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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO MEDIDAS E PENAS ALTERNATIVAS JULIAN GRASIELE GONÇALVES ITAJAÍ (SC), NOVEMBRO DE 2008. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO MEDIDAS E PENAS ALTERNATIVAS JULIAN GRASIELE GONÇALVES Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor MSc Rogério Ristow Itajaí (SC), novembro de 2008. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com AGRADECIMENTOS Em primeiríssimo lugar, a Deus, pelo dom da vida, pela dádiva da saúde e pelo presente maior, que é minha família. Aos meus amados pais, Julio e Neusa, pela confiança, paciência e admiração investidas em mim. Ao meu irmão Julio, pelo grande apoio prestado. À minha grande amiga Simone, pelas reiteradas ajudas, incansáveis conselhos, inúmeras palavras de carinho e imensuráveis horas de amizade. À minha irmã de pai e mãe diferente, Thay, pelo exemplo de alegria que ela foi para mim por cinco anos. Ao meu namorado, amor, amado, Diego, meu melhor amigo, pois sem sua compreensão e amor, não teria conseguido chegar aonde cheguei. Ao mein Lehrer Rogério Ristow, por aceitar o desafio de confrontar tema tão discutido. Danke! E aos demais professores, que ajudaram de forma indireta para que este sonho se tornasse realidade. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com “A maior necessidade do mundo é a de homens; homens que não se comprem e nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola é ao pólo. Homens que permaneçam firmes pelo que é certo ainda que caiam os céus.” (Helen G. White) Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí (SC), novembro de 2008. Julian Grasiele Gonçalves Graduanda Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Julian Grasiele Gonçalves, sob o título "Medidas e Penas Alternativas", foi submetida em 19 de novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Itajaí (SC), novembro de 2008. Prof. MSc.Rogério Ristow Orientador e Presidente da Banca Prof. MSc. Carlos Roberto da Silva Examinador da Banca Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS Art. – Artigo CP – Código Penal CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988 LEP - Lei de Execução Penal UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias1 que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2. Ação “Ato de agir, modo de atuar, de objetivar a vontade.”3 Apenado “Indiciado condenado em processo penal e que cumpre regularmente a sanção aflitiva em estabelecimento penal.”4 Crime “É uma conduta (ação ou omissão) contrária ao Direito, a que a lei atribui uma pena.”5 Culpa “É a falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para observá-la, com resultado não objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das conseqüências eventuais de sua atitude.”6 1 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia”; PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. 7. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. p. 40. 2 “Conceito Operacional (= cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. p. 56. 3 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Brasileiro Acquaviva. 9 ed. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1998. 4 SOIBELMAN, Leib. Dicionário Geral de Direito. São Paulo: J. Bushatsky. 1973, v.2, p.526. 5 PIMENTEL, Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1983, p. 2. 6 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Brasileiro Acquaviva. 9 ed. São Paulo: Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com Egresso “Entende-se por egresso o detento ou recluso que, tendo cumprido a pena, ou por outra causa legal se retirou do estabelecimento penal.”7 Estado “È a organização da Nação em uma unidade de poder, a fim de qua a aplicação das sanções se verifique segundo uma proporção objetiva e transpessoal. Para tal fim o Estado detém o monopólio da coação no que se refere à administração da justiça.”8 Pena “É uma sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao autor de uma infração (penal), como retribuição do seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novo delitos.”9 Pena Privativa de Liberdade “É a medida de ordem legal, aplicável ao autor de uma infração penal, consistente na perda de sua liberdade física de locomoção e que se efetiva mediante seu internamento em estabelecimento prisional.”10 Penitenciária “Presídio especial ao qual se recolhem os condenados às penas de detenção e reclusão e onde o Estado, ao mesmo tempo que os submete à sanção das suas leis punitivas, presta-lhes assistência e ministra instrução primária, educação, moral e cívica e conhecimentos necessários a uma arte ou ofício à sua escolha, fim de que possam regenerar-se ou reabilitar-se para Editora Jurídica Brasileira, 1998. 7 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal: Comentários à Lei 7.210 de 11-7-84. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 30. 8 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 76. 9 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, volume 1: parte geral. 28 ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 529. 10 LEAL, João José. Direito Penal Geral. Florianópolis: OAB Editora, 2004, p. 391. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com)http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com o convívio da sociedade.”11 Prisão “Medida judicial ou administrativa, de caráter punitivo, restritiva de liberdade de locomoção.”12 Reincidência “É a situação de quem pratica um fato criminoso, após ter sido condenado por crime anterior, em sentença transitado em julgado.”13 Reinserção Social “É um instituto do Direito Penal, que se insere no espaço próprio da Política Criminal (pós cárcere), voltada a reintrodução do ex-convicto no contexto social visando criar o modus vivendi entre este e a sociedade.”14 11 FELIPPE, Donaldo J. Dicionário de expressões latinas: termos e expressões em latim, com a versão para o português. 5.ed. Campinas: Julex, 1991, p. 121 12 ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Brasileiro Acquaviva. 9 ed. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 1998. 13 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, parte geral. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 434. 14 FALCONI, Romeu. Sistema Presidial: reinserção Social? São Paulo: Ícone,1998, p. 122. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com SUMÁRIO RESUMO................................................................................................. XIII INTRODUÇÃO ...........................................................................................1 CAPÍTULO 1 AS PENAS NA ESFERA TEMPORAL 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS ...................................................................4 1.1.1 Vingança Privada ............................................................................................4 1.1.2 Vingança Divina...............................................................................................6 1.1.3 Vingança Pública ............................................................................................8 1.1.4 Período Humanitário da Pena.........................................................................9 1.1.4.1 Cesar Beccaria .............................................................................................9 1.1.4.2 John Howard................................................................................................10 1.1.4.3 Jeremias Bentham ......................................................................................10 1.1.5 Surgimento da Prisão.....................................................................................11 1.2 HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO E SUA EVOLUÇÃO .........................12 1.2.1 O Aborígene...................................................................................................13 1.2.2 Brasil Colonial .................................................................................................14 1.2.3 O Império ........................................................................................................15 1.2.4 A República ....................................................................................................16 1.3 ORIGEM DAS PENAS ALTERNATIVAS E AS REGRAS DE TÓQUIO......................21 1.3.1 Escolas Penais ................................................................................................21 1.3.1.1 Escola Clássica ...........................................................................................21 1.3.1.2 Escola Positiva .............................................................................................23 1.3.1.3 Outras Escolas .............................................................................................24 1.3.2 As Regras de Tóquio ......................................................................................24 1.4 A PENA – SEU CONCEITO ..................................................................................26 1.4.1 Fundamentos da Pena ..................................................................................27 1.4.2 Finalidade da Pena........................................................................................28 Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com CAPÍTULO 2 MODALIDADE DE PENAS ALTERNATIVAS NO DIREITO PENAL PÁTRIO 2.1 PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO .........................................................................32 2.1.1 Prestação Pecuniária ....................................................................................34 2.1.2 Perda de Bens e Valores ...............................................................................37 2.1.3 Prestação de Serviço à Comunidade ou a Entidades Públicas ...............38 2.1.4 Interdição Temporária de Direitos................................................................40 2.1.4.1 Proibição de Exercício de Cargo, Função ou Atividade Pública, Bem como Mandato Elitivo ............................................................................................42 2.1.4.2 Proibição de Exercício de Profissão, Atividade ou Ofício que Dependam de Habilitação Especial, de Licença ou Autorização do Poder Público .....................................................................................................................43 2.1.4.3 Suspensão de Autorização ou Habilitação para Dirigir Veículo ...........44 2.1.4.4 Proibição de Freqüentar Determinados Lugares.....................................47 2.1.5 Limitação de Fim de Semana.......................................................................48 2.2 CONDIÇÕES LIMITADORAS À SUBSTITUIÇÃO ..................................................50 2.3 CONVERSÃO ......................................................................................................53 CAPÍTULO 3 SISTEMA PRISIONAL, EFETIVIDADE DAS PENAS ALTERNATIVAS E A NECESSIDADE DE PROMOÇÃO DA REINSERÇÃO DO APENADO 3.1 O FRACASSO DO SISTEMA PRISIONAL .............................................................57 3.1.1 Sistema Prisional como Fator Criminológico...............................................59 3.1.2 Busca por Medidas Alternativas à Pena de Prisão.....................................63 3.2 EFETIVIDADE DAS PENAS ALTERNATIVAS..........................................................65 3.3 QUESTÕES POLÊMICAS ACERCA DA APLICABILIDADE DAS PENAS ALTERNATIVAS .........................................................................................................67 3.3.1 Aplicação do benefício para condenados por crimes hediondos ou a eles equiparados ....................................................................................................67 3.3.2 Manifestações doutrinárias acerca da Lei 9714/98...................................71 Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................75 Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com RESUMO A presente monografia tem como objeto de estudo a aplicabilidade das penas e medidas alternativas à privativa de liberdade no ordenamento jurídico brasileiro, visando demonstrar a importância destas para os crimes de menor potencial ofensivo. O presente trabalho é composto de três capítulos, que se destacam pelos seguintes conteúdos e objetivos específicos: O primeiro capítulo trata do resultado da pesquisa acerca da evolução histórica das penas através do tempo, sua evolução no Brasil, a origem das penas alternativas, citando o momento de seu surgimento, previsto nas regras de Tóquio e as Escolas Penais; no segundocapítulo abordar-se-á o estudo acerca das modalidades de penas alternativas previstas no Direito Penal Pátrio; o terceiro capítulo trata especificamente sobre o sistema prisional, a eficácia das penas alternativas e a necessidade de reintegrar o indivíduo condenado. Portanto, a finalidade desta pesquisa é destacar as penas alternativas, bem como seu benefício para com o apenado e a sociedade. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 1 INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto a análise das Medidas e Penas Alternativas no Direito Penal; como objetivo específico a definição, delimitação, exemplificação e diferenciação dos casos de aplicabilidade das Penas Alternativas. O tema é relevante por apresentar ampla discussão na doutrina, e é de grande importância . O objetivo institucional é o de produzir a presente Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí. No presente trabalho adotar-se-á o método dedutivo, que no entendimento de Passold15, busca os elementos legais, doutrinários e jurisprudenciais com o prévio compromisso científico de, a organizar e compor o material recolhido, atender à formulação geral que previamente estabeleceu. Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, Para tanto, principiar–se-á, no Capítulo 1, tratando da evolução histórica das penas através do tempo e sua evolução no Brasil, passando em seguida a estudar acerca dos fundamentos e finalidades da pena de prisão. Ademais, tratar- se-á da origem das penas alternativas onde não poderemos deixar de citar as regras de Tóquio, suas razões e origens, pois estas ensejaram para criação da Lei n. 9.714/98, onde trata da introdução das penas alternativas do direito pátrio. 15 PASSOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: Idéias e Ferramentas Úteis para o Pesquisador do Direito. 9 ed. Florianópolis: OAB/SC, 2005, p. 92-93. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 2 No Capítulo 2, tratar-se-á acerca das penas alternativas, ou também denominadas como restritivas de direito, passando por suas modalidades e requisitos para sua aplicabilidade. No Capítulo 3, abordar-se-á a falência do sistema prisional, bem como a efetividade da finalidade da pena, quer seja sua função ressocializadora. O presente Relatório de Pesquisa encerrar-se-á com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre as penas alternativas. Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: 1º Problema: A finalidade pretendia na execução das penas é plenamente alcançada? Tem-se a possibilidade de recuperação do apenado aplicando-se pena diferenciada da pena de reclusão? 1ª Hipótese: As penas alternativas são benéficas ao apenado, uma vez que este não se submeta ao recolhimento prisional; 2º Problema: O sistema prisional brasileiro tem condições de recuperar o apenado? 2ª Hipótese: A pena alternativa é benéfica não só para o punido, como para sociedade, pelo fato do detentor do benefício não recolher-se à prisão em companhia com criminosos de maior periculosidade, Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 3 evitando assim a sua corrupção; 3º Problema: Existem problemas na conversão da pena restritiva de liberdade em pena alternativa, pelo não cumprimento das condições estabelecidas no benefício? 3ª Hipótese: O não cumprimento dos requisitos impostos às penas alternativas, implicará na perda do benefício e na conversão por pena privativa de liberdade. Além das palavras, expressões e respectivos conceitos constantes no rol de categorias, existem outros conceitos e definições no decorrer dos capítulos desta monografia. A área da concentração restringe-se ao “Direito Público”. A linha de pesquisa é “Direito Penal”. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com AS PENAS NA ESFERA TEMPORAL O homem não tem natureza, tem história, sendo que o passado, a experiência anterior, deságua e forma o presente, pois somos hoje a conseqüência do já havíamos sido. Ortega y Gasset 1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS É admissível afirmar que o direito penal construiu sua base norteadora sobre a história da humanidade, através dos desdobramentos dos tempos, configurando os preceitos de certo e errado, justo e injusto, correto e não-correto, embasados nas ações do homem. A pena de prisão está embrionariamente radicada nos primeiros tempos da Idade Média, formulada como punição imposta aos monges ou clérigos faltosos, que viviam em comunidades nos mosteiros, fazendo com que se recolhessem às celas para se dedicarem, em silêncio, à meditação e a arrependimento de falta cometida, buscando o perdão e a reconciliação com Deus.16 Portanto, partindo dessa premissa de sentimento religioso e místico que assaltava a imaginação dos homens nos primórdios, deve-se considerar a classificação das penas através dos tempos em: vingança privada, vingança divina, vingança pública, e posteriormente, a prisão. 