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Milena Marques 145 Neuro - Traumatismo raquimedular Introdução: Existem três picos de mortes que acontecem nas doenças de etiologia traumática (morte trimodal) 1ª pico -> apneia por lesão encefálica grave ou TRM (trauma raquimedular) cervical alta, rotura de aorta ou grandes vasos... Prevenção: profilaxia dos traumas com educação e obediência civil. 2º pico → hematoma subdural, hematoma epidural, pneumotórax, hemotórax, rotura fígado ou baço, fratura pélvica... Prevenção: qualidade do atendimento no primeiro momento. 3º pico → sepse (infecção) Prevenção: qualidade de CADA atendimento. Focando no traumatismo raquimedular – objetivos: • Entender as fases da lesão raquimedular e as necessidades do paciente em cada faze • Como avaliar o paciente na fase hiperaguda e aguda • Compreender o impacto da lesão raquimedular na avaliação do paciente traumatizado • Como realizar condução inicial adequada Fases da lesão raquimedular: Fase hiperaguda: da cena do trauma até o primeiro atendimento. → nessa fase é necessário evitar lesão secundária Fase aguda: dentro do hospital → nessa fase é necessário diagnosticar a lesão Fase subaguda: dentro do hospital → reabilitação básica (mobilidade e esfíncteres) Fase crônica: reabilitação de todos os componentes. Atenção: Em todas as fases é necessário SEMPRE prevenir complicações!!! Complicações diminuem a linha de base para retorno das suas atividades basais antes do paciente. Epidemiologia: • EUA: 30-40 Casos novos 1.000.00/ano • Custo de 198.000 dólares ano • Grande Recife (2014) – 160 casos novos/ano • Custo estimado de 530.000 reais/ano Como avaliar o paciente na fase hiperaguda e aguda? Esse atendimento deve ser feito no intervalo de ouro • Avaliação inicial: Objetivo de identificar toda lesão que ameaça a vida e tratar essas lesões o Hipóxia → hipovolemia → lesão intracraniana o 5% dos pacientes com TRM iniciam ou PIORAM dos sintomas na emergência, devido a isso deve-se sempre fazer: 1) Imobilização da coluna – colocação do colar cervical, paciente é colocado em prancha longa e com imobilização da cabeça com saco de areia lateralmente Milena Marques 145 A imobilização da coluna é uma forma de evitar complicações na fase hiperaguda e evitar lesão secundária. 2) Vias aéreas 3) Ventilação 4) Circulação 5) Mini-exame neurológico • Avaliação secundária: todos os diagnósticos Atenção: lesão primária x lesão secundária Lesão primária = tudo que decorre do trauma cujo efeito engloba lesão eletrolítica, alteração metabólica e alteração morfológica. Prevenção – prevenindo que o trauma aconteça → usar cinto de segurança, direção defensiva, capacetes e proteção individual, desarmamento e paz social e programas de conscientização. Lesão secundária = tudo que acontece depois do trauma inicial, retrauma e microtrauma, isquemia, hipoxia, edema e lesões associados Prevenção – atendimento inicial de qualidade. – Suspeitar e proteger, evitar hipoxia, evitar hipotensão, identificar lesões associadas e identificar o trauma raquimedular. Diagnóstico do trauma raquimedular: 1) Avaliação inicial – na avaliação inicial podem ser identificados Efeitos sistêmicos do TRM o A e B – ventilação inadequada → pode indicar uma lesão cervical alta o C – Choque neurogênico → ▪ hipotensão associada a lesão da coluna cervical/torácica associado a uma Bradicardia. ▪ Lembrando que o choque neurogênico é o choque onde se tem a exceção do tratamento com drogas vasopressores/atropina + reposição de fluidos o Ausência de dor → Abolição da sensibilidade abaixo do nível da lesão ▪ Dificulta diagnóstico de lesão abdome ▪ Síndrome compartimental não percebida ▪ Propensão a formação de lesões por pressão (escaras de decúbito) Lembre-se sempre de tirar o paciente da prancha longa após 2h Diferença entre choque neurogênico e choque medular Choque medular = quando existe uma lesão da medula (separação da medula do encéfalo) todas as funções “param” • Componente motor -> paralisia, flacidez, arreflexia • Componente sensorial -> anestesia de todas as modalidades • Autonômico -> hipotensão, hiperemia cutânea e bradicardia. Milena Marques 145 Esse componente autonômico do choque medular, que não existem em todas as lesões medulares (somente quando se tem coluna cinzenta – corno lateral cinzento da medula) é que chamamos de choque neurogênico. 