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■ ft ' \ Segunda Edição Manual de Iniciação em rnando Campos Gomes Pinto Nacional O GEN | Grupo Editorial Nacional reúne as editoras Guanabara Koogan, Santos, Roca, AC Farmacêutica, Forense, Método, LTC, E.P.U. e Forense Universitária, que publicam nas áreas científica, técnica e profissional. Essas empresas, respeitadas no mercado editorial, construíram catálogos inigualáveis, com obras que têm sido decisivas na formação acadêmica e no aperfeiçoamento de várias gerações de profissionais e de estudantes de Administração, Direito, Enferma gem, Engenharia, Fisioterapia, Medicina, Odontologia, Educação Física e muitas outras ciências, tendo se tornado sinônimo de seriedade e respeito. Nossa missão é prover o melhor conteúdo científico e distribuí-lo de maneira flexível e conveniente, a preços justos, gerando benefícios e servindo a autores, docentes, livrei ros, funcionários, colaboradores e acionistas. Nosso comportamento ético incondicional e nossa responsabilidade social e ambiental são reforçados pela natureza educacional de nossa atividade, sem comprometer o cres cimento contínuo e a rentabilidade do grupo. Dr. Fernando Campos Gomes Pinto 2a ed ição Nacional Título: Autor: Revisão de Texto: Diagra mação: Capa: Ilustração da Capa: Copyright © 2012 by LIVRARIA SANTOS EDITORA, LTDA. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Ia edição, 2004 2a edição, 2012 Todos os direitos reservados à Livraria Santos Editora Com. Imp. Ltda. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a permissão prévia do Editor. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P728m 2.ed. Pinto, Fernando Campos Gomes Manual de iniciação em neurocirurgia / Fernando Campos Gomes Pinto. - 2.ed. - São Paulo: Santos, 2012. 384p.: il.; 24 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-7288-979-7 1. Neurologia. 2. Neurologia - Manuais, guias, etc. I. Título. 11-7472. CDD: 616.8 CDU: 616.8 Manual de Iniciação em Neurocirurgia Fernando Campos Gomes Pinto Sandra M. Dollinsky Rodrigo Takahashi Gilberto R. Salomão André Ceolin Rua Dona Brígida, 701 | Vila Mariana Tel.: 11 5080-0770 | Fax: 11 5080-0789 04111-081 I São Paulo | SP www.grupogen.com.br http://www.grupogen.com.br Autor Dr. Fernando Campos Gomes Pinto Graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo - USP (1997). Residência Médica em Neuro logia e Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP - HC FMUSP (1998- 2003). Especialista em Neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (2002). Coordenador da Liga de Neurocirurgia da FMUSP desde 2002. Pre ceptor dos médicos residentes de Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) desde 2003. Pós-graduado em Neurocirurgia Pediátrica pela World Federation of Neurosugical So cieties (2004-2006). Doutorado em Neurotraumatologia Experimental pela FMUSP (2007). Chefe do Grupo de Hidrodinâmica Cerebral da Divi são de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do HC FMUSP desde 2007. Professor Colaborador de Neurocirurgia da FMUSP desde 2007. Integrante do Corpo Docente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde do IAMSPE. Diretor da Clínica Neurocirúrgica Paulista em São Paulo, SP. Coordenador do projeto FORMAÇÃO NEUROCIRÚR GICA ON-LINE da SBN. v Colaboradores Alessandra Palazzin Mestre em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da USP. Fisioterapeuta especialista em Neurologia do HC-FMUSP. Alexandre Maria Santos Médico Neurocirurgião do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Alexandre Shoji Médico graduado pela FMUSP, médico-residente de Psiquiatria na Irman dade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Antonio Nogueira de Almeida Neurocirurgião do HC-FMUSP. Doutorem Neurologia pelo Departamento de Neurologia da FMUSP. Danilo Leite Lourenço Doutor pela FMUSP. Intensivista Pediátrico da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Ellison Fernando Cardoso Médico-assistente, doutor do Departamento de Radiologia da FMUSP. Erich Talamoni Fonoff Neurocirurgião da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psi quiatria e Departamento de Neurologia da FMUSP. Doutorem Neurologia pelo Departamento de Neurologia da FMUSP. Fabiana Regina Giacomini Maeda Bragion Fonoaudióloga formada pela FMUSP. Fábio Pires Santos Médico Hematologista do HC-FMUSP. vi Colaboradores vii Fabrício Ricardo Frutos Porro Neurocirurgião, chefe da Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Uni versidade Nacional de Assunção (Paraguai). Vice-presidente da Sociedade Paraguaia de Neurocirurgia. Fernanda Gonçalves de Andrade Médica, neurocirurgia e colaboradora do Grupo de Neurocirurgia Pediá trica do HC-FMUSP. Flávia Morais Gomes Pinto Enfermeira, mestre e doutoranda pela Escola de Enfermagem da USP. Gabriel Gattás Médico-assistente da Radiologia do Pronto-Socorro do HC-FMUSP. Gustavo Cartaxo Patriota Neurocirurgião e doutorando pela FMUSP. Luciano Henrique Lopes Foroni Neurocirurgião, colaborador do Grupo de Cirurgia de Nervos Periféricos do HC-FMUSP e coordenador do Grupo de Cirurgia Vascular e de Cirurgia de Nervos Periféricos do Hospital Santa Marcelina. Manoel Jacobsen Teixeira Médico Neurocirurgião. Doutor em Neurologia pelo Departamento de Neurologia da FMUSP. Professor Titular de Neurocirurgia do Departamento de Neurologia da FMUSP. Diretor da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Marcelo Litvoc Médico Infectologista do HC-FMUSP. Márcia Midori Morimoto Graduada em Fisioterapia pela USP. Especialista em Reabilitação Hospita lar pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Mestre em Neurociência e Comportamento pela USP. Professora de Fisioterapia em Neurologia da Universidade de São Caetano do Sul. Maria Elisa Pimentel Piemonte Mestre e doutora em Neurociência e Comportamento pela USP. Profes sora-doutora da USP. Maria Inês Braconi Bióloga e Instrumentadora Cirúrgica do HC-FMUSP. viii Manual de Iniciação em Neurocirurgia Maurício Mandei Brígido Neurocirurgião do HC-FMUSP. Médico do Corpo Clínico do Hospital Israe lita Albert Einstein. Míriam de Araújo Campos Enfermeira mestre, docente do CeFACS, Fundação Zerbini, InCOR, HC- FMUSP. Ricardo Bragança de V. Fontes Neurocirurgião na Rush University Medicai Center, Chicago, EUA. Rodrigo Kubo Médico graduado pela FMUSP. Residência médica em Medicina Nuclear no HC-FMUSP. Thales Dalessandro Meneguin Pereira Médico Clínico e Hematologista do HC-FMUSP. Agradecim ento Agradeço ao Prof. Dr. Manoel Jacobsen Teixeira por todo apoio, cren ça e incentivo no meu trabalho como Coordenador do Grupo de Hi drodinâmica Cerebral, Agradeço ao Prof. Dr. Mário Augusto Taricco pelo respeito e trabalho conjunto na Coordenação da Liga de Neurocirurgia da FMUSP, Agradeço ao Presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e Chefe da Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Estadual, Dr. José Marcus Rotta por investir no meu trabalho. ix Dedicatória Para minha esposa Flávia e meus amados filhos, por todo amor, apoio e compreensão. xi Prefacio Quando conheci Fernando Campos Gomes Pinto, logo percebi que se tratava de um ser humano especial. A convivência profissional e os laços de amizade revelaram que aquela primeira impressão estava cor reta. Bem formado, inteligente, perspicaz, culto e de formação huma- nística ímpar. Admiro muito o Dr. Fernando que, ainda jovem, tem e sempre teve ao longo de sua carreira uma enorme disposição, interesse e empenho no ensino e na divulgação da neurocirurgia. Tais características são de monstradas muito bem neste livro, que aborda as técnicas neurocirúr- gicas básicas e enfoca, em cada capítulo, algumas de suas subespecia- lidades; traz, ainda, ênfase especial no trauma - o principal contato dos médicos nos prontos-atendimentos dos hospitais-, e, ao final discorre sobre a necessidade da equipe multidiciplinar no atendimentoao pa ciente neurocirúrgico. O Dr. Fernando manisfesta com este livro a im portância de ter uma boa iniciação da clínica cirúrgica aos estudantes de Medicina, o que facilita a aprendizagem dos futuros residentes da neurocirurgia. O melhor investimento para um mundo melhor é a educação para os jovens. O poder e a qualidade de todas as sociedades estão na de pendência do nível intelectual deles. Apreciem a leitura! Dr. José Marcus Presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Diretor do Serviço de Neurocirurgia do HSPE/SP - IAMSPE xiu Introdução Há nove anos exerço a atividade de ensino e pesquisa com alunos da graduação do curso de Medicina da Universidade de São Paulo, com os membros da Liga de Neurocirurgia da USR com os médicos residen tes de neurocirurgia do Hospital das Clínicas da FMUSP e com os do Hospital do Servidor Público Estadual - SR Durante este período, pude observar que certos temas da neurocirurgia são básicos, fundamentais e, ao mesmo tempo, muito complexos ao contato inicial, sendo difícil a rápida compreensão até mesmo dos mais interessados alunos. Até 2004 não havia um livro em língua portuguesa que fosse exclu sivamente direcionado ao principiante. O Manual de Iniciação em Neurocirurgia foi criado para oferecer material didático nacional, simples e objetivo. É direcionado aos que estão iniciando contato com uma das mais fascinantes especialidades da Medicina: a Neurocirurgia. Após o sucesso da primeira edição do Manual de Iniciação em Neu rocirurgia (2004), sentimos a necessidade e firmamos o compromisso de atualizá-lo periodicamente. A ciência progride rapidamente, novos conceitos são incorporados e até mesmo os temas básicos são discu tidos e revistos. Temos aqui o fruto desta primeira atualização: a tão solicitada segunda edição! Todos os capítulos foram revisados e atualizados. Além dos 16 ca pítulos da I a edição, sete novos capítulos foram introduzidos (Aplica ções do laser em neurocirurgia, Materiais utilizados em neurocirurgia, Lesões traumáticas dos nervos periféricos e síndromes compressivas, tratamento cirúrgico da epilepsia, Tratamento cirúrgico da doença de Parkinson, Tumores intracranianos e Escalas em neurocirurgia). xv xvi Manual de Iniciação em Neurocirurgia Dos 23 capítulos, 18 versam sobre assuntos fundamentais em neu rocirurgia; 4 contam com a participação integrada da Enfermagem, Fi sioterapia e Fonoaudiologia, conferindo caráter multidisciplinar à obra. Ao final dos principais capítulos, o leitor encontrará um breve resumo sobre o tema. No final do livro, um capítulo com 100 questões de múl tipla escolha foi elaborado para testar os conhecimentos adquiridos, para a consolidação conceituai e como forma de preparar o aluno para provas e exames. Nosso objetivo é exatamente o mesmo. Foco no principiante que de seja entender mais sobre a neurocirurgia e que almeja aprender os con ceitos fundamentais desta especialidade com rapidez e simplicidade. Desejo a você, ser pensante e com desejo de aprender, uma ótima leitura! Dr. Fernando Campos Gomes Pinto Sumario CAPÍTULO 1 - Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia........................1 Flávia Morais Gomes Pinto Maria Inês Braconi Fernando Campos Gomes Pinto CAPÍTULO 2 - Avaliação Neurológica do Paciente em Coma.............19 Fernanda Gonçalves de Andrade Fernando Campos Gomes Pinto CAPÍTULO 3 - Hipertensão Intracraniana........................................ 