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1 FABRICAÇÃO DE CIMENTO PORTLAND FUNDAMENTOS BÁSICOS DA CALCINAÇÃO E CLÍNQUERIZAÇÃO ENGENHARIA DE PROCESSO MANUAL TÉCNICO 1 a PARTE Eng. Hélio Farenzena 2 ÍNDICE CAPITÚLO I ORIGEM E EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE CIMENTO PORTLAND Introdução Histórico Cimento Romano Cimento Inglês Cimento Portland Cimento Portland no Brasil Fornos rotativos de clínquerização Considerações Definição Processo de clínquerização via úmida Processo de clínquerização via semi-úmida Processo de clínquerização via semi-seca Considerações relativas ao sistema Lepol Descritivo sucinto do sistema Lepol O sistema Lepol pode ser introduzido no sistema semi-úmido e semi-seca Fornos rotativo de clínquerização via seca Forno rotativo de clínquerização via seca longo Forno rotativo de clínquerização via seca com pré-aquecedor de ciclones Princípio de funcionamento do pré-aquecdedor de ciclones Pré-aquecedor com torre vertical de colunas e câmaras de turbilionamento CAPITÚLO II FORNOS DE CLÍNQUERIZAÇÃO DE CONCEPÇÃO MODERNA Fornos de clínquerização concepção moderna dotados com sistema de pré-calcinação Considerações Principais tipos de fornos via seca Comprimento médio dos fornos rotativo Fluxograma esquemático de uma planta moderna de fabricação de cimento CAPITÚLO III TEORIA DA CALCINAÇÃO E CLÍNQUERIZAÇÃO Noções básicas de Termodinâmica Definição 3 Energia térmica Classificação de energia térmica Lei da conservação da matéria Lei da conservação da energia Calor Reações exotérmicas Reações endotérmicas Capacidade térmica ou calor específico Mudança de fase ou de estado Evaporação Vaporização Calor sensível e calor latente Temperatura Escalas de temperaturas Estudo dos gases Introdução Comportamento dos gases Calor específico dos gases Princípio básico dos gases Valores absoluto de temperatura e pressão Lei das transformações dos gases Lei de Boyle-Mariotte Lei de Gay-Lussac Lei de Charles Lei geral dos gases - Conceito de Mol - Massa Molar Condições normais ou standart de um gás Transferência de calor Considerações Princípio da transferência de calor Mecanismo da transferência de calor - Condução - Convecção - Radiação Combustíveis e combustão Combustíveis Combustíveis sólidos de origem fóssil - Turfa - Linhito 4 - Carvão mineral - Hulha - Carvão vegetal Combustíveis líquidos - Fuel oil - Coque de petróleo Combustíveis gasosos derivados do petróleo - Gás natural - Gás liquefeito de petróleo (GLP) - Gás de Nafta Combustíveis gasosos derivados de carvão mineral - Gás de coquearia - Gás de alto forno - Gás de cidade Combustíveis a base de celulose Combustão Generalidades das reações de combustão Temperatura no processo de combustão - Temperatura de inflamação do combustível - Temperatura de ignição do combustível - Temperatura de combustão do combustível Características das reações endotérmicas e exotérmicas Composição do ar atmosférico Equações das reações de combustão - Combustão completa do carbono - C - Combustão do CO - Combustão do hidrogênio - Combustão do enxofre Poder calorífico dos combustíveis Entalpia de vaporização (HV) Principais gases resultantes da combustão Óxidos de nitrogênio–NOX - Thermal-NOX - Fuel-NOX - Prompt-NOX Oxido de enxofre–SOX Dióxido de carbono – CO2 Monóxido de carbono – CO Combustão em fornos de clínquerização Aproveitamento da energia de combustão 5 Combustão com excesso de ar de queima Combustão primária e secundária - Combustão secundária - Combustão primária - Fatores que influem na chama Características dos combustíveis utilizados em fornos de clínquerização Combustíveis líquidos - Características dos atomizadores mecânicos - Processo de nebulização dos combustíveis líquidos Combustíveis gasosos Combustíveis sólidos Preparação dos combustíveis sólidos - Secagem - Moagem - Granulometria ou tamanho ideal das partículas - Temperatura de ignição das partículas - Tempo de combustão das partículas - Atmosfera redutora para combustão das partículas Generalidades das reações envolvidas no processo de calcinação e clínquerização Reações exotérmicas Reações endotérmicas Evaporação da água livre e adsorvida da farinha Desidratação das argilas Decomposição do carbonato de magnésio– MgCO3 Decompsição do carbonato de cálcio – CaCO3 Consideração relativas ao processo de descarbonatação - Relação entre temperatura e pressão de CO2 - Relação entre a temperatura e a concentração de CO2 - Cinética das reações de dissociação do CaCO3 - Transformações físicas CAPITULO IV Transferencia e distribuição de calor nos sistemas de calcinação e clínquerização Considerações Troca térmica entre material, ar e gases No circuito da torre de ciclones No circuito do forno rotativo - Na zona de calcinação - Na zona de clínquerização 6 - Na zona do primeiro resfriamento No circuito do resfriador de grelhas - Na zona de recuperação de calor - Na zona morta ou zona complementar de refrigeração Distribuição de calor ao longo do sistema forno de clínquerização Considerações Distribuição de calor nos pré-aquecedores de ciclones e pré-calcinadores - Nos sistemas convencionais - Nos sistemas dotados com pré-calcinadores Concepção construtiva dos sistemas de pré-calcinação Considerações Classificação dos sistemas de pré-calcinação Sistema ‚SP‛(Suspension Preheater Kilin) Sistema ‚AT‛(Air Througt) Sistema ‚AS‛(Air Separate) - Sistema ‚ILC‛- In Line Calciner) - Sistema ‚SLC‛- Separate Line Calciner Outras configurações de pré-calcinadores - Sistema ‚SLC-S‛- Separate Line Calciner- Special Fatores que influem no perfil de temperatura e perda de carga do pré-aquecedor Circulação de material Eficiência e perda de carga dos ciclones - Vantagens proporcionadas pelos ciclones de ultima geração Válvulas pendulares Espalhadores de material Ar falso Fatores que influem na cinética de combustão e eficiência de descarbonatação Principais sistemas de pré-calcinação Sistema de pré-calcinação e calcinadores tradicionais Pré-calcinadores tradicionais da F.L.Smidth Descrição sucinta do funcionamento - Modelo ‚ILC-E‛ - Modelo‚ILC‛ - Modelo ‚SLC‛ Modelo ‚RSP‛(Reiforced Suspension Preheater) da Onoda – Japão Nova geração de pré-calcinadores para queima de combustíveis de baixa reatividade Pré-calcinadores da F.L.Smidth Descrição sucinta do funcionamento - Modelo ‚SLC-S‛ - Modelo ‚SLC-SX‛ 7 - Modelo ‚SLC-D‛ Bibliografia consultada 8 FABRICAÇÃO DE CIMENTO PORTLAND FUNDAMENTOS BÁSICOS DA CALCINAÇÃO E CLÍNQUERIZAÇÃO ENGENHARIA DE PROCESSO MANUAL TÉCNICO 1 a PARTE Eng. Hélio Farenzena 9 CAPÍTULO - I ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS PROCESSOS DE CALCINAÇÃO E CLÍNQUERIZAÇÃO I)- Introdução: Na fabricação de cimento portland, cada fase ou estágio do processo envolve um conjunto de controles e operações unitárias, as quais são responsáveis pelas transformações físico-químicas, termoquímicas e mineralógicas das matérias-primas, desde o estado original (calcário, argilas e outros materiais corretivos e aditivos), até o estado final (cimento), passando, entretanto, por vários estágios intermediários. De forma análoga a outras tecnologias, o processo de fabricação de cimento portland, passou ao longo de sua história por sucessivos aprimoramentos, sendo hoje, por este motivo, uma tecnologia conhecida e consagrada em todos os países do mundo. A etapa de calcinação e de clínquerização ou cozedura dos materiais crus é considerada a fase central e mais complexa do processo de fabricação de cimento portland. Nesta etapa, nos processos via seca, os materiais crus após secos e finamente moídos e homogeneizados são gradativamente submetidos ao processo de aquecimento, calcinação, clínquerização e resfriamento em fornos rotativos de clínquerização industrial de grande porte, objetivando através deste processo térmico e termo-químico, em que o material atinge temperaturas de até 1450C, inicialmente promover o aquecimento e a secagem dos materiais crus, bem como, a desidratação dos minerais argilosos e a descarbonatação do carbonato de cálcio e magnésio (CaCO3 e MgCO3), transformando-os em seus óxidos correspondentes com a liberação de gás carbônico (CaCO3 CaO + CO2 e MgCO3 MgO + CO2 ) e, posteriormente, a combinação do CaO com os demais compostos primários ou principais (SiO2, Al2O3, Fe2O3), juntamente com os componentes secundários ou minoritários (Mg, S, K, Na, P, Mn, Ti, F, Cl entre outros), proveniente das matérias-primas e das cinzas dos combustíveis utilizados no processo de cozedura, transformando-os ao final deste processo em um composto granular incandescente com nódulos subcentimétricos e centimétricos denominado de ‚Clínquer Portland‛ que, após deixar o forno é submetido ao processo de resfriamento passando o mesmo, em função disto, de coloração vermelha rubra, para uma coloração preta fosco. A calcinação e a clínquerização constitui-se, portanto, de um conjunto de transformações físicas e reações termoquímicas (sólido-sólido e sólido-líquido), a partir da mistura de materiais crus, dando origem ao clínquer portland, que é um composto com propriedades hidráulicas formado basicamente por quatro compostos cristalinos (óxidos cristalinos) essenciais (C3A, C4AF, C2S e C3S), que são os principais responsáveis pela mineralogia, morfologia, características físico-químicas e hidráulicas do clínquer e do cimento portland. 