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Página 1 de 6 FISIOPATOLOGIA A placa aterosclerótica é formada por um lago lipídico na camada íntima da artéria (core lipídico), que é envolta por uma capa fibrosa. A integridade da capa fibrosa é mantida por meio da síntese contínua de colágeno e elastina que a fortalece contra a tensão gerada na luz da artéria coronária pela pressão arterial e o shear stress (estresse gerado pelo fluxo sanguíneo sobre o endotélio). A placa ateromatosa torna-se instável ou inflamada, provocando ruptura ou fissura e expondo material trombogênico, que ativa plaquetas e a cascata de coagulação, produzindo um trombo agudo. A ativação das plaquetas envolve a alteração da conformação nos receptores GP IIb / IIIa da membrana, permitindo a reação cruzada (e, portanto, a agregação) das plaquetas. Observação! Mesmo os ateromas que provocam obstrução mínima podem romper e desencadear trombose, uma vez que, em mais de 50% dos casos, a estenose pré-evento é inferior a 40%. fatores de risco • diabetes • tabagismo • aterosclerose • sobrepeso • sedentarismo • hipertensão • dislipidemia diagnósticos diferenciais Cardiovascular: doenças da aorta, pericardite Pulmonar: embolia pulmonar, pneumotórax, pneumonia GI: DRGE, espasmo esofagiano, colecistite, pancreatite, úlcera péptica Parede torácica: costocondrite, fratura de costela, herpes zoster Psiquiátrica: síndrome do pânico CLASSIFICAÇÃO angina instável Gerada por ruptura ou erosão da placa com trombo não oclusivo sobreposto. Os sintomas anginosos se iniciam ao repouso ou aos mínimos esforços, com duração maior que 20 minutos, em padrão crescente. Padrão: marcadores de necrose miocárdica negativos, sem elevação do segmento ST no ECG, podendo ocorrer alteração dinâmica do ST, com infradesnivelamento do segmento ST ou inversão da onda T. infarto agudo do miocárdio Decorre de um desbalanço entre a oferta e o consumo miocárdico de oxigênio. • diminuição de oferta: espasmo, tempo de diástole diminuído, anemia, autorregulação local • aumento da demanda: frequência cardíaca aumentada, contratilidade aumentada, tensão parietal (pós-carga) aumentada A definição clínica de IAM requer evidência de injúria miocárdica aguda, detectada pela elevação de biomarcadores, na presença de isquemia miocárdica. TIPOS DE IAM EM RELAÇÃO AO SEGMENTO ST: Sem supradesnivelamento de segmento ST: sintomas associados a elevação dos marcadores de necrose miocárdica, sem elevação de segmento ST no ECG, podendo ocorrer alteração dinâmica do ST, com infradesnivelamento do segmento ST ou inversão de onda T. URGÊNCIA E EMERGÊNCIA síndrome coronariana aguda data: 20 / 10 / 21 Página 2 de 6 Com supradesnivelamento de segmento ST: oclusão da artéria por um tempo prolongado, gerando morte de cardiomiócitos. Os sintomas se associam a elevação de marcadores de necrose miocárdica, com supradesnivelamento do segmento ST ou BRE novo no ECG. SINTOMAS A dor geralmente se localiza em região precordial, retroesternal e / ou epigástrica, sendo caracterizada como aperto, queimação, constricção ou desconforto torácico não adequadamente caracterizado. A dor pode irradiar para membros superiores e ombro, geralmente associada / piora ao esforço. O paciente pode relatar sensação de desfalecimento, tontura, desmaio, sudorese, náusea ou vômitos associados. Dispneia súbita pode ocorrer conjuntamente ou sem o desconforto torácico. A dor geralmente é de grande intensidade e prolongada (> 20 min), sem alívio ao repouso ou com uso de nitratos. Equivalente anginoso: em vez de dor, alguns pacientes apresentam equivalentes anginosos como dispneia, mal-estar, confusão mental, síncope ou edema agudo de pulmão. Os pacientes que mais apresentam equivalentes anginosos são mulheres, idosos, diabéticos ou pacientes doentes renais. → geralmente equivalentes anginosos tem menor elevação