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1) Descrever o mecanismo de infecção pelo HPV, identificando porque alguns tipos de HPV causam câncer, enquanto outros apenas verrugas. 2) Identificar as manifestações da infecção pelo HPV: clínica (verrugas) e subclínica (NIC). 3) Identificar a epidemiologia do câncer de colo do útero. 4) Identificar os fatores de risco e descrever a fisiopatologia do câncer do colo do útero relacionando com as manifestações clínicas. 5) Caracterizar a classificação citológica Bethesda, incluindo a qualidade da amostra, a categorização e a interpretação. 6) Identificar as formas de prevenção, detecção precoce e os programas de saúde relacionados ao câncer de colo do útero (incluindo a vacinação contra o HPV). 1. Mecanismo de infecção pelo HPV. REFERÊNCIA: Cecil – Clínica Médica PAPILOMAVÍRUS • Definição Os papilomavírus humano (HPV) constituem um pequeno grupo de vírus DNA que causam uma variedade de lesões benignas e malignas da pele e membranas mucosas. As doenças associadas com HPV mais comumente reconhecidas incluem verrugas anogenitais (condiloma acuminado), em outras superfícies cutâneas (verrugas comuns ou verruca vulgaris), e na superfície plantar do pé (verruca plantaris). Além disso, infecção por HPV causa lesões intraepiteliais escamosas no colo do útero, também conhecidas como neoplasia intraepitelial cervical (NIC; CIN), e é considerada o agente etiológico do câncer do colo e possivelmente também de outros locais anatômicos. • O patógeno Os papilomavírus são desprovidos de envelope, medem 55 nm de diâmetro, e possuem um genoma de DNA bifilamentar circular com aproximadamente 7.900 pares de bases inclusos em um capsídeo icosaédrico. O genoma compreende três regiões funcionais: genes iniciais (E), que são expressados logo depois da infecção e controlam a replicação, transcrição e proliferação celular; genes tardios (L), que são expressados nas fases mais tardias da infecção e codificam as proteínas estruturais do capsídeo; e uma região reguladora não codificadora. Os papilomavírus completam seu ciclo vital apenas em células epiteliais terminalmente diferenciadas, e assim são difíceis de crescer em cultura. A taxonomia dos papilomavírus é baseada em um sistema de genotipagem que envolve o uso do “parentesco” da sequência de DNA do gene que codifica L1, a principal proteína do capsídeo, sendo os diferentes tipos definidos como tendo menos de 90% de homologia. Atualmente, mais de 100 tipos de HPV foram bem caracterizados, aproximadamente 40 dos quais infectam pele e mucosa genitais. Dos tipos genitais, aproximadamente 15 são considerados "de alto risco" porque são associados com lesões intraepiteliais escamosas de alto grau e cânceres cervicais e outros do trato genital, enquanto outros são considerados "de baixo risco" porque são principalmente associados com verrugas genitais e lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau. • Epidemiologia As infecções por HPV são transmitidas principalmente pelo contato direto da pele ou membranas mucosas com uma lesão infectada. Infecção genital por HPV é tipicamente contraída através do intercurso sexual, embora contato genital não insertivo, contato orogenital e contato manual-genital também sejam possíveis vias de transmissão. Além disso, há transmissão perinatal de HPV genital à boca e trato respiratório superior de recém-nascidos a partir de mães infectadas. Na infecção não genital de HPV, o contato pessoal de pele com pele também desempenha um papel principal, enquanto que nas verrugas plantares a transmissão por fômites a partir de superfícies úmidas provavelmente constitua uma fonte importante de infecção. Tanto a infecção genital quanto a não genital podem ser transmitidas para novos locais por autoinoculação. Globalmente, estima-se que nos Estados Unidos mais de 6 milhões de novas infecções por HPV genital ocorram anualmente em adolescentes e adultos sexualmente ativos, e que o risco de infecção durante toda a vida é 50% a 80%, assim tornando o HPV genital uma das infecções sexualmente transmitidas mais comuns. A maioria das infecções é causada por tipos de alto risco, com HPV 16 tendo a mais alta incidência. A aquisição da infecção começa brevemente depois do início da vida sexual, e há uma incidência estimada de 40% de infecção por pelo menos um tipo no período de 2 anos após a iniciação sexual. Os fatores de risco de infecção incluem variáveis relacionadas à provável exposição (p. ex., idade mais jovem, maior número de parceiros), suscetibilidade (p. ex., ausência de circuncisão no homem), e ausência de fatores de prevenção (p. ex., ausência de uso constante de preservativos ou imunização). A maioria das infecções é assintomática e desaparece sem tratamento, estimando-se que apenas 10% persistam mais de 2 anos. Só essas infecções HPV persistentes são associadas com o desenvolvimento de lesões intraepiteliais escamosas de alto grau e câncer. A prevalência de infecção HPV genital é estimada como variando de 15% a 25% em mulheres nos EUA. A prevalência de verrugas anogenitais é estimada em aproximadamente 1% na população adulta sexualmente ativa. O câncer cervical tem declinado nos países desenvolvidos desde o início dos programas de screening citológico (Papanicolau), embora seja estimado que 9.700 casos e 3.700 mortes ainda ocorram nos Estados Unidos anualmente. Entretanto, a doença é um problema importante no mundo em desenvolvimento, onde a triagem é limitada, e constitui o segundo câncer mais comum em mulheres em todo o mundo, com uma estimativa de 470.000 casos anualmente. Infecção não genital por HPV é reconhecida mais tipicamente pela presença de verrugas comuns e plantares, especialmente cm crianças e adolescentes, nos quais são descritas taxas de prevalência de 3% a 20%. Todos os tipos e manifestações de infecção HPV são mais comuns em pessoas com imunidade celular prejudicada, como aquelas com vírus de imunodeficiência humana (HIV) ou que estão recebendo terapia imunossupressora. • Fisiopatologia As infecções por HPV causam doença ao produzirem crescimento celular aberrante. No caso dos tipos cutâneos e genitais de baixo risco, lesões como verrugas resultam da proliferação benigna das camadas epidérmicas induzidas por HPV. Quanto aos tipos genitais de alto risco, as lesões pré-cancerosas e e cancerosas resultam da substituição do epitélio por células indiferenciadas como resultado da interferência, induzida por HPV, no crescimento celular normal. A infecção começa na camada mais inferior e menos bem diferenciada do epitélio, as células basais, onde considera-se que a exposição é facilitada por microtraumas. A transcrição e expressão de proteínas são altamente coordenadas com o nível de diferenciação celular. Na camada basal, o genoma viral se estabelece no núcleo sob a forma de um epissomo que se replica em sequência à replicação celular, assim mantendo um número de cópias estável de genomas virais. À medida em que as células basais migram para cima e se diferenciam nas camadas superficiais do epitélio, ocorre completa replicação do DNA viral vegetativo e expressão de proteínas estruturais, com a montagem de vírions infecciosos na camada mais superficial do epitélio, onde eles são liberados pelo desprendimento de células mortas durante a reposição celular normal. Com base em uma variedade de estudos epidemiológicos e laboratoriais, a infecção persistente por HPV está firmemente estabelecida como a causa do carcinoma de células escamosas e do adenocarcinoma do colo do útero e é altamente associada a outros cânceres de células escamosas anogenitais. Há também associações com câncer de células escamosas da orofaringe e da pele. DNA de HPV pode ser detectado em mais de 99% dos casos de câncer cervical, com 70% dos cânceres sendo associados com HPV 16 e 18, os dois tipos de alto risco mais comuns. A patogenia do câncer induzido por HPV envolve a integraçãoviral ao genoma do hospedeiro tendo como resultante a destruição do gene E2 regulador da transcrição e a expressão aumentada das proteínas E6 e E7. Estas proteínas têm atividade oncogênica e afetam o crescimento celular ligando-se a proteínas supressoras de tumores, E6 com p53 e B7 com a proteína supressora de tumor do retinoblastoma, desse modo desorganizando a apoptose e causando a desregulação do ciclo celular. Embora infecção persistente com tipos de alto risco seja "necessária" para o desenvolvimento de câncer cervical, ela não é "suficiente" para causar câncer, porque câncer não se desenvolve na vasta maioria das mulheres infectadas. Há evidências que apoiam uma variedade de possíveis cofatores, incluindo tabagismo, uso prolongado de anticoncepcional hormonal, multiparidade, deficiência de micronutrientes, e outras infecções, incluindo Chlamydia trachomatis e vírus herpes simples tipo 2. Além disso, alelos específicos do HLA foram associados tanto com risco aumentado quanto com o risco diminuído da doença, enquanto polimorfismos do gene p53 e da região promotora do fator de necrose tumoral-alfa foram associados com susceptibilidade aumentada à doença. A resposta imune após a infecção inicial é menos robusta do que a maioria das infecções virais, estima-se que somente 60% dos indivíduos infectados desenvolvam anticorpos mensuráveis, frequentemente 6 a 12 meses depois da infecção. A resposta imune limitada provavelmente devido à localização superficial da infecção no epitélio e ao fato de que as proteínas do capsídeo não são expressadas exceto nas células mais diferenciadas que são as menos acessíveis às células apresentadoras de antígeno do sistema imune. A dinâmica da resposta imune é inteiramente diferente após a administração de vacinas contendo L1, com soroconversão de quase 100% dentro de vários meses e níveis de anticorpo aproximadamente 10 vezes mais altos do que após infecção natural. A alta