ser vista na Figura 18. O módulo do vetor resultante é definido pela média ponderada dos vetores 3V e 4V em seus respectivos intervalos de aplicação, 3T e 4T . 3 3 4 4. .SV T V T V (3.11) E o intervalo de aplicação do vetor SV é calculado pela soma dos intervalos de aplicação dos vetores não nulos adjacentes, no respectivo setor, e o intervalo de aplicação do vetor nulo ( 0V ou 7V ). 0 3 4ST T T T (3.12) 40 Figura 18 - Vetor SV representado no setor 3. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Relacionando os valores de módulo da Tabela 3 com a equação (3.11), tem-se a seguinte expressão: 3 4 1 2 2 . . . . . . . 2 36 SV T u j u T u T u j T u (3.13) Para determinar os valores de 3T e 4T iguala-se as partes reais e imaginárias da equação (3.13), obtendo: 3 4 2. 3 1 . . 2 2 T T T T T (3.14) Para definir o intervalo de aplicação dos vetores nulos, basta isolar 0T na equação (3.12), resultando em: 0 3 4( )ST T T T (3.15) Repetindo o procedimento para os demais setores definem-se os intervalos de aplicação conforme a Tabela 5. 41 Tabela 5 - Intervalos de aplicação para os setores de . Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Setor Intervalos de aplicação Setor 1 1 3 1 . . 2 2 T T T 2 2.T T Setor2 2 3 1 . . 2 2 T T T 3 3 1 . . 2 2 T T T Setor 3 3 2.T T 4 3 1 . . 2 2 T T T Setor 4 4 3 1 . . 2 2 T T T 5 2.T T Setor 5 5 3 1 . . 2 2 T T T 6 3 1 . . 2 2 T T T Setor 6 6 2.T T 1 3 1 . . 2 2 T T T O círculo inscrito no hexágono formado pelos seis setores é a região de operação linear, na qual os intervalos de aplicação são válidos. Seguindo esta trajetória circular tem-se que a amplitude máxima de SV é igual a 1 2 , implicando que o valor da tensão de saída do conversor CA-CC seja de 2 vezes o valor de pico da tensão de linha na entrada. 3.1.3 Sequência dos vetores O número de comutações por período de chaveamento está relacionado com os intervalos de aplicação dos vetores e é determinado pela sequência de vetores a ser aplicada. Essa distribuição caracteriza certo tipo de modulação e permite analisar a composição do espectro harmônico do sinal de saída (PINHEIRO, 2005). A sequência dos vetores utilizada faz uso dos vetores vizinhos ao setor em que SV se encontra, com uma comutação por ramo durante o período de chaveamento, obtendo os valores desejados de forma alternada. A sequência se inicia e termina 42 em um dos vetores nulos fazendo com que os interruptores estejam bloqueados no início e término do período de chaveamento. Esta distribuição é simétrica em relação à metade do período. Esta abordagem permite que, para a implementação dos vetores, o número de comutações das chaves seja mínimo. Seguindo o exemplo da seção anterior, para o setor 3 a sequência de vetores é: 0 3 4 7 4 3 0V V V V V V V , com os respectivos intervalos de aplicação mostrados na Tabela 6. Tabela 6 - Sequência de vetores para setor 3. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Vetor Sequência Duração 0V 0 0 0 0 / 4T 3V 0 1 0 3 / 2T 4V 0 1 1 4 / 2T 7V 1 1 1 0 / 2T 4V 0 1 1 4 / 2T 3V 0 1 0 3 / 2T 0V 0 0 0 0 / 4T Para obter os vetores basta observar o estado topológico de cada uma das chaves (apresentados na Figura 16) pois estes estão diretamente relacionados com os sinais de comando dos interruptores. A Tabela 7 exemplifica o caso para o vetor 3 0 1 0V . Tabela 7 - Sinais de comando para obtenção do vetor 3V . Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). 