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Daniel V. Rodrigues-M33 1-Compreender a anamnese e o exame físico do paciente com náuseas e vômitos Como deve ser investigada durante a anamnese (entrevista do paciente) 1) Início – Tempo? Quando iniciou? 2) Qualidade (Composição/ conteúdo do vômito?) • Suco gástrico: Persistente e cor de limonada com gosto ácido ou azedo. Consiste em uma mistura de suco gástrico e saliva. É o vômito típico do alcoólatra, denominado pituita matinal, geralmente único. Também pode aparecer na gravidez. • Alimentar: Contém alimentos facilmente reconhecíveis. Dentro desse grupo está o vômito retentivo, que indica a presença de uma síndrome pilórica, na qual o material expelido permanece no estômago por mais de doze horas, geralmente um ou dois dias, e nunca é bilioso. • Mucoide: Líquido com pequenos fragmentos de muco, sem gosto azedo • Bilioso: Contém bile e é de cor amarelada ou esverdeada, dependendo de quanto tempo permanece no estômago. Deixa um sabor amargo na boca. Quase sempre é observada em condições de fígado e vesícula biliar, estenose duodenal, pancreatite aguda, enxaqueca ou em estados de vômitos repetidos. • Fecaloide: Coloração escura e odor fétido. Caracterizada por obstrução intestinal baixa: mais comum no intestino grosso. Também chamada fecal, que são fezes sendo eliminadas. Também comumente em fístulas gastrológicas • Sanguinolento ou em “borra de café”: Hematêmese (vômito com sangue). Ocorre em patologias que causam hematêmese (hemorragia digestiva alta). Pode ser sangue vermelho, no caso de hemorragia recente, ou escuro, "em borra de café", em caso de retenção gástrica de sangue. • Pus – rotura de abscessos, p.ex, do estômago. Cor amarelada • Corpo estranho: helmintos, cálculos biliares, bezoares (Um bezoar é a impactação de material estranho no interior do trato gastrointestinal. A expulsão de cálculos biliares ocorre, devido a fístulas colecistoduodenal ou colecistogastricas, parasitas (áscaris e tênias), corpos estranhos engolidos (caroços, cabelos: "tricobezoar"). 3) Odor • Ácido penetrante: secreção ácida normal do TGI • Sem cheiro – aquilia – vômito só água • Fecal – fezes 4) Quanto ao momento de aparecimento – Tem relação ou não com alimentação? • Se tem relação com alimentação, quanto tempo depois? • Imediato (até 30 min após alimentação); • Precoce (30min a 3 horas); • tardio (3 a 6 horas); • Ultratardio (depois de 6 horas) 5)Manifestações/ sintomas associados Daniel V. Rodrigues-M33 • Febre? Diarreia? Dor? Síncopes (desmaio) ou lipotimia (sensação de desmaio)? Pirose (sensação de queimação na garganta e esôfago) Dispepsia? (sensação de queimação no esôfago)? Disfagia (dor e dificuldade para engolir)? Perda ponderal (perda de peso) 6) Evolução (frequência) • Quantos episódios nas 12 horas? Semanal? Diário? Matinal? Tentar definir a frequência e evolução. 7) Fatores que agravam ou aliviam - uso de medicamentos (Vonau) 8) Possui comorbidades? 9) Usa medicamentos de rotina? 10) Se mulher, investigue gravidez Avaliar no exame físico • Sinal de Blumberg: A compressão lenta da parede abdominal no ponto apendicular, seguida de descompressão brusca, produz dor no momento da descompressão quando há inflamação do peritônio. Se positivo, poderá pensar na hipótese de apendicite aguda. • Sinal de Rovsing: Dor na fossa ilíaca direita à palpação da fossa ilíaca esquerda. Palpação no cólon descendente desloca os gases para o cólon ascendente, atingindo o apêndice inflamado hipersensível, provocando dor. • Sinal de Lapinsky: Dor à compressão da fenda ilíaca direita enquanto se eleva o membro inferior direito esticado. Presente no apêndice retrocecal. • Sinal de Murphy: acontece quando o paciente reage em sua respiração de forma rápida à palpação profunda da vesícula biliar. Dessa forma, palpa-se o ponto biliar ou ponto cístico, no hipocôndrio direito e pede-se para o paciente inspirar profundamente (mais comum na colecistite aguda) Exames complementares • Função renal e eletrólitos • Cálcio e glicemia • Marcadores hepáticos e pancreáticos • Hemograma • Raio X de abdome agudo Exames laboratoriais inicialmente utilizados incluem hemograma completo, VHS, eletrólitos e exames de bioquímica