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Urgência e Emergência – Amanda Longo Louzada 1 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NA EMERGÊNCIA INTRODUÇÃO: Também chamado de Síndrome Coronariana Aguda Evento clínico ou patológico, no qual a isquemia miocárdica, leva a injúria do músculo cardíaco Dois grupos: IAMCSST e IAMSSST IAMCSST: Oclusão total da artéria, indo do epicárdio até o endocárdio, ou seja, lesão transmural. IAMSSST: Oclusão foi parcial, o que faz com que o endocárdio sofra isquemia, visto que é uma área de menor irrigação. Angina Instável: mesmas características de dores do IAM, com duração menor e não cursa com elevação dos marcadores de necrose miocárdica, porém no ECG é indistinguível do IAMSSST. ETIOLOGIA: Multifatorial. Evento de maior gravidade da doença coronariana e pode ser sua primeira manifestação A ruptura ou a erosão de uma placa aterosclerótica instável permite o contato direto de elementos trombogênicos contidos no cerne lipídico da placa com plaquetas circulantes e fatores de coagulação, desencadeando uma resposta trombótica por duas vias distintas. Na primeira, a exposição da matriz subendotelial promove a adesão de plaquetas circulantes ao colágeno intersticial, culminando na ativação e na formação do trombo plaquetário. Na segunda, que ocorre simultaneamente à formação do trombo plaquetário, a presença do fator tecidual na circulação sistêmica ativa a cascata de coagulação, promovendo maior síntese de trombina, o que confere maior estabilidade ao trombo. Por fim, a formação do trombo intra-arterial leva à oclusão total ou parcial das coronárias, com ou sem vasoconstrição concomitante, causando uma grave e abrupta redução do fluxo sanguíneo. Também pode ter etiologia não aterosclerótica, como dissecção, arterites, anomalias congênitas, ponte miocárdica, abuso de cocaína ou complicações de cateterismo cardíaco APRESENTAÇÃO CLÍNICA: Dor precordial em aperto, duração prolongada (> 20 minutos) com irradiação para membro superior esquerdo, pescoço ou mandíbula, algumas vezes acompanhadas de outros sintomas, como náuseas, vômitos, dispnéia, dor epigástrica. Sintomas atípicos: mais comum em idosos, nos quais é frequente a apresentação com dispnéia, e diabéticos FATORES DE RISCO PARA DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA: Hipertensão arterial Diabetes mellitus Tabagismo HDL < 40 LDL aumentado Idade: 45 anos; mulheres > 55 anos História familiar DAC (parente de 1º grau): homens < 55 anos, mulheres < 65 anos Obesidade Sedentarismo INVESTIGAÇÃO: Investigar característica da dor: Localização. Irradiação Cronologia Fatores de melhora e de piora. Intensidade. Fatores associados Tipo DIAGNÓSTICO: O ECG é um exame importante nos pacientes com SCA. Deve ser realizado em até 10 minutos do primeiro contato médico e imediatamente interpretado por um médico qualificado. Na angina instável e no IAMSSST, anormalidades no ECG, como depressão do segmento ST ou sua elevação transitória e alterações de onda T, são achados frequentes. Alterações dinâmicas durante o episódio anginoso são marcadores de mal prognóstico. Já no IAMCSST, os achados característicos são o supradesnivelamento de ST persistente (> 20 min) em mais de uma derivação consecutiva ou novo bloqueio de ramo esquerdo (BRE). Realização de ECG seriados. O diagnóstico de SCA é clínico, baseado em história clínica e exame físico. O ECG e os marcadores de necrose cardíaca são importantes para a definição terapêutica e a estratificação de risco. Marcadores de lesão miocárdica: CK-MB: Sensibilidade de 97% e especificidade de 90%. Pode ser considerada no diagnóstico de IAM, quando seu valor está acima do limite superior da normalidade em duas amostras, ou acima de duas vezes o limite máximo em uma Urgência e Emergência – Amanda Longo Louzada 2 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NA EMERGÊNCIA ocasião. Sua principal limitação é que pode elevar-se em lesões de tecidos