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- -1 INTERAÇÃO DROGA NUTRIENTE UNIDADE 2 – FARMACODINÂMICA E INTERAÇÃO COM OS NUTRIENTES I Autoria: Valker Araujo Feitosa - Revisão técnica: Henrique Bridi - -2 Introdução Vamos começar esta unidade abordando os conceitos fundamentais relacionados à farmacodinâmica, com destaque para os mecanismos de interação entre os fármacos e as estruturas biológicas que desencadeiam os efeitos farmacológicos. Para isso, serão propostas algumas reflexões: como ocorrem as interações entre os fármacos e seus receptores biológicos? Quais os principais receptores biológicos? Quais os tipos de interações que ocorrem entre os fármacos e esses receptores? Quais os efeitos desencadeados após as interações fármaco- receptor? Para que possamos responder a essas perguntas, iniciaremos apresentando os principais receptores biológicos e, na sequência, estudaremos as interações entre fármacos e nutrientes. Ademais, serão apresentados os principais fármacos que atuam no sistema nervoso, no tratamento da inflamação e da dor, assim como no tratamento das infecções bacterianas, fúngicas e virais. Além disso, serão destacadas as interferências farmacocinéticas e farmacodinâmicas mais importantes que podem ocorrer entre os fármacos e os alimentos /nutrientes/plantas medicinais. Vamos lá? Acompanhe esta unidade com atenção e bons estudos! 2.1 Farmacodinâmica A farmacodinâmica é uma área da farmacologia que estuda os mecanismos de ação dos fármacos no organismo. O conhecimento da farmacodinâmica é fundamental para estabelecer uma terapia farmacológica adequada, com esquemas posológicos racionais e prevenir interações entre medicamentos e alimentos (SOARES, 2017). A palavra “farmacodinâmica” tem sua origem no grego (dýnamis = força); assim, seu significado está intimamente relacionado ao estudo dos mecanismos dos fármacos. De uma forma mais ampla, refere-se aos receptores farmacológicos, às interações fármaco-receptor, bem como aos mecanismos moleculares relativos a essas interações e aos efeitos farmacológicos (OLIVEIRA-JR, 2012). Do ponto de vista molecular, a farmacodinâmica analisa as alterações bioquímicas e fisiológicas que os fármacos provocam nos organismos. Tais informações respaldam as indicações terapêuticas dos medicamentos possibilitando a predição de possíveis efeitos adversos, bem como das interações fármaco-fármaco e fármaco- nutriente (SALVI; MAGNOS, 2014). Analisar as interações entre os fármacos e seus locais de ação permite conhecer as interferências causadas por eles nos sistemas biológicos. Os fármacos promovem modificações em locais, sítios ou receptores específicos localizados tanto nas células quanto no meio extracelular. As alterações celulares, na membrana plasmática, no citoplasma e no núcleo, apresentam mecanismos complexos, envolvendo uma série de reações bioquímicas e moleculares, enquanto os fármacos que não atuam diretamente nas células, em geral, apresentam mecanismos mais simples e diretos (OLIVEIRA-JR, 2012). - -3 Quanto aoponto de vista farmacodinâmico, ao se utilizar, em doses iguais, dois fármacos de mesma afinidade e com farmacocinética semelhante, aquele com maior eficácia vai se mostrar mais potente. Por outro lado, dois fármacos de , com diferentes afinidades e mesma farmacocinética, podemmesma eficácia produzir o mesmo efeito, mas o de deve ser administrado em (OLIVEIRA-JR,menor afinidade maior dose 2012). Estudaremos agora o alvo de ação dos fármacos. Acompanhe! 2.2 Alvo de ação dos fármacos Trataremos dos locais onde os fármacos interagem no organismo. Tal conhecimento é fundamental para a compreensão dos mecanismos de ação dos fármacos (SOARES, 2017). Após a administração, normalmente os fármacos são absorvidos e alcançam a corrente sanguínea, circulam pelo corpo e interagem com diversos locais-alvo. A interação com o local-alvo produz o efeito terapêutico desejado, enquanto a interação com outras células, tecidos ou órgãos pode resultar em efeitos colaterais e em reações adversas indesejáveis (OLIVEIRA-JR, 2012). Os fármacos exercem suas ações no organismo mediante interação com receptores endógenos: quanto maior a interação, maior será o efeito farmacológico ou tóxico. O conceito de receptor para farmacologia é amplo, sendo qualquer estrutura à qual um fármaco se ligue e exerça sua ação. Em geral, os receptores fisiológicos são proteínas que possuem um ou mais sítios, que, quando ativadas por uma substância endógena, produzem um efeito fisiológico. Os receptores fisiológicos, em sua maioria, também são receptores farmacológicos, por exemplo, receptores de neurotransmissores, canais iônicos, transportadores, entre outros (SOARES, 2017). Os efeitos ocasionados pelos fármacos são resultantes de suas relações com as moléculas do corpo de maneira específica. Os fármacos interagem com um determinado tipo de molécula (ou um grupo delas), considerada receptor farmacológico (OLIVEIRA-JR, 2012). Segundo Oliveira-Jr (2012), aos receptores podem-se atribuir as VOCÊ SABIA? Do ponto de vista farmacodinâmico, qual a diferença entre e ?afinidade eficácia Para que a resposta farmacológica ocorra, os fármacos devem ter boa capacidade de unir-se ao receptor (isto é, ), além de serem capazes de interagir com seu receptor, produzindoafinidade o efeito farmacológico pretendido (isto é, ). Portanto, afinidade e eficácia sãoeficácia propriedade diferentes: um fármaco pode ter pouca eficácia e grande afinidade pelo receptor ou vice-versa. VOCÊ SABIA? Você sabia que, de maneira geral, os fármacos não são capazes de criar funções no organismo, mas sim de modular as funções existentes? (OLIVEIRA-JR, 2012). - -4 receptor farmacológico (OLIVEIRA-JR, 2012). Segundo Oliveira-Jr (2012), aos receptores podem-se atribuir as seguintes características: 1 Determinam as relações quantitativas entre a dose ou concentração de um fármaco e seus efeitos (isto é a relação dose-resposta). 2 Explicam a seletividade, no que diz respeito à ação farmacológica relativa ao modo como os receptores interagem com os fármacos aos quais se ligam. 