1AS - Aberto (OFF) 2AS - Fechado (ON) 1BS - Fechado (ON) 2BS - Aberto (OFF) 1CS - Aberto (OFF) 2CS - Fechado (ON) 43 Figura 19 - Sinais de comando para o setor 3. Fonte: FONT et al. (2003). Considerando-se as mesmas condições utilizadas para o setor 3, as demais sequências de vetores podem ser vistas na tabela a seguir. Tabela 8 - Sequência de vetores para os setores 1 a 6. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Setor Sequência de vetores Setor 1 0 1 2 7 2 1 0V V V V V V V Setor 2 0 2 3 7 3 2 0V V V V V V V Setor 3 0 3 4 7 4 3 0V V V V V V V Setor 4 0 4 5 7 5 4 0V V V V V V V Setor 5 0 5 6 7 6 5 0V V V V V V V Setor 6 0 1 6 7 6 1 0V V V V V V V Através da Figura 19, retiram-se as expressões (3.16) que definem os intervalos de aplicação dos sinais de comando para as chaves 1AS , 1BS e 1CS , sendo os sinais de comando das chaves inferiores complementares a estes. 44 0 0 3 4 0 4 2 2 2 A B C T T T T T T T T T (3.16) Com as expressões de cada setor, e analisando-se a Tabela 5, calculam-se as razões cíclicas para cada interruptor dos ramos A , B e C . 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 A B C D D D D D D D D D (3.17) Sendo: S T D T (3.18) S T D T (3.19) Os intervalos de aplicação juntamente com as razões cíclicas dos interruptores de cada ramo do conversor estão na Tabela 9. Tabela 9 - Intervalo de aplicação e razões cíclicas dos sinais de comando dos interruptores. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Setor Intervalor de aplicação dos sinais de comando Razões cíclicas dos Interruptores Setor 1 0 1 2 0 2 0 2 2 2 A B C T T T T T T T T T 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 A B C D D D D D D D D D 45 Tabela 10 - Intervalo de aplicação e razões cíclicas dos sinais de comando dos interruptores. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Setor Intervalor de aplicação dos sinais de comando Razões cíclicas dos Interruptores Setor 2 0 2 0 2 3 0 2 2 2 A B C T T T T T T T T T 1 3 . 2 2 1 1 . 2 2 1 1 . 2 2 A B C D D D D D D Setor 3 0 0 3 4 0 4 2 2 2 A B C T T T T T T T T T 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 A B C D D D D D D D D D Setor 4 0 0 4 0 4 5 2 2 2 A B C T T T T T T T T T 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 A B C D D D D D D D D D Setor 5 0 6 0 0 5 6 2 2 2 A B C T T T T T T T T T 1 3 . 2 2 1 1 . 2 2 1 1 . 2 2 A B C D D D D D D Setor 6 0 6 1 0 0 6 2 2 2 A B C T T T T T T T T T 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 1 3 1 . 1 . . 2 2 2 A B C D D D D D D D D D 46 Pode-se observar na Figura 20 a evolução dos sinais de comando, para um período de chaveamento, em cada um dos setores utilizando-se a modulação vetorial. A transição de um vetor para outro é obtida com a comutação de apenas um ramo. Figura 20 - Sinais de comando em cada um dos setores. Fonte: FONT et al. (2003). 47 A transformada utilizada juntamente com a sequência de fases influencia na definição dos setores. Por exemplo, a transição do setor 3 para o setor 4 ocorre quando 4SV V e nesta situação a componente fundamental da tensão ANV tem valor máximo negativo com posição angular igual a 3 2 . Utilizando a mesma análise para as transições entre os outros setores, obtém- se o resultado da Figura 21. Figura 21 - Definição dos setores. Fonte: FONT et al. (2003). 