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DOCÊNCIA EM SAÚDE DEFESA SANITÁRIA ANIMAL 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842d Defesa sanitária animal / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 298p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-236-7 1. Defesa sanitária. 2. Vigilância sanitária. 3. Prevenção e incidência de doenças - Animal. I. Portal Educação. II. Título. CDD 614 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 12 2 O AGRONEGÓCIO ................................................................................................................... 14 3 OS PRINCIPAIS PRODUTOS PECUÁRIOS NO AGRONEGÓCIO .......................................... 15 3.1 AVES ......................................................................................................................................... 15 3.2 BOVINOS .................................................................................................................................. 15 3.3 SUÍNOS ..................................................................................................................................... 16 3.4 O COMÉRCIO INTERNACIONAL ............................................................................................. 17 3.5 RESPONSABILIDADES DO PAÍS IMPORTADOR ................................................................... 19 3.6 RESPONSABILIDADES DO PAÍS EXPORTADOR ................................................................... 20 4 DEFINIÇÕES GERAIS DE IMPORTÂNCIA EM DEFESA SANITÁRIA .................................... 22 5 NOTIFICAÇÃO .......................................................................................................................... 28 5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ..................................................................................................... 30 5.1.1 Plano de contingência ............................................................................................................... 31 5.1.2 Sistema Nacional de Emergência Sanitária – SINAESA ........................................................... 31 5.1.3 Recepção da informação ........................................................................................................... 33 5.1.4 Registro da notificação .............................................................................................................. 34 5.1.5 Atenção da Notificação e Investigação ...................................................................................... 35 5.1.6 Vigilância Sanitária dos Animais Terrestres .............................................................................. 35 6 NOÇÕES DE EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................... 37 3 6.1 DEFINIÇÕES DE EPIDEMIA ..................................................................................................... 37 6.1.1 Fatores do Agente ..................................................................................................................... 39 6.1.2 Fatores dos Hospedeiros ........................................................................................................... 39 6.1.3 Fatores ambientais .................................................................................................................... 40 7 PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA ..................................... 41 7.1 FEBRE AFTOSA ....................................................................................................................... 41 7.1.1 Família Picornaviridae ............................................................................................................... 41 7.1.2 Etiologia ..................................................................................................................................... 43 7.1.3 Epidemiologia ............................................................................................................................ 45 7.1.4 Transmissão .............................................................................................................................. 46 7.1.5 Patogenia .................................................................................................................................. 47 7.1.6 Sinais clínicos e lesões .............................................................................................................. 47 7.1.7 Aspectos imunológicos .............................................................................................................. 49 7.1.8 Diagnóstico laboratorial ............................................................................................................. 49 7.1.9 Diagnóstico diferencial ............................................................................................................... 50 7.1.10 Prevenção e controle ................................................................................................................. 51 7.1.11 Imunização ................................................................................................................................ 52 8 PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO E CONTROLE DA FEBRE AFTOSA – PNEFA ................................................................................................................................................. 54 9 LEGISLAÇÃO ........................................................................................................................... 56 9.1 REINHOLD STEPHANES ......................................................................................................... 57 9.2 TENDIMENTO ÀS SUSPEITAS DE DOENÇA VESICULAR E AOS FOCOS DE FEBRE AFTOSA .............................................................................................................................................. 61 4 9.3 AÇÕES EM UM FOCO CONFIRMADO DE FEBRE AFTOSA .................................................. 64 9.4 ATUAÇÃO NA REGIÃO DO FOCO ........................................................................................... 65 10 MEDIDAS SANITÁRIAS NA ZONA AFETADA ........................................................................ 67 10.1 INTERDIÇÃO DE PROPRIEDADES ......................................................................................... 67 10.1.1 Interdição de todas as propriedades da área afetada ................................................................ 67 11 JUSTIFICATIVAS DAS RESTRIÇÕES NAS ZONAS DEFINIDAS ........................................... 68 11.1 SACRIFÍCIO DE ANIMAIS ........................................................................................................ 68 11.2 DESTINO DAS CARCAÇAS ..................................................................................................... 68 11.3 MEDIDAS EM CONCENTRAÇÃO DE ANIMAIS .......................................................................69 11.4 PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO ............................................................................................ 69 11.5 PLANO HEMISFÉRICO DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA (PHEFA) .......................... 70 11.6 PLANO DE AÇÃO PARA O PLANO HEMISFÉRICO DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA NAS AMÉRICAS (PHEFA 2005-2009) ................................................................................. 71 11.7 PROPÓSITO DO PROJETO ..................................................................................................... 72 11.8 ESTRATÉGIAS ......................................................................................................................... 72 11.8.1 Bases e Aspectos críticos .......................................................................................................... 72 11.8.2 Critérios Centrais ....................................................................................................................... 73 11.8.3 Caracterização Regional de Risco ............................................................................................ 73 11.8.4 Ação Conjunta ........................................................................................................................... 76 11.8.5 Complementaridade aos Programas Nacionais ........................................................................ 76 11.8.6 Valores ...................................................................................................................................... 77 5 11.8.7 Marco Normativo Internacional .................................................................................................. 78 11.8.8 Investigação e Desenvolvimento ............................................................................................... 78 12 OBJETIVOS ESPECÍFICOS OU COMPONENTES .................................................................. 79 12.1 INTERVENÇÃO EM ÁREAS DE PERSISTÊNCIA DA FEBRE AFTOSA E COM DEBILIDADES ESTRUTURAIS E OPERACIONAIS ........................................................................... 79 12.2 SISTEMA DE PREVENÇÃO DE ÁREAS LIVRES DE FEBRE AFTOSA ................................... 80 12.2.1 Objetivo ..................................................................................................................................... 80 12.2.2 Estratégia ................................................................................................................................. 