eficácia destas vacinas, que se acredita produzirem imunidade principalmente humoral, sustenta a importância da resposta de anticorpos na proteção contra infecção. Em contraste, uma vez ocorrida a infecção, a imunidade mediada por células parece ser crítica para a eliminação da infecção, com base na experiência de pessoas com imunidade celular prejudicada, nas quais infecção persistente por HPV e lesões intraepiteliais escamosas de alto grau são comuns. As alterações histopatológicas das verrugas incluem papilomatose e acantose epiteliais, com hiperceratose, paraceratose e hiperplasia das células parabasais. Um aspecto característico é a presença na epiderme superior de coilócitos, ou grandes ceratinócitos atípicos com núcleo irregular hipercromático rodeado por um hilo perinuclear. As lesões intraepiteliais escamosas são caracterizadas por hiperceratose, paraceratose e hiperplasia epidérmica, com figuras mitóticas aumentadas na metade superior da epiderme; coilocitose é comum e frequentemente detectada citologicamente, porém menos proeminente que nas verrugas. Diversos sistemas de classificação foram usados para classificar estas lesões e o seu risco provável de progressão, baseando-se na proporção do epitélio substituído por células indiferenciadas. O sistema NIC (CIN) gradua as lesões como NIC 1 (com células indiferenciadas ocupando o terço inferior), NIC 2 (com células indiferenciadas no terço a dois terços inferiores), e NIC 3/carcinoma in situ (CIS) (com células indiferenciadas através da espessura inteira do epitélio). REFERÊNCIA: Papilomavírus humano: biologia viral e carcinogênese- LILACS - 2015 MECANISMO DE INFECÇÃO O mecanismo molecular que permite a entrada do HPV na célula ainda não é muito bem entendido. Parece ocorrer via endocitose, por vesículas cobertas por clatrina, sendo um processo lento e complexo que pode durar horas. O desnudamento do vírus, no interior da célula, permite que o DNA viral seja transportado para o núcleo. Este vírus reconhece receptores específicos presentes apenas em células indiferenciadas. Por isso, a infecção se inicia na camada basal da epiderme, cujas células imaturas, chamadas de células basais, são expostas em decorrência da abrasão e consequente formação de microlesões na pele ou mucosa. O HPV também pode infectar as células de reserva do epitélio colunar endocervical, ou, ainda, as células metaplásicas ora presentes na região de junção escamo-colunar (JEC) do colo uterino. Após sua entrada, o DNA viral é direcionado ao núcleo celular e iniciando o processo de estabilização. Estudos em mulheres infectadas relatam que o baixo número de cópias virais (10–200 cópias por célula). Nas células basais, favorece a manutenção da forma epissomal (circular), a qual é garantida também pela atuação dos genes E1 e E2. Nessa fase, chamada de latente, o HPV se mantém em pequeno número, se replicando apenas quando a célula também se replica. O vírus pode permanecer assim no tecido por vários dias, ou até por anos, sem causar nenhuma alteração tecidual. Devido à baixa carga viral, sua transmissão é dificultada, mas não é impedida. Nesta fase o diagnóstico da infecção por HPV só é possível utilizando- se métodos de biologia molecular. Por não ser frequente o diagnóstico, sua transmissão acontece de forma livre. Entretanto, mesmo que o diagnóstico seja feito, atualmente, não existe nenhum tratamento que elimine o vírus do tecido, sendo a cura dependente exclusivamente do sistema imunológico. Ainda sob a forma epissomal, partículas virais começam a ser formadas independentemente do ciclo de divisão celular, aumentando, assim, em número. Não se conhece, ainda, o evento responsável pela saída do vírus de seu estado de latência para a fase produtiva. É nesta fase que as lesões aparecem. As lesões intraepiteliais de baixo grau (LSIL) são lesões simples que, na maioria das vezes, regridem espontaneamente e podem ser provocadas tanto por vírus de alto como de baixo risco. Já as lesões classificadas como lesões intraepiteliais de alto grau (HSIL) são provocadas por vírus de alto risco e são consideradas como as lesões precursoras do câncer de colo uterino. A formação das partículas virais está intimamente relacionada ao ciclo de maturação e diferenciação celular. A replicação do DNA ocorre dentro das células indiferenciadas e imaturas, sendo encapsulado nas células maduras. As partículas virais formadas, chamadas de virions, saem de dentro da célula e estão prontas para uma próxima infecção. Para que o vírus consiga se replicar, proteínas virais como E1 e E2 começam a ser expressas. Estas proteínas são essenciais para a estabilização do DNA viral em longo prazo e controlam a expressão dos demais genes virais. O gene E4 codifica uma proteína associada à maturação viral e à alteração da matriz intracelular. E4 se associa com ceratinas do citoesqueleto da célula hospedeira, facilitando a montagem e maturação do vírus. E4 é expressa nas camadas diferenciadas do epitélio, em estágios tardios da infecção e tem sido colocalizada com a proteína L1. A região de E5 codifica uma proteína hidrofóbica que é capaz de interagir com várias proteínas transmembranosas como os receptores do fator de crescimento epidérmico (EGRF) e o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), entre outros. Possui função sinérgica ao fator de crescimento epidérmico (EGF), estimulando a proliferação celular e impedindo a apoptose. Células normais do epitélio escamoso estratificado param de se reproduzir à medida que começam a se diferenciar, um problema para o HPV, que precisa da DNA polimerase e dos fatores de transcrição que são apenas produzidos durante a divisão celular. Esse problema é resolvido pela atuação das oncoproteínas E6 e E7. Os genes E6 e E7 codificam proteínas que podem estimular a proliferação e a transformação das células hospedeiras, cooperando sinergicamente para a imortalização celular. A oncoproteínaE7 é uma pequena fosfoproteína que se liga de forma eficiente à proteína do retinoblastoma (pRB) em seu sítio de ligação de fatores de transcrição, como membros da família E2F. Esta interação leva à liberação do fator de transcrição E2F do complexo repressor transcricional pRB/E2F, permitindo a estimulação da proliferação celular. E7 também é capaz de associar-se a outras proteínas envolvidas na proliferação celular e imortalizar células por desregular mecanismos de apoptose. A proteína E6 complementa o papel desempenhado por E7, evitando a indução de apoptose e a correção de possíveis erros que aparecem durante o processo de replicação do DNA. Esta oncoproteína é capaz de se associar à proteína p53 por intermédio de outra proteína celular, a proteína associada à E6 (E6-AP). Esse complexo se liga por sua vez à E3 ubiquitina ligase, resultando na ubiquitinação de p53 e subsequente degradação proteolítica. Outras vias de inativação de p53 constituem-se no sequestro da mesma no citoplasma pela proteína E6 viral. Estes efeitos anulam as propriedades de p53 e interrompem sua habilidade de bloquear o ciclo celular e de induzir a apoptose. E6 também colabora na imortalização celular ativando a telomerase da célula hospedeira. A expressão e atuação das proteínas oncogênicas do HPV são necessárias para o surgimento de lesões cervicais. Mutações adicionais geradas a partir da instabilidade genômica provocada pelas oncoproteínas são necessárias para a progressão maligna. À medida que a carga viral aumenta mais e mais proteínas vão sendo produzidas e acumuladas dentro da célula hospedeira. Quando o nível intracelular de E1 é alto, replicações aberrantes começam a ocorrer e geram um complexo conjunto de fragmentos do genoma viral que são ativamente modificados, recombinados e degradados pela maquinaria celular do hospedeiro. Acredita-se que esses fragmentos subgenômicos assim gerados podem ameaçar a estabilidade do genoma viral, fazendo-o integrar. Durante o processo de integração do genoma viral ao genoma do hospedeiro, os genes E2 ou E1 são quebrados, perdendo assim sua funcionalidade. Como consequência, perde-se também o controle na expressão dos genes oncogênicos E6 e E7 e a estabilidade da forma epissomal. Existem evidências de que o processo de integração é gradativo, havendo coexistência entre as formas epissomais e integradas (forma mista). O genoma do HPV integrado permanece ativo e disponível à replicação e transcrição, sendo controlado pelas proteínas E1 e E2 produzidas pela forma epissomal. O aumento do número de cópias do HPV integrado promove um aumento da quantidade das proteínas E6 e E7 disponíveis, promovendo instabilidade genômica. A atuação das proteínas oncogênicas, conjuntamente com as várias integrações virais, favorecem o processo de carcinogênese. Com a integração total das formas epissomais, a replicação viral fica limitada à multiplicação celular, estabelecendo um ciclo produtivo incompleto (ciclo abortivo), em que partículas virais não chegam a ser formadas. Portanto, a carcinogênese é um processo de múltiplas etapas, onde mutações alteram a fisiologia celular, que, por sua vez, altera a morfologia das células, que, assim, alteram o funcionamento do tecido e, por consequência, do órgão. As alterações genômicas promovidas pelo HPV vão desde mutações pontuais até o silenciamento gênico ou ativação de proto-oncogenes, rearranjos gênicos e cromossomais e a perda de heterozigose. Mutações vão se acumulando até que a célula saia da normalidade e se transforme em neoplásica. 