enzimática e maior ocorrência de SCASSST DIAGNÓSTICO abordagem incial História clínica: padrão da dor precordial, tipo e intensidade da dor, comorbidades e fatores de risco, HX de eventos CV prévios ou presença de aterosclerose significativa conhecida (> 50% em qualquer território), medicações e alergias Exame físico: ansiedade e agitação, taquicardia / taquipneia, hipertensão, hipotensão (sinal de choque cardiogênico), ausculta pulmonar com estertores (sinal de falência ventricular), pode apresentar sinais de IC aguda, B3, IM nova quadro clínico típico + marcadores de necrose miocárdica + eletrocardiograma em 10 minutos e depois de 30 minutos, ou antes (caso o paciente volte a sentir dor). SCA SEM SUPRA DE SEGMENTO ST O diagnóstico da síndrome coronariana aguda (SCA) sem supradesnivelamento do segmento ST pode ser um desafio para o médico emergencista pela variabilidade de sintomas apresentados pelos pacientes, que vão desde dor de pequena intensidade e livre de sintomas associados até franco choque cardiogênico. etiologia e fisiopatologia Existem três mecanismos de instabilização de placa levando à síndrome coronariana aguda: ruptura de placa, erosão de placa e exposição de nódulo calcificado. No IAM sem supradesnivelamento de ST o principal mecanismo fisiopatológico é a erosão de placa aterosclerótica. A abertura da placa aterosclerótica expõe uma superfície trombogênica e libera o núcleo necrótico que contém micropartículas protrombóticas. Tratando-se de IAM sem supra, ocorre uma desvitalização tecidual não transmural, pois a coronária está subocluída ou mesmo ocluída, porém existe a presença de colaterais. diagnóstico e classificação Nos casos de SCA sem supra de ST, a dor torácica anginosa terá uma das características relacionadas: • dor prolongada em repouso • angina de início recente (“de novo“) classificada como III ou IV pela classificação da Canadian Cardiovascular Society (CCS) • recente desestabilização de angina estável prévia, com pelo menos classificação III da CCS (“angina em crescendo“) • angina pós-IAM • alterações dinâmicas do segmentos ST ou onda T • dor recorrente • instabilidade hemodinâmica ou elétrica • alto risco (escores) PONTUAÇÃO DE RISCO TIMI: Página 3 de 6 Resultado: • 0 - 2 pontos: baixo risco • 3 - 4 pontos: risco intermediário • 5 - 7 pontos: alto risco CLASSIFICAÇÃO KILLIP: ESCORE GRACE: tratamento Todos os pacientes com suspeita de SCA sem supra de ST devem ser atendidos em sala de emergência ou unidade coronariana e ser submetidos ao MOVE: (1) monitorização não invasiva contínua (no mínimo com pressão arterial, frequência cardíaca e cardioscopia); (2) oxigênio suplementar se saturação periférica de oxigênio < 90% ou se desconforto respiratório; (3) acesso venoso periférico garantido para coleta de exames e infusão de medicações; e (4) ECG de 12 derivações que deve ser interpretado por um médico em até 10 minutos da admissão do paciente. ANTIAGREGAÇÃO: Ácido acetilsalicílico (AAS): 150-300 mg (recomendação 300 mg) VO na admissão, seguido por 100 mg VO 1x/dia é indicado em todos os pacientes com suspeita de SCA, desde que não haja suspeita de uma síndrome aórtica significativa. O ácido acetilsalicílico inibe irreversivelmente a atividade da ciclo-oxigenase (COX-1), reprime a produção de tromboxano A2 e interage negativamente na agregação plaquetária. Inibidor do receptor de ADP P2Y12: indicado para todos os pacientes com diagnóstico de SCA de alto risco, para redução da agregação plaquetária, em associação ao AAS. Ambos ticagrelor e prasugrel se mostraram superiores ao clopidogrel nas SCA • ticagrelor: 180 mg VO na admissão, seguido por 90 mg VO 2x/dia • prasugrel: 60 mg VO na admissão, seguido por 10 mg VO 1x/dia. Contraindicado em maiores de 75 anos, com peso corporal menor que 60 kg, ou com história de AVC ou AIT • clopidogrel: 300 mg na