10 Calcinação Farinha crua CALOR Clínquerização CLÍNQUER PORTLAND Resfriamento II)- Histórico. A palavra cimento é originada do Latim‚CAEMENTU‛, que significava na velha Roma, espécie de pedra natural de rochedos. É muito difícil precisar quando ocorreu a primeira construção em que se tenha utilizado material de caráter cimentício como ligante, entretanto podemos aceitar que a origem destes materiais remonta a cerca de mais de 4000 anos. Assim, as primeiras construções egípcias foram feitas de tijolos confeccionados com lama do rio Nilo, com ou sem adição de fibras vegetais. Esses tijolos eram secos ao sol e, posteriormente, ligados entre si por camadas úmidas da mesma lama formando, portanto, uma peça sólida de tijolo e argila. Não muito longe dali, os Babilônios e Assírios utilizavam tijolos de argila e placas de gipsita (gesso natural) queimados e, cimentados com betume. Embora muito eficaz, este método se restringia àquelas regiões com depósitos naturais desses materiais, não sendo copiado por outras civilizações. Posteriormente vieram as construções de alvenaria dos Egípcios, cujo princípio era muito semelhante ao sistema atual de blocos unitários e placas rochosa ligadas por argamassa, constituída por uma mistura de areia e material cimentício. Existe na literatura uma grande controvérsia em relação ao primeiro material cimentício utilizado. Pensou-se, durante muito tempo que esse material seria a cal derivada da calcinação de rochas calcarias, entretanto, verificou-se posteriormente que o material utilizado era um gesso impuro contendo subordinadamente substâncias como carbonato, materiais argilosos, quartzo e outros. A razão pelo qual os Egípcios passaram utilizar gesso ao invés de cal, apesar do calcário ser mais abundante e acessível que a gipsita, era a escassez de combustível para a calcinação adequada das rochas calcarias as quais eram calcinadas a temperaturas próximas de 800·C, ao passo que a gipsita necessitava de apenas 160C. Von Landsberg, baseando-se em achados arqueológicos acredita que a utilização de argamassa contendo cal seja muito antiga, e que obras como as pirâmides do Egito e a grande muralha da China tenham sido erguidas utilizando-se argamassas contendo esses materiais. Para Davis, ao que tudo indica, os Gregos foram os primeiros a utilizarem a cal como aglomerante, inicialmente na Ilha de Creta, sendo difundido posteriormente para a Grécia e para a Itália, onde os Etruscos foram pioneiros, seguido pelos Romanos. Esses povos utilizavam também certos materiais naturais que, quando finamente moídos e misturados à argamassa de cal e areia, proporcionavam resistências mecânicas muito superiores àquelas obtidas sem a sua adição. Na Grécia, o material utilizado era um tufo vulcânico encontrado na Ilha de Thera (hoje Santorim), cuja qualidade goza de boa reputação mesmo nos dias de hoje. 11 Por outro lado, na Itália o material adicionado à cal correspondia a um tufo vulcânico de coloração avermelhada encontrado em diferentes pontos próximo à Baía de Nápoles. Uma vez que os materiais de melhor qualidade provinham da vizinhança do Monte Pozzuoli, o mesmo recebeu o nome de POZOLANA, sendo esta denominação posteriormente estendida para todos os materiais que apresentavam características semelhantes ao material do Monte Pozzuoli. As grandes obras gregas e romanas como o Panteão e o Coliseu, foram construídas com o uso desses materiais. Quando os Romanos não dispunham de pozolanas naturais, recorriam a produtos de argilas calcinadas como telhas ou cerâmicas moídas, que misturadas com a cal proporcionavam efeitos similares. Acredita-se que o emprego dessas pozolanas artificiais se originou na Ilha de Creta, sendo posteriormente utilizadas pelos Romanos. À qualidade das edificações Gregas e Romanas, até hoje surpreende a engenharia. De fato, como testemunho da excelência do processo de fabricação, encontramos ainda em nossos dias numerosas obras do Impero Romano, demonstrando que sua construção nãofoi um produto da casualidade, mas sim resultado de um profundo conhecimento da técnica de fabricação. Até 1750, havia uma absoluta falta de clareza com relação às propriedades dos aglomerantes hidráulicos (cimentos) até então produzidos e utilizados. O grande passo no desenvolvimento do cimento foi dado em 1756 pelo engenheiro inglês Jhon Smeaton que conseguiu desenvolver um produto de alta resistência por meio da calcinação de calcários moles e argilosos. Nesta data, Smeaton teve a incumbência de reconstituir o farol de Eddystone localizado na costa Cornwall (Inglaterra), que havia sido destruído por um incêndio. Em virtude da necessidade de identificar um material adequado que suportasse a severa ação da água do mar, este engenheiro pesquisou várias jazidas de calcário e verificou que ao contrário do que se acreditava até então, os melhores resultados eram obtidos através da calcinação de rochas calcarias que contivessem uma proporção considerável de materiais argilosos. Pouca importância se deu ao fato na época, porém essa observação foi considerada uma das mais importantes da história dos aglomerantes hidráulicos, pois, estudos posteriores destes materiais, revelaram a formação de silicatos e aluminatos de cálcio quando do cozimento da mistura de calcário com argila, dando como produto um composto com propriedades aglomerantes e hidráulicas, de boa qualidade. Na conclusão de seus testes, Smeaton fez uma observação interessante: ‚Em relação aos corpos de prova que foram mantidos de forma contínua sob a água, não parecem inclinados a variarem na forma, mas apenas a adquirirem dureza gradualmente, tanto que não tenho dúvidas de que fiz um cimento de características iguais as melhores pedras de Portland, tanto em solidez quanto em durabilidade‛. Muito provavelmente, o termo ‚cimento portland‛ adveio desta comparação de Smeaton entre seu cimento recém criado e a localidade de Portland, de onde se extraíam as rochas calcarias comercializadas na época. Assim, Smeaton legou a humanidade de que a mistura calcário e argila produzem cimento. 12 Cimento Romano: Em 1796 na Inglaterra, Josef Parker introduziu o então chamado ‚Cimento Romano‛ (originalmente denominado de Cimento de Parker), que exceto suas propriedades hidráulicas e coloração marrom, pouco lembrava as argamassas romanas preparadas a partir da cal apagada e pozolanas. De acordo com as especificações de Parker, o ‚Cimento Romano‛, derivava da queima de concreções ou nódulos argilosos intimamente associados com material carbonático. É interessante observar que no processo produtivo descrito por Parker, os nódulos contendo associações de materiais argilosos e carbonático, eram divididos a pequenos fragmentos e, então, queimados a temperaturas superiores às até então utilizadas no processo de fabricação de cimento, isto é, a temperatura atingida neste processo era quase suficiente para fundir ou vitrificar a mistura, que depois de resfriada e reduzida a pó, o material obtido era então a base do Cimento de Parker. Analisando as observações de Parker, parece ter sido ele a primeira pessoa a vislumbrar a importância de uma queima mais enérgica para a obtenção de um cimento de melhor qualidade. Efetivamente o material produzido por Parker tornou-se um dos melhores cimentos da época, e varias experiências foram feitas no sentido de imitar e aprimorar a metodologia de fabricação desenvolvida por Parker. Os primeiros testes e experiências para a produção de cimento artificial em escala industrial por calcinação a altas temperaturas de uma mistura artificial composta em proporções definidas de calcário e argila ocorreram em meados de 1818 na França por Vicat, que, apesar do êxito, a mesma por razões econômicas (escassez de energia e de tecnologia), não teve continuidade naquele país, sendo alguns anos mais tarde colocada em prática e patenteada na Inglaterra por Joseph Aspedin. Vicat observou que, ao contrário do que afirmava Smeaton, não era apenas as rochas calcarias naturais, relativamente impuras, as únicas que proporcionavam a obtenção de materiais hidraulicamente ativos. Segundo seus estudos e experimentos, a qualidade hidráulica das cales estava associada a um conteúdo adequado de material argiloso que poderia ser misturado artificialmente, inclusive em proporções ideais ou otimizadas. Devido às suas experiências, muitos autores consideram Vicat o inventor do comento portland. De forma análoga, o cientista holandês J.John também verificou a importância de materiais argilosos em misturas com calcário para a obtenção de produtos hidráulicos de excelente qualidade. Cimento Inglês: Avançando um pouco mais no tempo, tem-se o registro dos trabalhos realizados na Inglaterra por James Frost, que já se valia dos conhecimentos estabelecidos por Vicat, fabricando um cimento com características hidráulicas a partir da mistura de duas partes de cal e uma de argila, sendo denominado de ‘Cimento de Frost‛. 