2. Manifestações da infecção pelo HPV: clínica (verrugas) (466) e subclínica (NIC). REFERÊNCIA: Cecil MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clinicas da infecção HPV variam conforme o local anatômico e o tipo viral. As verrugas comuns são pápulas exofíticas hiperceratóticas que tipicamente ocorrem nas mãos, mas podem aparecer cm qualquer superfície cutânea, incluindo a pele genital. As verrugas plantares são causadas por tipos similares de HPV; elas são hiperceratóticas e endofíticas e muitas vezes são extremamente dolorosas. Em contraste, as verrugas planas (verruca plana) são pequenas pápulas de topo plano que ocorrem mais comumente na face, mãos e pernas e são causadas por um grupo relativamente diferente de tipos não genitais de HPV. Epidermodysplasia verruciformis é uma doença recessiva autossômica incomum que usualmente é manifestada na infância sob forma de verrugas difusas que respondem pouco ao tratamento. Esta síndrome, que se atribui a um defeito seletivo na imunidade mediada por células, porque não ocorrem outras infecções oportunistas, é associada com dois tipos de lesões: verrugas planas causadas pelos mesmos tipos de HPV que ocorrem em hospedeiros normais, e lesões escamosas tipo tinea versicolor causadas por um grande número de tipos não usuais. Estas últimas são associadas com o desenvolvimento de câncer de células escamosas nas áreas expostas ao sol. Lesões cutâneas semelhantes e, raramente, cânceres de pele associados podem se desenvolver em outros pacientes com defeitos adquiridos na imunidade celular. Outras lesões incomuns causadas por tipos exclusivos de HPV incluem as verrugas de açougueiro, que são lesões verrucosas encontradas nas mãos de manipuladores de carne, e a hiperplasia epitelial focal, que consiste em lesões mucosas planas da orofaringe. A maioria das infecções genitais por HPV não produz lesões reconhecidas e permanece subclínica, detectada apenas por testes de DNA de HPV. As verrugas anogenitais são crescimentos papilomatosos que ocorrem em toda a pele e mucosa anogenital, geralmente em locais de atrito genital. Verrugas perianais, que são muito mais comuns em pessoas com história de intercurso anal, são muitas vezes associadas com verrugas intra-anais, mas podem ocorrer sem esse contato, presumivelmente por autoinoculação. As verrugas podem variar de lesões planas ou papulares ao clássico condyloma acuminatum pedunculado em forma de couve-flor. Elas são tipicamente causadas por tipos de baixo risco (> 90% são devidas a HPV 6 ou 11), embora verrugas causadas por tipos de alto risco ou múltiplos tipos possam ocorrer em pacientes imunocomprometidos. As verrugas são tipicamente assintomáticas, notadas pelo paciente como uma "saliência" ou inadvertidamente durante um exame genital, embora elas possam causar prurido, ardência, dor ou, raramente, sangramento ou obstrução mecânica do canal do parto em mulheres grávidas. Verrugas causadas por tipos genitais também podem raramente ocorrer na boca e trato respiratório superior, as últimas produzindo uma condição séria conhecida como papilomatose respiratória recorrente, que pode causar rouquidão e mesmo comprometimento das vias aéreas. Lesões intraepiteliais escamosas são mais comumente observadas no colo como resultado de triagem citológica, com confirmação por colposcopia e biópsia. Como as verrugas, elas também ocorrem em outros locais anogenitais e, como acontece com as lesões cervicais, são classificadas como lesões intraepiteliais escamosas de baixo risco/alto risco ou como vários estádios de neoplasia intraepitelial (p. ex.., vulva – NIV; vagina – NIVa; ânus – N1A; pênis – NIP). Em todos os locais, lesões intraepiteliais escamosas de baixo risco podem ser causadas por tipos de baixo risco ou alto risco, enquanto as lesões intraepiteliais escamosas de alto risco são sempre devidas a tipos de alto risco. A maioria das lesões intraepiteliais escamosas não é visível nas superfícies mucosas sem aumento, embora possam aparecer como pápulas hiperpigmentadas planas conhecidas como papulose bowenoide na genitália externa. Embora a história natural da infecção por HPV não esteja completamente caracterizada, a grande maioria das infecções e lesões pré-malignas é autolimitada nos pacientes mais imunocompetentes. Não está claro se as infecções não mais detectáveis foramtiradas pelo sistema imune ou permanecem latentes na camada basal do epitélio com o potencial de reativação, mas a prevalência mais alta de infecção detectável na infecção HIV avançada do que na inicial sustenta a possibilidade de infecção a longo prazo. Muitas, senão a maioria das lesões clinicas se resolve espontaneamente, presumivelmente como resultado do desenvolvimento de imunidade mediada por células. Estima-se que regressão espontânea ocorra em 25% das verrugas genitais e mais de 50% das verrugas comuns em crianças. As estimativas da probabilidade de regressão versus o risco de progressão para câncer invasivo são 60% e 1% para NIC 1, 40% e 5% para NIC 2, e 32% e 12% para NIC 3. Tradicionalmente, os vários estádios de lesões precursoras têm sido vistos como um continuum biológico, com NIC 1 progredindo através de graus mais altos para câncer invasivo. Entretanto, dados que estão emergindo indicam que as lesões intraepiteliais escamosas de baixo risco e as lesões intraepiteliais escamosas de alto risco podem ser processos distintos, com as lesões intraepiteliais escamosas de baixo risco (NIC 1) sendo uma manifestação do que é usualmente uma infecção produtiva transitória caracterizada pela produção de proteína do capsídeo (e provavelmente vírions infecciosos) e apenas pequenas anormalidades celulares, e as lesões intraepiteliais escamosas de alto risco (NIC U3) representando proliferação de células imaturas como resultado da atividade de proteínas oncogênicas dos tipos de alto risco. Neste modelo, a infecção inicial frequentemente leva a uma lesão intraepitelial escamosa de baixo risco usualmente transitória, e menos frequentemente à infecção persistente. Infecção persistente pode, por sua vez, levar diretamente a lesões intraepiteliais escamosas de alto risco vários anos após a infecção inicial, e pode progredir para câncer invasivo ao longo de um período de várias décadas. A história natural das lesões intraepiteliais escamosas em outros locais anogenitais está menos definida, mas elas podem ser associadas com taxas mais altas de regressão. Pacientes imunodeficientes, como aqueles com infecção por HIV, têm uma taxa mais baixa de regressão espontânea das lesões intraepiteliais escamosas e podem ter uma taxa mais alta de progressão para câncer. REFERÊNCIA: Infecção pelo papilomavírus humano: etiopatogenia, biologia molecular e manifestações clínicas – SCIELO MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA INFECÇÃO PELO HPV Lesões cutâneas benignas Verrugas cutâneas As verrugas são as manifestações clínicas mais comuns e características da infecção pelo HPV. São tumores induzidos por vírus pleomórficos, que acometem diversas localizações, principalmente a pele de extremidades, mucosa, pele genital e mucosas oral e laríngea. Características histopatológicas das verrugas cutâneas As características histopatológicas presentes nas verrugas virais são papilomatose, hiperceratose proeminente com paraceratose, hipergranulose e acantose. Nas verrugas vulgares, as cristas epidérmicas são alongadas e, na periferia da lesão, apontam radialmente para o centro (arborização). As características mais importantes para distinguir a verruga vulgar dos demais papilomas são: a) coilócitos (células pequenas vacuolizadas com núcleo pequeno redondo fortemente basófilo, rodeados por um halo claro e citoplasma que se cora palidamente, localizadas na camada granulosa e espinhosa alta); representam o efeito citopático viral; b) fileiras verticais de paraceratose; c) focos de grânulos de querato-hialina. Essas três alterações são muito evidentes nas verrugas vulgares jovens ou ativas. Alguns autores sugerem que determinadas características histológicas são específicas para cada tipo de HPV. Dessa forma, o exame histopatológico auxiliaria na identificação dos diferentes tipos virais. Outros pesquisadores discordam quanto a diferentes HPVs determinarem padrões histológicos distintos e característicos para cada tipo viral, portanto, não haveria correlação da histologia com o tipo de HPV. As verrugas planas apresentam hiperceratose e acantose. A papilomatose e áreas de paraceratose não menos proeminentes, observando-se apenas discreto alongamento das cristas epidérmicas. Nas camadas espinhosa e granulosa há vacuolização difusa e aumento de tamanho das células, com centralização dos núcleos, que se tornam picnóticos e fortemente basofílicos. As verrugas palmoplantares superficiais (em mosaico) apresentam aspectos histopatológicos semelhantes aos das verrugas vulgares. As verrugas palmoplantares profundas (mirmécia), por sua vez, são caracterizadas por apresentarem na camada granulosa e espinhosa grânulos de querato-hialina abundantes e eosinófilos, formando corpos de inclusão irregulares nos citoplasmas dos ceratinócitos. Lesões mucosas benignas Hiperplasia Epitelial Focal (HEF) A hiperplasia epitelial focal (HEF) ou doença de Heck é uma doença rara da mucosa oral, de curso benigno, e está associada aos HPVs 13 e 32. É mais frequente em crianças e mulheres e apresenta clara predominância racial, sendo mais comum em índios americanos, esquimós e algumas comunidades africanas. Clinicamente, caracteriza-se por múltiplas pequenas pápulas, de coloração rósea, individualizadas ou formando placas. As lesões são assintomáticas e com tendência a regressão espontânea. A localização mais comum é o lábio inferior. A HEF acomete com menos frequência o lábio superior, a língua, a mucosa jugal, a orofaringe, o palato e o assoalho da boca. Condiloma acuminado A manifestação mais comum do HPV na genitália são as verrugas anogenitais ou condilomas acuminados. Essas lesões apresentam-se como pápulas, nódulos ou vegetações macias, filiformes, róseas, sésseis ou pedunculadas. Podem apresentar crescimento exofítico semelhante à couve-flor e são, geralmente, assintomáticas. Os HPVs de baixo risco, HPV 6 e HPV 11, são os