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AULA 1 LOGÍSTICA REVERSA E GESTÃO DE RESÍDUOS Prof.ª Rosinda Angela da Silva 2 CONVERSA INICIAL O avanço das novas tecnologias, a quantidade de produtos lançados anualmente e a melhora das condições econômicas da sociedade desencadeou um aumento expressivo do consumo nas últimas décadas. Esses elementos são positivos para a economia das nações, em que o crescimento das empresas representa empregabilidade e prosperidade. No entanto, na mesma proporção do consumo, cresceu também o desperdício e a geração de lixo! Quanto mais as pessoas adquirem produtos de diversas naturezas, maior o volume de lixo gerado, e isso, na atualidade, é um problema sistêmico, ou seja, está em todos os lugares, seja em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Visando criar alternativas para mitigar os efeitos da produção, que prejudica o meio ambiente e o consumo desenfreado, a logística reversa (LR) tem se tornado uma decisão estratégica para as organizações que, cada vez mais, são responsabilizadas pelos resíduos gerados por seus produtos. Diante desse contexto, esta primeira aula tem como propósito iniciar o processo de apresentação desse universo dinâmico e regulamentado que é a logística reversa. CONTEXTUALIZANDO A logística reversa (LR) é uma das áreas mais recentes da logística empresarial e seus conceitos e definições ainda estão em processo de formação e amadurecimento. A prática da LR está conectada com as ações que as empresas desenvolvem para destinar adequadamente os resíduos de seus produtos. Muitas organizações já alcançaram status de empresas ambientalmente sustentáveis, mas grande parte ainda tem muito trabalho a fazer para se adequar às novas exigências do mercado. Você sabe o que uma empresa precisa realizar para ser reconhecida como sustentável? Considere que, hoje, o cliente está mais exigente na escolha dos produtos para consumo, bem como mais consciente de seus direitos e das questões ambientais. Devido a isso, tem ocorrido um grande avanço na busca pelo conhecimento dos impactos causados por processos produtivos nocivos ao meio ambiente e pelo lançamento desenfreado de produtos no mercado. 3 As empresas têm buscado se adequar às novas regras do mercado porque têm responsabilidade com seus stakeholders, mas também têm procurado criar valor e competitividade a partir da prática da LR. A busca pela logística reversa eficiente abrange o estudo e a análise de todos os seus componentes, e exige coordenação interna e externa à organização. Campos e Goulart (2017, p. 30) salientam que a LR desempenha diversas funções nas empresas, tais como: planejamento de todo o fluxo de materiais; gestão do fluxo de informações de todo o processo; movimentação de produtos na cadeia produtiva, do consumidor para o produtor; otimização dos recursos empregados no processo produtivo e reciclagem e correta destinação de itens, após a utilização. Com isso, compete aos gestores a tarefa de buscar conhecer os processos da organização e apurar quais devem ser melhorados para atender aos princípios sustentáveis que o mercado exige. Note que, na atualidade, o acesso à informação não é um problema, certo? Temos dados e informações gratuitas e acessíveis que podem nos tornar expert em qualquer área, inclusive em logística reversa. Isso significa dizer que a formação do nosso conhecimento sobre LR inicia aqui, mas não estará concluída ao findarmos a disciplina, isso porque precisamos ser eternos pesquisadores para alcançarmos além do básico e fazermos a diferença nas organizações. TEMA 1 – INTRODUÇÃO À LOGÍSTICA REVERSA (LR) É comum a abordagem da logística reversa (LR) com base na análise do funcionamento da logística empresarial (tradicional). Em parte, isso faz sentido porque, para haver um processo reverso, é preciso ter ocorrido um processo de envio, ou de distribuição, não é mesmo? Muitos autores definem logística e suas áreas (aquisição, intralogística, distribuição, reversa, entre outros), mas aqui serão