3 Modulam as ações das moléculas agonistas e antagonistas. Aprofunde-se mais com o vídeo a seguir! O mais importante para compreender as ações dos fármacos é saber que eles não irão criar um efeito no organismo, e sim modular um efeito ou uma resposta já existente, resposta essa mediada por substâncias endógenas (SOARES, 2017). As proteínas exercem funções variadas, sendo responsáveis por efeitos fisiológicos e/ou patológicos observados no organismo e, por isso, são os principais alvos de ação dos fármacos. Os principais grupos de receptores encontrados nos organismos podem ser classificados de acordo com as funções exercidas pelas proteínas, a saber: receptores, canais iônicos, transportadores, enzimas e proteínas estruturais. No subtópico a seguir, vamos abordar as proteínas receptoras. 2.2.1 Proteínas receptoras Do ponto de vista biomolecular, os receptores farmacológicos são macromoléculas, normalmente proteínas, que, quando ligados a determinados fármacos, induzem alterações no organismo. Logo, a resposta biológica de um fármaco é o resultado de suas interações com os receptores farmacológicos. Os receptores participam tanto da sinalização quanto da regulação intracelular. Assim, a combinação de um hormônio, de um neurotransmissor, de um fármaco ou de um mensageiro celular com seus respectivos receptores provoca alterações nas funções celulares (OLIVEIRA-JR, 2012). As proteínas receptoras são estruturas que, quando ativadas por uma substância agonista, desencadeiam um mecanismo intracelular, isto é, a transdução de sinal, que irá provocar um efeito farmacológico ou uma alteração fisiológica na célula (SOARES, 2017). Os receptores possuem configurações tridimensionais que permitem o encaixe dos fármacos como uma chave que se amolda a uma fechadura. Alguns fármacos interagem apenas com um receptor específico. Outros fármacos podem se comportar como ‘‘chaves-mestras”, ou seja, são capazes de ligar-se a diversos receptores VOCÊ QUER VER? Confira um vídeoilustrativo abordando o tema: Pharmacodynamics – Part 1: How Drugs Act ( ), disponível no link: on the Body Farmacodinâmica – 1: como os fármacos agem no corpo .https://www.youtube.com/watch?v=PhfhMBO-w9Q Atenção! Antes de iniciar o vídeo, lembre-se de entrar nas configurações do YouTube para ativar as legendas e configurar a tradução simultânea do inglês para o português. - -5 fármacos podem se comportar como ‘‘chaves-mestras”, ou seja, são capazes de ligar-se a diversos receptores presentes em diferentes corpos (OLIVEIRA-JR, 2012). Os sítios celulares de ação são determinados pela localização e pela capacidade funcional dos receptores com os quais os fármacos interagem, assim como pela concentração de fármaco na região do receptor. O sítio mais comum é a membrana citoplasmática, mas também existem receptores em outros locais, como no citoplasma e no núcleo celular (OLIVEIRA-JR, 2012). É importante destacar que as respostas observadas em uma célula não estão relacionadas à substância, e sim ao receptor que ela ativa ou inibe (SOARES, 2017). As primeiras observações experimentais de quantificação da resposta farmacológica demonstraram uma relação dose-dependente do fármaco. Contudo, observou-se que, quando a dose alcança um determinado pico, o efeito não pode ser aumentado mesmo com administrações ainda maiores do fármaco. Essas observações levaram à suposição da existência de sítios ou locais predeterminados no organismo com quais os fármacos são capazes de realizar uma interação, levando a um efeito diretamente proporcional ao número de sítios por eles ocupados (OLIVEIRA-JR, 2012). Os mecanismos de sinalização celular são os meios pelos quais os receptores geram sinais ou mensagens celulares. Os receptores transmembrana são proteínas integrais que possuem atividades enzimáticas intracelulares. O produto da atividade enzimática é capaz de regular as funções bioquímicas intracelulares (OLIVEIRA-JR, 2012). Nesse sentido, os receptores farmacológicos podem ser divididos em quatro grandes famílias: 1 Receptores ionotrópicos (canais iônicos ativados por ligantes). 2 Receptores metabotrópicos. VOCÊ SABIA? Como são chamados os locais onde os fármacos podem se ligar nos receptores? Os receptores podem formar subunidades proteicas; a região que se une ao ligante é conhecida como região . Em contrapartida, quando os fármacos sede reconhecimento primário ou sítio ortostérico ligam em outros locais, estes são denominados regiões de reconhecimentos secundários ou (OLIVEIRA-JR, 2012).sítios alostéricos VOCÊ QUER VER? Assista a um vídeo ilustrativo abordando o tema: Pharmacodynamics – Part 2: Dose-response ( ), disponível no link: Relationship Farmacodinâmica 2 – relação dose-resposta https://www. .youtube.com/watch?v=VzrvklX5Wmw Atenção! Antes de iniciar o vídeo, lembre-se de entrar nas configurações do YouTube para ativar as legendas e configurar a tradução simultânea do inglês para o português. - -6 2 Receptores metabotrópicos. 3 Receptores tirosinoquinase. 4 Receptores intracelulares. Nas interações fármaco-receptor, podem existir diferentes tipos de ligação covalentes e não covalentes. Praticamente, todas as interações entre fármacos e receptores são reversíveis, ou seja, após determinado período, o fármaco desacopla do receptor. Por outro lado, podem existir interações praticamente irreversíveis e o efeito do fármaco persiste até que o corpo produza novas moléculas receptoras (OLIVEIRA-JR, 2012). 2.2.2 Enzimas As enzimas são proteínas que possuem a função catalítica – aceleram a velocidade das reações nos meios biológicos e transformam substratos em produtos (SOARES, 2017). A saber, a regulação enzimática interfere significativamente nos fenômenos biológicos. Essas proteínas são alvos importantes para a ação dos fármacos, pois auxiliam no transporte de substâncias que controlam a velocidade das reações bioquímicas, além de responder por outras funções, como transporte, regulação ou estruturação. Os fármacos para elas direcionados são classificados como inibidores ou ativadores (indutores) enzimáticos (OLIVEIRA-JR, 2012). Alguns exemplos de enzimas (humanas, microbianas e virais) alvos de fármacos são: acetilcolinesterase, ciclooxigenases 1 e 2 (COX-1 e 2), monoaminoxidase (MAO), transglicosilase, diidropteroato sintase, DNA girase, 14 α demetilase, neuraminidase, polimerase, transcriptase reversa, proteases, entre outras. 