33 Luciano Henrique Lopes Foroni Fernando Campos Gomes Pinto CAPÍTULO 4 - Traumatismo Craniencefálico - Lesões Focais.............43 Fernando Campos Gomes Pinto Danilo Leite Lourenço CAPÍTULO 5 - Traumatismo Craniencefálico - Lesões Difusas........... 61 Fernando Campos Gomes Pinto Rodrigo Kubo CAPÍTULO 6 - Traumatismo Craniencefálico - Avaliação por Tomografia Computadorizada................................................. 73 Fernando Campos Gomes Pinto Ellison Fernando Cardoso Gabriel Gattás CAPÍTULO 7 - Traumatismo Raquimedular..................................... 87 Fernando Campos Gomes Pinto Fábio Pires Santos Ricardo Bragança de V. Fontes xva xviii Manual de Iniciação em Neurocirurgia CAPÍTULO 8 - Lesões Traumáticas de Nervos Periféricos e Síndromes Compressivas...........................................................105 Fernando Campos Gomes Pinto CAPÍTULO 9 - Hidrocefalia na Infância.......................................... 113 Fernando Campos Gomes Pinto Alexandre Maria Santos CAPÍTULO 10 - Hemorragia Subaracnóidea................................... 129 Maurício Mandei Brígido Fernando Campos Gomes Pinto CAPÍTULO 11 - Hérnia de Disco....................................................145 Fernando Campos Gomes Pinto Alexandre Shoji CAPÍTULO 12 - Tumores Intracranianos.........................................155 Fernando Campos Gomes Pinto Gustavo Cartaxo Patriota CAPÍTULO 13 - Gliomas Malignos.................................................167 Fernando Campos Gomes Pinto Fabrício Ricardo Frutos Porro CAPÍTULO 14 - Tratamento Cirúrgico Funcional da Dor.................. 177 Erich Talamoni Fonoff Manoel Jacobsen Teixeira CAPÍTULO 15 - Tratamento Cirúrgico da Doença de Parkinson....... 209 Erich Talamoni Fonoff Manoel Jacobsen Teixeira CAPÍTULO 16 - Tratamento Cirúrgico das Epilepsias....................... 225 Antonio Nogueira de Almeida CAPÍTULO 17 - Meningites Agudas Bacterianas............................. 241 Thales Dalessandro Meneguin Pereira Marcelo Litvoc Fernando Campos Gomes Pinto Sumário xix CAPÍTULO 18 - Aplicações do Laser em Neurocirurgia....................255 Fernando Campos Gomes Pinto CAPÍTULO 19 - Fisioterapia no Paciente com Traumatismo Craniencefálico........................................................ 263 Alessandra Palazzin Maria Elisa Pimentel Piemonte Márcia Midori Morimoto CAPÍTULO 20 - Assistência de Enfermagem ao Paciente Neurocirúrgico na UTI.....................................................279 Miriam de Araújo Campos CAPÍTULO 21 - Atuação Fonoaudiológica na Neurocirurgia............ 297 Fabiana Regina Giacomini Maeda Bragion CAPÍTULO 22 - Escalas em Neurocirurgia.......................................311 Gustavo Cartaxo Patriota Fernando Campos Gomes Pinto CAPÍTULO 23 - 100 Questões de Múltipla Escolha - Teste...............331 Fernando Campos Gomes Pinto Capitulo 1 Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia Flávia Morais Gomes Pinto Maria Inês Braconi Fernando Campos Gomes Pinto Os instrumentos cirúrgicos em geral são compostos por aço inoxidável (ferro, cromo e carbono), molibdênio, níquel e manganês. A durabilida de do instrumental está diretamente ligada ao tratamento adequado de limpeza, desinfecção e esterilização. Na neurocirurgia são utilizados instrumental cirúrgico básico e também pinças delicadas e específicas para os acessos cirúrgicos. Devido à grande variedade de instrumentais em neurocirurgia, a montagem das mesas deve ser um ato de dispor os instrumentos cirúrgicos em ordem lógica sobre as mesas auxiliares de forma a racionalizar e tornar mais eficiente o trabalho da equipe. A mesa cirúrgica deve ser montada em local de menor circulação na sala operatória e após a antissepsia da área a ser operada e da colocação dos campos esterelizados. O posicionamento da mesa do instrumental deve ocorrer de acordo com o tipo de cirurgia. Os instrumentos cirúrgicos que compõem a montagem da mesa au xiliar são divididos basicamente em seis grupos, de acordo com a fun ção desenvolvida: 1. diérese - cortar ou separar tecidos; 2. hemostasia -fechamento de extremidades dissecadas de um vaso com mínima le são tecidual; 3. preensão - desenhada para segurar os tecidos e outros 1 2 Manual de Iniciação em Neurocirurgia materiais; 4. afastadores - afastamento dos tecidos para apresentação e acesso aos órgãos; 5. especiais - pinças para biopsia, assepsia, cura tivo; 6. síntese - união de tecidos, fechamento de cavidades, restituição à normalidade. Materiais comocânulas de aspiração, cubas e manoplas também fazem parte da montagem da mesa. Cabe citar certos equipamentos especiais que podem ser utilizados em neurocirurgia: 1. Microscópio (Fig. 1.1). 2. Aparelho de Coagulação Bipolar. 3. Neuroendoscópio (Fig. 1.2). 4. Material para Estereotaxia. 5. Neuronavegador. 6. Radioscopia. 7. Neuroestimulador. 8. Aspirador Ultrassónico. 9. Laser Cirúrgico (Fig. 1.3 e 1.4). 10. D rill e Craniótomo/Laminótomo. Fig. 1.1 - Equipamentos para incremento da visualização das estruturas do sistema nervoso central podem ser utilizados em neurocirurgia, como lupa cirúrgica, microscópio e neuroendoscópio. Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia 3 Fig. 1.2 - Neuroendoscópio utilizado em cirurgias para o tratamento da hi drocefalia: terceiro ventriculostomia endoscópica. Fig. 1.3 - O equipamento de Fig. 1.4 - Fibra (600 pm) na qual o laser laser cirúrgico Nd:YAG. cirúrgico pode ser aplicado. 4 Manual de Iniciação em Neurocirurgia Conjuntos de instrumentos são agrupados em caixas específicas de acordo com o tipo de cirurgia. Segue abaixo, exemplos de caixas de instrumental cirúrgico utilizados em neurocirurgias. Caixa para craniotomia • Bisturi com lâminas nc 23,15 e 11 • 02 Tesouras de Metzembaum curvas • 01 Tesoura de Mayo curva • 01 Tesoura de Metzembaum reta • 12 Pinças de Kelly curvas • 12 Pinças de Kelly retas • 10 Pinças de Backaus • 02 Pinças anatômicas • 03 Pinças dente-de-rato • 02 Pinças de Adson com dente • 01 Pinça-tumor em baioneta • 04 Porta-agulhas (2 delicadas e 2 grosseiras) 15 cm • 04 Descoladores de Peinfield n° 1, 2, 3 e 4 • 01 Rugina de Lambote • 01 Passador para serra de Gigli • 02 Manoplas para serra de Gigli • 01 Serra de Gigli • 02 Espátulas maleáveis delicadas • 01 Goiva Duck-bill • 01 Goiva Leksell • 01 Goiva de Luer • 01 Kerrison 5 mm • 01 Kerrison 3 mm • 03 Pontas de aspirador de Frazier Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia 5 Caixa para laminectomia • 01 Cabo nQ 7 para lâmina nQ 11 • 02 Tesouras de Metzembaum curvas • 01 Tesoura de Mayo curva • 01 Tesoura de Metzembaum reta • 12 Pinças de Kelly curvas • 06 Pinças de Kelly retas • 10 Pinças Backaus • 02 Pinças anatômicas • 03 Pinças dente-de-rato • 02 Pinças de Vough com dente (dente delicado para dura-máter) • 01 Pinça-tumor em baioneta • 04 Porta-agulhas (2 delicadas e 2 grosseiras) • 04 Descoladores de dura-máter ne 1, 2, 3 e 4 • 02 Ruginas de Cobb (tamanhos diferentes) • 02 Pinças de Love-gruenwald ponta reta 2 e 3 mm • 01 Pinça de Love-gruenwald para cima 3 mm • 01 Par de afastadores de Farabeuf • 01 Par de afastadores de Langenbeck • 03 Kerrisons ângulo oblíquo 5, 3 e 2 mm • 01 Goiva Duck-bill • 01 Goiva Leksell • 01 Goiva de Jansen • 03 Pontas de aspirador de Frazier • 02 Afastadores de Gelpi rasos • 02 Afastadores de Gelpi profundos • 02 Formões • 01 Martelo • 01 Cisalha Manual de Iniciação em Neurocirurgia Caixa de microcirurgia • 01 Tesoura de microponta reta 10 cm • 01 Tesoura de microponta reta 15 cm • 01 Tesoura de microponta reta em baioneta • 01 Tesoura de microponta curva em baioneta • 03 Pinças bipolar em baioneta de 3 tamanhos diferentes • 01 Fio de bipolar • 01 Conjunto de microdissectores de Rothon • 01 Pinça-tumor em baioneta delicada • 02 Aspiradores de Rothon nQ 5 de tamanhos diferentes • 02 Aspiradores de Rothon nfl 7 de tamanhos diferentes • 01 Porta-agulhas para microcirurgia • 02 Pinças para anastomose Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia Caixa para derivação ventriculoperitoneal • Cabo para bisturi n2 4, 3, e 7 • 02 Tesouras de Metzembaum curvas • 01 Tesoura de Metzembaum reta • 06 Pinças de Kelly curvas • 06 Pinças de Halstead curvas • 06 Pinças de Backaus • 02 Pinças anatômicas • 02 Pinças dente-de-rato • 02 Pinças de Adson com dente • 01 Par de afastadores de Farabeuf • 02 Porta-agulhas • 01 Descolador para dura-máter de Penfield n2 1 • 01 Descolador para dura-máter de Penfield n2 4 • 01 Afastador autostático de Jansen • 01 