Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MODELOS DE GESTÃO O ambiente competitivo das organizações I Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar por que a capacidade de perceber, interpretar e responder apropriadamente ao ambiente global é fundamental para o sucesso gerencial. Identificar as forças que atuam no ambiente organizacional e como elas dão origem a oportunidades e ameaças. Diferenciar os aspectos e as características do ambiente geral global e do ambiente de tarefa global da organização. Introdução Os administradores de empresas estão quase sempre trabalhando em um ambiente onde competem com outras organizações por recursos escassos. Para conseguir sobreviver e prosperar no século XXI, as empre- sas necessitam olhar para além dos mercados locais; ou seja, precisam expandir seus negócios ao redor do mundo, tornando-se globais. Operar em um ambiente global é um ato incerto e imprevisto, pois o mundo é complexo e dinâmico. Se as empresas quiserem se adaptar a esse ambiente, seus administradores deverão compreender as forças atuantes existentes e como elas dão origem a oportunidades e ameaças. Neste capítulo, você vai estudar como é composto o ambiente global das organizações, compreendendo seu conceito e suas características com base na apresentação de casos reais. Você também vai verificar as forças que atuam no ambiente organizacional e as diferenças entre o ambiente geral e o ambiente de tarefa nas organizações. A importância da análise do ambiente global para as organizações As organizações que se tornam globais, passando a atuar para além do mer- cado doméstico, atuam sob infl uência das forças do ambiente geral global e do ambiente de tarefa global. O ambiente de tarefa global é o ambiente mais próximo da organização; ele abrange as forças que afetam a obtenção de recursos e a demanda de produção da empresa, impactando de forma signifi cativa a tomada de decisões no curto prazo. Já o ambiente geral global é formado por um conjunto de forças e condições que fogem ao controle das organizações e afetam a forma como a empresa formula o seu posicionamento. A globalização impôs novas exigências para os gestores de empresas globais, que vão além dos conhecimentos sobre gestão e das capacidades de inovar, de se adaptar de forma rápida e eficiente à nova realidade e de prever cenários e o futuro. O grande desafio tem sido enfrentar as forças econômica, tecnológica, sociocultural, demografia, política e legal de uma organização, que compõem o ambiente geral e geram impactos diretos no ambiente de tarefa da empresa. A capacidade de perceber, interpretar e reagir apropriadamente às forças do ambiente global é de fundamental importância para o sucesso das organi- zações, pois ela possibilita que o gestor se antecipe às ameaças e tire proveito das oportunidades do mercado antes da concorrência, conforme lecionam Bateman e Snell (2012). Para fazer isso de maneira eficiente, os profissionais do marketing devem entender as principais forças de marketing que afetam a capacidade de construir um bom relacionamento com seus stakeholders. Empresas bem-sucedidas sabem a importância vital de estar sempre observando o ambiente em mutação e se adaptando a ele. A empresa Xerox surgiu no mercado como fabricante de papéis fotográficos, sendo inicialmente denominada The Haloid Photographic Company. Ela foi fundada em 1906, mas foi apenas em 1959 que mudou o seu mercado de atuação e se transformou na gigante que é até hoje. O seu agente transformador foi a primeira máquina de fotocópia produzida pela empresa: a Xerox 914. Em 1961, a empresa passou a adotar o nome Xerox Corporation. O que contribuiu para que a Xerox se tornasse uma das principais empresas do setor de fotocópia foi a sua conexão com as inovações e transformações tecnológicas. Nada disso teria ocorrido se a empresa não tivesse a capacidade de perceber, interpretar e responder apropriadamente ao ambiente global. O ambiente competitivo das organizações I2 O ambiente de tarefa O ambiente de tarefa se refere ao conjunto de forças que resultam das ações de clientes, fornecedores, concorrentes e agências reguladoras, que impactam o dia a dia das organizações e de seus gestores. A seguir, discutiremos as principais forças do ambiente de tarefa e como elas dão origem às oportunidades e ameaças. Clientes Clientes são empresas e indivíduos que compram produtos