2.2.3 Canais iônicos Os canais iônicos são proteínas integrais de membrana que formam um poro, isto é, uma abertura. Quando ativados, passam do seu estado fechado para aberto, possibilitando a passagem de íons entre os meios intracelular e extracelular (SOARES, 2017). Eles podem ser classificados em cinco tipos: 1 Canais iônicos de repouso. 2 Canais iônicos ativados por voltagem. 3 Canais iônicos ativados por metabólitos. 4 Canais iônicos ativados por pressão. 5 Canais iônicos ativados por ligantes ou receptores ionotrópicos. Agora, vamos conhecer os transportadores. - -7 2.2.4 Transportadores Os transportadores são proteínas integrais de membrana que possuem a função de transportar substâncias entre as faces da membrana celular (SOARES, 2017). Eles podem ser de dois tipos: Ativos Transportam substâncias contra um gradiente de concentração com gasto de energia (ATP). Passivos Transportam substâncias a favor de um gradiente de concentração; portanto, sem gasto de energia. Visto isso, vamos às proteínas estruturais. 2.2.5 Proteínas estruturais As principais proteínas estruturais, alvos de ação dos fármacos, são os microtúbulos presentes no núcleo celular. Os microtúbulos são responsáveis pela separação dos pares de cromossomos no momento da divisão celular. Alguns quimioterápicos, como vimblastina e vincristina, inibem a formação dos microtúbulos e, consequentemente, interrompem o crescimento celular (SOARES, 2017). Conheceremos a seguir a classificação dos fármacos de acordo com a interação fármaco-receptor. 2.3. Classificação dos fármacos conforme interação fármaco-receptor Diferentes mecanismos estão envolvidos nas ações dos fármacos, entre os quais os mais comuns são (SALVI; MAGNOS, 2014): atuação sobre receptores (agonista ou antagonista); alteração da atividade de sistemas enzimáticos (inibição ou indução); interferência no transporte iônico através da membrana celular. Nesse sentido, os fármacos direcionados aos receptores são classificados como agonistas ou antagonistas (OLIVEIRA-JR, 2012). Em relação à sua interação com os receptores farmacológicos, os fármacos podem ser subdivididos em cinco tipos diferentes: Agonista total. Agonista parcial. Antagonista competitivo reversível. Antagonista competitivo irreversível. Antagonista não competitivo irreversível. Os agonistas agem ativando ou estimulando seus receptores, produzindo uma resposta que pode aumentar ou diminuir a função celular (SOARES, 2017). VOCÊ SABIA? Você sabia que todas as , por exemplo os hormônios e ossubstâncias endógenas neurotransmissores, são de seus receptores?agonistas totais - -8 É importante destacar que os antagonistas não possuem ação intrínseca nas células; eles simplesmente bloqueiam o acesso aos receptores, impedindo a ligação dos agonistas endógenos ou de outros fármacos. O antagonismo pode ser competitivo ou não competitivo. O primeiro baseia-se na competição (entre o antagonista e o agonista) pela ligação ao receptor de forma reversível ou irreversível. Já o antagonismo não competitivo baseia-se na ligação do antagonista no receptor provocando alterações conformacionais que impedem a ligação do agonista (SOARES, 2017). Mais informações sobre a classificação dos fármacos, conforme sua interação com os receptores, podem ser visualizadas no quadro a seguir: Quadro 1 - Principais ligantes farmacológicos Fonte: Adaptado de SOARES, 2017. #PraCegoVer: o quadro apresenta os ligantes farmacológicos (agonista total, agonista parcial, antagonista competitivo e antagonista não competitivo) e suas respectivas características. Para encerrarmos este tópico,segue uma sugestão de leitura: Aprendemos a classificação dos fármacos e as características dos ligantes farmacológicos. No próximo tópico, estudaremos a farmacologia aplicada ao sistema nervoso. VOCÊ QUER LER? Antes de iniciarmos os estudos dos fármacos que atuam no sistema nervoso, no tratamento da inflamação da dor e no tratamento das infecções, convido você a ler o artigo de revisão: “Interação fármaco-nutriente”. Esse artigo introduzirá o assunto referente às principais interações entre os fármacos e os nutrientes. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rn ./v15n2/11839.pdf - -9 2.4 Farmacologia aplicada ao sistema nervoso O sistema nervoso pode ser divido em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP), conforme pode ser visualizado na figura “Divisão do sistema nervoso”. O SNC pode ser dividido em região encefálica e medula espinhal. O encéfalo é a área integradora do pensamento, das emoções e da memória, sendo o cérebro o principal órgão neural. A medula espinhal é a área integradora do subconsciente (reflexo) e responsável pela condução das informações para as vias nervosas (SOARES, 2017). Já o SNP é constituído pelos gânglios e por uma rede de neurônios aferentes (sistema nervoso sensorial) e eferentes (sistema nervoso motor). Por sua vez, o sistema nervoso motor pode ser subdivido em sistema nervoso autonômico (SNA) e sistema nervoso somático (SNS) (SOARES, 2017). Figura 1 - Divisão do sistema nervoso - -10 Figura 1 - Divisão do sistema nervoso Fonte: Systemoff, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: representação de um corpo humano com destaque para os componentes do sistema nervoso central (o cérebro e a medula espinhal) e os componentes do sistema nervoso periférico (os nervos e os gânglios). As ações do sistema nervoso autonômico e somático são mediadas pela liberação de substâncias transmissoras de informações: os neurotransmissores, que são substâncias químicas endógenas com a capacidade de realizar a comunicação entre neurônios e dos neurônios para as células efetoras. Cada neurotransmissor exerce suas ações por meio da ligação com receptores específicos (SOARES, 2017). Os neurônios do SNS liberam um único neurotransmissor, a acetilcolina, e são denominados neurônios colinérgicos (SOARES, 2017). O SNA comanda as funções