Afastador de Gosset • 02 Aspiradores de Frazier • 01 Goiva Leksell • 01 Goiva de Jansen • 01 Trépano manual completo • 01 Vareta metálica (50 cm) Manual de Iniciação em Neurocirurgia Caixa de caspar lombar • 01 Conjunto de espéculos para hérnia lombar e afastadores para a musculatura Caixa de caspar cervical • 01 Conjunto de afastadores de músculo com espátulas de vários tamanhos • 01 Afastador de corpo vertebral (com 04 parafusos) • 01 Kerrison de 1 mm • 01 Pinça de Love-gruenwald reta de 1 mm • 01 Pinça Love-gruenwald para cima 1 mm • 02 Curetas delicadas ponta reta • 02 Curetas delicadas ponta curva Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia 9 Caixa para trepanação Tipos de cirurgia utilizadas: derivação ventricular externa, subdural crônico, biopsia estereotáxica e neuroendoscopia intraventricular • Cabo para bisturi nc 4, 3 e 7 • 02 Tesouras de Metzembaum curvas • 01 Tesoura de Metzembaum reta • 06 Pinças de Kelly curvas • 06 Pinças de Halstead curvas • 06 Pinças de Backaus • 02 Pinças anatômicas • 02 Pinças dente-de-rato • 02 Pinças de Adson com dente • 02 Porta-agulhas • 01 Descolador para dura-máter de Penfield n° 1 • 01 Descolador para dura-máter de Penfield n° 4 • 01 Afastador autostático de Jansen • 02 Aspiradores de Frazier • 01 Goiva de Leksell • 01 Goiva de Jansen • 01 Trépano manual completo Manual de Iniciação em Neurocirurgia Caixa para exploração de nervos • Cabo para bisturi nQ 4, 3 e 7 • 02 Tesouras de Metzembaum curvas • 01 Tesoura de Mayo curva • 01 Tesoura de íris curva • 01 Tesoura de Metzembaum reta • 10 Pinças de Halstead curvas (mosquitos) • 06 Pinças de Halstead retas • 06 Pinças de Kelly curvas • 06 Pinças de Hallis • 08 Pinças Backaus • 02 Mixter delicados • 02 Pinças anatômicas • 03 Pinças dente-de-rato • 02 Pinças de Adson com dente • 02 Pinças de Adson sem dente • 03 Porta-agulhas • 01 Descolador de Freer • 01 Par de afastadores de Farabeuf • 01 Par de afastadores de Langenbeck ou Richardson • 02 Afastadores autostáticos de Werthlaner • 01 Afastador autostático de Jansen • 02 Espátulas maleáveis Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia 11 Caixa de microcirurgia para nervos • 02 Pinças para anastomose (tipo relojoeiro) • 01 Tesoura de micro com ponta reta • 01 Tesoura de Castroviejo • 01 Porta-agulhas para microponta reta • 01 Porta-agulhas para microponta curva • 02 Pinças para anastomose • 01 Pinça bipolar reta delicada • 01 Descolador delicado de micro Caixa de hipófise Bisturi-lâminas nQ 23, 15 e 11 (a lâmina 11 não deve estar com o cabo descartável) • 01 Tesoura de Metzembaum curva • 01 Tesoura de Mayo curva • 01 Tesoura de Metzembaum reta • 06 Pinças de Kelly curvos • 06 Pinças de Kelly retos • 10 Pinças Backaus • 02 Pinças anatômicas • 02 Pinças dente-de-rato • 02 Pinças de Adson com dente • 02 Pinças em baioneta sem dente • 02 Porta-agulhas • 01 Descolador de Penfield nc 1 • 01 Descolador de Penfield ne 4 • 01 Gugina de Josef • 01 Descolador de septo 12 Manual de Iniciação em Neurocirurgia • 01 Espéculo nasal curto • 01 Espéculo especial • 01 Pinça de Brunnings • 01 Pinça Love-gruenwald delicada • 01 Formão delicado • 01 Martelo • 01 Pinça de Kerrison ângulo oblíquo 1 mm para cima • 01 Pinça de Kerrison ângulo oblíquo 1 mm para baixo • 02 Aspiradores longos • 01 Goiva delicada • 01 Pinça-tumor delicada • 01 Cabo para bisturi-lâmina n° 11 em baioneta • 01 Jogo de curetas e descoladores para hipófise Para a montagem da sala operatória, materiais complementares e específicos são necessários. Seguem abaixo: Cirurgia craniana • Caixa de crânio • Cabeceira de ferradura ou com pinos • Perfurador para crânio completo com craniótomo e drill • Retrator para cérebro (Leyla, Budde-Hallo ou Greenberg) • Material para microcirurgia • Kit com clipes para aneurisma (para microcirurgia vascular) • Afastadores autostáticos de Gelpi (para craniectomia de fossa posterior ou incisões retas) • 02 Borrachas de aspiração • 01 Fio com pinça bipolar • 01 Bisturi monopolar Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia13 • 03 Cubas-rim e 1 cúpula • 02 Pacotes de compressas grandes • 02 Pacotes de compressas pequenas • Gazes • Cera para osso • Algodão hidrófilo • Cotonoides • Surgicel™ • Anzóis • Kit de fios cirúrgicos • Clipes de Raney ou Leroy • Capa para microscópio • Saco de lixo estéril de 100 I • Steridrape™ • Campo impermeável de mesa • Butterfly n° 25 e seringa de 5 ml (somente em aneurismas) • 02 Seringas de 20 ml Cirurgias de coluna • Caixa de laminectomia • Afastadores autostáticos de Gelpi (2 profundos e 2 rasos) • Material de microcirurgia (tumores intrarraquidianos ou intrame- dulares) • Caspar cervical (para hérnia cervical) • Caspar lombar (para hérnia lombar) • 02 Borrachas de aspiração • 01 Fio com pinça de bipolar • 01 Bisturi monopolar • 02 Compressas grandes 14 Manual de Iniciação em Neurocirurgia • 02 Compressas pequenas • Gazes • 02 Cubas-rim e 01 cúpula • Kit de fios cirúrgicos • Cera para osso • Algodão hidrófilo • Cotonoides • Surgicel™ • Micropore™ esterilizado • Capa para microscópio • Capa para aparelho de raios X - ESCOPIA Exploração de nervos Tipo de cirurgia: plexo braquial, túnel do carpo • Caixa de exploração de nervos • Monopolar e bipolar • 01 Borracha de aspiração • 01 Pacote de compressas grandes • 01 Pacote de compressas pequenas • Gazes • Dreno de Penrose fino • Surgiloop • Algodão hidrófilo • Kit de fios, incluindo náilon 9-0 e 10-0 para possíveis anasto moses • Bisturi-lâmina nQ 23,15 e 11 • Verde-brilhante ou azul de metileno e palito para marcação da incisão • Fita cardíaca ou cadarço Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia 15 Em 1964, a National Research Council Ad Hoc Committee on Trauma classificou as cirurgias em quatro diferentes potenciais de contaminação, universalmente usados para o cálculo do índice de risco de infecção, quais sejam: • Feridas limpas - cirurgias eletivas, com fechamento da ferida por primeira intenção, sem nenhum sinal ou sintoma de inflamação, sem penetração nos tratos respiratórios, gastrintestinais, genitu- rinários ou orofaringes, sem nenhuma falha na técnica asséptica e sem a presença de drenos. • Feridas potencialmente contaminadas - cirurgias que apresen tem acesso aos tratos respiratório, gastrintestinal ou geniturinário sob condições controladas, sem sinais de processo inflamatório, penetração da orofaringe ou vagina e com pequena quebra na técnica cirúrgica. • Feridas contaminadas - incisões na presença de inflamação não purulenta aguda, quebra grosseira da técnica asséptica, trauma tismo penetrante há menos de 4 horas, feridas abertas cronica mente e acesso ao trato biliar ou geniturinário na presença de bile ou urina infectada. • Feridas infectadas - apresentam secreção purulenta, perfuração de víscera, traumatismo penetrante há mais de 4 horas, ferida traumática com tecido desvitalizado, corpo estranho ou conta minação fecal. Nesta classificação, as taxas de infecção do local cirúrgico devem ser proporcionais ao potencial de contaminação, devendo ser menores nas cirurgias limpas e maiores nas contaminadas ou infectadas. Pinto (2009) realizou um estudo exploratório para determinar e analisar a carga microbiana de instrumentos utilizados em cirurgias ortopédicas após o uso, de acordo com o potencial de contaminação das cirurgias. Um grupo controle negativo foi formado, composto de instrumentos que foram coletados imediatamente após a abertura da caixa de ins trumentos cirúrgicos e submetidos à cultura microbiana. O resultado da recuperação da carga microbiana no grupo de cirurgias classifica das como limpas foi de 47% (36/76). A positividade das culturas dos instrumentos do grupo controle negativo foi de, aproximadamente, 16 Manual de Iniciação em Neurocirurgia 33%, sendo que os micro-organismos mais comuns encontrados fo ram: Staphylococcus coagulase - negativa, bacilos Gram-positivos, Aci- netobacter baumannii e Bacillus subtilis (Pinto, 2009). Certas garantias devem ser asseguradas no material que foi utilizado em um paciente, para que seja possível sua reutilização. O uso de antibioticoprofilaxia nos diferentes potenciais de contaminação é de fundamental importân cia, contribuindo na redução das taxas de infecção. A grande maioria das neurocirurgias é considerada cirurgia limpa. Os materiais reusáveis ou reutilizáveis empregados em cirurgias nos diferentes potenciais de contaminação são processados pela Central de Materiais e Esterilização (CME), sendo submetidos a quatro etapas básicas: limpeza, inspeção, acondicionamento e esterilização. Em todas estas etapas, deve ser compreendida e utilizada a classificação clássica proposta por Spaulding (1968). Os artigos críticos são os que entram em contato com os tecidos não colonizados do corpo humano, sendo necessária a esterilização dos materiais após a limpeza, e os semicríti- cos são os que entram em contato com a mucosa íntegra colonizada e exigem uma desinfecção mínima de nível intermediário após a limpeza. Os artigos não críticos não entram em contato direto com o paciente ou entram em contato apenas com a pele íntegra. Para estes últimos, a limpeza é o procedimento mínimo recomendado. Resumo Devido à grande variedade de instrumentais em neurocirurgia, a mon tagem das mesas deve ser um ato de dispor os instrumentos cirúrgicos em ordem lógica sobre as mesas auxiliares de forma a racionalizar e tornar mais eficiente o trabalho da equipe. Os conjuntos de instrumentos agrupados em caixas específicas de acordo com o tipo de cirurgia são: crânio, coluna, nervos, hipófise, de rivação ventricular, endoscopia, estereotaxia, hipófise etc. Os equipamentos especiais que podem ser utilizados em neuroci rurgia são: microscópio, endoscópio, material para estereotaxia, neu- ronavegador, radioscopia, neuroestimulador, aspirador ultrassónico, aparelho de coagulação bipolar, laser cirúrgico, drill e craniótomo/ laminótomo. Materiais Cirúrgicos em Neurocirurgia 17 Bibliografia 1. Carvalho, R. Terminologia cirúrgica. In.: Carvalho R, Bianchi ERF. Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação. São Paulo: Ed. Manole Ltda; 2007. p. 149-61. 2. National Research Council, National Academy of Sciences, Division of Medical Sciences, Ad Hoc Committee on Trauma: Postoperative wound infections. The influence of ultraviolet on the operating room and of various other factors. Ann Surg 1964; 160(Suppl 2):1. 3. Pinto FMG. Análise da carga microbiana nos instrumentos utilizados em cirur gias ortopédicas. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2009. 4. Silva MAA, Rodrigues AL, Cesaretti IUR. Enfermagem na unidade de centro ci rúrgico. 2a ed. São Paulo: EPU; 1997. 5. Spaulding EH. Chemical desinfection of medical and surgical materials. In: Law rence CA, Block SS (eds). Disinfection, sterilization and preservation. Philadel phia: Lea & Febiger; 1968. p. 517-31. 6. Pinto FM, de Souza RQ, da Silva CB, Mimica LM, Graziano KU. Analysis of the microbial load in instruments used in orthopedic surgeries. Am J Infect Control. 2010 Apr;38(3):229-33. Capitulo 2 Avaliação Neurológica do Paciente em Coma Fernando Gonçalves de Andrade Fernando Campos Gomes Pinto O termo consciência tem diferentes significados. Uma definição sim ples seria "um estado de perfeito conhecimento de si e do ambiente". Na sua avaliação dois componentes devem ser observados: o conteúdo da consciência e o nível de consciência. O conteúdo da consciência refere-se às funções cognitivas (como lin guagem, praxias, memória etc.) e afetividade do paciente. É dependen te de estruturas do córtex cerebral. Pode ser avaliada pela expressão verbal e pelos atos do paciente ou, de forma mais prática, pela rea ção ou comportamento diante dos estímulos evidentes. Lesões corti- cais restritas alteram o conteúdo da consciência, mas mantém a vigília; quando são muito extensas e difusas, podem alterar também o nível de consciência. O nívei de consciência é o grau de alerta comportamental queo indi víduo expressa e está relacionado com a reação de despertar e o ciclo vigília/sono. A reação de despertar depende de impulsos excitatórios vindos da substância ativadora reticular ascendente (SARA) localizada no tronco cerebral que ascendem para o tálamo e de lá se projetam para 19 20 Manual de Iniciação em Neurocirurgia todo o córtex. Outros sistemas neuronais que mantêm conexão com o tálamo, como os núcleos de neurônios monoaminérgicos do tronco (núcleo da rafe, locus ceruleus, substância negra periaquedutal e núcleo do trato solitário) e hipotálamo, também estão envolvidos na reação de despertar. Oscilações fisiológicas no nível da consciência ocorrem normalmente no decorrer do dia. Diversos termos com diferentes definições podem ser usados para descrever as alterações no nível de consciência, tais como: • Sonolência - estado no qual o despertar e o pensamento dimi nuído são restabelecidos espontaneamente ou após estimulação luminosa repetida. • Obnubilação - estado em que ficam reduzidos o alerta e a per cepção do meio, mas podem ser revertidos com o toque ou cha mado pela voz. Estados mais avançados são considerados quadro de confusão mental. • Confusão - inabilidade de pensar com a velocidade e clareza nor mais para o paciente. • Delirium - estado de confusão com períodos de agitação, irri tabilidade, alucinações, alternando com períodos com depressão no nível de consciência. • Estupor - estado grave do comprometimento da responsividade e conhecimento do meio; alguma reação de despertar pode ser obtida somente após estímulo vigoroso. • Coma - ausência da reação de despertar diante de qualquer es tímulo interno ou externo. Nas definições modernas, é necessário que o paciente permaneça com os olhos sempre fechados. Os pacientes podem passar por cada um desses estados enquanto evoluem para o estado de coma ou quando emergem dele, exceto no caso do delirium. As alterações no nível de consciência que levam ao estado de coma implicam: lesão ou disfunção da SARA e/ou lesão ou disfunção intensa e difusa de ambos os hemisférios cerebrais (córtex cerebral). Avaliação Neurológica do Paciente em Coma 21 Os estados de coma podem ser classificados conforme o sítio lesionai, como proposto por Plum e Posner, utilizando-se a tenda do cerebelo como parâmetro. Têm-se assim: • lesões supratentoriais (diencéfalo e telencéfalo) destrutivas ou expansivas; • lesões infratentoriais (tronco encefálico e cerebelo) destrutivas ou expansivas; • lesões encefálicas difusas, multifocais e/ou metabólicas, como falta de oxigênio ou substrato, doenças em outros órgãos ou doença sistêmica, intoxicação exógena, doenças neuronais pri márias e outras tais como crises convulsivas e síndrome de abs tinência. Durante a avaliação, que visa determinar a etiologia do dano que levou ao estado de coma, devem ser tomadas medidas imediatas a fim de assegurar os parâmetros vitais e os elementos básicos neces sários para a sobrevivência do tecido cerebral, como fornecimento de glicose, oxigênio e cofatores (tiamina), para que ele não sofra mais danos. O estado comatoso limita a avaliação do paciente. A anamnese ba- seia-se em informações fornecidas por acompanhantes e é de funda mental importância para ajudar a estabelecer a etiologia. Segue-se o exame clínico geral e específico à procura de sinais que possam se relacionar à etiologia, e por fim o exame neurológico. O exame neurológico deve-se adaptar ao estado do paciente. Para sua avaliação, examinam-se cinco itens, conforme orientação de Plum e Posner: • nível de consciência; • padrão respiratório; • alterações pupilares; • motricidade ocular extrínseca; • características de resposta motora e reflexos. 22 Manual de Iniciação em Neurocirurgia Nível de consciência O estado de alteração do nível de consciência com prejuízo da res posta aos estímulos, permanecendo o paciente com os olhos fechados, é o que define coma. Essa alteração é mais bem avaliada por meio de escalas universais numéricas e não pelos termos como sonolência, topor e outros citados anteriormente. Há várias críticas a essas escalas, mas elas ainda constituem a maneira mais precisa de avaliação e evolução do paciente. As escalas mais utilizadas são: escala de coma de Glasgow e escala de Jouvet. A escala de coma de Glasgow (Glasgow Coma Scale - GCS) é um método fácil e rápido que fornece informações relevantes e objetivas sobre o nível de consciência durante o atendimento inicial e na evo lução e, por ser bastante difundido, permite a comunicação entre os vários profissionais de saúde. Nesta escala avalia-se a abertura ocular, a melhor resposta verbal e a melhor resposta motora. A pontuação varia de no mínimo 3 e no máximo 15 (nível de consciência normal), sen do que pontuação menor que 8 já indica coma. É importante anotar em qual parâmetro o paciente perdeu os pontos (um mesmo escore total pode relacionar-se a estados bem distintos de disfunção) e se estava sob entubação oro ou nasotraqueal ou sedado no momento da avaliação. A escala de Jouvet analisa dois parâmetros: perceptividade (corres ponde à função cortical) e reatividade (estruturas do tronco cerebral). Sua vantagem sobre a GCS é que permite correlação anatômica da dis função, mas, por ser mais difícil de aplicar, dificulta seu uso. Sua pon tuação varia de 4 (nível de consciência normal) a 14. Padrão respiratório O padrão respiratório é um parâmetro não muito utilizado atual mente, pois pacientes que chegam ao pronto-socorro com alterações respiratórias em concomitância com queda no nível de consciência são rapidamente entubados para que não falte oferta de oxigênio aos tecidos (a maioria das alterações nos padrões respiratórios levam a Avaliação Neurológica do Paciente em Coma 23 Escala de coma de Glasgow Parâmetro Resposta Pontuação^ Espontânea 4 Ao comando 3 Abertura ocular À dor 2 Ausente 1 Orientado 5 Confuso; frases 4 Melhor resposta verbal Palavras 3 Sons inteligíveis 2 Ausente 1 Obedece ordens 6 Localiza dor 5 Melhor resposta motora Retirada inespecífica 4 Reage com padrão flexor 3 Reage com padrão extensor 2 v________________ Não reage 1 ) Escala de coma de Jouvet ( Parâmetro Resposta Pontuação^ Lúcido, obedece ordens, inclusive escritas PI Desorientado e não obedece ordens escritas P2 Perceptividade Obedece apenas ordens verbais P3 Somente blinking P4 Não apresenta blinking P5 r R ea tiv id ad e Aos estímulos verbais acorda e orienta RI Inespecífica Aos estímulos verbais só acorda R2 Aos estímulos verbais não há resposta R3 Acorda, retira, mímica e vocaliza D l _ Acorda e retira D2 Especifica $ó retira D3 Não há resposta D4 . . ~ . Taquicardia, midríase, taquipneia VI Autonômica M r wnNao ha resposta V2 J 24 Manual de Iniciação em Neurocirurgia movimentos que não são eficientes do ponto de vista ventilatório). Além disso, o padrão respiratório pode estar alterado em várias outras doen ças sistêmicas (cardíacas, pulmonares, metabólicas etc.) ou em estados de ansiedade. Entretanto, certos padrões podem ajudar a determinar o nível anatômico da lesão juntamente com os outros parâmetros. São eles (Fig. 2.1): • Cheyne-Stokes - normalmente indica lesões supratentorais ex tensas e difusas ou alterações metabólicas. É caracterizado por alternância entre hiperventilação e apneia devido à maior sensi bilidade do centro respiratório do tronco ao C02 do sangue. • Hiperventilação neurogênica central - pode indicar lesão ao nível do mesencéfalo levando a uma liberação dos mecanismos reflexos de controle da respiração. Ocorre assim uma manuten ção da taquipneia mesmo com baixos níveis de C 0 2 e ausência de hipóxia. • Respiração apnêustica - tem valor localizatório, indicando lesão no pontino baixo. É caracterizada por períodos de inspiração se guidos de pausa em inspiração profunda de 2 a 3 segundos. • Respiração atáxica (de Biot) - apresenta valor localizatório, in