utilizados os conceitos de dois autores ícones em suas áreas de atuação, Ronald Ballou, em Logística Empresarial, e Paulo Roberto Leite, em Logística Reversa. De acordo com Ballou (2006, p. 24), logística (direta) trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria- prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável. 4 Segundo Leite (2017, p. 31), logística reversa é a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes a ela (desde a coleta dos bens de pós consumo ou de pós-venda, por meio dos processamentos logísticos de consolidação, separação e seleção, até a reintegração ao ciclo) bem como do retorno dos bens de pós-venda e pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais reversos, agregando-lhes valores de diversas naturezas: econômico, de prestação de serviços, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. Figura 1 – Logística reversa Fonte: Shutterstock. Pelas definições dos autores, percebe-se que a diferença básica entre essas áreas da logística reside no sentido do fluxo. Logística empresarial se ocupa em comprar, produzir e distribuir, já a logística reversa se ocupa em retornar. Observe o quadro a seguir, que trata desse contexto com base na comparação entre algumas diferenças entre elas. Quadro 1 – Diferenças entre logística direta e reversa Logística direta Logística reversa Previsão relativamente direta. Previsão mais difícil. De um para vários pontos de distribuição. Muitos para um ponto de distribuição. Qualidade do produto uniforme. Qualidade do produto não uniforme. Embalagem do produto uniforme. Embalagem do produto geralmente danificada. Destinação/rota clara. Destinação/rota não clara. Preço relativamente uniforme. Preço depende de vários fatores. Importância da velocidade reconhecida. Importância da velocidade, geralmente, não é considerada prioridade. Gerenciamento do inventário consistente. Gerenciamento do inventário não consistente. Fonte: Adaptado de Miguez, 2012, p. 6. 5 Com base no quadro 1, percebe-se, nesse momento, que a LR está em desvantagem no que tange à organização das atividades, coeficiente de importância para a gestão e visibilidade de sua relevância para os negócios. Então, surge o questionamento: será que isso tem chances de mudança? A resposta para essa dúvida, é sim! No entanto, ainda não é possível precisar uma data para que a LR se torne prioridade nas organizações, mas já são conhecidos inúmeros casos de empresas que efetivamente levam isso a sério. Tais empresas (Veja..., 2015) estão na vanguarda da organização de seus fluxos reversos e já são reconhecidas pelo público como sustentáveis (por exemplo, Phillips, Natura, Hewlett Packard-HP, Apple, Banco do Brasil, O Boticário, entre outras). Esse reconhecimento reforça que a adoção de políticas que fomentam a logística reversa de partes, peças, componentes e embalagens para que retornem à cadeia produtiva já faz toda a diferença no mundo dos negócios. Os principais motivos que levam as empresas a investir em programas de LR são: aumento da consciência por parte da sociedade sobre a economia de recursos naturais; pressão da sociedade por produtos mais sustentáveis e que agridam menos o meio ambiente; busca por reduções de custos na produção ao utilizar insumos advindos da cadeia reversa; criação de legislação específica para tratar os assuntos da LR no Brasil e no mundo; fortalecimento da marca da empresa como sustentável eambientalmente correta, entre outros aspectos. As empresas que querem fazer da LR uma estratégia competitiva utilizam esses elementos para nortear suas ações e qualificam seus colaboradores e pares comerciais a fim de que ocorra uma mudança cultural para que tais valores sejam incorporados. A LR, na prática, é uma atividade em crescimento e que tem trazido diversos desafios para os gestores e para a sociedade. Muito já foi feito nesse sentido, mas temos ainda muito por fazer! Estudaremos sobre isso nas aulas vindouras. 