admissão, seguido por 75 mg VO 1x/dia.ANTICOAGULAÇÃO: Indicada para todos os pacientes com diagnóstico de SCA de risco intermediário ou alto para inibir a geração e a atividade da trombina, reduzindo os eventos relacionados ao trombo. • heparina não fracionada: 60-70 U/kg (máximo 5.000 U) EV, seguido por infusão de 12-15 U/kg/h ajustável para manter TTPA entre 1,5-2,5x o controle • enoxaparina: 1 mg/kg SC 2x/dia TERAPIA ANTI-ISQUÊMICA: O objetivo da terapia anti-isquêmica farmacológica é diminuir a demanda miocárdica de oxigênio (diminuindo a frequência cardíaca, a pressão arterial, a pré-carga e a contratilidade miocárdica) ou aumentar o suprimento de oxigênio no miocárdio (por administração de oxigênio ou por meio de vasodilatação coronariana). Nitratos: os nitratos intravenosos (nitroglicerina 25 mg/5 mL 10 mL + SG 240 mL, correr EV BIC dose inicial de 5-10 mcg/min ou 1,5-3 mL/h) são mais eficazes do que os nitratos sublinguais (dinitrato de isossorbida 5 mg SL) em relação ao alívio dos sintomas e à regressão da depressão ST. Atenção! Em pacientes com ingestão recente de um inibidor de fosfodiesterase tipo 5 (ou seja, dentro de 24 h para sildenafil ou vardenafil e 48 h para tadalafil), os nitratos não devem ser administrados devido ao risco de hipotensão grave. Outra contraindicação é o infarto de ventrículo direito (constatado por supra ST em V3R e V4R). Betabloqueadores: os betabloqueadores inibem competitivamente os efeitos miocárdicos das catecolaminas circulantes, reduzindo a frequência cardíaca, a pressão arterial e a contratilidade miocárdica, diminuindo, portanto, o consumo de oxigênio no miocárdio. As doses de betabloqueadores usuais são: metoprolol 25-100 mg VO 1x/dia ou propranolol 10-80 mg VO 2-3x/dia. • contraindicações: PR > 240 ms, bloqueios atrioventriculares complexos e broncoespasmo, risco de desenvolver choque cardiogênico, sintomas possivelmente relacionados ao vasoaspasmo coronariano ou ao uso de cocaína Bloqueadores dos canais de cálcio: os efeitos benéficos nas síndromes coronarianas se devem a uma combinação das suas ações, diminuindo o consumo miocárdico de oxigênio, a pós-carga, a contratilidade e a FC, além de aumentarem a oferta de oxigênio ao miocárdio, pela vasodilatação coronariana que promovem. Utiliza-se verapamil 80 a 120 mg 3x/dia ou diltiazem 60 mg 3 - 4x/dia. OUTRAS MEDICAÇÕES: Estatinas: recomenda-se iniciar terapia com estatina de alta intensidade (ex: atorvastatina 40 mg VO 1x/dia) na admissão em todos os pacientes com SCA. Inibidores da enzima conversora de angiotensiona (IECA): os IECA (ex: enalapril 5-20 mg VO 2x/dia) são recomendados em pacientes com disfunção sistólica ou insuficiência cardíaca, hipertensão ou diabetes. Os bloqueadores do receptor de angiotensina são indicados em pacientes que são intolerantes (por tosse ou angioedema) aos IECA. Antagonista da aldosterona: recomendada em pacientes com disfunção sistólica (fração de ejeção do ventrículo esquerdo ≤ 40%) Página 4 de 6 e insuficiência cardíaca ou diabetes após SCA (ex: espironolactona 25 mg VO 1x/dia) Bloqueador de bomba de prótons: é indicado em pacientes com dupla antiagregação plaquetária com risco de sangramento digestivo: história de úlcera gástrica ou sangramento do trato gastrointestinal, uso de anticoagulantes, uso crônico de anti-inflamatórios não esteroidais ou corticoide ou 2 dos seguintes: ≥ 65 anos, dispepsia, doença do refluxo gastroesofágico, infecção por Helicobacter pylori ou uso de álcool (ex: pantoprazol 40 mg VO 1x/dia) CATETERISMO CARDÍACO: Tem como objetivos: (1) confirmar o diagnóstico de SCA relacionado à DAC (ou descartar origem coronariana de dor torácica) e, como consequência, orientar o tratamento e evitar exposição desnecessária a agentes antitrombóticos; (2) identificar a lesão culpada; (3) avaliar a anatomia coronariana e estabelecer a indicação