Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 5 LOGÍSTICA REVERSA E GESTÃO DE RESÍDUOS Profª Rosinda Angela da Silva 2 CONVERSA INICIAL Chegou o momento de discutirmos como as questões ambientais que envolvem a logística reversa e a gestão de resíduos impactam na comunidade e na vida das pessoas. Para isso, esta aula tem como objetivo apresentar alguns temas pertinentes que nos auxiliarão a compreender a importância de praticar benchmarking com empresas, cidades e países que já estão avançados nesse aspecto. Também abordaremos a empregabilidade gerada pelos processos de logística reversa de bens de pós-venda e de pós consumo. Caros estudantes, sejam bem-vindos à quinta aula de logística reversa e gestão de resíduos! CONTEXTUALIZANDO O cuidado com o ambiente não é preocupação recente, apesar disso sabemos que ainda há muito o que fazer para melhorarmos a questão da sustentabilidade no Brasil e no mundo. Já temos algumas políticas e leis, no entanto sabemos que ainda faltam ações mais concretas para tirarmos tantos planos do papel e transformarmos em realidade. O Brasil ainda tem lixões a céu aberto, problemas crônicos de trânsito, poluição do ar, sonora, do solo, das águas, processos produtivos também poluidores, enfim, uma série de desafios para os próximos governos. Mas o lado bom de tudo isso é que inúmeras cidades no Brasil e no mundo têm adotado tratativas mitigadoras de todo o mal que o estilo de vida atual causa ao meio ambiente. Muitas empresas das iniciativas pública e privada também têm implementado inúmeras práticas para melhoria dessa relação de maneira mais sustentável. Sendo assim, que tal fazermos benchmarking com empresas, cidades e países que já trilharam o caminho das pedras e estão colhendo os frutos do esforço? Embora inúmeras iniciativas de países desenvolvidos ainda sejam difíceis de implantar no Brasil, podemos nos espelhar no que é possível e convocar os envolvidos para uma força tarefa para melhoria no trato com o meio ambiente. Por isso é importante conhecer essa temática e avaliar o que será que o governo, a empresa onde nós trabalhamos hoje e até mesmo nós, como consumidores, temos feito para contribuir nesse aspecto. 3 TEMA 1 – LOGÍSTICA REVERSA E SUSTENTABILIDADE Buscar modelos de consumo e produção cada vez mais sustentáveis é obrigação de toda a sociedade, pois o planeta não sustentará, por muito tempo, o ritmo consumista que temos hoje. É preciso investir no desenvolvimento de locais sustentáveis, os quais contemplem os eixos ambientais (revisão e redução de consumo, produção mais limpa, cuidados com a população e com a natureza, baixa geração de resíduos sólidos, baixa emissão de poluentes, entre outros), em sua totalidade. Isso significa dizer que é preciso transformar o discurso em ações aplicáveis. Podemos partir da visão da sustentabilidade por meio dos três pilares já apresentados na aula 1 (Triple Botton Line – tripé da sustentabilidade), que contempla os eixos principais (ambiental, social e econômico) e fazer a diferença nas políticas adotadas pelas empresas, pelos órgãos públicos e pela sociedade civil. Mas podemos também considerar que, se nada for feito no momento em que vivemos, qual será o legado que deixaremos para as gerações futuras? Com um certo radicalismo, poderíamos ir além e questionar: será que haverá geração futura? Mas não precisamos ir tão longe, não é mesmo? Isso porque a sociedade tem buscado formas de melhorar nesse aspecto e o fomento à utilização da logística reversa tem sido uma das ferramentas. O enredo deve ser positivo, ou seja, é preciso buscar alternativas para criar ambientes sustentáveis tanto nas grandes cidades como no campo, explorando aquilo que há de melhor em cada situação. Alguns exemplos: Se as empresas produzem bens, é preciso incentivar a produção mais limpa. Se o agricultor produz alimentos, é preciso dar suporte para que ele aprenda técnicas menos agressivas ao solo. Se o pecuarista cria os animais para corte, é preciso apresentar alternativas para ele continuar com sua atividade de forma mais ambientalmente sustentável. Se as grandes cidades geram lentidão no trânsito, estresse nos cidadãos, exposição à poluição, é preciso buscar alternativas viáveis para melhorar a qualidade de vida de todos. 