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OBSTETRÍCIA | Lucas Santana – MEDICINA UFMA EXAME CLÍNICO DA GRÁVIDA ANAMNESE INDENTIFICAÇÃO → Idade ▪ A gravidez pode ocorrer a partir dos 10 anos de idade, porém, a melhor condição, do ponto de vista biológico, se dá a partir dos 18-20 anos; já o período para o melhor desempenho dura cerca de 10 anos (ou seja, vai até os 30 anos de idade). ▪ A partir dos 35 anos de idade ou mais, não se recomenda a engravidar, em vista de altos índices de distócias e problemas de malformações fetais que se dão por volta desta idade. Importante: sempre questionar a idade da paciente! → Cor ▪ Aqui busca-se observar se a paciente tenderá a ter presença de vício pélvico, que se dá principalmente nas mulheres negras e mestiças O vício pélvico compreende uma abertura insuficiente da pelve, dificultando, dessa forma, a passagem do bebê no momento do parto. → Profissão Aqui interessa considerar/investigar as intoxicações profissionais lentas (álcool, chumbo, nicotina, etc.) ▪ Também, há busca pela predisposição a aborto que a paciente possa a sofrer em decorrência do esforço físico que venha a desempenhar, o necessitará do seu afastamento do trabalho. → Estado civil ▪ A relevância deste dado se dá aos crescentes dados de mortalidade materna e infantil → Nacionalidade ▪ Busca-se investigar a procedência da paciente de forma a realizar um rastreio por doenças típicas de algumas regiões, como malária, Doença de Chagas, esquistossomose, etc. ANAMNESE GERAL → Antecedentes familiares ▪ Questionar pela existência de dados mórbidos em graus de parentesco (ascendentes e colaterais), como D. mellitus, HAS, toxemias gravídicas, etc. ▪ Também questionar o parceiro, sobretudo pelas doenças de cunho genético, como malformações e doenças de caráter hereditário. Importante: na gemelidade dizigótica (gêmeos fraternos), considera-se a carga genética materna. → Antecedentes pessoais ▪ Questionar à gestante dados sobre: - Deambulação; - Condições de nutrição na infância: . Busca por raquitismo (doença que afeta a constituição óssea, principalmente a do quadril) e por outras doenças causadas por deficiências nutricionais. - Idade em que se iniciou a puberdade; - Idade em que se iniciou a menarca e se os ciclos eram regulares; → Antecedentes pessoais patológicos ▪ Questionar por: - Enfermidades anteriores, como poliomielite, cardiopatias, nefropatias, doenças ósseas, etc. - Cirurgias em que tenha se submetido: miomectomias, perineoplastias, etc. - Alergias, uso de drogas, asma, etc. ANAMNESE OBSTÉTRICA → Antecedentes obstétricos - Busca-se investigar, caso a paciente já tenha concebido/parido nas vezes anteriores por intercorrências, e devem ser descritas em ordem cronológica dos eventos. São exemplos: . Abortamentos . Neoplasia Trofoblástica Gestacional (NTG) . Prematuridade . Eclâmpsia ou Pré-eclâmpsia . Tipos de parto: * Normal OBSTETRÍCIA | Lucas Santana – MEDICINA UFMA * Por curetagem (“raspagem” do útero para remover resquícios da placenta após aborto ou parto normal) * Cesárea (questionar motivo e indicação) ▪ Gesta e Para: - Gesta refere-se à quantidade de gravidezes/concepções/gestações da paciente. São exemplos: . Nuligesta: a paciente nunca concebeu; . Primigesta ou primigrávida: primeira gravidez da paciente; . Multigesta ou multigrávida: aquela paciente que já concebeu múltiplas vezes; . Secundigesta, tercigesta e quartigesta: quando deseja-se ser mais preciso na quantidade de gravidezes. Também pode-se escrever com o algarismo romano seguido do nome “gesta”, como 0gesta, I gesta, IIgesta, IIIgesta, IVgesta e etc. - Para refere-se ao desfecho da gravidez, se foi o parto (a termo ou prematuro). São exemplos: . Paucípara: refere-se à paciente que pariu poucas vezes (até três partos); . Nulípara: refere-se à paciente que nunca pariu; . Secundípara, tercípara e quadrípara: também refere-se a uma descrição mais precisa, e também escreve-se com o algarismo romano seguido de “para”, como 0para, Ipara, IIpara, IIIpara, IVpara, etc. Atenção: esses termos referem-se apenas à quantidade de partos e gestações, mas nunca à quantidade de conceptos. Por exemplo, se uma mulher ficou grávida e pariu gêmeos pela