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APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 @emilly.lorenaa APG 29 – Infecção verrucosa 1) APONTAR AS CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS, A EPIDEMIOLOGIA, OS MECANISMOS DE TRANSMISSÃO, OS FATORES DE RISCO, QUADRO CLÍNICO, O DIAGNÓSTICO E AS COMPLICAÇÕES DO HPV O papilomavírus humano (HPV) é considerado o agente da infecção viral sexualmente transmissível mais prevalente em todo o mundo. A maioria dos indivíduos sexualmente ativos (mais de 80%) se infectará em algum momento da vida. Porém, as infecções serão predominantemente assintomáticas e serão clareadas em cerca de 2 anos. Já foram identificados mais de 200 tipos de HPV, cerca de 40 infectam o trato anogenital (vulva, colo uterino, vagina, pênis, escroto, uretra e ânus) e algo em torno de 12 são efetivamente oncogênicos, ou seja, associados a tumores invasivos (câncer de colo uterino). CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS: O vírus é composto por uma cápsula dentro da qual há um DNA em dupla fita de cerca de 8 mil pares de bases, membro da família Papillomaviridae. O genoma do HPV é dividido em áreas com funções determinadas: EARLY (E): codifica proteínas não estruturais, que tem cerca de 4 mil pares de bases ou 4kb, dividida em E1, E2, E4, E5, E6 e E7; LATE (L): outra região que codifica as proteínas do capsídeo viral com 3kb, dividida em L1 e L2; LCR - LONG CONTRO REGION: região de controle que regula a replicação viral e a expressão de genes com 1 kb. Os HPVs são classificados conforme sua associação com tumores invasivos: BAIXO RISCO ONCOGÊNICO: há os tipos 6, 11, 40, 42, 43 e 44 ALTO RISCO ONCOGÊNICO: há os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 66 A infecção por um determinado tipo viral não impede a infecção por outros tipos de HPV, podendo ocorrer infecção múltipla. Os tipos que causam verrugas genitais são quase sempre diferentes daqueles que causam câncer. TRANSMISSÃO DO HPV: a infecção é transmitida por contato, e não apenas pelo coito. O uso regular de preservativo pode conseguir algo em torno de 60% de proteção, mas áreas não protegidas podem estar associadas à transmissão. Há grande possibilidade de transmissão genital sem que tenha havido a coitarca, apenas com o contato pele a pele dos genitais dos parceiros. Por razões ainda não entendidas, nem todo parceiro sexual se contamina, e a concordância de infecção por HPV entre parceiros sexuais varia de 40-60%. A transmissão pode também ser não sexual, ou seja, transmissão por fômites (raro). Pode haver passagem de HPV de mãe para o concepto , em especial em casos de lesões genitais na passagem do canal de parto, o que pode causar a papilomatose respiratória. E também tem sido sugerido transmissão vertical em uma taxa de 20%, mas a maioria dos neonatos elimina a infecção até o 1º ano de vida. O HPV é um vírus presente em todo o mundo. A maior incidência ocorre em jovens, entre mulheres especialmente, de 15-19 anos. Cerca de 90% dessas jovens eliminarão o vírus em um período médio de 2 anos. Entretanto, é no pequeno percentual de mulheres em que o vírus é persistente que há risco de associação com quadro mais preocupante de risco para lesão neoplásica invasiva. É considerado ainda um novo pico na incidência, embora menor que no primeiro, na faixa dos 50 anos de idade, talvez por conta de novos parceiros sexuais e da menor resposta imunológica. O tempo médio entre a infecção pelo HPV de alto risco e o desenvolvimento de câncer cervical é de aproximadamente 20 anos, de acordo com o tipo do vírus, sua carga viral, sua capacidade de persistência e o estado imunológico do hospedeiro. Tabagismo e deficiências imunológicas, incluindo aquelas causadas pela infecção pelo HIV, desnutrição, cânceres e drogas imunossupressoras são fatores predisponentes. QUADRO CLÍNICO O vírus tem predileção por células imaturas em divisão