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Indaial – 2021 Arte tridimensionAl Prof.a Brigitte Grossmann Cairus 2a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.a Brigitte Grossmann Cairus Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C136a Cairus, Brigitte Grossmann Arte tridimensional. / Brigitte Grossmann Cairus. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 265 p.; il. ISBN 978-65-5663-406-7 ISBN Digital 978-65-5663-407-4 1. Arte - Estudo e ensino. - Brasil. 2. Arte na educação. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 707 ApresentAção Caro acadêmico! Por que será que a escultura continua a exercer tamanho fascínio através de sua presença tridimensional? Como e por que a arte tridimensional sempre existiu ao longo da história da humanidade e quais foram as principais transformações ocorridas a partir da modernidade em termos estéticos, conceituais e de material? Ao longo desta disciplina, compreenderemos acerca da natureza da tridimensionalidade, da vivacidade de sua presença física e, muitas vezes (mas não somente), táctil. Na primeira unidade deste livro, você irá se familiarizar com a natureza da tridimensionalidade, seu universo estético, suas especificidades em forma, imaginação e simbolismo, além da relação com as outras artes. Conhecerá também a dinâmica histórica, plástica e técnica da cerâmica como elemento tridimensional e a nova estética da cerâmica moderna e contemporânea. Na segunda unidade, você conhecerá as origens e o desenvolvimento da produção tridimensional durante o século XX e compreenderá as novas concepções de espaço e de estrutura. Irá também, a partir da modernidade, inteirar-se acerca dos principais artistas, movimentos e características da arte tridimensional brasileira e internacional. Por fim, na terceira unidade, você conhecerá as várias possibilidades temáticas e de materiais, usados nas obras tridimensionais contemporâneas pequenas ou monumentais, e estabelecerá as suas devidas relações históricas, teóricas e estéticas. Desta forma, você irá treinar e realizar instigantes leituras de obras tridimensionais a partir de seus elementos históricos, formais e simbólicos. Bons estudos e ótimas descobertas! Prof.a Brigitte Grossmann Cairus Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE ............................................................1 TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR ....................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 ELEMENTOS DO DESIGN ESCULTURAL ................................................................................... 6 2.1 ELEMENTOS DO DESIGN ........................................................................................................... 7 2.2 PRINCÍPIOS DO DESIGN ........................................................................................................... 12 3 RELAÇÃO DA ESCULTURA COM AS OUTRAS ARTES ........................................................ 17 4 OS MATERIAIS ................................................................................................................................. 19 4.1 PEDRA ............................................................................................................................................ 19 4.2 MADEIRA ...................................................................................................................................... 22 4.3 METAL ........................................................................................................................................... 24 4.4 ARGILA .......................................................................................................................................... 26 4.5 MARFIM......................................................................................................................................... 28 4.6 GESSO ............................................................................................................................................. 29 4.7 CIMENTO ...................................................................................................................................... 30 4.8 FIBRA DE VIDRO ......................................................................................................................... 31 4.9 PAPEL-MÂCHÉ ............................................................................................................................ 32 4.10 MATERIAIS ALTERNATIVOS.................................................................................................. 33 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 34 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 35 TÓPICO 2 — ESCULTURA: FORMA, IMAGINAÇÃO E SIMBOLISMO ............................... 37 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 37 2 A ARTE TRIDIMENSIONAL ......................................................................................................... 37 3 O RELEVO ........................................................................................................................................... 40 4 A ESCULTURA REPRESENTACIONAL ...................................................................................... 43 4.1 A FIGURA HUMANA ................................................................................................................. 43 4.2 IMAGENS DEVOCIONAIS E ESCULTURANARRATIVA ................................................... 44 4.3 BUSTO ............................................................................................................................................ 46 4.3.1 Cenas do cotidiano .............................................................................................................. 47 4.4 ANIMAIS ....................................................................................................................................... 48 4.5 FANTASIA ..................................................................................................................................... 49 5 ESCULTURAS NÃO REPRESENTACIONAIS............................................................................ 51 6 ESCULTURA DECORATIVA .......................................................................................................... 52 7 SIMBOLISMO .................................................................................................................................... 53 8 USOS DA ESCULTURA ................................................................................................................... 56 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 59 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 60 TÓPICO 3 — A CERÂMICA COMO ELEMENTO TRIDIMENSIONAL ................................. 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 63 2 MATERIAIS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DA CERÂMICA ............................................. 64 2.1 A PINTURA SOBRE A PORCELANA ...................................................................................... 67 2.2 SLIPWARE ..................................................................................................................................... 68 2.3 TERRA SIGILLATA ...................................................................................................................... 69 3 CERÂMICA MODERNA ................................................................................................................ 70 3.1 O ARTISTA CERAMISTA ............................................................................................................ 70 4 CERÂMICA CONTEMPORÂNEA ................................................................................................ 76 5 MUSEUS E COLEÇÕES CERÂMICAS ........................................................................................ 81 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 83 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 87 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 88 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 89 UNIDADE 2 — PRODUÇÃO TRIDIMENSIONAL MODERNA E CONTEMPORÂNEA ... 91 TÓPICO 1 — ARTE TRIDIMENSIONAL MODERNA ................................................................ 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 93 2 ARTE TRIDIMENSIONAL OCIDENTAL MODERNA............................................................. 94 2.1 SÉCULO XX ................................................................................................................................... 97 2.2 ESCULTURA DE VANGUARDA (1909-1920) .......................................................................... 98 2.3 CONSTRUTIVISMO E DADAÍSMO ....................................................................................... 103 2.4 A REAÇÃO CONSERVADORA DA DÉCADA DE 1920 ...................................................... 105 2.5 O SURREALISMO (1920-45) ..................................................................................................... 107 2.6 APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ............................................................................ 