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A2 – PSICANÁLISE – PESQUISA TEÓRICA Questão 1. Freud utilizou o termo "aparelho" para determinar uma organização psíquica partilhada em sistemas, ou instâncias psíquicas, com colocações particulares, interligadas entre si, ocupando um local na mente. Portanto, o modelo tópico institui um "modelo de lugares"; Freud estabeleceu inicialmente a primeira tópica, reconhecida como Teoria Topográfica, e depois expôs a segunda tópica, distinguida como Teoria Estrutural ou Dinâmica. Na primeira tópica, o aparelho psíquico é mesclado por três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Segundo Freud, o consciente é apenas uma pequena parte da mente, incluindo tudo aquilo de que estamos cientes num dado momento. Do ponto de vista tópico, o sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico, recebendo, ao mesmo tempo, as informações do mundo exterior e as provenientes do interior. O pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e funciona como uma espécie de barreira que seleciona aquilo que pode ou não passar para o consciente. O pré-consciente seria uma parte do inconsciente que pode tornar-se consciente com relativa facilidade, ou seja, seus conteúdos são acessíveis, podem ser evocados e trazidos à consciência. No inconsciente estariam os elementos instintivos não acessíveis à consciência. Além disso, há também material que foi excluído da consciência pelos processos psíquicos de censura e repressão. Esse conteúdo "censurado" não é permitido ser lembrado, mas não é perdido, permanecendo no inconsciente. Para Freud, a maior parte do aparelho psíquico é inconsciente. Ali estão os principais determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica e as pulsões ou instintos. Cabe aqui uma explicação sobre o que Freud denomina pulsões ou instintos. Freud descreveu a estrutura da mente formada pelo consciente, inconsciente e pré- consciente, popularizando a ideia de inconsciente e introduziu a noção de que é a parte da mente que define e explica os mecanismos responsáveis por nossa habilidade de pensar e sentir. Freud acreditava que nossos sentimentos, impulsos, nossas crenças emoções subjacentes estavam enterradas em nosso inconsciente e, portanto, indisponíveis para a mente desperta. Para Freud, o inconsciente abrange tudo, e contém dentro dele os domínios do consciente e do pré-consciente. O consciente existe num nível superficial, ao qual temos fácil acesso imediato. Sob o consciente estão as potentes dimensões de armazenagem do inconsciente que ditam nossos estados cognitivos ativos e comportamentos. Para ele, o consciente está à mercê do inconsciente. Sendo apenas a superfície de um complexo reino psíquico. Tudo o que é consciente - aquilo sobre o qual temos um saber ativo - esteve em algum momento nas profundezas do inconsciente antes de emergir para a consciência. Entretanto, nem tudo se torna conhecimento consciente; muito do que é inconsciente lá permanece. Lembranças que não estão na nossa memória cotidiana, mas que não foram reprimidas, habitam a parte da mente consciente denominada por Freud de pré- consciente. De acordo com ele, somos capazes de trazer essas memórias a consciência a qualquer momento. O inconsciente funciona como receptáculo das ideias e memórias poderosas ou dolorosas demais, ou que estão de alguma forma além da capacidade de processamento da mente consciente. Freud acreditava que, quando certas ideias ou memórias (e as emoções a elas associadas) ameaçam inundar a psique, elas são retiradas da memória acessível pela mente consciente e armazenadas no inconsciente. O inconsciente abriga, segundo Freud, uma enorme quantidade de forças conflitantes. Além da Força das pulsões de vida e de morte, contém também a intensidade das memórias e das emoções recalcadas, bem como as contradições inerentes à nossa compreensão da realidade consciente, permeada pela realidade reprimida. Segundo Freud, o conflito psicológico que surge em função dessas forças contraditórias está subjacente a todo o sofrimento humano. Uma vez que o inconsciente é inacessível, os conflitos só ficam aparentes pelos sintomas que se manifestam no plano consciente. O sofrimento emocional, dizia Freud, é resultado de um conflito inconsciente. Embora os pensamentos inconscientes não possam ser alcançados pela simples introspecção, o inconsciente pode comunicar-se com o consciente de algumas maneiras. Expressa-se silenciosamente em nossas preferências, nos padrões de referência pelos quais costumamos compreender as coisas e nos símbolos que criamos ou que nos atraem. Durante o processo de análise, o analista age como um mediador, procurando abrir espaço para que pensamentos silenciados e sentimentos intoleráveis venham à superfície. Mensagens que