6 Figura 2 – Fonte: Shutterstock. TEMA 2 – CONCEITO E APLICABILIDADE DA LOGÍSTICA REVERSA Agora que já conhecemos o conceito de LR, analisaremos alguns aspectos que fizeram com que a LR se tornasse imprescindível para os negócios. A análise será realizada com base nas funções inovação e consumo. A inovação está em todo lugar, e isso é simplesmente fantástico porque temos recursos, principalmente tecnológicos, em todas as áreas das nossas vidas. Observe o quadro a seguir, o qual faz um comparativo entre os recursos utilizados no passado (relativamente recente) e o que é utilizado na atualidade. Quadro 2 – Comparação de bens Passado Presente Fonte: Shutterstock. 7 O quadro mostra apenas alguns bens que se modificaram com o passar do tempo, mas sabe-se que a lista é muito maior. Com tanta tecnologia envolvida no modus operandi da atualidade, é possível realizar muito mais rapidamente que outrora inúmeras atividades porque máquinas e equipamentos são criados constantemente para facilitar a vida das pessoas. Assim, pressupõe-se que o ser humano está muito mais produtivo. Isso pode até ser uma afirmação verdadeira, mas se analisarmos criticamente, concluiremos que isso tem um custo bem alto para sociedade. E qual é esse custo? O custo do consumo sem consciência. Nossa segunda parte da análise justifica a relevância da LR nos negócios modernos. Analise que, para ter acesso a tantos produtos diferenciados, mais recursos são extraídos da natureza, e muitos não são nem ao menos renováveis. No entanto, além da extração das matérias-primas que ocorre no início do processo, tem-se na outra ponta o descarte inadequado dos resíduos desses mesmos produtos, além de desperdício dos recursos naturais. A competitividade entre os fabricantes nunca esteve tão contumaz quanto agora e isso exige o lançamento de bens de consumo cada vez mais modernos, tecnológicos, inteligentes e bonitos. Isso para que o cliente, principalmente o “experimentador”, aquele que gosta de adquirir produtos novos no mercado, sinta- se compelido a consumir ou a trocar a versão do seu produto. Figura 3 – Consumo e tecnologia Fonte: Shutterstock. E porque o consumidor gosta disso? Uma das respostas possíveis é que ele é curioso e gosta de novas tecnologias. Outra resposta é que o consumidor quer se sentir especial e quer ser reconhecido em seus círculos – pessoal, social e profissional – como aquele que investe em sua imagem e que utiliza sempre o produto de última geração. 8 Independentemente do motivo que leva um cliente a trocar de produto constantemente ou consumir cada vez mais, temos alguns elementos-chaves que devem ser analisados para embasar a tomada de decisões assertivas em relação à gestão da logística reversa dos resíduos dos bens. O produto (principalmente bens duráveis) pode ser produzido dentro do conceito de consumo sustentável, ou com foco na descartabilidade. O produto pode ser produzido com sistema de produção mais limpa (PML) ou com processo que agrida o meio ambiente em várias escalas (muito, razoável ou pouco). Partes, peças e embalagens dos produtos podem ser reaproveitados ou não, caso contenham elementos contaminantes que se apresentam em várias escalas também (muito, razoável, pouco). Isso certamente exige cuidados especiais com separação, armazenagem, transporte, entre outras preocupações. Esses e outros fatores têm criado desafios para as iniciativas: pública (governo), privada (empresas) e sociedade civil (consumidores e comunidade), principalmente no aspecto do que fazer com os resíduos do produto que já foram utilizados. Com base nesse contexto é que a LR tem se tornado uma atividade de apoio às estratégias organizacionais. E como a logística reversa pode ajudar a melhorar isso? A LR traz em sua essência a preocupação com o meio ambiente e o descarte adequado dos resíduos, sólidos, tóxicos, contaminantes e afins. Campos e Goulart (2017, p. 20) afirmam que a LR surgiu “com seus conceitos e legislações capazes de apoiar as empresas na reestruturação de seus processos logísticos, planejando e implantando o sistema de logística reversa como complemento do processo logístico”. Figura 4 – Lixo e meio ambiente Fonte: Shutterstock. 