1.1.1 Vingança privada A primeira forma de punição foi a vingança privada. 16 PIMENTEL, Manoel Pedro. Sistemas Penitenciários. São Paulo: RT, 1989, n. 639:265. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 5 Nesta determinada fase, ocorrido o fato criminoso, instintiva e rapidamente ocorria a reação da vítima, ou, na falta deste, dos parentes ou até mesmo do grupo social na qual aquele existia. A reação, nesse caso, era sempre precedida pela ação. Neste diapasão, ensina MARTINS17: Nos primórdios, a punição por um crime restringia-se à vingança privada. Vigia a lei do mais forte, do que detinha maior poder, que não encontrava limites para o alcance ou forma de execução da reprimenda que entendia em aplicar (...). Portanto, há de se falar em vingança privada por justamente haver a figura da retaliação pessoal contra o agressor do bem injuriado. A vingança na sua forma pessoal era a resposta instintiva à ofensa sofrida. A constituição dessa vingança ocorria justamente por não haver a figura do órgão competente para julgar e definir a punição ao ofensor18. Apesar de constituir uma reação natural do ofendido, a vingança privada não configurava um instituto de âmbito jurídico, sendo apenas uma realidade sociológica da época. Ademais, a reação tomava proporção maior do que a ação que a precedia, tendo-se, portanto, a primeira forma de repressão conhecida: o talião. Tal modalidade de pena surgiu no período neolítico, 17 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 1 ed., 2 tir. Curitiba: Juruá, 1999, p. 21. 18 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p. 24. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 6 baseada na reciprocidadedo crime e da pena. É a partir desta modalidade que surge a máxima “Oculum pro óculo, dentem pro dente”. Conforme aduz Magalhães Noronha19, o talião refutava a idéia de correlação e semelhança entre o mal causado e o castigo imposto: para tal crime, tal pena. Data-se o surgimento da Lex Talionis em 1730 a.C., em leis antigas, como o Código de Hamurábi, pertencente ao reino da Babilônia, e como o Pentateuco e o de Manu. Segundo OLIVEIRA20: A lei de talião era bem mais racional do que as outras formas de vingança punitiva, mas ainda não era reconhecida propriamente como um gênero de pena; porém, sua importância lhe é devida por ser a primeira fórmula de justiça penal. O surgimento da lei de talião almejava evitar que os indivíduos cometessem vingança por mãos próprias, introduzindo um início da ordem da vida em sociedade. Ainda, a evolução das sociedades proporcionou uma forma moderada de pena, a composição. MIRABETE21 relata que o agente ofensor podia comprar a impunidade do ofendido, ou de seus parentes, com gado, vestes, armas, etc, ou seja, o ofensor comprava sua liberdade em troca da liberação do castigo. 19 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 20. 20 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p. 26. 21 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 36. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 7 Posteriormente, entrou em vigor o período da vingança divina. 1.1.2 Vingança divina Os preceitos norteadores deste período eram normas de cunho religioso, quase sempre seguidas do caráter divino em relação à satisfação (ou insatisfação) dos deuses. Neste contexto, aduz MARTINS22: A pena que até então era aplicada ao sabor e à vontade do ofensor, ou de seu grupo, como pura vingança pelo mal praticado, ou mesmo como um ato instintivo de defesa, passa a ter como fundamento uma entidade superior, a divindade – omnis potestas a Deo. A punição, pois, existe para aplacar a ira divina e regenerar ou purificar a alma do delinqüente, para que, assim, a paz na terra fosse mantida. A vingança divina revestia-se como o direito penal religioso, teocrático e sacerdotal, como ressalta NORONHA23. Deste modo, a administração da sanção penal ficava a cargo dos mandatários dos deuses, ou seja, os sacerdotes. À luz deste entendimento, ensina MIRABETE24 que: A fase da vingança divina deve-se à influência decisiva da religião na vida dos povos antigos. O direito penal impregnou- se de sentido místico desde seus primórdios, já que se devia reprimir o crime como satisfação dos deuses pela ofensa praticada no grupo social. O castigo, ou oferenda, por delegação divina era aplicado pelos sacerdotes que infligiam penas severas, cruéis e desumanas, visando especialmente a intimidação. 22 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 1 ed. Curitiba: Juruá, 1999, p. 22. 23 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 20. 24 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 35. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 8 Em seguida, deu-se a era da vingança pública. 1.1.3 Vingança pública No período da vingança pública, o Estado visava a segurança transferindo a um grupo organizado o poder de atribuir ao ofensor a sanção devida, mantendo o caráter cruel precedido da vingança divina. O objetivo, portanto, era garantir a soberania do Estado. Conforme afirma OLIVEIRA25: A época precisa desta transição do privado ao público é incerta. Observa-se que, já em Roma, ao término da monarquia, nas leis compiladas por Papirio, sob o título de Jus Civilis Papirianum, os delitos de morte eram considerados infrações de caráter público e seus autores punidos pelo Estado. Com isso, evolui-se para o período humanitário, como revela MARTINS26: Na segunda metade do século XVII, consolida-se a corrente de pensamento contrária à crueldade e aos absurdos que se cometiam em nome do direito penal absolutista. As idéias político-filosóficas e jurídicas emergentes já não admitiam que o direito penal pudesse utilizar-se, com tanta freqüência e de forma tão abusiva, dos castigos corporais, dos suplícios os mais diversos, dos trabalhos forçados e da pena de morte. Assim, tinha-se a sanção do crime aplicada, não pelo indivíduo comum, mas pelo Estado, findando, por conseguinte, a Idade 25 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p. 36. 26 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 1 ed. Curitiba: Juruá, 1999, p. 23. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 9 Média do Direito Penal. 1.1.4 Período humanitário da pena O predomínio do poder de sentença do juiz, a iminente hierarquia social, a defesa do soberano por seus súditos e a crueldade das penas incitaram a criação de um movimento que propunha a reforma do sistema punitivo, atingindo seu apogeu na Revolução Francesa, tendo como seus representantes Beccaria, Howard e Bentham. 1.1.4.1 Cesar Beccaria Cesare Bonesana, Marquês di Beccaria, jurista, filósofo e literato italiano, publicou, em 1764, obra Dei delitti e delle pene. Segundo FRAGOSO27, Beccaria: parte da idéia do contrato social, afirmando que o fim da pena é apenas o de evitar que o criminoso cause novos males e que os demais cidadão o imitem, sendo tirânica toda punição que não se funde na absoluta necessidade. Defendia a conveniência de leis claras e precisas, não permitindo sequer ao juiz o poder de interpretá-las, opondo-se, dessa forma, ao arbítrio que prevalecia na justiça penal. Combateu a pena de morte, a tortura, o processo inquisitório, defendendo a aplicação de penas certas, moderadas e proporcionais ao dano causado à sociedade. Opunha-se, assim, Beccaria, à justiça medieval que ainda vigorava em seu tempo, bem como ao direito comum romano-canônico da época (...). 27 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal: a nova parte geral. 4 ed. Uberaba: Forense, 1994, p. 40. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 10 Tornou-se, portanto, o símbolo da reação liberal ao sistema penal então vigente. 1.1.4.2 John Howard Descontente com a iniqüidade e barbárie a qual vigia sobre o regime penal, John Howard publicou em 1777 sua obra intitulada The state of prisions in England and Wales with an account of some goregen. Por esta, relatou a situação das prisões européias, propondo uma humanização das prisões, através de um tratamento mais digno aos presos (incluídos aí direito ao trabalho, a uma alimentação sadia, assistência religiosa, etc). 