nascem do conflito entre consciente e inconsciente tendem a aparecer disfarçadas ou codificadas, e a tarefa do psicanalista é interpretar essas mensagens utilizando as ferramentas da psicanálise. Questão 2. A pulsão consistiria numa espécie de energia psíquica que tende a levar o indivíduo à ação, para aliviar a tensão resultante do acúmulo de energia pulsional. Trata-se de um conceito fronteiriço entre o somático e o psíquico. Freud descreveu duas forças pulsionais opostas: a sexual (erótica ou fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Suas descrições encararam essas forças antagônicas, ou como mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte, respectivamente. Tal antagonismo não costuma ser visível ou consciente, e a maioria de nossos pensamentos e ações é evocada por essas duas forças instintivas em combinação. No texto "As Pulsões e suas vicissitudes" decreta uma pulsão como um conceito na fronteira entre o mental e o somático, o representante psíquico dos estímulos originados do interior do organismo e atingindo a mente, porém, é diferente de um estímulo. Os estímulos podem ser internos ou externos, enquanto estímulos pulsonais são apenas de natureza interna em que o individuo não pode escapar e que é fato propulsor, ou seja, o motor do funcionamento do aparelho físico. O funcionamento do aparelho psíquico do homem é regulado através do principio do prazer. O alvo dessa pulsão é a satisfação desse prazer. Satisfação que é sempre parcial, assim o indivíduo está sempre procurando um objeto que possa satisfazer a pulsão. Outra característica é que além dela ocorrer sempre de forma interna, ela também é constante e de alta pressão, os estímulos pulsonais são processos que o aparelho psíquico não pode evitar ou acabar. Freud examina a pulsão a partir de quatro componentes: pressão (ou impulso), meta (ou finalidade), objeto e fonte: 1) Um dos seus componentes é a pressão, na medida em que a pulsão incide como ininterrupta e constante exigência de trabalho no psiquismo. Esta definição diferencia a pulsão de qualquer outro estímulo endógeno de impacto momentâneo, como a fome ou a sede, que podem diminuir ou cessar desde que haja uma ação específica , que satisfaça à necessidade de alimento ou de água. Essa característica de pressionar permanentemente, nos permite definir a pulsão como uma força que vigora no psiquismo, não estando à serviço de nenhuma função biológica. A finalidade da pulsão é a satisfação, que é a redução da tensão causada pela mesma 2) Se a meta última da pulsão é a obtenção da satisfação pela via da descarga das excitações, que só pode ser obtida removendo-se o estado de estimulação na fonte da pulsão e como visto anteriormente, deduzimos que o objetivo da pulsão é inatingível pela sua própria natureza. E justamente porquea satisfação não se alcança, a pulsão pressiona constantemente. 3) Já o objeto é de extrema importância, pois ele é o que há de mais variável na pulsão. Por assim dizer, o objeto é sempre mutável e nunca fixo. Apesar de não ser específico, não pode ser qualquer objeto, mas deve ser "peculiarmente adequado" para tornar possível a satisfação. Esta peculiaridade é em referência à história do sujeito. Não se trata de um objeto do mundo exterior, mas da representação que um determinado objeto adquire para um determinado sujeito. Nesse sentido, o que está em questão é não somente a relação do objeto com a finalidade, mas um modo de relação objetal que articula o indivíduo com o mundo. 4) Como fonte da pulsão é corporal, não psíquica, é um "processo somático que ocorre em um órgão ou em uma parte do corpo, e cujo excitação é representado na vida mental pela pulsão" (isso significa que a pulsão precisa de um corpo físico para alcançar a mente); A fonte da pulsão é constante e não há energia que a elimine completamente: daí a dificuldade do homem ser feliz, ele não consegue satisfazer completamente suas pulsões. Segundo Girola (2016) - GIROLA, André. Introdução ao conceito de Pulsão em Psicanálise. 2016 As pulsões são originadas de um estímulo pulsional, gerado por uma fonte pulsional, Esses estímulos chegam a psique e podem gerar um acúmulo de energia que causará uma pressão, que pode ser percebida como incomoda. Tal processo desencadeia uma necessidade ou urgência de satisfação que buscará um objeto representado por imagens ou afetos que poderá possibilitar a pulsão alcançar sua finalidade." Destacando tais elementos, podemos organizar o conceito da seguinte forma: A pulsão é uma força de pressão constante, que alcança a mente a partir de uma fonte somática que tem um objeto variável, através do qual realiza a finalidade de obter satisfação, embora por sua natureza de pressionar constantemente não se satisfaça completamente, mas apenas de modo