4 As áreas de serviços, em suas diversas categorias, precisam se envolver com as causas ambientais, pois também contribuem para os problemas que temos hoje. E isso é possível com um trabalho conjunto entre todos os envolvidos, promovendo discussões locais, nacionais e internacionais, para buscar as alternativas mais viáveis, considerando as regionalidades. Entre os diversos pilares, temos, como eixo principal, a educação ambiental. A educação ambiental deve ser entendida como um dos pilares para transformar o discurso em realidade. É preciso qualificar pessoas com foco na sustentabilidade em todas as áreas do conhecimento, pois, da pesquisa teórica às produções em grande escala, sempre haverá um resíduo como output. A busca pela melhoria contínua dos princípios da sustentabilidade é um assunto que está em evidência hoje e que deve crescer em importância cada vez mais, devido às mudanças que temos observado por todo o mundo nesse sentido. E aí, voltamos à provocação inicial desse tema: que condição deixaremos para as gerações futuras? Chega de discurso, esse tema exige ações práticas. TEMA 2 – UTILIZAÇÃO DE BENCHMARKING Sobre sustentabilidade, responsabilidade ambiental e social, consumo consciente, redução de uso dos recursos, produção mais limpa, entre outros assuntos pertinentes, já existe bastante informação. Ainda assim, percebemos uma lacuna considerável entre a teoria – apresentada pelos livros, revistas, artigos, seminários e outros meios de comunicação – e a prática. Isso acontece porque os desafios ambientais, bem como a realidade das comunidades, diferem, principalmente, em um país tão grande quanto o Brasil. Quando um grupo se forma para discutir os temas de sustentabilidade, uma empresa busca informação para lidar com responsabilidade ambiental, uma instituição de ensino se propõe a qualificar seus docentes para atuar nessas áreas ou uma comunidade busca conhecimento para melhorar a qualidade de vida dos moradores, e não sabem por onde começar, é indicada a prática do benchmarking. Mas o que é o benchmarking? Segundo Rabaça e Barbosa (2014, p. 25) é “um processo sistemático de avaliação de organizações, produtos e serviços, desenvolvido por meio de contínua pesquisa de informações de mercado, com o 5 objetivo de identificar as melhores práticas ou os melhores níveis de performances e superá-los”. Essa prática é bastante comum entre as organizações que buscam, constantemente, a melhoria dos seus negócios, mas é adequado também para conhecer como o mercado lida com o tema sustentabilidade. Porém, para realizar um bom processo de benchmarking, é importante seguir algumas etapas, conforme apresentado no Quadro a seguir: Quadro 1 – Fases do benchmarking Planejar Coletar Analisar Adaptar Melhorar Objeto de estudo. Equipe Entidades parceiras. Diferenciais Causas Projeção de futuro. Método Trabalho de campo. Registro Análise Adequação das práticas. Comunicação e aprovação de mudanças. Definição das metas. Implementação de planos. Monitoramento de resultados. Reavaliação das metas. Fonte: Adaptado de Pereira, 2017, p. 77. Como na prática o benchmarking é uma ação que visa conhecer como as empresas lidam com determinado tema, em se tratando de negócios e posicionamento de mercado, nem sempre é fácil ter abertura para isso, pois as empresas podem entender como uma tentativa de cópia de seu modelo. No entanto, quando o tema é sustentabilidade, a visão é diferente, pois, certamente, as empresas de melhores práticas sentem-se honradasem saber que são vistas como referência no mercado em um assunto tão importante para a humanidade e o meio ambiente. Mas, ainda assim, é bom caprichar na abordagem. Esse modelo simples de planejamento auxilia a compreender melhor o processo de benchmarking e como abordar uma empresa, ou instituição, para que forneçam informações úteis, demonstrem como já realizam determinadas ações, como fizeram para chegar à performance em que estão e até deem dicas de aplicação de ferramentas e metodologias que facilitem o processo. No Brasil, já temos excelentes exemplos de como empresas e Organizações Não Governamentais – ONGs – inovaram em termos de sustentabilidade ambiental e social em seus negócios. A seguir, serão apresentados dois casos icônicos, mas não os únicos. O primeiro é sobre a Natura Cosméticos, uma organização que sempre trabalhou à frente do seu tempo em termos de desenvolvimento de políticas sustentáveis, seja no âmbito ambiental, seja no social ou econômico. Segundo o relatório Natura visão de sustentabilidade 2050 (Natura, 2014), a empresa buscou 6 (e busca), a todo o momento, contemplar o tripé da sustentabilidade. Algumas ações descritas no relatório são: Vegetalização dos insumos – 82% dos sabonetes da empresa são vegetalizados, deixando de utilizar ingredientes que não são de fontes renováveis. Embalagens de fontes renováveis, materiais alternativos e com menos massa em sua fabricação. Ainda