celular, assim, a infecção pode ocorrer em células da camada basal do epitélio escamoso, células subcilíndricas de reserva, células reparativas e, mais recentemente, foi descrito um tipo APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 @emilly.lorenaa específico de células originalmente da junção escamocolunar denominado de células juncionais. Dependendo da forma em que o vírus interaja com a célula e com o tipo celular, podem aparecer, ou não, lesões morfológicas diagnosticadas clinicamente ou por citologia ou biópsia. A infecção pode ser subclínica (não é visível a olho nu), detectável somente a partir de uso de magnificação de imagem (colpo ou peniscopia) ou aplicação de reagentes (iodo, ácido acético). As alterações são detectadas pelo exame preventivo de câncer de colo do útero. Ou, ainda, se manifestar na forma de verrugas genitais (condiloma acuminado) = lesão visível a olho nu. O condiloma acuminado é caracterizado por pápulas verrucosas de poucos milímetros a muitos centímetros (placas), de superfície áspera e cores variando do vermelho-vivo ao castanho e marrom. Costumam ser únicas ou múltiplas, achatadas ou papulosas, mas sempre papilomatosas. Por essa razão, a superfície apresenta-se fosca, aveludada ou semelhante à da couve-flor. Em geral são assintomáticas, mas podem ser pruriginosas, dolorosas, friáveis ou sangrantes. As verrugas anogenitais resultam quase exclusivamente de tipos não oncogênicos de HPV e associadas a HPV de baixo risco. No homem, as lesões ocorrem mais frequentemente no folheto interno do prepúcio, no sulco bálano-prepucial ou na glande. Podem acometer, ainda, a pele do pênis e/ou do escroto. Na mulher, costumam ser observadas na vulva, vagina e/ou cérvice. Em ambos, podem ser encontradas nas regiões inguinais ou perianais. A maioria dos casos de apresenta como infecção latente, na qual o DNA viral está incorporado aos queratinócitos sem manifestação clínica, detectáveis apenas por meio de técnicas moleculares (detecção do DNA viral), não havendo lesão morfologicamente detectável. Tendem a desaparecer espontaneamente em cerca de dois anos. RESUMINDO: As infecções são tipicamente assintomáticas. Aproximadamente 1% a 2% da população apresentam verrugas anogenitais e 2% a 5% das mulheres mostram alterações no exame preventivo de colo do útero provocadas por infecção pelo HPV. O HPV é responsável por cerca de 7% a 8% dos cânceres e está associado com virtualmente 100% dos casos de câncer de colo uterino, 93% dos cânceres de ânus, 64% dos de vagina, 50% dos de vulva, 40% dos de pênis e 60% dos cânceres de orofaringe. DIAGNÓSTICO O diagnóstico das verrugas anogenitais é tipicamente clínico. As mulheres com verrugas anogenitais requerem um exame ginecológico completo, incluindo o exame preventivo de câncer de colo do útero e, quando indicado pelas alterações citológicas, colposcopia, acompanhada ou não de biópsia. P O diagnóstico da infecção pelo HPV e das lesões por ele induzidas ganharam grande reforço nos últimos anos por conta de novas ferramentas que foram desenvolvidas, tais como a biologia molecular, a citologia em base líquida e a imunoistoquímica. TÉCNICAS DE BIOLOGIA MOLECULAR As técnicas de detecção do DNA-HPV diagnosticam a infecção, e não a lesão. É um recurso que tem um custo, por isso deve ser usado apenas em situações com evidência de benefício para a paciente. São utilizadas 2 plataformas: A captura híbrida de 2ª geração Técnica de PCR: considerada padrão-ouro, permite a genotipagem viral, embora em alguns casos apenas para os tipos 16 e 18. Sua pesquisa ainda não é recomendada na rotina, tem as indicações. Podem classificar o HPV do paciente como de alto ou baixo risco de oncogenicidade,de acordo com o genótipo encontrado. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 @emilly.lorenaa CITOPATOLOGIA O exame citopatológico é um método de estudo morfológico de alterações celulares, em esfregaços, que, no caso do epitélio escamoso, podem ser classificadas conforme o tipo de lesão causada pelo HPV, como lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL) e lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL). A infecção pode ocorrer e o exame de citologia não ter alteração ou ter alterações ditas como equívocas e denominadas de células escamosas de significado indeterminado (ASC-US), células escamosas atípicas, em que não é possível afastar lesão de alto grau (ASC-H), e células glandulares endocervicais atípicas. O material a ser estudado pode ser na forma convencional (exame de Papanicolaou) ou em base líquida, no qual são empregadas mais frequentemente duas técnicas: ThinPrep® (Hologic®) e SurePathTM (BD®). COLPOSCOPIA A colposcopia é um método de magnificação que existe habilidade do examinador para determinar, em caso de anormalidade, o sítio adequado para a realização de biopsia, se indicada. Exames realizados sob aumento de 20 ou 40 vezes e aplicação de reagentes, útil no seguimento de pacientes com tipos virais oncogênicos, detecção de lesões subclínicas ou para seguimento pós-tratamento. HISTOPATOLÓGICO O exame histopatológico é considerado o padrão-ouro no diagnóstico das lesões induzidas pelo HPV, mas não do HPV (biologia molecular = DNA viral). Indicado em casos de dúvida diagnóstica, na ausência de resposta ao tratamento ou para afastar malignidades associadas (papulose bowenoide, eritroplasia de Queyrat, doença de Bowen e carcinoma invasivo). IMUNOISTOQUÍMICA A grande ajuda desse método veio pela inclusão na rotina, para casos de dúvida, do marcador p16ink4a. Esse marcador deve ser utilizado pelo patologista para casos mimetizadores de HSIL e quando da presença de NIC2 PREVENÇÃO VACINAÇÃO A vacinação é uma opção segura e eficaz na prevenção da infecção pelo HPV e suas complicações. Existe robusta evidência do benefício individual e populacional, com demonstração de redução da ocorrência de lesões benignas e malignas. A vacina é potencialmente mais eficaz para adolescentes vacinadas(os) antes do primeiro contato sexual, induzindo a produção de anticorpos em quantidade dez vezes maior que a encontrada na infecção naturalmente adquirida em um prazo de dois anos. No Brasil, foram aprovadas três vacinas profiláticas contra o HPV, sendo elas: Cervarix® bivalente, que previne infecção pelos subtipos 16 e 18 (relacionados a 70% dos casos de câncer de colo uterino); Gardasil® tetravalente que, além desses dois subtipos de alto risco, previne também contra os subtipos 6 e 11 (responsáveis por 90% das verrugas genitais) Gardasil® 9, que contém mais 5 outros tipos de HPV (31, 33, 45, 52 e 58). Em 2014, SUS lançou campanha nacional para imunizar meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos contra o HPV. A vacina é aplicada em esquema de 2 doses (0 e 6 meses). Em pacientes HIV-positivos, transplantados ou pacientes oncológicos (homens de 9 a 26 anos e desde março de 2021, mulheres de 9 a 45 anos) a indicação é de 3 doses (0,2 e 6 meses). APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 @emilly.lorenaa INTERVENÇÕES COMPORTAMENTAIS Abstinência sexual, postergação da primeira relação sexual e redução no número de parceiros sexuais são estratégias lógicas para evitar ou minimizar a infecção por HPV genital e seus efeitos adversos. Todavia, faltam evidências obtidas em ensaios de aconselhamento sexual e modificação de práticas sexuais. O uso de preservativos é recomendado para a prevenção de ISTs em geral, mas sua eficácia, especialmente na prevenção da transmissão do HPV, é menos garantida. REFERÊNCIAS FEBRASGO. Febrasgo - Tratado de Ginecologia. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. – Brasília : Ministério da Saúde, 2022. 211 p. SALOMÃO, Reinaldo. Infectologia: Bases Clínicas e Tratamento. 2. ed. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2023.
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