109 2.7 A FIGURA HUMANA DESDE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL................................. 115 2.8 ARCAÍSMO, CRIAÇÃO DE ÍDOLOS E ESCULTURA RELIGIOSA .................................. 120 3 ESPAÇO E ESTRUTURA NA ARTE TRIDIMENSIONAL .................................................... 122 3.1 O ESPAÇO.................................................................................................................................... 123 3.2 A ESTRUTURA ........................................................................................................................... 127 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 134 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 135 TÓPICO 2 — ARTE TRIDIMENSIONAL BRASILEIRA............................................................ 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 137 2 A ESCULTURA BRASILEIRA ....................................................................................................... 138 2.1 VICTOR BRECHERET .............................................................................................................. 138 2.2 ERNESTO DE FIORI ................................................................................................................... 140 2.3 ALFREDO CESCHIATTI ........................................................................................................... 142 2.4 MARIA MARTINS ...................................................................................................................... 143 3 O MOVIMENTO CONCRETISTA NO BRASIL ....................................................................... 145 3.1 AMÍLCAR DE CASTRO ........................................................................................................... 146 3.2 FRANZ WEISSMANN .............................................................................................................. 148 3.3 LYGIA CLARK ............................................................................................................................ 149 3.4 HÉLIO OITICICA ...................................................................................................................... 151 4 A FORÇA DA NATUREZA E DA ESPIRITUALIDADE .......................................................... 153 4.1 FRANS KRAJCBERG ................................................................................................................. 153 4.2 RUBEM VALENTIM .................................................................................................................. 155 4.3 MESTRE DIDI (DEOSCÓREDES M. DOS SANTOS) ............................................................ 157 4.4 FRANCISCO BRENNAND ....................................................................................................... 159 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 162 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 163 TÓPICO 3 — EXPRESSÕES TRIDIMENSIONAIS DA ARTE CONTEMPORÂNEA ......... 165 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................165 2 A ESTÉTICA DO TRIDIMENSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE ............................ 167 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 175 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 181 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 182 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 183 UNIDADE 3 — DIFERENTES PROPOSTAS PARA O TRIDIMENSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE ................................................................................. 185 TÓPICO 1 — A DINÂMICA TEMÁTICA E DE MATERIAL .................................................... 187 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 187 2 ESCULTURA MACIA: MODERNIDADE, MINIMALISMO E CORPO ............................. 189 2.1 PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX .............................................................................. 192 2.2 AS DÉCADAS DE 1960 E 1970 .................................................................................................. 195 2.3 AS DÉCADAS DE 1980 E 1990 .................................................................................................. 203 2.4 NA VIRADA DO SÉCULO ....................................................................................................... 207 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 210 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 211 TÓPICO 2 — QUESTÕES MONUMENTAIS EM CERÂMICA ................................................ 213 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 213 2 MONUMENTOS E A MEMÓRIA COLETIVA .......................................................................... 215 3 O ESTILO MONUMENTAL CERÂMICO .................................................................................. 218 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 230 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 231 TÓPICO 3 — OLHAR O TRIDIMENSIONAL ............................................................................. 233 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 233 2 GEOFFREY FARMER, EXPOSIÇÃO EU EM MUITOS ............................................................ 236 3 LIZ MAGOR, EXPOSIÇÃO A BOCA E OUTRAS INSTALAÇÕES DE ARMAZENAMENTO ......................................................................................................................................... 247 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 258 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 262 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 263 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 264 1 UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer o universo das formas tridimensionais em arte e suas especificidades em elementos e princípios do design escultural; • perceber a relação da escultura com as outras linguagens artísticas e os materiais usados; • compreender acerca dos aspectos estéticos que compõem a arte tridimensional incluindo a forma, a imaginação e o simbolismo; • aprender acerca da dinâmica histórica e plástica da cerâmica como elemento tridimensional, seus materiais e técnicas e as características estéticas da cerâmica moderna e contemporânea. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR TÓPICO 2 – ESCULTURA: FORMA, IMAGINAÇÃO E SIMBOLISMO TÓPICO 3 – A CERÂMICA COMO ELEMENTO TRIDIMENSIONAL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 1 INTRODUÇÃO A escultura é uma forma artística em que materiais duros ou maleáveis são trabalhados e transformados em objetos de arte tridimensionais. Os projetos podem ser incorporados em objetos independentes, em relevos, em superfícies ou em ambientes que envolvam o espectador. Uma enorme variedade de meios pode ser usada, incluindo argila, cera, pedra, metal, tecido, vidro, madeira, gesso, borracha e objetos aleatórios. Os materiais podem ser esculpidos, modelados, moldados, forjados, soldados, costurados, montados ou combinados. FIGURA 1 – A MANUFATURA DE UMA ESCULTURA FONTE: <https://bit.ly/3e8NRCQ>. Acesso em: 14 set. 2019. Escultura não é um termo fixo que se aplica a uma categoria permanentemente circunscrita de objetos ou conjuntos de atividades. É, antes, o nome de uma arte que cresce e muda e está continuamente ampliando ao alcance de suas atividades e desenvolvendo novos tipos de objetos. O escopo do termo era muito mais amplo na segunda metade do século XX do que havia sido duas ou três décadas antes, e no estado fluido das artes visuais na virada do século XXI, ninguém pode prever quais serão suas futuras características. Certas características que nos séculos anteriores foram consideradas essenciais à arte da escultura não estão presentes em grande parte da escultura moderna e não podem mais fazer parte de sua definição. Um dos mais importantes deles é a representação. Antes do século XX, a escultura era considerada uma arte representacional, que imitava formas de vida, na maioria das vezes figuras humanas, mas também objetos inanimados, como utensílios e livros. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 4 Desde a virada do século XX, no entanto, a escultura também incluiu formas não representativas. Há muito tempo se aceita que as formas de tais objetos tridimensionais funcionais, como móveis, panelas e edifícios, podem ser expressivas e belas sem serem, de forma alguma, representacionais; mas foi apenas no século XX que as obras de arte tridimensionais não funcionais e não representativas começaram a ser produzidas (ROGERS, 2019). FIGURA 2 – ESCULTURA CONTEMPORÂNEA AMORFA DE DAN LAM FONTE: <https://artofed-uploads.nyc3.digitaloceanspaces.com/2018/03/Lam-1024x1024.