não cardíacos. Troponina é o marcador com maior sensibilidade e especificidade. Sua elevação reflete dano da célula miocárdica. Em pacientes com IAM, a elevação da troponina ocorre aproximadamente 4 horas após o início dos sintomas e pode persistir elevada por até 2 semanas. Com o advento da troponina de alta sensibilidade, observou-se aumento na detecção de infarto e queda no diagnóstico de angina instável. Outras causas de troponina elevada: taquiarritmias, trauma cardíaco, insuficiência cardíaca, sepse, queimadura, embolia pulmonar, insuficiência renal, entre outras Cinética dos Principais Marcadores de Necrose: Mioglobina: Detecção Inicial: 1-3 horas Atividade Máxima: 6-9 horas Normalização: 36 horas Troponina T: Detecção Inicial: 2 – 4 horas Atividade Máxima: 12 horas Normalização: 10 – 14 dias Troponina I: Detecção Inicial: 4 – 6 horas Atividade Máxima: 12 horas Normalização: 7 – 10 dias CKMB: Detecção Inicial: 3 – 5 horas Atividade Máxima: 24 horas Normalização: 2 – 4 dias CPK: Detecção Inicial: 4 – 8 horas Atividade Máxima: 12 – 24 horas Normalização: 3 – 4 dias ELETROCARDIOGRAMA: Mostra o tipo: IAMCSST e IAMSSST. Evidencia as paredes isquemiadas (aquelas cujas derivações evidenciam a elevação de ST) A artéria acometida ECG de 12 derivações. Sobre a elevação do seguimento ST: pode-se dizer que ela está presente quando ST ≥ 1 mm em duas ou mais derivações contíguas. Como exceção, em V2 e V3, a elevação deve ser ≥ 2,5 mm em homens < 40 anos, ≥ 2 mm em homens ≥ 40 anos e ≥ 1,5 em mulheres. Em pacientes com alterações em parede inferior (II, III e aVF), é importante realizar as derivações direitas (V3R e V4R) e da parede posterior (V7, V8) para verificar o acometimento do ventrículo direito e da parede posterior, respectivamente. Relação das alterações nas derivações com o Infarto: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Dissecção aguda da aorta Pericardite Miocardite Pneumotórax espontâneo Embolia Pulmonar ABORDAGEM TERAPÊUTICA GERAL: Os pacientes com diagnóstico ou em investigação de uma SCA: Devem ser mantidos em observação em leito com monitorização cardíaca (observação monitorada de sintomas e realização de ECG seriados com 12 derivações e dosagem de marcadores por um período, em geral, de 12 a 24 horas) Fazer anamnese e exame físico. Obter níveis iniciais de marcadores cardíacos séricos; Avaliar eletrólitos e coagulação; Efetuar radiografia de tórax Repouso Acesso venoso periférico Nitrato SL ou spray; Morfina EV se a dor não ceder com o nitrato; Oxigenoterapia através de cateter nasal de oxigênio (O2) 2L/min nas primeiras 6 horas e após, caso a saturação periférica de O2 < 90%. Os pacientes que não apresentarem contraindicação devem receber ácido acetilsalicílico (AAS) na dose de 150-300 mg, via oral (VO), durante a fase inicial do atendimento Urgência e Emergência – Amanda Longo Louzada 3 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NA EMERGÊNCIA TERAPIA ANTI-ISQUÊMICA: Objetivo é a redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio ou o aumento da oferta de oxigênio para o miocárdio. Entre as principais opções terapêuticas, encontram-se os betabloqueadores (BB), bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) e os nitratos. BETABLOQUEADORES: Reduzem o consumo miocárdico de O2 em razão de seus efeitos cronotrópico e inotrópico negativos. Além disso, inibem os efeitos das catecolaminas circulantes sobre o miocárdio. Devem ser iniciados VO em todos os pacientes com SCA, estáveis hemodinamicamente, em pequenas doses, com elevação gradual com o objetivo de manter a FC em 60 bpm. CI: BAV 2º e 3º graus, broncoespasmo, apresentação Killip > II, suspeita de espasmocoronariano e uso de cocaína. •oooo No caso de pacientes em uso prévio, o BB só deve ser suspenso se Killip ≥ III. BLOQUEADORES DOS CANAIS CÁLCIO: Drogas vasodilatadoras que agem não competitivamente nos canais de cálcio voltagem- dependentes tipo-L limitando o influxo de cálcio para