13 Em 1822, todavia Frost fundamentado nas experiências de Vicat abandonava o antigo procedimento de produção de cimento e patenteava um novo produto sob a designação de ‘Cimento Inglês‛. O novo cimento era obtido através da queima de calcário ou margas calcarias, os quais eram praticamente isentos de qualquer mistura de alumínio e material argiloso, pois, já continham cerca de 20–40% de material silicoso ou sílica finamente moída e óxido de ferro. Os primeiros relatórios do início do século passado, baseados na patente de L.J. Vicar, em Paris (1818) e James Frost, em Londres (1822), descreviam os métodos de fabricação do cimento como sendo o resultado de um processo no qual se moia calcário com água e após misturava-se com uma certa quantidade de argila em forma de lama que, depois de homogeneizados eram colocados em locais apropriados para secagem natural. Após a mistura ter adquirido uma certa consistência, à mesma era calcinada em fornos de cal em forma de garrafa, denominados de fornos verticais. A capacidade dos primeiros fornos verticais de clínquer era em média da ordem de 15 a 30 t/semana, e a movimentação dos materiais de uma seção para a outra, era efetuado através carrinhos de mão. Cimento Portland: Em 21 de outubro de 1824, o construtor inglês Joseph Aspdin calcinou uma mistura de pedras calcárias e argilas, transformando-as posteriormente em num pó fino. Este construtor percebeu a obtenção de um composto hidráulico que, após sua cura quando hidratado, alem de não se dissolver em água, tornava-se tão duro quanto às pedras empregadas em suas construções. No mesmo ano esta mistura foi patenteada por este construtor com o nome de ‚Cimento Portland‛, por apresentar cor e propriedades de durabilidade e solidez semelhante às rochas da ilha britânica de Portland. Desta forma, a invenção do cimento portland foi creditada a Joseph Aspdin, fato este contestado por muitos autores, uma vez que tanto a fabricação quanto à denominação do produto não foram completamente originárias dele. De fato, Aspdin utilizando-se dos conhecimentos adquiridos por seus antecessores, produziu um ligante hidráulico em condições praticamente semelhantes àquelas de cimentos anteriormente produzidos, sobretudo ao cimento de Vicat, Smeaton e Jhonson. Em 1843, Isaac Charles Johnson, ao tentar elaborar um cimento com características similar dos até então produzidos, deparou-se que por motivo acidental parte do material contido no interior do forno ficou exposta a uma temperatura superior a aquela normalmente utilizada e se fundiu. Para sua surpresa, depois de decorrido algum tempo, verificou-se que o cimento produzido a partir dos nódulos parcialmente fundidos ou escorificados, exibia uma resistência mecânica muito superior em relação aos cimentos produzidos com o material submetido a uma queima mais branda. 14 A partir desta data, a continuidadedos experimentos de Johnson possibilitou avançar às experiências no sentido da otimização da temperatura de queima ou cozedura dos materiais crus de forma a se obter um produto escorificado em presença de fase líquida e, portanto, a fabricação de cimentos hidráulicos com características similares às dos Cimentos Portland produzidos atualmente. Na verdade, só a partir de 1845 é que se conseguiu um processo eficiente de calcinação de forma a transformar uma grande quantidade de materiais crus em um sinter denominado de clínquer, o qual proporcionou a partir deste momento, um grande incremento do potencial hidráulico dos cimentos melhorando assim, consideravelmente a qualidade dos mesmos. A partir desta data a industria cimenteira como um todo se desenvolveu rapidamente, devendo-se, entretanto, a Smeaton, Vicat e Jhonson, o desenvolvimento e a evolução dos cimentos ou aglomerantes hidráulicos. Em 1852, o fabricante de cimento George Frederick White, em frente ao Instituto dos Engenheiros Civis em Londres, desvendou publicamente o processo de fabricação de cimento empregado em sua fábrica que consistia no seguinte: ‚O calcário e a argila eram misturados em proporções quimicamente definidas que, depois de moídos com água, a mistura era transferida para recipientes apropriados para redução parcial da umidade‛. Uma vez alcançada certa consistência, os materiais eram então alimentados aos fornos de cal vertical para ser processada a queima. Na produção deste tipo de cimento, o processo de calcinação era mais severo do que no processo da calcinação de cal ou do cimento romano. Em 1880, deu-se um passo importante ao desenvolver-se os fornos verticais de operação continua, os quais, proporcionaram um grande aumento da capacidade produtiva e melhor rendimento térmico em relação aos anteriores. A partir de 1877 foram realizadas várias experiências com fornos rotativos e em 1897 foi desenvolvido por Hurrye e Scaman na América do Norte o primeiro forno rotativo capaz de operar com sucesso com produção de clínquer da ordem de 50 t/d. Esses primeiros fornos rotativos eram fornos via úmida com uma emissão de pó equivalente a um terço do material alimentado e com um consumo específico de calor da ordem de 3000Kcal/Kg de clínquer. Foram necessários ainda quase trinta anos até que se pudesse conseguir uma redução substancial do elevado consumo térmico deste processo. Em 1928 o Dr. Otto Lellep deu um passo importante nesta direção, desenvolvendo o pré- aquecedor de grelha transportadora (fig.07), alimentada com nódulos de pasta com teor de umidade da ordem 50 - 60% inferior aos teores de umidade praticados pelos processos via úmida (redução do teor de umidade de 36% para 20%). Esta invenção foi adotada pela empresa fabricante de equipamentos Polysius e recebeu o nome de ‚LEPOL‛ (‚Le‛ e ‚Pol‛ da primeira silaba de Lellep e Polysius respectivamente). Este novo desenvolvimento permitiu uma 15 redução do consumo específico de calor da ordem de 30-35% em relação aos processos via úmida. Em1934 surgiu uma patente Tcheca de um pré-aquecedor de material cru seco (farinha) em suspensão através de ciclones e, em 1951, a empresa Kloeckner-Humboldt-Deutz, na Alemanha, instalou em um forno rotativo o primeiro sistema com pré-aquecedor de material cru em suspensão por ciclones. A partir deste momento este tipo de sistema tornou-se predominante em virtude da grande economia de calor que ele proporcionava, entretanto, o grande obstáculo para a migração de fornos via úmida e semi-úmida para os fornos via seca com pré-aqucedor em suspensão, residia no fato de que a única forma de se conseguir uma boa homogeneização dos materiais crus era em forma de pasta através da moagem via úmida. Com o advento das modernas e eficientes técnicas de controles da homogeneização dos materiais crus secos, tais como, pilhas de pré- homogeneização, silos de homogeneização por bateladas ou de homogeneização contínua dotados com câmaras de mistura, este tipo de problema foi pouco a pouco sendo superado. Como a evolução do processo de pré-aquecimento em suspensão, surgiram a partir de 1966 os primeiros sistemas de pré-aquecedores em suspensão dotados com pré-calcinadores os quais proporcionaram um aumento significativo no grau ou nível de descarbonatação e calcinação dos materiais crus antes dos mesmos ingressarem no forno rotativo e, em conseqüência disto, um grande aumento na capacidade produtiva dos fornos rotativos. Cimento Portland no Brasil: No Brasil, a primeira tentativa de aplicar os conhecimentos relativos à fabricação de cimento portland ocorreu por volta de 1888, quando o comendador Antônio Proost Rodovalho empenhou-se em instalar uma fábrica em sua fazenda em Santo Antônio, em Juiz de Fora (Minas Gerais). Posteriormente, várias tentativas esporádicas foram efetuadas, entretanto, com pouco sucesso. A usina de Rodovalho operou de 1897 até 1904, quando paralisou a produção, voltando a operar novamente em 1907 e, extinguindo-se definitivamente em 1918. Em 1892 foi inaugurada uma fábrica na Ilha de Tiriri, no Roa Grande do Norte, que só funcionou por três meses. Em 1897 foi instalada uma outra fábrica que também funcionou poucos meses. Em 1912 houve a montagem da fábrica Monte Líbano, em Cachoeiro do Itapemerim, pelo Governo do Espírito Santo fundou em 1912, que funcionou até 1924, voltando a operar em 1936, porem com novas instalações. Todas essas etapas não passaram de meras tentativas que culminaram em 1924 com a implantação, pela Cia de Cimento Portland Perus, de uma fábrica em Perus, no Estado de São Paulo, cuja entrada em operação em 1926 pode ser considerada como o marco da atividade cimenteira no Brasil. Naquele ano, 100% das 410.000t/anos consumidas no Brasil eram importadas. 16 Até então o consumo de cimento no Brasil era modesto e o produto era importado. A produção nacional foi gradativamente se elevando com a implantação de outras fábricas, sendo que a participação de cimento importado oscilou durante décadas até praticamente desaparecer nos dias de hoje. Em 1939, o Brasil possuía cinco fábricas e apenas 5% do cimento era importado. Em 1953, o Brasil possuía 15 fábricas e o consumo de cimento era de três milhões de toneladas ano, sendo que um milhão de toneladas eram importadas. Atualmente (2002) a produção média de cimento no Brasil é da ordem 40.000.000t/ano. A industria brasileira de cimento passou ao longo de sua história por profundas modificações, sempre procurando adequar-se à modalidade técnica dos paises desenvolvidos e à realidade brasileira. Hoje 100% das fábricas são via seca, com consumo específico de calor médio da ordem de 750–850Kcal/Kg de clínquer. O combustível utilizado também teve que se adequar à realidade brasileira, tendo em 1985 substituído em até 95% a utilização do óleo combustível importado pelo carvão mineral. Atualmente o combustível mais utilizado é o carvão mineral e o coque de petróleo. Combustíveis derivados de biomassas, bem como, derivados de resíduos industriais e domésticos também estão sendo utilizados e testados. Verifica-se que essa industria, tem grande participação no processo de reciclagem de materiais residuais, tanto em relação aos que podem ser incinerados no forno, quanto àqueles utilizados como adição ativa no cimento, como, por exemplo, as escórias granuladas de alto forno e as cinzas volantes procedentes da combustão de carvão mineral em usinas termoelétricas. Fig.01 17 Fig.02 Fig.01 e 02-Fotos de fornos de calcinação primitivo tipo verticais ou em forma de garrafa. Fig.03-Fotografia de um dos primeiros fornos rotativos de clínquerização (F.L.Smidth) a entrar em operação na Europa em 1899 com diâmetro de 1,50m, comprimento de 18m e capacidade de 35t/d de clínquer portland. 