9 Então, mesmo que inicialmente origine custos para as empresas, com o tempo a LR trará os retornos financeiros e de boa imagem perante a sociedade. TEMA 3 – ATORES INTERAGENTES PÚBLICOS E PRIVADOS NA LOGÍSTICA REVERSA A LR não é feita, por exemplo, apenas pelo governo, tampouco pela empresa fabricante, pois é preciso um esforço conjunto de todos os atores interagentes (stakeholders) do negócio. Observe a figura a seguir que apresenta os atores interagentes clássicos. Figura 5 – Logística reversa Fonte: Revistavarejobrasil. 10 Vamos conhecê-los em linhas gerais. Indústria: cria, produz e lança no mercado novos produtos para atender às diferentes demandas dos clientes. Para isso, adquire matérias-primas, componentes, partes e peças para viabilizar seu processo produtivo. Pode e deve utilizar os conceitos de PML (Produção Mais Limpa) e do PPCS (Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis). Buscar utilizar, como matéria-prima, insumos provenientes da cadeia reversa. Compete ainda, à indústria, criar parcerias com fornecedores que considerem os princípios sustentáveis e investir na educação ambiental dos colaboradores. Figura 6 – Indústria Fonte: Shutterstock. Distribuidor: tem como função fazer com que o produto chegue até o consumidor com a melhor qualidade possível. Para isso, utiliza transporte e embalagem em larga escala, além de locais para armazenagem e movimentação de mercadorias. Na cadeia reversa, pode transformar-se no Canal de Distribuição Reverso (CDR) e auxiliar na coordenação das atividades de retorno, reuso, reciclagem e disposição segura de seus componentes e materiais constituintes após o fim de sua vida útil, ou ainda, após apresentarem não conformidade, defeito, quebra e inutilização (Tadeu et. al., 2016, p. 16). Varejo: os varejistas são os elos da cadeia logística responsáveis por atender ao público consumidor, ou seja, representam o último estágio antes da entrega do produto. No processo de logística direta, tem como objetivo disponibilizar o produto onde quer que o cliente se encontre; já na LR 11 auxiliam cedendo espaço para coleta de partes, peças e componentes como baterias, lâmpadas, sobras de medicamentos, entre outros. Consumidor: é considerado o elemento mais importante para o sucesso da LR. Isso porque os produtos são lançados para atender às suas necessidades e expectativas, mas as partes e peças só retornarão para cadeia produtiva se o consumidor fizer a separação seletiva e o descarte adequado. Coleta e seleção: sequência importante para o sucesso da LR, pois se o cliente separou e descartou corretamente os resíduos dos produtos pós- uso, a chance de esse produto ser reaproveitado na cadeia produtiva é grande. Entretanto, para isso, a coleta e seleção deve ser realizada por profissionais capacitados a fim de que não sejam misturados, anulando o esforço dos consumidores. Reciclagem: essa etapa tem como foco tentar reaproveitar tudo o quefor possível do produto coletado. Para isso, processos de seleção das matérias-primas, bem como de higienização de alguns componentes, devem ser realizados. Nesse caso, é importante tomar cuidado com a contaminação que pode ser causada por essas empresas pelo uso inadequado do espaço para separação, bem como dos produtos químicos utilizados na higienização. Figura 7 – Reciclagem Fonte: Shutterstock. No entanto, devemos expandir essa análise e considerar também os atores a seguir, pois eles impactam diretamente nas decisões organizacionais. Empresas extrativistas: na LR, essa categoria situa-se antes da indústria porque é responsável por extrair e, em alguns casos processar o recurso, 12 para que se torne uma matéria prima. Por exemplo: A indústria de papelão depende da indústria madeireira para ter matéria prima, certo? Como garantir que as madeireiras adotam procedimentos de manejo correto e replantio de árvores de forma que não comprometam o meio ambiente e o