hepática e função renal. Em mulheres, a realização de teste de gravidez também é recomendada. O hemograma pode ajudar a descartar anemia resultante de inflamação ou perda crônica de sangue, leucocitose, que ocorre também em condições inflamatórias, ou leucopenia, que ocorre em condições virais. Pacientes com perda crônica de sangue podem também apresentar diminuição dos níveis de ferritina, transferrina e ferro e aumento de capacidade de ligação de ferro. Quadros de pancreatite ocorrem com aumento de amilase e lipase e testes de função tireoidiana. A avaliação estrutural do aparelho digestivo é necessária muitas vezes e é indicada sempre que história, exame físico e exames complementares iniciais não sugerirem diagnóstico. Nessa categoria de exames, a endoscopia digestiva alta é o mais importante, lembrando que dispepsia frequentemente é associada com náuseas e vômitos. O exame é útil para verificar lesões de mucosa esofágica e gastroduodenal, sendo mais específico e sensível para esse fim que os estudos contrastados do trato gastrointestinal alto. Em caso de paciente com sintomas dispépticos associados e endoscopia normal, aumenta muito a chance de quadro funcional. A radiografia simples de abdome pode servir como teste inicial para esse propósito, e se demonstrar níveis líquidos e ausência de ar no Daniel V. Rodrigues-M33 cólon sugere obstrução de intestino delgado. Já a distensão luminal difusa e a ausência propedêutica de ruídos hidroaéreos são indicativas de íleo paralítico e presença de ar subdiafragmático sugere perfuração visceral. O raio X contrastado de abdome pode acrescentar dados se a suspeita for de obstrução intestinal. A colonoscopia e a radiografia com enema opaco também podem ajudar na suspeita de obstrução colônica. 2- Estudar o tratamento farmacológico no tratamento de vômitos Mecanismos de ação dos Antieméticos Seus principais mecanismos de ação consistem no antagonismo dos receptores dos neurotransmissores envolvidos na fisiopatologia do vômito. Os cinco locais de receptores de neurotransmissores que são de importância primária no reflexo do vômito são: M1 – muscarínico; D2 – dopamina; H1 – histamina; 5-HT3 – serotonina; Receptor de neurocinina 1 (NK1) – substância P. 1- Anticolinérgicos/Antimuscarínicos Os efeitos dos antimuscarínicos será a inibição de secreções e inibição da motilidade gastrointestinal. Exemplos de medicação: Escopolamina (efeito semelhante ao da atropina) Mecanismo de ação A ação da atropina se baseia no bloqueio reversível dos receptores muscarínicos (m1, m2, m3, m4 e m5), competindo com a acetilcolina e os colinomiméticos pelo sítio de ligação. Ressalta-se que é um bloqueio superável, isto é, o aumento da concentração dos colinomiméticos consegue superar a ação do alcaloide antimuscarínico. Quando a atropina se liga ao receptor muscarínico, ela impede ações como a liberação de trifosfato de inositol (IP3) e a inibição de adenililciclase, que são causadas por agonistas muscarínicos, e por consequência, inativa os canais de Ca+ intracelulares, impedindo a despolarização. Assim, tem como mecanismo de ação: a diminuição da captação de estímulos da zona de gatilho; diminuição de estimulação e condução nas vias vestibulares; inibição da motilidade gastrointestinal; prolongamento do tempo de esvaziamento gástrico. Exemplos de Antimuscarínicos A escopolamina é usada para prevenção da cinetose e de náuseas e vômitos pós-operatórios 2- Antagonistas dopaminérgicos D2 Mecanismo de ação: Antagonizar receptores de dopamina D2 na zona de gatilho. Aceleração do esvaziamento gástrico. Contração do esfíncter esofágico inferior. Possuem também propriedades anti-histamínicae anticolinérgica. • Utilizados no caso de náusea e vômitos, associados a vertigem, cinetose e enxaqueca. • Dentro dessa classe, há os procinéticos, que são utilizados para melhorar trânsito intestinal, aumentando o esvaziamento. São utilizados nos casos de refluxo, para aumento de absorção de alguns fármacos e no auxílio de tratamento de náusea e vômitos, associados a dispepsia. Efeitos colaterais: sedação, sonolência, hipotensão, galactorreia, ginecomastia, redução da libido, erupções cutâneas, urticária, cefaleia, diarreia e cólica, 