18Fig.04-Fotografia ilustrando o transporte efetuado por tração animal da parte do tubo de um forno rotativo de clínquerização. Fig.05-Fotografia de um forno rotativo de clínquerização (F.L.Smidth – n 200), vendido em 1912 com diâmetro de 2,40m, comprimento de 50m e capacidade de 110t/d de clínquer portland. 19 Fig. 06-Foto ilustrando duas linhas de fornos rotativos de clínquerização dotados com pré-aquecedor de ciclones e resfriador de satélite. Fig.07-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com grelha de alimentação e pré-aquecimento de nódulos dos materiais crus (sistema Lepol) com duas câmaras de circulação dos gases no pré-aquecedor de grelhas. 20 III)- Fornos rotativos de calcinação e clínquerização. III.1)- Considerações: Conforme já foi citado, nos processos primitivos, o material destinado à produção de cimento era calcinado em fornos verticais de operação intermitente, semelhante aos processos atuais de produção de cal a partir da pedra calcária. Fornos verticais com concepção técnica bem mais evoluídas que os antigos, por razões próprias de condicionalismo regionais de exploração, ainda encontram-se em operação nos EUA e na Índia. Os primeiros fornos rotativos de clínquerização eram do tipo via úmida, com diâmetro da ordem de 1,8–2,0m e comprimento de 20–25m, isentos de qualquer tipo de pré-aquecimento e, portanto, consumiam quantidades elevadas de combustível e, emitiam e desperdiçavam grandes quantidades de pó para a atmosfera. III.2)- Definição: Conforme o próprio nome diz, trata-se de um cilindro metálico com comprimento normalmente superior a 40m construído com chapas espessas (30mm - 60mm), com diâmetro que pode variar de 2- 6 metros (normal 3,60- 4,80m), revestidos internamente com tijolo refratário específico e apropriado para suportar quando em operação, níveis de temperatura da ordem de 800 - 1600C, de forma a proteger a carcaça do cilindro contra ações térmicas (deformações), abrasividade do material e retenção de calor (isolante). Os fornos rotativos de clínquerização encontram-se levemente inclinados em relação ao plano horizontal (inclinação da ordem de 3 - 4% no sentido do fluxo dos materiais), e apoiados através de 2 a 6 anéis de rodamento em cima de bases dotadas com dois conjuntos de roletes de apoio para cada uma das bases, os quais, encontram-se adequadamente fixados e distribuídos ao longo do cilindro do forno. Via de regra, o forno rotativo é acionado mecanicamente por um conjunto de motor/redutor e coroa/pinhão e a velocidade máxima de giro do cilindro depende do tipo de processo de calcinação utilizado, situando-se, entretanto, na faixa de 1-5 rpm (normal de 2,6- 4,0rpm). Atualmente, os fornos rotativos de ultima geração, possui apenas duas bases de apoio, comprimento da ordem de 40 – 46m, e o acionamento é efetuado através dos roletes de apoio. O comprimento dos fornos rotativos esta diretamente relacionado ao tipo de processo utilizado e sua capacidade de produção. Nos fornos dotados com sistemas de pré-aquecimento dos materiais crus, na extremidade de entrada (entre a caixa de fumaça e o cilindro do forno), existe uma bica ou calha de transferência do material para o interior do forno (fig.66, pág.140). Neste caso, a interface caixa de fumaça e forno rotativo é dotada com sistema apropriado de selagem para evitar a entrada de ar externo (ar falso) ao sistema. A extremidade de descarga do clínquer dos fornos rotativos dotados com resfriador de grelhas ou tubular, é acoplada ao cabeçote do forno, que nada mais é do que uma seção intermediaria alargada existente entre o forno e o resfriador, a qual tem como principal função, a transferência do clínquer do forno para o interior do resfriador, condução do ar de recuperação de calor (ar secundário para o interior do forno, 21 apoio do maçarico ou queimador de combustível e em alguns casos para a retirada de ar quente para o pré-calcinador (ar terciário). Nota: Não é objeto deste trabalho estudar e discorrer sobre o princípio de funcionamento dos fornos rotativos de clínquerização via úmida, semi-úmida, semi-seca, via seca longo e via seca com apenas um ou dois estágios de ciclones, até porque, esses tipos de processos fazem parte do passado, entretanto, a titulo ilustrativo e didático, faremos a seguir uma breve descrição e, na seqüência, ilustraremos de forma esquemática cada um destes processos. III.2.1)- Processo de clínquerização via úmida: Neste tipo de processo, o material cru na forma de uma pasta com cerca de 32-38% de água é bombeado da bacia de homogeneização para a extremidade de entrada do forno (saída dos gases de exaustão gerados no processo). O material alimentado, neste caso flui ou avança lentamente através do forno rotativo passando, gradativamente pela zona de secagem (zona de correntes), zona de pré-aquecimento, zona de calcinação ou descarbonatação, zona de clínquerização ou de alta temperatura e zona de primeiro resfriamento que corresponde à região do forno localizada entre o início da formação da chama e a descarga do forno. O processo final de resfriamento ou, também denominado de segundo resfriamento, ocorre no resfriador industrial, o qual, pode ser fabricado de três diferentes concepções construtivas, a saber: a)- Resfriador tubular rotativo dotado com tambor ou tubo único; b)- Resfriador tubular tipo Satélite constituído por múltiplos tubos (9-11) acoplados à extremidade de descarga do forno. Este tipo de resfriador é também chamado de resfriador Unax ou Planetário c)- Resfriador de grelhas com movimento das mesmas de forma continua ou alternada (avanço/recuo). Nota: 1a)- Embora não seja objeto de discussão destes equipamentos neste capítulo, genericamente podemos dizer que a principal função dos mesmos é a recuperação de calor do clínquer, isto é, o clínquer portland ao abandonar o forno rotativo, cai no resfriador industrial com uma temperatura da ordem de 1250-1400C, e é resfriado através da troca de calor com o ar ambiente insuflado através da camada de clínquer do resfriador. O clínquer depois de resfriado abandona o resfriador com uma temperatura média ( dependendo do tipo e da eficiência de troca térmica do resfriador), da ordem de 80 - 180C. 22 Fig.08- Representação esquemática das três versões construtivas de resfriadores industriais utilizados em fornos de clíquerização. 2a)- Por outro lado, o ar insuflado no resfriador, ao trocar calor com o clínquer se aquece e é utilizado na sua maior parte como ar para combustão dos combustíveis que sustentam a fonte geradora de calor para o processo de secagem, pré-aquecimento, calcinação, clínquerização; 4 a )- A preocupação de reduzir o elevado consumo térmico deste tipo de processo, bem como, o elevado desperdiço de material descartado para a atmosfera em forma de pó pela chaminé, concorreu, em um primeiro instante, para a introdução de sistemas trocadores de calor no interior do cilindro do forno, tais como, cortinas de correntes e cruzetas de aço ou de cerâmica localizados na zona de secagem e de pré-aquecimento dos materiais conforme ilustrado na fig.09; 23 5a)- Neste tipo de processo, devido à alta emissão de pó que, apesar das constantes otimizações, ainda persiste, os mesmos em função disto, praticamente não possuem problemas de circulação e condensação de componentes voláteis (álcalis, enxofre e cloretos) no interior do forno, pois estes componentes são eliminados com o pó descartado do sistema pela chaminé; 6a)- O forno via úmida de maior porte do mundo encontra-se instalado nos EUA (Dundee Cement Co. - Michigan), o qual possui diâmetro de 7,60m, comprimento de 232m e capacidade de produção de 3600t/d. Fig.09-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização via úmidadotado de corrente na zona de secagem e pré-aquecimento e resfriador de clínquer tipo satélite. III.2.2)- Processo de clínquerização via semi-úmida: Neste tipo de processo, o material cru em forma de uma pasta úmida é extraído da bacia da homogeneização, é submetido ao processo de filtragem em filtro-prensa, que tem como objetivo reduzir o teor inicial de água de 32-38% para valores da ordem de 18-22%. Após o processo de filtragem, os materiais crus podem ser alimentados diretamente ao forno rotativo em forma de flocos ou de nódulos, ou alimentados a um sistema de grelha para secagem, pré-aquecimento e calcinação parcial (sistema Lepol) e, posteriormente, introduzidos ao forno. Nota: Os fornos rotativos de clínquerização via úmida e semi-úmida, normalmente, com a finalidade de melhorar suas eficiências térmicas e, portanto, seus consumos específicos de calor, bem como, a estabilidade operacional e aumento da capacidade produtiva dos mesmos, são dotados de dispositivos ou sistemas específicos e apropriados para a otimização e maximização do 24 processo de secagem e pré-aquecimento dos materiais crus, como por exemplo, as cortinas de correntes instaladas internamente na zona de secagem e de pré-aquecimento, as quais, além de reter grande quantidade do pó que sairia com os gases, melhoram também, a troca de calor através do incremento da área especifica de troca térmica. Outros dispositivos podem encontrar- se instalados externamente ao forno rotativo como, por exemplo, os filtros de prensagem das pastas, pratos granuladores ou nodulizadores e as grelhas de secagem e pré-aquecimento como as do sistema Lepol, entre outros tais como, secadores de dispersão, secadores de impacto e secadores rápidos. Fig.10-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização (processo semi-úmido), dotado com sistema de filtragem da pasta, nodulizador e resfriador de satélite. III.2.3)-Processo de clínquerização via semi-seca:. Neste tipo de forno os materiais crus após processo de secagem, moagem e homogeneização a seco (farinha) são, posteriormente, no decorrer do processo de dosagem ao forno, umedecidos a um teor de água da ordem de 10-14% e, na seqüência, nodulizados em um sistema apropriado (prato nodulizador), e alimentados ao forno rotativo ou a um sistema de grelha Lepol. 