de revascularização coronariana por stent ou cirurgia de revascularização do miocárdio; e (4) identificar outras causas para dor, como fístula coronariana ou vasoespasmo. Estratégia invasiva imediata (< 2 h): recomendada para pacientes com SCA de muito alto risco – instabilidade hemodinâmica e choque cardiogênico, instabilidade elétrica por taquiarritmia ventricular, angina refratária ao tratamento clínico e insuficiência mitral aguda. Essa recomendação não depende de ECG ou dos biomarcadores. Centros sem angiografia devem transferir o paciente o mais rápido possível. Estratégia invasiva precoce (< 24 h): embora não esteja categoricamente associada com melhores desfechos em mortalidade ou em sangramentos, a estratégia invasiva precoce parece estar associada com menores índices de isquemia refratária e com menor tempo de internação hospitalar quando comparada à estratégia invasiva. Estratégia invasiva (< 72 h): este é o atraso máximo recomendado para a angiografia em pacientes com pelo menos um critério de risco intermediário, sintomas recorrentes ou isquemia em teste não invasivo. Estratégia conservadora: deve ser escolhida para pacientes com esta preferência, nos quais os escores de risco são baixos (TIMI 0-1 ou GRACE < 109) e naqueles em que há dúvida quanto à natureza dos sintomas. angina refratária, instabilidade hemodinâmica, congestão pulmonar, arritmia ventricular complexa, complicações mecânicas do IAM • se CAT ultraprecoce (< 2h): não faz heparina e o 2º antiagregante será definido na sala de hemodinâmica → caso não tenha hemodinâmica: faz ticagrelor 180mg (se CI: clopidogrel 600 mg) • se tratamento conservador inicial: fazer uso de antitrombínico, preferencialmente enoxaparina 1 mg/kg 2x/dia (corrigir para idade e IRC) • AAS: deve ser mastigado, na dose de 160 - 325 mg, sem revestimento entérico. → contraindicações: hipersensibilidade conhecida, úlcera péptica ativa, discrasia sanguínea e hepatopatia grave → em caso de evidência recente de hemorragia gastrointestinal recente, doença péptica ativa, náuseas, vômitos ou outros distúrbios de TGI superior, deve ser utilizaso AAS 300 mg retal • oxigênio suplementar: quando o paciente apresentar dispneia, hipoxemia, sinais de IC ou saturação O2 < 90%, devem receber suplementação de oxigênio por máscara ou cateter nasal • nitrato: 1 cp sublingual (dinitrato de isossorbida - isordil 5mg) a cada 3 - 5 minutos (máximo de 3 doses). Em caso de dor refratária, iniciar nitroglicerina IV (Tridil, que inicial com 10 mcg ajustando a cada 5 minutos até obter melhora sintomática ou redução da PA. → contraindicações: PAs ‹ 90mmHg, PAs 30mmHg abaixo da linha de base, FC ‹ 50bpm ou taquicardia. • morfina: indicada quando o desconforto torácico não responde a nitratos ou em caso de recorrência da dor apesar da terapêutica anti-isquemica adequada. Deve ser administrada por IV na dose de 2 - 4 mg, diluída, podendo ser repetida em intervalos de 5 a 15 minutos, com dose máxima de 25 mg. → efeitos colaterais: náuseas, vômitos, hipotensão, bradicardia, rebaixamento do nível de consciência e depressão respiratória. Atenção! Dor anginosa persistente e típica e ECG “inocente“, deve-se considerar supra de ST “oculto“ (secundário a obstrução de ramos periféricos / marginais). Nesse caso, a estratificação deve ser imediata. elevação da troponina e / ou alteração dinâmica de segmento ST e / ou GRACE > 140 • estratificação coronariana precoce (<12h): seria a mais indicada, visando reduzir risco isquêmico, minimizando utilização inapropriada de agente hemorrágico e otimizando custos hospitalares ▪ se CAT precoce: 2º antiagregante será definido na hemodinâmica (iniciar clexane com o mesmo esquema) ▪ se não for definido CAT precoce: administrar ticagrelor 180 mg + clexane • AAS: 200 mg • medidas adjuvantes (O2, nitrato, morfina) • heparina: bolus de 60 U/KG, com