viscerais do organismo, também chamadas funções involuntárias ou vegetativas (SALVI; MAGNUS, 2014). Os principais neurotransmissores secretados no SNA são a acetilcolina e a noradrenalina (neurônios adrenérgicos) (SOARES, 2017). O SNA pode ser subdivido em sistema parassimpático (situações de repouso) e simpático (condições adversas). Na divisão parassimpática, o principal neurotransmissor é a acetilcolina. Já na divisão simpática, estão envolvidos os neurotransmissores adrenalina, noradrenalina e dopamina (SALVI; MAGNUS, 2014). Vários fármacos atuam sobre os neurotransmissores com o objetivo de inibi-los ou estimulá-los. 2.4.1 Agonistas e antagonistas dos sistemas parassimpático e simpático Observe, a seguir, o que são os agonistas e os antagonistas dos sistemas parassimpático e simpático: • Agonistas do sistema parassimpático ou parassimpaticomiméticos Reproduzem as respostas desenvolvidas pela acetilcolina no organismo tanto por efeito sobre receptores muscarínicos e/ou nicotínicos quanto por inibição da enzima que degrada a acetilcolina, isto é, a acetilcolinesterase. Exemplos: betanecol, carbacol, fisostigmina, metacolina, neostigmina pilocarpina e piridostigmina (SALVI; MAGNUS, 2014). • Antagonistas do sistema parassimpático ou anticolinérgicos Correspondem aos fármacos capazes de bloquear a resposta produzida pela acetilcolina devido ao bloqueio dos receptores muscarínicos e/ou nicotínicos. Exemplos: atropina, diciclomina, homatropina, hioscina (escopolamina), ipratrópio, tiotrópio e curares (SALVI; MAGNUS, 2014). • Agonistas do sistema simpático ou simpaticomiméticos Fármacos cujo efeito se assemelha às respostas produzidas pela ação da adrenalina ou da noradrenalina no organismo. Exemplos: adrenalina, albuterol, dobutamina, dopamina, efedrina, fenilefrina, fenoterol, fenoxazolina, formoterol, metoxifenamina, nafazolina, noradrenalina, oximetazolina, pseudoefedrina, salbutamol, salmeterol, terbutalina, tetraidrozolina e xilometazolina, anfetaminas e derivados (anfepramona, femproporex, mazindol) (SALVI; MAGNUS, 2014). • Antagonistas do sistema simpático ou bloqueadores alfa e beta-adrenérgicos Bloqueiam as respostas promovidas pela ação da adrenalina ou da noradrenalina no organismo. Exemplos: atenolol, esmolol, labetolol, metoprolol, nodolol, prazosina, propranolol, sotalol e timolol (SALVI; MAGNUS, 2014). • • • • - -11 Agora, vamos conhecer as principais interferências farmacocinéticas de fármacos agonistas e antagonistas dos sistemas parassimpático e simpático, decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais: Quadro 2 - Interferências farmacocinéticas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos agonistas e antagonistas dos sistemas parassimpático e simpático, e suas interações farmacocinéticas decorrentes da coadministração de alimentos /nutrientes/plantas medicinais. A seguir, são descritas as principais interferências farmacodinâmicas de fármacos agonistas e antagonistas dos sistemas parassimpático e simpático, decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes e plantas medicinais: - -12 Quadro 3 - Interferências farmacodinâmicas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos agonistas e antagonistas dos sistemas parassimpático e simpático, e suas interações farmacodinâmicas decorrentes da coadministração de alimentos /nutrientes/plantas medicinais. Na sequência, vamos conhecer a ação dos fármacos no sistema nervoso central (SNC). 2.4.2 Sistema Nervoso Central (SNC) A ação dos fármacos no SNC baseia-se, principalmente, na atuação sobre os neurotransmissores neuronais que participam das sinapses, isto é, da comunicação entre os neurônios (SOARES, 2017). Cada neurotransmissor possui uma função específica. Entre os principais que participam da transmissão sináptica central, destacam-se: aminoácidos (GABA, glicina e glutamato); acetilcolina; monoaminas (dopamina, noradrenalina e serotonina); óxido nítrico; e endocanabinoides. Diferentes fármacos são empregados nos tratamentos neurocomportamentais; entretanto, um mesmo medicamento pode ser utilizado para o controle de mais de uma condição neuropsiquiátrica. Didaticamente, os fármacos que atuam no SNC podem ser classificados em: ansiolíticos, anticonvulsivantes, antipsicóticos (neurolépticos), antidepressivos e estabilizadores de humor. Conheceremos na sequência cada um deles. : fármacos sedativos usados para reduzir a ansiedade e exercer um efeito calmante, sem provocarAnsiolíticos sono. Os benzodiazepínicos (BZDs) são o grupo mais importante dos ansiolíticos proporcionando uma margem maior de segurança para o uso no tratamento da ansiedade e dos distúrbios do sono. Os benzodiazepínicos potencializam os efeitos do GABA, que é o principal neurotransmissor inibitório do SNC (SOARES, 2017). São exemplos de ansiolíticos (benzodiazepínicos): diazepam, buspirona e zolpidem. - -13 São exemplos de ansiolíticos (benzodiazepínicos): diazepam, buspirona e zolpidem. Anticonvulsivantes: a epilepsia é um termo usado para designar um grupo de condições crônicas, cuja principal manifestação é a ocorrência de convulsões. Todos os fármacos anticonvulsivantes podem afetar de forma adversa as funções psicomotoras e cognitivas (SOARES, 2017). Além do ácido valproico e da carbamazepina, os fármacos anticonvulsivantes podem ser classificados em cinco grupos químicos: • Barbitúricos Fazem parte de uma classe dos sedativos hipnóticos mais antigos. Atuam aumentando a retenção doGABA no seu receptor e também inibem o ácido glutâmico (neurotransmissor excitatório). Exemplo: fenobarbital. • Hidantoínas, oxazolidinodionas, succinimidas e acetilureias Assim como os barbitúricos, essas classes também têm em comum um anel heterocíclico no qual alterações dos grupos substituintes determinam a classe farmacológica do composto. Adicionalmente, benzodiazepínicos e sulfato de magnésio também podem ser utilizados como anticonvulsivantes (SOARES, 2017). : a doença psicótica (esquizofrenia) caracteriza-se por delírios, alucinações eAntipsicóticos (neurolépticos) distúrbios do pensamento, juntamente com isolamento, respostas emocionais desmedidas e