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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 DEFINIÇÃO DE PERSONALIDADE ........................................................... 4 2.1 Definição de transtorno de personalidade ............................................ 6 3 TEORIA DE PERSONALIDADE DE AARON BECK ................................... 7 3.1 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade ................... 9 3.2 Critério Atuais: DSM 5 e CID -10 ........................................................ 12 4 PERFIS COGNITIVOS ESPECÍFICOS..................................................... 13 5 TERAPIA COGNITIVA FOCADA EM ESQUEMAS .................................. 26 5.1 Os esquemas e sua biologia .............................................................. 37 5.2 Modos esquemáticos.......................................................................... 40 5.3 O Modelo Cognitivo das Psicopatologias ........................................... 44 5.4 Esquemas e Crenças ......................................................................... 45 5.5 Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) .......................................... 47 5.6 Esquemas iniciais desadaptativos (EIDs) e Distorções cognitivas ..... 50 5.7 Processos do Esquema .................................................................... 51 5.8 As respostas de enfrentamento do esquema ..................................... 52 6 NEUROBIOLOGIA DOS ESQUEMAS PRIMITIVOS ................................ 54 7 ESQUEMAS MENTAIS ............................................................................. 56 8 ESTRATÉGIAS EXPERIENCIAIS EM TERAPIA DO ESQUEMA ............. 59 9 RELAÇÃO TERAPÊUTICA ....................................................................... 64 10 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 77 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. 4 2 DEFINIÇÃO DE PERSONALIDADE Fonte: agazetadoacre.com A origem da palavra personalidade vem do grego persona, que se refere as máscaras usadas pelos atores do teatro grego clássico, identificando o personagem. A palavra personalidade tem seu papel na descrição da identidade do indivíduo, conjunto único que diferencia um indivíduo de outro, atualmente a personalidade vai além dos propósitos de identificação e descrição de pessoas e preocupa-se também com sua função e estrutura, ela é uma interface para o relacionamento do sujeito com o ambiente e a sociedade, particularmente importante para as relações interpessoais, conforme NETO H; (2017). Cattel, durante a década de 1940, dividiu a personalidade em cinco grandes fatores, esses que ao decorrer de vários anos continuaram imutáveis, são eles o Neuroticismo (agrega os traços associados à expressão de afetos negativos e à instabilidade emocional), Extraversão (reúne os traços associados à expressão de afetos positivos, busca interação com o meio e com seus semelhantes), Conscienciosidade (descreve traços associados à adoção de escrúpulos morais, sentimentos de responsabilidade e preocupação com o futuro em oposição a um espirito livre, inconsequente e impulsivo), Cordialidade (representa o conjunto de traços que caracterizam a afabilidade, a tolerância e a cooperação em contraste com a agressividade e a competitividade) e a Abertura (reúne os traços que representam 5 facilidade para aceitar novas ideias e raciocínio não convencional em oposição ao conservadorismo e ao apego às tradições), conforme NETO H; (2017). Gray e Eysenck, durante as décadas de 1960 a 1970, defendem o modelo psicobiológico. Gray defende dois pilares para a personalidade de um indivíduo, inibição e de iniciação do comportamento. Eysenck com um pensamento semelhante, descreveu um fator de inibição ligado aos afetos negativos (neuroticismo) e outro de iniciação ligado aos afetos positivos (extraversão /extroversão), conforme NETO H; (2017). Futuramente se nota a emergir um fator não-independente dos afetos e relacionado à impulsividade e à não conformidade as regras (psicoticismo). Assim nasce o modelo tri-fatorial, uma base sólida na teoria psicobiológica da personalidade, três pilares, que conduzem e definem nossas expressões afetivas e reações comportamentais em um padrão de respostas emocionais, preferências e comportamentos motivados, conforme NETO H; (2017). Apesar de um modelo forte, ambas as teorias apresentam falhas, havendo a necessidade de uma nova teoria, na qual houvesse uma integração das duas, foram realizadas revisões onde Cloninger, Waller e Telengen se destacam, criando a visão moderno sobre a personalidade, dividindo-se em temperamento (porção que reúne as disposições inatas do indivíduo, que tem determinação predominantemente genética e estabilidade temporal), oposição ao caráter (condição que reúne traços derivados do aprendizado conceitual, moldado ao longo do desenvolvimento biográfico e que apresentam maior flexibilidade temporal, conforme NETO H; (2017). De acordo com NETO H; (2017), a maioria dos modelos atuais, contempla três fatores de temperamento e três fatores de caráter. 