mais detectados nas lesões de condiloma acuminado. HPVs de alto risco, como os HPVs 16 e 18 e outros tipos de HPV, podem ser encontrados isolados ou, mais comumente, coinfectando com os HPVs 6 e 11. O tumor de Buschke-Löwenstein (condiloma acuminado gigante ou carcinoma verrucoso da região anogenital) é um tumor clinicamente agressivo, com lesões tipo "couve-flor", ulceradas, muitas vezes associadas a fístulas e abscessos. Apresentam crescimento endofítico e exofítico, invasão local e altas taxas de recidiva. Metástases são muito raras e, histologicamente, têm comportamento benigno. Essa lesão está associada aos HPVs 6 e 11. Papulose Bowenoide O termo papulose bowenoide (PB) refere-se a lesões papulosas multifocais na genitália com características histológicas semelhantes às do CEC in situ ou DB. O quadro clínico se caracteriza por múltiplas pápulas de coloração acastanhada ou eritematosa localizadas na região anogenital, que atingem, principalmente, adultos jovens com vida sexual ativa. Clinicamente, a PB deve ser diferenciada de ceratose seborreica, nevo melanocítico e verruga comum. A PB está fortemente relacionada com o HPV 16. Apesar da atipia histológica e da associação com HPV de alto risco, o curso da PB no sexo masculino e em indivíduos jovens é usualmente benigno, ocorrendo regressão espontânea em muitos casos. No sexo feminino, a associação com neoplasia do colo uterino sugere um curso menos benigno, tanto para as mulheres que apresentam lesões como também para as parceiras de indivíduos com PB. Em pacientes idosos e imunossuprimidos, a evolução também tende a ser mais agressiva.13 Outros tipos de HPV, como os HPVs 18, 31-35, 39-42, 48 e 51-54, têm sido detectados em lesões de PB. Lesões mucosas malignas Doença de Bowen da genitália O carcinoma in situ ou DB da genitália associase com HPVs de alto risco, especialmente, o HPV 16. Clinicamente, apresenta-se como uma placa, em geral única, sem tendência a regressão espontânea e com potencial deevolução para CEC. Alguns autores consideram que a DB na mucosa corresponde à eritroplasia de Queyrat (EQ). Porém, outros pesquisadores acreditam que sejam entidades com padrões histológicos distintos. As lesões características da EQ são placas eritematosas, aveludadas, brilhantes com ou sem infiltração e podem acometer glande, prepúcio, uretra, vulva, mucosa oral, língua e conjuntiva. A progressão da EQ para CEC ocorre em mais de 30% dos casos e é maior do que a observada em relação à DB. Estudos sobre a detecção do tipo de HPV nas lesões de EQ são escassos. O HPV 16 é o mais encontrado e o HPV-EV 8 também tem sido observado. Câncer vulvar O câncer invasivo da vulva é geralmente precedido por neoplasia intraepitelial vulvar (NIV) ou carcinoma cervical e, muitas vezes, desenvolve-se a partir de verrugas genitais de longa evolução. A detecção do HPV nas lesões de CECs vulvares varia de 30% a 70%. A positividade de detecção do HPV no câncer vulvar é muito inferior à do carcinoma cervical, o que pode decorrer da sensibilidade dos métodos de detecção empregados ou da presença de novos tipos de HPV ainda não identificados que podem estar presentes nessas lesões. O HPV 16 é o tipo mais observado nos carcinomas vulvares, mas os HPVs 18, 21, 31, 33 e 34 também têm sido encontrados nessas lesões. Câncer peniano Clinicamente, o câncer peniano se distingue por lesões enduradas, nodulares, ulceradas ou erosivas e podem apresentar superfície verrucosa. A detecção de HPV nas lesões de câncer peniano alcança 40-70% de positividade e o tipo mais encontrado é o HPV 16. Câncer anal O HPV é detectado em cerca de 80% a 96% das lesões de câncer anal. O tipo mais encontrado é o HPV 16, mas outros, como os HPVs 18 e 33, também são detectados. Câncer cervical Um grande número de lesões da região cervical está associado à presença do HPV, desde anormalidades citológicas incipientes, displasias de diferentes graus, até o câncer cervical. Observa-se relação causal de HPV e câncer de colo do útero em cerca de 90% a 100% dos casos. A infecção cervical por alguns tipos de HPV é um fator precursor na gênese da neoplasia cervical, embora outros cofatores atuem para que ocorra o desenvolvimento da neoplasia. Os HPVs 16 e 18 são os dois tipos carcinogênicos mais importantes e responsáveis por cerca de 70% dos carcinomas cervicais e 50% das neoplasias intraepiteliais de grau III. Os HPVs 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52 e 58 também têm sido detectados nas lesões de câncer cervical. 3. Epidemiologia do câncer de colo do útero. REFERÊNCIA: Cecil – Clínica Médica CANCÊR CERVICAL – COLO DO ÚTERO Epidemiologia Os tumores cervicais derivam do epitélio escamoso do ectocérvix ou do revestimento glandular do endocérvix. A prevalência de câncer cervical pré-invasivo nos países onde não existe um serviço de saúde prontamente disponível é muito superior. Câncer do colo do útero constitui a principal causa de morte por doença maligna ginecológica em todo o mundo; cerca de 500.000 novos casos são diagnosticados a cada ano. Nos Estados Unidos, desde a introdução do esfregaço de Papanicolau, houve uma redução de quatro a cinco vezes na morte por câncer cervical. Aproximadamente 10.500 novos casos de carcinoma cervical são diagnosticados a cada ano nos Estados Unidos e 3.700 mulheres morrem por esta patologia por ano. Contudo, mesmo nos países desenvolvidos, até 50% de todas as mulheres com diagnóstico de câncer cervical nunca foram submetidas a um esfregaço de Papanicolau. REFERÊNCIA: Patologia Geral – Bogliolo Carcinoma de células escamosas O carcinoma de células escamosas (CCE), que é a neoplasia do colo uterino mais frequente (85% das neoplasias cervicais), tem enorme impacto na saúde das mulheres, pois, além da sua alta prevalência, acomete predominantemente mulheres jovens, em idade fértil e produtiva. Há cerca de 50 anos, o CCE representava a primeira causa de morte por neoplasia maligna em mulheres em várias partes do mundo, despertando esforços e ações na tentativa de se conhecer melhor a doença, diagnosticá-la em uma fase mais precoce e minimizar suas consequências. No Brasil, estima-se cerca de 15 mil novos casos em 2014, com 15 casos previstos para cada 100 mil mulheres. A redução na mortalidade por esse câncer pode ser alcançada mediante rastreamento de mulheres entre 25 e 65 anos de idade, por meio do teste de Papanicolaou e tratamento das lesões precursoras. Para os próximos anos, espera-se que esse quadro possa se modificar, desde que sejam mantidas a organização e a ampliação de campanhas, a difusão de informações sobre a doença e sua prevenção e o acesso das mulheres aos serviços de saúde para a conduta adequada. Carcinoma invasor O carcinoma de células escamosas (CCE) invasor do colo uterino ainda constitui neoplasia maligna frequente no Brasil, sobretudo em algumas regiões, ao contrário de muitos outros países, onde, graças aos bem-sucedidos programas de atenção à saúde, as lesões precursoras são detectadas precocemente e o tratamento eficaz pode ser feito antes de aparecer a invasão. O carcinoma invasor incide preferencialmente entre a terceira e a quinta décadas de vida, com pico entre 40 e 45 anos. Adenocarcinoma Cerca de 15% das neoplasias malignas cervicais são representadas por outros tumores além do CCE. Desses, a maioria é representada pelo adenocarcinoma, puro ou associado ao CCE (carcinoma adenoescamoso). A incidência de lesões escamosas cervicais malignas invasivas vem diminuindo nos países desenvolvidos, com a expansão dos programas de prevenção. O número de lesões glandulares malignas e pré-malignas, no entanto, está aumentando, inclusive em mulheres jovens, a despeito dos programas de controle. Clinicamente, o adenocarcinoma comporta-se como o CCE, razão pela qual é tratado de forma semelhante; sangramento vaginal é referido por 75% das pacientes, além de corrimento. REFERÊNCIA: INCA Estimativas de novos casos: 16.590 (2020 - INCA) Número de mortes: 6.526 (2018 - Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM) 4. Fatores de risco e fisiopatologia do câncer do colo do útero relacionando com as manifestações clínicas. REFERÊNCIA: Falando sobre o Câncer do Colo de útero – Ministério da Saúde FATORES DE RISCO São considerados fatores de risco de câncer do colo do útero a multiplicidade de parceiros e a história de infecções sexualmente transmitidas (da mulher e de seu parceiro); a idade precoce na primeira relação sexual e a multiparidade. Além desses fatores, estudos epidemiológicos sugerem outros, cujo papel ainda não é conclusivo, tais como tabagismo, alimentação pobre em alguns micronutrientes, principalmente vitamina C, beta caroteno e folato, e o uso de anticoncepcionais. Atualmente, a teoria mais aceita para a explicação do aparecimento do câncer do colo do útero repousa na transmissão sexual. Desde 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a persistência da infecção pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV) em altas cargas virais representa o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença. Sabe-se também que a infecção pelo HPV é essencial, mas não suficiente para a evolução do câncer. Além da tipagem e da carga viral do HPV, adquire importância a associação com outros fatores de risco que atuam como co-fatores, tais como a paridade elevada, o início precoce da atividade sexual e o número de parceiros sexuais. Em relação ao herpesvírus, alguns estudos de caso controle com sorologia têm demonstrado a presença do DNA viral em lesões pré-cancerosas ou cancerosas, mas esta presença é considerada como um marcador de atividade sexual, e não agente ativo da carcinogênese. A análise da associação, se é que existe, entre o uso de contraceptivos orais e o risco de câncer invasivo do colo do útero é feita com dificuldades. Os contraceptivos orais são usados por mulheres