primeira vez, ela será considerada com Igesta e Ipara; já se a outra teve dois abortamentos e está em curso de sua terceira gravidez, ela será considerada como IIIgesta e 0para. ▪ Paridade - Refere-se à quantidade de partos. Busca-se saber dos perigos para a mãe e para o concepto, que costumam ocorrer nas primíparas e as que pariram mais de quatro vezes. ▪ Intervalo interpartal - Refere-se ao intervalo de tempo entre o parto anterior e o atual, visto que os riscos reprodutivos são menores quando esse intervalo é de, no mínimo, de 2 anos. → Gravidez atual ▪ Considerando-se a gravidez atual, deve ser levado em consideração: - Data da última menstruação (DUM); - Determinação da idade gestacional (IG); - Data provável do parto (DPP); - Questionar se a gravidez foi planejada e se foi desejada; - Procura por sinais subjetivos (enjoo, etc.) e objetivos (movimentos e batimentos fetais e tempo de aparecimento na ausculta); - Questionar intercorrências clínicas (diabetes, etc.) e/ou obstétricas (eclampsia, etc.); - Questionar queda do ventre (acomodação da cabeça do bebê na bacia) e outros sinais proximidade do parto. EXAME FÍSICO GERAL Realiza-se, de forma sucinta, o exame do coração, pulmões, mamas e extremidades. EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO INSPEÇÃO – Sinais da gravidez → Cabeça ▪ Sinal de Halban - Em decorrência do metabolismo próprio da grávida, a nutrição dos folículos pilosos proporciona o aparecimento, próximo ao couro cabeludo, da lanugem (correspondem a pelos de espessura mais fina e clara que os cabelos). ▪ Cloasma ou máscara gravídica - Correspondem a pigmentações semelhante a manchas que aparecem na face da maioria das gestantes, principalmente nas regiões muito expostas à luz, como o nariz, região zigomática e frontal. - Tal alteração decorre de um exagero na produção de pigmento pelo hormônio melanotrófico. Dessa forma, deve-se OBSTETRÍCIA | Lucas Santana – MEDICINA UFMA recomendar à gestante que proteja-se da exposição excessiva à luz solar. → Pescoço ▪ Em decorrência de uma hipertrofia da glândula tireoide, o pescoço da gestante tende a aumentar sua circunferência em torno do 5º ou 6º mês. → Glândula mamária ▪ É possível perceber o aumento de volume das mamas na gravidez em consequência do “preparo” que as glândulas estão sofrendo para receber o momento da amamentação. A partir da 16ª semana, há secreção do colostro, que pode ser feito por meio da expressão da mama pela base na direção dos canais galactóforos. ▪ Também ocorre a acentuação da pigmentação da aréola primitiva e, com ela, o aparecimento da aréola secundária, que é menos pigmentada e com limites imprecisos, o que denomina-se de Sinal de Hunter. ▪ Na aréola primitiva, há o aparecimento dos Tubérculos de Montgomery, em número de 12 a 15, que contém duas naturezas: glândulas mamárias acessórias ou sebáceas, hipertrofiadas. Tais glândulas regridem no puerpério. ▪ Superficialmente à mama, também percebe-se uma trama venosa, de coloração azulada, que é denominada de Rede Venosa de Haller. Importante: o exame das mamas, além de diagnosticar a gravidez, também busca identificar malformações mamilares, como a umbilicação ou inversão, que podem trazer dificuldades ou incapacidade da amamentação. → Abdome ▪ Apresenta-se globoso, cuja cicatriz umbilical que antes continhauma depressão, torna-se plano ou até mesmo saliente. ▪ Nas mulheres primíparas, a musculatura abdominal tem uma boa capacidade de contenção do útero, mantendo-o em uma boa posição. Já nas multíparas, há o comprometimento da tonicidade, o que pode causar a diástase dos músculos retos anteriores, principal causa de distócias e vício pélvico, devido ao “desarranjo” do eixo do útero e do feto com o da bacia. ▪ Nas mulheres de pele mais escura, principalmente, há presença de uma linha no abdome que coincide com a liha mediana, denominada de linha nigra, que é resultante do crescimento do abdome. ▪ Também há presença das estrias ou víbices, que podem esmaecer no fim do ciclo gravídico- puerperal ou persistirem, como na maioria dos casos, podendo ser diferenciadas em: - “recentes”/da gravidez atual: possuem coloração violácea com o fundo azulado; - “antigas”: possuem coloração