3-Antagonistas histamínicos Daniel V. Rodrigues-M33 A ação antiemética desses fármacos parece ser devida ao bloqueio central de receptores H1 e muscarínicos M1. A meclizina é útil também para o tratamento de vertigens associadas com distúrbios vestibulares. Os anti-histamínicos são usados principalmente para controle de enjoo de movimento e labirintopatias, além de enjoos causados por hipercinetose. Entretanto, um efeito colateral comum nessa classe é a sonolência e sedação. Além desses, podem ocorrer tontura, confusão, boca seca, sintomas extrapiramidais e cefaleias. • Apesar dessa lista de efeitos adversos, são a classe de escolha para profilaxia da cinetose em crianças e na êmese gravídica, pois são medicações seguras e seus efeitos adversos são relativamente bem tolerados. Farmacodinâmica do dimenidrinato: O dimenidrinato inibe a acetilcolina nos sistemas vestibular e reticular, responsáveis por náusea e vômito na doença do movimento. Uma ação sobre a zona de gatilho quimiorreceptora parece estar envolvida no efeito antiemético, admitindo-se, ainda, que atue no centro do vômito, no núcleo do trato solitário e no sistema vestibular.. Uso clínico: É utilizada na prevenção da cinetose e no tratamento da vertigem causada por disfunção do labirinto. 4-Antagonistas Serotoninérgicos Os antagonistas seletivos dos receptores 5-HT3 apresentam potente natureza antiemética, exercendo essa função principalmente através do bloqueio dos receptores 5-HT3 periféricos nos nervos aferentes espinais e vagais intestinais extrínsecos. Ao contrário dos antagonistas dopaminérgicos, não atuam sobre a motilidade gastroesofágica. Sua atuação é sobre a êmese de etiologia vagal. A ação dessa classe é potencializada pelo uso concomitante com um corticosteróide, como a dexametasona, e um antagonista dos receptores NK1. Tem como uso clinico • Náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia – Os antagonistas dos receptores 5-HT3 constituem os principais agentes para a prevenção das náuseas e dos vômitos agudos induzidos pela quimioterapia. Quando usados isoladamente, esses fármacos têm pouca ou nenhuma eficácia na prevenção das náuseas e dos vômitos tardios (i.e., que ocorrem > 24 horas após a quimioterapia). Embora os antagonistas dos receptores 5-HT3 sejam efetivos como fármacos isolados para a prevenção das náuseas e dos vômitos induzidos por quimioterapia, sua eficácia é potencializada pela terapia de combinação com um corticosteroide (dexametasona) e um antagonista dos receptores NK1. • Náuseas e vômitos pós-operatórios e pós-radioterapia – Os antagonistas dos receptores 5-HT3 são usados na prevenção ou no tratamento das náuseas ou dos vômitos pós- operatórios. Em virtude dos efeitos colaterais e das restrições aumentadas no uso de outros fármacos antieméticos, os antagonistas dos receptores 5-HT3 estão sendo cada vez mais utilizados para essa indicação. Mostram-se também efetivos na prevenção e no tratamento das náuseas e dos vômitos em pacientes submetidos à radioterapia corporal total ou do abdome Efeitos colaterais: cefaleia, constipação, turvação visual, tontura, arritmia, hipotensão e bradicardia. Os antisserotoninérgicos tem como mecanismo de ação, o bloqueio direto da zona de gatilho; interferência na transmissão de estímulos por vias aferentes que partem do estômago e intestino delgado; ação anticolinérgica. Daniel V. Rodrigues-M33 Mecanismo de ação a ondansetrona Essa droga atua como antagonista do receptor 5HT3, altamente seletivo. A serotonina é liberada pelas células enterocromafins do intestino delgado em resposta a agentes quimioterápicos e estimula aferências vagais, via 5HT3 receptores, para iniciar o reflexo de vômito. A ondansetrona bloqueia o início desse reflexo. 5-Antagonista da neurocinina 1 (NK1) – substância P Os antieméticos dessa classe, ao contrário de antieméticos de outras classes, são potentes inibidores de vômitos agudos e tardios provocados por quimioterapia ou no pós operatório. Mecanismo de ação: Bloquear receptores Nk1 na Zona de gatilho. Aumento da atividade antiemética dos antagonistas 5-HT3 e corticoides. Uso clinico O aprepitanto é usado em associação com antagonistas dos receptores 5-HT3 e corticosteroides na prevenção das náuseas e dos vômitos tardios e agudos em consequência de esquemas quimioterápicos muito emetogênicos. Efeitos colaterais: cefaleia, constipação, fadiga, dispepsia e soluço, tontura, dor abdominal, diarreia e anorexia. Elevação das aminotransferases hepáticas podem ocorrer, mas sem associação com hepatotoxicidade. 