48 3.2 ESTRATÉGIA DE CONTROLE A seção 3.2 teve como referência as demonstrações apresentadas em (BARBI, et al., 2010; FONT et al., 2003). Para realizar o controle do retificador boost bidirecional e fazer com ele tenha uma tensão CC na saída constante, é necessária a implementação de malhas de controle de corrente e tensão no sistema. A principal função da malha de tensão é manter a tensão de barramento CC constante. Já a malha de corrente é responsável pela sincronização das correntes de entrada de fase senoidais com as tensões de fase para que se obtenha um elevado fator de potência para o conversor. O controle das correntes de fase será feito através das transformadas Park. Pode-se desprezar a componente de sequência zero já que o sistema é a três fios e não possui neutro. O diagrama esquemático representando o retificador juntamente com o sistema de controle está disposto na Figura 22. Figura 22 - Diagrama de controle para o retificador boost bidirecional. Fonte: FONT et al. (2003). 49 3.2.1 Modelagem do Retificador A proposta de controle do retificador boost bidirecional é através das transformadas Park. Com isso, o conversor é modelado em variáveis 0.dq Através da transformada de Park, é possívelobter um modelo preciso do retificador trifásico com uma metodologia rápida e simples. A modelagem será feita utilizando variáveis de fase, resultando na obtenção direta das razões cíclicas de fase. Através do sistema de equações (3.8) em forma matricial, obtêm-se: em forma matricial, obtêm-se: 1 123 2 3 1 123 2 3 1 123 2 3 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) cc cc cc cc V t V V t V t i t i i t i t D t D D t D t V V V V (3.20) Este sistema pode ser expresso em sua forma reduzida: 123 123123 . . 2 cc cc di V V L V D dt (3.21) A equação (3.22) vem do produto entre a transformada de Park com a equação (3.9) da transformada de Clarke: 1 1 1 1 2 2 2 2 cos( ) cos( 120º ) cos( 120º ) 3 sin( ) sin( 120º ) sin( 120º ) B t t t t t t (3.22) 50 Para que a potência do sistema seja invariante, é necessário que a transformada seja ortogonal. Assim, a transformada inversa de (3.22) é: 1 cos( ) sin( ) 2 2 1 cos( 120º ) sin( 120º ) 3 2 1 cos( 120º ) sin( 120º ) 2 t t B t t t t (3.23) Aplicando a transformada de Park à equação (3.20), têm-se: 123 0 123 0 123 0 . . . dq dq dq V BV i B i D B D (3.24) Logo, aplicando a transformada de Park na equação (3.21), resulta em: 1 10 00 0. . . . . . 2 dq cc dqdq dq cc di d B V V L L B i V D B dt dt (3.25) O produto da transformada inversa com a matriz derivada da transformada é igual a: 1 0 0 0 . . 0 0 1 0 1 0 d B B dt (3.26) Fazendo a substituição do produto (3.26) na equação (3.25): 0 0 0 ( ) 3 ( ) 0 ( ) 2 ( ) ( ) . . . ( ) . ( ) 0 (t) ( ) ( ) 0 ( ) d d q cc d q d q q di t dtV t D t di t V t L L i t V D t dt V i t D t di t dt (3.27) Aplicando a transformada de Park nas tensões de fase definidas em (3.2) obtém-se a equação (3.29): 51 1 0 123 123 1 1 1 2 2 2 2 . cos( ) cos( 120º ) cos( 120º ) . 3 sin( ) sin( 120º ) sin( 120º ) dqV B V t t t V t t t (3.28) 0 0 ( ) 3 ( ) . 2 (t) 0 d P q V t V t V V (3.29) Dessa forma, utilizando o resultado da equação (3.29) e substituindo em (3.27), têm-se: 0 0 ( ) 3 0 . . ( ) . 2 ( )3 . ( ) . . . ( ) . ( ) 2 ( ) 0 . . . ( ) . ( ) cc cc d P q cc d q d cc q di t L V D t V dt di t V t L L i t V D t dt di t L L i t V D t dt (3.30) Na Figura 23 estão representados os circuitos equivalentes para as componentes de corrente 0dq . Figura 23 - Circuitos equivalentes para as componentes de corrente. Fonte: elaborado pelo autor com base em FONT et al. (2003). Pode-se desprezar a componente de sequência zero já que o sistema é a três fios e não possui neutro. Através do ponto de operação de di e qi , calculam-se as componentes 0dq das razões cíclicas: 52 0 3 2 . .3 . 2 . . qP d cc cc d q cc D L iV D V V L i D V (3.31) O cálculo de potências, ativa e reativa, do retificador é: . . . . d d q q d q q d P V I V I Q V I V I (3.32) E a relação de pico por fase é: 3 . 