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. Antes do século XX, a escultura era considerada principalmente uma arte de forma sólida. É verdade que os elementos negativos da escultura – os vazios e buracos dentro e entre as suas formas sólidas – sempre foram, até certo ponto, parte integrante do seu design, mas o papel deles era secundário. Em grande parte da escultura moderna, no entanto, o foco da atenção mudou e os aspectos espaciais se tornaram dominantes. A escultura espacial é agora um ramo geralmente aceito da arte da escultura. Com o recente desenvolvimento da escultura cinética, nem a imobilidade nem a imutabilidade da sua forma podem ser consideradas essenciais para a arte da escultura.Finalmente, a escultura desde o século XX não se limitou aos dois processos tradicionais de entalhe e modelagem ou a materiais naturais tradicionais como pedra, metal, madeira, marfim, osso e argila. Como os escultores atuais usam quaisquer materiais e métodos de fabricação que servirão aos seus propósitos, a arte da escultura não pode mais ser identificada com nenhum material ou técnica específica. A partir de todas essas mudanças, há provavelmente apenas uma coisa que permaneceu constante na arte da escultura, e é isso que emerge como a preocupação central e permanente dos escultores: a arte da escultura é o ramo das artes visuais que é especialmente preocupado com a criação da forma tridimensional, ou seja, em três dimensões: altura, largura e profundidade. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 5 A escultura pode ser um objeto autônomo, que pode ser observado por todos os lados ou pode ser apenas criada em alto-relevo. No primeiro caso, a escultura é um objeto separado e independente por si só, levando o mesmo tipo de existência independente no espaço, como um corpo humano ou uma cadeira. Já um alto-relevo não tem esse tipo de independência. Ele se projeta de uma base que serve como um pano de fundo contra o qual é definido ou uma matriz da qual emerge. A tridimensionalidade real da escultura limita seu escopo em certos aspectos em comparação com o escopo da pintura. A escultura não pode conjurar a ilusão do espaço por meios puramente óticos ou investir suas formas com a atmosfera e a luz como a pintura pode. Tem um tipo de realidade, uma presença física vívida que é negada às artes pictóricas. As formas de escultura são tangíveis e visíveis, e podem apelar forte e diretamente às sensibilidades táteis e visuais. Mesmo os deficientes visuais, incluindo aqueles que são cegos, podem produzir e apreciar certos tipos de escultura. Na verdade, foi argumentado pelo crítico de arte do século XX, Sir Herbert Read, que a escultura deve ser considerada primariamente como uma arte do toque e que as raízes da sensibilidade escultural podem ser atribuídas ao prazer que se experimenta ao tocar as coisas. FIGURA 3 – A DESCOBERTA DO ALTO-RELEVO PELA DEFICIENTE VISUAL FONTE: <https://www.lifegate.com/app/uploads/Screen-Shot-2017-03-02-at-20.10.30.png>. Acesso em: 14 set. 2019. Todas as formas tridimensionais são percebidas como tendo um caráter expressivo, bem como propriedades puramente geométricas. Essas formas podem ser delicadas, agressivas, fluidas, tensas, relaxadas, dinâmicas, suaves e assim por diante. Ao explorar as qualidades expressivas da forma, um escultor é capaz de criar imagens em que o assunto e a expressividade da forma se reforçam mutuamente. Tais imagens vão além da mera apresentação de fatos e comunicam uma ampla gama de sentimentos sutis e poderosos. A matéria-prima estética da escultura é, por assim dizer, todo o domínio da forma tridimensional UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 6 expressiva. Uma escultura pode se basear no que já existe na infinita variedade de formas naturais e artificiais, ou pode ser uma arte de pura invenção. Ela tem sido usada para expressar uma vasta gama de emoções e sentimentos humanos, desde o mais terno e delicado até o mais violento e extático. Todos os seres humanos, intimamente envolvidos desde o nascimento com o mundo da forma tridimensional, aprendem algo sobre sua propriedade estrutural e expressiva e desenvolvem respostas emocionais a ele. Essa combinação de compreensão e resposta sensível, muitas vezes chamada de senso de forma, pode ser cultivada e refinada. É a esse senso de forma que a arte da escultura principalmente atrai. Para que possamos aprofundar nosso conhecimento acerca do universo tridimensional em arte, iremos, através desta primeira unidade, lidar com os elementos e princípios do design; os materiais, métodos, técnicas e formas de escultura; e seu assunto, imagens, simbolismo e usos. 2 ELEMENTOS DO DESIGN ESCULTURAL Os dois elementos mais importantes da escultura – massa e espaço – são, é claro, separáveis apenas no pensamento. Toda escultura é feita de uma substância material que tem massa e existe no espaço tridimensional. A massa da escultura é, portanto, o volume sólido, material e ocupando o espaço que está contido em suas superfícies. O espaço entra no desenho da escultura de três maneiras principais: os componentes materiais da escultura se estendem ou se movem pelo espaço; eles podem envolver o espaço, criando assim cavidades e vazios dentro da escultura; e eles podem relacionar um ao outro através do espaço. Volume, superfície, luz e sombra e cor são elementos de suporte da escultura (ROGERS, 2019). FIGURA 4 – MASSA E ESPAÇO DA ESCULTURA FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcTkFoDsj28poMHZ_ v7OTORIhLx3JOy38Ycy7Q&usqp=CAU>. Acesso em: 14 set. 2019. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 7 2.1 ELEMENTOS DO DESIGN A importância atribuída a qualquer massa ou espaço no design da escultura varia consideravelmente. Na escultura egípcia e na maior parte da escultura de Constantin Brancusi (1876-1957), por exemplo, a massa é fundamental, e a maior parte do pensamento do escultor foi dedicada a moldar um pedaço de material sólido. FIGURA 5 – MUSA ADORMECIDA DE BRANCUSI FONTE: <https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/05/brancusi_leilao. jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453>. Acesso em: 14 set. 2019. Nos trabalhos de Naum Gabo (1890-1977), por outro lado, a massa é reduzida a um mínimo, consistindo apenas em folhas transparentes de plástico ou hastes finas de metal. A forma sólida dos componentes em si é de pouca importância, sua principal função é criar movimento através do espaço e delimitar o espaço. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 8 FIGURA 6 – ESCULTURA TRANSPARENTE DE NAUM GABO FONTE: <https://www.biographyonline.net/wp-content/uploads/2014/05/480px-Oval_with_ Points.jpg.webp>. Acesso em: 14 set. 2019. Em obras de outros escultores do século XX, como Henry Moore (1898- 1986), por exemplo, os elementos de espaço e massa são tratados como parceiros mais ou menos iguais. FIGURA 7 – ESCULTURA DE HENRY MOORE FONTE: <https://www.biographyonline.net/wp-content/uploads/2014/05/480px-Oval_with_ Points.jpg.webp>. Acesso em: 14 set. 2019. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 9 Não é possível ver a totalidade de uma forma tridimensional de uma só vez. O observador só pode ver o todo se ele girar a peça ou andar ao seu ao redor. Por essa razão, às vezes é erroneamente assumido que a escultura deve ser projetada principalmente para apresentar uma série de visões projetivas satisfatórias e que essa multiplicidade de visões constitui a principal diferença entre a escultura e as artes pictóricas, que apresentam apenas uma visão de seu assunto. Tal atitude em relação à escultura ignora o fato de que é possível apreender formas sólidas como volumes, para conceber uma ideia delas em 360 graus a partir de qualquer aspecto. Grande parte das esculturas são projetadas para serem percebidas principalmente como volume. Um único volume é a unidade fundamental da forma sólida tridimensional que pode ser concebida. Algumas esculturas consistem em apenas um volume, outras são configurações de vários volumes. IMPORTANT E A figura humana é frequentemente tratada pelos escultores como uma combinação de volumes, cada um dos quais corresponde a uma parte do corpo, como a cabeça, o pescoço, o tórax e a coxa. Buracos e cavidades na escultura, que são tão cuidadosamente moldados quanto às formas sólidas e são de igual importância para o design geral, são, às vezes, referidos como volumes negativos. As superfícies da escultura são, na verdade, tudo o que se vê de fato. É a partir de suas inflexões que se fazem inferências sobre a estrutura interna da escultura. Uma superfície tem, por assim dizer, dois aspectos: contém e define a estrutura interna das massas daescultura, e é a parte da escultura que entra em relações com o espaço externo. O caráter expressivo de diferentes tipos de superfícies é de extrema importância na escultura. Superfícies convexas de dupla curvatura sugerem plenitude, contenção, invólucro, a pressão externa das forças internas. Na estética da escultura indiana, tais superfícies têm um significado metafísico especial. Representando a invasão do espaço na massa da escultura, superfícies côncavas sugerem a ação de forças externas e são frequentemente indicativas de colapso ou erosão. Superfícies planas tendem a transmitir uma sensação de dureza e rigidez do material; eles são inflexíveis, não afetadas por pressões internas ou externas. Superfícies que são convexas em uma curvatura e côncavas na outra podem sugerir o funcionamento de pressões internas e, ao mesmo tempo, uma receptividade à influência de forças externas. Elas estão associadas ao crescimento, com expansão para o espaço. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 10 Ao contrário do pintor, que cria efeitos de luz dentro da obra, através do uso de cores dos pigmentos e dos efeitos técnicos ilusórios de pintura e desenho de claro e escuro, o escultor manipula a luz na própria obra. A distribuição de luz e sombra sobre as formas de seu trabalho depende da direção e intensidade da luz de fontes externas. No entanto, até certo ponto ele pode determinar os tipos de efeito que essa luz externa terá. Se ele sabe onde o trabalho deve ser localizado, ele pode adaptá-lo ao tipo de luz que provavelmente receberá. A brilhante luz do sol no Egito e na Índia, por exemplo, exige um tratamento diferente da fraca luz que recebe o interior de uma catedral medieval do norte europeu. Então, novamente, é possível criar efeitos de luz e sombra cortando ou modelando cavidades profundas e atraentes, e cristas proeminentes e destacadas. Muitos escultores góticos tardios usaram a luz e a sombra como uma poderosa característica expressiva de seu trabalho, visando uma misteriosa obscuridade, com formas quebradas pela sombra emergindo de um fundo escuro. Os escultores gregos, indianos e da maioria dos renascentistas italianos moldaram as formas de seu trabalho para receber a luz de uma maneira que torna todo o trabalho radiantemente claro. FIGURA 8 – DAVI, OBRA RENASCENTISTA DE MICHELANGELO FONTE: <https://bit.ly/2BLvLK8>. Acesso em: 14 set. 2019. Você já se imaginou cara a cara com uma das mais famosas esculturas do mundo? Faça um tour virtual de 360 graus para conhecer Davi, de Michelangelo, situado na Galeria da Academia de Florência, Itália, através deste vídeo: https://www.youtube.com/ watch?v=Sal4uJLftpY. DICAS TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 11 O colorido da escultura pode ser natural ou aplicado. No passado recente, os escultores tornaram-se mais conscientes do que nunca da beleza inerente dos materiais esculturais. Sob o lema “verdade dos materiais”, muitos deles trabalhavam com seus materiais de maneiras que exploravam suas propriedades naturais, incluindo cor e textura. Mais recentemente, no entanto, tem havido uma tendência crescente para usar corante artificial brilhante como um elemento importante no design da escultura. No mundo antigo e durante a Idade Média quase todas as esculturas eram coloridas artificialmente, geralmente de uma maneira ousada e decorativa, em vez de naturalista. O portal esculpido de uma catedral, por exemplo, seria colorido e dourado com todo o brilho de um manuscrito iluminado da época. Combinações de materiais de cores diferentes, como o marfim e o ouro de algumas esculturas gregas, não eram desconhecidas antes do século XVII, mas o escultor barroco Gian Lorenzo Bernini (1598-1680) ficou conhecido por combinar mármores coloridos com mármore branco e bronze dourado (ROGERS, 2019). FIGURA 9 – OBRA DE GIAN LORENZO BERNINI (1652) FONTE: <https://www.artsy.net/artwork/gian-lorenzo-bernini-ecstasy-of-saint-teresa>. Acesso em: 14 set. 2019. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 12 2.2 PRINCÍPIOS DO DESIGN Os princípios do design na arte da escultura não são universais, pois os princípios que governam a organização dos elementos da escultura em composições expressivas diferem de estilo para estilo. De fato, as distinções feitas entre os principais estilos de escultura baseiam-se, em grande parte, no reconhecimento de diferenças nos princípios de design subjacentes. Os princípios do design escultural regem as abordagens dos escultores em questões fundamentais como orientação, proporção, escala, articulação e equilíbrio. Para conceber e descrever a orientação das formas da escultura em relação umas às outras, a um espectador e ao seu entorno, é necessário algum tipo de esquema espacial de referência. Isso é fornecido por um sistema de eixos e planos de referência. Um eixo é uma linha central imaginária através de um volume simétrico ou quase simétrico ou grupo de volumes que sugere o pivô gravitacional da massa. Assim, todos os principais componentes do corpo humano têm eixos próprios, enquanto uma figura vertical tem um único eixo vertical que percorre todo o seu comprimento. Volumes podem girar ou inclinar seus eixos. Planos de referência são planos imaginários para os quais os movimentos, posições e direções de volumes, eixos e superfícies podem ser referidos. Os principais planos de referência são os planos frontal, horizontal e os dois planos de perfil. Os princípios que governam as poses características e as composições espaciais de figuras verticais em diferentes estilos de escultura são formuladas com referência aos eixos e aos quatro planos cardeais, por exemplo: o princípio da axialidade já referido; o princípio da frontalidade, que governa o desenho da escultura arcaica; o contraposto característico (pose em que partes do corpo, como superior e inferior, podem inclinar ou mesmo torcer em direções opostas) das figuras de Michelangelo; e na escultura grega do período clássico, a pose equilibrada entre os dois lados do corpo, numa postura na qual o peso corporal é tomado principalmente em uma perna, criando assim um contraste de tensão e relaxamento entre os lados opostos de uma figura (observe a postura equilibrada de Davi na obra de Michelangelo exibida anteriormente). Relações proporcionais existem entre dimensões lineares, áreas e volumes e massas. Todos esses tipos de proporção coexistem e interagem na escultura, contribuindo para sua expressividade e beleza. Atitudes em relação à proporção diferem consideravelmente entre os escultores. Alguns escultores, abstratos e figurativos, usam sistemas matemáticos de proporção; por exemplo, o refinamento e idealização de proporções humanas naturais era uma preocupação importante dos escultores gregos. Os gregos clássicos estavam muito interessados em proporções e fórmulas para criá-lo. Esse desejo de “regularizar” é especialmente proeminente em arquitetura e escultura e reflete muitas informações sobre o que os gregos acharam visualmente atraente, sua estética visual. No caso das esculturas gregas, TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 13 observamos que muitas delas apresentavam homens jovens e com corpo atlético. A escultura clássica não estava tentando reproduzir a realidade, mas criar um ideal, retratando pessoas perfeitas. Para fazer isso, os escultores clássicos desenvolveram fórmulas complicadas de proporções, cânones, que dividiam o corpo em partes componentes, cada uma das partes do todo, proporcional e simetricamente conectadas umas às outras. Se o escultor seguisse o modelo proporcional, independentemente da escala (tamanho) da escultura, ele se encaixaria no ideal daquilo que os gregos consideravam visualmente atraente. Existem basicamente dois cânones concorrentes de proporção: o original, desenvolvido por Policleto (460-420 a.C.) no século quinto a.C. e depois outro desenvolvido mais tarde no século quarto por Lísipo (390-300 a.C.). Olhando para aimagem a seguir, podemos ver as diferenças na proporção entre cada escultura. Pensa-se que o Doryphoros (Portador de Lança) à esquerda representa o cânone de Policleto. À direita, o Apoxymenos representa o mesmo para Lísipo. As fórmulas de proporção de todas as partes do corpo humano usadas nas esculturas gregas são extremamente complexas, estendendo-se até o comprimento dos dígitos em proporção ao tamanho da mão, mas em termos de altura geral e proporção básica do corpo como um todo, a fórmula é relativamente simples. Para Policleto, a cabeça corresponde a 1/7 da altura total do corpo, e para Lísipo, 1/8. O resultado, como observamos a seguir, é claro: a proporção ideal de Policleto é compacta e sólida, enquanto a de Lísipo é mais longa e delgada. FIGURA 10 – PROPORÇÕES DO CORPO PARA ESCULTURAS GREGAS FONTE: <https://bit.ly/2Z77h76>. Acesso em: 14 set. 2019. Já os escultores indianos e asiáticos, por exemplo, empregavam cânones iconométricos, ou sistemas de proporções cuidadosamente relacionadas, que determinavam as proporções de todas as dimensões significativas da figura humana. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 14 FIGURA 11 – CÂNONES ICONOMÉTRICOS ASIÁTICOS FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/01/de/28/01de283dee7e0f6f60212e5222fc20a2--diety- pencil-art.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. Escultores africanos, por exemplo, usavam as proporções de suas figuras na importância subjetiva das partes do corpo (GOSSELAIN, 2008). Proporções não naturais podem ser usadas para propósitos expressivos ou para acomodar uma escultura ao seu entorno. O alongamento das figuras no Portal Real da Catedral de Chartres faz as duas coisas: aumenta a sua percepção metafísica e também as integra com a arquitetura colunar. Às vezes, é necessário adaptar as proporções da escultura para adequar sua posição em relação a um espectador (ROGERS, 2019). FIGURA 12 – FIGURAS ALONGADAS NO PORTAL REAL CATEDRAL DE CHARTRES FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/f3/be/ad/f3beadd634cfab1686533d367eff921d-- romanesque-retina.