6 Fonte: faceres.com.br (Modelo de personalidade: fatores de temperamento e caráter). 2.1 Definição de transtorno de personalidade Kraepelin, acreditava que na personalidade residia os fatores pré - morbidos dos transtornos psiquiátricos. Sua teoria defendia que haveria manifestações ao longo do desenvolvimento, mesmo que sutis, marcando um ponto de fragilidade, podendo se manifestar caso um agente ou contexto atuassem nesse ponto. Kraepelin acreditava que os transtornos de personalidade (TP), derivava de um continuum, onde a personalidade normal, o TP e a doença mental, estariam alinhadas, avançando do normal ao patológico, "uma perspectiva dimensional de que os transtornos da personalidade representam variantes mal-adaptativas de traços de personalidade que se fundem imperceptivelmente com a normalidade e entre si." (DSM-V), conforme NETO H; (2017). Com o surgimento da psicanálise e o behaviorismo, nos dois terços iniciais do sec. XX, conflitos com o próprio conceito de personalidade surgiram. Porem a consolidação clínica e teórica dos TPs surgiram, posteriormente, com Kurt Schneider, comprometido com a fenomenologia na década de 1970. Schneider definiu o conceito de personalidade anormal, que se difere de uma personalidade normal quantitativamente e de maneira extrema em algumas de suas características. Essa definição só se tornaria patológica se o indivíduo não fosse capaz de ajustar esse extremismo de sua personalidade ao meio, levando o mesmo ao sofrimento ou 7 sofrimento de outras pessoas ao seu redor, sendo assim definida a personalidade psicopática, conforme NETO H; (2017). A partir do DSMIIIem 1980, se atribuiu o conceito de TP ao construto de personalidade instituído por Schneider, até os dias atuais, com algumas modificações em edições futuras do DSM. Schneider optou por uma abordagem prototípica, diferente das classificações atuais que usam critérios operacionais, descrevendo dez perfis, conforme NETO H; (2017). A definição de acordo com o DSM-V: "Um transtorno da personalidade é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo”, conforme NETO H; (2017). 3 TEORIA DE PERSONALIDADE DE AARON BECK Fonte: amenteemaravilhosa.com.br No âmbito da Terapia Cognitiva busca-se entender a relação do que chamamos de personalidade com a adaptação do indivíduo ao meio. Nesse sentido, o entendimento da personalidade não pode prescindir das teorias sobre herança filogenética. Obviamente, assim como ocorreu com todas as espécies, as estratégias que favoreceram a sobrevivência e a reprodução foram mantidas pela seleção natural. 8 Tais estratégias, pensando agora na espécie humana, contribuíram para que nós chegássemos até aqui. Que tivéssemos um domínio razoável da natureza, podendo manipulá-la, até certa medida, a nosso favor. O fato é que estratégias que favoreceram a sobrevivência e a reprodução devem estar na base do que chamamos personalidade, conforme MARTINS P; (2010). A discussão sobre personalidade dentro da Teoria Cognitiva avança desde estratégias baseadas na evolução, até uma consideração de como o processamento da informação, incluindo processos afetivos, antecede a operação destas estratégias (Beck & Freeman, 1993 apud MARTINS P; 2010). Uma vez que a demanda ambiental surja, o indivíduo avalia as necessidades específicas para lidar com tal demanda e automaticamente aciona uma estratégia que pode ou não ser adaptativa ao contexto. Para Beck, Shaw, Rush e Emery (2005 apud MARTINS P; 2010) a maneira como é avaliada uma situação depende, pelo menos em parte, das crenças relevantes subjacentes, as quais estão integradas em estruturas mais ou menos estáveis, denominadas “esquemas”, que selecionam e sintetizam informações. A sequência psicológica progride, pois, da avaliação para a estimulação afetiva e motivacional e, finalmente, para