e serviços de uma organização; sem eles, nenhuma organização conseguiria sobreviver. Os seus valores, hábitos, preferências e necessidades tendem a mudar com o tempo; por isso, é necessário realizar feedbacks de forma contínua, por meio de pesquisas de satisfação, análise de mídias sociais e outros métodos afi ns. Outra prática importante para gerar um bom relacionamento com os clientes se refere à estratificação, ou seja, a classificação em diferentes grupos por meio de critério predeterminados. O posicionamento estratégico deverá ser diferente para cada tipo de cliente, já que as suas necessidades e expectativas costumam ser diferentes, conforme leciona Porter (1999). Os clientes da Tok&Stok, por exemplo, podem ser estratificados em diferentes grupos: clientes que compram móveis para casa; clientes que compram utensílios; empresas privadas; empresas públicas. Para os clientes que compram móveis para sua casa, uma das preocupações pode ser a facilidade de pagamento; para as empresas privadas, a entrega; para as empresas públicas, o menor preço. Perceba que, quando a empresa trabalha para diferentes grupos de clientes, deverão existir várias estratégias de competição. O cliente, sendo um dos principais componentes do ambiente de tarefa, proporciona oportunidades e ameaças à empresa, principalmente quando ocorrem fatores como os descritos a seguir. 3O ambiente competitivo das organizações I Os clientes compram em elevados volumes. Os compradores de grandes volumes representam stakeholders potentes quando o setor se caracteriza por apresentar custos fixos elevados. Os produtos adquiridos pelos clientes não necessitam de padronização ou diferenciação. Como há diversas opções de compra, os compradores fazem com que haja uma “guerra” entre os fornecedores, o que, muitas vezes, resulta na redução dos preços ou em melhores condições de pagamento. Os produtos adquiridos pelos clientes no setor são componentes de seus produtos e representam uma fatia significativa de seu custo. Nesse caso, é usual que os compradores busquem os menores preços e escolham de forma seletiva. Quando o produto vendido pelo setor representa uma pequena fatia dos custos, os compradores dão menos relevância ao preço. Se os compradores geram lucros baixos, cria-se um grande incentivo para diminuir o custo da compra. Já os compradores que representam lucros elevados tendem a ser menos sensíveis ao custo. Os produtos do setor têm pouca relevância na qualidade do produto ou serviço dos compradores. Nesse caso, os compradores tendem a ser menos sensíveis ao custo, já que os produtos comprados não afetam diretamente a qualidade dos produtos ou serviços. Os produtos do setor não geram economia para os compradores. Quando o produto vendido pelo setor oferece um retorno muitas vezes maior do que o custo da compra, dificilmente os compradores serão sensíveis ao preço — pelo contrário, o principal interesse está na qualidade. Essa situação se aplica em serviços como os investi- mentos em mercados de ações, em que os erros cometidos podem ser catastróficos. Os compradores representam uma ameaça de produzir os produtos. Essa situação costuma ocorrer entre fabricantes e compradores de automóveis. Compradores utilizam com frequência a ameaça de produção própria como alavancagem para a barganha. Fornecedores Os fornecedores são as empresas e os indivíduos que fornecem à organização insumos necessários para a produção de produtos e serviços, conforme aponta Porter(1999). Essa força deve receber uma atenção especial quando: O ambiente competitivo das organizações I4 o setor de atuação do cliente não representa muita relevância para o fornecedor; não há concorrente direto (por exemplo, em relação à venda de petróleo, quantas empresas fornecem esse produto no mercado brasileiro?); o produto for exclusivo, diferenciado, ou se tiver custos fixos repassados. Os custos repassados são os custos fixos com os quais os compradores devem arcar ao trocar de fornecedores. Suponha uma universidade que opera com 2.000 copiadoras do mesmo fornecedor. Se a universidade optar por mudar de fornecedor, além do custo de aquisição dos novos produtos, provavelmente ela terá que arcar com custos de capacitação, para habilitar os funcionários a utilizarem o novo equipamento. Concorrentes Os concorrentes são as organizações que produzem produtos ou serviços seme- lhantes aos de outra