81 12.2.3 Atividades .................................................................................................................................. 81 13 SANIDADE AVÍCOLA ............................................................................................................... 83 14 O VÍRUS DA INFLUENZA AVIÁRIA ......................................................................................... 84 14.1 PATOLOGIA .............................................................................................................................. 86 14.2 DISTRIBUIÇÃO DO VIA ............................................................................................................ 87 14.3 EPIDEMIOLOGIA DO VIA ......................................................................................................... 88 14.4 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 89 15 O VÍRUS DA DOENÇA DE NEWCASTLE (VDN) ..................................................................... 91 15.1 SITUAÇÃO DO VDN NA AVICULTURA INDUSTRIAL .............................................................. 91 15.2 A DOENÇA DE NEWCASTLE ................................................................................................... 92 15.3 PATOGENIA .............................................................................................................................. 92 15.4 DISTRIBUIÇÃO DO VDN .......................................................................................................... 93 15.5 EPIDEMIOLOGIA DO VDN ...................................................................................................... 94 15.6 DIAGNÓSTICO ETIOPATOGÊNICO DA DOENÇA DE NEWCASTLE ..................................... 95 6 15.7 SINTOMATOLOGIA CLÍNICA ................................................................................................... 95 15.8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ................................................................................................ 96 15.9 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ............................................................................................. 97 16 MICOPLASMOSE AVIÁRIA ..................................................................................................... 98 16.1 ETIOLOGIA ............................................................................................................................... 98 16.2 TRANSMISSÃO ........................................................................................................................ 99 16.3 PERÍODO DE INCUBAÇÃO ...................................................................................................... 99 16.4 SINAIS CLÍNICOS ..................................................................................................................... 99 16.5 LESÕES PÓS-MORTEM .......................................................................................................... 100 16.6 SALMONELOSE AVIÁRIA ....................................................................................................... 101 16.7 LEGISLAÇÃO APLICADA ........................................................................................................ 101 17 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAÇÃO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE - PNCEBT E ESTUDO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE NAS ESPÉCIES DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA ................................................................................... 122 17.1 SITUAÇÃO SANITÁRIA NACIONAL ........................................................................................ 122 17.2 BRUCELOSE BOVINA ............................................................................................................. 124 17.3 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 125 17.4 PATOLOGIA ............................................................................................................................. 127 17.5 ACHADOS CLÍNICOS .............................................................................................................. 128 17.6 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 129 17.7 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ................................................................................................ 130 17.8 TUBERCULOSE BOVINA ........................................................................................................ 130 17.9 ETIOLOGIA .............................................................................................................................. 130 7 17.10 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 131 17.11 PATOLOGIA ............................................................................................................................. 132 17.12 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 133 18 INSTRUÇÃO NORMATIVA DAS Nº06, DE 08 DE JANEIRO DE 2004 ................................... 135 18.1 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE EERRADICAÇÃO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIMAL – PNCEBT ................................................................................................ 138 18.2 DIVISÃO DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE – DBT ............................................................ 139 18.3 CERTIFICAÇÃO DE PROPRIEDADES LIVRES DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE .......... 152 18.4 CERTIFICAÇÃO DE PROPRIEDADES MONITORADAS PARA BRUCELOSE E TUBERCULOSE ................................................................................................................................ 153 18.5 CONTROLE DO TRÂNSITO DE REPRODUTORES E NORMAS SANITÁRIAS PARA PARTICIPAÇÃO EM EXPOSIÇÕES, FEIRAS, LEILÕES E OUTRAS AGLOMERAÇÕES DE ANIMAIS ............................................................................................................................................ 154 18.6 HABILITAÇÃO E CAPACITAÇÃO DE MÉDICOS VETERINÁRIOS ........................................ 154 18.7 PAPEL DO MÉDICO VETERINÁRIO DO SETOR PRIVADO ................................................... 155 18.7.1 Médico veterinário cadastrado .................................................................................................. 155 18.7.2 Médico veterinário habilitado .................................................................................................... 156 18.7.3 Papel do produtor ..................................................................................................................... 156 18.7.4 Diagnóstico e apoio laboratorial ............................................................................................... 158 18.7.5 Participação do serviço oficial .................................................................................................. 159 18.7.6 Educação sanitária ................................................................................................................... 159 18.7.7 Método de Elaboração da Proposta de Programa .................................................................... 160 19 PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE DOS EQUÍDEOS – PNSE ..................................... 161 8 20 ANEMIA INFECCIOSA EQUINA .............................................................................................. 163 20.1 DEFINIÇÃO .............................................................................................................................. 163 20.2 ETIOLOGIA .............................................................................................................................. 164 20.3 PROPRIEDADES FÍSICAS, QUÍMICAS E ANTIGÊNICAS ...................................................... 165 20.4 RESISTÊNCIA A AGENTES FÍSICOS E QUÍMICOS ............................................................... 165 20.5 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 166 20.6 TRANSMISSÃO ....................................................................................................................... 166 20.7 PATOGÊNESE ......................................................................................................................... 168 20.8 SINAIS CLÍNICOS .................................................................................................................... 169 20.9 RESPOSTA IMUNE.................................................................................................................. 170 20.10 TRATAMENTO ......................................................................................................................... 171 20.11 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 171 20.12 PREVENÇÃO E CONTROLE ................................................................................................... 173 20.13 VACINAS CONTRA A AIE ........................................................................................................ 175 21 MORMO ................................................................................................................................... 177 21.1 HISTÓRICO .............................................................................................................................. 