dicando lesão bulbar (dano dosneurônios da formação reticular que geram o ritmo respiratório). É uma respiração completamente irregular que não mantém boa ventilação. • Apneia - falência dos mecanismos de respiração situados no bulbo. Alterações pupilares A análise das alterações pupilares é de grande importância no diagnóstico e evolução dos pacientes em coma, pois têm correlação anatômica que permite definir o nível da lesão. Em sua investigação, são observados o tamanho das pupilas, sua simetria ou assimetria (iso ou anisocoria) e a presença do reflexo fotomotor direto e con sensual. Avaliação Neurológica do Paciente em Coma 25 Respiração de Cheyne-Stokes Hiperventilação neurogênica central Respiração apnêustica Respiração atáxica Fig. 2.1 - Padrões respiratórios patológicos. O tamanho das pupilas é dependente da atividade simpática (causa midríase) e parassimpática (causa miose), enquanto o reflexo fotomo- tor depende do nervo óptico (via aferente) e da via parassimpática (via efe rente). Avia simpática origina-se no diencéfalo, desce ipsolateralmente pelo tronco encefálico e medula até o nível de C8-T3, onde faz uma sinapse e origina um segundo neurônio que sai da medula e atinge a cadeia ganglionar simpática. Adquire um trajeto ascendente, passando pelo gânglio estrelado até atingir o gânglio cervical superior, onde faz sinap se e origina o terceiro neurônio. Esse vai seguir pela carótida interna e nervo oftálmico (VI) até a cavidade orbitária, onde inerva o músculo dilatador da pupila. Na chamada síndrome de Claude-Bernard-Horner, que ocorre por lesão dessa via simpática em algum ponto do trajeto, além da miose pode ocorrer semiptose palpebral ipsolateral com va- sodilatação cutânea e anidrose. Avia parassimpática tem origem no núcleo de Edinger-Westphal no mesencéfalo e atinge o gânglio ciliar, onde faz sinapse e origina as fi bras que vão inervar o músculo esfíncter da pupila e causar miose. As fibras parassimpáticas envolvem o nervo oculomotor (NC III) no traje to entre o mesencéfalo e o gânglio ciliar e sua lesão acarreta midríase (predomínio simpático). 26 Manual de Iniciação em Neurocirurgia O reflexo fotomotor inicia-se a partir do estímulo das células gan glionares da retina pela luz. Esse estímulo é conduzido junto com o nervo óptico (via aferente), e pode assim com ele seguir um caminho ipsilateral e contralateral. As fibras que carregam o estímulo luminoso não fazem sinapse no corpo geniculado lateral e seguem direto para o núcleo de Edinger-Westphal, desencadeando a miose pela via paras- simpática (via eferente). Esse reflexo é extremamente resistente aos da mos metabólicos e difusos do sistema nervoso central, mas pode estar alterado nos casos de intoxicação por atropina, opiáceos, barbitúricos, em encefalopatia anóxica e hipotermia. Os principais tipos de pupila são (Fig. 2.2): • Miótica bilateralmente com reflexo fotomotor presente - indi ca lesão diencefálica bilateral (lesão das estruturas simpáticas, ha vendo predomínio parassimpático) ou encefalopatia metabólica. • Médio-fixa bilateralmente - ocorre por lesão da porção ventral do mesencéfalo. Tanto o sistema simpático quanto o parassim pático estão lesados, não havendo predomínio de midríase nem de miose, e com reflexo fotomotor ausente. • Pupila pontina {pin-point) - ocorre por lesões na ponte ge ralmente por hemorragia pontina. As pupilas são extremamente mióticas bilateralmente (menores que a diencefálica) e o reflexo fotomotor preservado devido à lesão do simpático apenas (pre domínio parassimpático e perda de influências inibitórias ascen dentes). • Pupila da síndrome de Horner - alteração da via simpática uni lateralmente. Presença de anisocoria, com midríase do lado con trário à lesão, pois predomina a atividade parassimpática (mio se) ipsilateral. O reflexo fotomotor está preservado (tanto direto quanto consenual) bilateralmente. • Pupila uncal - ocorre durante a herniação transtentorial late ral devido à compressão do nervo oculomotor (NC III) e conse quentemente da via parassimpática. A presença de anisocoria com midríase ipsilateral à lesão ocorre devido ao predomínio Avaliação Neurológica do Paciente em Coma 27 simpático desse lado. O reflexo fotomotor direto está ausente quando o lado midriático é pesquisado, mas o consensual está preservado. Pupila normal - RFM (+) Pupila diencefálica - RFM (+) Pupila pontina - RFM (-) □ Pupila uncual (lesão NCIII D) - RFM (-) Fig. 2.2 - Tipos de padrão pupilar. Motricidade ocular extrínseca O nervo oculomotor (NC III), nervo troclear (NC IV) e nervo abdu- cente (NC VI) são responsáveis pela motricidade ocular extrínseca. Os dois primeiros têm origem no mesencéfalo, enquanto o último tem origem na ponte. O nervo oculomotor é responsável pela inervação de todos os mús culos oculares extrínsecos, inclusive o músculo levantador da pálpebra superior; há exceção para o músculo oblíquo superior (abaixa quando o olho está aduzido e roda lateralmente), que é inervado pelo troclear, e para o músculo reto lateral (responsável pela abdução do olho), que é inervado pelo abducente. Na análise da motricidade ocular extrínseca no paciente em coma são pesquisados os nervos oculomotor e abducente e a presença de olhar conjugado horizontal. O olhar conjugado horizontal lateral se dá pela interligação dos nú cleos NC III e NC VI pelo fascículo longitudinal medial. O fascículo lon gitudinal medial origina-se do núcleo do nervo abducente, cruza o 28 Manual de Iniciação em Neurocirurgia plano mediano, terminando no núcleo do nervo oculomotor contrala- teral. Lesão neste fascículo causa a chamada oftalmoplegia internuclear, enquanto lesões no núcleo do NC III causam estrabismo divergente, e no NC IV, estrabismo convergente. O movimento de convergência de pende apenas do nervo oculomotor. Esses movimentos conjugados são também modulados por áreas cor- ticais como a occipital e a parietal (movimento de seguimento dos olhos - nistagmo optocinético), e a frontal (modula a visualização voluntária dos objetos). As fibras vindas do córtex frontal cruzam na transição entre ponte e mesencéfalo, terminando na formação reticular paramediana- pontina (FRPP), que envia, por sua vez, fibras para o NC VI. O movimento conjugado vertical é integrado na região pré-tectal. A análise da motricidade ocular extrínseca é feita em cinco etapas: • Observação dos movimentos oculares espontâneos - posição do olhar, movimentos conjugados ou disjuntivos, paralisias etc. • Manobra dos olhos de boneca (não realizada na suspeita de lesão cervical) - são feitos movimentos bruscos com a cabeça (para os lados esquerdo e direito) e observa-se o retorno do olhar para a posição inicial, contrária ao movimento. Isso é possível de vido às conexões entre o labirinto e os receptores propriocepti- vos cervicais com os núcleos dos NC III e NC VI. Esse retorno só é visto no indivíduo inconsciente, no qual não há bloqueio das vias corticais sobre as vias dos receptores prorioceptivos. A ausência de resposta indica lesão no tronco cerebral. • Manobra oculovestibular - os canais semicirculares enviam afe- rências para os núcleos vestibulares (NC VIII) que, por sua vez, conectam-se com o núcleo do NC VI contralateral estimulando-o. Isso provoca, assim, desvio dos olhos, com nistagmo, para o lado contralateral à estimulação (indivíduo consciente). Nessa mano bra, o reflexo é pesquisado injetando-se água gelada em um dos condutos auditivos, estando o paciente com a cabeça a 30° aci ma da horizontal. No indivíduo em coma, com as vias do tronco preservadas, ocorre desvio conjugado do olhar para o lado pes quisado. Se o estímulo é feito com água gelada em ambas as ore- Avaliação Neurológica do Paciente em Coma 29 lhas o olhar é desviado para baixo, e se com água quente, o olhar desvia-se para cima. • Reflexo corneopalpebral - é pesquisado estimulando-se a tran sição entre a córnea e a esclera com uma mecha fina de algodão.A via aferente é feita por fibras do trigêmeo (ramo oftálmico -VI) que fazem sinapse no núcleo principal do trigêmeo na ponte e dali estabelecem conexão com os núcleos do nervo facial, tanto ipsilateral quanto contralateral. As fibras eferentes são do nervo facial (NC VII) e vão ser responsáveis pelo fechamento da pálpe bra bilateralmente (músculo orbicular do olho). • Observação das pálpebras - os olhos fechados constituem uma das características do estado de coma. Deficit no fechamento pode estar ligado à lesão do NC VII (músculo orbicular do olho), pre sença de semiptose à lesão simpática e ptose completa, alteração no NC III (músculo levantador da pálpebra). Resposta motora e reflexos A via motora é afetada em muitas doenças estruturais do sistema nervoso central e raramente por alterações sistêmicas. Em casos de lesão do diencéfalo e tronco encefálico são observadas alterações posturais como decorticação e descerebração. A decorticação consiste em uma postura com adução, flexão do co tovelo, flexão de punho e dos dedos do membro superior e hiperex- tensão, flexão plantar e rotação interna do membro inferior, sugerindo uma alteração supratentorial (regiões da cápsula interna ou tálamo). Já na descerebração, o paciente adquire uma postura em que há adu ção, extensão, hiperpronação do membro superior com extensão e flexão plantar do membro inferior. Essa postura foi descrita em animais de expe rimentação com lesões situadas entre o núcleo rubro e núcleos vestibu lares no tronco, mas no ser humano não tem valor localizatório preciso, podendo estar presente em lesões desde o diencéfalo até a ponte. Há ainda uma postura com extensão anormal no membro superior com flacidez ou resposta flexora fraca no membro inferior sugerindo lesão em ponte. Flacidez e ausência de resposta podem estar associa das à lesão periférica ou lesão pontina baixa ou bulbar. 