ecossistema de onde estão inseridas? O governo: esse ator é essencial para que a LR saia dos planejamentos teóricos ou futuros incertos das empresas. O governo faz isso com o recurso que lhe é de direito: a legislação. Os governos (federal, estadual e municipal) têm buscado criar uma legislação para regulamentar cada setor da economia que gere os resíduos sólidos ou que apresentem processos produtivos que ofereçam riscos à população e ao meio ambiente. Com a criação da legislação, principalmente a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a qual será discutida em aula vindoura, as empresas já têm um norte para suas ações, bem como conhecem o prazo para adequação das atividades que não atendam às prerrogativas da PNRS. Cooperativas de catadores: elemento essencial para existir LR no Brasil, mas que muitas vezes não recebem a verdadeira atenção ou recursos que as auxiliem a prestar um bom serviço. As cooperativas são responsáveis pelo trabalho de coleta dos resíduos nos pontos em que o cliente os disponibiliza, como condomínios, residências, escolas, mercados, shoppings, bancos entre outros. Comunidade local: é impactada pelas ações positivas ou negativas das empresas inseridas em determinado local. Compete às associações de bairro ou líderes comunitários estarem atentos às ações que as empresas praticam como poluição de rios, descarte inadequado de embalagens e produtos contaminantes ao meio ambiente, entre outros riscos. Colaboradores: Aliados essenciais para o sucesso da LR na empresa. Entenda que, em dado momento, somos colaboradores de empresas e capacitados a cuidar dos recursos da empresa, certo? Em outro momento, somos os consumidores, que adquirimos produtos e temos que descartá- los futuramente. Isso significa dizer que colaboradores conscientes se tornam consumidores conscientes e vice-versa, então, a empresa que investe em seus colaboradores ajuda a criar uma consciência coletiva de melhores práticas. 13 Figura 8 – Colaboradores Fonte: Shutterstock. Acionistas: são aqueles que têm interesse que o negócio prospere. Para isso, devem estar conscientes de que uma empresa de sucesso é aquela que atinge o tripé da sustentabilidade (Triple Botton Line) – ambiental, social e econômico –, assunto que será retomado mais adiante nesta aula. Nesse caso, verificar se a gestão da empresa contempla esses três elementos em suas decisões estratégicas amplia as chances de o negócio se manter competitivo no mercado. Mercado internacional: uma empresa que pretende atuar no mercado internacional, principalmente na exportação, precisa se preocupar imediatamente com a melhoria da gestão dos seus resíduos. Muitas empresas multinacionais só negociam com as que comprovem as ações adotadas de sustentabilidade e atenção à legislação ambiental tanto do país da empresa cliente quanto da empresa fornecedora. Figura 9 – Mercado internacional Fonte: Shutterstock. Dependendo do segmento no qual a empresa atua, outros atores interagentes podem fazer parte da formação da cadeia reversa, tais como as organizações não governamentais – ONGs, as sociedades civis sem fins 14 lucrativos, os institutos de pesquisa, as instituições de ensino público e privado, os grupos de investidores e até mesmo a concorrência. TEMA 4 – OS OBJETIVOS ECONÔMICOS DA LOGÍSTICA REVERSA Todas as empresas buscam reduzir seus custos para melhorar seus resultados financeiros, até porque isso é uma premissa para se manter em um mercado o qual não permite gestão ineficiente. Entretanto, quando se cogita a ideia de implementar a LR nas empresas, muitos gestores pensam sempre no custo que terão incialmente. Pode ter certeza de que isso não está errado, mas antes de qualquer decisão, é imprescindível levantar quais os principais elementos de custos que podem ser reduzidos ou até eliminados da cadeia produtiva de uma empresa, por meio das ações sustentáveis que a logística reversa pode prover. A seguir, serão apresentados alguns exemplos de custos passíveis de serem comparados. Aquisição de