organização — ou seja, competem pelo mesmo espaço no mercado. A rivalidade entre os concorrentes atua de forma similar à rivalidade existente em uma corrida de posicionamento — porém, utilizando táticas como competição de preços, lançamentos de produtos e disputas publicitárias, conforme leciona Porter (2004). A rivalidade entre os concorrentes existentes é relacionada com a presença de uma série de fatores, conforme apresentado a seguir. Existem concorrentes numerosos ou bem consolidados. Trata-se do contexto em que existe um grande número de empresas ou existem empresas com solidez no mercado, que dispõem de vultosos recursos para impedir novos entrantes. Há decrescimento do setor. Com o baixo crescimento do mercado, as empresas tendem a aumentar o grau de competição, para conseguir a sua participação no mercado. Falta diferenciação ou não há custos de mudança. Quando não existe diferenciação entre os produtos/serviços, a competição tende a ser muito maior. Isso também ocorre quando não há custos de mudança para o cliente. 5O ambiente competitivo das organizações I Os custos fixos são altos ou o produto é perecível. Muitos negócios de materiais básicos, como uma lanchonete, sofrem com esse problema quando a demanda diminui. A capacidade é normalmente aumentada por grandes incrementos. Em determinados setores, a capacidade só pode ser aumentada em grandes volumes. As barreiras de saída são elevadas. Compreende fatores estratégicos, econômicos e emocionais que mantêm as companhias competindo, mesmo que estejam obtendo retorno abaixo do mercado. Alguns exem- plos são: os elevados encargos trabalhistas, se a empresa decidir fechar o negócio; ativos valiosos demais para serem vendidos por um valor baixo de liquidação; lealdade dos empregados. Os concorrentes são divergentes. Concorrentes que têm origens e formas de pensar muito diferentes podem não compreender a estratégia um do outro e gerar “guerras” por determinado mercado. Isso normalmente ocorre entre concorrentes com culturas muito distintas. Existem grandes interesses estratégicos. Esse cenário ocorre quando a empresa possui interesses estratégicos para se manter em um determi- nado mercado. Imagine que, para uma determinada empresa de óculos de sol, possuir um quiosque na praia de Ipanema seja estratégico, não só pela receita das vendas, mas, principalmente, para divulgar a marca junto aos turistas. Dessa forma, a empresa fará uma série de esforços para manter esse mercado, por meio de brindes, descontos no produto, parcerias com outras empresas da região ou qualquer outra tática que possuir, dificultando a vida dos concorrentes. Barreiras de entrada aos novos concorrentes Novos concorrentes, quando entram em um determinado setor, trazem novas capacidades, o desejo de conquistar uma fatia no mercado e, normalmente, elevados recursos. O consumidor passa a ter mais ofertas disponíveis no mer- cado, e o fornecedor passa a obter mais clientes. Isso pode gerar consequências como a diminuição nos preços do produto fi nal ou a infl ação dos custos da organização, conforme leciona Tavares (2005). Os reflexos dos novos entrantes dependerá das barreiras de entrada que existam em determinado setor. Se as barreiras de entrada forem elevadas e os novos entrantes estiverem pouco estruturados, a ameaça será baixa. Dificilmente uma empresa vai querer disputar um mercado se ficar sabendo que, assim que entrar e captar clientes, as empresas concorrentes conseguirão O ambiente competitivo das organizações I6 impedir seu acesso aos fornecedores ou diminuirão significativamente os seus preços para inviabilizar a entrada da nova concorrente. Nesse caso, o novo entrante teria que correr muito mais riscos, certo? Para Porter (1999), se as barreiras de entradas são fortes, os novos entrantes têm mais dificuldade para conseguir entrar no mercado. O autor elenca as seis principais barreiras de entrada, descritas a seguir. Economias de escala. Essa barreira atua da seguinte forma: quanto maior a produção, menor o custo unitário do produto. Esse modelo de atuação bloqueia os novos entrantes, forçando os recém-chegados a ingressarem em grande escala ou aceitarem uma inferioridade de custos. Em uma escola, por exemplo, quanto maior o número de alunos, menor será o custo individual por aluno, bastando apenas um orientador pedagógico, independentemente do número de alunos. Diferenciação do produto. Uma