30 Manual de Iniciação em Neurocirurgia Exame neurológico do paciente em coma para o diagnóstico de morte encefálica O exame neurológico segue os mesmos princípios e embasamen tos anteriormente citados. Tem como objetivo definir a irreversibili- dade da cessação da função de todo o cérebro, inclusive do tronco encefálico. Antes do início do exame, deve-se ter determinado a causa do coma e descartadas causas reversíveis (sinais vitais mínimos, correção de ele- trólitos, suspensão de sedação, controle de crises convulsivas, exames de imagem e avaliação de cirurgia em alguns casos). O exame começa definindo-se que o paciente está em coma arreativo e aperceptivo (pela escala de Glasgow com valor igual a 3) mesmo sob estímulos dolorosos profundos. Inicia-se então a sequência de exame da função do tronco cerebral por meio dos reflexos, dos mais rostrais (mesencéfalo) aos mais caudais (bulbo). Reflexos testados e resposta esperada em pacientes em morte en cefálica: • Pupilas/reflexo fotomotor (aferência pelo NC II e eferência pelo NC III/parassimpático; integração no mesencéfalo): devem estar com padrão médio-fixas ou midríase paralítica (sem reflexo foto motor). • Corneopalpebral (aferência pelo NC V e eferência pelo NC VII; in tegração na ponte): deve estar ausente. • Oculocefálico (aferência pelo NC VIII e propriocepção cervical e eferência pelo NC III/VI; integração na ponte e mesencéfalo): deve estar ausente, com padrão "olhos de boneca" (não deve ser rea lizado na suspeita de lesão cervical). • Oculovestibular (mesmo padrão do oculocefálico, exceto pela au sência da aferência proprioceptiva cervical): deve estar ausente. • Orofaríngeo e estimulação da faringe posterior ou nauseoso (afe rência pelo NC IX/X e eferência pelo NC X; integração no bulbo): devem estar ausentes. • Tosse (aferência pelo NC X e eferência pelo NC V/IX/X e muscula tura respiratória; integração no bulbo): deve estar ausente. Avaliação Neurológica do Paciente em Coma 31 Pelo exame neurológico habitual confirmando a ausência dos re flexos de tronco citados anteriormente faz-se, então, o teste da ap- neia (até 10 minutos), que visa estimular o centro respiratório (região mais caudal do bulbo dorsal) com o aumento do C 02, mantendo-se a oxigenação tecidual. O aumento de C 0 2 deve estimular o centro respiratório a iniciar uma inspiração. Nos pacientes em morte ence fálica, a resposta é ausente (apneia) mesmo com paC02 > 60 mmHg (confirmada por gasometria). Em qualquer das etapas do exame, se o paciente apresentar res posta que indique função preservada, o exame é cessado e repetido em 6 horas. Segundo a legislação brasileira, mesmo após dois exames clínicos é necessário um exame complementar para a confirmação de ausência defluxo cerebral (arteriografia ou Dopplertranscraniano), ou ausência de atividade elétrica cerebral (eletroencefalograma, potencial evocado auditivo, visual e somatossensitivo) ou ausência de atividade metabólica (PET, SPECT) para o diagnóstico final de morte cerebral. Resumo Tabela 2.1 - Resumo das alterações durante uma herniação cerebral central e uncal (evolução craniocaudal). Fase da H e rn ia ç ã o C e re b ra l C o n sc iê n c ia P u p ila s M .O .E R e sp ira çã o M o tr ic id a d e H e m is fé r ic a Normal Normal Normal Normal Hemiparesia D ie n c e fá lic a Diminuída (+) Miótica RFM + Normal Cheyne-Stokes Decorticação U n ca l Diminuída (+) Midríase ipsilateral (anisocoria) Ptose e déficit de adução Sem padrão Hemiparesia M e s e n c e fá lic a Diminuída (++) Mediofixa D éficit de adução Hiperventilação Descerebração P o n tin a Diminuída (++) Miose RFM + - Apnêustica Extensão MMSS e flexão MMII B u lb a r V Diminuída (++) Mediofixa - Apneia J MOE; MMSS= membros superiores; MMII= membros inferiores 32 Manual de Iniciação em Neurocirurgia Bibliografia 1. Adams RD, Victor M. Principles of neurology. 5th ed. New York: McGraw-Hill; 1992. 2. Feske SK. Coma and confusional states: emergency diagnosis and management. Neurol Clin 1998; 16(2):237. 3. Nitrini R, Bacheschi LA. A neurologia que todo médico deve saber. Ia ed. Bra sil: Santos; 1995. 4. Plum F, Posner JB. Diagnosis of stupor and coma. 3rd ed. Philadelphia: Davis; 1980. 5. Sturmann K. The neurologic examination. Emerg Med Clin North Am 1997; 15(3):491. 6. Teasdale G, Jennett B. Assessment of coma and impaired consciousness: a prati cai scale. Lancet 1974; 2:81. Capitulo 3 Hipertensão Intracraniana Luciano Henrique Lopes Foroni Fernando Campos Gomes Pinto Introdução No adulto, o crânio pode ser considerado um compartimento rígido e inelástico. A cavidade intracraniana é totalmente ocupada por parên- quima encefálico, sangue e liquor. A ocupação harmônica do espaço intracraniano e a contínua circulação de sangue e liquor determinam a pressão intracraniana (PIC) normal. Definição Entende-se por hipertensão intracraniana (HIC) o aumento da pres são no interior do crânio além dos valores normais fisiológicos. Pode ser o resultado de diversas doenças que afetam o encéfalo: traumática, inflamatória, neoplásica, vascular, metabólica, tóxica, infecciosa. Fisiopatologia O aumento da PIC está relacionado ao aumento de um ou mais de seus componentes (liquor, sangue e parênquima) ou outro processo expansivo (neoplasias primárias ou metastáticas, abscessos, hemato mas, granulomas). 34 Manual de Iniciação em Neurocirurgia A PIC, em condições normais, varia de 5 a 20 cm de água ou até 15 mmHg, sendo considerada anormal acima de 20 mmHg. Seus valores podem ser obtidos por meio de sensores que podem ser colocados nos espaços epidural, subdural, intraparenquimatoso ou intraventri cular, sendo evidenciadas ondas de pressão durante a monitorização. As ondas A ou ondas em platô são consideradas patológicas e estão associadas a manifestações clínicas do aumento da PIC. As ondas B podem ser tanto fisiológicas quanto patológicas. As ondas C repre sentam a repercussão dos batimentos cardíacos na PIC. A ausência de ondas de pressão deve-se à falência vasomotora e implica mauprognóstico. O liquor, produzido principalmente pelos plexos coroides dos ven trículos, circula pelos ventrículos laterais, forames interventriculares, terceiro ventrículo, aqueduto cerebral, quarto ventrículo e alcança o espaço subaracnóideo através das aberturas laterais (forames de Luschka) e da abertura mediana (forame de Magendie) do quarto ventrículo, envolvendo todo o sistema nervoso central (encefálico e medular), sendo absorvido principalmente nas granulações aracnói- deas próximas ao seio sagital superior (granulações de Pacchioni). Um grande aumento em sua produção, uma obstrução em seu trajeto ou uma diminuição de sua absorção podem fazer com que o volume liquórico se torne maior, compartimentalizado ou não, acarretando aumento da PIC. A circulação sanguínea cerebral possui um fino sistema regulatório que age de forma a manter o fluxo sanguíneo encefálico (FSE) constan te. Esse sistema, conhecido como autorregulação, age através do cali bre dos vasos por mecanismos miogênicos e químicos e é responsável por prover oxigênio e glicose necessários para o metabolismo cerebral. Dessa forma, tenta-se manter um FSE constante mesmo durante flu tuações da pressão arterial média (PAM). O aumento da pressão intra vascular causa vasoconstrição e, de modo inverso, a queda pressórica provoca vasodilatação. Um aumento na concentração local de dióxido de carbono (C02) determina vasodilatação e eleva o fluxo sanguíneo para essa área. Inversamente, o oxigênio causa vasoconstrição. A cons tância é conseguida por meio de um equilíbrio desses fatores. A perda da autorregulação, como consequência, por exemplo, de traumatismo Hipertensão Intracraniana 35 que leva à vasoplegia, impede a manutenção dessa constância e faz com que o FSE varie praticamente de forma linear com a pressão ar terial (Fig. 3.1). 50-60 150-160 PAM mmHg Fig. 3.1 - (------------- ) Autorregulação normal. (— — — —) Perda da autorregulação. O aumento de volume de um dos componentes da cavidade intra craniana ou o aparecimento de um processo expansivo obriga o des locamento de seus constituintes naturais na tentativa de se manter inalterada a PIC. Assim, quando um volume é acrescido ao conteúdo normal da cavidade intracraniana, o primeiro componente que sofre redistribuição é o liquor, sendo observada redução do espaço subarac- nóideo e das cavidades ventriculares (quando o aumento do volume intracraniano não é gerado pelo próprio liquor, por exemplo, na hidro cefalia). Em seguida, há redução do leito vascular, iniciando pelo veno so, e a seguir deslocamento do parênquima cerebral por compressão. Essa capacidade dos tecidos da cavidade intracraniana de se adaptar ao aumento de volume em seu interior é denominada complacência. Aumentos iniciais de volume podem não alterar a PIC por causa desses mecanismos adaptativos. Entretanto, posteriormente, um pequeno vo lume acrescido pode levar a grandes aumentos da PIC (Fig. 3.2). 36 Manual de Iniciação em Neurocirurgia Fig. 3.2 - Curva da complacência (volume/pressão) de Langfitt. Um fator muito importante no processo adaptativo é o tempo, ou seja, aumentos de volume lentos e progressivos são mais "tolerados" e compensados do que aumentos súbitos que levam à descompensação rápida com o mesmo volume. Essa descompensação e consequente aumento da PIC podem levar ao deslocamento e torção do neuroeixo e à redução do FSE, prejudi cando o funcionamento do sistema nervoso central. Essa torção e o deslocamento de estruturas encefálicas são conheci dos como herniação cerebral e representam o resultado tanto de fato res que levam a aumento da PIC quanto de processos expansivos sem elevação por compressão. As hérnias encefálicas podem ser (Fig. 3.3): • Supracalosa (ou subfalcina) - passagem do giro do cíngulo sob a borda livre da foice cerebral, podendo levar a infarto isquêmico no território de irrigação das artérias pericalosas por compressão. • Uncal - deslocamento do úncus e da porção medial do giro para- hipocampal através da incisura da tenda do cerebelo, podendo levar a compressão do nervo oculomotor com midríase ipsilateral, compressão de artéria cerebral posterior e de mesencéfalo, apresentando desde hidrocefalia por compressão do aqueduto Hipertensão Intracraniana 37 cerebral até óbito, passando por hemiparesia/hemiplegia, coma e descerebração. • Central - migração caudal do diencéfalo e porção superior do mesencéfalo através da incisura tentorial (forame de Pacchioni), re sultado de processos supratentoriais difusos com grande aumento da PIC. • Cerebelares superior e inferior - herniação de tecido cerebelar através da incisura tentorial (cerebelar superior ou ascendente) ou do forame magno (cerebelar inferior ou tonsilar), sendo am bas resultantes dos processos que levam ao aumento da pres são infratentorial. A hérnia cerebelar inferior é a mais grave das herniações, podendo comprimir o bulbo e acarretar parada car- diorrespiratória súbita. Fig. 3.3 - Curva da complacência (volume/pressão) de Langfitt. 