matéria-prima reciclada: muitos produtos podem ser produzidos com base em matéria-prima reciclada, que a empresa pode comprar por preço menor. Com plástico reciclado, por exemplo, é possível produzir tomadas, plugs, interruptores, bacias, baldes, suportes para vasos, forro plástico para residências, itens de decoração, enfim, todo e qualquer produto que não tenha a real necessidade de ou, por força de legislação, ter que ser fabricado com plástico virgem. Papel reciclado: itens como cadernos, sacolas, cartões, envelopes, calendários, livros, itens de decoração, urnas para animais de estimação e muitos outros produtos podem ser fabricado com papel ou papelão reciclado (o que não abrange embalagens para alimentos e higiene pessoal, por exemplo). Então, se a empresa é uma indústria de papelão, é possível comprar as aparas de papelão das cooperativas de catadores de papel e reutilizar em seu processo produtivo. A empresa, por exemplo, que utiliza embalagens de papel em abundância, deve analisar se há necessidade de a embalagem ser sempre de material de primeiro uso. Observe que uma série de produtos podem ser embalados e transportados em embalagens recicladas, reduzindo o custo com a aquisição desse tipo de produto. 15 Madeira reciclada: outro item que pode ser amplamente utilizado para produções com custo mais baixo é a madeira. Nessa categoria, entram os móveis, principalmente os rústicos, as janelas, as portas e os itens de decoração. Já na rotina das empresas estão as embalagens de madeira utilizadas no processo de movimentação interna e armazenagem. Um exemplo prático em que uma indústria pode reduzir custos é na aquisição de pallets de madeira. Caso saiba que o uso de determinado pallet será por pouco tempo, é possível adquiri-los reformados ou montados com madeira reciclada ou de demolição. Figura 10 – Madeira reciclada Fonte: Shutterstock. Caso a empresa utilize vidro em seu processo produtivo ou como embalagem, analise se há a possibilidade de reutilizar as próprias embalagens ou adquirir vidro advindos da logística reversa. Já se a empresa utiliza metal em seu processo, também é válido checar se há possibilidade de adquirir as peças já com o tamanho exato de uso para evitar sobras, ou ao menos vender a sucata das peças produzidas para algum elo da cadeia. Utilização de embalagens retornáveis: as empresas que possuem processos logísticos de inbound e outbound com fornecedores, terceirizados e clientes, por exemplo, sempre são candidatas a substituir embalagens convencionais descartáveis por embalagens retornáveis, as quais sejam utilizadas apenas para transporte. Por exemplo, uma empresa que fabrica parafusos e terceirizou o processo de acabamento das peças (zinco, cromo, níquel ououtro). Para ganhar tempo e agilidade, a empresa fabricante prefere levar e buscar os parafusos no fornecedor. Para essa atividade, é possível utilizar uma embalagem retornável própria, que talvez 16 tenha custado mais caro que uma embalagem descartável, porém, a quantidade de vezes que ela poderá ser utilizada compensa o investimento. Outras possibilidades também podem ser avaliadas, por exemplo, se a empresa gera sucata de tecido, couro, papel, papelão, plástico, sucata de tinta a pó, materiais de construção, entre outros. É possível vender essa sucata e reverter financeiramente para o caixa da empresa. Contudo, será que essas ações geram custos para empresa? Certamente sim, mas o fato está em levantar os custos para aplicar essas ações e comparar com aqueles que já acontecem na empresa. Além disso, é preciso considerar também o prazo que o investimento em ações sustentáveis trará seu retorno. Somente assim é possível concluir se o uso da logística reversa ofertará o retorno que a empresa deseja ou se somente será um gerador de custo a ser repassado para o custo do produto. TEMA 5 – COMPETITIVIDADE POR MEIO DA LOGÍSTICA REVERSA Uma empresa que deseja se manter competitiva deve estar atenta a todos os movimentos, não apenas do seu segmento, mas do mercado como