parcial, justamente porque não há uma ação adequada que elimine o estado de estimulação na fonte. Ela pode ser um conceito extremamente abstrato que se encontra no desejo tentando explicar essa fronteira entre o mental e o corporal. Ela tem relação com as marcas psíquicas iniciais que gravaram a sensação do prazer onde o organismo procura reencontrar tais sensações usando objetos e que não necessariamente são os mesmos que deixaram tais marcas e não necessariamente físico. Questão 3. Freud empregou a palavra "aparelho" para definir uma organização psíquica dividida em sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções específicas, que estão interligadas entre si, ocupando certo lugar na mente. Assim, o modelo tópico designa um "modelo de lugares"; Freud formulou primeiramente a primeira tópica, conhecida como Teoria Topográfica, e posteriormente apresentou a segunda tópica, conhecida como Teoria Estrutural ou Dinâmica. Na primeira tópica de Freud, o aparelho psíquico é composto por três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Segundo Freud, o consciente é somente uma pequena parte da mente, incluindo tudo aquilo de que estamos cientes num dado momento. Do ponto de vista tópico, o sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico, recebendo, ao mesmo tempo, as informações do mundo exterior e as provenientes do interior. O pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e funciona como uma espécie de barreira que seleciona aquilo que pode ou não passar para o consciente. O pré-consciente seria uma parte do inconsciente que pode tornar-se consciente com relativa facilidade, ou seja, seus conteúdos são acessíveis, podem ser evocados e trazidos à consciência. No inconsciente estariam os elementos instintivos não acessíveis à consciência. Além disso, há também material que foi excluído da consciência pelos processos psíquicos de censura e repressão. Esse conteúdo "censurado" não é permitido ser lembrado, mas não é perdido, permanecendo no inconsciente. Para Freud, a maior parte do aparelho psíquico é inconsciente. Ali estão os principais determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica e as pulsões ou instintos. A segunda tópica, ou modelo estrutural (1923), passa a considerar a existência de três instâncias ou estruturas psíquicas na mente: ego, id e superego. Id, Ego e Superego são conceitos criados por Freud para explicar o funcionamento da mente humana, considerando aspectos conscientes e inconscientes. Seriam três “partes” da mente que, integradas e atuando em conjunto, determinam e coordenam o comportamento humano: O Id é regido pelo “princípio do prazer”. Profundamente ligado a libido, está relacionado a a ação de impulsos é considerado inato. Está localizado na zona inconsciente da mente, sem conhecer a “realidade” consciente e ética, agindo portanto apenas a partir de estímulos instintivos, o que lhe atribui a característica de amoral. O ego é a parte consciente da mente, sendo responsável por funções como percepção, memória, sentimentos e pensamentos. É regido pelo “princípio da realidade”, sendo o principal influente na interação entre sujeito e ambiente externo. É um componente moral, que leva em consideração as normas éticas existentes e atua como mediador entre id e superego. O superego é o componente inibidor da mente, atuando de forma contrária ao id. Considerado hipermoral, segue o “princípio do dever” e faz o julgamento das intenções do sujeito sempre agindo de acordo com heranças culturais relacionadas a valores e regras de conduta. O superego é, então, componente moral e social da personalidade. Desde cedo Freud estabelece a diferença durante a elaboração de suas considerações metapsicológicas. Em “A interpretação de sonhos” em 1900, o sistema pré-consciente está situado entre o sistema inconsciente e a consciência; está separado do primeiro pela censura, que procura barrar aos conteúdos inconscientes o caminho para o pré- consciente e para a consciência; na outra extremidade, comanda o acesso à consciência e à motilidade. No sentido descritivo, é a qualidade momentânea que caracteriza as percepções externas e internas no conjunto dos fenômenos psíquicos. Segundo a teoria metapsicológica de Freud, a consciência seria função de um sistema, o sistema percepção-consciência (Pcs-Cs). Do ponto de vista tópico, o sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico, recebendo ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as provenientes do interior, isto é, as sensações que se inscrevem na série desprazer- prazer e as revivescências mnésicas. Muitas vezes Freud liga a função percepção- consciência ao sistema pré-consciente (Pcs-Cs). Do ponto de vista funcional, o sistema percepção-consciência opõe-se aos sistemas de traços mnésicos