comprometimentos cognitivos. O surgimento da psicofarmacoterapia na década de 1950, com a utilização da clorpromazina e da imipramina, revolucionou o tratamento psiquiátrico. Os antipsicóticos dividem-se em: Antipsicóticos de primeira geração ou típicos Clorpromazina, haloperidol, flufenazina, flupentixol e clopentixol. Antipsicóticos de segunda geração ou atípicos Clozapina, risperidona, sertindol, quetiapina, amissulprida, aripiprazol e zotepina. Conheça agora os principais grupos de fármacos :antidepressivos • Antidepressivos tricíclicos (ADTs) Fármacos com a presença de três anéis carbônicos, que atuam como inibidores seletivos da recaptura de monaminas. Exemplos: imipramina, clomipramina, amitriptilina, desipramina e nortriptilina. • Antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina Fármacos que agem como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (5-HT). Exemplos: citalopram, escitalopram e fluoxetina. • Inibidores da monoaminoxidadase (IMAO) Fármacos que causam inibição irreversível da enzima monoaminoxidase (MAO), responsável pela degradação das monoaminas. Exemplos: fenelzina, selegilina, tranilcipromina. • Atípicos Exemplos: maprotilina, bupropiona, trazodona. • • • • • • - -14 Exemplos: maprotilina, bupropiona, trazodona. Estabilizadores de humor: o transtorno do humor bipolar (THB) é um distúrbio psiquiátrico maníaco- depressivo grave e flutuante. Entre os estabilizadores do humor clássicos, o lítio apresenta a maior eficácia no tratamento de episódios depressivos leves e moderados em portadores de transtorno bipolar. Fármacos alternativos, como carbamazepina e ácido valproico, também podem ser utilizados. Em casos graves, utilizam-se outros antidepressivos e antipsicóticos (SOARES, 2017). A seguir, são descritas as principais interferências farmacocinéticas de fármacos que atuam no SNC, decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes e plantas medicinais: - -15 Quadro 4 - Interações farmacocinéticas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos que atuam no sistema nervoso central (SNC) e suas - -16 #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos que atuam no sistema nervoso central (SNC) e suas interações farmacocinéticas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais. Agora, vamos conhecer as principais interferências farmacodinâmicas de fármacos que atuam no SNC, decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes e plantas medicinais: Quadro 5 - Interações farmacodinâmicas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos que atuam no sistema nervoso central (SNC) e suas interações farmacodinâmicas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais. Prosseguimos conhecendo a farmacologia da dor e da inflamação. 2.5 Farmacologia da dor e da inflamação A inflamação é uma resposta desencadeada por diversos fatores, estando entre eles: infecção, toxinas e lesão celular. A inflamação aguda é de curta duração e está associada a uma resposta imune inata, como primeira defesa do organismo. Se o agente causador da inflamação não for eliminado, o quadro poderá evoluir para uma inflamação crônica, podendo durar de meses até anos (SALVI; MAGNUS; 2014). No processo inflamatório, ocorre vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e maior fluxo sanguíneo no local. A resposta inflamatória é caracterizada pelos sinais clássicos de calor, rubor (vermelhidão), tumor (inchaço, edema), dor e possível perda de função tecidual (SALVI; MAGNUS; 2014). Conheceremos agora os principais analgésicos e suas características. - -17 2.5.1 Analgésicos Sendo a dor um sintoma, a necessidade de trazer um alívio e uma melhor qualidade de vida ao paciente leva ao tratamento dessa condição. Nesse sentido, os analgésicos são fármacos utilizados para aliviar ou suprimir a dor. São classificados conforme sua estrutura química, o tipo de dor que tratam e efeitos que podem trazer ao organismo (PIVELLO, 2014). : os principais analgésicos utilizados na prática clínica são o ácido acetilsalicílico (AAS), aPrincipais analgésicos dipirona e o paracetamol. No quadro “Principais analgésicos”, é possível encontrar as principais características desses fármacos. Quadro 6 - Mecanismos de ação, características, usos e efeitos adversos dos analgésicos: ácido acetilsalicílico, dipirona e paracetamol Fonte: Adaptado de PIVELLO, 2014 (p. 39). #PraCegoVer: o quadro apresenta um resumo dos mecanismos de ação, características, usos e efeitos adversos dos principais analgésicos: ácido acetilsalicílico (analgésico, anti-inflamatório e antitérmico), dipirona e paracetamol (ambos analgésicos e antitérmicos). Esses fármacos agem inibindo a síntese de prostaglandinas. Analgésicos narcóticos (opiáceos ou hipnoanalgésicos): derivados naturais e sintéticos do ópio (mistura de alcaloides extraídos de uma espécie de papoula, a ). Esses fármacos são os analgésicos maisPapaver somniferum potentes e reservados para dores severas, como as de pacientes terminais, oncológicas, pós-operatórias e de queimaduras. O fármaco mais conhecido desse grupo é a morfina, além da buprenorfina, oxicodona, metadona, fentanila, codeína e tramadol (PIVELLO, 2014). Analgésicos miorrelaxantes: são os relaxantes musculares, utilizados contra dores espasmódicas, isto é, dores por contrações musculares involuntárias. Exemplos: carisoprodol, baclofeno, ciclobenzaprina, orfenadrina, tiocolchicósido, tozanidina. Antiespasmódicos: fármacos anticolinérgicos, ou seja, com efeito contrário à acetilcolina. Utilizados para cólica do trato gastrointestinal, das vias biliares e urinárias e do aparelho genital feminino. Exemplos: atropina, escopolamina, homatropina, hiosciamina e dicicloverina. - -18 2.5.2 Anti-inflamatórios Os principais fármacos para tratamento direto da inflamação são os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e anti-inflamatórios esteroides (AIEs): : fármacos analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios. AINEs A enzima ciclooxigenase-2 (COX-2) é responsável pela produção das prostaglandinas, substâncias que participam dos processos inflamatórios, termorreguladores e dolorosos. Os