marca conhecida e consolidada no mercado faz com que os novos entrantes tenham que realizar altos investimentos para conseguir captar e fidelizar clientes. Às vezes, o simples fato de ser o pioneiro no mercado pode gerar a diferenciação do produto. Esta talvez seja uma das principais barreiras de entrada no setor de automóveis, eletrônicos, medicamentos e fast food. Como as empresas existentes já possuem um elo com o consumidor, os novos entrantes precisam conquistar a confiança e a lealdade dos clientes. Necessidades de capital. A necessidade de investir elevadas quantias financeiras representa mais uma barreira de entrada aos novos en- trantes, já que terão que aportar vultosos recursos financeiros apenas para entrar no mercado. Os recursos são necessários não apenas para a estrutura física (máquinas, equipamentos, instalações), mas também para efetuar publicidade, projetos de pesquisa e desenvolvimento e registro de patentes. Embora esses custos tenham que ser estimados pelas organizações, a necessidade de vultosos recursos financeiros, sem a certeza de retorno, muitas vezes impossibilita novos entrantes. Custos de mudança. O custo de mudança representa uma barreira para os novos entrantes conseguirem atrair novos clientes. Imagine um mercado como o de smartphones. Por mais que o smartphone seja bom, muitas vezes, o sistema operacional é diferente do que o cliente está acostumado a utilizar. Em alguns casos, haverá necessidade de treinamento para o uso do novo produto. Isso representa um custo para os clientes que desejam trocar a marca. 7O ambiente competitivo das organizações I Acesso aos canais de distribuição. Essa barreira de entrada existe quando as empresas estabelecidas limitam o acesso aos canais de distribuição para os novos entrantes. Você provavelmente já foi a um restaurante, pediu um refrigerante de uma determinada marca e teve que aceitar outro, do mesmo sabor, mas de marca diferente. Acesse o link a seguir e confira as dicas do Sebrae sobre como fazer uma análise competitiva dos negócios. https://qrgo.page.link/JDhhv Agências reguladoras São instituições que, de algum modo, impõem controles, limitações ou res- trições às atividades da organização, seja especifi cando maneiras pelas quais ela deverá se conduzir, seja modifi cando ou colocando fi m aos produtos ou serviços, conforme leciona Tavares (2005). O ambiente geral O ambiente geral é composto pelas forças tecnológicas, socioculturais, demo- gráfi cas, econômicas, políticas e legais que tendem a exercer consequências profundas noambiente de tarefa, nem sempre claras para os administradores, conforme leciona Tavares (2005). Por exemplo, o aumento da utilização dos serviços bancários por meio da internet é provocado por uma combinação entre acesso e popularização das tecnologias digitais, maior acessibilidade aos serviços bancários e diminuição dos custos fi xos das agências bancárias. Essas mudanças reforçaram a intensa competição existente no setor bancário. Muitos clientes que eram leais aos seus bancos mudaram para o banco concorrente, já que o novo serviço prestado não tinha a mesma qualidade que o serviço oferecido diretamente pelas agências bancárias. Portanto, é muito importante que os gestores globais analisem como as forças do ambiente geral podem afetar o ambiente de tarefa. O ambiente competitivo das organizações I8 O artigo disponível no link a seguir analisa três variáveis de configuração do ambiente competitivo dos bancos comerciais no Brasil: regulação, concentração da indústria e tecnologia. https://qrgo.page.link/ax1de Forças tecnológicas As forças tecnológicas resultam da mudança de tecnologia utilizada para produzir um produto/serviço. As novas tecnologias infl uenciam diretamente a competividade das organizações, principalmente quando se trata de tecnologia disruptiva, ou seja, tecnologia que traz inovações. Acompanhar a trajetória tecnológica é uma estratégia fundamental para garantir a efi cácia e a sobre- vivência da organização, conforme leciona Tavares (2005). A Ford criou a linha de montagem em série, que garantiu a produção em massa em menor tempo. A empresa também implementou a padronização do maquinário e dos produtos, além da mecanização do trabalho. Associar as tecnologias ao atendimento das necessidades dos clientes é fundamental para o sucesso das empresas. As novas tecnologias podem gerar consequências