1.1.4.3 Jeremias Bentham Jeremias Bentham postulou que o castigo era um mal necessário a fim de prevenir a sociedade contra maiores danos à sociedade, embora o mesmo admitisse sua finalidade correcional. Porém, sob o prisma penalógico, sua contribuição mais importante foi o pan-óptico28, no qual descrevia a arquitetura e os problemas de uma penitenciária. Em outros dizeres, era um sistema carcerário cujo edifício circular com seis andares, onde os quartos dos presos formariam a circunferência, teria no centro uma torre, o lugar dos inspetores que, através de uma gelosia transparente, obsevariam todas as celas sem serem vistos.28 O termo pan-óptico quer dizer “que permite uma visão total”. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 11 Seu efeito mais importante, conforme aduz FOUCALT29, é: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder (...) O Panóptico é uma máquina de dissociar o para ver-ser visto: no anel periférico, se é totalmente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto. FOUCALT30 criticou o sistema idealizado por Jeremias Bentham: “(...) a curiosidade de um indiscreto, a malícia de uma criança, o apetite de saber de um filósofo que quer percorrer esse museu da natureza humana, ou a maldade daqueles que têm prazer em espionar e em punir”. 1.1.4 Surgimento da Prisão Diversos reformadores (juristas, magistrados, filósofos, estudiosos do século XVIII) protestaram contra a consternação provocada pela imposição e cruel aplicação das penas. A pena de morte e os suplícios impostos tornavam o cárcere, ou pena de prisão, pouco utilizadas. Enquanto não havia um julgamento definitivo pelo órgão (ou pessoa) competente, tinha-se a prisão como medida preventiva31. OLIVEIRA32 pondera sobre o surgimento das prisões: Nas sociedades pouco desenvolvidas, a prisão preventiva não 29 FOUCALT, Michel. Vigiar e punir. 16 ed. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 166-167. 30 FOUCALT, Michel. Vigiar e punir. 16 ed. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 166-167. 31 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 1 ed. Curitiba: Juruá, 1999, p. 26. 32 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p. 47. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 12 era necessária, pois a responsabilidade é ainda coletiva e não individual. Não é sôo acusado que deverá reparar o mal cometido, mas, se ele faltar, o clã, de que ele mesmo faz parte, arcará com as conseqüências. À medida, porém, que a sociedade vai se desenvolvendo, cresce a vida coletiva e se intensifica a responsabilidade que se torna individual. Para evitar a fuga, a prisão aparece localizada nos palácios dos reis, nas dependências dos templos, nas muralhas que cercavam as cidades. Por fim, com a chegada do século XVIII, a prisão passa a ser pena definitiva. Porém, oportuno é afirmar que, antes de transformar-se em sanção autônoma, a pena de prisão desenhou um longo caminho desde os tempos remotos até o dia de hoje. Expõe MARTINS33: O século XVIII foi um marco, em razão da prisão ter se consubstanciado em pena definitiva, em substituição às demais modalidades de reprimenda. Mesmo assim, as condições do encarceramento, o tratamento dispensado aos presos, tudo ainda era primigênio, surgindo aos poucos, a preocupação com suas recuperações, com a perspectiva de reinserção à sociedade. É oportuno admitir que o caráter definitivo da pena de prisão vigora até os dias atuais. 1.2 HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO E SUA EVOLUÇÃO FRAGOSO34 relata, citando Coelho da Rocha, acerca do 33 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 1 ed. Curitiba: Juruá, 1999, p. 27. 34 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal: a nova parte geral. 4 ed. Uberaba: Forense, 1994, p. 56. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 13 Direito Penal brasileiro, que à época da colonização, regeu-se pela legislação lusitana, e sua evolução: Os defeitos dos códigos criminais da Idade Média se acham neste, de mistura com as disposições do direito romano e canônico. O legislador não teve em vista tanto os fins da pena, e a sua proporção com o delito, como conter os homens por meio do temor e do sangue. Pode-se categorizar a história do direito penal no Brasil da seguinte maneira: o Aborígine, o Brasil Colonial, o Império e a República. 1.2.1 O aborígine As tribos selvagens que aqui habitavam possuíam práticas e costumes diversos do estilo de vida dos colonizadores (estes politicamente mais evoluídos), não influindo suas práticas punitivas sobre a legislação que regeria a sociedade. Pombo apud NORONHA35 aduz: Entre os selvagens, o direito consuetudinário entrega o criminoso à própria vítima ou aos parentes desta; e se aquele que delinqüiu pertence a uma tribo ou taba estranha, o dano ou delito deixa de ser pessoal e se converte numa espécie de crime de Estado. Tal direito não representou nenhuma influência em relação a sua expansão, até mesmo porque os indivíduos desta época não estavam imbuídos do caráter jurídico da sanção penal. 35 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 54. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 14 Embora, como afirmado anteriormente, suas práticas não tenham influído na legislação, a herança cultural dos indígenas é vastíssima. 1.2.2 Brasil Colonial As Ordenações Afonsinas, datadas da época do descobrimento (1500), previam a prisão como ordem de medida cautelar, e não como uma forma de pena autônoma36. Posteriormente, as Ordenações Afonsinas foram precedidas pelas Manuelinas (1512), para serem precedidas pelo Código de D. Sebastião, o qual durou até 1603. Este, por sua vez, foi substituído pelas Ordenações Filipinas. Ensina NORONHA37: Refletiam as Ordenações Filipinas o direito penal daqueles tempos. O fim era incutir temor pelo castigo. O “morra por ello” se encontrava a cada passo. Aliás, a pena de morte comportava várias modalidades. Havia a morte simplesmente dada na forca (morte natural); a precedida de torturas (morte natural cruelmente); a morte para sempre, em que o corpo do condenado ficava suspenso e, putrefazendo-se, vinha ao solo, assim ficando, até que a ossamenta fosse recolhida pela Confraria da Misericórdia, o que se dava uma vez por ano; a morte pelo fogo, até o corpo ser feito em pó. Cominados também eram os açoites, com ou sem baraço e pregão, o degredo para as galés ou para a África e outros lugares, mutilação das mãos, da língua etc. (sic), queimadura com tenazes ardentes, capela de chifres na cabeça para os maridos tolerantes, polaina ou exaravia vermelha na cabeça para os alcoviteiros, o confisco, a infâmia, a multa etc. 36 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 1 ed. Curitiba: Juruá, 1999, p. 27. 37 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 55. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 15 Evidente encontra-se a finalidade de tais penas: incutir temor através da punição. As desigualdades na sociedade da época eram consagradas nas Ordenações Filipinas em favor do crime cometido. O juiz aplicava a pena de acordo com a gravidade e a qualidade do agente: os nobres eram punidos com leves multas; os pobres, com castigos severos e humilhantes38. 1.2.3 O Império O período Imperial oportunamente aparece com a proclamação da Independência, em 1822. Ainda vigoravam as Ordenações Filipinas, até a criação do Código Criminal do Império, em 1830. Com o advento da Independência, dois foram os motivos para a substituição das velhas Ordenações: o sistema político autônomo da nação (que clamava por legislação própria) e idéias liberais aliadas a novas doutrinas do Direito. Neste diapasão, NORONHA39 aduz que: O Código honrava a cultura jurídica nacional. De índole liberal, a que,aliás, não podia fugir, em face do liberalismo da Constituição de 1824, inspirava-se na doutrina utilitária de Bentham40. Durante este período, MARTINS41 afirma que: Privilegiou-se o aprisionamento do criminoso como a forma 38 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 55.. 39 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 57. 40 Bentham, como anteriormente visto, aduzia que a finalidade da pena era justificada por sua utilidade: a proteção da coletividade se dava pela repressão ao crime. Considerava que a pena era um mal que não devia exceder o dano produzido pelo delito. 41 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 1 ed. Curitiba: Juruá, 1999, p. 28. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 16 mais usual de punição, muito embora por vezes se visse acompanhada da obrigação de exercício de trabalho no recinto dos presídios. Entretanto, tal Código dispunha de falhas, quiçá imperceptíveis aos olhos dos legisladores da época, ao não definir o instituto da culpa e omitir os crimes contra a vida na sua forma culposa, sendo este erro suprido pela Lei n. 2033, de 187142. Um dos aspectos mais pertinentes desta nova lei é a punição pelos crimes imbuídos de culpa. Aliás, tais crimes raramente eram objetos de cogitação. Porém, com o passar do tempo e com o progresso da sociedade, esses crimes aumentaram com o advento da modernidade, cujo manuseio veio a incidir ofensas à intangibilidade física. No campo da doutrina, destacou-se Tobias Barreto, grande pensador contrário às idéias de Carrara e Lombroso. O período do Império cessa-se com a instituição da República. 