a seleção e implementação da estratégia relevante. A abordagem Cognitiva considera os esquemas como sendo as unidades fundamentais da personalidade. E a define como uma organização relativamente estável, composta de sistemas e moldes. Sistemas de estruturas (esquemas) interconectadas respondem pela sequência que se estende desde a recepção do estímulo até o ponto final da resposta comportamental, conforme MARTINS P; (2010). Segundo Beck et., al (2005 apud MARTINS P; 2010) traços de personalidade identificados por adjetivos tais como “dependente”, “isolado”, “arrogante” ou “extrovertido” podem ser conceitualizados como sendo a expressão manifesta dessas estruturas subjacentes. Por sua vez, os padrões comportamentais que atribuímos aos traços (honesto, tímido, comunicativo), representam as estratégias interpessoais desenvolvidas a partir da interação entre padrões genéticos e o ambiente. Todos os perfis de personalidade teriam sua raiz na história evolutiva de nossa espécie que, assim como todas as outras, sofreram os efeitos da seleção natural, permanecendo no ambiente os representantes de cada uma delas que fossem mais aptos a se manter vivos e reproduzir. O que chamamos de perfis de personalidade então, são o produto de estratégias mais eficazes que favoreceram a evolução da espécie humana (Beck & Freeman, 1993 apud MARTINS P; 2010). 9 O comportamento dramático que acaba por chamar a atenção na personalidade histriônica, pode ter suas raízes em ritos de exibição em animais não- humanos; o antissocial, no comportamento predatório, e o dependente no comportamento de apego observado em todo o reino animal, (Beck & Freeman, 1993 apud MARTINS P; 2010). Todos os outros perfis têm correspondência em comportamentos que foram e muitas vezes ainda são extremamente importantes para a adaptação do indivíduo. Para Beck et al. (2005 apud MARTINS P; 2010) embora os organismos não tenham consciência do objetivo último dessas estratégias biológicas, eles a têm dos estados subjetivos que refletem seu modo de operação: fome, medo, estimulação sexual e recompensas ou punições. Todas elas orientadas para garantir a sobrevivência e a reprodução, ou seja, contribuindo para a adaptação do organismo. 3.1 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade Partindo da ideia de que os perfis de personalidade são resultado de estratégias que foram importantes para a adaptação da espécie ao ambiente, resta responder como surgem os transtornos da personalidade. Estratégias que favoreceram a adaptação do indivíduo são também a base para Psicopatologias. Mais precisamente, neste caso, de transtornos da personalidade, conforme MARTINS P; (2010). Uma vez que os esquemas, essas estruturas que estariam na base da personalidade de cada um de nós, têm características estruturais como amplitude (estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação), e densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são energizados), pode-se afirmar que os esquemas nos transtornos de personalidade, seriam amplos, rígidos, densos e hipervalentes, conforme MARTINS P; (2010). Uma vez hipervalentes, os esquemas são facilmente ativados, mesmo que o estímulo seja inócuo. Esses esquemas inibem outros esquemas mais adaptativos ou mais apropriados e introduzem um viés sistemático no processamento da informação (Beck & Davis 2005 apud MARTINS P; 2010). Apesar da semelhança entre os esquemas dos transtornos de personalidade e os das síndromes sintomáticas, os primeiros operam sobre o processamento de informação em uma base mais contínua. 10 Um esquema no transtorno de personalidade será ativado quase sempre e será parte do processamento da informação, normal e cotidiano, do indivíduo. Atualmente, existem 10 transtornos da personalidade específicos catalogados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017), onde podem ser descritos e caracterizados conforme as suas características diagnósticas, desenvolvimento e curso, prevalência, fatores de riso, prognóstico, questões diagnósticas relativas à cultura e ao gênero e diagnóstico diferencial. São eles: transtorno da personalidade paranoide, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade esquizoide, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade esquizotípica, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade antissocial, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade borderline, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade histriônica, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade narcisista, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade evitativa, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade dependente, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, conforme OLIVEIRA B; et al., (2017). Segundo o DSM (APA, 2002 apud MARTINS P; 2010) o traço de personalidade é um padrão persistente de perceber, relacionar-se com e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo, que se manifesta em vários contextos sociais e pessoais. Esses traços, quando inflexíveis e desadaptativos, causam mal-estar subjetivo e prejuízo funcional significativo, caracterizando assim um transtorno de personalidade.11 Portanto, a personalidade humana considerada dentro da normalidade é constituída de vários traços (BECK; DAVIS; FREEMAN, 2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). Estes traços possuem características que influenciam diretamente uma variedade considerável de indicadores nos níveis individual, interpessoal e social, dentre eles: escolha, satisfação e desempenho profissionais; qualidade das relações familiares, amorosas e com colegas; felicidade, saúde física e psicológica; espiritualidade e identidade; envolvimento na comunidade, atividade criminosa e ideologia política. (OZER, 2006 apud MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). Dados sugerem que cerca de 15% dos adultos dos Estados Unidos apresentam no mínimo um transtorno de personalidade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017) define um transtorno da personalidade como: [...] um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo. (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p.684 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). Os transtornos da personalidade estão entre os transtornos mentais mais difíceis de diagnosticar e, principalmente, tratar. Isso se dá pela própria natureza dos sintomas, que são pouco diferenciados, com uma fronteira menos nítida com a normalidade e precisam ser avaliados em diversos contextos e de forma longitudinal. Outra dificuldade é a resistência para uma avaliação e posterior tratamento clínico especializado, pela maioria das características diagnósticas serem egossintônicas, o que faz com que o indivíduo tenha um insight pobre sobre si e suas dificuldades, considerando-as como parte do “seu jeito de ser”. (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). Pessoas com este tipo de transtorno pagam um preço significativo em suas vidas, pois suas relações sociais são diretamente afetadas. Beck, Davis e Freeman (2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017) apontam que pessoas com transtornos da personalidade têm sido descritas com palavras que denotam rotulação e permanência dos sintomas, como por exemplo: difícil, problemático e intratável. 12 3.2 Critério Atuais: DSM 5 e CID -10 A décima edição da Classificação Internacional de Doenças (CID -10) (OMS, 1992 apud MARTINS R; 2019), da Organização Mundial da Saúde, considera três categorias de transtorno de personalidade de ordem etiológica: transtornos específicos de personalidade (F60); alterações permanentes de personalidade, não atribuíveis a lesão ou doença cerebral (F62); e transtornos decorrentes de doença, lesão e disfunção cerebrais (F07); caracterizados pela mudança de personalidade em decorrência de acidentes vascular cerebral, tumores, quadros epiléticos, traumatismos entre outras, conforme MARTINS R; (2019). Os transtornos específicos da personalidade seriam consequência da constituição ambiental cujo critério desadaptativo está relacionado a padrões rígidos, comportamentais e cognitivos de ordem interpessoal e social, que sistematicamente afastaria do conceito mediano estabelecido em determinada cultura, conforme MARTINS R; (2019). Na CID 10 está relacionado a possibilidade de sujeitos sem transtorno prévio, sofrer permanente alteração comportamental em atributos característicos de sua personalidade, após doença psiquiátrica (F 62.0), ou na interpretação subjetiva de situação catastróficas (F 62.1); no DSM 5 o modelo encontra-se semelhante ao CID 10, porém considera a modificação da personalidade como parte integrante a uma condição médica geral (310.1), conforme MARTINS R; (2019). 