nesse aspecto, a empresa foi pioneira em lançar produto em refil, inclusive de material reciclado, reduzindo o efeito estufa devido à produção. Utilização de biomassa para geração de energia e de etanol nos veículos responsáveis pela distribuição dos produtos. Além disso, a Natura investiu em veículos elétricos, bicicletas e triciclos para a entrega dos pedidos das consultoras. Programa de desenvolvimento da região amazônica – A Natura mantém um projeto que atua em três frentes (1) ciência, tecnologia e inovação, (2) cadeias produtivas sustentáveis e (3) fortalecimento institucional. Em 2012, inaugurou o Nina (Núcleo de Inovação Natura na Amazônia, em Manaus) e, em 2014, o Benevides Ecoparque, no Pará. Tais projetos visam desenvolver a região e estimular que a comunidade participe do desenvolvimento de produtos sustentáveis e gerem negócios sustentáveis na Amazônia, vendendo insumos para a Natura, mas também para outras empresas visando à autonomia. Gestão de resíduos e recursos hídricos – a Natura monitora a sua geração de resíduos (principalmente, embalagens) e investe fortemente na logística reversa delas. Além disso, cuida do uso da água, tratando-a de forma que possa ser reutilizada. Envolvimento dos stakeholders, processo de inovação e cocriação com todas as pessoas que se identificam com o negócio da empresa e programas para melhorar a renda média das consultoras, além de investimentos em marketplace e na educação ambiental dos colaboradores. O segundo exemplo é da empresa O Boticário, na qual sustentabilidade está no DNA da empresa. Segundo o Grupo Boticário (2016), algumas ações já desenvolvidas são: 7 Fundação Grupo Boticário de proteção à natureza: desde a década de 1990, a empresa passou a financiar vários projetos ambientais, culturais e educacionais, tais como: Teatro de Bonecos Dr. Botica, em Curitiba; Espaço Olfato, em São Paulo; Estação Natureza Pantanal, em Corumbá; A Conexão, exposição itinerante; O Boticário na Dança, entre outros. A empresa tem como pilar de sustentabilidade: matérias-primas e embalagens, com postos de coleta em suas lojas físicas e postos de venda, monitoramento do ciclo de vida; ecoeficiência na produção e cadeia de valor; canais de venda, tanto nos pontos de venda com os revendedores. Inclusão de pessoas com deficiência nas marcas O Boticário, com campanhas acessíveis que trazem legendas, tradução em libras e áudio- descrição. Programa de parceria com os fornecedores visando à ecoeficiência, com campanhas para reduzir o consumo de água, energia, emissões de gases de efeito estufa e a geração de resíduos em suas operações. O Boticário oferece consultoria técnica gratuita aos seus fornecedores para identificar pontos de melhoria contínua com a única exigência que apliquem os planos traçados (total ou parcial) e que O Boticário possa acompanhar os resultados trimestralmente. Tecnologia organs on a chip: simula o órgão humano para teste de produtos, dispensando, dessa forma, o uso de animais como cobaias para testes. Educação in company: O Boticário promoveu um curso MBA em Suprimentos, que trabalhou, fortemente, além dos pilares: preço, prazo e qualidade, a sustentabilidade. Em 2016, foram 90 colaboradores qualificados. A distribuição é realizada com caminhões movidos a gás natural, visando à redução de emissão de gases de efeitos estufa. Quanto à energia, O Boticário adquire, no mercado livre, visando à redução dos custos e atua, ativamente, na economia das plantas e no quesito água, usada, reusada e reciclada em suas plantas fabris. Essas duas empresas citadas são, sem dúvida, bons exemplos para fazer benchmarking, pois já têm vasto know-how nas áreas de sustentabilidade. 8 TEMA 3 – MODELOS COMPARATIVOS COM PAÍSES DESENVOLVIDOS Podemos pensar que o comprometimento com as causas ambientais é assunto da mais alta relevância para humanidade. Tanto isso é verdade que muitos países desenvolvidos investem consideravelmente em pesquisa e criação de modelos sustentáveis de produção, de tratamento dos resíduos e de preservação ambiental. Embora ocorram casos de países mais modernizados que “terceirizam seu lixo eletrônico” para países pobres, ainda assim, muitos modelos podem servir de referência. Vamos analisar alguns casos. Com o Japão, podemos aprender várias lições, principalmente, em relação ao trato com os resíduos, pois o país gerencia de forma impecável seu lixo urbano. As crianças aprendem, na escola, como reduzir o consumo, não desperdiçar recursos (água, alimentos, energia), separar os lixos e descartá-los corretamente em sacos de lixos com as cores da reciclagem. Matos (2015), em um portal para brasileiros no Japão, descreve algumas práticas de conhecimento geral, mas que merecem destaque: Coleta seletiva de lixo: Todas as pessoas separam seus lixos, os quais são coletados em diferentes dias da semana. Destino correto do lixo: Facilitada pela separação correta, o lixo é enviado paras as usinas de tratamento. Utilização de fontes de energia renováveis: Priorizam utilizar a energia eólica e solar. Utilização de novas fontes de combustível automotivo: Veículos híbridos (gasolina + energia elétrica), reduzindo o consumo dos combustíveis não renováveis. Economia de água e energia: Calçadas e carros não são lavados com mangueira, preferem- se lâmpadas econômicas. Respeito ao meio ambiente: As ruas são limpas e os moradores se unem com frequência para manter seu quarteirão limpo e organizado. Preocupação com a poluição: As cidades oferecem bons transportes públicos e os veículos são utilizados pelas pessoas apenas nos finais de semana. Uso de tecnologia em favor do meio ambiente: O governo incentiva as empresas a desenvolverem métodos e equipamentos sustentáveis. Casas sustentáveis: Construções sustentáveis que tem como objetivo, economizar os recursos de água, energia e fazem isso a partir dos sensores de presença, reservatórios de água, materiais sustentáveis na construção), entre outros. A Alemanha é pioneira na política climática, investe em desenvolvimento de novas fontes de energia. A sustentabilidade é levada tão a sério, que foi criado o Prêmio Alemão de sustentabilidade para estimular novas ideias nessa área. Vamos conhecer projetos de duas cidades da Alemanha e como a sustentabilidade é gerida por elas: Na cidade de Bremen, 3.000 crianças por ano sãocapacitadas para pedalar, com isso fortalecem a importância em utilizar bicicleta como meio de transporte. No centro da cidade, as vagas de estacionamento de carros foram 9 substituídas por vagas para bicicletas (2 vagas de carros comportam 12 bicicletas). Em 2014, Bremen ganhou o Prêmio de Mobilidade Urbana Sustentável. A cidade estimula a utilização do car-share, ou seja, os carros compartilhados substituem os carros privados, diminuindo a circulação dos veículos particulares na cidade, poluindo menos, além do investimento nos veículos de transporte público (WRI Brasil, 2015). Já a cidade de Essen, considerada a capital verde da Europa em 2017, já foi, essencialmente, industrial poluidora (indústrias do carvão e aço), mas se comprometeu a se transformar em “uma cidade para pessoas” e já tem 80% da sua força de trabalho envolvida em serviços e finanças. As melhorias ocorreram na criação de áreas verdes, gestão das águas para evitar cheias e repor as reservas de água subterrâneas, recuperação do rio Emscher, que estava tecnicamente morto, entre outras ações (Comissão Europeia Ambiente, 2017). Outro exemplo é o da Suécia, referência para o mundo quando a questão é sustentabilidade, o país é superavitário na gestão dos resíduos sólidos e, de acordo com a Cetesb (2017): A Suécia está na liderança na gestão de resíduos sólidos urbanos, e dá exemplo ao resto do mundo. O país nórdico recicla 1,5 bilhão de garrafas e latas anualmente, uma quantidade impressionante para uma população de 9,3 milhões de pessoas. Os suecos produzem apenas 461 kg de lixo por ano (a média europeia é de 525 kg), e menos de 1% dessa quantidade acaba em aterros sanitários. Isso só se tornou possível devido às propostas do governo e à participação da população, responsáveis por separar corretamente os resíduos e entregá-los nos centros de coleta próximos das residências. A Holanda é referência em separação dos resíduos sólidos, do reuso, reutilização e reciclagem, o país valoriza a mobilidade urbana com o uso intenso de bicicletas para a locomoção de forma limpa e saudável, mas investe também na qualidade de outros modais de transporte. Segundo o Instituto Ethos (2014), () em Amsterdã, por exemplo: Amsterdã foi construída em volta do rio Amsted e por isso tem características únicas. A cidade passou por um processo de drenagem para que pudesse ser habitada, o que fez com que suas ruas ficassem abaixo do nível do rio e do mar. Assim, o planejamento da cidade foi realizado de forma a manter a qualidade de vida e evitar problemas oriundos do cenário no qual ela se insere. (...) Nas ruas, intercalam-se bicicletas, carros, trens e bondes, além de ilhas e calçadas para os pedestres. Graças a essa integração, a cidade se movimenta constantemente, sem a pressa característica das grandes cidades. 