177 21.2 SINTOMAS ............................................................................................................................... 178 21.3 TRANSMISSÃO ...................................................................................................................... 179 21.4 ESTADOS COM NOTIFICAÇÃO DE MORMO ........................................................................ 179 22 NORMAS PARA A PREVENÇÃO E O CONTROLE DA A.I.E. .............................................. 180 23 NORMAS PARA O CONTROLE E A ERRADICAÇÃO DO MORMO ...................................... 190 24 PROGRAMA NACIONAL DE SANIDADE SUÍDEA ................................................................ 197 9 24.1 PESTE SUÍNA CLÁSSICA ....................................................................................................... 197 24.1.1 IMPORTÂNCIA ......................................................................................................................... 197 24.2 ETIOLOGIA ............................................................................................................................. 198 24.3 ESPÉCIES AFETADAS ........................................................................................................... 198 24.4 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA ............................................................................................... 198 24.5 TRANSMISSÃO ....................................................................................................................... 199 24.6 PERÍODO DE INCUBAÇÃO ..................................................................................................... 200 24.7 SINAIS CLÍNICOS ................................................................................................................... 200 24.8 LESÕES PÓS-MORTEM .......................................................................................................... 202 24.9 MORBIDADE E MORTALIDADE .............................................................................................. 203 24.10 DIAGNÓSTICO CLÍNICO ........................................................................................................ 204 24.11 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ............................................................................................... 204 24.12 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ............................................................................................ 205 25 AS AÇÕES RECOMENDADAS EM CASO SUSPEITO DE PESTE SUÍNA CLÁSSICA ....... 206 25.1 NOTIFICAÇÃO DAS AUTORIDADES ..................................................................................... 206 25.1.1 Controle ................................................................................................................................... 206 26 PESTE SUÍNA AFRICANA ...................................................................................................... 207 27 DOENÇA DE AUJESZKY (PSEUDORAIVA)........................................................................... 211 27.1 CONTEÚDO ............................................................................................................................. 211 28 ANEXO - NORMAS PARA A ERRADICAÇÃO DA PESTE SUÍNA CLÁSSICA (PSC) ........... 213 29 ANEXO I - NORMAS PARA O CONTROLE E A ERRADICAÇÃO DA DOENÇA DE AUJESZKY (DA) EM SUÍDEOS ......................................................................................................... 221 10 30 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROSE OUTRAS ENCEFALOPATIAS ........................................................................................................................... 237 30.1 RAIVA DOS HERBÍVOROS ..................................................................................................... 237 30.2 ETIOLOGIA .............................................................................................................................. 238 30.3 DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA ............................................................................................... 239 30.4 PATOGENIA ............................................................................................................................. 239 30.4.1 FONTES DE INFECÇÃO .......................................................................................................... 239 30.4.2 CICLO NO ORGANISMO ......................................................................................................... 239 30.4.3 PRINCIPAIS LOCAIS DE REPLICAÇÃO ................................................................................. 240 30.5 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 240 30.6 ASPECTOS CLÍNICOS ............................................................................................................ 242 30.7 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 245 30.7.1 Clínico....................................................................................................................................... 245 30.7.2 Diagnóstico laboratorial ............................................................................................................ 245 30.7.3 Técnicas diagnósticas .............................................................................................................. 245 31 ENCEFALOPATIA ESPONGIFORME BOVINA ....................................................................... 248 31.1 IMPORTÂNCIA ......................................................................................................................... 249 31.2 TRANSMISSÃO ....................................................................................................................... 249 31.2.1 A causa da EEB e das outras EETs ......................................................................................... 250 31.3 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................ 251 31.3.1 Controle, profilaxia e tratamento ............................................................................................... 251 32 COLETA DO ENCÉFALO DE BOVINOS PARA EXAME LABORATORIAL ............................. 254 11 32.1 RECOMENDAÇÕES GERAIS .................................................................................................. 254 32.2 RETIRADA DO ENCÉFALO ..................................................................................................... 256 32.3 SELEÇÃO DAS AMOSTRAS A SEREM COLHIDAS ............................................................... 258 32.4 COLETA DE AMOSTRAS PARA A BACTERIOLOGIA E VIROLOGIA .................................... 258 32.5 COLETA E FIXAÇÃO DE MATERIAL PARA EXAME HISTOLÓGICO .................................... 260 33 PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DA RAIVA DOS HERBÍVOROS ............................ 261 33.1 RESPONSABILIDADES INSTITUCIONAIS ............................................................................. 261 33.2 SITUAÇÃO ATUAL DA RAIVA NOS HERBÍVOROS NO BRASIL ............................................ 262 33.3 NOTIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE RAIVA ........................................................................ 263 33.4 AS AMOSTRAS ENCAMINHADAS AO LABORATÓRIO DEVERÃO SEMPRE SER ACOMPANHADAS DO FORMULÁRIO ÚNICO DE REQUISIÇÃO DE EXAMES PARA SÍNDROME NEUROLÓGICA ............................................................................................................. 265 33.5 ESTRATÉGIA DO PROGRAMA ............................................................................................... 265 33.6 CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO ......................................................................... 265 33.7 VACINAÇÃO DOS HERBÍVOROS DOMÉSTICOS .................................................................. 269 33.8 CONTROLE E COMERCIALIZAÇÃO DAS VACINAS ANTIRRÁBICAS E PRODUTOS VAMPIRICIDAS .................................................................................................................................. 270 33.9 CONTROLE DOS TRANSMISSORES ..................................................................................... 271 33.10 CADASTRO E MONITORAMENTO DE ABRIGOS .................................................................. 274 33.11 OUTRAS MEDIDAS DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ...................................................... 274 33.12 ATUAÇÃO EM FOCOS ............................................................................................................ 275 33.13 COLHEITA DE MATERIAIS E EXAMES DE LABORATÓRIO .................................................. 