branca ou nacarada, com aspecto “cor de pérola”. OBSTETRÍCIA | Lucas Santana – MEDICINA UFMA Estrias “recentes” Estrias “antigas” → Membros inferiores ▪ Apresentam-se dilatados, com dilatação dos vasos sanguíneos por causa da gravidez ou varizes aumentadas. Nos períodos finais da gestação, observa-se frequentemente o edema. → Aparelho genital externo ▪ É observada uma hiperpigmentação cutânea perineal e perianal. ▪ A mucosa vaginal, por influência hormonal, mostra-se hiperpigmentada, tumefeita e com sua coloração alterada de rosa a violácea ou azulada, sendo perceptível primeiramente no vestíbulo e meato urinário, no qual se intensifica ao decorrer da gravidez. Esse sinal é conhecido como Sinal de Chadwick-Jacquemier. PALPAÇÃO Busca-se investigar o útero e o seu conteúdo. → Altura uterina ou altura de fundo uterino (AFU) ▪ É estimada buscando reconhecer a resistência óssea do pube e delimitando, sem comprimir, o fundo do útero, com a borda cubital da mão. ▪ Utiliza-se a fita métrica a fim de estabelecer o comprimento do arco (pube até fundo uterino) para assim realizar o cálculo da idade da gravidez, acompanhar o crescimento fetal, suspeitar de gemelidade e do excesso de líquido amniótico (polidramnia). → Circunferência abdominal ▪ É avaliada através do nível da circunferência umbilical, no qual, na gestante, mede por volta de 90 a 92cm, em mulher não obesa. → Consistência uterina ▪ Possui característica elástica-pastoso-cística em decorrência do amolecimento da parede uterina, quantidade de líquido amniótico e sua maior ou menor tensão. ▪ Torna-se perceptível também as contrações de Braxton-Hicks, conhecidas como “treinamento uterino para o parto”, no qual a musculatura uterina pode encontrar-se tensa por um curto período de tempo. → Regularidade da superfície uterina ▪ A palpação proporciona a percepção de uma superfície lisa e regular do útero ou com a presença de nódulos, que podem denunciar a presença de tumores miomatosos. Deve-se tomar cuidado para não confundir com a palpação das pequenas partes fetais, como pés, joelhos e cotovelos. → Conteúdo uterino ▪ Tem como objetivo de reconhecer a apresentação e posição do feto ali contido, e investiga-se através de 4 fases (manobras de Leopold-Zweifel): - Primeira manobra de Leopold-Zweifel - busca pela apresentação fetal: . Delimita-se o fundo uterino com ambas as mãos deprimindo a parede abdominal com as bordas cubitais; . As mãos posicionam-se curvadas a fim de as palmas das mãos reconheça o contorno do fundo uterino e a parte fetal que ocupa; . Na maioria dos casos, encontra-se o polo pélvico (“bumbum do bebê”. Logo, a apresentação será cefálica), com característica mais volumosa, esferoide, superfície irregular, resistente mas redutível. Às vezes também se percebe as cristas ilíacas como duas proeminências. OBSTETRÍCIA | Lucas Santana – MEDICINA UFMA . Caso seja encontrado o polo cefálico (cabeça. Logo a apresentação será a pélvica), verifica-se um corpo de superfície regular, resistente e irredutível, podendo-se perceber a parte frontal e a occipital. Se houver uma quantidade suficiente de líquido, é possível perceber o “rechaço”: * O rechaço simples consiste num súbito impulso, com uma das mãos, ao polo cefálico que, quando deslocado, desaparece. * O rechaço duplo ocorre quando ele volta à posição inicial, percebido pela palpação. . Também verifica-se o rechaço “jogando” um polo contra o outro. O rechaço mais nítido com a cabeça, pois a coluna vertebral lhe confere tal qualidade. - Segunda manobra de Leopold – busca pela posição fetal . Deslizam-se as mãos do fundo uterino, seguindo as laterais, até o seu polo inferior, visando sentir o dorso do feto e suas pequenas partes, como pés, mãos e cotovelos. . A fim de auxiliar na busca da posição, uma mão pode fazer uma compressão de um lado “empurrando”, enquanto a outra desliza, na busca do dorso fetal, e assim, com o lado oposto. . O dorso fetal apresenta-se como uma superfície convexa no sentido transversal, resistente e contínua e plana no sentido longitudinal. . Caso o dorso esteja voltado para trás, estará em contato com a superfície uterina as pequenas partes fetais. - Terceira manobra de Leopold ou Pawlick – observação da mobilidade fetal . Visa explorar a mobilidade do polo inferior em relação ao estreito superior da bacia. . Procede-se apreendendo o polo inferior entre os dedos polegar e médio da mão direita, no qual será imprimido movimentos de lateralidade, que indicam o grau penetração e apresentação na bacia. . Quando a apresentação está alta e móvel, o polo balança de um lado para o outro. - Quarta manobra de Leopold – exploração da escava (estreito superior da bacia) . De costas para a paciente, deve-se posicionar as mãos sobre as fossas ilíacas, caminhando em direção ao hipogástrio (afastadas 10cm uma da outra). . Com as pontas dos dedos, procura-se adentrar a pelve e, dessa forma, é verificado se o polo ali tocado é o cefálico (preenche completamente a escava; menor, liso, consistente e irredutível) ou o pélvico (preenche parcialmente a escava; é maior, irregular, amolecido e que se deixa deprimir). . Na apresentação córmica (situação transversa) o feto encontra-se “atravessado” no útero e, logo, a escava se encontrará vazia. . Também pode se realizar o diagnóstico de atitude de flexão ou deflexão da cabeça do feto: * Na atitude de flexão, o queixo está “encostado” no manúbrio do esterno, formando uma curvatura contínua do dorso com a cabeça; * Na atitude de deflexão (apresentação de face, grau III), o feto encontra-se com a cabeça voltada para trás, ou seja, com o seu occipital “encostando” no dorso, formando uma curvatura (dorso), seguido de uma depressão (local do occipital/dorso) e uma outra curvatura (cabeça). OBSTETRÍCIA | Lucas Santana – MEDICINA UFMA AUSCULTA ▪ Busca-se ouvir pelos batimentos cardiofetais (bcf) são auscultados por volta da 20ª-24ª semanas, com o estetoscópio de Pinard ou por volta da 10ª- 14ª semanas através do sonar de Doppler. ▪ Os batimentos fetais apresentam-se normalmente em torno de 120-160bpm, e em média, 140bpm. Já o da mãe, encontra-se por volta de 60-80bpm e, dessa forma, os batimentos da mãe e do feto nunca são isócronos em condições normais. ▪ Além disso, em diferença às revoluções cardíacas no adulto, com uma sístole e uma diástole, as revoluções fetais são únicas. ▪ A partir do foco máximo de ausculta, que corresponde ao local onde os batimentos são facilmente audíveis. Isso se deve ao fato de o coração fetal (localizado aproximadamente na quarta vértebra dorsal) estar próximo da região auscultada. A auscultavaria de acordo com a apresentação fetal, que pode ser: - Cefálica: os batimentos serão audíveis nos quadrantes inferiores direito ou esquerdo; - Pélvica: os batimentos serão audíveis nos quadrantes superiores direito ou esquerdo; - Córmica: os batimentos serão audíveis a nível da cicatriz umbilical. ▪ Na gravidez gemelar, será notado dois focos, no qual cada um pertence ao feto distinto. A partir disso, percebe-se que os batimentos não são sincrônicos, e que eles têm uma diferença de 10- 15bpm. Na busca pelos batimentos de cada feto, ao deslizar o estetoscópio, será ouvido uma zona de silêncio, como também pode ser ouvido um ritmo em quatro tempos, que correspondem ao Sinal de Arnoux. ▪ Nos casos em que os batimentos fetais e maternos forem sincrônicos, há indicação de sofrimento fetal. Já quando há ausência de batimentos, deve- se suspeitar de morte fetal, mas nunca fechar tal diagnóstico, pois deve-se averiguar tal afirmação através do sonar-doppler e ultrassonografia. TOQUE VAGINAL ▪ A paciente, em posição de litotomia, com a bexiga e o reto esvaziados, se possível, faz-se uso do toque vaginal unidigital, bidigital (mais comum) ou manual (em casos excepcionais). Deve-se ter o cuidado de realizar a lavagem correta das mãos e o uso de luvas esterilizadas, assim como os procedimentos de assepsia e antissepsia. ▪ Inicialmente, o toque vaginal permite diagnosticar a gravidez, pois identifica-se o volume uterino, quando este não encontra-se evidente à palpação. ▪ Nas proximidades do parto, avalia a posição do colo, as relações de apresentação e as características do trajeto ósseo. ▪ No decorrer do trabalho de parto, torna-se fundamental para diagnosticar seu início, acompanhar a dilatação cervical, progressão fetal, etc.
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