38 Manual de Iniciação em Neurocirurgia A HIC causa alterações do FSE por compressão e redução do calibre vascular, que provoca hipóxia cerebral com elevação na concentração de C02 e consequente vasodilatação pelo mecanismo citado anteriormente, o que pode agravar a HIC. Na tentativa de se manter uma pressão de perfusão encefálica (PPE, normal 60 a 70 mmHg) compatível com a irri gação encefálica necessária, ocorre aumento da pressão arterial média (PAM), conforme a fórmula: PPE = PAM - PIC Acredita-se que o aumento da PAM seja resultado de hipóxia de estru turas do tronco cerebral. Se essa isquemia atingir maiores proporções, pode haver falência dessa reação vasopressórica, diminuição da PAM, maior isquemia cerebral e morte. O aumento da PAM, a bradicardia e as alterações no padrão respiratório são conhecidos como tríade de Cushing. Quadro clínico A evolução dos sinais e sintomas da HIC são determinados princi palmente por compressão e distorção do encéfalo e se dá em quatro fases: • Fase 1 - assintomática, atuação dos mecanismos compensatórios de aumento da PIC. • Fase 2 - primeiros sintomas e sinais de HIC: cefaleia, náuseas e/ou vômitos, tontura, convulsão, papiledema (Fig. 3.4), alterações do nível de consciência, do comportamento, da pressão arterial (PA) e da respiração, diminuição da frequência cardíaca (FC), compro metimento do FSE e isquemia cerebral. Aparecem as ondas em platô na monitorização da PIC. • Fase 3 - acentuação da HIC, comprometimento do tônus vascu lar e falência do mecanismo vasopressórico, levando a aumento do volume sanguíneo cerebral. Rebaixamento do nível de consci ência, elevação da PA, diminuição da FC e alterações do ritmo respiratório. Hipertensão Intracraniana 39 • Fase 4 - queda da PA, irregularidades da FC e do ritmo respiratório, coma, midríase paralítica, parada cardiorrespiratória e óbito. Podem aparecer também sintomas e sinais focais resultantes de dis função do local da lesão que levou à HIC. Tal quadro permite, em al guns casos, identificar a localização da lesão. São eles: convulsão focal, ataxia, paresia, paralisia e comprometimento de nervos cranianos. O envolvimento de nervos cranianos (por exemplo, o nervo abducente) nem sempre tem valor localizatório. Fig. 3.4 - (A) Exame de fundo de olho com papiledema em paciente com hi pertensão intracraniana (seta preta). (B) Exame de fundo de olho sem papi ledema (seta preta). Diagnóstico O diagnóstico de HIC é baseado no reconhecimento de suas mani festações clínicas, podendo ser auxiliado por exames de neuroimagem mostrando processo expansivo, edema perilesional, hidrocefalia, apa- gamento de sulcos e cisternas, herniações, edema e inchaço cerebral. A instalação de um monitor da PIC confirma o diagnóstico e permite fazer a avaliação e o acompanhamento do paciente com HIC. Os moni tores da PIC podem ser epidurais, subdurais, intraparenquimatosos ou intraventriculares.Consideram-se os seguintes valores da PIC signifi cativos para o tratamento da HIC: 20-24 mmHg por 30 minutos, 25-29 mmHg por 10 minutos ou > 30 mmHg por 1 minuto. 40 Manual de Iniciação em Neurocirurgia Tratamento O tratamento da HIC tem por objetivo diminuir a PIC e baseia-se prin cipalmente na redução do conteúdo intracraniano e/ou no aumento de sua cavidade. É realizado por meio de medidas clínicas e/ou cirúrgicas. Como medida geral, eleva-se a cabeceira do leito do paciente a 30 a 45°. O liquor pode ser drenado em casos de hidrocefalia ou como manobra inicial de redução temporária da HIC. Pode-se tentar diminuir o volume sanguíneo cerebral por meio de hiperventilação controlada aumentando a oferta de 0 2 e diminuindo a concentração local de C02, o que leva à vasoconstrição encefálica reduzindo a PIC por diminuição do FSE quando o mecanismo de autorregulação ainda está relativamen te preservado. Anticonvulsivantes são utilizados para evitar que uma hiperatividade neuronal eleve o FSE, agravando a HIC. Da mesma for ma, pode-se induzir o coma barbitúrico e/ou a hipotermia (32 a 34°C) para que o FSE seja o mínimo necessário para manter a viabilidade das células nervosas em "repouso" - metabolismo basal. É extremamente importante evitar hipotensão arterial sistêmica, de for ma que não comprometa ainda mais a pressão de perfusão encefálica. A redução do conteúdo hídrico encefálico é conseguida pela admi nistração de soluções hipertônicas, como manitol, glicerol ou solução salina hipertônica, por aumentarem a pressão osmótica intravascular e deslocarem água do parênquima encefálico para a corrente sanguí nea; por meio de corticosteroides, principalmente a dexametasona, por sua intensa ação anti-inflamatória, diminuição da produção de liquor e pouca retenção de sódio. O tratamento neurocirúrgico da HIC visa à redução do volume liquó- rico encefálico (colocação de catéteres ventriculares na hidrocefalia, por exemplo), à diminuição ou exérese de algum processo expansivo (ne oplasias, abscessos, hematomas) ou ao aumento da cavidade craniana por meio da retirada de retalho da calota craniana e plástica da dura- máter, descomprimindo o encéfalo (craniectomia descompressiva). Concluindo, quando o controle da PIC é refratária às medidas clíni cas de primeira linha: decúbito 30°, ventilação mecânica sob sedação, equilíbrio hemodinâmico-metabólico-hidroeletrolítico (Hb > 10, Na+ sérico normal: 135 a 145 mEq/C, afebril), analgesia, bloqueio neuromus- Hipertensão Intracraniana 41 cular, drenagem de líquido cefalorraquidiano (LCR), manitol, corticoi- des, controle e prevenção de convulsões; empregam-se as medidas de segunda linha: hiperventilação, solução salina hipertônica, otimização da sedação, hipotermia (32° a 34° C) e craniectomia descompressiva, mais utilizada em lesões hemisféricas. Há trabalhos científicos recen tes descrevendo a utilização da drenagem lombar externa controlada como medida extrema. Resumo O aumento da pressão intracraniana é uma ocorrência frequente em neurocirurgia resultante de diversas doenças que afetam o encéfalo. É consequência do aumento de um ou mais conteúdos intracranianos (li- quor, sangue e parênquima) ou do surgimento de processo expansivo (hematomas, abscessos, neoplasias). Manifesta-se porcefaleia, vômitos, papiledema, convulsão, tontura, alteração do comportamento, do nível de consciência, da pressão arterial, da frequência cardíaca e do ritmo respiratório. O tratamento consiste em reduzir o conteúdo intracrania no e/ou aumentar sua cavidade. Bibliografia 1. Bullock R, Chesnut RM, Clifton G et al. Guidelines for the management of se vere head injury. J Neurotrauma 1996; 13:639-734. 2. Cabrera HTN. Fisiopatologia básica da hipertensão intracraniana. In: Stávale MA (ed). Bases da terapia intensiva neurológica. São Paulo: Ed. Santos; 1996. p. 39-49. 3. Chestnut RM. Treating raised intracranial pressure in head injury. In Narayan RK, Wilberger JE, Povlishock JT (eds). Neurotrauma. New York: McGraw-Hill; 1996 p. 445-469. 4. Lee KR, Hoff JT. Intracranial pressure. In: Youmans JR (ed). Neurological surgery. Philadelphia: Saunders; 1996; p. 491-518. 5. Luzio J. Síndrome de hipertensão intracraniana. In: Nitrini R, Bacheschi (eds). A neurologia que todo médico deve saber. São Paulo: Ed. Santos; 2003. p. 135- 142. 6. Marmarou A. Pathophysiology of intracranial pressure. In: Narayan RK, Wil berger JE, Povlishock JT (eds). Neurotrauma. New York: McGraw-Hill; 1996; p. 413-428. 42 Manual de Iniciação em Neurocirurgia 7. Marmarou A, Beaumont A. Physiology of the cerebrospinal fluid and intracra nial pressure. In: Winn HR (ed). Youmans neurological surgery. Philadelphia: Saunders; 2003; p. 175-193. 