277 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 289 12 1 INTRODUÇÃO O Brasil nos últimos anos passou a figurar como um país de grande importância no comércio internacional de produtos de origem animal e, com isso teve que se adequar as questões sanitárias mundiais. A sanidade animal no âmbito mundial é coordenada pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), sediada em Paris na França. Cabe a OIE definir os preceitos sanitários que os países que pretendem figurar no comércio internacional de animais, seus produtos e subprodutos devem seguir. No âmbito nacional a defesa sanitária animal fica a cargo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que pode, e normalmente o faz, delegar a competência da defesa sanitária nos Estados, as respectivas secretarias estaduais de agricultura. Podemos considerar que até meados da década de 90 o Brasil tinha pouca ou nenhuma representatividade em termos quantitativos dos produtos de origem animal que eram comercializados no mundo. A partir daí o MAPA iniciou um processo de modernização do sistema de defesa sanitária animal, os estados aumentaram o número de fiscais e o governo iniciou um plano de ação para colocar o nosso produto em outros mercados. A carne bovina brasileira, um produto de qualidade diferenciada, seja pela genética de nossos animais, seja pela forma de criação deles, unidas a um sistema de criação-produção que comparado com os países concorrentes de nossos produtos é um dos mais baratos e confiáveis do mundo, colocou o Brasil no começo do século XXI entre os maiores exportadores de carne bovina. Não menos importante e em franco crescimento os setores avícola e suinícola também passaram a figurar dentre os cinco maiores exportadores do mundo. Decorrente de todos os fatores expostos, a defesa sanitária se viu obrigada a dar um salto em qualidade e é sobre esta defesa e os fatores que influenciam diretamente nela que vamos discutir neste curso. Segundo a OIE, a vigilância em saúde animal representa a soma de todos os recursos, estruturas e procedimentos, organizados com o objetivo de demonstrar a ausência da doença/infecção ou determinar sua emergência e sua distribuição na população animal. Assim, 13 representa um componente essencial para detectar doenças; monitorar séries históricas, estabelecer programas de controle ou erradicação de doenças endêmicas ou exóticas; apoiar as solicitações para obtenção de certificados nacionais e internacionais de livre dedoença ou infecção; fornecer informações para análise de risco; e apoiar as medidas sanitárias adotadas nos programas zoossanitários. No caso específico da febre aftosa, deve contribuir para o desenvolvimento da capacidade de notificação rápida pelo serviço veterinário oficial e reação imediata de todas as instâncias do sistema nacional de atenção à sanidade agropecuária quando da ocorrência de emergência de doença vesicular em qualquer ponto do território brasileiro. Diante do conceito acima, pode-se afirmar que no Brasil existe um sistema de vigilância em saúde animal. Seu estabelecimento ocorreu com maior ênfase a partir da década de 60, com objetivo principal de combater e erradicar a febre aftosa. Desde então, o sistema vem se consolidando a cada ano, incluindo atividades como, por exemplo: ampliação e fortalecimento das estruturas do serviço veterinário oficial; aplicação de estratégias de educação sanitária e comunicação social, inspeção e vistoria a propriedades rurais; controle e fiscalização das campanhas de vacinação; controle e fiscalização do trânsito de animais; atendimentos a suspeitas de doenças dos animais; e realização de inquéritos e monitoramentos soroepidemiológicos, essa evolução foi iniciada visando tornar o Brasil livre da febre aftosa, mas hoje o sistema funciona para as outras doenças também como a doença de Newcastle, a peste suína, o mormo e outras doenças de notificação compulsória. 14 2 O AGRONEGÓCIO O agronegócio brasileiro se firma como um grande fornecedor de alimentos e agroenergia. Em primeiro lugar porque os estoques mundiais de alimentos estão diminuindo em ritmo mais acelerado do que a produção; e em segundo, o fato de o Brasil ser um dos poucos países com tecnologia, terra e recursos naturais para atender essa grande demanda. A grande extensão territorial do País, em especial no sentido norte-sul, aliada a um clima diversificado, chuvas regulares e bem distribuídas, energia solar abundante, quase 13% de toda a água doce disponível no planeta e 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade fazem dele um país com vocação natural para a agropecuária. O desempenho que o agronegócio brasileiro tem apresentado é resultado de uma revolução que a agricultura brasileira vem produzindo nos últimos anos: uma revolução silenciosa, feita com a incorporação de tecnologias e recursos humanos altamente capacitados, amparados por uma pesquisa de ponta. Assim, o País pode produzir com qualidade e cada vez mais, com maior produtividade, reduzindo-se a necessidade de novas expansões de área: desenvolvimento aliado à conservação dos recursos naturais. Isso é produção com respeito ao meio ambiente. Os números impressionam: nos últimos quinze anos, a área plantada com grãos aumentou 24%, enquanto a produção aumentou 114%, um crescimento de 73% de produtividade. A consequência deste sucesso, bem como grande parte de sua explicação, está na participação cada vez mais importante que o agronegócio brasileiro vem conquistando no cenário mundial. O País já é um dos maiores atores do mercado internacional e uma das principais fontes de fornecimento de alimentos para o mundo. Projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que o Brasil deve tornar-se, até 2015, o maior produtor agrícola do mundo. 15 3 OS PRINCIPAIS PRODUTOS PECUÁRIOS NO AGRONEGÓCIO 3.1 AVES Desde 1994 quando o MAPA instaurou o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) que a avicultura nacional deu um salto de qualidade, juntando o tripé de maior importância em produção pecuária que é qualidade, sanidade e preço passamos a competir de forma definitiva no comércio avícola. O Brasil foi o terceiro maior produtor mundial de carne de frango em 2007. Nesse ano, somente os Estados Unidos e a China produziram mais que o Brasil. Essa produção quadruplicou desde 1990, passando de 2,4 milhões de toneladas em 1990 até atingir 9,7 milhões de toneladas em 2007. A parceria entre indústria e avicultores permite excelência técnica em todas as etapas da cadeia produtiva, resultando em reduzidos custos de transação e na qualidade, que atende às mais exigentes demandas dos consumidores de todo o mundo. O Governo, por meio do Sistema de Inspeção Federal (SIF) e do PNSA, assegura o cumprimento das normas de sanidade e a vigilância constante quanto a epidemias e condições sanitárias, tornando possível o controle e a erradicação das principais doenças comerciais em aves. As principais regiões produtoras são os estados de Santa Catarina e Paraná, mas o Centro-Oeste vem apresentando grande expansão na sua avicultura também. 3.2 BOVINOS O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com mais de 195 milhões de cabeças. Em 2004, assumiu a liderança nas exportações mundiais, com volume exportado de 16 1,2 milhões de toneladas e faturamento de US$ 2,5 bilhões. Em 2005, o volume exportado foi de 1,4 milhões de toneladas, gerando uma receita de US$ 3 bilhões. A produção é de 8,5 milhões de toneladas (em equivalente carcaça), garantindo ao País a posição de 2º produtor mundial. Entretanto os focos de Febre Aftosa ocorridos em Mato Grosso do Sul no final de 2005 frearam as exportações nacionais, imposições sanitárias de todo mundo foram impostas ao Brasil e pouco a pouco estamos retomando esse mercado. O boi verde, isto é, o gado criado fundamentalmente com alimentação a pasto é um diferencial na produção brasileira. O gado criado a pasto é mais barato e mais seguro sanitariamente falando, uma vez que a Encefalopatia Espongiforme Bovina (Mal da vaca louca) é transmitida aos animais por meio da alimentação com rações contendo resíduos de proteína de ruminantes na formulação. O clima tropical e a água em abundância permitem que o gado brasileiro seja criado a pasto, alimentado com capim de forma natural. Os elevados investimentos em genética propiciaram um grande incremento da produtividade, permitindo o aumento da produção de carne com menor utilização de área. Para garantir a qualidade e a sanidade do rebanho, o Governo implantou o Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov), que permite garantir a origem dos produtos de origem bovina e bubalina. 3.3 SUÍNOS A produção mundial de carne suína, de acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), teve um crescimento estimado de 2% em 2008, totalizando 98,5 milhões de toneladas, depois de declínio de 3% em 2007, devido à ocorrência de enfermidade que levou ao sacrifício de quase 1 milhão de animais na China, o maior produtor mundial. Em 2006 e 2007, o declínio da produção chinesa interrompeu um crescimento contínuo desde 1997, em que a produção mundial cresceu a uma taxa média anual de 3,0%. Considerando o período entre 1997 e 2007, a taxa anual foi 2%. A China é o 17 principal produtor de carne suína com 46% do total mundial, seguida da União Europeia, Estados Unidos e Brasil, com 23% 14% e 3%, respectivamente. Partindo de um nível de produção menor, a produção brasileira foi a que apresentou maior taxa de crescimento média anual, 6,6% ao ano entre 1990 e 2007 e de 3% entre 1997 e 2007. A União Europeia, por outro lado, apresentou a menor taxa de crescimento entre os principais produtores, cerca de 1% ao ano. Tanto China, quanto Estados Unidos apresentaram taxas de incremento em torno da média de 2% ao ano. 3.4 O COMÉRCIO INTERNACIONAL Por que queremos colocar nossos produtos no mercado internacional? Temos condições de fazer isso? O que precisamos fazer para figurar de forma importante nesse comércio? Se conseguirmos responder essas perguntas e melhor ainda, se conseguirmos nos adequar a elas significa dizer que o Brasil estáapto a brigar “lá fora” para colocar nossos produtos nas prateleiras de norte americanos, franceses, russos, japoneses, etc. Mas por que realmente queremos vender nossos agroprodutos para eles? A resposta é simples, eles pagam muito melhor, às