25 Fig.11-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização semi-seco dotado com prato granulador e resfriador de satélite. III.2.4)- Considerações relativas ao sistema Lepol. A invenção e posta em marcha do forno rotativo dotado com grelha Lepol entre 1928 e 1932, concorreu especialmente na Europa, para um dos mais importantes avanços técnicos no processo de produção de clínquer. A redução drástica do consumo de combustível conseguida, aliada ao aumento da capacidade produtiva que este sistema proporcionou, contribuiu para que até meados de 1945 já estivesse em operação na Europa, cerca de 120 unidades com capacidade de 600t/24h e consumo específico de calor da ordem de 1000Kcal/Kg de clínquer. A partir de 1950 ocorreram novos avanços no sistema Lepol, isto é, a grelha Lepol passou a ter duas câmaras para circulação dos gases quentes e o consumo específico de calor foi reduzido para valores da ordem de 900Kcal/Kg de clínquer. Em função disto, entre 1950 e 1960 foi colocado em operação cerca de mais 300 novas unidades com capacidade produtiva da ordem de 3000t/24h. III.2.5)- Descritivo sucinto do processo Lepol. Consiste em se instalar antes do forno rotativo uma grelha móvel de movimento continuo (ver fig.07 e 12). Sobre a grelha móvel se deposita continuamente através da alimentação, uma camada de 15–20 cm de espessura de material cru em forma de nódulos. Os gases que fluem do interior do forno rotativo com temperatura da ordem de 1000-1100C juntamente com parte da fração mais quente do ar de resfriamento do clínquer são conduzidos para a parte superior da segunda câmara de circulação de gás da grelha, que ao atravessar a camada de material sobre a mesma neste ponto, proporciona uma grande troca de calor com o material. Na parte inferior da segunda câmara, os gases são succionados por um exaustor, que após parcialmente depurados por um conjunto de ciclones, são introduzidos na parte superior da primeira câmara de circulação de gases onde os mesmos atravessam a camada de material de cima para baixo e, posteriormente são descartados e purificados em um filtro eletrostático. A temperatura dos gases de descarte do sistema Lepol é da ordem de 100C e, graças à ação filtrante da camada de material os mesmos contem muito pouco pó. 26 Fig.12- Representação esquemática de um forno de clínquerização dotado com sistema ou grelha Lepol, bem como, sistema de purga dos álcalis, enxofre ou cloretos (by-pass). III.2.6)- O sistema Lepol pode ser introduzido no processo semi-úmido e semi-seco. Na literatura, para efeito de distinção é usual dividir o sistema Lepol em processo semi-úmido e semi-seco. No processo semi-úmido, os materiais crus na forma de uma pasta são preparados (moídos e homogeneizados) em sistema via úmida e, portanto, com teores de umidade da ordem de 36%, que após passar pelo processo de prensagem em filtro-prensa, o teor de umidade é reduzido para 18–22%. Por outro lado, no processo semi-seco, os materiais crus na forma de um pó (farinha) são preparados em processo via seca, porem no momento da alimentação na grelha Lepol, os mesmos são umidificados com aproximadamente 12–14% de água e granulados em um prato granulador (fig.11). Em ambos os sistemas os nódulos são alimentados em um sistema de grelha (fig.07), onde inicialmente os mesmos são submetidos em um primeiro estágio (primeira câmara), a secagem e pré-aquecimento, e na seqüência num segundo estágio (segunda câmara), a complementação do aquecimento e início do processo de desidratação das argilas e a descarbonatação parcial dos calcários (calcinação) e, a seguir, a alimentação dos mesmos ao forno rotativo. Neste tipo de sistema, o processo de secagem, pré-aquecimento e parte da calcinação, é efetuada através dos gases quentes provenientes do interior do forno rotativo e, em algumas situações, quando possível aproveita-se parte do excesso de ar utilizado no refriador para refrigeração do clínquer que, normalmente é descartado para a atmosféra. Nota: 1a)- O processo Lepol, concorreu para a eliminação da zona de secagem e pré-aquecimento dos fornos rotativos via úmida e semi-úmida e, conseqüentemente, para uma redução significativa do consumo específico de calor do processo de calcinação e clínquerização, em decorrência da 27 redução da perda por radiação relativo à parte do cilindro do forno eliminada, bem como, a redução do teor de água da pasta; 2 a )- O processo Lepol é muito apropriado para matérias-primas com umidade natural superior a 15%, ou oriundas do processo de flotação, bem como, para matérias-primas com quantidades consideráveis de álcalis, enxofre e/ou cloro, visto que nesse processo estes componentes são facilmente eliminados do circuito com o pó sem, entretanto, proporcionar perdas térmicas significativas e perturbações operacionais no processo; 3a)- Em contraste com o processo úmido e semi-úmido convencional, no sistema Lepol verifica- se que os gases passam duas vezes através da camada de nódulos existente em cima da grelha, isto é, primeiro os gases provenientes do interior do forno rotativo passam através da camada de nódulos já secos e aquecidos da segunda câmara da grelha, e na seqüência através de um sistema intermediário de despoeiramento e circulação destes gases, os mesmos juntamente com a fração de ar descartada do resfriador de clínquer, são introduzidos na parte superior da primeira câmara ou estágio da grelha atravessando a camada de nódulos recentemente alimentadose, portanto, ainda úmidos proporcionando, neste caso, uma espécie de filtragem ou retenção do pó; 4 a )- O sistema Lepol por funcionar com uma câmara secundária de pré-aquecimento e calcinação parcial, permite a queima de combustível secundário ou alternativo no interior da mesma, tais como, carvões pobres, rejeitos industriais com propriedades energéticas injetados diretamente na segunda câmara ou misturados com os materiais crus, proporcionando assim, entre outras coisas, um incremento da calcinação nesta etapa do processo e, conseqüentemente, um aumento da capacidade produtiva do forno; 5a)- Neste tipo de processo, devido ao fato do material alimentado ao forno ser nodulizado, normalmente se produz clínquer com granulometria uniforme, e a formação ou proporção de pó no interior do forno é baixa e, conseqüentemente, a emissão de material particulado para a atmosfera é reduzida, pois, os nódulos que formam a camada sobre as grelhas deixam passar apenas as partículas mais finas sendo as demais absorvidas pelos nódulos úmidos alimentados ao primeiro estágio da grelha; 6a)- A troca de calor sobre a grelha entre os gases e os flóculos ou nódulos que formam um leito ou camada de aproximadamente 20-25cm de espessura é muito boa, e o consumo específico de calor deste tipo de processo é da ordem de 900-950Kcal/ Kg de clínquer; 7a)- Na transformação de um sistema via úmida para semi-úmida dotado com sistema Lepol, a produção do forno praticamente dobra. Neste caso, normalmente o comprimento do forno é diminuído e o consumo específico de calor é reduzido de forma significativa. 