profundas nas organi- zações, ou até mesmo a falência de um setor. Por exemplo, objetos como o telefone fixo, a máquina de escrever, o disco de vinil e a fralda de pano foram deixados de lado quando as organizações encontraram novas formas de atender às demandas dos consumidores que utilizavam tais produtos. Embora muitas tecnologias possam extinguir um setor, elas também podem criar uma série de novas oportunidades. As mudanças tecnológicas estão mudando a essência do trabalho nas orga- nizações, inclusive o papel do gestor. Muitos trabalhos que antes dependiam de uma estrutura física hoje podem ser facilmente executados em qualquer 9O ambiente competitivo das organizações I parte do mundo. É comum publicitários, analistas de sistema, advogados, professores e psicólogos executarem toda ou uma parte de seu trabalho em home office. Portanto, a forma como os gestores administram os recursos da organização também precisa ser repensada. Forças socioculturais As forças socioculturais fazem parte da estrutura social — arranjo de relações entre indivíduos e grupos da sociedade — de uma determinada região ou país. Essas forças podem tanto facilitar quanto restringir o posicionamento estratégico de uma organização. Em sociedades como a Índia, onde há um alto grau de estratifi cação social e as pessoas são classifi cadas em castas, as barreiras de entrada são muito maiores, de acordo com Tavares (2005). As sociedades também se distinguem de acordo com o ordenamento indi- vidual ou coletivo. Por exemplo, no Japão, enfatiza-se o pensamento coletivo e, nos Estados Unidos, o pensamento individual. Essa diferença cultural deve ser analisada pelos gestores quando forem realizar negócios internacionais. É importante destacar que a estrutura social muda com o passar do tempo. No Irã, antes de os Aiatolás antiocidentais tomarem o poder, em 1979, derru- bando a monarquia pró-ocidental que controlava o País, as iranianas podiam se vestir como quisessem. Hoje, as mulheres são obrigadas a usar véu como vemos na Figura 1. Imagine como determinadas empresas tiveram que se adaptar às mudanças da época. Figura 1. Transformações culturais no Irã. Fonte: Sánches (2018, documento on-line); Iranian... (2011, documento on-line). O ambiente competitivo das organizações I10 Os administradores e as organizações devem sempre estar atentos às mudanças nas estruturas sociais e na cultura local dos países onde têm negó- cios. Os administradores globais devem estar atentos às diferenças entre as sociedades e ajustar o seu posicionamento de acordo com essas diferenças. Em abril de 2014, o McDonald's abriu a sua primeira lanchonete vegetariana em Amritsar, na Índia. Os hindus representam 80% dos 1,2 bilhão de habitantes da Índia e consideram as vacas animais sagrados. Para os muçulmanos, o consumo de carne de porco e vaca é proibido pelo Corão. Assim, a rede de restaurantes fast food mais famosa do mundo, sendo também a segunda maior cadeia de restaurantes do mundo depois do Subway, substituiu os seus tradicionais hambúrgueres de carne de vaca por opções sem carne, para respeitar a cultura local. Nesse caso, o McDonald’s precisou fazer uma análise profunda do componente sociocultural, tão distinto dos demais locais onde tem franquias. E, embora tenha tido que modificar a principal linha de produtos (os hambúrgueres de carne de vaca), manteve o padrão de atendimento, a imagem da loja e a qualidade dos produtos. Esse caso exemplifica bem a importância de perceber, interpretar e responder às demandas globais (EFE, 2014). Fonte da figura: Ferreira (2014, documento on-line). 11O ambiente competitivo das organizações I Forças demográficas As forças demográfi cas são resultantes das alterações das características da população, como sexo, faixa etária, estado civil, origem étnica, classe social e orientação social. Assim como as demais forças do ambiente geral, os dados demográfi cos representam oportunidades e ameaças para as organizações. Vejamos o exemplo da expectativa de vida no Brasil. De acordo com o Insti- tuto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 1940, a expectativa média de vida era de 45 anos; em 2017, saltou para 76 anos (IBGE, 2008). O envelhecimento da população traz diversas consequências para o mercado de trabalho. Com o aumento do número de idosos e a diminuição da população jovem (que são trabalhadores que arrecadam para custear a camada