6-Benzodiazepínicos Apesar de serem antieméticos pouco potentes, podem ser utilizados como terapia adjuvante e serem administrados previamente ao início da quimioterapia devido aos seus efeitos sedativos, amnésicos e ansiolíticos, sendo úteis para reduzir a êmese antecipatória dos pacientes. Seus principais representantes são o lorazepam, diazepam e o alprazolam. Mecanismo de ação: Os benzodiazepínicos exercem seus efeitos ao se ligarem a receptores do ácido g-aminobutírico (GABA) no sistema nervoso central, modulando a resposta do GABA – neurotransmissor mais abundante do SNC. Eles não se ligam exatamente ao mesmo sítio de ligação do GABA, mas a um local específico de alta afinidade situado entre a subunidade alfa e a subunidade gama. Ao ligar-se ao receptor, facilita a entrada de íons cloreto, hiperpolarizando a célula e inibindo os potenciais de ação, reduzindo a neurotransmissão. Assim, aumentam os efeitos inibitórios do GABA. 7-Glicocorticóides O uso isolado dos medicamentos dessa classe podem ser utilizados para o tratamento de êmese leve a moderada, aguda e tardia, principalmente associada ao tratamento quimioterápico. O mecanismo de ação nessa aplicação não é bem esclarecido. A dexametasona e a metilprednisolona são os glicocorticóides mais utilizados com essa finalidade. Entretanto, seu uso é mais aplicado na associação com antagonistas serotoninérgicos para potencializar seu efeito antiemético. 3- Conceituar dispepsia Dispepsia, que consiste na dor, na queimação ou no desconforto crônico ou recorrente centrado na parte superior do abdome, é condição comum que pode ser causada por diversos distúrbios, incluindo úlcera péptica, esofagite de refluxo, e, raramente, câncer gástrico ou esofágico. A dispepsia divide-se em dois grandes grupos: um secundário ou a doença orgânica, e outro denominado dispepsia funcional (DF). Daniel V. Rodrigues-M33 Dispepsia orgânica Aqueles com uma causa orgânica, sistêmica ou metabólica para os sintomas, que podem ser identificados por procedimentos diagnósticos. Em que, se a causa de base melhora ou é resolvida, os sintomas também melhoram ou se resolvem por exemplo, úlcera péptica, doença pancreática, distúrbios endócrinos ou uso de medicamentos e é descrito pelo termo dispepsia secundária. Dispepsia ulcerosa (exemplo de dispepsia orgânica) O sintoma dominante na úlcera péptica não complicada é a dor epigástrica, que pode ser acompanhada por outros sintomas dispépticos como estufamento, saciedade precoce e náusea. Em pacientes com úlceras duodenais, a dor epigástrica tipicamente ocorre durante o jejum, e/ou até mesmo à noite, e costuma ser aliviada pela ingestão de alimentos ou antiácidos. Úlceras crônicas, entretanto, podem ser assintomáticas. Em particular, a ausência de sintomas, tambémé vista em ulceras induzidas por AINEs, que podem apresentar-se, primariamente por sangramento ou perfuração gastrointestinal alta. Dispepsia funcional (idiopática) Aqueles em quem nenhuma explicação identificável para o sintomas pode ser identificada pelos procedimentos diagnósticos tradicionais, podem ser classificados como dispepsia funcional. Assim como ocorre com outras doenças GI funcionais, o diagnóstico da dispepsia funcional é baseado nos sintomas específicos. Os sintomas podem incluir dor epigástrica, queimação epigástrica, empachamento pós-prandial e saciedade precoce. 4-Conhecer os mecanismos fisiopatológicos da dispepsia Principais mecanismos fisiopatológicos da dispepsia: 1) Alterações na motilidade gastrointestinal (gastroparesia) O retardo no esvaziamento gástrico está presente em cerca de 20 a 50% dos pacientes com dispepsia funcional. A alteração na acomodação gástrica, ou seja, a incapacidade de acomodar o alimento na parte proximal do estômago, fazendo com que ele atinja o antro mais rapidamente, está presente em até 40% dos pacientes com dispepsia funcional. A saciedade precoce e a perda de peso seriam queixas associadas a esse mecanismo fisiopatológico. 