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@medsurtoo Nivya Moraes P4/UC11 UNIT – AL 1 tutoria HPV INTRODUÇÃO O HPV infecta principalmente as células epiteliais escamosas ou metaplásicas humanas. Os tipos e subtipos de HPV são classificados em função do grau de homologia genética. Foram identificados aproximadamente 130 tipos de HPV geneticamente distintos. Desses tipos, 30 a 40 infectam principalmente o trato anogenital inferior. A expressão gênica do HPV ocorre em sincronia com e é dependente da diferenciação do epitélio escamoso. Portanto, o ciclo de vida do vírus completa-se apenas em um epitélio escamoso intacto e totalmente diferenciado. As partículas virais completamente montadas se espalham no interior da região superficial do epitélio escamoso. O HPV é um vírus com ciclo não lítico e, portanto, a capacidade de infecção depende de descamação normal de células infectadas. Uma nova infecção ocorre quando proteínas dos capsídeos L1 e L2 se ligam à membrana basal epitelial e/ou às células basais, permitindo a entrada de partículas virais do HPV em novas células hospedeiras. A infecção por HPV, especialmente os tipos de alto risco, é muito comum logo após o início da atividade sexual. A maioria das lesões por HPV, sejam elas clínicas ou subclínicas, regride espontaneamente em geral, em adolescentes e mulheres jovens, as quais em geral sofrem alterações nos tipos de HPV, refletindo transitoriedade da infecção e reinfecção sequencial por novos parceiros e não persistência de infecção. O risco de progressão para neoplasia de alto grau aumenta com a idade, uma vez que a infecção por HPV em mulheres de mais idade tem maior probabilidade de ser persistente. EPIDEMIOLOGIA O HPV é um vírus presente em todo o mundo. A maior incidência ocorre em jovens, entre mulheres especialmente, de 15 a 19 anos. Cerca de 90% dessas jovens eliminarão o vírus em um período médio de dois anos. A grande maioria não desenvolve qualquer lesão. No entanto, é no pequeno percentual de mulheres em que o vírus é persistente que há risco de associação com quadro mais preocupante de risco para lesão neoplásica invasiva. Considera-se ainda que há um novo pico na incidência, embora menor que o primeiro, na faixa dos 50 anos de idade, talvez por conta de novos parceiros sexuais e da menor resposta imunológica O HPV é responsável por cerca de 7% a 8% dos cânceres e está associado com virtualmente 100% dos casos de câncer de colo uterino, 93% dos cânceres de ânus, 64% dos de vagina, 50% dos de vulva, 40% dos de pênis e 60% dos cânceres de orofaringe Esse vírus é responsável por aproximadamente 5% de todos os cânceres O HPV 16 é o mais carcinogênico, provavelmente em razão de sua maior tendência à persistência em comparação com outros tipos. Ele é responsável pela maior porcentagem de lesões NIC 3 (45%) e de cânceres do colo uterino (55%) em todo o mundo, e por cânceres relacionados com HPV e localizados fora do trato anogenital e na orofaringe A prevalência do HPV 18 é bem menor que a do HPV 16 na população geral. Contudo, ele é encontrado em 13% dos carcinomas de células escamosas e em proporção ainda maior dos adenocarcinomas e carcinomas adenoescamosos do colo uterino (37%). Juntos, os HPVs 16 e 18 respondem por aproximada- mente 70% dos ca ̂nceres de colo uterino. O HPV genital é o tipo de infecção sexualmente transmissível mais comum. O Centers for Disease Control and Prevention (2002) estima que o risco de uma mulher ter HPV genital até os 50 anos é maior que 80%. A prevalência de verrugas genitais é aproximadamente 1%, e de anormalidades citológicas é inferior a 10%. Esses dados @medsurtoo Nivya Moraes P4/UC11 UNIT – AL 2 indicam que a infecção subclínica é muito mais comum que as infecções clinicamente evidentes. FATORES DE RISCO Número de parceiros sexuais durante toda a vida e recentes Primeira relação sexual em idade precoce TIPOS DE HPV Clinicamente, os tipos de HPV são classificados como de alto risco e de baixo risco com base em sua oncogenicidade e força de associação ao câncer de colo uterino. Baixo risco 6 e 11 causam quase todas as verrugas genitais e uma pequena parcela das infecções subclínicas por HPV. Os HPV de alto risco, incluindo os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 45 e 58, assim como outros menos comuns, respondem por aproximadamente 95% dos casos de câncer de colo uterino no mundo Juntos, os HPVs 16 e 18 respondem por aproximadamente 70% dos cânceres de colo uterino. Os tipos de HPV mais encontrados nos cânceres de colo uterino (tipos 16, 18, 45 e 31) são também os mais prevalentes na população geral. A infecção por HPV de alto