28 Fig.13-Representação esquemática de uma planta de clínquerização dotada com sistema de preparação das matérias-primas via úmida e forno rotativo semi-úmido dotado com sistema de secagem e pré-aquecimento Lepol. III.2.7)- Processo de clínquerização via seca. Neste tipo de processo os materiais crus, após moagem e homogeneização a seco são dosados e alimentados ao forno rotativo ou ao sistema de pré-aquecedores em suspensão na forma de um pó fino denominado de farinha, com composição química e distribuição granulométrica apropriada e ajustada. Inicialmente conforme citado os fornos rotativos de clínquerização eram do tipo via úmida e, posteriormente, os mesmos evoluíram para processos semi-úmido, semi-seco e seco longo sem pré-aquecedor. Com o passar do tempo, em decorrência da evolução tecnológica, e na busca de tornar os sistemas existentes cada vez mais eficientes, principalmente no que diz respeito ao consumo específico de calor e aumento da capacidade produtiva, os fornos de clínquerização passaram a obedecer a uma nova concepção técnica construtiva, de forma que os mesmos, salvo em algumas condições e situações especiais, passassem a operar definitivamente em regime seco. Por outro lado, o processo via seca só passou a ser utilizado em grande escala, após ter sido superado os problemas de controle dos componentes químicos (principalmente os voláteis) e de homogeneização das matérias-primas cruas e da farinha, fatores estes, decisivos para a permanência em operação dos sistemas via úmida e semi-úmida por mais alguns anos. Obs.: O processo via seca fundamentalmente se caracteriza por três tipos ou modelos com concepções técnicas construtiva distintas, a saber: a)- Processo via seca sem sistema de pré-aquecimento por suspensão, também denominado de via seca longo; 29 b)- Processo via seca com sistema de pré-aquecimento por suspensão com quatro estágios de ciclones, também denominado de sistema convencional; c)- Processo via seca dotado com sistema de pré-aquecimento em suspensão com quatro a seis estágio de ciclones e sistema de pré-calcinação integrado a torre de ciclones (sistemas modernos ou de ultima geração). III.2.7.1)- Forno rotativo de clínquerização via seca longo: Consiste em um forno rotativo longo similar a um forno via úmida, sendo que neste caso o material alimentado ao mesmo na extremidade de saída dos gases do forno (alimentação no contra fluxo ou contra corrente), em vez de pasta é a farinha com aproximadamente 0,20 – 0,40% de umidade. Este tipo de processo apesar de utilizar material de alimentação seco é antieconômico em relação ao processo semi-úmido, pois concorre para uma grande perda de calor por radiação através da chapa do forno, bem como, com os gases e pó descartado do sistema para a atmosfera, pois, a temperatura destes gases é da ordem de 500- 600C. Em função disso, o consumo específico de calor é de 1000-1100Kcal/Kg de clínquer. A única vantagem deste tipo de forno é a simplicidade operacional, menor custo de investimento e principalmente a baixa sensibilidade a problemas de circulação de elementos químicos voláteis (álcalis, enxofre e cloretos), que em proporções excessiva concorreriam para a formação de incrustações nos pré- aquecedores de suspensão, e que neste caso, parte deles são descartados para atmosfera juntamente com o pó arrastado pelos gases, possibilitando em função disto, o uso de matérias- primas e combustíveis com maiores teores destes elementos em relação às proporções que poderiam ser utilizadas nos sistemas com pré-aquecedores por suspensão. Fig.14-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização via seca longo dotado com um estágio de ciclones para redução da emissão de pó e resfriador de satélite. III. 2.7.2)- Fornos de clínquerização via seca dotados com pré-aquecedor em suspensão: O processo de preparação das matérias-primas concorreu para a transformação dos processos via úmida e semi-úmida em sistemas de calcinação e clínquerização dotados com pré- aquecimento e calcinação em suspensão vertical com troca térmica mais eficiente. O sistema em 30 suspensão do material particulado levado a cabo em dutos verticais e posterior separação em ciclones tornou-se de vital importância na maximação da eficiência térmica de todo o conjunto forno rotativo de clínquerização. A técnica de calcinação e clínquerização em fornos rotativos dotados com pré-aquecedores em suspensão foi idealizada em meados de 1934 e, posteriormente, aperfeiçoada pela Humboldt, sendo que a primeira instalação industrial deste gênero dotada com quatro estágios de ciclones foi construída e colocada em operação somente em 1951 na Alemanha. A partir da posta em marcha dos pré-aquecedores de ciclones em suspensão os quais, inicialmente consistia, basicamente de um sistema dotado com um a dois estágios de ciclones dispostos verticalmente um em cima do outro e, interligados entre si através de dutos por onde circulam os gases e o material particulado, de lá para cá, se tornaram os sistemas mais importantes e eficientes para a produção de clínquer portland. Com o passar do tempo, os mesmos tiveram suas concepções técnicas construtivas otimizadas e, por um longo período de tempo, os pré-aquecedores em suspensão passaram a ter quatro estágios de ciclones. Posteriormente (1966), após o desenvolvimento e a implementação dos pré-calcinadores integrados à parte inferior da torre de ciclones, este numero passou para cinco e atualmente temos pré-aquecedores com até seis estágios de ciclones assunto que será abordado e discutido com maior profundeza no ‘Capitulo-IV‛deste trabalho. Nota: 1a)-Inicialmente, uma grande quantidade de fornos via úmida e semi-úmida foram transformados em via seca com um ou dois estágios de ciclones, principalmente em situações em que as matérias-primas continham problemas de materiais voláteis (álcalis, enxofre e cloretos). Quando as matérias-primas não apresentavam problemas críticos de materiais voláteis, a preferência era pelo pré-aquecedor de quatro estágios de ciclones. 2a)- Importante salientar que apesar do advento dos fornos via seca com pré-aquecedor de quatro estágios de ciclones em suspensão, os antigos processosainda continuaram sendo fabricados por alguns anos. A razão principal pela preferência do processo via úmida ou semi-úmida justificava-se pelo fato que a única maneira de se assegurar uma homogeneização efetiva dos materiais crus na época era na forma de pasta nas bacias de homogeneização. Posteriormente, com o advento dos sistemas de pilhas para a pré-homogeneização dos calcários e das argilas, bem como, dos silos de armazenamento e homogeneização da farinha, os processos úmido e semi-úmido ficaram para trás (obsoleto); 3a)- Como se deduz da própria denominação do sistema, nos pré-aquecedor de ciclones por suspensão os materiais crus em forma de pó, ao serem introduzidos próximo à parte inferior do duto ascendente do gás que sai do topo do ciclone e se interliga tangencialmente pela parte superior a outro ciclone instalado imediatamente acima deste, permanece em suspensão na corrente dos gases que por ali circulam proporcionando uma troca de calor ao material extremamente eficaz, concorrendo desta forma, para que ambas as partes (gás e material), 31 adquiram aproximadamente a mesma temperatura em um curtíssimo espaço de tempo (cerca de n máximo 2 - 3 segundos); 4 a )- A troca térmica entre material e gases que ocorre no fluxo concorrente ao sentido dos gases, é mais eficiente que a troca no contra fluxo ou contra corrente ao sentido dos gases, daí o porque do consumo específico de calor dos sistemas dotados com pré-aquecedores que operam no contra fluxo ser maior, como por exemplo, nos pré-aquecedores verticais (fig17); 5a)- Num pré-aquecedor de suspensão, cerca de 80 - 85% da troca térmica ocorre nos dutos de gases ascendentes e, portanto, no fluxo concorrente, e o restante ocorre no interior dos ciclones. O motivo da baixa eficiência de troca térmica dos materiais nos ciclones deve-se ao fato que no interior dos mesmos, em decorrência do efeito de ciclonamento, os materiais separam-se dos gases; 6 a )- Os gases e as partículas ao penetrar tangencialmente pela parte superior no interior dos ciclones, são quase que totalmente separados uns dos outros por efeito de ciclonamento. Neste caso, a maior parte das partículas devido ao efeito de ciclonamento e a ação da gravidade descem para o fundo do ciclone, onde são descarregadas e introduzidas na parte inferior do duto de gás quente que sai do ciclone do estágio inferior e assim sucessivamente até alcançar a bica de entrada do forno rotativo. Por outro lado, os gases que emergem do interior do forno rotativo percorrem o caminho no sentido inverso ao dos materiais e ao alcançar o topo do ultimo estágio de ciclone são descartados do sistema. Daí para frente os mesmos poderão ser aproveitados de forma total ou parcial no circuito de moagem de cru para secagem das matérias-primas, ou sofrer resfriamento em uma torre de arrefecimento e, posteriormente, serem purificados em filtros específicos e apropriados antes de serem lançados para a atmosfera; 32 Fig.15- Representação esquemática de uma torre de pré-aquecimento em suspensão dotada com quatro estágios de ciclones evidenciando a dinâmica dos gases e materiais no interior da mesma 7a)- Os sistemas de pré-aquecimento em suspensão dotados com quatro estágios de ciclones são também denominados de ‚sistemas de pré-aquecimento em suspensão convencionais‛; 8a)- Convencionalmente neste trabalho vamos definir que a seqüência da ordem de numeração dos estágios dos ciclones que compõe os pré-aquecedores em suspensão irá obedecer ao sentido do fluxo do material alimentado ao sistema, ou seja, o primeiro estágio de ciclones esta localizado no topo da torre de ciclone e os demais estágios (2o, 3o e 4o etc) estão localizados em ordem sucessiva abaixo deste; 9a)- A adoção de um sistema externo para redução do teor de água da pasta como, pó exemplo, o filtro-prensa, bem como para secagem, pré-aquecimento e calcinação dos materiais crus tais como pré-aquecedor de grelhas, de ciclones, colunas verticais e pré-calcinadores, proporcionou em conseqüência, para o encurtamento dos fornos rotativos de clínquerização, pois à parte do forno até então responsável pela execução destas fases do processo, neste caso são totalmente ou parcialmente eliminadas, concorrendo em conseqüência, para a redução do consumo específico de calor e aumento da capacidade de produção dos fornos em função das alterações efetuadas; 10a)- Em um forno rotativo de clínquerização via úmida, semi-úmida e semi-seca, o consumo específico de calor, principalmente até a fase de calcinação, evidencia claramente que é grandemente influenciado pelo teor de água a ser evaporada dos materiais crus, bem como, pela maior ou menor eficiência de troca térmica dos sistemas de pré-aquecimento e pré-calcinação 33 utilizados, embora fatores como, por exemplo, características físico-químicas e mineralógicas das matérias-primas, concepção técnica construtiva do sistema como um todo (ciclones, pré- calcinadores, sistema de combustão, resfriadores de clínquer etc.) e características do clínquer e cimento a ser produzido, também contribuem com parcelas diferenciadas no consumo específico de calor e rendimento térmico do sistema quando da produção de clínquer portland em escala industrial. Fig.16- Representação esquemática das possíveis transformações ou conversões técnicas de processo que poderão ser implementadas em um forno via úmida. 