vezes, várias vezes mais que o comércio interno. Então a matemática é simples: “vou vender para outros países, pois vou ganhar muito mais (pode pensar um pecuarista)”. A grande questão é estar adequado sanitariamente para atender esses mercados. O comércio internacional de animais e produtos de origem animal depende de uma combinação de fatores que devem ser levados em consideração para garantir o livre comércio, sem que isso implique em riscos inaceitáveis à saúde humana e animal. Devido às possíveis variações nas situações envolvendo a saúde animal, diversas opções são propostas pelo Código Sanitário. Antes de se determinar os requerimentos para o comércio, devem ser 18 consideradas as condições de saúde animal no país exportador, no país ou países de trânsito e no país importador. As autoridades veterinárias dos países membros devem basear seus requerimentos de importação nos padrões, diretrizes e recomendações da OIE, a fim de otimizar a harmonização dos aspectos sanitários do comércio internacional. Estes requerimentos devem incluir os modelos de certificado aprovados pela OIE, encontrados na Parte 4 do Código Sanitário. Os requerimentos de certificação devem ser exatos e concisos, e devem explicitar as necessidades do país importador. Para que isso ocorra, é útil e necessário o encontro das autoridades veterinárias dos países importador e exportador. Isso irá permitir a determinação de requerimentos exatos, de modo que o veterinário certificador possa se necessário, ter em mãos uma nota de instruções que explique o entendimento entre as autoridades veterinárias envolvidas. Se Membros de uma autoridade veterinária desejarem visitar outro país para fins de interesse profissional da autoridade veterinária do primeiro, a autoridade veterinária do país a ser visitado deverá ser informada. As exportações têm sido muito importantes para o desempenho da economia brasileira e têm alcançado marcas inéditas. As exportações em 2005 alcançaram uma cifra de quase US$ 118,3 bilhões, com saldo positivo de US$ 44,7 bilhões. Fatores de grande influência no bom desempenho das exportações brasileiras foram a abertura de novos mercados, principalmente na Ásia, no Oriente Médio, na Europa Oriental e África; a recuperação de mercados importantes como os Estados Unidos, Argentina e Alemanha; e a diversificação de produtos. Somente o cuidado com os rumos da economia não bastaria para que o Brasil aumentasse sua importância no comércio internacional. A formulação de políticas públicas que lograram agilizar e desburocratizar os trâmites da exportação foram cruciais para o desempenho exportador: a informatização dos despachos aduaneiros e a instituição de regimes especiais de exportação que barateiam os custos para o exportador e também para o importador que adquire insumos a serem utilizados na produção. A promoção comercial também teve sua importância, na montagem de rodadas de negócios, na participação em feiras internacionais e na conscientização do setor empresarial por meio da difusão da cultura exportadora. Mesmo com esse progresso, o Brasil tem ainda participação tímida no comércio internacional, de pouco mais de 1%, e busca, por meio dos esforços integrados da iniciativa privada e do setor público, aumentar essa marca. 19 3.5 RESPONSABILIDADES DO PAÍS IMPORTADOR 1. Os requerimentos de importação incluídos no certificado veterinário internacional devem garantir que os produtos introduzidos no país importador estejam de acordo com o nível nacional de proteção que foi determinado para a saúde humana e animal. Os países importadores devem restringir seus requerimentos àqueles justificáveis para tal nível de proteção. 2. O certificado veterinário internacional não deve incluir requerimentos para a exclusão de patógenos ou doenças animais que estejam presentes no território do país importador e que não sejam sujeitos a qualquer programa oficial de controle. Os requerimentos que se aplicam a patógenos ou doenças sujeitas a programas oficiais de controle em um país ou zona não devem dar aos produtos a serem importados um nível de proteção mais alto do que aquele dado pelas medidas aplicadas no país ou zona aos mesmos patógenos e doenças. 3. O certificado veterinário internacional não deve incluir requerimentos para agentes ou doenças que não sejam listados pela OIE, a não ser que o país importador tenha identificado tal agente como capaz de apresentar um risco significativo, depois da condução, de maneira científica, da análise de risco para os produtos importados. 4. A transmissão, pela autoridade veterinária, de certificados ou da comunicação dos requerimentos para importação a outras pessoas além da autoridade veterinária do outro país requer que também sejam enviadas cópias destes documentos a esta autoridade veterinária. Esse importante procedimento evita atrasos e dificuldades que podem surgir entre a autoridade veterinária e as partes envolvidas na transação comercial, quando a autenticidade dos certificados ou licenças não puder ser verificada. Essa informação é normalmente responsabilidade das autoridades veterinárias. Entretanto, ela pode ser gerada 20 5. por veterinários do setor privado no local de origem dos animais, quando este procedimento for adequadamente aprovado e validado pela autoridade veterinária. 3.6 RESPONSABILIDADES DO PAÍS EXPORTADOR 1) Um país exportador deve estar preparado para fornecer as seguintes informações aos países importadores, quando requerido: a) Informações sobre a situação de saúde animal e sobre os sistemas de informação em saúde animal para determinar se aquele país está livre ou tem zonas livres das doenças listadas pela OIE, incluindo regulamentos e procedimentos estabelecidos para manter a condição de zona livre; b) Informações imediatas e regulares sobre a ocorrência de doenças transmissíveis; c) Detalhes sobre a capacidade do país em aplicar medidas de controle e prevenir doenças listadas relevantes; d) Informação sobre a estrutura dos Serviços Veterinários e sua autoridade; e) Informações técnicas, particularmente sobre análises biológicas e vacinas aplicadas em todo ou em parte do território nacional; 2) As Autoridades Veterinárias dos países exportadores devem: a) apresentar procedimentos oficiais para autorizar o trabalho de veterinários certificadores, definindo suas funções e deveres assim como as condições envolvendo a possível suspensão ou terminação destas funções; b) Garantir que sejam dados instruções e treinamento adequado aos veterinários certificadores; 21 c) Monitorar as atividades dos veterinários certificadores a fim de verificar a sua integridade e imparcialidade. 3) A chefia dos Serviços Veterinários do país exportador é, em última instância, responsável pela certificação veterinária para o comércio internacional. Responsabilidades no caso de um incidente ocorrer após a importação O comércio internacional envolve uma responsabilidade ética contínua. Desse modo, se, após a exportação, dentro dos períodos de incubação conhecidos para as várias doenças, a Autoridade Veterinária verificar o aparecimento ou reaparecimento de uma doença que tenha sido especificamente incluída no certificado veterinário internacional, esta Autoridade tem a obrigação de notificar o país importador, de modo que os animais importados sejam inspecionados e submetidos a exames, e sejam tomadas medidas adequadas para limitar a disseminação da doença, para o caso de a doença ter sido inadvertidamente introduzida. Da mesma forma, se após a importaçãouma doença aparecer nos animais importados dentro de um período de tempo consistente com o período de incubação da doença, a Autoridade Veterinária do país exportador deve ser informada de modo que a doença possa ser investigada, uma vez que esta pode ser a primeira informação disponível sobre a ocorrência da doença em um rebanho anteriormente livre. A Autoridade Veterinária do país importador deve ser informada do resultado da investigação, já que a fonte de infecção pode não ser o país exportador. 22 4 DEFINIÇÕES GERAIS DE IMPORTÂNCIA EM DEFESA SANITÁRIA Para a aplicação do Código Terrestre utilizado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE): O objetivo desse item é, principalmente, apresentar e discutir alguns termos utilizados tradicionalmente pelos profissionais do serviço veterinário oficial na rotina de suas atividades de vigilância veterinária. A OIE define vigilância epidemiológica como a investigação contínua de uma população para a detecção da ocorrência da doença/infecção com propósitos de prevenção e controle, e envolve o exame (clínico ou laboratorial) de parte dessa população. Nos serviços veterinários sul-americanos, foi comum o uso da expressão “sistemas de atenção e vigilância sanitária animal”, pressupondo a existência de dois sistemas distintos: um de atenção e outro de vigilância. No caso do Brasil, essa terminologia está presente principalmente nos documentos técnicos e normativos produzidos até final da década de 90, com destaque para o sistema de classificação das unidades da Federação segundo os níveis de três riscos para febre aftosa. Esses dois sistemas, na realidade, são complementares entre si, e muitas vezes se confundem, sendo que só se concebe a existência de um bom sistema de vigilância sanitária ou epidemiológica a partir da existência de um estruturado sistema de atenção veterinária. De forma didática e resumida, pode‐se dizer que o sistema de atenção veterinária representava a estrutura necessária para a prática da vigilância epidemiológica. Assim, o termo “atenção” englobava as informações referentes aos recursos físicos (escritórios, veículos, meios de comunicação, material de consumo, laboratório etc.), humanos (quantidade, qualidade e distribuição do pessoal) e aqueles associados aos campos político e jurídico (linha de comando, vontade política e instrumentos legais), enquanto o termo “vigilância sanitária” envolvia as informações relacionadas às operações como, por exemplo, número de visitas a propriedades rurais, número de animais inspecionados, resultados dos estudos soroepidemiológicos, entre outros. 