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Prova de Psicologia na Administração - Trabalho Prescrito, Trabalho Real, Direitos Trabalhistas, Ergonomia, Qualidade de Vida, Bem-estar, Neoliberalismo

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Assistindo a reportagem realizada pelo jornal Estadão a respeito da rotina de trabalho de um ciclista de aplicativo, é possível analisar diversos pontos tangentes à psicologia do trabalho, além de suscitar vários questionamentos e críticas à nossa sociedade e modo de produção.
Logo no início, é apresentado Leandro Souza que possui 37 anos e segundo a matéria, há 3 meses fazia entregas com a sua bicicleta para os aplicativos de comida Ifood e Rappi. Seu último emprego formal foi em 2016, como copeiro de hospital, fato esse que remete aos profundos reflexos da recessão econômica brasileira iniciada em 2014 e que justamente coincide com o aumento na taxa de desemprego do país. Do ano de 2015 para 2016, o número de desempregados subiu de 8,5 milhões para 11,8 milhões, e em 2017, o resultado foi cerca de 14 milhões, número esse que incluía o protagonista da reportagem. 
Fruto direto ou não do sistema neoliberalista, cuja características são mínima intervenção do estado na economia, aumento das privatizações e processo de desregulamentação da força de trabalho e enfraquecimento dos sindicatos; a Reforma Trabalhista realizada em 2017, criou o ambiente perfeito para a fragilização dos direitos trabalhistas e possibilitou legalmente a rotina árdua do trabalho informal, na qual pessoas como o Leandro Souza estão sujeitas e é mostrado assim no documentário assistido.
Ao acompanhar a rotina das entregas, vemos a difícil realidade enfrentada por Leandro em seu trabalho, a qual passa desapercebida por muitos, tanto pelos donos dos aplicativos, pelos fornecedores e principalmente, os clientes. Percebe-se também o tanto que destoa a realidade da expectativa sobre esse trabalho, uma vez que o cliente visa uma entrega a mais rápida possível e em perfeitas condições, já os aplicativos e os fornecedores buscam máxima dedicação dos entregadores, além de usarem do discurso que essa forma de trabalho é um modo da pessoa ser seu próprio chef, ser responsável pelos seus horários e que quanto maior o seu esforço, maior os ganhos, semelhantemente à política do aplicativo Uber também. No entanto, o cenário do trabalho apresentado é opressor, menospreza os direitos trabalhistas e faz com o que o trabalho prescrito seja uma utopia em relação ao trabalho real. 
Para iniciar a sua jornada que começa às 10 horas, Leandro precisa deslocar com o auxílio de uma bicicleta, do município de Taboão da Serra até o bairro Pinheiros, na cidade de São Paulo. Chegando ao Largo da Batata, onde ele faz as entregas, ele recebe o primeiro pedido, o qual teria que andar cerca de 5 Km para receber apenas R$ 4,83, no entanto, ele recusa e parte para o segundo pedido que só vem às 15 horas. Até o momento, estava sem se alimentar e partiu em alta velocidade em meio a inúmeros veículos, sujeito a acidentes e ás más intempéries, tendo que chegar rápido ao estabelecimento para a retirada da comida, para não ultrapassar o limite de tempo, senão o aplicativo cancelaria a corrida e passariam para outro entregador. Tanto no local da retirada do pedido como no da entrega, Leandro não tinha um lugar específico para deixar o seu instrumento de trabalho, deixando-o suscetível a roubos e multas, tudo para ganhar R$ 5,42. Até 19:30, ele só tinha conseguido fazer uma entrega apenas, e como estava sem comer e tinha feito uma entrega só, ele resolveu voltar para casa às 21:30. No sábado, ele trabalhou durante 10 horas, fez quatro entregas e ganhou no total apenas R$ 38,65. No dia seguinte, no domingo, a reportagem também informa que infelizmente, ele teve sua bicicleta roubada durante o trabalho e teve que recorrer à uma emprestada por um amigo para poder continuar ganhando sua forma de sustento.
Ao analisar a rotina de Leandro como ciclista de aplicativo, infere-se uma série de ameaças à qualidade e bem-estar de sua vida e também uma série de infrações dos direitos humanos e trabalhistas. Por exemplo, a pressão em entregar o máximo de resultados ao aplicativo e em menor tempo possível, o faz ter que pedalar em alta velocidade entre vários veículos, colocando em risco de sofrer um grave acidente; e propicia o aparecimento de doenças psíquicas e físicas, como ansiedade, estresse, dores musculares e problemas fisiológicos, já que passa muito tempo trabalhando, sem comer e sem pausa. Ademais, vale ressaltar o risco que ele corre de ser roubado e de ter sua ferramenta de trabalho furtada, como aconteceu de fato. Por fim, também a incerteza sobre o futuro e a falta de segurança no trabalho, já que uma vez trabalhando informalmente, ele não possui benefícios, como remuneração fixa, 13º salário, férias remuneradas, amparo da lei em caso de acidentes no trabalho e o acesso à previdência, torna-se um sonho distante nessa situação. Tudo isso, estando direta ou indiretamente relacionado, são consequências relacionadas tanto do Neoliberalismo, da Reforma Trabalhista em 2017, da Recessão Econômica, que fazem com que direitos primordiais como os trabalhistas sejam questionados, e também, com grande peso, da extrema lonjura entre o trabalho prescrito e o real.

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