analgésicos, antipiréticos e anti- inflamatórios não esteroides (AINEs) possuem a capacidade de inibir, seletivamente ou não, a COX-2, diminuindo, assim, a formação de prostaglandinas, controlando os processos dolorosos, febris e inflamatórios (SOARES, 2017). Principais representantes: aceclofenaco, ácido acetilsalicílico, cetoprofeno, diclofenaco, dipirona, fenilbutazona, flurbiprofeno, ibuprofeno, indometacina, meloxicam, naproxeno, oxifenilbutazona, paracetamol, piroxicam, tenoxicam (MAGNUS; SALVI, 2014). : fármacos glicocorticoides/corticosteroides, que agem inibindo a transcrição de genes essenciais para aAIEs ativação/diferenciação/proliferação de leucócitos envolvidos nos processos inflamatórios. São indicados como anti-inflamatórios e imunossupressores principalmente em situações de doenças inflamatórias crônicas, distúrbios alérgicos, doenças autoimunes e rejeição de transplantes de órgãos (SOARES, 2017). Principais representantes: beclometasonabetametasona, budesonida, deflazacort, dexametasona, flunisolida, hidrocortisona, metilprednisolona, prednisona (SALVI; MAGNUS; 2014). A seguir, são descritas as principais interferências farmacocinéticas de fármacos analgésicos, antitérmicos e anti- inflamatórios, decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes e plantas medicinais: Quadro 7 - Interações farmacocinéticas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas - -19 Quadro 7 - Interações farmacocinéticas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos que atuam na dor e na inflamação, e suas interações farmacocinéticas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais. Agora, conheça as principais interferências farmacodinâmicas de fármacos analgésicos, antitérmicos e anti- inflamatórios, decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes e plantas medicinais: Quadro 8 - Interações farmacodinâmicas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos que atuam na dor e na inflamação, e suas interações farmacodinâmicas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes/plantas medicinais. Na sequência, vamos conhecer a farmacologia da infecção e a interação fármaco-nutriente. - -20 2.6 Farmacologia da infecção e interação fármaco- nutriente Os antibióticos são fármacos destinados ao tratamento das infecções causadas por microrganismos patogênicos, entre os quais se destacam os antibacterianos e os antifúngicos. Adicionalmente, também serão estudados os antivirais, fármacos utilizados contra as infecções por vírus. 2.6.1. Antibacterianos Didaticamente, os antibacterianos podem ser classificados de acordo com o local de ação nas bactérias. Antibacterianos que atuam na inibição da síntese da parede bacteriana são fármacos que atuam alterando a síntese da parece celular bacteriana, induzindo erros estruturais na parede durante o processo de replicação bacteriana. Esses fármacos têm grande seletividade, ou seja, atuam especificamente na replicação das bactérias, pois as células de mamíferos são desprovidas de parede celular (SOARES, 2017). Os antibacterianos que atuam na parede celular podem ser classificados em: : por exemplo, ceftriaxonas, penicilina G e V, amoxicilina, ampicilina, flucloxacilina, oxacilina,Beta-lactâmicos cloxacilina, dicloxacilina, nafcilina, ticarcilina, piperacilina e cefalosporinas (entre os quais, existem quatro gerações). Quadro 9 - Cefalosporinas de primeira, segunda, terceira e quarta gerações Fonte: Adaptado de SOARES, 2017 (p. 578). #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação dos antibacterianos da classe das cefalosporinas de acordo com a geração: primeira, segunda, terceira e quarta. Carbapenêmicos: apresentam anéis β-lactâmicos e atuam inibindo a síntese da parede bacteriana, - -21 Carbapenêmicos: apresentam anéis β-lactâmicos e atuam inibindo a síntese da parede bacteriana, desenvolvidas para tratamento de infecções causadas por bactérias Gram-negativas resistentes à penicilina. Grupo constituído por três fármacos: imipenem/cilastatina, meropenem e ertapenem. : fármaco monobactâmico; apresenta apenas um anel β-lactâmico monocíclico.Aztreonam : antibiótico glicopeptídico tricíclico; apresenta atividade apenas em bactérias Gram-positivas,Vancomicina inibindo a enzima transglicosilase e impedindo a ligação cruzada, o que enfraquece a estrutura de peptideoglicanos. Outros antibacterianos que atuam na inibição da síntese da parede celular são: teicoplanina, fosfomicina e bacitracina (SOARES, 2017). A seguir, aprenderemos sobre os antibacterianos que atuam na inibição da síntese proteica bacteriana. 2.6.2. Antibacterianos que atuam na inibição da síntese proteica bacteriana São fármacos que atuam sobre as subunidades ribossomais das bactérias, alterando a síntese de proteínas e, consequentemente, causando uma deficiência proteica bacteriana, que compromete as funções celulares e a replicação (SOARES, 2017). Os antibacterianos que interferem na síntese proteica podem ser classificados em: Aminoglicosídeos Frequentemente utilizados em infecções por bactérias entéricas Gram-negativas. Exemplos: estreptomicina, neomicina, canamicica, amicacina, gentamicina, tobromacina, netilmicina, paromomicina, entre outros. Tetracíclicos Antimicrobianos bacteriostáticos de amplo espectro que se ligam à unidade 30s do ribossomo bacteriano, inibindo a síntese dos peptídeos. Exemplos: tetraciclina, demeclociclina, doxiciclina e minociclina. Macrolídeos Utilizados em pacientes com hipersensibilidade às penicilinas. Ligam-se reversivelmente à subunidade ribossômica 50s inibindo o processo de transpeptidação e translocação, liberando peptídeos imaturos. Exemplos: eritromicina, azitromicina, claritromicina e diritromicina. Outros antibacterianos que atuam na síntese proteica são: cloranfenicol, clindamicina, linezolida, quinupristina /dalfopristina (SOARES, 2017). VOCÊ O CONHECE? Alexander Fleming foi um pesquisador britânico que viveu entre 1881 e 1955. Em 1928, ele descobriu o primeiro antibiótico, batizado de penicilina, pois foi obtida a partir do fungo , que inibia o crescimento da bactéria . Entretanto, aPenicillium notatum Staphylococcus aureus penicilina só foi realmente isolada em 1938, pelos pesquisadores Ernst Chain e Howard Florey. Em 1940, esse produto foi utilizado pela primeira vez em um paciente humano, um policial britânico, vítima de uma grave infecção sanguínea. Em 1945, Alexander Fleming, Howard Florey e Ernst Chain dividiram o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina. Fonte: . Disponível em: Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial https://www. .scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442009000500001 - -22 Além dos antibacterianos que atuam na inibição da síntese proteica bacteriana, temos os que atuam nos ácidos nucleicos bacterianos. Veja na sequência. 