inativa), há mais dese- quilíbrio entre arrecadação e pagamento. Entretanto, essas mudanças também possibilitam novas oportunidades de negócios, como é o caso da criação de uma república para idosos na cidade de Cuenca, na Espanha. O local tem todos os serviços de uma casa de repouso tradicional, mas os idosos não precisam ficar com desconhecidos. Todos os moradores se conhecem. Forças econômicas As forças econômicas impactam na saúde geral da nação, da sociedade e das organizações. Indicadores como infl ação, taxa de juros, taxa de cres- cimento, importação e exportação geram muitas oportunidades e ameaças para os gestores, segundo Tavares (2005). A elevada taxa de importação, por exemplo, faz com que diversos produtos produzidos no Brasil tenham seus preços aumentados, já que grande parte das matérias-primas é importada. Já os momentos de baixa infl ação e alto índice de emprego possibilitam que as pessoas gastem mais, permitindo às organizações venderem mais. Nos períodos em que a economia local vive um bom momento, torna-se mais fácil adquirir produtos e serviços, e a organização tem a oportunidade de alavancar seus negócios, como ocorreu com o mercado imobiliário do Rio de Janeiro em 2010, quando a cidade foi escolhida para sediar os Jogos Olímpicos. Em determinados bairros, houve registro de valorização de até 70% dos imóveis. Ao contrário, as condições macroeconômicas negativas, como as do ano de 2014 no Brasil, representam grande ameaça, pois restringem o acesso geral aos recursos. As condições econômicas desfavoráveis tornam o ambiente mais com- plexo, e a competição, acirrada. O trabalho do gestor também se torna mais complicado. Em muitos casos, nãoresta alternativas: o jeito é demitir. Além O ambiente competitivo das organizações I12 de transmitir competência técnicas, o gestor precisa trabalhar com elementos motivacionais e estimular a criação de um ambiente que possibilite o surgi- mento de novas ideias. Forças políticas e legais O governo pode limitar ou impedir a entrada de produtos por meio de requisitos de licenciamento e restrições de acesso a matérias-primas. O governo também pode atuar no mercado de forma indireta, estabelecendo exigências diversas, como padrões de segurança — por exemplo, o cinto de três pontos e o encosto de cabeça para carros. As forças políticas e legais são o resultado de mudanças nas regulamentações e leis que ocorrem em um país, em uma região ou, até mesmo, em âmbito global e que afetam diretamente as organizações. Elas são propostas e regulamentadas pelo poder público local. No Brasil, a Lei nº. 11.705, de 19 de junho de 2008, mais conhecida como Lei Seca, impede a ingestão de álcool para quem for dirigir (Figura 2). Com a sanção da nova Lei, o Código de Trânsito Brasileiro foi alterado, o que provocou grandes mudanças nos hábitos da população brasileira. A antiga legislação per- mitia a ingestão de até 6 decigramas de álcool por litro de sangue (o equivalente a dois copos de cerveja). A nova Lei fez com que muitas pessoas mudassem seus hábitos, passando a utilizar o transporte público, ir a pé até o local onde será consumida a bebida, ir de carona ou solicitar transporte privado (táxi ou Uber). Se, por um lado, muitas empresas (bares, restaurantes e casas de eventos) viram seus negócios ameaçados, outros setores, como o de transporte privado, beneficiaram-se com a nova legislação, pois tiveram um boom em seus serviços. Figura 2. Slogan da Lei Seca. Fonte: Gustavo Frazao/Shutterstock.com. 13O ambiente competitivo das organizações I Outra importante força política e legal que interfere nas organizações é a interação política entre os países nas últimas décadas. Cada vez mais, os países estão se reunindo em blocos políticos que permitem o livre acesso de pessoas e de capital e geram ações de retaliação. O caso do Brexit é um bom exemplo: ao todo, 42 empresas que tinham sua sede no Reino Unido se mudaram para a Holanda em 2018, por causa das incertezas relacionadas com o Brexit (FRANCE PRESS, 2019). Com a saída de alguns países que pertencem ao bloco da União Europeia, as tensões sobre o comércio internacional abriram oportunidades de negócios para diversas nações e organizações. Existe uma ferramenta que pode ajudar a analisar o ambiente organizacional e projetar cenários, de forma a auxiliar na operação das estratégias dos pequenos negócios. Para saber mais sobre