10 A cidade de Amsterdã participa do movimento smart cities (cidades inteligentes), cujo foco é criar e divulgar iniciativas que propiciem mais qualidade de vida à população urbana, principalmente, nos quesitos sustentabilidade e energia eficiente e renovável. A França é referência na sustentabilidade alimentar, pois investe bastante na conscientização de sua população para não desperdiçar alimentos prontos ou in natura. Segundo The Economist Intelligence Unit, em seu índice Food and sustainability, em 2017, a França estava na liderança do ranking dos países com as melhores práticas para evitar os desperdícios, com apenas 1,8% da sua produção de alimentos desperdiçada, mas a pretensão é reduzir isso pela metade até 2025. A França também está realizando uma força tarefa com suas embaixadas pelo mundo. Segundo a embaixada francesa no Brasil: Economia de água, energia elétrica, papel, produtos de informática, copos plásticos... Desde a adoção do projeto Embaixada Verde de sustentabilidade a prática do consumo consciente v em transformando o dia a dia na Embaixada da França ao reduzir o impacto da representação diplomática sobre o planeta e fornecer qualidade de vida para seus funcionários. (Embaixada da França no Brasil, 2017). O último exemplo é a Espanha cujo foco de sustentabilidade está voltado para mobilidade urbanização, segundo o Instituto Ethos (2014), Barcelona na Espanha: tem realizado intervenções no sistema viário visando a melhoria do transporte público para que a população local e os turistas, optem por esse modal, em detrimento de um veículo particular. Barcelona conta com metrô por 117km de extensão e estimula o uso de bicicletas com sistema fácil de aluguel e pontos de recarga para veículos elétricos. Esses são apenas alguns exemplos que podem ser adotados pelo Brasil para melhorar a eficiência dos projetos de sustentabilidade. Com os eventos do movimento smart cities, as cidades têm se reunido e discutido assuntos que desafiam o mundo todo no quesito sustentabilidade urbana. Alguns temas discutidos em 2018, no congresso Smart City Expo, realizado em Curitiba, foram economia circular; gerenciamento de resíduos; energia sustentável; transporte público; espaços abertos e verdes; design urbano; mobilidade elétrica; eficiência urbana; mudanças climáticas; poluição, resiliência. 11 TEMA 4 – MERCADOS SECUNDÁRIOS Os mercados secundários não são constituídos apenas de produtos advindos dos canais reversos, mas é fato que, se a logística reversa estiver devidamente organizada e constituída, pode contribuir para a melhoria desse processo. Os produtos vendidos nos mercados secundários podem ter diversas origens, então, vamos discutir algumas delas: Produtos salvados: as empresas, normalmente, pagam seguro sobre a carga transportada, coberta pela apólice da transportadora. Isso é importante porque, infelizmente, acidentes e roubos de cargas podem acontecer a qualquer momento. Nesses casos, o procedimento normal é a seguradora pagar o valor estipulado na apólice para a empresa proprietária da mercadoria e ficar com os produtos, avariados ou não. Quando os produtos foram furtados, isso se concretiza quando a carga (ou parte dela) é recuperada. Mas uma seguradora não tem interesse em ficar com produtos (avariados ou não), porque esse não é o negócio dela. Com isso, surgiu um novo mercado de “produtos salvados”, os quais podem conter pequenas avarias ou estar em perfeitas condições. As seguradoras vendem tais produtos para os comerciantes desse segmento, que negociam as mercadorias legalmente. Isso significa dizer que o produto tem nota fiscal, tem garantia (geralmente, pela loja) e o preço é menor do que aquele comprado no mercado primário. Produtos recuperados/remanufaturados: nesse caso, os produtos voltam para o fabricante para que seja atualizado, principalmente, em termos de tecnologia. Segundo a Anrap (2017), Um dos maiores benefícios das peças remanufaturadas é a garantia de ter um produto recuperado através de processos e normas de quem detém a tecnologia de fabricação. Os produtos remanufaturados passam pelos mesmos processos de produção de uma peça nova, considerando as mesmas normas de qualidade, melhorias e atualizações tecnológicas. O uso de produtos remanufaturados é comum na indústria da manutenção automotiva, reduzindo os custos para os proprietários. Produtos advindos de devolução das lojas, também conhecidos como ponta de estoque: as lojas de departamentos e de móveis, decoração, confecções, calçados entre outros, geram um fluxo interessante de produtos devolvidos por vários motivos: pequenos defeitos de funcionamento, falhas de acabamento, produtos usados