2) Hipersensibilidade visceral A hipersensibilidade à distensão gástrica está presente em cerca de 50% dos pacientes com dispepsia funcional e seria um dos principais mecanismos fisiopatológicos da doença. A causa dessa hipersensibilidade visceral é desconhecida, podendo ser, em linhas gerais, uma redução do limiar de percepção de estímulos viscerais causada por sensibilização nos mecanorreceptores intragástricos por inflamação, lesão ou defeitos intrínsecos; maior recrutamento ou excitabilidade de neurônios do corno posterior por estímulos repetitivos e/ou disfunção das vias neuronais antinociceptivas. 3) Fatores genéticos Estudos populacionais têm sugerido que fatores genéticos contribuem para a dispepsia funcional, uma vez que há maior risco de ocorrência da doença naqueles que possuem parentes de primeiro grau e história familiar positiva para má digestão. 4) Infecção (história de gastroenterites prévias) Daniel V. Rodrigues-M33 Dispepsia funcional tem maior incidência em pacientes com história de gastroenterites infecciosas agudas. Uma explicação possível seria a persistência de uma leve inflamação com presença de linfócitos CD8 e macrófagos em número aumentado ao redor das criptas e vilos após um quadro infeccioso local. 5) Helicobacter pylori A infecção por H. pylori é considerada uma possível causa de sintomas de DF, se mesmo com uma erradicação bem-sucedida, os sintomas dispépticos são mantidos. Tanto a secreção ácida quanto o estado hormonal pode ser afetado até certo ponto com o H. pylori. As terapias com antibióticos podem afetar os sintomas dispépticos por mecanismos diferentes da própria erradicação do H. pylori, incluindo a prevenção de úlceras pépticas não reconhecidas ou modificação da microbiota intestinal. 6) Fatores psicossociais As comorbidades psiquiátricas mais comumente associadas às queixas dispépticas são transtornos de ansiedade, depressivos e somatoformes, sendo os distúrbios de ansiedade os mais presentes. 5-Saber quais exames complementares podem ajudar no diagnóstico da dispepsia e refluxo Dispepsia Após o Consenso de Roma IV, a dispepsia foi redefinida como a presença de ≥ 1 dos 4 seguintes sintomas durante os últimos 3 meses, com o início dos sintomas, pelo menos, 6 meses antes do diagnostico: 1. Empachamento pós-prandial; 2. Saciedade precoce; 3. Dor epigástrica; 4. Queimação epigástrica. Sinais e sintomas de alarme (aumentam a suspeita de neoplasias), como: • Perda de peso não intencional; • Vômitos persistentes; • Odinofagia (deglutição com dor) • Disfagia progressiva (dificuldade de deglutição) • Hematêmese; • Anemia ou deficiência de ferro; • Massa abdominal palpável ou linfadenopatia; • História familiar de câncer do trato gastrointestinal alto; • Icterícia. De acordo com o Consenso de Roma III, os critérios diagnósticos para dispepsia funcional são os mesmos da dispepsia, desde que se excluam doenças estruturais que expliquem os sintomas, o que implica necessidade de realização de endoscopia digestiva alta e erradicação do Helicobacter pylori. Exames laboratoriais são desnecessários para pacientes jovens e sem sinais de alarme. Deve-se avaliar a necessidade de exames de rotina em pacientes com idade > 45-55 anos. Dosagem de amilase sérica, anticorpos para doença celíaca, hemograma (anemia-neoplasia), função renal, Daniel V. Rodrigues-M33 perfil hepático, pesquisa de ovos e parasitas nas fezes e testes de gravidez podem ser considerados em casos selecionados. Exames complementares A estratégia de pesquisar e tratar o Helicobacter pylori em pacientes com dispepsia por meio de testes não invasivos (test and treat) é considerada no ultimo consenso brasileiro de Helicobacter pylori em pacientes com idade < 35 anos, sem sinais de alarme e sem história familiar de câncer gástrico. Os testes não invasivos são: . Teste respiratório com ureia marcada com carbono 13 (sensibilidade de 88-95% e especificidade de 95%): exame de escolha para a pesquisa do Helicobacter pylori. Apesar de ser um exame simples e com elevada acurácia, seu uso tem sido limitado aos grandes centros urbanos e estudos epidemiológicos. Explicando o teste