1.2.4. República Com o imperialismo em queda, vislumbrou-se a necessidade de implantar um aperfeiçoamento na legislação penal. Assim, no último ano do regime imperial, o conselheiro João Batista Pereira, encarregado pelo Ministro da Justiça, fora incumbindo de elaborar um projeto de Código Penal, o qual se apresentou como Decreto nº. 847, datado de 11 de outubro de 1890. Porém, após ser examinado pela 42 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 57. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 17 comissão presidida pelo Ministro de Justiça, foi transformado no segundo Código Penal brasileiro, através do Decreto nº. 774, de 11 de outubro de 1890, decorrente de inúmeras falhas que apresentava43. À luz disto, explica NORONHA44: Infelizmente o novo estatuto estava longe de seu antecessor e logo se viu alvo de veementes e severas críticas. (...) Procurou suprir lacunas da legislação passada. Definiu novas espécies delituosas. Aboliu a pena de morte e outras, substituindo-as por sanções mais brandas, e criou o regime penitenciário de caráter correcional. Nascido velho, o Código Penal Republicano caiu em desuso com o advento da Consolidação das Leis Penais de 1932, coligida pelo Desembargador Vicente Piragibe, e esteve válida até o final de 1942. Em 1º de janeiro de 1942 entrou em vigor o Decreto-Lei nº. 2848, de 07 de dezembro de 1940, o Código Penal atualmente em vigor, atualizado com as distintas modificações. O Código Penal: incorpora o princípio da reserva legal (inaplicável às medidas de segurança); o sistema de duplo binário (penas e medidas de segurança); a pluralidade das penas privativas de liberdade (reclusão e detenção); a exigência do início da execução para a configuração da tentativa (art. 12); o sistema progressivo para o cumprimento das penas privativas de liberdade; a suspensão condicional da pena e o livramento condicional. Na Parte Especial, dividida em onze títulos, a matéria se inicia pelos crimes contra a pessoa (abandonando- se o critério do CP anterior), terminando pelos crimes contra a 43 LEAL, João José. Direito Penal Geral. Florianópolis: Editora OAB/SC, 2004, p. 83. 44 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 59. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 18 administração pública. Não há, no CP comum, pena de morte nem de prisão perpétua. O máximo da pena privativa de liberdade é de 30 anos45. Ainda, ensina NORONHA46 sobre o Código de 1940: É o Código de 1940 obra harmônica: soube valer-se das mais modernas idéias doutrinárias e aproveitar o que de aconselhável indicavam as legislações dos últimos anos. Mérito seu, que deve ser ressaltado, é que, não obstante o regime político em que veio à luz, é de orientação liberal. Por fim, NORONHA47 completa: Ao contrário do que alguns pensam, assisadamente elevou as penas, em relação ao diploma anterior, lastimável sendo, entretanto, que as mantivesse tão suaves no delito culposo. Outro ponto não digno de encômios é o de não ter fugido totalmente da responsabilidade objetiva. Todavia não é este o momento de apontarmos lacunas e deficiências que apresenta. Duas reformas, atribuídas neste contexto o nome de leis, merecem destaque, as quais mudaram o Código Penal brasileiro: a lei nº. 6416/77, que introduziu novas disposições sobre a pena e sua execução (tais medidas têm maior abrangência ao que obsta a suspensão condicional da pena e do livramento condicional), e a lei nº. 7209/84, que reformulou toda a parte geral, humanizando as sanções penais e adotando as penas 45 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal: a nova parte geral. 4 ed. Uberaba: Forense, 1994, p. 64. 46 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 62-63. 47 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. 34 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 63. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 19 alternativas à prisão. Acerca desta, discorre NORONHA48: As maiores e mais sensíveis modificações e inovações introduzidas dizem respeito à disciplina normativa da omissão, ao surgimento do arrependimento posterior, à nova estrutura sobre o erro, ao excesso punível alargado para todos os casos de exclusão de antijuridicidade, ao concurso de pessoas, às novas formas de penas e à extinção das penas acessórias, à abolição de grande parte das medidas de segurança com o fim da periculosidade presumida. Afirma LEAL49 que “temos, portanto, uma nova lei penal, mas não um novo Código Penal. Este continua sendo o de 1940, com toda a sua Parte Geral alterada pela lei que acabamos de mencionar.” Com a nova estruturação da lei em razão da reforma da parte geral do Código Penal, eis que se vislumbrou o novo sistema de execução penal, na forma da Lei nº. 7210/84. É uma lei específica criada a fim de fomentar a execução das penas e das medidas de segurança, o que era súplica da sociedade. Porém, a Lei de Execução Penal (conhecida como LEP) igualmente apresentava falhas, uma vez que, se devidamente executada e cumprida, seria um instrumento eficaz no estrito cumprimento da sanção penal com o caráter de defesa social, visando a ressocialização e reinserção do condenado na sociedade, vez que a mesma não aceita essa reintegração do indivíduo. Prevalece, portanto, a falha no sistema, já que a finalidade da pena aqui já vista não é concretamente efetivada pelos estabelecimentos penais. A reincidência criminal, a qual a Lei de Execução Penal insiste em prevenir, é motivada pelo próprio Sistema Penitenciário Brasileiro. 48 NORONHA, E. Magalhães. DireitoPenal. 34 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 64. 49 LEAL, João José. Direito Penal Geral. Florianópolis: Editora OAB/SC, 2004, p. 86. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 20 PIMENTEL50 ressalta que “Esta lei, (...) se corretamente aplicada, teria resolvido o problema carcerário no País, possibilitando igualmente uma maneira adequada de cuidar do problema.” GOMES51 continua, e vaticina: É curial que entre a vigência e a eficácia de uma lei, sobretudo penal, deve haver a participação indispensável do Executivo (governantes): por isso mesmo entre o conjunto de normas jurídicas e a realidade penitenciária está inserido o Poder Público (Executivo), que serve de ponte para a união das duas extremidades. Se a atuação do Poder Público é marcante, série e dinâmica, então os dois extremos se aproximam (a lei e a realidade); de outra parte, se o Poder Público é inoperante, inexpressivo, nada pode-se esperar, nada irá melhorar. Isto posto, pode-se dizer que, no campo penitenciário, a perspectiva para o futuro não é das melhores (se a Lei nº. 3247/57, que vigorou no Brasil durante quase três décadas, nunca foi cumprida, há fortes razões para se supor que a primeira Lei de Execução Penal, que traz em seu bojo quase todos os bons princípios da Lei de 1957, também não o será, e muito provavelmente ingressará no século XXI ainda como letra morta). Portanto, é de se conjeturar que o aprisionamento deixa de ser regra para se tornar exceção. Hoje, no campo do Direito Penal, em matéria legislativa, tem-se, com suas devidas e posteriores atualizações: o Código Penal, com a 50 PIMENTEL, Manoel Pedro apud GOMES, Luiz Flávio. Da inexeqüibilidade da Lei de Execução Penal. São Paulo: RT, 1985, p. 463. 51 PIMENTEL, Manoel Pedro apud GOMES, Luiz Flávio. Da inexeqüibilidade da Lei de Execução Penal. São Paulo: RT, 1985, p. 464. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 21 Parte Geral introduzida pela Lei nº 7209 de 1984, a Parte Especial na forma prevista pelo Decreto-lei nº 2848 (Código de 1940); a Lei de Execução Penal (Lei nº 7210) e um grande número de leis esparsas, como a relativa ao abuso de autoridade, a falimentar, a de economia popular, a Lei sobre preconceito de raça ou cor, a de imprensa, o Código Eleitoral, o Código Florestal, a Lei das Contravenções Penais, a dos crimes contra o sistema financeiro, a dos direitos do consumidor, a de entorpecentes, a de proteção à fauna silvestre, a de incorporações imobiliárias, a dos crimes de sonegação fiscal, a dos serviços postais, etc. 1.3 ORIGEM DAS PENAS ALTERNATIVAS E AS REGRAS DE TÓQUIO Analisar-se-á a origem das penas alternativas, bem como as regras de Tóquio. 