2 – Avaliação secundária: Momento de todos os diagnósticos • Em que condições suspeitar de trauma raquimedular? o Colisão em alta velocidade o Trauma multissistêmica o Déficits neurológicos o Dor/hipersensibilidade na coluna o PACIENTE INCONSCIENTE • História do trauma → avaliar a biomecânica do trauma • Miniexame neurológico • Exame do crânio • Exame da coluna → palpar a coluna o Procurar equimoses, hematomas, feridas, deformidades o Pontos dolorosos na coluna Atenção: DOR ou DEFICT NEUROLÓGICO OU ANORMALIDADE RADIOLÓGICA → INDICAÇÃO DE INSTABILIDADE DA COLUNA • Avaliação direcionada da sensibilidade e força segmentar MOTOR SENSITIVO MMSS 5 músculos- chaves 4 postos-chaves TRONCO - 4 pontos chaves MMII 5 músculos - chaves 4 pontos chaves Milena Marques 145 Exame motor: Importante realizar a graduação da força Nível motor: nível medular mais caudal com força pelo menos 3 de 5 bilateralmente. Exame sensitivo: testar sensibilidade tátil e dolorosa Nível sensitivo: nível medular mais caudal com sensibilidade normal bilateralmente Atenção: NIVEL MEDULAR (neurológico) → Somatório do nível sensitivo com o nível motor → nível medular mais caudal, com sensibilidade e motricidade útil bilateralmente → função: realizar o diagnóstico funcional e orientar a reabilitação Zona de preservação parcial → presença de atividade motora ou sensitiva subnormal abaixo do nível medular. Nível ósseo (esquelético) → local da lesão na coluna. Lembrando que nem sempre o nível da lesão na coluna vai ser compatível com o da medula. → investigação por imagem e tratamento cirúrgico. Então por exemplo: Um paciente com exame neurológico com nível neurológico em T9, a lesão possivelmente estará em T7 • Torácica alta → 1 nível • Torácica média → 2 níveis • Torácica baixa → 3 níveis • Lombar → 4 níveis (lembrando que a medula vai até L1 e abaixo disso tem somente cauda equina) Milena Marques 145 Apresentação da lesão raquimedular: → importante!!!! A lesão raquimedular vai determinar a síndrome que o paciente apresenta: Síndromes ou diagnóstico sindrômico: 1) Transversas → podem ser classificadas em completas e incompletas. Escala de deficiência ASIA – lesão completa x lesão incompleta • Lesão medular completa -> abolição de toda função abaixo do nível da lesão o Reversibilidade em apenas 3% o Melhora 1 nivel em cerca de 80% Atenção lesão medular completa é diferente de choque medular. Na lesão medular completa as atividades (motoras, sensoriais e autonômicas) param, já no choque medular essa parada é momentânea e elas voltam. A primeira a retornar são os reflexos, o que ajuda a diferenciar do choque medular da lesão completa. O reflexo que volta primeiro é o Reflexo bulbo- cavernoso (RBC) • Reflexo primitivo • Um dos primeiros a retornar após o choque medular • Estímulo: compressão da glande/clitoris ou tração rápida da Sonda vesical de demora • Resposta: contração anal A ausência da contração anal indica manutenção do choque medular Então, existem dois momentos da lesão medular • Choque medular – pode durar horas – 4 semanas, ou ser bem rápido. Eles podem serprolongados em casos de lesões completas ou infecção. o Paralisia flácida o Perda de todas as modalidades de sensação o Ausência da função autonômica o Abolição dos reflexos o Bexiga atonica RETORNO DO REFLEXO BULBO CAVERNOSO → ANALISAR SE É LESÃO COMPLETA OU INCOMPLETA • Completa x incompleta ➔ Completa: o Fase de liberação o Hipertonia – retrações tendíneas o Hiperatividade dos reflexos profundos o Automatismo medular o Bexiga espástica ➔ Incompleta -> preservação de qualquer função, mesma que apenas na área da sela. o Retorna gradual das funções medulares Milena Marques 145 2) Síndromes longitudinais: • Substância cinzenta • Substância branca • Combinada cinzento-branca 2.1 – Síndrome de Brown-Séquard • Causa: lesão penetrante da medula, tumores • Achados: o Ipsilateral - força e propriocepção o Contra – dor e temperatura. Relembrando a anatomia: Essa parte não teve na aula, mas é bom lembrar para entender O trato corticoespinhal → trato eferente (tronco para periferia) que é responsável pela motricidade voluntária. → lembrando que ele cruzou na decussação das pirâmides, então a medula direita é comandada pelo cérebro esquerdo. Trato espinotalâmico → é uma fibra aferente (leva os estímulos para o cérebro) da sensibilidade superficial (temperatura e dor) → cruzam assim que entram na medula pela comissura branca até chegar no tálamo do cérebro do lado oposto. Cordão posterior (fascículos grácil e cuneiforme) → são responsáveis pela propriocepção, sensibildidade vibratória e tato epicrítico (sensibilidade profunda) → não cruzam → mesmo lado. Agora vamos ao exemplo: hemissecção medular do lado direito • Paralisia espástica ipsilateral – No nosso exemplo, o trato corticoespinhal do lado direito foi lesionado, o que interrompe o fluxo dos estímulos motores oriundos do lado esquerdo do córtex que se destinavam à musculatura do lado direito, mas já cruzaram antes de entrar na medula. • Perda da sensibilidade superficial (dor e temperatura) → No caso do espinotalâmico, o trato do lado direito, que foi lesionado, carrega as informações sensitivas captadas no dimídio esquerdo do corpo. Desse modo, a hemissecção causa perda da sensibilidade térmica, dolorosa, CONTRALATERAIS à lesão. • Perda da propriocepção - fascículos grácil e cuneiforme não cruzam em seu trajeto pelo cordão posterior, a secção do lado direito prejudica a função do mesmo lado. Com isso concluímos que Brown-Séquard causa perda da sensibilidade protopática, vibratória e do tato epicrítico IPSILATERALMENTE à lesão. 2.2 – Síndrome da artéria espinhal anterior • Causas: trauma, insuficiência da artéria espinhal anterior • Achados o Força e sensibilidade térmico - dolorosas 2.3 – Síndrome medular central (Schneider) • Causas: hiperextensão + alteração degenerativa (mais comum no idoso) da coluna com insuficiência vascular central • Achados: o Desproporção dos sintomas motores entre MMSS e MMII Milena Marques 145 Avaliação armada da coluna: RX da coluna • A – Adequação (desde da base do crânio até o platô superior de T1), alinhamento o Posição do nadador (cervicotorácica) para conseguir ver T1. o Posição transoral (odontoide e junção craniovertebral) • B – Anormalidades ósseas (bone) e da base do crânio • C – Cartilagens, contornos • D – Discos • S – Partes moles (Soft tissue) Quando indicar investigação radiológica da coluna? • Paciente inconsciente • Trauma multissistemica • Déficits neurológicos • Dor/hipersensibilidade da coluna O que fazer no trauma de coluna? • Trate primeiro lesões com risco de vida • Imobilize: proteger = prioridade • Use avaliação clínica direcionada • Valorize a dor • Use exames complementares de modo inteligente Quando tirar o colar cervical? • Paciente consciente e orientado • Não intoxicado/alcoolizado • Sem outras lesões dolorosas • Sem dor cervical espontânea a palpação, a mobilização espontânea. Dúvida: mantenha o colar e obtenção RX. Quando envolver o especialista: Indicadores de instabilidade: dor/ defict neurológico / anormalidade radiológica.
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