um todo. Isso porque não apenas os produtos mudam, mas sim, o perfil do cliente, bem como da concorrência. Em se tratando de LR, um dos elementos que torna a empresa mais competitiva é a busca pela implementação do tripé da sustentabilidade (Triple Botton Line – Planet, People, Profit). Figura 11 – Tripé da sustentabilidade Fonte: Shutterstock. O conceito do tripé da sustentabilidade foi criado pelo fundador da consultoria inglesa Sustain Ability, John Elkington, na virada do século XXI, e rapidamente adotado em âmbito mundial: “a sociedade depende da economia, e 17 a economia depende do ecossistema global, cuja saúde representa o pilar derradeiro. Diante dessa visão, uma empresa pode ser considerada sustentável se gerenciar e conseguir bons resultados nas áreas econômica, ambiental e social, concomitantemente” (Philippi Junior et al. 2017, p. 491). Figura 12 – Tripé da Sustentabilidade Fonte: Adaptado de Giovanelli, 2015. Esse tripé faz com que a empresa se movimente no sentido de identificar como se comporta ou como está organizada nas três grandes áreas: meio ambiente, sociedade e economia. Em relação às questões do meio ambiente, a empresa precisa identificar como é a sua gestão dos recursos naturais utilizados nos processos diários: água, energia elétrica, emissões de gás, efeito estufa, bem como gerencia a destinação dos resíduos sólidos (lixo, principalmente) e se pratica os Rs da sustentabilidade (Refletir, Reusar, Recuperar, Reaproveitar, Repensar, Reutilizar, Reduzir, Reciclar, Respeitar, Reparar, Responsabilizar, Repassar), entre outras ações necessárias que corroborem para melhorar o estado do meio ambiente em que está inserida. As questões sociais do tripé da sustentabilidade têm como foco fazer com que os gestores reflitam sobre as condições de trabalho que oferecem a seus colaboradores e às pessoas que fazem parte da cadeia reversa (catadores, principalmente), bem como lida com os direitos humanos e as diversidades em geral e que ações são praticadas para melhorar a condição de vida da comunidade a qual faz parte por meio das ações sociais – se investe em Social Econômico Ambiental 18 capacitação e orientação dos colaboradores, se fomenta a ética nos negócios, se reforçar seus valores, se combate a corrupção, entre outros. Figura 13 – Questões sociais Fonte: Shutterstock. Na esfera econômica, a empresa precisa criar mecanismos de transparência para suas ações contábeis e financeiras. Por exemplo, não se envolver em fraudes, realizar auditorias frequentes nas contas, estipular objetivos financeiros alcançáveis e reorganizar os processos visando ao lucro, pois uma empresa que não gera lucros com sua atividade não consegue se manter no mercado por muito tempo. As empresas com melhores práticas estão implementando a estratégia da governança corporativa em sua gestão para lidar profissionalmente com essa questão. Figura 14 – Esfera econômica Fonte: Shutterstock. O levantamento realizado para identificar esses pontos é uma excelente oportunidade de se compreender como a empresa tem se relacionado com esses elementos que são chaves para empresas sustentáveis. Observe a seguir a proposta de Paulo Roberto Leite (2017, p. 30) 19 Figura 15 – Estratégia empresarial e logística reversa Fonte: Adaptado de Leite, 2017, p. 30. O esquema anterior, proposto por Leite (2017), demonstra quão importante são os elementos do macroambiente, pois são os que mais impactam nas estratégias organizacionais. Implementar os procedimentos do tripé da sustentabilidade é um desafio para a maior parte das organizações devido aos impactos gerados pelas decisões em cada uma das áreas. No entanto, com o auxílio da plotagem da perspectiva estratégica apresentada (figura 15), é possível realizar uma boa análise que embasará a tomada de decisões. FINALIZANDO Esta primeira aula sobre logística reversa e gestão de resíduos foi um convite à reflexão sobre os conceitos iniciais da disciplina. Muito além de conhecer apenas definições, o foco foi apresentar as diferenças