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 15 Uma figura situada no alto de um edifício, por exemplo, geralmente é maior em suas partes superiores, a fim de neutralizar os efeitos da visão em perspectiva. A escala da escultura deve, às vezes, ser considerada em relação à escala de seu entorno. Quando é um elemento em um complexo maior, como a fachada de um edifício, deve estar em escala com o resto. Outra questão importante que os escultores devem levar em consideração ao projetar a escultura ao ar livre é que a tendência da escultura ao ar livre – particularmente quando vista contra o céu – parece menos massiva do que em um estúdio. Observe esta escultura a seguir, de Hélio Oiticica, localizada no Instituto Inhotim. Apesar de ser feita, dentre outros materiais, com paredes de cimento, a obra quando vista de longe ao ar livre, dá uma impressão de leveza colorida em meio ao jardim. Baseados no quadrado, os espaços em aberto da obra oferecem ao espectador grandes áreas de permanência e de convívio, colocando-o em contato vivencial com a forma, a cor e os materiais. FIGURA 13 – INVENÇÃO DA COR, PENETRÁVEL MAGIC SQUARE #5, DE LUXE, HÉLIO OITICICA, 1977, INHOTIM FONTE: <https://www.aprendizdeviajante.com/wp-content/uploads/2016/06/inhotim-18.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. Como se tende a relacionar a escala da escultura com as próprias dimensões físicas humanas, o impacto emocional de uma figura colossal e de uma pequena figura é bem diferente. Na escultura antiga e medieval, a escala relativa das figuras em uma composição é frequentemente determinada por sua importância; por exemplo, os escravos são muito menores que os reis ou nobres. Isso, às vezes, é conhecido como escala hierárquica. A união de uma forma a outra pode ser realizada de várias maneiras. Em grande parte do trabalho do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917), não há limites claros, e uma forma é mesclada a outra de uma maneira impressionista para criar uma superfície continuamente fluente. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 16 FIGURA 14 – PRIMAVERA ETERNA DE AUGUSTE RODIN (1900) FONTE: <https://bit.ly/2O2nxQf>. Acesso em: 14 set. 2019. Nas obras do escultor grego Praxiteles (395-330 a.C.), as formas são suavemente e sutilmente misturadas por meio de transições suaves e desfocadas. Os volumes da escultura indiana e a anatomia superficial das figuras masculinas no estilo do escultor grego Policletos, como vimos na imagem anterior, são bem definidos e claramente articulados. Uma das principais distinções entre o trabalho dos escultores italianos e do norte renascentista está na preferência dos italianos por composições constituídas por unidades de forma claramente articuladas e distintas e pela tendência dos europeus setentrionais de subordinar as partes individuais ao fluxo total da composição. O equilíbrio da escultura autônoma tem três aspectos. Primeiro, a escultura deve ter estabilidade física real. Isso pode ser alcançado pelo equilíbrio natural – isto é, tornando a escultura estável o suficiente para manter-se firme – o que é fácil de fazer com um animal de quatro patas ou uma figura reclinada, mas não com uma figura em pé ou com uma alta escultura, que deve estar anexada à uma base. O segundo aspecto do equilíbrio é a composição. A interação de forças e a distribuição de peso dentro de uma composição podem produzir um estado de equilíbrio dinâmico ou estático. O terceiro aspecto do equilíbrio aplica-se apenas à escultura que representa uma figura viva. Uma figura humana viva equilibra-se em dois pés, fazendo movimentos constantes e ajustes musculares. Tal efeito pode ser transmitido na escultura por deslocamentos sutis da forma e sugestões de tensão e de relaxamento (ROGERS, 2019). TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 17 Há dois filmes que você precisa assistir, caso for um amante da história da escultura. Um é Rodin (2017), dirigido por Jacques Doillon e o outro é Camille Claudel (1988), dirigido por Jacques Doillon. Ambos tratam, sob perspectivas diferentes, da vida tempestuosa deste exímio casal de escultores e de seu relacionamento com a escultura no final do século XIX na França. DICAS FONTE: <encurtador.com.br/blHVY>; <encurtador.com.br/fisHO>. Acesso em: 21 maio 2020. 3 RELAÇÃO DA ESCULTURA COM AS OUTRAS ARTES Há muito tempo que a escultura se relaciona estreitamente com a arquitetura através do seu papel como decoração arquitetônica e também ao nível do design. A arquitetura, como a escultura, preocupa-se com a forma tridimensional e, embora o problema central no projeto de edifícios seja a organização do espaço em vez da massa, existem estilos de arquitetura que são eficazes em grande parte pela qualidade e organização de suas formas sólidas. Os estilos antigos da arquitetura de pedra, particularmente o egípcio, o grego e o mexicano (maia), tendem a tratar seus componentes de maneira escultural. Além disso, a maioria dos edifícios vistos de fora são composições de massas. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 18 FIGURA 15 – ARQUITETURA ESCULTURAL MAIA FONTE: <https://www.villapalmarcancun.com/blog/wp-content/uploads/2016/02/the-top- mayan-sites-to-visit-on-the-riviera-raya-near-cancun.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. O crescimento da escultura espacial está tão intimamente relacionado com a abertura e iluminação da arquitetura, que tornou possível o desenvolvimento da tecnologia moderna de construção, que muitos escultores do século XX foram capazes de ter trabalhado com suas obras de maneira arquitetônica. Algumas formas de escultura em relevo abordam muito de perto as artes pictóricas da pintura, desenho, gravura e assim por diante. As fronteiras entre a escultura e a cerâmica e as artes em metal não são claras, e muitos artefatos de cerâmica e metal podem ser considerados como escultura. Hoje existe uma crescente afinidade entre o trabalho de designersindustriais e escultores. Técnicas de modelagem escultural e, às vezes, os próprios escultores, estão frequentemente envolvidos, por exemplo, nos estágios iniciais de projetos de design de automóveis. As estreitas relações que existem entre a escultura e as outras artes visuais são atestadas pelo número de artistas que se voltaram rapidamente de uma arte para outra; por exemplo, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (1475-1564), Gran Lorenzo Bernini (1598-1680), Antonio Pisanello (1395-1455), Edgar Degas (1834-1917) e Pablo Picasso (1881-1973). TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 19 FIGURA 16 – AS BAILARINAS EM PINTURA E ESCULTURA DE DEGAS FONTE: <https://bit.ly/3gBiym4>; <https://bit.ly/3gBBq4k>. Acesso em: 14 set. 2019. 4 OS MATERIAIS Qualquer material que possa ser moldado em três dimensões pode ser usado esculturalmente. Certos materiais, em virtude de suas propriedades estruturais e estéticas e sua disponibilidade, mostraram-se especialmente adequados. Os mais importantes são a pedra, a madeira, o metal, a argila, o marfim e o gesso. Há também vários materiais de importância secundária e muitos que só recentemente entraram em uso. 4.1 PEDRA Ao longo da história, a pedra tem sido o principal material da escultura monumental, ou seja, de grande porte. Há razões práticas para isso: muitos tipos de pedra são altamente resistentes ao clima e, portanto, adequados para uso externo; a pedra está disponível em todas as partes do mundo e pode ser obtida em grandes blocos; muitas pedras têm uma textura bastante homogênea e uma dureza uniforme que as tornam adequadas para a escultura; a pedra tem sido o principal material usado para a arquitetura monumental com a qual tantas esculturas foram associadas. Pedras pertencentes às três principais categorias de formação rochosa foram usadas na escultura. As rochas ígneas, que são formadas pelo resfriamento das massas fundidas de minerais à medida que se aproximam da superfície da Terra, incluem granito, diorito, basalto e obsidiana. Estas são algumas das pedras mais difíceis usadas para escultura. As rochas sedimentares, que incluem arenitos e calcários, são formadas a partir de depósitos acumulados de substâncias minerais e orgânicas. Os arenitos são aglomerados de partículas de pedras erodidas mantidas juntas por uma substância cimente. Os calcários são formados UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 20 principalmente a partir dos restos calcários dos organismos. O alabastro (gesso), também uma rocha sedimentar, é um depósito químico. Muitas variedades de arenito e calcário, que variam muito em qualidade e adequação para a escultura, são também usadas. Por causa de seu método de formação, muitas rochas sedimentares têm estratos pronunciados e são ricas em fósseis. Rochas metamórficas resultam de mudanças provocadas na estrutura de rochas sedimentares e ígneas por extrema pressão ou calor. As rochas metamórficas mais conhecidas usadas na escultura são os mármores, que são calcários recristalizados. O mármore italiano de Carrara, o mais conhecido, foi usado pelos escultores romanos e renascentistas, especialmente Michelangelo, e ainda é amplamente utilizado. As variedades mais conhecidas usadas pelos escultores gregos, com quem o mármore era mais popular do que qualquer outra pedra, são o mármore pentélico – do qual o Partenon e suas esculturas são feitas – e o mármore pariano. Como a pedra é extremamente pesada e não tem resistência à tração, ela é facilmente partida se esculpida muito fina ou se não for corretamente apoiada. Um tratamento massivo sem projeções vulneráveis, como na escultura egípcia e pré-colombiana é, portanto, geralmente preferido. Algumas pedras, no entanto, podem ser trabalhadas de modo mais livre. O mármore em particular tem sido tratado por alguns escultores europeus com quase a mesma liberdade que o bronze, mas tais demonstrações de virtuosismo são alcançadas pela superação e não pela submissão às propriedades do material em si. As cores e texturas da pedra estão entre suas propriedades mais encantadoras. Algumas pedras são finas e podem ser esculpidas com detalhes delicados e acabadas com um alto polimento; outras são de granulação grossa e exigem um tratamento mais amplo. O mármore branco puro de Carrara, que tem uma qualidade translúcida, parece brilhar e responde à luz de uma maneira delicada e sutil. Essas propriedades do mármore foram brilhantemente exploradas por escultores italianos do século XV, como Donatello (1386-1466) e Desiderio da Settignano (1428-1464). FIGURA 17 – ALTO-RELEVO EM MÁRMORE DE CARRARA DE DONATELLO FONTE: <http://www.donatellosculptures.com/Pazzi%20Madonna%20Donatello.