o miócito, levando a uma diminuição da contratilidade e excitabilidade celular. São drogas cronotrópicas e inotrópicas negativas. Existem três subclasses: as diidropiridinas (nifedipina, anlodipina), com efeitos preponderantes na vasodilatação periférica; as benzodiazepinas (diltiazem), com menor efeito vasodilatador dentre as três; e as fenilalquilaminas (verapamil), que retardam a condução do nó atrioventricular além do seu efeito inotrópico negativo e vasodilatador. Nenhuma delas é droga de primeira linha nas SCA, mas elas podem ser usadas nos casos de angina com contraindicação a BB. NITRATOS: Reduzem o consumo e aumentam a oferta de O2 por meio da redução da pré-carga (venodilatação periférica) e vasodilatação coronariana, respectivamente. O uso de nitrato na fase aguda da SCA é indicado, principalmente em pacientes hipertensos e com sintomas anginosos. CI: hipotensão significativa (PAS < 100 mmHg), infarto de ventrículo direito e uso de inibidores da fosfodiesterase-5 nas últimas 24-48 h (sildenafil e outros). Seu uso endovenoso (nitroglicerina) é mais efetivo que o sublingual, no que diz respeito aos sintomas e à regressão de alterações eletrocardiográficas. Após iniciado, deve ser titulado de acordo com a melhora dos sintomas e aparecimento dos efeitos colaterais. Deve ser mantido por pelo menos 24 horas do último episódio anginoso e sua retirada deve ser gradual. TERAPIA ANTIPLAQUETÁRIA: A ativação e a agregação plaquetárias são eventos imprescindíveis para a formação e para a propagação do trombo arterial. Pacientes portadores de AI e IAMSSST devem receber dupla antiagregação plaquetária, sendo o ácido acetilsalicílico (AAS) uma das drogas e um inibidor de receptor plaquetário do ADP a segunda droga ÁCIDO ACETILSALICILICO: O AAS é a droga antiplaquetária mais antiga e amplamente usada nos serviços de emergência. AAS reduz a incidência de IAM recorrente e a mortalidade cardiovascular em pacientes com angina instável. O AAS age na cicloxigenase 1 (cox-1) inibindo a formação do tromboxano A2 , induzindo assim a uma inibição permanente da função plaquetária. A dose recomendada, VO, varia entre 150 e 300 mg de ataque e 100 mg de manutenção diária por tempo indeterminado. A restrição ao seu uso só deve ser feita em caso de alergia conhecida ou em casos de hemorragias digestivas ativas INIBIDORES DO RECEPTOR PLAQUETÁRIO DO ADP (P2Y12): Classe de antiplaquetários é representada por duas subclasses: os tienopiridínicos (clopidogrel e prasugrel) e a ciclotriazolopirimidina, representada pelo ticagrelor. Urgência e Emergência – Amanda Longo Louzada 4 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NA EMERGÊNCIA Ambas antagonizam a ativação e a agregação plaquetária por meio do bloqueio do receptor plaquetário de ADP P2Y12, porém os tienopiridínicos se ligam irreversivelmente ao receptor, enquanto o ticagrelor se liga reversivelmente. Seu uso está indicado em SCASSST de riscos moderado e alto. Deve ser administrado na dose de ataque de 300 mg e manutenção diária de 75 mg. Em pacientes submetidos à Intervenção coronariana percutânea e com baixo risco de sangramento, pode-se considerar ataque de 600 mg, com manutenção de 150 mg/dia por 7 dias e 75 mg após esse período INIBIDORES DE GLICOPROTEÍNA IIB\IIIA: A exposição de tecido subendotelial durante a ruptura de uma placa em uma artéria coronária, quer seja espontaneamente, como nas SCA, ou ainda durante a intervenção percutânea por meio de cateter, balões e stents, leva à ativação dos receptores da glicoproteína IIb/IIIa das plaquetas, com consequente ativação e agregação plaquetária. Os bloqueadores dos receptores da glicoproteína IIb/IIIa impedem a ligação entre as plaquetas e, por agirem na via final comum, são os mais potentes inibidores da agregação plaquetária. Abciximabe. Tirofibana. Eptifibatide Os inibidores da GP IIb/IIIa podem ser usados como um terceiro antiagregante plaquetário, em pacientes com baixo risco hemorrágico, que