algumas vezes ou alguns dias (depende da política 12 da loja e da legislação), entre outras situações. O fato é que os produtos regressam à loja e precisam retornar para a área de vendas, mas não no mercado primário. Por isso esses produtos são vendidos em locais apropriados, com regras claras para que o cliente saibaque está adquirindo por um preço menor porque o produto passou por reparos e é originado das assistências técnicas, reembalagem, embalagens que foram abertas, ou algo similar. Produtos que são saldos de coleção: as grandes redes (lojas de departamentos, principalmente) que comercializam confecções e calçados trocam de coleção de acordo com a estação para atender seu público sempre com as últimas novidades. O fato é que nem sempre toda a coleção é vendida durante o período adequado, fazendo com que parte dos produtos fiquem pelas lojas. Sendo assim, algumas redes trabalham com a devolução dos produtos aos fabricantes, os quais podem utilizar os mercados secundários para desovar os estoques. É claro que as redes que trabalham com marcas próprias não permitirão que produtos com suas etiquetas sejam vendidas por valores mais baixos no mercado, porque isso atrapalharia seus negócios. Nesses casos, cada rede negocia uma política com seus fornecedores, mas é fato que esses produtos não são destruídos, e sim, vendidos em outros mercados. Produtos de empresas que encerraram as atividades: infelizmente, algumas empresas fecham suas portas por vários motivos, como problemas financeiros, falha na sucessão familiar, troca de segmento, mudança de perfil do cliente, entre outras possibilidades. Algumas dessas empresas fazem grandes liquidações para acelerar a venda e o que sobra vendem nos mercados secundários. Liquidação de produto que será descontinuado: devido aos ciclos de vida de produtos (CVPs) cada vez menores, é comum as indústrias descontinuarem a produção de alguns produtos para abrir espaço para fabricação de bens mais atualizados. Sendo assim, o estoque que estiver parado será negociado em mercados secundários para acelerar a venda. Produtos próximos das datas de vencimento: outro negócio bastante comum dos mercados secundários são as lojas que vendem produtos (principalmente, alimentícios) que estão próximos de seu vencimento. A venda é feita por um preço menor do que no mercado primário, mas o cliente sabe que o consumo deve ser breve também. Em alguns locais do Brasil, são chamados de “gulas” e são lojas que recebem produtos negociados com os fornecedores das 13 redes supermercadistas que exigem que os promotores das marcas retirem os produtos que estão próximos do vencimento. Claro que essa política não é utilizada para marcas próprias, pois um grande hipermercado não permitiria que produto com sua marca fosse revendido em lojas gulas. A partir dos exemplos dos mercados secundários apresentados, podemos avaliar que a logística reversa é crucial para o sucesso da maioria deles, pois é a operação que dará o suporte para que os produtos migrem de um mercado para outro (do primário para o secundário). TEMA 5 – GERAÇÃO DE EMPREGOS As operações de logística reversa envolvidas na reciclagem (segmento de pós-consumo) geram oportunidades de trabalho em vários segmentos e várias fases do processo. É bem provável que a primeira imagem que desenhamos em nossa mente, quando pensamos na geração de empregos na área de LR, são as cooperativas de catadores. Mas o número de empregos gerados é muito maior. Podemos analisar por fase da LR. A primeira fase é caracterizada pelas atividades de coleta seletiva, transporte até as cooperativas ou ONGs, triagem dos resíduos, classificação de acordo com o valor de mercado e sua comercialização. A coleta seletiva é a base para tudo o que estudamos até agora. No caso dos produtos de pós-consumo, isso inicia nas famílias que devem fazer sua parte e separar, adequadamente, os resíduos, mas também temos outras fontes. Campos e Goulart (2017, p. 116) explicam que Para que seja possível uma coleta seletiva, faz-se necessária, por parte das fontes geradoras dos resíduos, a separação prévia de acordo com o tipo e a composição, as quais podem ser o comércio, a indústria, prestadores de serviços ou o cidadão, e a separação pode se dar por coletores, com a identificação dos tipos de materiais, sendo os mais comuns o papel, o plástico, o vidro, o metal, o orgânico e o não reciclável (os perigosos, por exemplo). Na fase da coleta, um verdadeiro exército de pessoas trabalha para as cooperativas e para ONGs, garantindo renda para o sustento de suas famílias. Quando os materiais chegam às