máximo de 4.000 U, seguido de uma infusão de 12U/kg por 48 horas, com dose máxima inicial de 1000 U/h (ajustar dose para manter PTT entre 50 - 70 segundos)▪ pacientes < 75 anos: enoxaparina 30 mg IV em bolus seguido por 1mg/kg SC a cada 12 horas ▪ pacientes > 75 anos: não realizar o bolus inicial e reduzir a dose para 0,75 mg/kg a cada 12 horas ▪ caso ClCr < 30 mL/min = utilizar a dose de 1mg/kg a cada 24 horas Atenção! Infarto de VD: paciente geralmente tendendo a hipotensão com sinais de insuficiencia cardíaca direita (congestão sistêmica com TJP, hepatomegalia e pulmões limpos). • contraindicado uso de morfina e nitrato • tratamento: reposição volêmica vigorosa + terapia de reperfusão SCA COM SUPRA DE SEGMENTO ST O infarto agudo do miocárdio (IAM) com supradesnivelamento do segmento ST é diagnosticado por manifestações clínicas compatíveis associada à evidência de infarto transmural. O rápido diagnóstico de IAM é essencial em todo paciente que se apresenta com dor torácica ou equivalente anginoso no pronto-socorro. A mortalidade hospitalar do IAMCST é similar a do IAMSST, mas a mortalidade em um ano tem uma tendência em ser menor em comparação à de pacientes com IAM sem supra ST. Página 5 de 6 fisiopatologia Dos 3 mecanismos de instabilização da placa aterosclerótica, o mais comum no IAMCSST é a ruptura de placa aterosclerótica. A ruptura de placa ocorre como um desequilíbrio nas forças que agem sobre a capa aterosclerótica. A capa é formada por colágeno de células musculares lisas presentes. A diminuição de produção de colágeno e aumento de catabolismo por metaloproteinases de matriz enfraquecem a estrutura. Macrófagos produzem metaloproteinases e catepsinas que degradam colágeno e elastina, respectivamente. As placas com capa fibrótica fina, poucas células musculares lisas, com acúmulo de macrófagos e lago lipídico são mais vulneráveis. Os macrófagos produzem micropartículas trombóticas que se acumulam no interior das placas, em especial nos núcleos necróticos. Quando há rompimento da placa esse material é liberado subitamente, potencializando a trombose local. A formação do trombo luminal depende da exposição das superfícies trombóticas, liberação de fatores pró-trombóticos e atividade de sistemas de coagulação. A oclusão coronariana completa se expressa como supradesnivelamento do segmento ST no ECG. eletrocardiografia A definição de IAM com supradesnivelamento do segmento ST é a elevação em 1 mm do ponto J em duas derivações contíguas. Nas derivações V2 e V3 o critério de IAMCST é de 1,5 mm de elevação em mulheres, enquanto em homens acima de 40 anos são necessários 2,0 mm de elevação e em homens mais jovens que 40 anos são necessários 2,5 mm. Nas derivações V7, V8 e V9 só é necessário 0,5 mm (parede posterior). Outros padrões equivalentes a IAMCSST: Os critérios de Sgarbossa se propõem a identificar infarto agudo do miocárdio na presença de bloqueio de ramo esquerdo. Além disso, também podem ser usados em pacientes com ritmo de marca-passo. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ELETROCARDIOGRÁFICO: Em vista do curto tempo para o diagnóstico, a diferenciação é complexa. Na dúvida, deve-se conduzir o caso como IAMCSST e não descartar o diagnóstico de IAM. tratamento Uma vez identificado o supradesnivelamento significativo no ECG, deve-se iniciar as ações para tratamento, independentemente do resultado de troponina. Nesse caso: • o paciente deve ser colocado em monitorização cardíaca • deve-se obter acesso venoso • medicar o paciente com a dupla antiagregação plaquetária • avaliar a necessidade de oxigênio suplementar se saturação < 90% • controle da dor deve ser obtido com nitrato, morfina e betabloqueador → nitrato sublingual deve ser oferecido primeiro, progredindo-se para endovenoso na ausência de controle • betabloqueadores por via oral são indicados