2 d PV V (3.33) Substituindo as equações (3.32) e (3.33) em (3.31): 0 3 2 3 2 . . . 2 3 . 2 . . 3 . P d cc P cc q P cc D V L Q D V V V L P D V V (3.34) Aplicando a transformada inversa de Park em (3.34) conforme equação (3.35), obtém-se(3.36): 123 0. dqD B D (3.35) 1 2 3 31 .cos( ) sin( ) 22 ( ) 2 1 3 ( ) . cos( 120º ) sin( 120º ) . 3 22 ( ) 1 2 . .cos( 120º ) sin( 120º ) 2 3 . cc P cc P cc Vt t D t V D t t t V D t L Pt t V V (3.36) 53 Resolvendo o sistema (3.36), têm-se o sistema de equações para as razões cíclicas 123D . 1 2 3 1 2 . . ( ) .cos( ) . .sin( ) 2 3 . 1 2 . . ( ) .cos( 120º ) . .sin( 120º ) 2 3 . 1 2 . . ( ) .cos( 120º ) . .sin( 120º ) 2 3 . P cc P cc P cc P cc P cc P cc V L P D t t t V V V V L P D t t t V V V V L P D t t t V V V (3.37) Realizando manipulações matemáticas: 1 2 3 1 2 . . ( ) .sin( 90º ) . .cos( 90º ) 2 3 . 1 2 . . ( ) .sin( 30º ) . .cos( 30º ) 2 3 . 1 2 . . ( ) .sin( 210º ) . .cos( 210º ) 2 3 . P cc P cc P cc P cc P cc P cc V L P D t t t V V V V L P D t t t V V V V L P D t t t V V V (3.38) A resistência de entrada de cada ramo do retificador, isto é, resistência dos semicondutores e dos indutores, pode ser substituída por uma resistência equivalente ( LR ). Assim, adiciona-se essa resistência na equação (3.30) e colocando em evidência as derivadas das correntes, resultando em: ( ) 3 . . . . ( ) . ( ) . ( ) 2 ( ) . . . ( ) . ( ) . ( ) d P q cc d L d q d cc q L q di t L V L i t V D t R i t dt di t L L i t V D t R i t dt (3.39) Na Figura 24 está representado o diagrama de blocos do retificador boost trifásico bidirecional em componentes 0dq . 54 Figura 24 - Diagrama de blocos do retificador em componentes dq0. Fonte: (FONT et al., 2003). Considerando a resistência equivalente para o ponto de operação, a equação (3.31) resulta em: 0 3 2 . . .3 2 . 2 3 .. . q L dP d cc cc cc L qd q cc cc D L i R iV D V V V R iL i D V V (3.40) Observando a Figura 24, pode-se concluir que é necessário desacoplar as variáveis de eixo direto e de quadratura. Para tal, define-se as variáveis auxiliares '( )dD t e '( )qD t . . '( ) ( ) . ( ) . '( ) ( ) . ( ) d d q cc q q d cc L D t D t i t V L D t D t i t V (3.41) Substituindo em (3.39) e realizando as devidas simplificações, têm-se: 55 ( ) 3 . . . '( ) . ( ) 2 ( ) . . '( ) . ( ) d P cc d L d q cc q L q di t L V V D t R i t dt di t L V D t R i t dt (3.42) Aplicam-se então pequenas perturbações em torno do ponto de operação do sistema, adquirindo-se o sistema de equações (3.43). '( ) '( ) '( ) '( ) '( ) '( ) ( ) ( ) '( ) ( ) ( ) '( ) d d d q q q d d d q q q D t D t d t D t D t d t i t i t i t i t i t i t (3.43) Substituindo as relações de (3.43) na equação(3.42): ( ) '( )3 . . . '( ) '( ) . ( ) '( ) 2 ( ) '( ) 0 . . '( ) '( ) . ( ) '( ) d d P cc d d L d d q q cc q q L q q d i t i t V L V D t d t R i t i t dt d i t i t L V D t d t R i t i t dt (3.44) E por final, subtraindo-se a equação (3.44) pela equação (3.42) e aplicando a transformada de Laplace, obtém-se a equação ( ) '(s) . ( ) '(s) . d cc d L q cc q L i s V d L s R i s V d L s R (3.45) A figura a seguir (Figura 25) contém o diagrama de blocos do retificador acompanhado da malha de controle de corrente e desacoplamento. 56 Figura 25 - Diagrama de blocos do retificador, controle de corrente e desacoplamento em componentes dq0. Fonte: (FONT et al., 2003). O ganho de desacoplamento ( dqK ) representado pela equação (3.46) é aplicado em casos em que os ganhos de
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