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 21 A coloração do granito não é uniforme, mas tem uma qualidade de sal e pimenta e pode brilhar com mica e cristais de quartzo. Pode ser predominantemente preto ou branco ou uma variedade de tons de cinza, rosa e vermelho. FIGURA 18 – VARIAÇÕES DE PEDRA GRANITO FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/97/7b/e2/977be2df0ee6e636ab2fba82e3a234b7.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. Os arenitos variam em textura e são com frequência calorosamente coloridos em uma variedade de tons rosa e vermelho. Os calcários variam muito em cor, e a presença de fósseis pode aumentar o interesse de suas superfícies. Muitas pedras são, de forma natural, ricamente mescladas em termos de cor e grafismos próprios pela veia irregular que passa por elas. As pedras semipreciosas constituem um grupo especial, que inclui algumas das mais belas e decorativas peças esculturais. O trabalho dessas pedras, juntamente ao trabalho de gemas mais preciosas, é geralmente considerado como parte das artes glípticas (entalhes ou gravados), ou lapidares, mas muitos artefatos produzidos a partir deles podem ser considerados escultura em pequena escala. Eles são, muitas vezes, mais difíceis de trabalhar do que o aço. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 22 Chamamos de Arte Glíptica a arte de gravar em pedras preciosas e semipreciosas, incluindo os alto e baixo relevos feitos por exemplo em camafeus. Os temas mais empregados nestas esculturas são voltados à mitologia e à religiosidade. NOTA Uma das primeiras pedras preciosas a serem trabalhadas foram o jade, que foi venerado pelos chineses antigos, que o trabalharam, juntamente a outras pedras, com extrema habilidade. Também foi usado esculturalmente por artistas maias e mexicanos. Outras pedras preciosas importantes são o cristal de rocha, quartzo rosa, ametista, ágata e jaspe (ROGERS, 2019). FIGURA 19 – FIVELA DE CINTO CHINÊS GLÌPTICA ESCULPIDA EM JADE FONTE: <https://twistedsifter.files.wordpress.com/2015/02/artworks-carved-from-jade-at-the- met-10.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. 4.2 MADEIRA O principal material da escultura tribal na África, Oceania e América do Norte, a madeira também tem sido usada por toda grande civilização; foi usada extensivamente durante a Idade Média, por exemplo, especialmente na Alemanha e na Europa Central. Entre os escultores modernos que usaram madeira para trabalhos relevantes em arte estão Ernst Barlach (1870-1938), Ossip Zadkine (1888-1967) e Henry Moore (1898-1986). TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 23 FIGURA 20 – ESCULTURA EM MADEIRA DE HENRY MOORE (1936) FONTE: <https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/hepworth-wakefield-live/wp-content/ uploads/2017/08/15090440/Hepworth_Moore044.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. Ambas as madeiras macias e duras são usadas para a escultura. Algumas são de granulação estreita e cortam facilmente; outros são de grão aberto e fibroso. A estrutura fibrosa da madeira confere-lhe uma força de tensão considerável, de modo a poder ser esculpida de forma fina e com maior liberdade do que a pedra. Para composições abertas grandes ou complexas, várias peças de madeira podem ser juntadas. A madeira é usada principalmente para escultura interna, pois não é tão resistenteou durável como a pedra. Mudanças de umidade e de temperatura podem causar rachaduras e estão sujeitas a ataques de insetos e fungos. O grão de madeira é uma das suas características mais atraentes, dando variedade de padrão e textura às suas superfícies. Suas cores também são sutis e variadas. Em geral, a madeira tem um senso de calor que a pedra não tem, mas falta a dignidade maciça e o peso da pedra. As principais madeiras para escultura são carvalho, mogno, nogueira, pinho, cedro e ébano, mas muitas outras são também usadas. Os tamanhos de madeira disponíveis são limitados pelos tamanhos das árvores. Os índios norte-americanos, por exemplo, podem esculpir gigantescos totens em troncos de pinheiros. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 24 FIGURA 21 – TOTEM INDÍGENA EM MADEIRA EM VANCOUVER, CANADÁ FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/50/ac/a0/50aca0507c997e0926caf26438ee46dc--totem- pole-art-totem-poles.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019. No século XX, a madeira era usada por muitos escultores como um meio de construção e escultura. Madeiras laminadas, aglomerados de madeira e madeira em forma de bloco e prancha podem ser colados, unidos, aparafusados juntos, e recebem uma variedade de acabamentos. 4.3 METAL Onde quer que as tecnologias de metal tenham sido desenvolvidas, metais têm sido usados para escultura. A quantidade de escultura de metal que sobreviveu do mundo antigo não reflete adequadamente a extensão em que foi usada, pois vastas quantidades foram saqueadas e derretidas. Incontáveis esculturas de metal do Oriente, Ásia e da Grécia foram perdidas dessa maneira, assim como quase todo o trabalho em ouro de índios americanos pré-colombianos. O metal mais utilizado para a escultura é o bronze, que é basicamente uma liga de cobre e estanho; mas ouro, prata, alumínio, cobre, latão, chumbo e ferro também têm sido amplamente utilizados. A maioria dos metais é extremamente resistente, dura e durável, com uma força de tensão que permite uma liberdade de projeto muito maior do que é possível em qualquer pedra ou madeira. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 25 FIGURA 22 – A ESCULTURA DA LIBERDADE, DE ZENOS FRUDAKIS, BRONZE, USA, 2011 FONTE: <https://static.boredpanda.com/blog/wp-content/uploads/2016/08/amazing- sculptures-6-57baeec3bb4df__880.jpg>. Acesso em: 22 set. 2019. A cor, o brilho e a refletividade das superfícies de metal têm sido altamente valorizados e utilizados na escultura, embora, desde a Renascença, as pátinas artificiais tenham sido geralmente preferidas como acabamentos para o bronze. Os metais podem ser trabalhados de várias maneiras para produzir escultura. Eles podem ser moldados – isto é, derretidos e despejados em moldes; colocados sob pressão em matrizes, como na fabricação de moedas; ou trabalhados diretamente – por exemplo, martelando, dobrando, cortando ou soldando. Ao longo da história da arte, importantes tradições da escultura de bronze ficaram conhecidas, como as gregas, romanas, indianas (especialmente Chola), africanas (Bini e Yoruba), renascimento italiano e chinês. O ouro foi usado com grande efeito para trabalhos de pequena escala na América pré-colombiana e na Europa medieval. Uma descoberta recente, o alumínio tem sido muito usado pelos escultores modernos. FIGURA 23 – ESCULTURA EM OURO PRÉ-COLOMBIANA FONTE: < https://www.turismo-en-peru.com/local/cache-vignettes/L235xH314/Senor_ Sipan_1__PhotoRedukto-5fd22-1230c.jpg >. Acesso em: 22 set. 2019. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 26 O ferro não tem sido muito usado como material de moldagem, mas, nos últimos anos, tornou-se um material popular para o trabalho direto por técnicas semelhantes às do ferreiro. A chapa metálica é um dos principais materiais utilizados hoje em dia para a escultura de construção. 4.4 ARGILA A argila é um dos materiais mais comuns e de fácil obtenção. Usada para modelar figuras de animais e humanos muito antes de os homens descobrirem como queimar panelas, tem sido um dos principais materiais do escultor desde a pré-história. A argila tem quatro propriedades que explicam seu uso generalizado: quando úmida, é uma das mais plásticas de todas as substâncias, facilmente modelada e capaz de registrar as impressões mais detalhadas; quando parcialmente seca para um estado duro como couro ou completamente seco, pode ser esculpida e raspada; quando misturada com água, torna-se um líquido cremoso, que pode ser derramada em moldes e deixado secar; quando queimada a temperaturas entre 700 e 1.400 °C , sofre mudanças estruturais irreversíveis que a tornam permanentemente dura e extremamente durável. Os escultores usam o barro como material para elaborar ideias; para modelos preliminares de futuros projetos, que são subsequentemente fundidos em materiais como gesso, metal e concreto ou esculpidos em pedra; e para escultura de cerâmica. FIGURA 24 – DA ARGILA PARA O BRONZE: DANÇARINA QUENIANA DE TUCK LANGLAND FONTE: <http://www.gobronze.org/images/claytuck.jpg>; <http://www.gobronze.org/images/ claycomplete.jpg>. Acesso em: 22 set. 2019. Dependendo da natureza do próprio corpo de argila e da temperatura em que é queimado, um produto acabado de cerâmica de barro, é opaco, relativamente