risco não resulta em neoplasia na maioria das mulheres infectadas. Isso indica que fatores ligados à hospedeira e ao ambiente determinam se o HPV de alto risco causará ou não neoplasia. TRANSMISSÃO POR HPV A transmissão do HPV genital ocorre por contato direto, normalmente contato sexual com pele ou mucosas genitais ou com líquidos corporais de um parceiro com verrugas ou infecção subclínica por HPV. Em geral, aceita-se que o HPV tenha acesso a camada de células basais e à membrana basal por meio de microabrasões do epitélio genital durante o contato sexual. Uma vez infectadas, as células basais tornam-se um reservatório do vírus. A infecção genital por HPV é multifocal, acometendo mais de um local do trato reprodutivo inferior na maioria dos casos a neoplasia em um sítio genital aumenta o risco de neoplasia em outros locais do TGI, embora o colo uterino pareça ser o local mais vulnerável. Além disso, é comum haver infecção sequencial e simultânea por diversos tipos de HPV. Em sua maioria, as infecções por HPV resultam de contato sexual. A infecção do colo uterino por HPV de alto risco em geral é limitada às mulheres que tenham tido contato sexual com penetração. As transmissões oral-genital e manual-genital são possíveis, mas parecem ser bem menos comuns que a genital-genital, em particular o contato pênis-vagina com penetração. Independentemente da alta prevalência de infecção genital por HPV, a transmissão vertical (mãe para feto ou recém nato) além da colonização transitória da pele é rara. A maioria das infecções proliferativas e neoplásicas é subclínica, sem as manifestações clínicas características como verrugas genitais ou doença maligna evidente. A infecção por HPV pode ser transitória ou persistente, com ou sem desenvolvimento de neoplasia (displasia ou câncer). A neoplasia é o resultado menos comum da infecção genital por HPV. INFECÇÃO LATENTE: quando as células estão infectadas, mas o HPV permanece quiescente. O genoma viral permanece na forma epissomal, ou seja, intacto e sem integrar-se ao genoma da célula hospedeira. INFECÇÕES PROLIFERATIVAS: tanto no trato genital feminino como no masculino, as infecções proliferativas por HPV causam verrugas genitais visíveis, denominadas condilomas acuminados ou, muito mais comumente, infecções subclínicas. As infecções subclínicas podem ser identificadas indiretamente por citologia na forma de lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LIEBGs), por anormalidades colposcópicas e, histologicamente, por identificação de condiloma plano ou NIC 1. @medsurtoo Nivya Moraes P4/UC11 UNIT – AL 3 FISIOPATOLOGIA Nas lesões NIC 3 ou cancerosas, o genoma circular do HPV sofre uma quebra e integra-se linearmente em locais aleatórios no cromossomo do hospedeiro.Segue-se transcrição ilimitada dos oncogenes E6 e E7. Os produtos, as oncoproteínas E6 e E7, interferem com a função e aceleram a degradação de p53 e pRB, proteínas importantes de supressão tumoral no hospedeiro. Com isso, a célula infectada torna-se vulnerável à transformação maligna em razão de perda de controle sobre o ciclo celular, proliferação celular e acúmulo de mutações no DNA ao longo do tempo. DIAGNÓSTICO A suspeita de infecção por HPV decorre do aparecimento de lesões clínicas e achados citológicos, histológicos e de colposcopia, todos subjetivos e normalmente imprecisos. O diagnóstico definitivo só pode ser estabelecido por detecção direta do DNA do HPV. Isso pode ser feito histologicamente via hibridização in situ, amplificação do ácido nucleico por reação em cadeia da polimerase (PCR, de polymerase chain reaction) ou por outras técnicas. Atualmente, há dois produtos aprovados pela FDA para utilização clínica. O exame Digene HC2 High-Risk HPV DNA Test utiliza uma mistura de sondas de RNA para detecção de 13 tipos oncogênicos de HPV. O teste mais recente Cervista HPV HR utiliza amplificação de DNA para detectar os mesmos 13 tipos de HPV, mais um tipo de HPV de alto risco (HPV 66). Ambos os testes detectam infecção por HPV de alto risco causada por qualquer um dos tipos incluídos no painel, mas não identificam especificamente qual deles está presente. Entretanto, há outro teste, o Cervista HPV 16/18, que pode ser usado após resultado positivo com Cervista HPV HR para identificar especificamente as presenças dos tipos 16 e 18. Caso sejam encontradas verrugas típicas em uma jovem, ou caso seja identificada neoplasia de colo uterino de alto grau ou câncer invasivo por citologia ou histologia, presume-se que haja infecção por HPV e a confirmação por teste para HPV não é necessária. O teste de rotina para HPV não é indicado além dos