2.6.3. Antibacterianos que atuam nos ácidos nucleicos bacterianos São fármacos que atuam nos ácidos nucleicos e seus precursores, induzindo a erros no material genético e inibindo, portanto, a replicação das bactérias. Esses fármacos podem apresentar características bactericidas (induzem à morte) e também bacteriostáticas (inibem o crescimento). Os antibacterianos que atuam nos ácidos nucleicos podem ser classificados em: Sulfonamidas Antimicrobianos bacteriostáticos de amplo espectro. Esses fármacos inibem a ação da enzima diidropteroato sintase, importante para a síntese das purinas, ácidos nucleicos e do ácido fólico. Exemplos: sulfadiazina e sulfametoxazol-trimetroprima. Quinolonas/fluoroquinolonas Apresentam atividade bactericida de amplo espectro por inibir a enzima DNA girase, importante para a replicação e a transcrição do DNA bacteriano. Exemplos: ciprofloxacina, levofloxacina, norfloxacina e ofloxacina. Outros antibacterianos que atuam nos ácidos nucleicos são: nitrofurantoína, metronidazol, rifampicina, dapsona, clofazimina (SOARES, 2017). A seguir, são descritas as principais interferências de alimentos/nutrientes na absorção de antimicrobianos: VOCÊ SABIA? Nos pacientes que ingerem o antibiótico macrolídeo azitromicina juntamente com as refeições, em geral ocorre redução do efeito terapêutico. Nesse caso, a redução da biodisponibilidade ocorre em consequência do aumento do tempo de permanência do fármaco no estômago, prejudicando a sua absorção. Para os fármacos sensíveis à acidez e/ou às enzimas gástricas, esse maior tempo de permanência pode resultar em inativação; caso da azitromicina, que é sensível ao pH ácido. A recomendação é que a azitromicina, assim como outros fármacos sensíveis às condições estomacais, sejam administrados uma hora antes ou duas horas após as refeições. Para consultar outras recomendações sobre interações de antimicrobianos e alimentos, leia o artigo de revisão:“Principais interações fármaco-nutriente envolvendo antimicrobianos e antiparasitários”. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/biociencia/article ./view/7573 - -23 Quadro 10 - Interferências de alimentos e nutrientes na absorção de antimicrobianos das classes das tetraciclinas, penicilinas, cefalosporinas, macrolídeos e fluoroquinolonas Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de antibióticos e suas interações farmacocinéticas decorrentes da coadministração de alimentos/nutrientes. Vamos conhecer, agora, os antifúngicos. 2.7 Antifúngicos O desenvolvimento de fármacos antifúngicos é difícil, pois os fungos filamentos e leveduras são microrganismos eucariontes, com maior proximidade evolutiva às células humanas (SOARES, 2017). O mecanismo básico dos antifúngicos consiste na alteração da estrutura ou do funcionamento das células fúngicas, resultando na modificação da permeabilidade da membrana celular, na inibição da síntese de DNA e RNA, e em alterações enzimáticas (SALVI; MAGNUS, 2014). Os principais antifúngicos sistêmicos e tópicos estão relacionados no quadro a seguir: - -24 Quadro 11 - Relação dos principais antifúngicos de uso sistêmico e tópico Fonte: Adaptado de SOARES, 2017 (p. 613). #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de antifúngicos de uso sistêmico e antifúngicos de uso tópico. Os antifúngicos podem ser classificados em dois grandes grupos: Naturais Incluem os polienos (Exemplos: anfotericina B e griseofulvina) e as equinocandinas. Sintéticos Incluem os azois e as pirimidinas fluoradas. A anfotericina B é um macrolídeo polieno que atua sobre o ergosterol (um lipídeo presente nas membranas das células fúngicas poros que interferem na permeabilidade e no transporte celular, levando à morte. Já os), e forma compostos azólicos (Exemplos: itraconazol, cetoconazol e voriconazol) inibem a enzima 14-α demetilase (do citocromo P-450). Essa enzima é necessária para a síntese do ergosterol; logo, sua inibição também induz a alterações na membrana fúngica e morte (SOARES, 2017).à A seguir, são descritas as principais interferências de alimentos/nutrientes na absorção de antifúngicos: Quadro 12 - Interferências de alimentos e nutrientes na absorção dos antifúngicos Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. - -25 Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos antifúngicos que sofrem interferências de nutrientes. Por fim, vamos conhecer os antivirais. 2.8 Antivirais Os antivirais são fármacos que, em geral, apresentam mecanismos de ação que evitam a penetração do vírus nas células hospedeiras, inibem sua replicação/desenvolvimento intracelular ou bloqueiam sua saída das células, reduzindo, portanto, a carga viral circulante no organismo e controlando a transmissão para novos indivíduos (MAGNUS; SALVI, 2014). Grande parte dos fármacos para o tratamento das infecções virais possui como principal mecanismo de ação a inibição da reprodução viral. As principais classes de antivirais, com os mecanismos e seus respectivos representantes, estão relacionadas no quadro a seguir: Quadro 13 - Principais classes de fármacos antivirais, com mecanismos de ação e exemplos Fonte: Adaptado de SOARES, 2017 (p. 649). #PraCegoVer: relação das principais classes de fármacos antivirais com destaque para aqueles que acarretam inibição da fixação, penetração e estágios iniciais da replicação viral; que atuam interferindo na replicação do DNA/RNA viral; e os fármacos antirretrovirais. A seguir, são