11 a )-Pré-aquecedor em suspensão composto por uma coluna vertical e quatro câmaras de turbilionamento: Conforme ilustrado nas figuras 17 e 18, trata-se de um pré-aquecedor vertical em suspensão o qual, é basicamente constituído por uma grande coluna ou cuba vertical seccionada através de estrangulamentos, em várias câmaras (3 a 4 câmaras), interligadas entre si e integrada na parte superior ou topo, por um estágio de ciclones compostos por um conjunto de dois ou quatro ciclones, os quais tem como função principal reduzir o arraste de pó para fora do sistema. A preferência por este tipo de pré-aquecedor em relação aos pré-aquecedores de ciclones, é que no caso das torres de ciclones que possuem altura da ordem de 60-80 metros, as mesmas necessitam ser suportadas ou apoiadas por estruturas de concreto ou de aço. No caso dos pré- aquecedores verticais de colunas, o próprio sistema é auto portante, não necessitando, portanto, da construção de estruturas suplementar para sustentação e apoio da mesma. Uma outra peculiaridade dos pré-aquecedores verticais de coluna, é que a troca de calor ocorre 100% no contra fluxo, ao passo que nos pré-aquecedores de ciclones como já foi visto, cerca de 80- 85% ocorre nos dutos ascendente dos gases e, portanto, no fluxo concorrente, e o restante no interior dos ciclones. 34 Fig.17-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com pré-aquecedor vertical de suspensão tipo cuba constituído por quatro estágios de câmaras de turbilionamento e um estágio superior composto por dois ciclones (sistema desenvolvido pela Krupp). Fig.18-Na parte esquerda da foto acima esta ilustrado o sistema descrito na figura anterior. Observar que a torre vertical não neces sita de estrutura de apoio, pois a sua montagem é auto portante. No lado direito da foto temos uma torre de ciclones apoiada com estruturas de concreto. 35 A seguir, a titulo de conhecimento, será ilustrado várias representações esquemáticas referentes a fornos rotativos de clínquerização via seca, dotados com os mais variados tipos e concepções construtivas de sistemas de pré-aquecimento e calcinação em suspensão. Fig.19-Representação esquemática de um forno rotativo de clinquerização dotado com pré-aquecedor em suspensão com dois estágios de ciclones e resfriador de satélite. Fig.20-a 36 Fig.20-b Fig.20-a e 20-b-Representação esquemática de duas torresde pré-aquecimento em suspensão similares. Observar que na parte inferior das mesmas, o sistema é composto por um conjunto de três câmaras dispostas verticalmente e na parte superior por quatro estágios de ciclones (sistema desenvolvido pela Wedag). Fig.21-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com resfriador de satélite e pré-aquecedor em suspensão com três estágios de ciclones e uma câmara de turbilionamento na parte inferior (sistema desenvolvido pela Miag). 37 Fig.22-a Fig.22-b Fig.22-a e 22-b-Representação esquemática de duas torres de pré-aquecedor em suspensão com três estágios de ciclones duplos e uma câmara de turbilionamento localizada na parte superior do ultimo estágio de ciclones (sistema desenvolvido pela Polysius e denominado de Torre Dopol). 38 Fig.23-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com resfriador de grelha e pré-aquecedor em suspensão com quatro estágios de ciclones. Fig. 24-Representação esquemática de um processo via seca convencional 39 CAPÍTULO – II FORNOS DE CLÍNQUERIZAÇÃO COM CONCEPÇÃO COSNTRUTICA MODERNA III.2.8)- Forno de clínquerização concepção moderna dotado com sistema de pré-calcinação. III.2.8.1)- Considerações: De maneira análoga ao ocorrido com os fornos rotativos via úmida, semi-úmida e semi-seca em relação aos antigos fornos verticais tipo garrafa de operação intermitente, podemos sustentar que com o passar dos anos a concepção técnica construtiva dos fornos de clínquerização via seca dotados com pré-aquecedor em suspensão, também evoluíram e sofreram alterações de importância significativas. Entre as principais mudanças, podemos citar a incorporação junto à parte inferior da torre de ciclones de uma câmara para combustão secundária denominada de ‚pré-calcinador‛, o qual, teve como principal finalidade permitir o incremento de 40–60% do total de combustível utilizado, incrementando assim, o grau de calcinação ou preparação dos materiais crus introduzidos no forno, reduzindo a carga térmica do mesmo e, conseqüentemente, a circulação de alguns elementos nocivos ao processo e ao meio ambiente, possibilitando também, alem do aumento significativo da capacidade produtiva, a queima de combustíveis alternativos geralmente de baixo custo e poder energético. Em 1966, em Dotternhausen (Alemanha), a Humboldt colocou em operação a primeira instalação industrial dotada com um segundo ponto de combustão, o qual se situava entre o ultimo estágio de ciclones do pré-aquecedor e a caixa de interligação e transferência de material para o forno ou duto de ascensão dos gases de saída do forno rotativo. Esta inovação consiste de uma câmara de combustão acoplada a um duto de ascensão gigante denominado de câmara de mistura ou de pós-combustão. Este duto gigante, normalmente encontra-se interligado na extremidade inferior da bica ou caixa de entrada ou transferência do material descarregado para o interior do forno rotativo e, tangencialmente ao topo do ciclone inferior do pré-aquecedor. Em alguns casos conforme ilustrado na fig.25, a câmara de combustão encontra-se separada, porém interligada com a câmara de mistura, entretanto, em outras situações a câmara de combustão é a própria câmara de mistura (fig.26). O conjunto da câmara de combustão e o duto gigante que funciona como uma câmara de pós- combustão e de mistura, é denominado de ‚sistema de pré-calcinação‛. A seguir ilustraremos de forma esquemática alguns tipos de fornos dotados com pré-aquecedor em suspensão e pré-calcinadores, utilizados no decorrer de muitos anos até os dias atuais. 40 Fig.25-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com torre de pré-aquecimento em suspensão simples, com quatro estágios de ciclones, com câmara de combustão instalada separado porem em série com a câmara de mistura e esta em linha em relação ao fluxo dos gases efluentes do forno. Fig.26-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com torre de pré-aquecimento em suspensão simples, com cinco estágios de ciclones, pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas), instaladas em linha em relação ao fluxo dos gases efluentes do forno. 41 Fig.27-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com torre de pré-aquecimento em suspensão simples, com quatro estágios de ciclones, pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas), instaladas em linha em relação ao fluxo dos gases do forno. Nota.: 1a)- Entre outras vantagens, a principal finalidade do pré-calcinador foi em primeiro lugar permitir o aporte e a distribuição da energia calórica necessária para o processo de calcinação e clínquerização em dois pontos distintos, concorrendo assim, para a obtenção de um nível ou grau de descarbonatação e calcinação dos materiais crus antes de ingressarem no forno rotativo da ordem de 80-95%, contra 45-50% obtidos nos sistemas convencionais sem pré-calcinador e sem combustão secundária. Em segundo lugar proporcionar o uso de até 60% de combustíveis no pré-calcinador muitas vezes de baixo custo e poder calorífico, bem como, proporcionar o aumento da capacidade produtiva do sistema de até 100% em relação a uma instalação convencional dotada com forno rotativo de mesmo porte ou dimensão similar; 2a)- Outra mudança significativa que ocorreu nos pré-aquecedores de ciclones após o advento dos pré-calcinadores, foi o aumento de quatro para cinco e até seis estágios de ciclones que, aliada as constantes modificações na concepção construtiva e desenho dos ciclones, disposição dos dutos de gases, câmara de combustão secundária e de mistura dos pré-calcinadores, esta proporcionando a maximização do rendimento de combustão e troca térmica do sistema e, conseqüentemente, a redução do consumo específico de calor (Kcal/Kg de clínquer), bem como, das temperaturas dos gases descartados da torre de pré-aquecimento. Outra novidade dos projetos atuais, é que a injeção de combustível e do material no pré- calcinador e câmara de mistura pode ser distribuída de forma escalonada ou estagiada em pontos distintos (multi-point) ao longo da câmara de combustão e de pós-combustão; 42 3a)- Atualmente, é de praxe a construção de torre de pré-aquecimento composta por uma, duas ou até três torres de ciclones montadas em paralelo, dotadas com sistema de pré-calcinação instalados individualmente para cada torre (fig.34); 4a)- Nos sistemas com pré-aquecedores convencionais (sem pré-calcinador), é comum quando da instalação de um sistema de pré-calcinação, modificar todo o sistema de pré-aquecimento existente, ou manter o sistema existente e instalar uma nova torre de ciclones paralela a atual dotada com sistema de pré-calcinação completo (fig28); . 