seguintes cenários: rastreamento para câncer de colo uterino em mulheres com 30 anos ou mais, rastreamento ou acompanhamento de determinados achados citológicos anormais e vigilância pós-tratamento. O teste para HPV não está indicado para rastreamento primário em mulheres com menos de 30 anos ou com qualquer indicação para pacientes com menos de 21 anos, em razão da alta taxa de prevalência e alta taxa de depuração viral espontânea nesses grupos. A FDA também não aprovou testes para HPV em mulheres após histerectomia total. Não há indicação clínica de testes para detecção de HPV de baixo risco; TRATAMENTO As indicações para tratamento de doença do TGI relacionada a HPV são verrugas sintomáticas que causem desconforto físico ou psicológico, neoplasia de alto grau ou câncer invasivo. A infecção por HPV diagnosticada a partir de impressão clínica ou testes citológicos, histológicos ou de DNA de HPV, não implica tratamento. Há diversas formas de tratamento para condiloma disponíveis a serem escolhidas de acordo com tamanho, localização e número de verrugas. Remoção ou destruição mecânica, imunomoduladores tópicos e coagulação química ou térmica podem ser utilizados. Não há tratamento clínico efetivo para a infecção subclínica por HPV. É possível haver dano físico desnecessário ao TGI na tentativa de erradicar infecções por HPV normalmente autolimitadas. O exame do parceiro masculino não traz benefícios à parceira feminina, seja por influência com reinfecção ou por alterar o curso clínico ou o desfecho do tratamento para verrugas genitais ou neoplasia do TGI VACINAÇÃO Parece que as imunidades local e humoral conferem proteção contra a infecção inicial. A imunidade mediada por células possivelmente tem o papel principal na persistência da infecção por HPV, bem como na progressão ou regressão de lesões benignas e neoplásicas. O HPV esquiva-se do controle imune por diversos mecanismos. Entre os mecanismos estão restrição da infecção ao epitélio e, consequentemente, ausência de fase de viremia; expressão reduzida de genes precoces; natureza não lítica e não inflamatória da infecção; e produção retardada das proteínas capsídeos altamente imunogênicas no interior do epitélio escamoso superficial. As vacinas profiláticas estimulam a produção de anticorpos humorais que neutralizam o HPV antes que infecte as células do hospedeiro As estratégias de vacinação devem enfatizar a administração antes da primeira relação sexual, quando o benefício é máximo. Entretanto, a história de relação sexual ou de doença relacionada ao HPV não contraindica a administração da vacina. A vacinação pode ser feita em lactantes, mas não durante a gravidez. @medsurtoo Nivya Moraes P4/UC11 UNIT – AL 4 As mulheres imunocomprometidas são candidatas a receberem vacina, mas talvez não desenvolvam títulos de anticorpos tão elevados quanto as imunocompetentes. Mulheres e homens com infecção atual ou prévia pelo HPV não apresentam contraindicação ao uso da vacina. Na presença de infecção ativa, seu uso não interfere negativamente no curso da doença e pode ter papel no futuro contra outras infecções e reinfecções, diminuindo a recorrência da lesão precursora de colo, vagina e vulva. Não há contraindicação para vacinar mulheres até 45 anos ou mais (a depender da vacina utilizada), pois as vacinas são imunogênicas e seguras para várias faixas etárias, devendo ser individualizadas para cada paciente. Logicamente, a utilidade dessas vacinas com o passar da idade dependerá do risco de exposição da pessoa para novas infecções. GARDASIL Vacina tetravalente contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Está aprovada para prevenção de neoplasia vaginal, vulvar e anal Apresentou reatividade cruzada apenas contra o HPV 31. CERVARIX Vacina bivalente contra os tipos 16 e 18. Demonstrou conferir proteção cruzada contra os HPVs 45, 31 e 52 (O HPV 45 é causa significativa de adenocarcinomas do colo uterino. Esses tumores são mais difíceis de detectar e prevenir do que as lesões escamosas e sua incidência é crescente) VACINA NONAVALENTE Em 2018, começou a comercialização da vacina nonavalente (6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52, 58), já adotada desde 2016 nos Estados Unidos (Phillips et al., 2017). Referências: Ginecologia de Williams – Hoffman Cardial MF, Roteli-Martins CM, Naud P, Fridman FZ. Papilomavírus humano (HPV). In: Programa vacinal para mulheres. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2017. Cap. 4, p. 26-39. (Série Orientações e Recomendações Febrasgo; no 13/ Comissão Nacional Especializada de Vacinas).
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