23 No presente texto, o termo vigilância veterinária será empregado para significar as atividades de vigilância epidemiológica no campo da saúde animal, incluindo aqui os aspectos estruturais ou de atenção. A estrutura de vigilância veterinária envolve, em cada instância do sistema de atenção à sanidade agropecuária nos níveis federal e estadual, a coordenação da informação em saúde animal, dos laboratórios, da padronização dos procedimentos, dos recursos humanos, materiais e financeiros. O sistema de vigilância veterinária também é responsável pelo estabelecimento da estrutura legal e administrativa apropriada, pela aplicação de todos os recursos necessários para melhorar o desempenho da eficiência dos controles, incluindo pessoal, equipamentos, veículos e recursos financeiros. Também é responsável pelo treinamento do pessoal e por desenvolver mecanismo para envolver os serviços de outros setores governamentais, privados e os produtores no sistema de vigilância veterinária. Com base no exposto e independentemente da terminologia empregada, há, de certa forma, um consenso técnico em considerar como sistema de vigilância veterinária o conjunto de elementos e atividades empregado com quatro objetivos: (1) impedir o ingresso de fontes de infecção e de contaminação, (2) detectar essas fontes quando elas se estabelecerem em seu território, (3) notificar sua localização rapidamente às autoridades veterinárias e, por último, (4) coordenar a reação imediata para a total erradicação dessa ameaça aos rebanhos ou para o controle dos focos e o restabelecimento da condição livre das zonas ou compartimentos afetados, dependendo da espécie e do sistema de produção envolvido. Alguns autores classificam as ações da vigilância em primária, secundária e terciária, enquanto outros, de primeira, segunda e terceira barreiras. Essa classificação, apesar de didática, apresenta dificuldades e limitações, uma vez que uma mesma ação, dependendo do seu objetivo, pode ser enquadrada em diferentes categorias. Por exemplo, a vacinação contra a febre aftosa pode ser considerada do tipo terciária quando empregada para contenção de um foco ou do tipo primária quando realizada com mesmo objetivo, mas no país vizinho ou em uma 24 zona infectada dentro de um país com zona livre da doença. Ainda em relação à vacinação, seu emprego durante as campanhas de massa é de enquadramento discutível entre as três categorias, uma vez que não tem a intenção de impedir o ingresso de fontes de infecção, mas de cortar o ciclo de transmissão e diminuir a velocidade de disseminação da doença quando a barreira primária for violada. Outro exemplo é o controle de trânsito de animais, podendo ser usado como barreira terciária para atendimento a uma emergência sanitária, ou como barreira primária nas fronteiras com zonas de diferentes condições sanitárias. Outra classificação muito empregada é a definição das ações executadas como medidas passivas ou ativas. O termo vigilância passiva tem sido empregado, geralmente, para caracterizar as atividades rotineiras envolvendo o atendimento às suspeitas de ocorrência de doenças ou a descrição da população animal de uma região. Entretanto, pode representar qualquer uso de informação obtida sem a finalidade específica de vigilância; isto é, são situações em que não há programação ou planejamento de uma ação específica em busca de comprovar a ocorrência ou ausência de um determinado evento sanitário. A vigilância ativa, segundo a FAO, envolve, por sua vez, esforços intensivos para detectar a presença ou comprovar a ausência da doença ou infecção. Esse termo é empregado, geralmente, para o levantamento de dados produzidos especialmente para investigação epidemiológica dos rebanhos, incluindo a busca deliberada e detalhada de evidências da doença na população animal com objetivo de confirmar sua presença ou ausência. Exemplo claro desse tipo de vigilância são os monitoramentos e inquéritos soroepidemiológicos. Segundo a OIE, os componentes de um programa de vigilância ativa, bem-sucedido, devem considerar, pelo menos: a) integração entre as atividades de campo e os serviços dos laboratórios; b) visitas regulares às propriedades para entrevistar produtores e trabalhadores rurais, repassar informações técnicas, realizar exames clínicos, realizar necropsias e colher amostras 25 para exame laboratorial, inclusive de soro sanguíneo. A visita deve ser sempre justificada pelo plano de vigilância ativa ou qualquer outra estimativa epidemiológica que tenha identificado áreas críticas ou propriedades de maior risco; c) utilização de indicadores de produção, estudos socioeconômicos e culturais que tenham alguma relação com o sistema de produção pecuária relacionado às espécies susceptíveis à febre aftosa; e d) realização de inquéritos sorológicos para avaliar a presença de circulação do vírus da febre aftosa. Segundo as estratégias empregadas, a vigilância veterinária da febre aftosa pode, ainda, ser agrupada nas seguintes categorias: vigilância clínica, vigilância sorológica e vigilância virológica. A vigilância clínica, como o próprio nome indica, tem o objetivo de detectar sinais clínicos de doençavesicular mediante a inspeção dos animais susceptíveis. A vigilância sorológica, por sua vez, tem o objetivo de detectar anticorpos específicos contra o vírus da febre aftosa. Essas duas categorias devem, na verdade, ser empregadas de forma associada. Os exames laboratoriais complementares devem ser usados para diferenciar os casos de doenças vesiculares detectadas clinicamente assim como a vigilância clínica deve ser usada para complementar a vigilância sorológica. No caso da vigilância sorológica, a OIE considera que uma reação positiva à prova de detecção de anticorpos contra o vírus da febre aftosa pode ter quatro causas: infecção, vacinação, presença de anticorpos maternos transmitidos de matriz imune que pode persistir, em média, até seis meses de idade, ou reações cruzadas (heterofilia). Isso exige que a análise dos resultados laboratoriais seja realizada de forma associada ao contexto clínico, epidemiológico e agropecuário da população investigada, e, dentro das possibilidades e necessidades técnicas, seja confirmada por meio da vigilância virológica. Essa última é usada, conforme o Manual de Provas de Diagnóstico e Vacinas para os Animais Terrestres da OIE, para isolar e identificar o vírus da febre aftosa em populações de 26 risco, para confirmar casos clínicos de doença vesicular ou casos de animais soropositivos. Deve‐se considerar, entretanto, que os testes virológicos, por serem altamente específicos, são suficientes para confirmar um foco de febre aftosa. Por outro lado, por terem baixa sensibilidade, não são suficientes para descartar a ocorrência de febre aftosa a partir de casos confirmados de doença vesicular. A vigilância clínica é a menos específica enquanto a vigilância virológica é a menos sensível. A vigilância sorológica tem um desempenho intermediário porque ela tem mais especificidade que a vigilância clínica e mais sensibilidade que a vigilância virológica, o que a torna uma ferramenta de vigilância bastante versátil. Zonas onde tem sido realizada vacinação em massa por vários anos consecutivos precisam combinar as três formas de vigilância para minimizar os efeitos da hiper‐imunização na vigilância sorológica. Independente da denominação empregada, a vigilância epidemiológica aplicada à saúde animal, ou vigilância veterinária, é constituída pelas seguintes atividades: (1) obtenção e registro de informações epidemiológicas relevantes; (2) consolidação e análise dos dados recolhidos; (3) decisão e estabelecimento dos procedimentos preventivos; (4) execução das operações de emergência e (5) notificação e divulgação de comunicados com informações sobre a doença e sobre os resultados das medidas aplicadas em todos os meios disponíveis para atingir grande parte dos envolvidos pelo sistema de vigilância (retroalimentação). Essas atividades devem ser motivo de constante avaliação, como forma de classificar a qualidade do serviço de vigilância veterinária. 27 Entre as características de um sistema de vigilância veterinária destacam‐se os parâmetros de sensibilidade, especificidade e oportunidade que, segundo o PANAFTOSA, são entendidos como: • sensibilidade: capacidade de detecção de suspeitas de doenças com sinais clínicos ou evidências epidemiológicas compartilhados por um grupo de doenças, no caso da febre aftosa, compartilhados pelas doenças vesiculares. O conjunto de atendimentos pelo serviço veterinário oficial de notificações apresentadas pela comunidade representa um dos principais indicadores para avaliação desse parâmetro de classificação. A ausência ou o reduzido número de notificações em um período longo de tempo gera dúvidas quanto à qualidade, confiabilidade e sensibilidade do sistema de vigilância; • especificidade: capacidade do sistema em dar um diagnóstico definitivo. É muito importante para a vigilância veterinária da febre aftosa, considerando os objetivos do PNEFA para as zonas onde não há evidências de circulação do vírus, manter um estrito monitoramento das ocorrências de casos correlatos por meio do acompanhamento da incidência de todas as doenças vesiculares; e • oportunidade: definida como a capacidade de apresentar dados e informações a tempo de garantir a rapidez de aplicação das ações sanitárias como resposta à situação epidemiológica identificada. No item seguinte serão abordadas as atividades referentes à obtenção e ao registro das informações básicas para o sistema de vigilância veterinária das doenças vesiculares. Trata‐se do conjunto mínimo de informações que os serviços veterinários oficiais deverão recolher, registrar, consolidar e comunicar periodicamente, de acordo com as regras de gerenciamento do PNEFA. 