sexualmente ativas e que, em menor probabilidade,usam métodos de barreira, sendo por isto mais expostas ao risco de contrair HPV. Em compensação, essas mulheres comparecem mais ao ginecologista, tendo maior possibilidade de serem rastreadas para o câncer do colo do útero. Em situações de imunossupressão, tais como no tabagismo, corticoterapia, Diabetes, Lupus e AIDS, a incidência do câncer do colo do útero está aumentada. Isto também ocorre em situações onde há ingestão deficiente de vitamina A e C, beta-caroteno e ácido fólico, comumente associadas com baixas condições socioeconômicas. REFERÊNCIA: Cecil – Clínica Médica FISIOPATOLOGIA A maioria, se não todos os tumores cervicais, é precedida por uma fase de neoplasia intraepitelial cervical ou NIC que progride lentamente com o passar dos anos antes de ocorrer a invasão do estroma. O DNA do papilomavírus humano (HPV) pode ser identificado cm pelo menos cerca de 95% das lesões displásicas e malignas. Os subtipos de HPV 16 e 18 são isolados mais frequentemente nos carcinomas de células escamosas invasivas e adenocarcinoma, respectivamente. Subtipos de alto risco como o 31, 33, 35 e outros foram caracterizados. Calcula-se que até 50% das mulheres sexualmente ativas foram expostas ao HPV, mas apenas uma pequena porção das mulheres expostas desenvolve NIC de alto grau ou câncer cervical invasivo. Os cofatores para a transformação maligna incluem uso de tabaco e imunossupressão. Por exemplo, os tumores cervicais se manifestam em um estágio posterior e são clinicamente mais agressivos nas mulheres infectadas com o vírus da imunodeficiência e o carcinoma cervical é uma patologia que define a síndrome da imunodeficiência. REFERÊNCIA: Patologia Geral – Bogliolo. ETIOPATOGÊNESE Estudos epidemiológicos e clínicos mostram que o câncer do colo uterino se comporta como uma doença sexualmente transmissível e é mais frequente em mulheres de baixa condição socioeconômica, fatores esses responsáveis pelo aumento da sua incidência em muitos países subdesenvolvidos. Além disso, o câncer é mais comum em mulheres que têm vários parceiros, naquelas com início precoce da vida sexual (particularmente antes de 16 anos de idade) e em multíparas. Nesses casos, há associação com atividade sexual intensa e infecções ginecológicas frequentes. Na busca de possíveis agentes etiológicos para o câncer de transmissão sexual, foram investigados os vários agentes infecciosos responsáveis por cervicites recorrentes, merecendo destaque o HPV. Vírus do papiloma humano Os HPVs são os agentes causadores de verrugas genitais, denominadas condiloma acuminado, cujo termo origina-se do grego kondulos (côndilo) e do latim acuminare (tornar pontudo). Tais lesões são reconhecidas desde a Antiguidade como doenças sexualmente transmissíveis. Em meados do século 20, partículas virais foram identificadas nas células do condiloma por meio da microscopia eletrônica. Em 1956, Koss e Durfee relataram o achado da chamada atipia coilocitótica em células de esfregaços vaginais. Do grego koilos (buraco), coilocitose refere-se à vacuolização perinuclear em células escamosas, associada a alterações nucleares. Cerca de 20 anos mais tarde, Meisels e Purola correlacionaram tais alterações à infecção pelo HPV, ao observarem semelhanças morfológicas entre os coilócitos (células com alterações coilocitóticas) e as células do condiloma, nas quais se encontra DNA do vírus. Surgia, assim, a associação entre infecção pelo HPV e neoplasia cervical. O HPV é um vírus DNA da família Papillomaviridae, que atualmente inclui 118 genótipos distintos (com base na sequência do DNA) capazes de infectar a espécie humana. Por meio de estudos de biologia molecular, são conhecidos mais de 40 tipos que infectam células da região anogenital. Todos os HPV são epiteliotróficos (pele e mucosas), podem induzir proliferação epitelial (formação de papilomas) e dependem da célula infectada para sua replicação. Considerando-se a população mundial, estima-se em 80% o risco de infecção em pessoas com vida sexual ativa e que 50% dos indivíduos sejam portadores do vírus. Estudos de biologia molecular mostram que o HPV pode ser detectado no colo uterino em 2 a 20% da população feminina mundial. Os principais elementos que atribuem ao HPV papel etiológico das lesões proliferativas do epitélio escamoso e do carcinoma cervical são: ■ O HPV é comprovadamente um agente transmissível sexualmente (o CCE do colo uterino comporta-se como doença sexualmente transmissível ■ A faixa etária das mulheres que se infectam com o HPV coincide com a época do surgimento das lesões precursoras, anterior ao desenvolvimento do câncer ■ A alta incidência de carcinoma cervical em mulheres cujos parceiros têm história de câncer do pênis ou possuem condilomas penianos ■ Nas lesões malignas, o DNA viral encontra-se integrado ao DNA do hospedeiro ■ A inoculação experimental do vírus em coelhos produz tumores cutâneos. O comportamento das lesões induzidas pelo vírus depende de fatores relacionados com o HPV e com o hospedeiro, como o tipo de vírus envolvido, a região geográfica, a carga viral e os fatores relacionados com a imunidade do indivíduo. Os tipos 16, 18, 31, 33, 34, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 66, 68 e 70, ditos HPV de alto risco, estão mais associados a displasia moderada ou acentuada, carcinoma in situ e carcinoma invasor. O HPV 16 é o mais prevalente, sendo encontrado em 50 a 60% dos casos de carcinoma cervical, seguido pelo HPV 18, responsável por cerca de 10% dessas lesões. As células infectadas são, em sua maioria, aneuploides e, portanto, com fenótipo neoplásico. Coilocitose pode ser encontrada, mas sua frequência é inversamente proporcional ao grau de transformação do epitélio. Outros tipos, como 6, 11, 42, 43 e 44, considerados HPV de baixo risco, induzem nas células a formação de novas partículas virais; quando surgem distúrbios da proliferação e diferenciação celulares, estes são geralmente mais discretos, como displasia leve. Nesses casos, as células infectadas são diploides ou poliploides. O HPV é um vírus de DNA de fita dupla, circular, contendo cerca de 8.000 pares de base, cuja replicação depende da célula do hospedeiro. O genoma viral é dividido em três regiões: (a) não codificante (sequência anterior regulatória), com 400 a 1.000 pares de base, referida como longa região controladora (LCR); esta região contém o promotor P97, ao longo do qual há sequências ativadoras e silenciadoras que regulam a replicação do DNA; (b) região precoce (E), com as sequências que codificam as proteínas E1, E2, E4, E5, E6 e E7, envolvidas na replicação viral e na oncogênese; (c) região tardia (L), que codifica as proteínas estruturais L1 e L2 do capsídeo viral. A transmissão do vírus se dá primariamente por contato direto, em geral por atividade sexual, podendo a contaminação ocorrer também pela passagem do concepto pelo canal de parto. Transmissão pode ocorrer também por fômites, por exposição prolongada a roupas contaminadas e pela via vertical. O risco de contágio aumenta em pessoas com vários parceiros sexuais e quando os parceiros têm múltiplos parceiros. O uso de preservativo pode não prevenir o contágio, já que a transmissão pode se dar por contato com os lábios, o escroto, a mucosa anal e outras superfícies contaminadas. O HPV é mais comum em mulheres sexualmente ativas entre 18 e 30 anos, com pico de infecção entre 20 e 24 anos e redução marcante da prevalência após 30 anos, podendo haver um pico secundário na perimenopausa. O câncer é mais comum em mulheres com mais de 35 anos, o que sugere infecção precoce, de progressão lenta. O HPV infecta o epitélio escamoso, particularmente células basais (imaturas e com capacidade replicativa) ou células de metaplasia escamosa; abrasões ou microerosões no epitélio facilitam a infecção das células basais, que são capazes de se replicar e que constituem o reservatório do vírus.O entendimento do ciclo viral e dos padrões de infecção, esquematizados na figura, ajuda a compreender os mecanismos envolvidos na patogênese do câncer do colo uterino. Após penetrar na célula por meio de receptor, o vírus pode causar: ■ Infecção latente, inativa ou não produtiva. Dentro da célula, o DNA viral dirige-se ao núcleo, onde permanece na forma epissomal. O DNA do vírus é replicado como unidade extracromossômica durante a divisão celular, mas não há formação de novas partículas virais (os outros genes virais não são expressos) nem se formam lesões macro ou microscópicas ■ Infecção ativa ou produtiva. O DNA viral integra-se, em pequeno grau, ao genoma da célula e é replicado independentemente do DNA celular. Os genes virais são expressos e proteínas do vírus são sintetizadas, formando-se novas partículas virais, que são liberadas nas camadas superficiais do epitélio. Se a infecção é prolongada (como acontece com os vírus de alto risco) e a carga viral é alta, pode haver integração persistente do DNA viral ao DNA celular. Como a integração bloqueia os genes precoces E6 e E7 do vírus, não há formação de novas partículas virais, enquanto as proteínas E6 e E7 são sintetizadas em grande quantidade. Como E6 e E7 são oncoproteínas, ocorre transformação celular. Morfologicamente, surgem alterações displásicas no epitélio, as quais podem evoluir para carcinoma in situ e, depois, para câncer invasor. Os HPVs de alto risco distinguem-se dos de baixo risco especialmente pelo seu estado físico e pela expressão dos genes E6 e E7: os HPV de alto risco geralmente se integram ao DNA celular, enquanto os HPVs de baixo risco permanecem na forma epissomal. A integração do DNA viral ao DNA da célula pode interromper a transcrição ou deletar a sequência E2. Esquema sobre a infecção pelo HPV. Após o vírus penetrar na célula, o DNA viral dirige-se ao núcleo, onde pode: (1) replicar- se, mas sem produzir as proteínas