1.3.1 Escolas Penais Escolas penais são as diversas correntes filosófico-jurídicas em matéria penal que surgiram nos tempos modernos. Para o oportuno entendimento a essa origem, deve-se analisar, mesmo que superficialmente, a conceituação histórico-evolutiva do Direito Penal, sobretudo ao que tange às Escolas Penais, institutos basilares da constituição da pena. 1.3.1.1 Escola Clássica A Escola Clássica, oriunda de idéias ocasionadas pelo Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 22 Iluminismo52, no entender de OLIVEIRA53, pode ser dividida em dois períodos: o político (filosófico/teórico), representado por Cesare Beccaria, que entendia que a finalidade da pena era a prevenção do crime e defesa social, construído sob um sistema baseado na legalidade; e o prático (jurídico), com a figura de Francesco Carrara, que entendia que a pena era a expiação e a retribuição ao mal cometido pelo infrator54. Aduz, ainda, DONNICI55: A Escola Clássica se caracterizava: a) pelo método especulativo, racionalista, lógico, abstrato, dedutivo; b) sistema dogmático, baseado em conceitos racionalistas; c) imputabilidade, baseada no livre-arbítrio e na culpabilidade moral; d) o delito, como ente jurídico; e) a pena, como um mal e como um meio de tutela jurídica. Ensina BRUNO56: É a pena o mal justo com que a ordem jurídica responde à injustiça do mal praticado pelo criminoso, (...) seja como retribuição de caráter divino ou de caráter moral, ou de caráter jurídico, função retributiva que não pode ser anulada ou diminuída por nenhum outro fim atribuído à pena. Assim, havia aqueles que acreditavam que a pena 52 O Iluminismo foi um movimento intelectual surgido no fim do séc. XVI, com maior expressão na França. Sua finalidade era criticar o Estado Absolutista, propondo a limitação do poder real; atacar os privilégios inerentes às classes sociais e aos integrantes da Igreja Católica. Os iluministas defendiam, porém, a não intervenção do Estado no âmbito econômico e a criação de um sistema constitucional. Os nomes deste movimento são deveras conhecidos, tais como John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Charles de Secondat (Barão de Monstequieu) e François-Marie Arouet (Voltaire). 53 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p. 66. 54 54 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p. 66. 55 DONNICI, Virgílio Luiz. A criminologia na administração da justiça criminal: sistema policial, judicial, penitenciário. Rio de Janeiro: Forense, 1974, p. 16. 56 BRUNO, Aníbal. Direito Penal, Tomo I, Parte Geral. Ed. Nacional de Direito Ltda., 1956, p. 91. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 23 possuía caráter eminentemente purificatório. 1.3.1.2 Escola Positiva A Escola Positiva (ou Positivista) teve seu marco com Cesar Lombroso, criador da criminologia, e sua obra, L’uomo Deliquente (O Homem Delinqüente). Na concepção de Lombroso, existia a idéia de um criminoso nato, aquele que já nascia com tal predisposição à prática de crimes. Sobre tal, ensina SILVA57: Os seguidores da Escola Positiva advogavam as teorias reativas, ou da prevenção, pois atribuíam à pena um fim prático e imediato de prevenção geral ou especial do crime. Viam a pena como instrumento de defesa social pelo reajustamento ou inocuização do delinqüente. São os seguintes os caracteres da Escola Positiva: a) método experimental, positivo, indutivo; b) responsabilidade social derivada do determinismo; c) periculosidade do delinqüente; d) o crime como fenômeno natural e social produzido pelo homem; e a pena não como castigo, mas como meio de defesa social; f) negação do livre-arbítrio, ou a adoção da liberdade social58. Busca-se no entendimento de SILVA59 o seguinte: Enquanto a Escola Clássica se preocupava apenas com o crime e a pena, a Escola Positiva se preocupava com o criminoso e as circunstâncias que o levaram à prática do ato delituoso. 57 SILVA, José Geraldo da. Teoria do Crime. Campinas: Bookseller, 1999, p. 72. 58 DONNICI, Virgílio Luiz. A criminologia na administração da justiça criminal: sistema policial, judicial, penitenciário, p. 22. 59 SILVA, José Geraldo da. Teoria do Crime. Campinas: Bookseller, 1999, p. 72. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 24 Ocorreu, portanto, uma expressiva variação no caráter figurativo da pena, deixando de lado a retribuição ao adotar a tentativa de prevenção. 1.3.1.3 Outras escolas Precedidas das Escolas Penais, Clássica e Positiva, surgem outras escolas, como a Terceira Escola (Terza Scuola),que estudava a criminalidade dentro das teses de identidade pessoal e semelhança social; a Escola de Política Criminal, que era uma mescla da Escola Clássica com a Positiva; e a Escola Técnico-jurídica, que adotou como método o estudo das relações jurídicas dogmáticas.60 1.3.2 As Regras de Tóquio A Organização das Nações Unidas promulgou, em 10 de dezembro de 1948, adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, influenciada pelo sentimento de defesa dos direitos humanos que ganhou ímpeto ao final da Segunda Guerra Mundial, ante aos crimes contra a humanidade e sua dignidade, representado pela fatídica figura do holocausto e pelos genocídios cometidos. Neste contexto, de importante valia foi a criação das Regras de Tóquio. Assim, oportuno é notar os preceitos do grande doutrinador JESUS61: As Regras de Tóquio constituem um passo importante para aumentar a eficiência da resposta da sociedade ao delito. As 60 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p. 68. 61 JESUS, Damásio E. de. Penas Alternativas. 2 ed. Saraiva: São Paulo, 2000, p. 216. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 25 sanções e medidas não-privativas de liberdade têm grande importância na Justiça Penal de muitas diferentes culturas e sistemas jurídicos. Na prática, a maioria das sanções penais importas a delinqüentes condenados não são privativas de liberdade. Em conseqüência, um dos objetivos das Regras de Tóquio é salientar a importância das próprias sanções e medidas não-privativas de liberdade como meio de tratamento de delinqüentes. A partir do entendimento de CAPPI62, em 1955, a mesma entidade promulgava as Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos, documento de extrema importância para o estabelecimento de limites à aplicação das penas privativas de liberdade. Ainda, para CAPPI63: As Regras de Tóquio, ou Regras Mínimas das Nações Unidas sobre as Medidas Não-privativas de Liberdade, surgiram como resposta à visão arcaica que antes vigia, oriunda da Escola Clássica, que tratava o delito como uma ofensa ao Estado, punida de forma severa, funcionando a severidade da pena como fator inibidor da ocorrência de novos crimes e elemento retributivo dirigido à pessoa do delinqüente. Via-se, então, a pena de prisão como a forma mais eficaz para a expiação da infração cometida, sem qualquer caráter de ressocialização do apenado. Para GOMES64, as Regras de Tóquio, documento revestido de caráter internacional, oferecem apenas parâmetros mínimos a serem 62 CAPPI, Carlo Crispim Baiocchi. As regras de Tóquio e as medidas alternativas. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3118>. Acesso em: 19 mar. 2008. 63 CAPPI, Carlo Crispim Baiocchi. As regras de Tóquio e as medidas alternativas. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 58, ago. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3118>. Acesso em: 19 mar. 2008. 64 GOMES, Luiz Flávio. Penas e Medidas Alternativas à Prisão. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 35. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 26 seguidos, não possuindo força cogente65, até por se tratar de Acordo Internacional. Já JESUS66 infere que, naquilo que não contrariar a Constituição Federal e as leis penais internas, possuem caráter de norma cogente. 1.4 A PENA – SEU CONCEITO O instituto da pena tinha como finalidade a prevenção do crime, sem, necessariamente, perder a natureza retributiva. Observando-se a etimologia da palavra pena, tem-se a raiz provinda do latim (poena), porém com derivação do grego (poiné), sendo o sinônimo de dor, castigo, punição, fadiga, sofrimento, submissão, vingança e recompensa. Aduz OLIVEIRA67 que “é interessante observar que há grande semelhança de forma entre a palavra pena nos diversos idiomas, com idêntica significação para eles.” Destarte, a sociedade alienou-se aos problemas oriundos da pena de prisão. Posteriormente, foi possível vislumbrar-se a aproximação entre o Estado (órgão imbuído de poder de julgamento) e a sociedade. Segundo BARATTA68: o conceito de reintegração social requer a abertura de um 65 Normas de aplicação obrigatória. 66 JESUS, Damásio E. de. Penas Alternativas. 2 ed. Saraiva: São Paulo, 2000, p. 216. 