ela, assista ao vídeo disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/3AgDh Ambiente geral versus ambiente de tarefa Independentemente do setor, do porte e da estrutura organizacional, todas as organizações operam em um ambiente geral (macroambiente), que é defi nido pelos elementos do ambiente externo que podem potencialmente infl uen- ciar decisões estratégicas. Considere o exemplo da China: a partir dos anos 1990, como forma de conter o crescimento explosivo de sua população, o governo chinês criou leis que determinam que cada casal pode ter apenas um fi lho. Como resultado, as crianças chinesas estão sendo cercadas de atenção, com as famílias gastando, em média, 40% da sua renda com um único fi lho, conforme apontam Kotler e Armstrong (2007). Essa mudança demográfi ca criou, entre outras consequências, enormes oportunidades de mercado para produtos educacionais infantis. Portanto, pode-se defi nir que o ambiente geral é composto por variáveis externas e incontroláveis pela empresa, que devem ser constantemente monitoradas para gerar oportunidades e mitigar ameaças. Já o ambiente de tarefa (microambiente) requer a construção de relacio- namentos com outros departamentos da empresa, fornecedores, clientes e concorrentes, que se combinam para construir a rede de entrega de valor da O ambiente competitivo das organizações I14 empresa. A empresa Walmart, por exemplo, dedica muito esforço e atenção aos seus fornecedores, ajudando-os a testar novos produtos em suas lojas, pois sabe que um bom relacionamento com seus parceiros resulta em sucesso para a própria empresa, conforme apontam Kotler & Armstrong (2007). Portanto, podemos definir que o ambiente de tarefa se refere ao ambiente de maior controle da organização. A empresa não tem o controle sobre a economia nos próximos cinco anos, mas pode controlar como será o seu relacionamento com os clientes, por exemplo. BATEMAN, T. S.; SNELL, S. A. Administração. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. EFE. McDonald's abre sua primeira loja vegetariana do mundo na Índia. Jornal Estadão, 2014. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,mcdonalds-abre- -sua-primeira-loja-vegetariana-do-mundo-na-india,181959e. Acesso em: 19 set. 2019. FERREIRA, M. McDonald’s abre sua primeira lanchonete vegetariana do mundo na Índia. Geek Publicitário, 2014. Disponível: https://geekpublicitario.com.br/2484/mc- -donalds-abre-sua-primeira-lanchonete-vegetariana-do-mundo-na-india/. Acesso em: 19 set. 2019. FRANCE PRESSE. Com o Brexit, mais de 40 empresas deixaram o Reino Unido e foram para Holanda em 2018. O Globo, 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/ noticia/2019/02/10/com-brexit-mais-de-40-empresas-deixaram-o-reino-unido-e- -foram-para-a-holanda-em-2018.ghtml. Acesso em: 19 set. 2019. IBGE. Em 2017, expectativa de vida era de 76 anos. Agência IBGE de Notícias, 2018. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013- -agencia-de-noticias/releases/23200-em-2017-expectativa-de-vida-era-de-76-anos. Acesso em: 19 set. 2019. IRANIAN Women. Blog Joanisval Gonçalves, 2011. 1 imagem. Largura: 403 pixels. Al- tura: 297 pixels. Formato: JPG. Disponível: https://joanisvaldotcom.files.wordpress. com/2011/11/iranian-women-dk.jpg. Acesso em: 19 set. 2019. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. PORTER, M. E. Competição on competition: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro: Campus, 1999. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concor- rência. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 15O ambiente competitivo das organizações I SÁNCHEZ, E. Redes sociais ressuscitam imagens do passado ocidentalizado do país para criticar Governo. El País, 2018. Disponível: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/02/ internacional/1514893958_214929.html. Acesso em: 19 set. 2019. TAVARES, M. C. Gestão estratégica. 2. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2005. Leitura recomendada PATRIOTA, G. Lei exige tolerância zero para álcool ao volante. 2012. Discurso pronunciado pelo Deputado Gonzaga Patriota na sessão da Câmara dos Deputados do dia 10 fev. 2012. Disponível: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;j sessionid=598D50D98C1ADC28BA5D34236824B65A.proposicoesWebExterno2?codt eor=964228&filename=DIS+7221/2012. Acesso em: 19 set. 2019. O ambiente competitivo das organizações I16
Compartilhar