cooperativas, outra fase se inicia, a triagem, que, segundo o Ministério do Meio Ambiente Quando esta coleta mínima existe, os resíduos recicláveis secos coletados são geralmente transportados para centrais ou galpões de triagem de resíduos, onde os resíduos são separados de acordo com sua composição e posteriormente vendidos para a indústria de 14 reciclagem. Os resíduos orgânicos são tratados para geração de adubo orgânico e os rejeitos são enviados para aterros sanitários. Depois da triagem, os produtos são classificados de acordo com a valorização que têm no mercado e do segmento de indústria que os receberão para o reprocessamento. Depois disso, são encaminhados para o enfardamento e direcionados para as empresas que os adquirem, o que, normalmente, já foi previamente negociado. Em todas essas fases, há inúmeras famílias que dependem dos recursos financeiros gerados pela reciclagem, mas existe bastante informalidade ainda nesse segmento e, nem sempre, os colaboradores são registrados ou recebem algum tipo de benefício. As indústrias que recebem os materiais a serem reciclados também geram empregos e rendas, mas estão em outra categoria porque, nesses casos, a empresa registra a todos e oferece alguns benefícios, dentro das possibilidades da empresa. Os próprios lixões, infelizmente, ainda são fonte de renda para muitas famílias, mas com o avanço da implantação da PNRS, essa realidade será alterada. Haverá a necessidade de uma força tarefa entre o poder público, as empresas e a sociedade civil em capacitar essas famílias para obterem renda de outras fontes. Mas a logística reversa de pós-venda, representada pelos mercados secundários, também gera muitos empregos, principalmente, nas áreas de vendas e atendimento ao público consumidor. Quanto mais produtos forem devolvidos, por quaisquer motivos, maiores serão as necessidades de pessoas para trabalhar com isso. Observe um dado interessante sobre o e-commerce que utiliza muito a logística reversa e, consequentemente, cria vagas nesse segmento: No e-commerce, a logística reversa trata dos produtos que, por alguma razão, devem retornar ao fabricante ou à empresa que vendeu, logo após a venda. O e-commerce fatura atualmente quase R$ 60 bilhões por ano no país, sendo que aproximadamente R$ 3 bilhões em produtos necessitam da logística reversa, pois precisarão retornar aos vendedores. Mesmo tendo diversas empresas que já se estruturaram para atender a este mercado, ainda existem enormes oportunidades porque este mercado cresce a cada dia e continuará crescendo até na crise. As lojas de e-commerce normalmente usam as seguintes modalidades para a devolução de produtos: Coleta no local; Coleta no local com hora marcada; Pontos de entrega; Logística reversa simultânea”. (Trevisan, 2016, S.d.) 15 Além dos tipos de empregos citados, outras áreas ligadas, indiretamente, à logística reversa (pós-venda ou pós-consumo) criam vagas. Vejamos, a seguir, quais são elas. Capacitações específicas para as atividades de reciclagem como manejo correto de resíduos, movimentação de produtos perigosos, transporte de produtos contaminantes, tóxicos ou outros, classificação de bens de pós-venda e pós consumo. Qualificação de trades e trading company para trabalhar com logística reversa internacional ou negociação de produtos nos mercados secundários internacionais. Capacitação na área de legislação ambiental para dar suporte às empresas, cooperativas e ONGs que atuam nesses segmentos, entre outros. Área de pesquisae desenvolvimento de procedimentos, processos e equipamentos que facilitem ou reduzam o tempo de ciclo dos canais reversos, fazendo com que os resíduos cheguem o mais rápido possível aos seus destinos. Conforme a tecnologia e a legislação ambiental evoluírem, novas áreas, certamente, serão criadas, novas necessidades de conhecimento serão identificadas e novas vagas serão criadas. FINALIZANDO Nesta quinta aula, sobre logística reversa e gestão de resíduos, aprendemos sobre a importância da sustentabilidade para as gerações futuras. Com isso, buscamos conhecer o que algumas empresas no Brasil têm feito em relação ao tema e como elas têm influenciado a sociedade a pairar um olhar mais crítico sobre as relações com os fabricantes dos bens de consumo. E para responder nossa pergunta inicial que versava sobre a possibilidade de fazermos “benchmarking com empresas, cidades e países” para conhecer suas melhores práticas nesse tema, foram apresentados alguns exemplos de sucesso. Respondemos ao questionamento conhecendo algumas práticas adotadas pela empresa Natura e O Boticário, duas gigantes no segmento de cosméticos no Brasil. Conhecemos, também, iniciativas de países como Japão, Suécia e França e de cidades como Bremen e Essen, na Alemanha; Amsterdã, na Holanda; e Barcelona, na Espanha. Esses países e cidades podem ser referências em ideias para serem adaptadas no Brasil e que acelerem o processo de conscientização sobre a gestão ambiental. 