67 OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 3 ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2003, p. 24. 68 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito penal. Trad. Juarez Cirino dos Santos. 2 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999, p. 145. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 27 processo de interações entre o cárcere e a sociedade, no qual os cidadãos recolhidos no cárcere se reconheçam na sociedade externa e a sociedade externa se reconheça no cárcere. Expõe ainda em sua obra que “O muro do cárcere representa uma violenta barreira que separa a sociedade de uma parte de seus próprios problemas e conflitos”.69 1.4.1 Fundamentos da pena FERREIRA70 menciona “algumas das tantas teorias” formuladas sobre os fundamentos da pena: a. Da vingança: A legitimidade do direito de punir estaria no sentimento inato de vingança do homem. Desde que ofendido, o homem poderia ofender, pela simples razão de ter sido ofendido. Trata-se de um primitivismo inaceitável, que coloca o ódio como fundamento de um princípio ético, o que é um absurdo; b. Da vingança purificada: Para evitar a vingança do ofendido, a sociedade corre à sua frente e pune o ofensor. A pena passa a ser encarada como proteção; c. Da aceitação: Parte do princípio de que o cidadão, conhecendo a lei, aceita como legítima sua imposição. Se a transgride, não pode se opor à pena, a qual aceitou previamente. 69 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do Direito Penal: introdução à sociologia do direito penal. Trad. Juarez Cirino dos Santos. 2 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999, p. 145. 70 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da pena. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 23. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 28 d. Da convenção: Baseia-se no contrato social de Rousseau. A pena tem por objetivo proteger e conservar os contratantes. Essa conservação dar-se-ia de três maneiras: 1) o direito penal é o direito de defesa individual, cedido à sociedade pelos cidadãos; 2)o próprio indivíduo cede à sociedade o direito de punir seu ofensor; 3) cada um renuncia, em favor da sociedade, parte de seus direitos, devendo ser punido caso viole as leis integrantes dessa co-associação; e. Da associação: O direito de punir é ínsito da sociedade, em razão da própria associação que os une (...). FERREIRA71 ainda atenta para a correção (que constitui direito inerente da sociedade), da intimação (no qual o fim principal da pena é intimidar os homens para que não cometam delitos), do constrangimento psicológico (uma espécie de pressão psicológica a fim de inibir a prática do crime com a certeza da execução da pena), da defesa (que faz vista à prevenção contra a ocorrência de novos delitos) e do ressarcimento (segundo o qual, o ofendido tem o direito de se ver ressarcido dos danos morais sofridos em razão do crime, através da expiação da pena). Qual, afinal, o objetivo da pena? Punir? Recuperar? Intimidar? A ver. 1.4.2Finalidade da pena RODRIGUES72 oferece interesse divagação sobre a finalidade da pena. Pondere-se a hipótese de: um competentíssimo professor universitário de Ética, que 71 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da pena. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 23. 72 RODRIGUES, Francisco César Pinheiro. Paradoxos da pena. São Paulo: RT, 1990, n. 651:383. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 29 venha, por ex., a matar a esposa em momento de ciúme. Ao ver a mulher morta, sofre um violento ataque de remorso, tentando, até mesmo, o suicídio. Submetido a uma severa perícia psicológica os peritos atestam, com autoridade e fundamentos, que nosso professor já está mais do que arrependido, recuperado, o que levaria à conclusão lógica (para quem identifica recuperação com arrependimento e vontade de não mais delinqüir) de que nenhum benefício adviria de sua condenação. O professor tem profissão lícita, residência fixa, e, em liberdade ajudaria a melhorar a ética dos homens com suas brilhantes conferências, até mesmo de nível internacional. Solto, faria o bem até mesmo em escala planetária. Na cadeia, seus ouvintes não estariam em condições de digerir bem as sutis distinções morais de suas brilhantes preleções. Não voltaria, quase certamente, a matar, mesmo porque provavelmente não haveria grande estoque de candidatas a ocupar o lugar da extinta, conhecida como é a desconfiança feminina. E nenhum assistente social, ou psicólogo do Governo, teria condições de, na cadeia, doutrinar o nosso professor, dizendo-lhe algo que já não soubesse e até mesmo ensinasse. Assim, para que condená-lo? Todavia, a imediata liberação do luminar – em razão do sincero arrependimento – não seria bem recebida pelas pessoas sensatas, porque tal solução poderia estimular uxoricidas em potencial, sempre em maior número que o confessado. E com o feminismo em voga a carga poderia ser contrária. Conclui-se, então, que a finalidade básica da pena não é recuperar, mas evitar, pela intimidação, que ocorram novos crimes. Seria função específica da pena a simples punição, retribuição do mal pelo mal? Irracionalmente, porque nada modifica o passado. No caso do homicídio, força alguma ressuscitará o morto. (...) Intimidação. Esta a real utilidade da pena. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 30 Assim, no tocante à finalidade da pena, existem três teorias que se encontram embasadas no período da Escola Clássica, quer sejam a teoria absoluta, a teoria relativa e a teoria mista. A teoria absoluta possui caráter retribucionista. Entende- se como retribuição ao crime cometido de cunho moral e ético. Assim, SECHAIRA73 discorre que: a teoria absoluta confere à pena um fim retribucionista, ou seja, a sanção penal deve visar a restauração da ordem atingida. Essa represtinação, pretendida pelos adeptos da teoria absoluta, dar-se-ia com a imposição de um mal, isto é, uma restrição a um bem jurídico daquele que violou uma norma. A teoria relativa (também chamada de preventiva ou geral) previne a ocorrência de novo crime, ou impedir o incentivo para que o mesmo ocorra. Destaca-se: A teoria relativa preconiza a pena como uma medida prática a fim de impedir a prática delituosa. Destarte, pode-se dividir essa teoria em duas, cada qual considerando um dos aspectos de prevenção ao crime. A teoria da prevenção geral estabelece que o principal efeito, assim como o principal fim da pena, é a inibição que causa sobre a generalidade dos cidadãos. A pena então deve intimidar e incutir o medo nas pessoas (...); outro aspecto da teoria relativa, é a prevenção especial através da pena, (...) esta visa impedir a ação criminosa mediante uma atuação dirigida do apenado.74 73 SECHAIRA, Sérgio Salomão. Pena e Constituição: Aspectos relevantes para sua aplicação e execução. São Paulo: RT, 1995, p. 38. 74 SECHAIRA, Sérgio Salomão. Pena e Constituição: Aspectos relevantes para sua aplicação e execução, p. 38. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 31 À luz dos ensinamentos do doutrinador DAMÁSIO DE JESUS75: Na prevenção geral o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os destinatários da norma penal, visando impedir que os membros da sociedade pratiquem crimes. Na prevenção especial a pena visa o autor do delito, retirando-o do meio social, impedindo-o de delinqüir e procurando corrigi-lo. Por fim, a teoria mista, segundo FERREIRA76: a pena tem duas razões: a retribuição, manifestada através do castigo, e a prevenção, como instrumeto de defesa da sociedade. Para Francesco Carnelutti o fim principal da pena não poderia ser outro senão a retribuição como reação contra o delito, expressada através da expiação ou da vingança, ressaltando, no entanto, que a pena tinha um fim secundário, acessório, que consistia na prevenção essencial, de impedir que o réu voltasse a delinqüir. A readequação de conduta do apenado, portanto, deve moldar a reintegração social do mesmo no meio em que os demais agentes de uma sociedade convivem. 75 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 519. 76 FERREIRA, Gilberto. Aplicação da pena. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 29. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 32 MODALIDADE DE PENAS ALTERNATIVAS NO DIREITO PENAL PÁTRIO Enquanto as leis forem necessárias, os homens não estarão capacitados para a liberdade. Pitágoras 2.1 PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS Através da linha temporal estabelecida no primeiro capítulo, notória a evolução dos tempos primitivos à realidade proveitosa vislumbrada no País, anestesiada de progresso77. A fim de iniciar a discussão envolta no segundo capítulo desta monografia, imperioso faz-se afirmar que as penas restritivas de direitos são alternativas à pena de prisão78. As penas restritivas extraem ou atenuam direitos dos agentes condenados. Ainda, conforme CARDOSO79: A natureza jurídica dessas penalidades é de autonomia e substitutividade em relação à pena privativa de liberdade aplicada; neste sentido, necessariamente haverá na aplicação de pena a determinação da pena privativa de liberdade imposta e o regime de cumprimento da mesma. Só após essas etapas o juiz analisará a possibilidade ou não de substituição. Por fim, DOTTI80 ensina que: 77 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. Curitiba: Juruá, 2005, p. 61. 78 CARDOSO, Franciele Silva. Penas e medidas alternativas: análise da efetividade de sua aplicação. São Paulo: Método, 2004, p. 90. 79 CARDOSO, Franciele Silva. Penas e medidas alternativas: análise da efetividade de sua aplicação. São Paulo: Método, 2004, p. 94. 80 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. 2 ed. São Paulo: Revista Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 33 (...) as sanções, estipuladas como restritivas (art. 43), representam um minus, em relação às condensadas em outro lanço (art. 33), a justificar que aquelas se refiram à privação da liberdade e estas à restrição, a indicar a força física objetiva. Anterior ao advento da Lei 9.714/98, que preconizou a ampliação da aplicabilidade de substitutivos penais, configurava-se no Código Penal seis modalidades de penas alternativas substitutivas (multa, prestação de serviços à comunidade, limitação defim de semana, proibição de exercício de cargo ou função, proibição do exercício de profissão e suspensão da habilitação para dirigir veículo). Portanto, com a promulgação, quatro novas sanções restritivas foram inclusas (prestação pecuniária em favor da vítima, perda de bens e valores, proibição de freqüentar determinados lugares e prestação de outra natureza). Os requisitos delineadores da fruição desta modalidade sancionadora encontram-se no artigo 44 do Código Penal, partindo do princípio de que as penas restritivas de direitos são autônomas e suprem as privativas de liberdade quando: I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II - o réu não for reincidente em crime doloso; III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. dos Tribunais, 1998, p. 378. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 34 Neste diapasão, considera-se que a pena restritiva de direitos (pena alternativa) atribui uma medida repressiva ao agente, sem, necessariamente, extraí-lo de suas atribuições diárias concernentes à sua vida, trabalho e hábitos, deixando a pena de prisão reservada aos casos de ilicitude gravosa. 2.1.1 Prestação pecuniária A multa exsurge como alternativa ao encarceramento do indivíduo, vez que representa uma sanção mais adequada em face à punição daquele quando autor de crimes de menor e médio potencial ofensivo81. A respeito, MAGGIO82 conceitua: A multa penal pode ser cominada como pena única, como pena cumulativa (ou multa), como pena alternativa (ou multa), e também em caráter substitutivo. A pena de multa como substitutiva da privativa de liberdade está prevista no art. 60, §2º, do CP, sendo que, a pena privativa de liberdade aplicada, não superior a seis meses, pode ser substituída pela multa, não sendo o réu reincidente e com os méritos previstos no art. 44, inciso III, do CP (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, bem como os motivos e circunstâncias). LEAL83 também disserta sobre a pena de multa: 81 LEAL, João José. Direito Penal Geral. 3 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2004, p. 466-467. 82 MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal – Parte Geral. 3 ed. São Paulo: Edipro, 2002, p. 284. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 35 Multa é a medida de ordem legal, aplicável ao autor de uma infração penal, impondo-lhe a obrigação de pagar determinada importância em dinheiro, em favor do Estado. Substancialmente, não existe diferença entre multa criminal e a civil ou administrativa. A distinção permanece no plano meramente formal, de ser aplicada pelo juiz criminal e de seu pagamento reverter sempre em favor do Estado. Por se tratar de pena criminal, a responsabilidade é pessoal e, por isso, extingue-se com a morte do infrator. O magistrado, na sentença condenatória, fixará o valor da prestação pecuniária, este de, no mínimo, 1 e, no máximo, 360 salários mínimos. Tal fixação segue alguns critérios, conforme dispõe JESUS84: Haverá três posições: 1ª) o juiz, para fixar o quantum da prestação pecuniária, entre um e trezentos e sessenta salários mínimos, emprega o mesmo critério da aplicação da multa comum: circunstâncias judiciais do art. 59, caput, do CP e a situação econômica do réu (art. 60, caput); 2ª) considera-se o mesmo sistema da fixação da pena de multa vicariante (arts. 44, III, e 60, caput, do CP). Diferença entre as duas orientações: reside na primeira operação, em que, na primeira, leva-se em conta todas as circunstâncias judiciais do art. 59, caput, do CP; na segunda, somente as circunstâncias judiciais do art. 44, III; 3ª) considera-se o valor do prejuízo da vítima. Nossa posição: a terceira. O critério não pode ser o da multa, uma vez que esta possui caráter retributivo. A prestação pecuniária é reparatória. Busca-se, diante disto, analogicamente ao art. 45, §3º, do CP (perda de bens), o critério do prejuízo da vítima. Quanto aos beneficiários, deve-se atender a uma ordem 83 LEAL, João José. Direito Penal Geral. 3 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2004, p. 466-467. 84 JESUS, Damásio Evangelista de. Penas Alternativas. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 141. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 36 de preferência, que se dá em: a) pessoa da vítima; b) dependentes da vítima (descendentes, ascendentes, cônjuge e irmãos); c) entidade pública com destinação social; e d) entidade privada com destinação social. Divaga Leal85 acerca das diferenças: Se o crime praticado atingiu bem jurídico cujo titular é um particular, sendo a vítima perfeitamente identificada, somente a esta pode ser atribuída a prestação pecuniária. (...) Na hipótese de crime que atinge bem jurídico público, coletivo ou sem vítima individualizada, a sanção indenizatória deve ser fixada em favor de entidade assistencial pública ou privada. Ademais, conforme vontade do beneficiário, “a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza” (art. 45, §2º, CP). Tal prática, no entanto, é freqüente no Juizado Criminal Especial, no qual se vislumbra o pagamento de cestas básicas de alimentos em favor de entidades comunitárias. Porém, no âmbito da justiça comum, adverte sabiamente LEAL86: Não se pode mais questionar a legalidade desta espécie de sanção criminal. Porém, é preciso manter um sério cuidado na sua aplicação, a fim de se evitar que a justiça criminal se transforme num inadmissível balcão de mercadorias de baixo custo legitimador da culpabilidade penal. Conseqüentemente, deve o juiz averiguar a efetividade da aplicação da prestação pecuniária. No que tange ao pagamento da multa, esta se dá após 85 LEAL, João José. Direito Penal Geral. 3 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2004, p. 451-452. 86 LEAL, João José. Direito Penal Geral. 3 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2004, p. 452. Create PDF files without this message by purchasing novaPDF printer (http://www.novapdf.com) http://www.novapdf.com http://www.novapdf.com 37 o trânsito em julgado da condenação, conforme a luz do art. 50, caput, do Código Penal87. 2.1.2 Perda de bens e valores Visando a não-executoriedade da privação de liberdade como sanção, a Lei n. 9714/98 propôs outra alternativa penal: a perda de bens e valores. Esta espécie de pena recai sobre o patrimônio (móveis e imóveis) do condenado, tendo, portanto, caráter patrimonial. Assim, para que o juiz quantifique tal pena, deve considerar o prejuízo causado pela infração penal ou o proveito contraído pelo apenado, conforme dispõe o artigo 45, §3º, do Código Penal. Ademais, a Carta Magna prevê a “perda de bens” em seu art. 5º, XLVI, alínea b, vez que a mesma proíbe a adoção do instituto do confisco. Válido e importante advertir que os bens e valores sujeitos a tal medida repressiva podem ter sido conseguidos tanto de maneira lícita quanto ilícita. Esta, no entanto, veste-se como efeito da condenação, prevista no art. 91, II, alínea b, do CP. MARTINS88 ensina que: Diversamente
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