serão submetidos a ICP de alto risco (trombos e complicações trombóticas). TERAPIA ANTICOAGULANTE: Inibe a síntese e/ou a atividade da trombina, reduz-se a formação do trombo e, consequentemente, dos eventos relacionados a formação deste. Em associação à terapia antiplaquetária, seu efeito é mais pronunciado e benéfico do que se fosse administrada isoladamente. HEPARINA NÃO FRACIONADA: É uma mistura heterogênea de polissacarídeos que se liga à antitrombina, inativando os fatores Xa e IIa (trombina), respectivamente. A via preferencial de administração é endovenosa (EV), sendo a meta terapêutica um tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) entre 50 e 75 segundos, o que corresponde a um valor 1,5 a 2,5 vezes acima do normal. Recomenda-se um bolus inicial de 60-70 UI/kg (máximo: 5.000 UI), seguido de infusão contínua 12-15 UI/kg/h (máximo 1.000 UI/h). O controle do TTPA deve ser feito de 6 em 6 horas, e assim que atingida a meta, passa-se a colher o exame a cada 24 horas. É importante acompanhar diariamente o hematócrito e as plaquetas. No caso de hemorragias brandas, a protamina pode ser utilizada na dose de 1 mg, IV, para cada 100 U de HNF. HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR: Capacidade de ligar-se preferencialmente ao fator Xa (e menos ao II), inativando-o. Assim, quando administrada por via subcutânea (SC), apresenta maior biodisponibilidade e maior meia-vida. A dose recomendada da enoxaparina é de 1 mg/kg, SC, a cada 12 horas. Em idosos com mais de 75 anos, recomenda-se aplicar 75% da dose. Pacientes com clearance de creatinina menor que 30 mL/min, recomenda-se aplicar 1 mg/kg, uma vez ao dia. Dosagem de anti-Xa é recomendada nas populações com risco de sangramento (valor terapêutico entre 0,5 e 1,1 UI/mL). As doses descritas devem ser utilizadas até a realização da ICP ou da cirurgia. Em pacientes pré-tratados com enoxaparina, nenhuma dose adicional é necessária durante a ICP se a última dose subcutânea foi administrada < 8 horas. No caso de tratamento clínico, seu uso deve ser feito por 8 dias ou até a alta hospitalar; MEDIDAS INICIAIS MEDIANTE A SCA COM SUPRA DE ST: Medidas gerais: repouso, oxigênio, monitoração, acesso venoso, coleta de exames gerais e marcadores de necrose miocárdica, radiografia de tórax AAS. Clopidogrel. Nitrato. Morfina (se necessário). Betabloqueador Reperfusão coronariana: angioplastia primária ou trombolíticos [estreptoquinase, alteplase (tPA), reteplase (rtPA) ou tenecteplase (TNK-tPA). Urgência e Emergência – Amanda Longo Louzada 5 INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NA EMERGÊNCIA ESCOLHA DA MELHOR TERAPIA DE REPERFUSÃO CORONARIANA: FIBRINOLÍTICOS VERSUS ANGIOPLASTIA PRIMÁRIA: É fundamental que o trombolítico seja iniciado em até 30 min da chegada do paciente (intervalo porta-agulha), enquanto a angioplastia primária deve ser realizada em até 90 min da chegada (intervalo porta-balão). A angioplastia primária depende da disponibilidade de centro de hemodinâmica com equipe experiente em procedimentos. Em pacientes com contraindicação aos fibrinolíticos ou em choque cardiogênico, a angioplastia primária é o tratamento de escolha. Indica-se a transferência para serviço com hemodinâmica disponível quando o local de atendimento não possuir. Após o uso de fibrinolítico, deve-se iniciar heparina não fracionada ou enoxaparinaem dose plena por 48 horas. Os pacientes sem evidência de reperfusão e com má evolução (dor recorrente, choque cardiogênico, instabilidade elétrica) devem ser encaminhados à angioplastia de resgate. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DO IAM: Arritmias Pericardite Complicações mecânicas: ruptura do septo interventricular; ruptura do músculo papilar; ruptura de parede livre. Infarto de VD (pode ocorrer nos pacientes com IAM de parede inferior. Deve ser abordado inicialmente com hidratação vigorosa). Choque cardiogênico
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