16 Para finalizar, discutimos sobre mercados secundários para os bens de pós-venda e de pós consumo e sobre a geração de empregos nesses segmentos. Concluímos que a base para tudo isso está na educação ambiental, que deve ser incluída e reforçada a todos. Leitura obrigatória Texto de abordagem teórica Amplie seu conhecimento sobre sustentabilidade: leia as páginas 91 até 100 (Capítulo 4, itens 4.1 e 4.2) do livro Ética e Meio Ambiente: construindo as bases para um futuro sustentável, de Mário Sérgio Cunha Alencastro. Disponível na biblioteca virtual. Texto de abordagem prática Assista a um vídeo que trata da reciclagem de lixo no Japão. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=xjgZALE4Dm8>. Saiba mais Amplie seu conhecimento sobre o problema ambiental global assistindo ao vídeo que comenta sobre economia e sustentabilidade: fatos, mitos e caos com Wilson Cabral. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_un2hGEpH K8>. 17 REFERÊNCIAS ANRAP – Associação Nacional dos Remanufaturadores de Autopeças. Conheça os principais benefícios dos produtos remanufaturados. 28 set. 2017. Disponível em: <http://www.anrap.org.br/noticias/conheca-os-principais- beneficios-dos-produtos-remanufaturados/>. Acesso em: 11 jul. 2018. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Coleta seletiva. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de- materiais-reciclaveis/reciclagem-e-reaproveitamento>. Acesso em: 11 jul. 2018. CAMPOS, A. de. GOULART, V. D. G. Logística reversa integrada: sistemas de responsabilidade pós-consumo aplicados ao ciclo de vida dos produtos. São Paulo: Erica, 2017. BANJOMANBOLD. A reciclagem na Suécia é tão revolucionária que eles estão ficando sem lixo. CETESB, 29 jun. 2017. Disponível em: <http://cetesb.sp.gov.br/biogas/2017/06/29/a-reciclagem-na-suecia-e-tao- revolucionaria-que-eles-estao-ficando-sem-lixo/>. Acesso em: 11 jul. 2018. COMISSÃO EUROPEIA AMBIENTE. Bem-vindos a Essen, capital verde da Europa 2017. 19 jan. 2017. Disponível em: <https://ec.europa.eu/environment/efe/themes/welcome-essen-european-green- capital-2017_pt>. Acesso em: 11 jul. 2018. EMBAIXADA DA FRANÇA NO BRASIL. Projeto de sustentabilidade consolida consumo consciente na Embaixada da França. 14 jul. 2017. Disponível em: <https://br.ambafrance.org/Projeto-de-sustentabilidade-consolida-consumo- consciente-na-Embaixada-da-Franca>. Acesso em: 11 jul. 2018. FOOD sustainability index. The Economist. Disponível em: <http://foodsustainability.eiu.com/country-ranking/>. Acesso em: 11 jul. 2018. GRUPO BOTICÁRIO. Relatório de Sustentabilidade 2016. 2016. Disponível em: <http://www.grupoboticario.com.br/pt/Documents/GrupoBoticario-Relatorio- Sustentabilidade-2016.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2018. INSTITUTO ETHOS. Espanha e Holanda estão na frente no jogo da mobilidade urbana. 13 jun. 2014. Disponível em: <https://www3.ethos.org.br/cedoc/espanha-e-holanda-estao-na-frente-no-jogo- da-mobilidade-urbana/#.W0cW4dVKipp>. Acesso em: 11 jul. 2018. 18 MATOS, R. 10 lições sustentáveis que o Japão pode ensinar ao mundo. IPC Digital. 26 out. 2015. Disponível em: <http://www.ipcdigital.com/nacional/10- licoes-sustentaveis-que-o-japao-pode-ensinar-ao-mundo/>. Acesso em: 12 jul. 2018. PEREIRA, C. Planejamento de comunicação: conceitos, práticas e perspectivas. Curitiba: InterSaberes, 2017. RABAÇA, C. A.; BARBOSA, G. G. Dicionário essencial de comunicação. Rio de Janeiro: Lexikon, 2014. TREVISAN, E. 10 tipos de logística reversa para você transportar, o último é meu preferido! Frete com lucro. 04 abr. 2016. Disponível em: <https://fretecomlucro.com/logistica-reversa/>. Acesso em: 11 jul. 2018. VENCEDORA do Prêmio Mobilidade Urbana Sustentável da União Europeia, cidade alemã é parceira de BH. WRI BRASIL Cidades Sustentáveis, 25 mar. 2015. Disponível em: <http://wricidades.org/noticia/vencedora-do- pr%C3%AAmio-mobilidade-urbana-sustent%C3%A1vel-da-uni%C3%A3o- europeia-cidade-alem%C3%A3-%C3%A9-parceira>. Acesso em: 12 jul. 2018. VISÃO de sustentabilidade 2050. Natura, nov. 2014. Disponível em: <http://www.natura.com.br/sites/default/files/static/sustentabilidade/natura_visao _sustentabilidade_2050.pdf?utm_so>. Acesso em: 11 jul. 2018.
Compartilhar