28 5 NOTIFICAÇÕES Organização do sistema de informação em defesa sanitária • A necessidade de lutar contra as doenças animais no mundo inteiro fez com que fosse criado o Escritório Internacional de Epizootias (OIE), graças ao Acordo Internacional, assinado em 25 de janeiro de 1924. Em maio de 2003 tornou-se o Escritório se converteu na Organização Mundial de Saúde Animal, mas manteve a sua histórica sigla OIE. • A Organização Mundial do Comércio (OMC) tem reconhecido as normas ditadas pela OIE, que em 2008 contava com 172 países e territórios membros. A OIE mantém relações permanentes com outras 36 organizações internacionais e regionais, e dispõe de escritórios regionais e sub-regionais em todos os continentes. • A defesa sanitária animal, no território brasileiro, é de competência do MAPA. • O MAPA pode delegar suas competências às unidades da federação, desde que a unidade disponha de estrutura organizacional e técnica para exercer as atividades. 29 30 FONTE: MAPA, 2009 5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS Dentre os especialistas em defesa sanitária animal, uma certeza é unânime. Um serviço de defesa sanitária só é bem executado quando a informação flui de maneira rápida e objetiva. Nesse ramo de atividade o tempo faz o diferencial, talvez poucas horas que se demore a mais para as autoridades sanitárias tomarem decisões importantes em relação a um possível foco de uma doença de rápida difusão como a febre aftosa, pode ser desastrosa. Deverá existir nos países um sistema de prevenção e emergência sanitária que permita concentrar os esforços e disponha de recursos humanos, materiais e financeiros necessários, a fim de executar as atividades requeridas na prevenção e no rápido controle e erradicação de focos de febre aftosa 31 em nível nacional, prevendo os riscos de sua difusão no menor tempo possível, e coordenando as operações em níveis, regionais e internacionais. Um programa de vigilância para enfermidades do Código Terrestre, de acordo com a diretiva da OIE, deve incluir um sistema de alerta precoce que abarque a produção, a comercialização e a cadeia de transformação, para informar sobre casos suspeitos de uma determinada enfermidade que deverão ser investigados imediatamente e, se não se podem esclarecer as dúvidas por meio de pesquisas epidemiológicas e clínicas, serão tomadas as ações que se descrevem. 5.1.1 Plano de contingência Como parte de um plano de contingência, o Serviço Oficial deve contar com os nomes completos de cada um dos dirigentes que o integram, titulares e substitutos, com seus cargos, endereço oficial (e particular, se necessário), telefone (s), fax, correio eletrônico, telefone celular ou pessoal e as funções a serem desenvolvidas no Nível Central. Essa lista corresponderia aos funcionários oficiais por cada Direção ou Departamento do Ministério da Agricultura integrante e dos Ministérios de apoio, como o da Defesa, o Ministério da Fazenda, da Saúde, do Meio Ambiente, além das secretarias estaduais correspondentes e dos funcionários privadoscom identificação da representação, das associações de produtores, da sociedade ou do Colégio de Veterinários. 5.1.2 Sistema Nacional de Emergência Sanitária – SINAESA 32 É a organização técnica do tipo administrativa e operacional que o Executivo conformou com apoio da Administração Veterinária, integrando todos os ministérios, órgãos e instituições relacionadas ao setor de saúde animal, que devem atuar com poderes delegados especiais e com a capacidade de resposta rápida expressada em horas e eficaz para eliminar uma enfermidade exótica, satisfazendo assim, o comércio e as normativas internacionais e simultaneamente contribuindo para a solução de ressarcimento econômico pelos gastos e perdas que as operações originem. Deve ser criado por regulamento específico e contar com fontes próprias de recursos de fácil mobilização. Assim como para o nível nacional, cada unidade do serviço local ou regional terá os vínculos estabelecidos, coordenados e dispostos pelas autoridades nacionais, evitando que, no momento do desenvolvimento das operações de emergência, sejam gerados atrasos organizacionais. As atividades estarão coordenadas de forma permanente entre os diferentes níveis (central, regional e local), além do contato com as autoridades de governo, por intermédio do Comitê de Crise ou Emergência. Devem-se preparar alternativas estratégicas a serem consideradas, antes de decisões técnicas-políticas, que serão revisadas com intervalos regulares. Em circuitos pecuários com fatores epidemiológicos similares, é aconselhável dispor de planos de contingência de caráter regional, convenientes e coordenados. É preciso que o sistema conte com a participação representativa de todas as unidades do Serviço Oficial, de instituições e organismos públicos e privados que tenham relação direta ou indireta com a solução do problema. O SINAESA deverá ser previamente regulamentado. Deve-se dispor de uma estrutura de funcionamento que facilite a coordenação entre os diferentes integrantes do sistema de emergência nos níveis centrais e no nível local, onde se desenvolvem as operações. A legislação vigente deverá determinar a obrigação por parte dos proprietários, encarregados ou possuidores a qualquer título de animais suscetíveis a enfermidades vesiculares, de notificar a suspeita de possuir animais enfermos. 33 A mesma obrigação corresponderá aos veterinários e profissionais vinculados à agropecuária em geral, a todos os funcionários dependentes dos serviços oficiais do país, aos administradores e funcionários de matadouros ou plantas de abate de animais, indústrias leiteiras, de suínos, etc., aos administradores ou funcionários de feiras de gado e transportadores. Todos terão a obrigação de notificar ao Serviço Veterinário Oficial, local ou central, a existência de qualquer animal com sintomas suspeitos ou evidentes da enfermidade. No caso de haver dificuldades em contatar o serviço veterinário oficial, notificar-se-á à autoridade policial mais próxima a existência de qualquer animal com sinais ou sintomas suspeitos de febre aftosa. Esta legislação se adequará às mudanças estratégicas que sejam necessárias para detectar e rapidamente efetivar o controle e a erradicação da febre aftosa. Para alcançar esse objetivo, é necessário um programa permanente de conscientização da comunidade, especialmente do setor pecuário, e uma atitude alerta dos serviços oficiais de saúde animal devidamente treinados para a emergência. 5.1.3 Recepção da informação Realizada uma comunicação da existência de animais com quadros clínicos similares à febre aftosa por um produtor, veterinário, funcionário oficial ou terceira pessoa, o primeiro passo a realizar-se pelo serviço oficial receptor da notificação é proceder de imediato à confirmação da existência ou não da enfermidade no menor tempo possível. Essa notificação pode ter diferentes vias, sendo as mais habitualmente utilizadas pela unidade veterinária local: • do proprietário sobre observação de sintomas de enfermidade vesicular em animais de sua propriedade; 34 • do encarregado da propriedade; • de vizinhos; • do veterinário privado que atende a propriedade; • detecção pelo veterinário oficial; • após a realização de pesquisa epidemiológica. 5.1.4 Registro da notificação Será realizado com data e hora, em formulário, caderno numerado ou cartão da repartição correspondente. • Dados mínimos a obter na notificação inicial, em formulário de Registro da Comunicação na repartição local: 1. Localização (estado/município); 2. Nome do informante; 3. Data e hora de recepção; 4. Telefone do informante (celular, comercial e do domicílio); 5. Notificação recebida por: (indicar o nome); 6. Nome do proprietário; 7. Identificação da propriedade (nome, número do registro); 8. Localização da propriedade; 9. Superfície (em Ha); 10. Espécies supostamente afetadas e número; 35 11. Data do provável início; 12. Sintomas clínicos observados; 13. Veterinário atuante na propriedade; 14. Funcionário encarregado pelo registro da notificação. 5.1.5 Atenção da Notificação e Investigação Instruções primárias ao notificante – instruir ao notificante, caso seja o proprietário ou responsável pelos animais, a necessidade de imobilização dos animais suspeitos, mantendo-os nos locais que se encontram. Reunir a informação cadastral e de movimento de animais – Será estabelecido que, com os funcionários administrativos, se reúna a informação epidemiológica e cadastral básica durante a atenção da suspeita, estimando o número e censo de todas as propriedades situadas dentro da zona que abranja um raio de 5 e 10 km ao redor da propriedade suspeita. Utilização do Sistema de Informação Geográfica - Utilizar o Sistema de Informação Geográfica (GIS) em Rede e, se possuir, o Sistema Nacional de Identificação e Registro Animal, o que permite estudar os movimentos para e da propriedade notificada, nos últimos 30 dias. A informação incluirá a propriedade notificada, propriedades limítrofes e a zona comprometida, também a informação cartográfica, com vias de acesso, número e tipos de propriedade, população animal, existência de lugares de concentração e comercialização de animais, mobilização de animais, antecedentes de vacinações, focos anteriores, etc. Contato com a autoridade policial - Informar à autoridade policial a possibilidade de efetuar a interdição transitória de propriedade com a suspeita de enfermidade vesicular, até novo aviso. 