5a)- A adoção de sistemas de pré-aquecimento e calcinação dos materiais crus tais como os pré- aquecedores em suspensão e pré-calcinadores em uma planta de clínquerização, permitiu em conseqüência, o encurtamento gradativo dos fornos rotativos de clínquerização, em relação aos processos úmidos, semi-úmidos, semi-secos e secos longos, pois à parte do forno até então utilizada para secagem e evaporação da água (processo úmido e semi-úmido) foram totalmente eliminadas, e a parte relativa à complementação da descarbonatação dos materiais crus foram parcialmente eliminadas para o caso de sistema de pré-aquecedor em suspensão de quatro estágios de ciclones, e quase que totalmente eliminadas para o caso dos pré-aquecedores em suspensão dotados com sistema de pré-calcinação, concorrendo assim, em função das alterações sofridas, para o aumento da capacidade de produção do forno e redução da perda de calor por radiação; 6a)- Com o advento do sistema de pré-calcinação aliado à crise dopetróleo, a combustão secundária também passou a ser praticada em fornos de clínquerização dotados com pré- aquecedores convencionais de quatro estágios de ciclones. Neste caso, entretanto, os níveis de combustão secundária atingida são da ordem de 15-20% do total de calor consumido no sistema, e o ponto de injeção do combustível secundário normalmente é a própria caixa de fumaça ou duto de ascensão dos gases efluentes do forno, e o ar de combustão chega até este ponto através do tubo do forno rotativo; 7a)- Em fornos dotados com pré-aquecedor em suspensão de quatro estágios de ciclones e resfriadores de grelha ou de satélite, é comum à modificação do duto de ascensão dos gases do forno de forma a proporcionar a instalação de um ponto para combustão secundária. Neste caso o oxigênio necessário para a combustão proveniente do resfriador chega até este ponto através do tubo do forno rotativo e o nível de combustão secundária pode alcançar valores da ordem de 25-35%; 8a)- Os sistemas dotados com pré-calcinador com nível de combustão secundaria superior a 40% em calor em relação ao total de calor consumido no processo, necessitam de um grande aporte de ar de combustão limpo, o qual é retirado da zona mais quente do resfriador de grelha e, conduzido até a câmara de combustão secundária ou pré-calcinador através do duto de ar terciário. 43 9a)- Conforme evidenciado nas figuras ilustradas a seguir, os sistemas de pré-aquecimento e de pré-calcinação evoluíram muito, dando origem aos mais variados tipos de sistemas, cada qual com características construtivas próprias de seus fabricantes, porem com o mesmo propósito técnico. Fig.28-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com duas torres de pré-aquecimento em suspensão, uma simples com quatro estágios de ciclones instalada em linha em relação ao fluxo de gases do forno e a outra também simples porem montada em paralelo em relação a anterior, dotada com pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas) e duto de ar terciário. Fig.29-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com torre de pré-aquecimento em suspensão simples com quatro estágios de ciclones, pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas), instaladas em linha em relação ao fluxo dos efluentes gases do forno, duto de ar terciário e resfriador tubular. 44 Fig.30-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com torre de pré-aquecimento em suspensão simples com cinco estágios de ciclones, pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas), instaladas em linha em relação ao fluxo dos gases efluentes do forno, duto de ar terciário e resfriador tubular. Fig.31-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com torre de pré-aquecimento em suspensão simples com quatro estágios de ciclones, pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas) instaladas em linha em relação ao fluxo dos gases efluentes do forno, duto de ar terciário e resfriador de grelhas. 45 Fig.32-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com torre de pré-aquecimento em suspensão simples com cinco estágios de ciclones, pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas) instaladas em linha em relação ao fluxo dos gases efluentes do forno, duto de ar terciário e resfriador de grelhas. Fig.33-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização dotado com duas torres de pré-aquecimento em suspensão com quatro estágios de ciclones, pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas) instaladas em linha em relação ao fluxo dos gases efluentes do forno, duto de ar terciário e resfriador de grelhas. 46 Fig.34-Representação esquemática de um forno rotativo de clínquerização curto com duas bases de apoio, dotado com três torres de pré- aquecimento em suspensão com cinco estágios de ciclones, duas das torres com sistema de pré-calcinação separado instalados em paralelo em relação à torre central a qual se encontra situada em linha em relação ao fluxo dos gases efluentes do forno, dois dutos de a r terciário e um resfriador de grelhas. Fig.35-Representação esquemática (vista frontal e lateral), de uma torre de pré-aquecimento em suspensão com seis estágios duplos de ciclones, pré-calcinador (com câmara de combustão e de mistura juntas) instaladas em linha em relação ao fluxo dos gases do forno. 47 Fig.36- Foto de duas plantas de calcinação e clinquerização evidenciando o resfriador de satélite, torre de pré-aquecimento com cinco estágios de ciclones e pré-calcinador. Observar que as duas torres encontram-se suportadas por estruturas metálicas. Fig.37- Representação esquemática de um processo via seca dotado com pré-aquecedor em suspensão e pré-calcinador. 48 III.2.8.2)- Comprimento dos fornos rotativos de clínquerização. O comprimento dos fornos rotativos de clínquerização, via de regra está relacionado com o tipo de processo (úmido, semi-úmido ou seco), bem como, com seu diâmetro, a sua capacidade de produção e concepção técnica construtiva, isto é, fornos com torre de pré-aquecimento dotadas com quatro, cinco ou seis estágios de ciclones, com pré-calcinador ou não, fornos dotados com torres de ciclones convencionais e posteriormente convertidas em torres modernas com sistema de pré-calcinação etc. A titulo de referência, o Quadro-1 ilustra os tamanhos médios dos fornos em função do tipo processo utilizado. Quadro - 1 Tipo de processo Sem pré-aquecedor de ciclones Com pré-aquecedor de 4 estágios de ciclones Com pré-aquecedor de 4 estágios + pré-calcinador Com pré-aquecedor de 5 ou 6 estágios + pré-calcinador Via Úmida 100 – 180m ----------------------------- -------------------------------- ------------------------------------ Via Semi-úmida 80 – 140m ----------------------------- -------------------------------- ------------------------------------ Via Semi-seca 60 – 120m ----------------------------- -------------------------------- ------------------------------------ Via Seca 100 – 150m 45 – 100m 50 – 80m 40 – 60m Nota: 1a)- Relativo aos fornos antigos: Os comprimentos dos fornos rotativos via úmida, semi-úmida, semi-seca e via seca longo sem pré-aquecedor dos materiais crus, é função do diâmetro e capacidade produtiva de cada forno. Normalmente esta questão era definida por analogia com fornos já existentes, entretanto, os fatores de maior relevância a ser considerados são: - Tipo de processo; - Teor de umidade dos materiais crus alimentados; - Quantidade de clínquer produzida por m3 de volume do forno ou carga específica (t/m3.24h ); - Quantidade de clínquer produzida por seção transversal (m 2 ) na zona de clínquerização (t/m2.24h); - Carga térmica específica por seção transversal na zona de clínquerização (Gcal/h.m2). Na transformação dos fornos via úmida em via semi-úmida ou via seca longo, o comprimento do forno normalmente é mantido, ao passo que quando da conversão dos mesmos para sistemas dotados com pré-aquecedores de grelhas Lepol ou de suspensão, o comprimento do cilindro do forno neste caso é diminuído de forma significativa (fig.16). Em ambas as situações o sistema de tiragem dos gases, rotação do forno e capacidade do resfriador são alteradas; 49 O sistema Lepol pode ser concebido como semi-úmido ou como semi-seco e o comprimento do cilindro do forno em se tratando de um projeto original é da ordem de 60–100m; O tempo de permanência do material no interior do forno rotativo, considerando uma inclinação do cilindro de 3–4% em relação ao comprimento do forno, é função do grau de descarbonatação do material que entra no mesmo, bem como, do comprimento e da velocidade periférica (rotação) do forno.
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