macio e poroso. Quando feito em grés, é duro, não poroso e mais ou menos vitrificado. Em porcelana, tem de textura fina, vitrificada e translúcida. Todos os TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 27 três tipos de cerâmica são usados para escultura. Esculturas feitas em argilas de baixa queima, como as argilas vermelhas, são conhecidas como terracota (terra cozida). Esse termo é usado inconsistentemente, no entanto, é frequentemente estendido para designar todas as formas de escultura em cerâmica. Os corpos de argila não vidrada podem ser lisos ou grosseiros em textura e podem ser de cor branca, cinza, dourada, marrom, rosa ou vermelha. A escultura de cerâmica pode ser decorada com qualquer uma das técnicas inventadas pelos ceramistas e revestida com uma variedade de belos esmaltes. Escultores paleolíticos produziram altos-relevos e peças tridimensionais em argila não queimada. Os chineses antigos, particularmente durante as dinastias Tang (618-907) e Song (960-1279), fizeram esculturas de cerâmica incríveis, incluindo figuras humanas em grande escala (ROGERS, 2019). FIGURA 25 – OS SOLDADOS DE TERRACOTA, CHINA, 209 a.C. FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/37/01/e8/3701e8a326589e25703b3e937ad9d4b7-- terracotta-army-terra-cotta.jpg>. Acesso em: 22 set. 2019. As obras gregas mais conhecidas em argila são as pequenas figuras conhecidas como Tanagra. Durante o Renascimento, a cerâmica foi usada na Itália para grandes projetos escultóricos, incluindo as esculturas em grande escala de cores vidradas e coloridas de Luca della Robbia e sua família. Um dos usos mais populares do meio de cerâmica tem sido para a fabricação de figuras – em Staffordshire, Meissen e Sèvres, por exemplo. No Brasil, dentre inúmeros exemplos, podemos citar as bonecas do Vale do Jequitinhonha, por exemplo. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 28 FIGURA 26 – BONECAS DE BARRO DO VALE DO JEQUITINHONHA FONTE: <https://vivejar.com.br/wp-content/uploads/2017/03/2015-07-18- 11.48.32-e1489427089330.jpg>. Acesso em: 22 set. 2019. 4.5 MARFIM A fonte de marfim é a presa de elefante; mas as presas do hipopótamo, narval (um animal aquático ártico) e, nos tempos paleolíticos, as presas de mamute também foram usadas para a escultura. O marfim é denso, duro e difícil de trabalhar. Sua cor é branca e cremosa, que, geralmente, amarelece com a idade e que necessita um alto polimento. As propriedades físicas do material convidam a uma escultura mais delicada e detalhada. O marfim foi usado extensivamente na antiguidade no Oriente Médio, Extremo Oriente e no Mediterrâneo. Uma tradição cristã quase ininterrupta de esculpir marfim chega de Roma e Bizâncio até o final da Idade Média. Durante todo esse tempo, o marfimera usado principalmente em relevo, muitas vezes em conjunto aos metais preciosos, esmaltes e pedras preciosas para produzir os efeitos mais esplêndidos. Alguns de seus principais usos esculturais eram para dípticos devocionais, altares portáteis, capas de livros, retábulos (prateleiras elevadas acima de altares), caixões e crucifixos. O período barroco também é rico em marfim, especialmente na Alemanha. Uma boa tradição de escultura em marfim também existia no Benim, um antigo reino da África Ocidental. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 29 FIGURA 27 – MÁSCARA DE MARFIM DE BENIM, SÉCULO XVI FONTE: <https://collectionapi.metmuseum.org/api/collection/v1/iiif/318622/674997/main-image>. Acesso em: 22 set. 2019. Relacionado ao marfim, o chifre e o osso têm sido usados desde os tempos paleolíticos para a escultura em pequena escala. O chifre de rena e as presas de morsa eram dois dos materiais mais importantes do escultor esquimó. 4.6 GESSO O gesso (sulfato de cal) é especialmente útil para a produção de moldes e modelos preliminares. Ele foi usado por escultores egípcios e gregos como um meio de fundição e hoje é o material mais versátil na oficina do escultor. Quando misturado com água, o reboco irá, num curto espaço de tempo, recristalizar ou definir – isto é, tornar-se duro e inerte – e o seu volume aumentará ligeiramente. Quando definido, é relativamente frágil e, portanto, é de uso limitado para o trabalho finalizado. O gesso pode ser derramado como um líquido, modelado diretamente ou facilmente esculpido. Outros materiais podem ser adicionados a ele para retardar seu ajuste, aumentar sua dureza ou resistência ao calor, alterar sua cor ou reforçá-lo. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 30 FIGURA 28 – CÓPIA EM GESSO DO ROSTO DA ESTÁTUA DE VÊNUS FONTE: <https://bit.ly/3iGODdI>. Acesso em: 22 set. 2019. O principal uso escultural de gesso no passado foi para moldagem de modelos de argila na produção de escultura em metal fundido. Muitos escultores hoje omitem o estágio de modelagem em argila e executam o modelo diretamente em gesso. Como material de molde na fundição de concreto e escultura de fibra de vidro, o gesso é amplamente utilizado. Tem grande valor como material para reproduzir a escultura existente; muitos museus, por exemplo, usam esses modelos para fins de estudo. 4.7 CIMENTO Basicamente, o concreto é uma mistura de um agregado (geralmente areia e pequenos pedaços de pedra) unidos por cimento. Uma variedade de pedras, como mármore triturado, lascas de granito e cascalho, pode ser usada, cada uma dando um efeito diferente de cor e textura. O cimento comercial é cinza, branco ou preto; mas pode ser colorido por aditivos. O cimento mais utilizado pelos escultores é o cimento fondu, que é extremamente duro e de secagem rápida. Uma invenção recente – pelo menos nas formas apropriadas para a escultura – o concreto está substituindo rapidamente a pedra para certos tipos de trabalho. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 31 FIGURA 29 – ESCULTURA EM CIMENTO DE DAVID UMEMOTO FONTE: <https://bit.ly/3e2uE5L>. Acesso em: 22 set. 2019. Uma vez que é barato, duro, resistente e durável, é particularmente adequado para grandes projetos ao ar livre, especialmente superfícies de parede decorativas. Com reforço adequado, permite uma grande liberdade de design. E usando técnicas semelhantes às da indústria da construção, os escultores são capazes de criar trabalhos em concreto em escala gigantesca. 4.8 FIBRA DE VIDRO Quando resinas sintéticas, especialmente poliésteres, são reforçadas com laminações de fibra de vidro, o resultado é uma casca leve que é extremamente forte, dura e durável. Geralmente, é conhecido simplesmente como fibra de vidro. Depois de ter sido usada com sucesso para carrocerias de carros, cascos de barcos e similares, ela se tornou recentemente um material importante para a escultura. O material é visualmente pouco atraente em si, geralmente é colorido por meio de pigmentos. Foi usado pela primeira vez em esculturas em conjunto aos enchimentos de metal em pó para produzir substitutos de “molde fundido” baratos para bronze e alumínio, mas com a recente tendência de ser usado com cores vivas na escultura. É possível modelar fibra de vidro, mas normalmente ela é moldada como uma casca laminada. Suas possibilidades de escultura ainda não foram totalmente exploradas. UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 32 FIGURA 30 – ESCULTURA EM FIBRA DE VIDRO DE KAWS FONTE: <https://bit.ly/3iE71Eh>. Acesso em: 22 set. 2019. 4.9 PAPEL-MÂCHÉ Papel-mâché (mistura de papel e cola) tem sido usado para escultura, especialmente no Extremo Oriente. Usado principalmente para trabalhos decorativos, especialmente máscaras, pode ter uma força considerável; os japoneses, por exemplo, fizeram armaduras com isso. Escultura feita de folha de papel geralmente é utilizada no artesanato para trabalhos efêmeros e geralmente triviais, mas o papel pode ser também utilizado em peças escultóricas contemporâneas. FIGURA 31 – ESCULTURA EM PAPEL-MACHÉ, CHEN QIULIN, 2009 FONTE: <https://bit.ly/3f2Dxh7>. Acesso em: 22 set. 2019. TÓPICO 1 — A ESCULTURA: UM NOVO OLHAR 33 4.10 MATERIAIS ALTERNATIVOS Numerosos materiais permanentes – como conchas, âmbar e tijolo – e efêmeros – como penas, massa de padeiro, açúcar, sementes de pássaros, folhagem, gelo, neve e cobertura de bolo – foram usados para criar imagens tridimensionais. Tendo em vista as tendências de escultura do final do século XX, não é mais possível falar em “materiais de escultura”. A escultura moderna não possui mais materiais específicos. Qualquer material, natural ou feito pelo homem, é passível de ser usado, incluindo o polietileno, a espuma de borracha, o poliestireno, tecidos e tubos de néon. Os materiais para uma escultura de Claes Oldenburg, por exemplo, são listados como tela, tecido, dácron, metal, espuma de borracha e acrílico (ROGERS, 2019). FIGURA 32 – ESCULTURA O SACO DE GELO, FEITA DE MATERIAIS DIVERSOS, CLAES OLDENBURG, 1971 FONTE: <encurtador.com.br/eguDE>. Acesso em: 22 set. 2019. Objetos reais, também, podem ser incorporados na escultura, como nas composições misturadas do escultor americano Edward Kienholz (1927-1994); até mesmo o material reciclável tem seus devotos, que moldam a escultura feita de materiais reaproveitados que são retirados do lixo. 34 Neste tópico, você aprendeu que: • Massa e espaço, elementos importantes da escultura, são inseparáveis. A massa da escultura é o volume sólido e material que ocupa um espaço que está contido em suas superfícies. • Os