entre a logística direta e a reversa e discutir porque há distinção entre os processos. Estudamos que algumas empresas já têm realizado bons trabalhos, mas o desafio ainda é grande. Sociedade Educação Hábitos Mídia Propaganda Outros Governo Legislação Regulamentação Penalizações Outros Estratégia da logística reversa Objetivos estratégicos Objetivos operacionais Ambiente interno empresarial Recursos disponíveis Capacitação Fase empresarial Outros Ambiente empresarial Competição Empresas das cadeias reversas Disponibilidade de serviços de logística reversa Tecnologia Outros Organização empresarial 20 Para compreender o universo que envolve a LR, foram apresentados os atores interagentes básicos e estratégicos, quais interações ocorrem e o papel de cada um nesse contexto. Outro assunto pertinente discutido nesta aula foi o objetivo econômico associado à LR, que é a redução de custo, sem dúvida nenhuma. Para finalizar, foi discutida como a empresa pode utilizar a LR para se tornar mais competitiva em seu mercado, ou como melhorar seu desempenho. Para isso, foi apresentado o tripé da sustentabilidade, o qual prega que as empresas precisam trabalhar em três frentes que se complementam: ambiente, sociedade e economia. Isso nos auxiliou a responder o questionamento inicial, sobre como uma empresa pode se tornar competitiva aproveitando o conhecimento gerado pela implementação da logística reversa. LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica Acesse o livro “O reverso da logística e as questões ambientais no Brasil”, de Edelvino Razzolini e Rodrigo Berté na Biblioteca Virtual Pearson, digitando como palavra-chave o mesmo título do livro. Para aprofundar seu conhecimento nesse estágio inicial da disciplina, sugiro a leitura das páginas 61 a 71. Texto de abordagem prática COUTO, M. C. L.; LANGE, L. C. Análise dos sistemas de logística reversa no Brasil. Eng Sanit Ambient, v. 22, n. 5, p. 889-898, set./out. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/esa/v22n5/1809-4457-esa-22-05-00889.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2018. Acesse o link e leia o artigo. Saiba mais INSTITUTO ETHOS. Disponível em: <http://www.ethos.org.br/>. Acesso em: 15 jul. 2018. 21 Você já conhece o Instituto Ethos? Acesse o site por meio do link a seguir e fique por dentrodas novidades sobre vários assuntos relevantes para a convivência em sociedade, inclusive meio ambiente. No website do Instituto você pode acessar a sessão: ETHOS MEIO AMBIENTE. 22 REFERÊNCIAS BALLOU, R. H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. São Paulo: Atlas, 2006. CAMPOS, A. de; GOULART, V. D. G. Logística reversa integrada: sistemas de responsabilidade pós-consumo aplicados ao ciclo de vida dos produtos. São Paulo: Érica, 2017. DECRETO assegura isonomia no cumprimento de obrigações na logística reversa. Revista Varejo Brasil, 28 out. 2017. Disponível em: <http://www.revista varejobrasil.com.br/decreto-assegura-isonomia-no-cumprimento-de-obrigacoes- na-logistica-reversa/>. Acesso em: 15 jul. 2018. GIOVANELLI, A. Triple bottom line ou tripé da sustentabilidade. Logística reversa, 15 jun. 2015. Disponível em: <http://logisticareversa.org/2015/06/15/triple-bottom- line-ou-tripe-da-sustentabilidade/>. Acesso em: 15 jul. 2018. LEITE, P. R. Logística reversa: sustentabilidade e competitividade. São Paulo: Saraiva, 2017. MIGUEZ, E. C. Logística reversa como solução para o problema do lixo eletrônico: benefícios ambientais e financeiros. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2012. PHILIPPI JUNIOR, A. et. al. Gestão empresarial e sustentabilidade. Barueri, SP: Manole, 2017. TADEU, H. F. B. et. al. Logística reversa e sustentabilidade. São Paulo: Cengage Learning, 2016. VEJA algumas empresas que praticam logística reversa. Pensamento Verde, 7 jan. 2015. Disponível em: <https://pensamentoverde.com.br/reciclagem/veja- algumas-empresas-que-praticam-logistica-reversa/>. Acesso em: 15 jul. 2018.
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