descritas as principais interferências de alimentos/nutrientes na absorção de antivirais: - -26 Quadro 14 - Interferências de alimentos e nutrientes na absorção dos antivirais Fonte: Adaptado de SALVI; MAGNUS, 2014. #PraCegoVer: o quadro apresenta uma relação de fármacos antivirais que sofrem interferências de nutrientes. Alimentos, em geral, reduzem a biodisponibilidade de zalcitabina e indinavir); no entanto, aumentam a biodisponibilidade de gamciclovir, didanosina e saquinavir. Para revisar o conteúdo desta unidade, convido você a fazer a seguinte leitura: Compreendemos, portanto, que os antivirais são fármacos que reduzem a carga viral e controlam a transmissão do vírus. Conhecemos as principais classes de antivirais e as interferências de alimentos/nutrientes em sua absorção. Conclusão A viagem dos fármacos pelo corpo e suas interações com os alimentos e os nutrientes continua. Estudar os mecanismos envolvidos na etapa farmacodinâmica dos medicamentos é fundamental para entender, essencialmente, o mecanismo de ação de cada fármaco. O estudo dos receptores farmacológicos, das interações fármacos-receptores, bem como os mecanismos moleculares relativos a essas interações, leva-nos a compreender os efeitos farmacológicos desencadeados pelos medicamentos. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • Conhecer os principais fármacos que atuam no sistema nervoso e suas interações com alimentos, nutrientes e plantas medicinais. • Conhecer os principais fármacos utilizados para tratamento da inflamação e da dor, e suas interações com alimentos, nutrientes e plantas medicinais. • Conhecer os principais fármacos que atuam sobre as bactérias, os fungos e os vírus, e suas interações com alimentos e nutrientes. VOCÊ QUER LER? Confira o artigo de revisão “Fármacos e alimentos: interações e influências na terapêutica”. Esse artigo traz várias tabelas ilustrativas com as principais interações entre os alimentos e fármacos de diferentes classes terapêuticas. Disponível no link: http://revistas.cff.org.br ./infarma/article/view/632 • • • - -27 Bibliografia ALEXANDER Fleming e a descoberta da penicilina. ,Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial Rio de Janeiro, v. 45, n. 5, out. 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1676-24442009000500001. Acesso em: 5 set. 2020. DANTAS, N. M. F.; ANDRADE JR, F. P. de; SANTOS, A. K. C. dos; MENEZES, M. E. S. da. Principais interações fármaco-nutriente envolvendo antimicrobianos e antiparasitários. ,Revista de Biotecnologia & Ciência Ipameri, v. 7, n. 1, p. 24-33, 2018. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/biociencia/article/view /7573. Acesso em: 5 set. 2020. LOMBARDO, M.; ESERIAN, J. K. Fármacos e alimentos: interações e influências na terapêutica, ,Revista Infarma Brasília, v. 26, n. 3, p. 188-192, 2014. Disponível em: . Acessohttp://revistas.cff.org.br/infarma/article/view/632 em: 5 set. 2020. MOURA, M. R. L.; REYES, F. G. R. Interação fármaco-nutriente, , Campinas, v. 15, n. 2, p. 223-Revista de Nutrição 238, maio/ago. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rn/v15n2/11839.pdf. Acesso em: 5 set. 2020. OLIVEIRA-JR, I. S. : em ciências biológicas e da saúde. 2. ed. São Paulo:Princípios da farmacologia básica Rideel, 2012. PHARMACODYNAMICS – Part 1: How Drugs Act on the Body. [ .], 2019. 1 vídeo (ca. 5 min). PublicadoS. l.: s. n pelo canal Amboss: Medical Knowledge Distilled. Disponível em: .https://www.youtube.com/watch?v=PhfhMBO-w9Q Acesso em: 5 set. 2020. PHARMACODYNAMICS – Part 2: Dose-response Relationship. [ : ], 2019. 1 vídeo (ca. 6 min). PublicadoS. l. s. n. pelo canal Amboss: Medical Knowledge Distilled. Disponível em: https://www.youtube.com/watch? v=VzrvklX5Wmw. Acesso em: 5 set. 2020. PIVELLO, V. L. : como agem os medicamentos. São Paulo: Atheneu, 2014.Farmacologia SALVI, R. M.; MAGNUS, K. : limitação à terapêutica racional. Desafios atuais daInteração fármaco-nutriente farmacovigilância. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2014. .E-book SOARES, V. H. P. . São Caetano do Sul: Difusão, 2017. .Farmacologia humana básica E-book https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442009000500001 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442009000500001 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-24442009000500001 https://www.revista.ueg.br/index.php/biociencia/article/view/7573 https://www.revista.ueg.br/index.php/biociencia/article/view/7573https://www.revista.ueg.br/index.php/biociencia/article/view/7573 http://revistas.cff.org.br/infarma/article/view/632 https://www.scielo.br/pdf/rn/v15n2/11839.pdf https://www.scielo.br/pdf/rn/v15n2/11839.pdf https://www.youtube.com/watch?v=PhfhMBO-w9Q https://www.youtube.com/watch?v=VzrvklX5Wmw https://www.youtube.com/watch?v=VzrvklX5Wmw https://www.youtube.com/watch?v=VzrvklX5Wmw Introdução 2.1 Farmacodinâmica 2.2 Alvo de ação dos fármacos 2.2.1 Proteínas receptoras 2.2.2 Enzimas 2.2.3 Canais iônicos 2.2.4 Transportadores 2.2.5 Proteínas estruturais 2.3. Classificação dos fármacos conforme interação fármaco-receptor 2.4 Farmacologia aplicada ao sistema nervoso 2.4.1 Agonistas e antagonistas dos sistemas parassimpático e simpático Agonistas do sistema parassimpático ou parassimpaticomiméticos Antagonistas do sistema parassimpático ou anticolinérgicos Agonistas do sistema simpático ou simpaticomiméticos Antagonistas do sistema simpático ou bloqueadores alfa e beta-adrenérgicos 2.4.2 Sistema Nervoso Central (SNC) Barbitúricos Hidantoínas, oxazolidinodionas, succinimidas e acetilureias Antidepressivos tricíclicos (ADTs) Antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina Inibidores da monoaminoxidadase (IMAO) Atípicos 2.5 Farmacologia da dor e da inflamação 2.5.1 Analgésicos 2.5.2 Anti-inflamatórios 2.6 Farmacologia da infecção e interação fármaco-nutriente 2.6.1. Antibacterianos 2.6.2. Antibacterianos que atuam na inibição da síntese proteica bacteriana 2.6.3. Antibacterianos que atuam nos ácidos nucleicos bacterianos 2.7 Antifúngicos 2.8 Antivirais Conclusão Bibliografia
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