virais e, portanto, sem formar novas partículas virais (in-fecção inativa); (2) in integrar-se ao DNA celular. As proteínas virais são expressas e, junto com o DNA do vírus, formam-se novas partículas virais, que são eliminadas da célula (infecção ativa). Quando a integração é persistente e se o vírus é de alto risco, são produzidas as oncoproteínas E6 e E7, que inativam as proteínas pRB e p53. Como a proteína E2 inibe a expressão dos genes E6 e E7, a falta de E2 permite a síntese aumentada dessas duas oncoproteínas, responsáveis por lesões precursoras e pelo câncer anogenital. Em infecções por HPV de baixo risco (os tipos 6 e 11 são os mais prevalentes), sem integração ao DNA celular, surge o condiloma acuminado, inclusive no períneo e nas regiões anal e perianal. Alguns mecanismos explicam o descontrole na proliferação das células infectadas. A proteína E6 do HPV liga-se à p53, marcando-a para degradação em proteassomos. Como a p53 reduz a progressão do ciclo celular, estimula a apoptose e favorece o reparo do DNA, estas funções ficam abolidas. Com isso, a célula perde o controle indispensável à sua normalidade. Além disso, a E6 aumenta da expressão da telomerase, reduzindo a senescência celular. A proteína E6 dos HPVs de baixo grau não se liga à p53 em níveis detectáveis e não afeta a estabilidade desta em estudos in vitro. A proteína E7 liga-se à forma hipofosforilada da proteína do retinoblastoma (pRB). Tal ligação desfaz o complexo formado entre a pRB e o fator de transcrição E2F; a liberação do E2F estimula a transcrição de genes cujos produtos são necessários para as células entrarem na fase S do ciclo celular. A proteína E7 pode ainda associar-se a outras proteínas celulares envolvidas no ciclo celular, como a ciclina E. O efeito final é o estímulo à síntese de DNA e à proliferação celular. A proteína E7 dos HPV de baixo grau liga-se à pRB com menor afinidade. Em síntese, aumento de E6 e E7 bloqueia a ação de p53 e pRB, o que resulta em instabilidade genômica nas células epiteliais e aumenta a replicação celular. Em consequência, a célula acumula mais e mais danos no DNA, que não são reparados. O acúmulo de mutações que surgem ao acaso (evento aditivo) ao longo do tempo contribui para a transformação celular. A progressão para o câncer ocorre 10 a 20 anos depois da infecção. Algumas lesões podem evoluir mais rapidamente, em até um ou dois anos. Ao que tudo indica, infecção pelo HPV sozinha não é suficiente para explicar todos os eventos da carcinogênese. Fatores exógenos e endógenos devem atuar em conjunto com o vírus na progressão das lesões. Entre os fatores associados ao vírus, tipo viral, coinfecção por mais de um tipo, variantes de HPV, carga viral e taxa de integração são os mais importantes. O número de partículas virais correlaciona-se diretamente com a gravidade da doença, sendo carga maior geralmente encontrada na infecção pelo HPV 16. A oncogenicidade de variantes específicas de HPV pode ser diferente de acordo com a região geográfica e com os grupos étnicos. Com base em variações nas sequências dos genes do HPV 16, são conhecidos cinco grupos filogenéticos de ocorrência natural: E (europeu), As (asiático), AA (ásio- americano), Af1 (africano 1) e Af2 (africano 2); variantes europeias têm maior atividade transcricional. Fatores relacionados ao hospedeiro referem-se à resposta imunitária, a hábitos/condições de vida (especialmente tabagismo, vários parceiros, multiparidade) e a coinfecção com HIV ou outros agentes sexualmente transmissíveis. No colo uterino, as lesões proliferativas são de dois tipos: (1) lesões precursoras (neoplasia intraepitelial cervical); (2) carcinoma invasor. Lesões Precursoras O conhecimento das lesões precursoras do câncer cervical tem enorme importância, pois são alterações facilmente identificadas morfologicamente que podem ser diagnosticadas antes de ocorrer invasão e disseminação da neoplasia. Ao exame clínico, as lesões causadas pelo HPV podem ser planas (condiloma plano), suspeitadas à colposcopia, ou, mais raramente, espiculadas (condiloma acuminado). Tais lesões, que são duas vezes mais comuns no lábio anterior do que no posterior (seguindo a frequência da ectopia), foram denominadas por Richart, em 1967, NIC (neoplasia intraepitelial cervical), podendo ser NIC I, II e III. NIC I corresponde à displasia leve, enquanto a NIC II, à displasia moderada. Como nem sempre é possível distinguir displasia acentuada de CIS e como ambas as lesões têm comportamento semelhante, displasia acentuada e CIS são considerados em uma mesma categoria, a NIC III. Principais sistemas de classificação das lesões precursoras do carcinoma cervical: Histologicamente, as lesões precursoras apresentam distúrbios da proliferação e maturação celulares, perda da estratificação do epitélio e atipias variadas. A. Epitélio escamoso normal. B. Displasia leve (NIC I). Proliferação e atipias do epitélio no terço basal; nessa região, há perda da polaridade e da maturação das células. A metade superficial do epitélio é normal. C. Displasia moderada (NIC II). As atipias estão presentes também no terço médio do epitélio. D. Displasia acentuada (NIC III). Distúrbios acentuados de proliferação e diferenciação das células escamosas em quase toda a espessura do epitélio. Notar pleomorfismo celular, hipercromasia nuclear e figuras de mitose. E. Carcinoma in situ (NIC III). Hipercelularidade, perda da polarização e atipias celulares em toda a espessura do epitélio, estendendo-se por superfície às glândulas endocervicais. F. Padrão espectral da lesão intraepitelial escamosa numa mesma região, de displasia leve (1), moderada (2), acentuada (3) a carcinoma in situ (4). O epitélio escamoso normal, sem atipias, está mostrado na figura A. Na displasia leve (B), as alterações celulares estão presentes no terço basal do epitélio, onde se observam proliferação com atipias celularesdiscretas e alterações da polaridade das células. Na displasia moderada (C), as atipias e os distúrbios da polaridade e da diferenciação celulares são mais intensos e alcançam metade da espessura do epitélio; figuras de mitose são mais frequentes, inclusive acima da camada basal. Na displasia acentuada (D), as alterações são ainda mais evidentes, atingindo praticamente toda a espessura do epitélio; figuras de mitose, típicas e atípicas, são mais comuns. À medida que a lesão progride, intensificam-se as atipias nucleares e aumenta a relação núcleo/citoplasma. A diferenciação entre displasia acentuada e CIS (D e E) baseia-se no encontro, na primeira, de algum grau de diferenciação ainda preservada na camada mais superficial do epitélio. As lesões podem estender-se ao canal cervical e atingir o epitélio escamoso não metaplásico. Achado importante na infecção pelo HPV é a coilocitose, em que as células escamosas, além de atipias nucleares, mostram efeito citopático (halos claros perinucleares). Como se trata de lesão espectral, em um mesmo caso podem ser encontradas lesões em vários estágios evolutivos (F). No epitélio displásico, as células superficiais expressam o antígeno Ki-67 (marcador de divisão celular) e há superexpressão de p16, um inibidor de CDK (cinase dependente de ciclina); p16 é marcador de infecção pelo HPV e indicador de integração do DNA viral ao DNA celular e de expressão da proteína E7 (sinal de maior risco de progressão). Ambos os marcadores podem ser detectados pela imunohistoquímica. A maioria das alterações celulares induzidas pelo HPV é transitória: 90% delas regridem espontaneamente em 12 a 36 meses, pela renovação do epitélio e por eliminação do vírus pelo sistema imunitário. Regressão é inversamente proporcional à gravidade da lesão. O maior risco de progressão se dá nas lesões de alto grau, que é de 10%. A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) reconhece ainda uma outra entidade que antecede o carcinoma invasor, denominada carcinoma microinvasor. Trata-se também de neoplasia pré- clínica, de dimensões microscópicas, que, além dos achados histológicos de CIS, apresenta focos de invasão superficial no estroma, medindo até 5 mm de profundidade a partir da membrana basal do epitélio de superfície ou glandular e até 7 mm de extensão superficial, sem confluência de focos. O CMI tem baixo índice de metástases em linfonodos regionais e pouca tendência a recidiva. O CMI é encontrado em faixa etária semelhante à do câncer invasor e também é lesão diagnosticada à colposcopia, por exame citológico ou através de biópsia cervical. Carcinoma invasor Aspectos clínicos As displasias cervicais e o CIS não têm sintomatologia própria e são reconhecidos por exame citológico ou colposcopia. Nos casos suspeitos, é feita biópsia da lesão. No carcinoma invasor, os sintomas dependem do tamanho do tumor e do estadiamento. As lesões pequenas são assintomáticas. Nas lesões maiores e com extensão extracervical, as pacientes queixam-se de corrimento, sangramento genital e dispareunia; especialmente nos casos avançados, pode ser detectada lesão que deforma ou destrói o colo uterino. A extensão do tumor ao corpo do útero e aos paramétrios resulta em diminuição da mobilidade do órgão ou provoca aderências a estruturas vizinhas. A extensão à pelve pode causar dor ciática e, com o acometimento dos linfáticos, linfedema das extremidades. A infiltração da parede vesical pode provocar hematúria e infecção urinária. Aspectos morfológicos O carcinoma de células escamosas precoce apresenta-se como área endurecida ou pequena úlcera elevada. No carcinoma avançado, há três padrões de crescimento: (1) exofítico, caracterizado por massa polipoide, verrucosa ou papilífera que se projeta na luz vaginal; é o tipo de melhor prognóstico; (2) ulcerado, de pior prognóstico; (3) endofítico, que acomete inicialmente o canal endocervical; pode ser nodular, crescendo na luz do canal endocervical, ou