Teste Respiratório da Ureia (TRU): o paciente ingere uma solução de ureia marcada com isótopos de carbono (C13 e C14). Sob ação da urease do H. pylori, a ureia é convertida em amônia e bicarbonato, o qual é convertido em CO2 (com o C marcado), sendo este último prontamente absorvido para a circulação e eliminado na exalação. O paciente então expira em um recipiente onde a presença de carbono marcado pode ser detectada por cintilação ou espectrografia. . Pesquisa do antígeno fecal (sensibilidade de 94% e especificidade de 92%): é considerado o teste de escolha na ausência do teste respiratório. Seria o teste para pesquisar os antígenos do Helicobacter pylori que podem ser detectados nas fezes e, quando presentes, indicam doença ativa. . Teste sorológico (sensibilidade de 60-90% e especificidade > 90%): a acurácia apresenta variabilidade entre os kits, ficando em torno de 80-90% (pode manter-se positivo por meses a anos após a erradicação). Seu uso deve ser limitado a estudos epidemiológicos. . A endoscopia digestiva alta pode identificar causas orgânicas para a dispepsia (doença ulcerosa péptica, esofagite erosiva ou malignidades). De acordo com o IV consenso brasileiro, todo paciente acima de 40 anos já tem indicação para realizar o exame de endoscopia digestiva alta (EDA). Com esse exame, o nosso objetivo é definir se o paciente tem ou não alguma doença orgânica. Se tiver, vamos tratá-la. Se não tiver, aí nós devemos realizar testes para avaliar se ele tem H. pylori. Em sendo identificada a presença da bactéria, nós vamos precisar tratá-la. Caso contrário, a gente começa a sustentar melhor a suspeita de dispepsia funcional e aí a nossa conduta deverá ser: prescrever medicamentos que atuem reduzindo a acidez do estômago, como os inibidores de bomba de prótons (IBPs). Caso o nosso paciente tenha menos de 40 anos de idade, temos que começar a investigação procurando por sinais de alarme: Perda ponderal não intencional; anemia ferropriva (sem explicação); disfagia; odinofagia; vômitos persistentes; massa e linfonodo palpável; histórico familiar de neoplasia gastrointestinal. A presença de algum desses sinais nos indica que o quadro do paciente é um pouco mais complicado e por isso ele também deve seguir direto para a realização de uma EDA. Caso contrário, por não ser um quadro complicado, a gente pode enquadrar como dispepsia não investigada. Daniel V. Rodrigues-M33 • Fatores prognósticos considerados desfavoráveis para o êxito da terapêutica endoscópica são: localizaçãoda úlcera, duas ou mais doenças associadas, classificação da úlcera (presença de sangramento em jato) e idade acima de 65 anos . Além desses exames, a biopsia da mucosa gástrica permite o diagnóstico da infecção pelo Helicobacter pylori, direcionando assim o tratamento posterior. O teste da urease associado ao estudo histopatológico apresenta sensibilidade de até 95%, a depender da qualidade do material e da experiencia do examinador. A investigação para a presença de h. pylori deve ser realizada, além de em quadros de dispepsia, em pacientes com lesões pré-neoplásicas, linfoma MALT, câncer gástrico (com abordagem prévia ou até planejamento cirúrgico), histórico familiar de câncer gástrico em parente de primeiro grau, púrpura trombocitopênica imune, ferropenia inexplicada e deficiência de vitamina B12. Refluxo gástrico A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é a condição que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago provoca sintomas e/ou complicações. Ocorre principalmente em decorrência dos relaxamentos transitórios do esfíncter inferior do esôfago não associados à deglutição, podendo contribuir com hipotonia deste esfíncter e hérnia de hiato. • Endoscopia digestiva alta permite classificar a DRGE em erosiva e não erosiva. É o método de escolha para o diagnóstico das lesões causadas pelo refluxo gastroesofágico. Pode, ainda, identificar complicações como esôfago de Barrett, úlceras, estenoses e neoplasias de esôfago, permitindo a realização de biópsias quando necessário. Alterações inespecíficas da mucosa esofágica observadas à endoscopia digestiva alta, como edema e enantema, não são características da DRGE. • RX contrastada de esôfago tem