5.1.6 Vigilância Sanitária dos Animais Terrestres 36 Em geral, a vigilância sanitária tem por objetivo demonstrar a ausência de doença ou infecção, determinar a presença e distribuição de uma doença ou infecção e para detectar o mais precocemente possível a presença de doenças exóticas ou emergentes. O tipo de vigilância exercida depende dos resultados que são necessários para tomar decisões. As seguintes recomendações podem ser aplicadas a todas as doenças, agentes patogênicos e das espécies sensíveis contempladas no Código Terrestre e sua finalidade é apoiar o desenvolvimento de metodologias de vigilância. Exceto nos casos em que já se descreva um método específico de acompanhamento de uma doença ou infecção no Código Terrestre, as recomendações irão servir para aperfeiçoar os métodos descritos por vigilância de uma determinada doença ou infecção. Nos casos em que não existem informações detalhadas sobre uma determinada doença ou infecção, os métodos de vigilância devem ter como base as recomendações do capítulo 1.4 do Código Terrestre. A vigilância sanitária dos animais é uma ferramenta essencial da sanidade animal, indispensável para detectar enfermidades, seguir a evolução de uma doença, o combate às doenças endêmicas e exóticas, o apoio aos pedidos de reconhecimento dainexistência de doença ou infecção, para fornecer dados o processo de análise dos riscos, a melhoria da saúde animal e saúde pública e justificar a adoção de medidas sanitárias. Os dados fornecidos pelas ações de vigilância determinarão a qualidade dos relatórios de acompanhamento saúde e devem fornecer as informações necessárias para realizar rigorosa análise de risco tanto para o comércio internacional quanto para tomar decisões em nível nacional. 37 6 NOÇÕES DE EPIDEMIOLOGIA Segundo o dicionário Aurélio da língua portuguesa, podemos definir epidemiologia como o estudo das inter-relações dos vários determinantes da frequência e distribuição de doenças num conjunto populacional. Também existem outras importantes definições como: Oxford English Dictionary: O ramo da ciência médica que trata das epidemias. Kuller LH: é o estudo das epidemias (doenças) e sua prevenção. Anderson G. quoted in Rothman KL: é o estudo da ocorrência da doença. 6.1 DEFINIÇÕES DE EPIDEMIA 1. Ocorrência em uma região ou comunidade de casos de uma doença; condutas relacionadas a doenças específicas, ou outros eventos claramente relacionados à saúde além daquele esperado. 2. Doença que surge rapidamente num lugar e acomete, há um tempo, grande número de indivíduos. 3. Surto de agravação de uma endemia. Essas definições de epidemiologia envolvem uma série de termos que vamos conhecer agora: • Estudo: a epidemiologia como disciplina básica da saúde pública humana e veterinária, tendo seus fundamentos no método científico. • Frequência e distribuição: a epidemiologia preocupa-se com a frequência e o padrão dos eventos relacionados com o processo saúde-doença na população. A frequência inclui não só o número desses eventos, mas também as taxas ou riscos de doença nessa população. 38 • Determinantes: uma das questões centrais da epidemiologia é a busca da causa e dos fatores que influenciam a ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença. Com esse objetivo, a epidemiologia descreve a frequência e distribuição desses eventos e compara sua ocorrência em diferentes grupos populacionais com distintas características demográficas, genéticas, imunológicas, comportamentais, de exposição ao ambiente e outros fatores, assim chamados fatores de risco. Em condições ideais, os achados epidemiológicos oferecem evidências suficientes para o emprego de medidas de prevenção e controle. • Estados ou eventos relacionados à saúde: geralmente a epidemiologia concentra-se nas epidemias relacionadas às doenças infectocontagiosas. • Específicas populações: como já foi salientada, a epidemiologia preocupa-se com a saúde coletiva de grupos de indivíduos que vivem numa comunidade ou área. Qual o objetivo da epidemiologia? Medir a frequência de uma determinada doença em uma população. Para avaliar a frequência de uma determinada doença devemos levar em consideração os seguintes critérios: a. Classificar e caracterizar a doença. b. Saber qual o componente de um caso de uma doença. c. Encontrar uma fonte para busca de casos. d. Definir a população de risco da doença. e. Definir o período de tempo do risco da doença. f. Fazer medidas das frequências da doença. g. Relacionar casos à probabilidade na população e tempo de risco. A Tríade Epidemiológica (fig.1): Agente, Hospedeiro e o Ambiente 39 O triângulo epidemiológico ou simplesmente tríade é um tradicional modelo de estudo das causas e efeitos das doenças infectocontagiosas. São avaliados: os agentes externos, a susceptibilidade dos hospedeiros e o ambiente de forma geral. Neste modelo, o ambiente influencia o agente, o hospedeiro, e a via de transmissão do agente a partir de uma fonte para o hospedeiro. Fig. 1 Tríade epidemiológica FONTE: Jorge Granja, 2009 6.1.1 Fatores do Agente Os agentes envolvidos geralmente são micro-organismos infecciosos (vírus, bactéria, parasita ou fungos). Geralmente, esses agentes devem estar presentes para que ocorra a doença, ou seja, são necessários, mas nem sempre são suficientes para causar doença. 6.1.2 Fatores dos Hospedeiros Fatores intrínsecos do hospedeiro são fatores que influenciam um indivíduo da exposição, sensibilidade, ou resposta a um agente causal. Idade, espécie, raça, sexo, status imunológico, genética são apenas alguns dos muitos fatores que afetam um indivíduo na probabilidade de exposição a um agente. 40 6.1.3 Fatores ambientais Os fatores ambientais são fatores extrínsecos que afetam o agente e as oportunidades para exposição. Geralmente, os fatores ambientais incluem fatores físicos, tais como geologia, clima, e meio físico (por exemplo, currais, exposições agropecuárias). 41 7 PROGRAMA NACIONAL DE ERRADICAÇÃO DA FEBRE AFTOSA 7.1 FEBRE AFTOSA 7.1.1 Família Picornaviridae Na família Picornaviridae incluem-se cinco gêneros de importância veterinária (quadro 1), cada um dos quais correspondentes a vírus que produzem doenças em animais domésticos. A palavra picornavirus (pico – pequeno) descreve os menores vírus encontrados na natureza. Os vírus apresentam capsídeo de simetria icosaédrica com diâmetro que pode variar de 22 a 30 nm (fig 1). Seu capsídeo é composto de 60 subunidades, cada constituída de quatro proteínas estruturais principais (VP1, VP2, VP3 e VP4). Cada uma dessas proteínas é derivada por clivagem sistemática de uma única proteína precursora. As proteínas VP1, VP2 e VP3 são expressas no capsídeo viral e a proteína VP4 localiza-se internamente na partícula viral e está intimamente associada ao RNA viral. O receptor responsável por adsorção viral a membranas celulares localiza-se na proteína VP1, bem como também possui o principal epítopo indutor de resposta humoral. Seu genoma consiste numa molécula de RNA fita simples sentido positivo que tem a função de RNA mensageiro, sendo, portanto, um RNA genômico infeccioso. 42 Quadro 1. Picornavírus de importância veterinária Gênero Vírus Principais espécies afetadas Doença Aphthovírus (fig. 1) Vírus da febre aftosa A, O, C, SAT1, SAT2, SAT3 e Ásia 1 Todos os animais biungulados Febre aftosa Enterovírus Vírus da doença vesicular dos suínos suídeos Doença vesicular dos suínos Cardiovírus Vírus da encefalomiocardite suídeos Encefalomiocardite Rhinovírus Rhinovírus bovino bovídeos Rinite Hepatovírus Vírus da hepatite A dos símios Primatas Hepatite Vírus sem classificação de gênero Rhinovírus equino 2 Equídeos Rinite Aphthovirus Fig. 2 - Forma tridimensional do vírus da Febre Aftosa FONTE: Disponível em: <http://nano-d.inrialpes.fr/?page_id=69>. Acesso em: 21/09/2009. http://nano-d.inrialpes.fr/?page_id=69 43 Geralmente refere-se ao vírus da febre aftosa, a doença de maior importância na pecuária mundial. A febre aftosa é uma doença altamente contagiosa que infecta todos os animais biungulados. Classificada na lista A da OIE, tem alto pode de difusão, atingindo grandes extensões territoriais em pequenos intervalos de tempo. Provavelmente a primeira discrição da febre aftosa ocorreu em 1514, quando Fracastorius descreveu uma doença similar na Itália. Mais de 400 anos depois, Loeffler e Frosch demonstraram que um agente filtrável provocava a febre aftosa, doença conhecida no mundo pelo nome em inglês, foot and mouth disease. Surtos da doença ainda ocorrem em praticamente todas as regiões do mundo, com exceção da Oceania e América do Norte. 7.1.2 Etiologia Hoje são conhecidos no mundo sete sorotipos do vírus da febre aftosa (quadro 2 e fig. 2) (O, A, C, Ásia 1 e os três tipos identificados no continente africano, os South African territory (SAT) 1, 2 e 3. Os aphthovirus são vírus
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