que são o inconsciente e o pré-consciente: nele não se inscreve qualquer traço durável das excitações. Do ponto de vista econômico, caracteriza-se pelo fato de dispor de uma energia livremente móvel, suscetível do sobre-investir este ou aquele elemento (mecanismo da atenção). A consciência desempenha um papel importante na dinâmica do conflito (evitação consciente do desagradável, regulação mais discriminadora do princípio de prazer) e do tratamento (função e limite da tomada de consciência), mas não pode ser definida como um dos pólos em jogo no conflito defensivo. No desenvolvimento de sua Metapsicologia, Freud elaborou modelos de aparelhos psíquicos para tentar dar conta das características do funcionamento mental que eram percebidas na clínica. Em suas elaborações, Freud diferenciouaquilo do vivido que se inscreve e o que não se inscreve; também diferenciou aquilo do inscrito que não pode ser evocado, apesar de surtir os efeitos de sua inscrição, constituindo o núcleo do recalque primário, daquilo que, mesmo que alguma vez tenha sido passível de ser evocado, passa ao esquecimento por meio do recalque secundário. Estabeleceu também a diferença destes daquilo que, mesmo sem poder ser recordado, comparece, de modo insistente, na repetição somática, exigindo um trabalho clínico para ser elaborado. Finalmente, esclareceu o poder de recepção ilimitado para a inscrição de novas experiências e, por outro lado, a indefinida conservação das inscrições já efetuadas. Desde seu trabalho sobre as afasias, Freud já considerava a relação com o outro como condição para o desenvolvimento de seu aparelho de linguagem, ainda que ali esse outro possa ser entendido como um outro aparelho de linguagem. A Psicanálise deixa claro, desde seus primórdios, que somos seres de linguagem. Admite-se, como escreve Lebrun, que essa aptidão para a linguagem, em toda sua complexidade, seja única, ou seja, “é o que caracteriza e especifica a humanidade, essa comunidade de seres falantes” (Lebrun, 2008, p. 50). A Psicanálise tem como objeto o inconsciente, um saber falado que, assim como propôs Freud, deve ser lido como um sistema de inscrições. Podemos afirmar que só há o inconsciente – e a Psicanálise – porque há linguagem, já que é ela que permeia as relações entre o eu e o outro. Os fenômenos da linguagem estão intimamente relacionados à vida psíquica e sua importância pode ser percebida desde os primeiros trabalhos freudianos. O papel da linguagem e da ordem simbólica é fundamental na inauguração do psiquismo e na estruturação de seu aparelho. Linguagem e memória aparecem como sendo de ordem estruturante. A partir da Carta 52, o abandono do vocabulário neurológico já é claro e o traço começa a tornar-se escritura. Aparelho psíquico e texto passam a ser indissociáveis, não porque temos um aparelho capaz de produzir textos. A linguagem na estruturação do aparelho psíquico vários sistemas atendendo a necessidades cada vez mais complexas de articulação entre as pulsões e as representações” (Garcia-Roza, 2004a, pp. 62-63). Esse texto psíquico não é feito de palavras, mas de imagens, como podemos depreender a partir da análise dos sonhos. Em todos os modelos e tentativas de explicação do aparelho psíquico, fica claro que esse aparelho constitui-se, de fato, como um aparelho de memória e de linguagem. Garcia Roza (2004a) chama atenção para o fato de que o aparelho psíquico não é, de fato, psíquico. Os modelos de aparelho psíquico propostos por Freud (1891/2016), desde seu trabalho sobre as afasias, deixam claro que sua concepção é a de um aparelho de memória e linguagem. Isso não quer dizer que se trata de um aparelho cujas funções principais sejam a memória e a linguagem, mas de um aparelho que se constitui como aparelho de memória e linguagem. Assim, […] não há anterioridade do aparelho em relação à memória e à linguagem; é à medida que se constitui uma memória que se opera uma diferenciação na trama dos neurônios, distinguindo um sistema psi de um sistema phi. E aquilo sobre o qual ou com o qual essa memória opera são os sistemas de traços (no caso do Projeto e da Carta 52) ou o que em A interpretação do sonho é concebido como texto psíquico, portanto, memória de escritura. (Freud, 1892/2016, p. 155). Desse modo, o aparelho psíquico é, na realidade, um aparelho simbólico. É o simbólico que funda esse aparelho, não o que resulta de seu funcionamento. Assim, é sua natureza simbólica que faz desse aparelho um aparelho, não o estatuto psicológico de suas representações. Uma representação (Vorstellung), “muito mais que uma entidade psicológica, é uma entidade psicológica, é uma entidade simbólica, ou, se preferirmos, o psicológico em Freud é simbólico” (Garcia-Roza, 2004a, p. 156).
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