ulcerado, mais agressivo, com infiltração precoce da parede uterina e extensão aos paramétrios, razão pela qual tem pior prognóstico. Nesses casos, o aspecto da ectocérvice pode até ser normal. Microscopicamente, trata-se de carcinoma de células escamosas, com aspecto morfológico que varia em função do padrão de crescimento, do tipo celular e do grau de diferenciação. As células neoplásicas formam linguetas, cordões e ninhos que infiltram o estroma. HPV está presente em praticamente todos os casos. O tumor pode ser dos tipos usual ou variantes. De acordo com a extensão da diferenciação escamosa, o CCE por ser classificado como bem, moderadamente ou pouco diferenciado. Os tumores bem diferenciados (grau 1) têm abundante produção de ceratina, com frequentes pérolas córneas. Nos tumores moderadamente diferenciados (grau 2), as células são mais pleomórficas, com menor ceratinização individual e pérolas córneas mais escassas, enquanto nos tumores pouco diferenciados (grau 3) o pleomorfismo celular é acentuado, o índice mitótico é alto e as áreas de necrose são frequentes, sendo difícil identificar ceratinização. Entre as variantes do CCE, a mais importante é o carcinoma basaloide, que é bastante agressivo e tem alto grau de malignidade; o tumor é formado por massas de células imaturas do tipo basal, que formam ninhos geralmente com necrose central. As metástases se dão preferencialmente por via linfática, sobretudo nos linfonodos pélvicos (as cadeias mais acometidas são as sacrais, ilíacas, para-aórticas e inguinais). Metástases hematogênicas em órgãos distantes são menos comuns e ocorrem nos estádios avançados da doença, afetando qualquer órgão, em especial a medula óssea, o fígado e os pulmões. Complicação importante e grave é a extensão do tumor à bexiga e ao reto, provocando distúrbios urinários e intestinais. Adenocarcinoma Aspectos morfológicos O adenocarcinoma parece originar-se das células de reserva do epitélio glandular, responsáveis pela sua renovação. A maioria das lesões surge na zona de transformação e apenas 10 a 15% delas se inicia em regiões mais altas no canal endocervical, não sendo reconhecíveis à colposcopia. As lesões precursoras endocervicais são a displasia endocervical (também conhecida como hiperplasia atípica/lesão intraepitelial glandular de baixo e alto grau) e adenocarcinoma in situ. A maioria das pacientes apresenta alterações citológicas ao exame de Papanicolaou. A utilização de critérios citológicos para o diagnóstico de adenocarcinoma in situ é algo relativamente recente. O carcinoma microinvasor representa 12% dos casos. Macroscopicamente, o tumor é geralmente exofítico, polipoide ou papilífero (50%), podendo ter também crescimento infiltrativo difuso (15%); pode haver ulceração. Em 15% dos casos, a lesão não é visível macroscopicamente, sendo diagnosticada apenas em estádio mais avançado. No adenocarcinoma do tipo endocervical (70%), o tumor é constituído por células similares às do epitélio da endocérvice, as quais formam estruturas glandulares com ramificações complexas ou papilas. A variante viloglandular acomete mulheres mais jovens e tem melhor prognóstico, já que a infiltração pode não ocorrer ou ser mínima. O adenocarcinoma endometrioide (30%) é semelhante ao adenocarcinoma do endométrio; por isso mesmo, a distinção entre adenocarcinoma endocervical e adenocarcinoma endometrial nem sempre é possível, mesmo com o exame macroscópico detalhado da peça cirúrgica. Estudo imunohistoquímico e alguns achados morfológicos, como diferenciação escamosa das células, podem ajudar no diagnóstico. REFERÊNCIA: Patologia Básica – Robbins NEOPLASIAS DO COLO DO ÚTERO A maioria dos tumores de colo do útero é de origem epitelial e é causada por cepas oncogênicas do papilomavírus humano (HPV). Durante o desenvolvimento, o epitélio colunar mucossecretor da endocérvice é unido à cobertura epitelial escamosa da ectocérvicena abertura do colo do útero. Com o início da puberdade, a junção escamocolunar sofre eversão, tornando o epitélio colunar visível na ectocérvice. As células colunares expostas, no entanto, subsequentemente sofrem metaplasia escamosa, formando uma região chamada zona de transformação. PATOGENIA O HPV, o agente causador da neoplasia cervical, tem tropismo para as células escamosas imaturas da zona de transformação. A maioria das infecções por HPV é transitória e eliminada em poucos meses por uma resposta inflamatória aguda e crônica. No entanto, um subconjunto de infecções persiste, e algumas delas progridem para neoplasia intraepitelial cervical (NIC), uma lesão precursora a partir da qual mais carcinomas invasivos do colo do útero se desenvolvem. O HPV é detectável por métodos moleculares em quase todos os casos de NIC e carcinoma cervical. Fatores de risco importantes para o desenvolvimento de NIC e carcinoma invasivo; portanto, estão diretamente relacionados com a exposição ao HPV e incluem: •Idade precoce na primeira relação sexual •Múltiplos parceiros sexuais •Parceiro masculino com múltiplos parceiros sexuais anteriores •Infecção persistente por cepas de alto risco de vírus do papiloma Embora a infecção por HPV ocorra nas células escamosas mais imaturas da camada basal, a replicação do DNA de HPV ocorre em células escamosas sobrejacentes mais diferenciadas. Células escamosas nessa fase de maturação normalmente não replicam o DNA, mas as células escamosas infectadas por HPV, sim, como consequência da expressão de duas oncoproteínas potentes codificadas no genoma do HPV, chamadas E6 e E7. As proteínas E6 e E7 ligam e inativam dois supressores tumorais críticos, o p53 e o Rb, respectivamente e, ao fazê-lo, promovem o crescimento e o aumento da suscetibilidade a mutações adicionais que podem, eventualmente, levar à carcinogênese. Os sorotipos reconhecidos de HPV podem ser classificados como tipos de alto ou baixo risco com base em sua propensão para induzir carcinogênese. A infecção de alto risco por HPV é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento de NIC e carcinoma. Duas cepas de alto risco de HPV, os tipos 16 e 18, são responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de NIC e carcinoma cervical. Em geral, infecções com sorotipos de alto risco de HPV são mais propensos a persistir, o que é um fator de risco para a progressão para o carcinoma. Esses subtipos de HPV também apresentam propensão a integrar o genoma da célula hospedeira, um evento que está ligado à progressão. Cepas de baixo risco de HPV (p. ex., dos tipos 6 e 11), por outro lado, estão associadas ao desenvolvimento de condilomas do trato genital inferior e não se integram ao genoma do hospedeiro, permanecendo como DNA viral livre epissômico. Apesar da forte associação da infecção pelo HPV com o câncer do colo do útero, o HPV não é suficiente para conduzir o processo neoplásico. Como mencionado adiante, várias lesões precursoras de alto grau de infecção por HPV não progridem para câncer invasivo. A progressão de displasias cervicais para câncer do colo do útero tem sido atribuída a diversos fatores, como estado imune e hormonal ou coinfecção com outros agentes sexualmente transmissíveis. Mais recentemente, as mutações adquiridas somaticamente no gene supressor de tumor LKB1 foram identificadas em mais de 20% dos cânceres cervicais. LKB1 foi primeiro identificado como o gene mutado na síndrome de Peutz-Jeghers, uma condição autossômica dominante, caracterizada por pólipos hamartomatosos do trato GI, e risco significativamente elevado de doenças malignas epiteliais em uma variedade de locais anatômicos, incluindo o colo do útero. O LKB1 também é frequentemente inativado no câncer de pulmão. A proteína LKB1 é uma cinase de serina-treonina que fosforila e ativa o AMPK, um sensor metabólico. O AMPK regula, por sua vez, o crescimento celular através do complexo mTOR. Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) A carcinogênese relacionada com o HPV começa com a alteração pré-cancerosa epitelial denominada NIC, que geralmente precede o desenvolvimento de um câncer evidente por muitos anos, por vezes décadas. Em consonância com essa ideia, a incidência de NIC atinge o ponto máximo por volta dos 30 anos de idade, enquanto o carcinoma invasivo atinge o ponto máximo por volta dos 45 anos de idade. A NIC normalmente começa com displasia de baixo grau (NIC I) e progride para displasia moderada (NIC II) e, então, displasia grave (NIC III) ao longo do tempo; entretanto, exceções foram relatadas, e alguns pacientes já têm NIC III quando a condição é diagnosticada pela primeira vez. De modo geral, quanto maior o grau de NIC, maior a probabilidade de progressão; é importante destacar, no entanto, que em muitos casos até mesmo lesões de alto grau não evoluem para o câncer, e podem até regredir. Como as decisões sobre o manejo do paciente são de dois níveis (ou seja, observação versus tratamento cirúrgico), esse sistema de classificação de três níveis foi recentemente simplificado para um sistema de dois níveis, com NIC I renomeado para lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LIEBG) e NIC II e NIC III combinados em uma categoria denominada lesão intraepitelial escamosa de alto grau (LIEAG). Morfologia A figura ilustra os três estágios de NIC. NIC I é caracterizado por alterações displásicas no terço inferior do epitélio escamoso e alterações coilocitóticas nas camadas superficiais do epitélio. Em NIC II, a displasia estende-se para o terço médio do epitélio e toma a forma de maturação retardada dos queratinócitos. Também está associada a alguma variação na célula e tamanho nuclear, heterogeneidade da cromatina nuclear e presença de mitoses acima da camada basal que se estende para o terço médio do epitélio. A camada superficial de células mostra alguma diferenciação e, ocasionalmente, demonstra as alterações coilocitóticas descritas. O próximo