8. Pinto FC, Capone-Neto A, Prist R, Rocha-e-silva M, Poli-de-Figueiredo LF. Vo lume replacement with lactated Ringer's or 3% hypertonic saline solution du ring combined experimental hemorrhagic shock and traumatic brain injury. J Trauma-Injury Infect Crit Care 2006; 60(4):758-764. Capítulo Traumatismo Craniencefálico - Lesões Focais Fernando Campos Gomes Pinto Danilo Leite Lourenço O traumatismo craniencefálico (TCE) tem o potencial de produzir uma variedade de lesões hemorrágicas dentro do tecido cerebral e nos es paços entre as meninges. Este se tornou a principal causa de morte em adultos jovens. Pode ser classificado em: Leve, Moderado e Grave, de acordo com a pontuação pela escala de coma de Glasgow (GCS) no aten dimento inicial ao paciente. Dentre os TCEs graves (GCS < 8), 25% têm indicação neurocirúrgica e 5% incluem lesão de coluna (Quadro 4.1). Quadro 4.1 - Classificação do TCE pela pontuação inicial da escala de coma de Glasgow. Classificação do TCE pela pontuação inicial da escala de coma de Glasgow • TCE leve: 14 -15 • TCE moderado: 9 - 1 3 • TCE grave: 3- 8 43 44 Manual de Iniciação em Neurocirurgia As lesões causadas porTCE são divididas em difusas, incluindo axonal difusa, brain sweiling e hemorragia subaracnóidea traumática, e focais: hematoma extradural, subdural agudo, subdural crônico e contusão cerebral. As fraturas/afundamentos de crânio e os ferimentos penetrantes por arma branca (FAB) e projétil de arma de fogo (FAF de crânio) produzem lesões de envoltórios e requerem reconstrução de dura-máter, osso e couro cabeludo após limpeza cirúrgica. As duas primeiras são lesões focais, e o FAF de crânio provoca lesão difusa pela cavitação causada pela desaceleração do projétil no tecido cerebral. Neste capítulo serão abordados os hematomas intracranianos (extra dural, subdural agudo e crônico) e as contusões cerebrais. Hematoma extradural Definição O hematoma extradural consiste em uma coleção sanguínea situa da entre a tábua óssea interna do crânio e a dura-máter. Ocorre mais comumente na região temporal (70%) e na região frontal (10%). É raro ocorrer hematoma extradural (HED) em crianças com idade inferior a 2 anos e idosos com mais de 60 anos, devido à alta aderência da dura- -máter no osso. Fisiopatologia O HED ocorre normalmente em lesões por impacto direto, sendo que a radiografia de crânio simples mostra algum tipo de fratura em mais de 90% dos casos. A região mais acometida é a porção escamosa do osso temporal, pois é onde o osso tem a menor espessura. O hematoma resulta de lesão na artéria ou veia meníngea média, veias diploicas ou seios venosos. Em mais de 50% dos pacientes ele surge da artéria meníngea média, ramo da artéria maxilar, nutrida pela artéria carótida externa. Na maioria das vezes, o hematoma é unila teral, na porção onde ocorreu o impacto. Também pode ocorrer HED associado com outras lesões, como hematomas subdurais ou intrapa- renquimatosos. Traumatismo Craniencefálico - Lesões Focais 45 Quadro clínico Classicamente, o quadro clínico de um paciente com HED é descrito com perda de consciência inicial, por ocasião do traumatismo, seguida de recuperação, sendo chamado esse período de intervalo lúcido. A partirdisso, ocorre rápida piora do nível de consciência, passando por obnubilação, confusão mental, coma superficial e coma profundo. O intervalo lúcido, em geral, dura de 6 a 8 horas, embora não seja patog- nomônico de HED, podendo aparecer em outras lesões que decorrem de TCE. O aparecimento dos sinais e sintomas do HED é bem variável: um terço dos pacientes chega à sala de cirurgia em até 12 horas depois do traumatismo, e de 60 a 75%, após 48 horas. Raramente os pacientes apresentam sintomas depois da primeira semana. No diagnóstico de HED, é particularmente importante o aparecimento de déficit motores, hemiparesia, assimetria de reflexos, alterações de linguagem e pupilares, bem como otorragia, hematoma retroauricular e orbitário. A midríase unilateral (anisocoria) é um dos sinais mais frequentes e precoces a surgir, decorrendo da compressão do nervo oculomotor (herniação un- cal). A hipertensão arterial, a bradicardia e alterações respiratórias (tríade de Cushing) podem ocorrer por HIC devido ao HED em evolução. Logo após o traumatismo, a frequência cardíaca costuma ser alta e a pressão arterial normal. Quando o hematoma está instalando-se, a pressão arterial sobe e surge bradicardia. Em fases mais adiantadas, com o comprometimento do tronco cerebral, ocorre hipotensão arte rial com bradi ou taquicardia. O quadro clínico descrito acima é clássico e ocorre entre 10 e 27% dos pacientes. Isso acontece porque existem fatores, como a presença de outras lesões, que podem falsear a evolução do quadro típico de HED. A própria localização do hematoma pode alterar os sintomas, assim, nos hematomas subtemporais existe aparecimento precoce de aniso coria, enquanto nos frontais a evolução é mais arrastada, iniciando-se com confusão mental. Diagnóstico O primeiro exame de escolha para diagnosticar um HED é a tomo- grafia computadorizada (TC). O hematoma aparece como uma lesão 46 Manual de Iniciação em Neurocirurgia hiperatenuante, com forma biconvexa entre a tábua óssea e a dura- máter, levando a um efeito de massa que comprime o parênquima ce rebral (Fig. 4.1 e 4.2). A radiografia pode apontar uma fratura em mais de 90% dos casos. Mais importante a ressaltar é o fato de que qualquer atraso no diagnóstico do hematoma extradural poderá ser fatal. Fig. 4.1 - Hematoma extradural occipital à esquerda em paciente com 1 ano de idade. Fig. 4.2 - Hematoma extradural temporal à esquerda, desvio de estruturas da linha mediana para a direita e contusão temporal direita. Traumatismo Craniencefálico - Lesões Focais 47 Tratamento A condição da maioria dos pacientes pode ser estabilizada inicial mente com manitol e hiperventilação até ser realizada a TC de crânio. O tratamento é feito por meio de craniotomia imediata, com esvazia mento do hematoma e hemostasia dos vasos sangrantes. A localização da craniotomia é guiada pela TC. A cirurgia é completada com o ancoramento da dura-máter ao crânio, para evitar formação de novo hematoma, e fechamento dos planos superficiais (Fig. 4.3). Fig. 4.3 - (A) Paciente de 7 anos em acidente de queda do muro, com perda de consciência no local. Notar o hematoma subgaleal temporal à direita. (B) Craniotomia frontotemporoparietal ampla e extenso hematoma extradural. (C) TC de crânio evidenciando o hematoma subgaleal e o hematoma extra dural descrito. Prognóstico Em média, a mortalidade dos pacientes com HED é de aproximada mente 15%. Boa parte dos pacientes com hematoma têm pior prognós tico devido ao tempo perdido, até que cheguem ao pronto-socorro e o diagnóstico de HED seja feito. Além do tempo até o início da drena gem do hematoma, outros fatores influenciam no prognóstico, como o grau de contusão cerebral associada, as condições gerais de aten dimento (terapia intensiva) e principalmente o grau de acometimento do tronco encefálico. A compressão do tecido cerebral pelo hematoma provoca cones de pressão, podendo levar à herniação de estruturas através das fendas do crânio. Tais herniações acabam por comprimir o tronco encefálico, acarretando lesão. 48 Manual de Iniciação em Neurocirurgia Os pacientes com hematomas normalmente são politraumatizados, apresentando outras lesões e fraturas. Pode haver acometimento pul monar, com inundação por aspiração de vômitos. Todos esses aspectos obrigam à utilização de unidades de terapia intensiva, no controle pós- -operatório desses pacientes. Esses cuidados pós-operatórios consti tuem o fator fundamental na melhoria do prognóstico. Hematomas subdurais Os hematomas subdurais (HSD) são coleções sanguíneas entre a dura- máter e o espaço aracnóide, no espaço subdural. Normalmente, são di vididos em hematomas subdurais agudos, quando os sintomas surgem até três dias a partir do traumatismo; subagudos, quando os sintomas aparecem do quarto até 21a dias após o traumatismo; e crônicos, quan do os sintomas se iniciam após três semanas. Didaticamente, eles serão divididos neste capítulo em hematomas subdurais agudos e crônicos. Hematoma subdural agudo Definição O hematoma subdural (HSD) agudo ocorre em aproximadamente 7,4% dos pacientes com história de TCE grave. A sobrevida funcional de pacientes é de 65%, para os que tiveram atendimento em menos de 4 horas do traumatismo e que chegaram ao serviço com Glasgow maior que 4. A mortalidade para os pacientes atendidos após 4 horas do traumatismo, aumenta para 90%. Fisiopatologia Os hematomas normalmente têm volumes bem variáveis, podendo ser laminares, com pequeno efeito compressivo sobre o parênquima cerebral, ou volumosos, a ponto de levarem à herniação de estruturas encefálicas e à compressão do tronco cerebral. Os HSDs são causados pelo mecanismo de aceleração e desaceleração. Após um impacto de alta velocidade, o crânio e o cérebro adquirem aceleração, porém diferentes. Com isso, ocorrem lesões vasculares da própria superfície cortical (contusão ou laceração cortical) e lacerações de veias que atravessam o espaço subdural e drenam até os seios ve nosos (lesões de veias em ponte). O sangramento venoso, por causa da carência de adesão, tende a dissecar e espalhar-se por todo o espaço subdural, ao longo da convexidade do cérebro, sem ultrapassar a foice cerebral. As maiores porções dos hematomas encontram-se nas regiões temporais e frontais, que são zonas do parênquima mais suscetíveis a lacerações cerebrais. Quadro clínico O quadro clínico de pacientes com HSD agudo é variável, pois esses hematomas normalmente estão associados a outras lesões cerebrais. Os achados clínicos dependem do tamanho, da rapidez do crescimen to e da gravidade da lesão do impacto para o cérebro. O hematoma apresenta-se como uma massa intracraniana evolutiva. Em geral, os pacientes chegam ao pronto-socorro em coma, com sinais neurológi cos de lesão focal e, inúmeras vezes, com posturas patológicas, como decorticação e descerebração, e distúrbios neurovegetativos, envol vendo padrões cardíacos e pulmonares. A recuperação da consciência raramente ocorre sem que o hematoma seja removido e a pressão in tracraniana controlada. Em pacientes com menor gravidade da lesão, a sequência de mudan ças do nível de consciência é determinada pela magnitude do impacto e pelo crescimento do hematoma. Diagnóstico Os pacientes com tal quadro clínico devem ser obrigatoriamente ex plorados. A radiografia pouco ajuda no diagnóstico, pois menos de 50% tem fratura associada. Assim como no HED, a TC é o primeiro exame de escolha na avaliação, pois é capaz de mostrar o hematoma e outras lesões associadas, como contusão e brain swelling. Na tomografia, o hematoma agudo aparece como uma lesão hiperatenuante normalmen te laminar, com forma côncavo-convexa, podendo também obliterar os sulcos (Fig. 4.4 e 4.5). O efeito de massa pode modificar a posição dos ventrículos, porém 15 a 20% dos hematomas subdurais são bilate rais e nestes casos os ventrículos podem estar comprimidos, mas não desviados da linha média. Em pacientes de faixa
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