elementos de suporte escultural são o volume, a superfície, a luz e sombra. Ao mesmo tempo, os tipos de materiais empregados e suas especificidades – argila, pedra, marfim, cimento, madeira, metal, gesso, fibra de vidro, papel- machê e materiais alternativos – oferecem o caráter expressivo das superfícies na escultura. • Ao contrário do pintor, o escultor manipula a luz na própria obra, e isso depende da direção e intensidade da luz de fontes externas sobre as formas escultóricas. • Os planos frontal, horizontal e os dois planos de perfil são os planos de referência imaginários para os quais os movimentos, posições e direções de volumes, eixos e superfícies podem ser referidos. O sistema de eixos e planos de referência serve para conceber e descrever a orientação das formas da escultura em relação umas às outras, a um espectador e ao seu entorno. • A escala da escultura tende, em várias civilizações e épocas diferentes, a relacionar a escala da escultura com as próprias dimensões físicas humanas. Isso causa a diferença de um impacto emocional entre uma figura colossal e de uma figura em pequena escala. • A escultura e a arquitetura possuem uma relação intrinsecamente histórica, estética e funcional. Muitos estilos de arquitetura são eficazes pela qualidade e organização de suas formas sólidas. • Vários artistas da história da arte,dentre eles Michelangelo, Degas e Picasso atestaram o estreito vínculo existente entre a escultura e as outras artes visuais. RESUMO DO TÓPICO 1 35 1 No início desta unidade, conhecemos algumas definições e características referentes às artes tridimensionais. Explique acerca da dinâmica plástica da escultura em termos dos elementos de massa e de espaço do design escultural. 2 Michelangelo tinha apenas 26 anos em 1501, mas ele já era o artista mais famoso e mais bem pago em seus dias. Ele aceitou o desafio para esculpir Davi, o Rei mais famoso de Israel, em larga escala e trabalhou constantemente por mais de dois anos para criar uma de suas obras mais impressionantes do Renascimento. Além do material ofertado neste livro da disciplina, pesquise em outras fontes para responder à esta questão. Acerca das características técnicas e históricas da obra Davi, de Michelangelo, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Davi é uma gloriosa escultura em mármore maciço e possui 5,17 metros de altura, contando com a base. b) ( ) Davi é um dos símbolos da renascença e atualmente pode ser admirada no interior da Galleria dell'Accademia, em Florença, Itália. c) ( ) A escultura remete à história bíblica de Davi e Golias, na qual o gigante e arrogante Golias, um soldado filisteu, é derrotado por Davi. d) ( ) Assim como em todas as obras de Michelangelo, Davi apresenta uma dimensão psicológica serena e meditativa. Dá a impressão que Davi desistiu da luta com Golias. AUTOATIVIDADE 36 37 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ESCULTURA: FORMA, IMAGINAÇÃO E SIMBOLISMO 1 INTRODUÇÃO Muitas esculturas são projetadas para serem colocadas em praças públicas, jardins, parques e locais abertos ou mesmo em espaços fechados onde são isoladas no espaço e podem ser vistas de todas as direções. Essas esculturas são, portanto, tridimensionais. Outras esculturas são esculpidas em relevo e podem ser vistas apenas da frente e dos lados. 2 A ARTE TRIDIMENSIONAL As perspectivas da tridimensionalidade nas esculturas são diversas. O trabalho pode ser projetado, como muitas esculturas arcaicas, para ser visto a partir de apenas uma ou duas posições fixas. Os escultores maneiristas do século XVI, por exemplo, fizeram um ponto especial de exploração da visibilidade geral da escultura. O Rapto das Sabinas, de Giambologna, por exemplo, obriga o espectador a andar ao redor da obra, a fim de compreender o seu desenho espacial. Não tem visões principais; suas formas se movem em torno do eixo central da composição, e seu movimento serpentino se desdobra gradualmente à medida que o espectador se movimenta para segui-las. FIGURA 33 – O RAPTO DAS SABINAS, DE GIAMBOLOGNA FONTE: <https://www.flickr.com/photos/21059194@N05/3195120901>. Acesso em: 21 mai. 2020. 38 UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE Grande parte da escultura de Henry Moore e outros escultores do século XX não se preocupa com esse tipo de movimento, e nem é projetada para ser vista a partir de qualquer posição fixa. Pelo contrário, é uma estrutura livremente projetada de formas multidirecionais, aberta, perfurada e estendida no espaço de tal maneira que o espectador é informado de seu design versátil, através de seu olhar dinâmico da obra. A maioria das esculturas construídas são dispostas no espaço com total liberdade e convidam à visualização de todas as direções. Em muitos casos, geralmente notados em obras contemporâneas, o espectador pode até caminhar por baixo ou por dentro da escultura (ROGERS, 2019). FIGURA 34 – ESCULTURA O PORTAL DAS NUVENS, ANISH KAPPOOR, CHICAGO, 2005 FONTE: <https://www.cirrusimage.com/wp-content/uploads/2016/09/chicago-cloud-gate1.jpg>. Acesso em: 22 set. 2019. A maneira como uma escultura faz contato com o solo ou com sua base é uma questão de considerável importância. Uma figura reclinada, por exemplo, pode, com efeito, ser um alto-relevo horizontal. Pode misturar-se com o plano do solo e parecer estar enraizada no solo como um afloramento de rocha. Outras esculturas, incluindo algumas figuras reclinadas, podem ser projetadas de tal forma que pareçam estar no chão e serem independentes de sua base. Outras são suportadas em um espaço acima do solo. A escultura projetada para ficar em pé contra uma parede ou um pano de fundo em um nicho pode estar na posição tridimensional no sentido de que não está presa ao fundo como um alto-relevo, mas não tem a independência espacial da escultura completamente autônoma e não foi projetada para ser vista de todos os ângulos. Deve ser projetada de modo que sua estrutura formal, natureza e o significado de seu objeto possam ser claramente apreendidos a partir de uma gama limitada de visões frontais. TÓPICO 2 — ESCULTURA: FORMA, IMAGINAÇÃO E SIMBOLISMO 39 As formas da escultura, portanto, geralmente se espalham principalmente na direção lateral e não na profundidade. A escultura pedimental grega ilustra essa abordagem de forma soberba: a composição é espalhada em um plano perpendicular à linha de visão do espectador e é completamente inteligível a partir da frente. Os escultores barrocos do século XVII, especialmente Bernini, adotaram uma abordagem bastante diferente. Embora alguns defendam um ponto de vista frontal coerente, ainda que ativo, Bernini é conhecido por ter concebido a obra Apollo e Daphne, na qual a narrativa se desdobrou em detalhes que eram apenas descobertos à medida em que o espectador andava à sua volta, começando pela retaguarda da obra. FIGURA 35 – APOLLO E DAPHNE DE BERNINI FONTE: <https://id14withmamquevedo.files.wordpress.com/2012/03/apollo-and-daphne1. jpg?w=990>. Acesso em: 22 set. 2019. A composição frontal da escultura de parede e nicho não implica necessariamente qualquer falta de tridimensionalidade nas próprias formas; é apenas o arranjo das formas que é limitado. Esculturas clássicas em frontões, esculturas de templos indianos como Khajuraho, esculturas de nicho gótico e figuras de túmulo de Michelangelo para a família Médici foram projetadas para serem colocadas contra um pano de fundo, mas suas formas são concebidas com um volume tridimensional (ROGERS, 2019). 40 UNIDADE 1 — A NATUREZA DA TRIDIMENSIONALIDADE 3 O RELEVO Escultura em alto-relevo é uma forma de arte complexa que combina muitas características das artes pictóricas bidimensionais e as artes esculturais tridimensionais. Por um lado, um relevo, como uma imagem, depende de uma superfície de apoio e sua composição deve ser estendida em um plano para ser visível. Por outro lado, suas propriedades tridimensionais não são meramente representadas pictoricamente, mas são em algum grau reais, como as da arte tridimensional. Entre os vários tipos de alto relevo estão alguns que abordam muito de perto a condição das artes pictóricas. Os relevos de Donatello, Ghiberti e outros artistas da Renascença fazem pleno uso da perspectiva, que é um método pictórico de representar relações espaciais tridimensionais realisticamente em uma superfície bidimensional. Os baixos-relevos egípcios e pré-colombianos também são extremamente pictóricos, mas de um modo diferente. Usando um sistema de convenções gráficas, eles traduzem o mundo tridimensional em um mundo bidimensional. A imagem de relevo é essencialmente uma das superfícies planas e não poderia existir em três dimensões. Seus únicos aspectos esculturais estão presentes através de um pequeno grau de projeção real de uma superfície e uma sutil modelagem de superfície. FIGURA 36 – ALTO-RELEVO DE GHIBERTI (ESQ.) E BAIXO-RELEVO EGÍPCIO (DIR.) FONTE: <https://bit.ly/2O2m5xl> e <https://bit.ly/2ZP5mmR>. Acesso em: 22 mar. 2020. Outros tipos de alto-relevo, por exemplo, o grego clássico e a maioria dos indianos, são concebidos principalmente em termos esculturais. As figuras habitam um espaço que é definido pelas formas sólidas das próprias figuras e é limitado pelo plano de fundo. Este plano traseiro é tratado como uma barreira finita e impenetrável na frente
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