indicação restrita, podendo auxiliar na investigação de disfagia e odinofagia, caracterizando estenoses. • Manometria esofágica convencional está indicada antes da realização da pHmetria para precisar o local do esfíncter inferior do esôfago no pré-operatório da doença, visando afastar acalasia e outras condições que levam a alterações de motilidade esofágica e na investigação complementar de disfagia, quando existe suspeita de alterações motoras de esôfago, como espasmo esofágico difuso. • Phmetria esofágica de 24 horas é indicada em pacientes sem esofagite erosiva à endoscopia digestiva alta antes de intervenção cirúrgica e em pacientes com sintomas típicos refratários ao tratamento e sintomas atípicos refratários ao tratamento. • Phmetria sem fio tem custo elevado e dispensa o uso de sondas, sendo a cápsula afixada por endoscopia na mucosa do esôfago distal. Permite o registro prolongado do pH esofágico por até 96 horas, melhorando a acurácia da pHmetria convencional. Endoscopia digestiva alta Se tiver, vamos tratá-la. Se não tiver, aí nós devemos realizar testes para avaliar se ele tem H. pylori. Em sendo identificada a presença da bactéria, aí nós vamos precisar tratá-la. Caso con- trário, a gente começa a sustentar melhor a suspeita de dispepsia funcional e aí a nossa conduta deverá ser: Daniel V. Rodrigues-M33 Prescrever medicamentos que atuem reduzindo a acidez do estômago, como os inibidores de bomba de prótons (IBPs). b) Pacientes com idade < 40 anos Caso o nosso paciente tenha menos de 40 anos de idade, aí temos que começar a investigação procurando por sinais de alarme A presença de algum desses sinais nos indica que o quadro do paciente é um pouco mais complicado e por isso ele também deve seguir direto para a realização de uma EDA. Caso con- trário, por não ser um quadro complicado, a gente pode enquadrar como dispepsia não investigada. Com isso em mente, poderemos iniciar o tratamento e nossas opções serão duas: • Tratamento empírico com Inibidores da Bomba de Prótons por 4 a 6 semanas; • Testar e tratar H. pylori. Tratamento farmacológico O tratamento farmacológico pode ser realizado basicamente por meio de duas grandes classes de medicamentos: antissecretores e antibióticos. 1-Antissecretores • Inibidores de Bomba de Prótons (IBPs) Os IBPs, representados pelas drogas terminadas em -prazol (Omeprazol, Pantoprazol, Lansoprazol, entre outros), são os medicamentos de primeira escolha quando se deseja reduzir a acidez estomacal. Mecanismo de ação dos inibidores da bomba de prótons: acontece por meio da inibição da enzima H+/K+-ATPase, fazendo com que ocorra o bloqueio da secreção ácida do estômago (HCL), impedindo a troca de H+ e K+, já que a produção ácida ocorre por meio dessa troca 2- Antibióticos • Amoxicilina A amoxicilina é uma penicilina e, portanto, ela age sobre bactérias, interferindo na última etapa do processo de síntese da sua parede. Assim, com sua membrana mais instável, esses microrganismos acabam ficando mais vulneráveis e acabam morrendo. Associado a isso, é importante a gente ter em mente que, apesar de ser mais eficaz sobre bacilos gram-negativos, a amoxicilina age também sobre os gram-positivos e por isso é referida como sendo uma droga de espectro estendido. Mecanismo de ação: Inibe a divisão celular e o crescimento, produz lise e elongação de bactérias sensíveis, em particular as que se dividem rapidamente, que são, em maior grau, a ação das penicilinas. Tem rápida ação bactericida e perfil de segurança de uma penicilina. Atenção, que o medicamento será usado com ácido clavulânico. Daniel V. Rodrigues-M33 A presença do ácido clavulânico em Amoxicilina + Ácido Clavulânico protege a amoxicilina da degradação pelas enzimas betalactamases (produzidas pelas bactérias com o intuito proteção) e estende de forma efetiva o espectro antibacteriano da amoxicilina por incluir muitas bactérias normalmente resistentes a ela e a outras penicilinas e cefalosporinas. Referências KASPER, Dennis L.. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2017. 1 v, GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil Medicina Interna. 24. ed. Saunders Elsevier, 2012
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