após IAM (baixo risco ou em estabilidade hemodinâmica) → contraindicação: pacientes com doença arterial periférica, intervalo PR > 0,24, bloqueio cardíaco, insuficiência cardíaca aguda (se não fazia uso prévio), baixo débito e risco de choque cardiogênico (idade > 70 anos, pressão arterial sistêmica < 120 mmHg, frequência cardíaca > 110 bpm ou < 60 bpm e duração prolongada dos sintomas • AAS deve ser oferecida a todos os pacientes com dose recomendada de 300 mg por via oral (mastigada) • o segundo antiagregante depende do método que será utilizado para reperfusão primária → angioplastia primaria: ticagrelor ou prasugrel → uso de fibrinolíticos: clopidogrel ou ticagrelor ANGIOPLASTIA PRIMÁRIA E TERAPIA FIBRINOLÍTICA: A angioplastia primária é mais eficiente na reperfusão, tem melhor resultado e apresenta menor risco de reinfarto ou isquemia residual em comparação à terapia fibrinolítica. Se o local onde o paciente estiver sendo atendido não for um centro com recurso de angioplastia primária, a decisão de transferência ou fibrinólise depende do tempo de transferência: • tempo < 120 minutos: indicada transferência • tempo > 120 minutos: terapia fibrinolítica local Após o fibrinolítico, o paciente deve ser submetido a cineangiocoronariografia em até 24 horas. Página 6 de 6 o alvo para início do fibrinolítico é de 30 minutos após entrada do paciente no serviço (tempo porta- agulha). • estreptoquinase: dose 1.500.000 U infundido em 1 hora. O paciente deve ser monitorado de perto e o médico deve permanecer do lado durante a infusão. • alteplase: em pacientes com mais de 65 kg, a dose é de 15 mg em bolus, 50 mg em 30 minutos e 35 mg em 1 hora. Para pacientes com menos de 65 kg, a dose é 15 mg em bolus, 0,75 mg/kg em 30 minutos e 0,5 mg/kg em 60 minutos. • tenecteplase: agente preferencial (facilidade posológica). Dose total em bolus de acordo com o peso e idade. Para pacientes com menos de 60 kg, a dose é 30 mg. Para pacientes entre 60 e 70 kg, a dose é de 35 mg. Para pacientes entre 70 e 80 kg, a dose é de 40 mg. Para pacientes entre 80 e 90 kg, a dose é de 45 mg. Finalmente, para pacientes acima de 90 kg a dose é de 50 mg. Pacientes com mais de 75 anos devem receber a metade da dose. No caso de reperfusão por fibrinolítico, estão indicados o uso do clopidogrel (300 mg) ou ticagrelor (180 mg). Critérios de reperfusão / angioplastia de resgate: os critérios de reperfusão de 60 a 90 minutos após infusão do trombolítico são: (1) resolução do supradesnivelamento do segmento ST; (2) pico precoce de enzimas - pico de CPK em até 12h do início do trombolítico ou 15h do início da dor; (3) resolução da intensidade da dor; (4) redução do supra desnivelamento de ST em > 50% na derivação de maior elevação ou > 20% no somatório de todos os supras; (5) arritmias de reperfusão - ritmo idioventricular acelerado, bradicardia sinusal, melhora súbita de BAV ou bloqueio de ramo durante a infusão. Atenção! Os pacientes submetidos a trombólise devem ser submetidos a CAT de rotina de 2 - 24h após fibrinólise ou imediatamente, caso não preencham os critérios de reperfusão. no caso de angioplastia primária, estão indicados o prasugrel (60 mg bolus e 10 mg 1 vez ao dia de manutenção) ou ticagrelor (180 mg bolus e 90 mg de 12/12 horas de manutenção). O clopidogrel (600 mg bolus e 75 mg 1 vez ao dia de manutenção) só deve ser utilizado na falta desses dois medicamentos. A heparina não fracionada ou de baixo peso molecular não deve ser realizada antes da punção do acesso arterial pelo hemodinamicista. • tempo porta-balão: 90 minutos, preferencialmente 60 minutos do diagnóstico à passagem do guia pela lesão culpada CONTEÚDO: anotações da aula Síndrome Coronariana Aguda disponibilizada pela disciplina, ministrada por Camila Veiga Medicina de Emergência USP – 14ª edição
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