estágio, NIC III, é marcado pela perda quase completa de maturação, variação ainda maior na célula e tamanho nuclear, heterogeneidade da cromatina, orientação desordenada das células e mitoses normais ou anormais; essas alterações afetam praticamente todas as camadas do epitélio. A alteração coilocitótica geralmente está ausente. Essas características histológicas correlacionam- se com as aparências citológicas mostradas abaixo: Carcinoma Invasivo do Colo do Útero Os carcinomas do colo do útero mais comuns são os carcinomas de células escamosas (75%), seguidos por adenocarcinomas e carcinomas adenoescamosos mistos (20%) e carcinomas neuroendócrinos de pequenas células (menos de 5%). Todos esses tipos de carcinomas são causados por HPV. Curiosamente, a proporção relativa dos adenocarcinomas tem aumentado nas últimas décadas devido à diminuição da incidência de carcinoma escamoso invasivo e à detecção subótima de lesões glandulares por exame de Papanicolau. O carcinoma de células escamosas tem um pico de incidência por volta dos 45 anos, 10-15 anos após a detecção do precursor NIC. Como já foi discutido, a progressão do NIC para carcinoma invasivo é variável e imprevisível, e requer infecção por HPV, bem como mutações em genes como LKB. Os fatores de risco para progressão incluem tabagismo e infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV), sendo que este último achado sugere que a vigilância imunológica tem um papel na manutenção da verificação do NIC. Embora os fatores de risco possam ajudar a estratificar pacientes que tendem a evoluir de NIC para carcinoma, a única maneira confiável de monitorar o curso da doença é via exame físico frequente juntamente com biópsia de lesões suspeitas. Morfologia Os carcinomas invasivos do colo do útero se desenvolvem na zona de transformação e variam de focos microscópicos de invasão estromal até tumores exofíticos macroscopicamente visíveis.Os tumores que circundam o colo do útero e penetram o estroma subjacente produzem um colo do útero em barril, que pode ser identificado por meio de palpação direta. A extensão para os tecidos moles paramétricos pode afixar o útero nas estruturas pélvicas vizinhas. A probabilidade de disseminação para linfonodos pélvicos relaciona-se com a profundidade da invasão tumoral e a presença de células tumorais em espaços vasculares. O risco de metástases aumenta de menos de 1% para os tumores com menos de 3 mm de profundidade para mais de 10% quando a invasão excede 3 mm. Com exceção dos tumores incomuns que apresentam diferenciação neuroendócrina, que são uniformemente agressivos em seu comportamento, os carcinomas cervicais são classificados com base em seu grau de diferenciação escamosa. Curso Clínico O câncer do colo do útero invasivo, na maioria das vezes, é observado em mulheres que nunca passaram por um exame de Papanicolau ou que não foram examinadas por muitos anos. Nesses casos, o câncer do colo do útero é frequentemente sintomático, sendo que as pacientes procuram ajuda médica por sangramento vaginal inesperado, leucorreia, coito doloroso (dispareunia) ou disúria. O tratamento é cirúrgico por histerectomia e dissecação de linfonodo linfático; pequenos carcinomas microinvasivos podem ser tratados com biópsia em cone. A mortalidade está mais fortemente relacionada com o estágio do tumor e, no caso dos carcinomas neuroendócrinos, ao tipo celular. A maioria das pacientes com doença avançada morre como resultado da invasão local, em vez de metástases distantes. Em particular, a insuficiência renal decorrente da obstrução da bexiga urinária e ureteres é causa comum de morte. RESUMO Neoplasia do Colo do Útero • Os fatores de risco para carcinoma do colo do útero estão relacionados com exposição ao HPV, como idade precoce na primeira relação sexual, múltiplos parceiros sexuais e outros fatores, como tabagismo e imunodeficiência. • Quase todos os carcinomas do colo do útero são causados por infecções de HPV, particularmente os tipos de HPV de alto risco 16, 18, 31 e 33; a vacina de HPV é eficaz na prevenção da infecção aos tipos de HPV 16 e 18. • O HPV expressa proteínas E6 e E7 que inativam os supressores de tumor p53 e Rb, respectivamente, resultando em proliferação celular aumentada e supressão da apoptose induzida por dano ao DNA. A perda do gene LKBI também está envolvida. • Nas displasias do colo do útero de alto grau (NIC II e III), o HPV é incorporado ao genoma da célula hospedeira. • Nem todas as infecções por HPV evoluem para NIC III ou carcinoma invasivo. O tempo de curso da infecção para doença invasiva é geralmente de 10 anos ou mais. Em geral, o risco de progressão é proporcional ao grau de displasia. • O exame de Papanicolau é uma ferramenta de triagem altamente eficaz para a detecção de displasia e carcinoma do colo do útero, e reduziu significativamente a incidência de carcinoma cervical. 5. Classificação citológica Bethesda, incluindo a qualidade da amostra, a categorização e a interpretação. REFERÊNCIA: Patologia Geral - Bogliolo Anos mais tarde, surgiu o sistema de BETHESDA, proposto para incorporar os avanços do conhecimento sobre a carcinogênese cervical e para introduzir terminologia histológica uniforme, correlacionando os aspectos citológicos com os histológicos. Esse sistema, que é utilizado amplamente no mundo todo, divide as lesões em dois grupos: (a) lesões intraepiteliais cervicais de baixo grau (LSIL, low grade squamous intraepithelial lesion), que correspondem à NIC I. As alterações epiteliais indicativas de infecção pelo HPV (alterações coilocitóticas), mesmo sem displasia, são consideradas lesões de baixo grau; (b) lesões intraepiteliais cervicais de alto grau (HSIL, high grade intraepithelial lesion), que se referem às NIC II e III e ao CIS. Nos exames citológicos cervicais, existe uma outra categoria de alterações, denominada atipias celulares de significado indeterminado (ASCUS, atypical squamous cells of undetermined significance), introduzida para designar lesões limítrofes ou de classificação incerta. O diagnóstico de ASCUS pode corresponder, portanto, a alterações reacionais ou inflamatórias ou a lesões proliferativas. Em 2001, o sistema Bethesda foi modificado para incorporar outros conhecimentos adquiridos pelos novos métodos de rastreamento por testes moleculares e pelos avanços no entendimento do câncer cervical. O diagnóstico das anormalidades em células escamosas vistas em exames citológicos baseia-se em quatro categorias: (1) ASC (células escamosas atípicas), com dois subtipos: ASCUS (atipias escamosas de significado incerto, incluindo-se as anormalidades sugestivas de lesão de baixo grau) e ASC-H (atipias em células escamosas não sendo possível excluir lesão de alto grau); (2) LSIL, que corresponde à NIC I; (3) HSIL, que corresponde às NIC II e III; (4) carcinoma de células escamosas. A categoria ASCUS da classificação anterior foi modificada por causa das dificuldades na sua aplicação. REFERÊNCIA: Cecil – Medicina Clinica A classificação mais recente, o sistema de Bethesda, foi originalmente desenvolvida para uso com citologia, mas tem sido cada vez mais usada para classificação histológica; ela inclui apenas duas categorias, lesões intraepiteliais escamosas de baixo risco (NIC 1) e lesões intraepiteliais escamosas de alto risco (NIC 2 e NIC 3/CIS). REFERÊNCIA: Nomenclatura Brasileira para Laudos Citopatológicos Cervicais- INCA 1998 - Esta nomenclatura, baseada no Sistema de Bethesda de 1988 (Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos), somente, foi incorporada universalmente pelos laboratórios de citopatologia que prestam serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de 1998, com a implantação, em todo o país, do Programa Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama. 2001- Com a atualização do Sistema de Bethesda em 2001 e considerando a necessidade de incorporar as novas tecnologias e conhecimentos clínicos, morfológicos e moleculares, o INCA e a Sociedade Brasileira de Citopatologia (SBC) promoveram o “Seminário para discussão da Nomenclatura Brasileira de Laudos de Exames Citopatológicos – CITO 2001”, o qual ocorreu nos dias 22 e 23 de novembro de 2001, no Rio de Janeiro. Com o apoio da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Sociedade Brasileira Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (SBTGIC) e a Federação Brasileira da Associação de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), foi elaborada uma proposta de nomenclatura, amplamente divulgada por correio e internet, estimulando-se contribuições e sugestões. NOMENCLATURA BRASILEIRA PARA LAUDOS CITOPATOLÓGICOS CERVICAIS Desde que o Dr. George Papanicolaou tentou classificar as células que observava, acreditando serem a representação de lesões neoplásicas, ocorreram diversas modificações que incorporaram progressivamente o conhecimento adquirido sobre a história natural dessas lesões, sempre na tentativa de melhorar a correlação cito-histológica. Deve-se notar que o objetivo do teste continua o mesmo, ou seja, a intenção é identificar alterações sugestivas de uma doença e, como consequência, também indicar ações que permitam o diagnóstico de certeza. Papanicolaou criou uma nomenclatura que procurava expressar se as células observadas eram normais ou não, atribuindo-lhes uma classificação. Assim, falava-se em “Classes” - I, II, III, IV e V, em que Classe I - indicava ausência de células atípicas ou anormais; Classe II - citologia atípica, mas sem evidência de malignidade; Classe III - citologia sugestiva, mas não conclusiva, de malignidade; Classe IV - citologia fortemente sugestiva de malignidade; e Classe V - citologia conclusiva de malignidade. Se essa classificação se preocupava pouco com os aspectos histológicos das lesões que sugeriam, a partir de então, novas
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