13 4 PERFIS COGNITIVOS ESPECÍFICOS Fonte: repositório.com - AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 - Critérios Gerais para Transtorno da Personalidade. De acordo com GOMES A; (2019), o diagnóstico de um transtorno de personalidade precisa ser feito baseado em duas determinações: 1) uma avaliação de nível de prejuízo da personalidade, sendo essencial para o Critério A; conforme GOMES A; (2019) 2) uma avaliação dos traços de personalidade patológicos, necessária para o Critério B. Os prejuízos no funcionamento da personalidade e a manifestação dos traços de personalidade são relativamente flexíveis e difusos, dentro de uma ampla faixa de situações, sendo abordado pelo Critério C; sendo estáveis ao longo dos anos, tendo seu início na adolescência (pelo menos) ou início da idade adulta (Critério D); não são melhor explicados por outro transtorno mental (Critério E); não estão relacionados com os efeitos de alguma substância ou condição médica (Critério F); e não são bem entendidos como normais para o estágio do desenvolvimento de um indivíduo ou para seu ambiente sociocultural (Critério G). Qualquer transtorno de personalidade da Seção III satisfazem esses critérios gerais, assim como os TP-ET (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud GOMES A; 2019). 14 Transtorno de personalidade evitativo/esquiva: De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), pessoas portadoras do transtorno evitativo de personalidade possuem o seguinte conflito- chave: elas gostariam de aproximar-se de outras pessoas e de conseguir desenvolver todo o seu potencial intelectual e vocacional, mas temem ser magoadas, rejeitadas ou fracassar. A visão que têm de si é que são vulneráveis à depreciação e à rejeição, que são socialmente incapazes e incompetentes. A visão que têm dos outros é que eles são críticos, depreciadores e superiores. Suas principais crenças podem ser vistas como: “é terrível ser rejeitado, rebaixado”, “se as pessoas conhecerem meu verdadeiro eu, me rejeitarão”, “não consigo tolerar sentimentos desagradáveis”, conforme OLIVEIRA D; (2009). De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: evitar situações sociais; evitar chamar a atenção sobre si mesmo; evitar revelar-se aos outros; desconfiar dos outros e evitar emoções negativas. As estratégias compensatórias subdesenvolvidas desse transtorno são aproximar-se dos outros; confiar na motivação positiva dos outros; procurar intimidade; pensar sobre situações e problemas perturbadores. Cramer, Torgersen e Kringlen (2006 apud OLIVEIRA D; 2009), em um estudo populacional sobre personalidade e qualidade de vida, mostraram que indivíduos com transtorno evitativo tiveram uma redução forte e ampla de qualidade de vida; esses autores descobriram que pacientes com transtorno evitativo tiveram pior ajustamento social e profissional comparativamente àqueles pacientes que apresentavam fobia social; os dados da pesquisa mostram que, quanto maior a pontuação apresentada no escores do transtorno evitativo, pior a qualidade de vida da pessoa, especialmente nas relações interpessoais, o que evidencia a dificuldade em lidar com o outro. Transtorno dependente de personalidade: De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), as pessoas com transtorno dependente de personalidade veem a si mesmas como indefesas e, portanto, tentam vincular-se a alguma figura mais forte, que lhes ofereça recursos para sua sobrevivência e felicidade. 15 Têm uma visão de si como carentes, fracas, indefesas e incompetentes; uma visão idealizada dos outros como provedores, apoiadores e competentes; suas principais crenças são: “necessito das pessoas para sobreviver, ser feliz”, “necessito de um fluxo contínuo de apoio e de encorajamento”; sua principal estratégia seria cultivar relacionamentos de dependência, conforme OLIVEIRA D; (2009). De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRAD; 2009), as estratégias compensatórias tanto hiperdesenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: confiar nos outros; evitar decisões; evitar resolver problemas com independência; tentar fazer os outros felizes; ser subjugadas por outros; ser tímida e submissa, conforme OLIVEIRA D; (2009). Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: resolver problemas com independência; tomar de cisões; manter seu ponto de vista perante os outros, conforme OLIVEIRA D; (2009). Os dados do estudo de caso descrito por Zanin e Valerio (2004 apud OLIVEIRA D; 2009) corroboram com os critérios da APA (2003 apud OLIVEIRA D; 2009) descrito no Quadro acima, em que a paciente estudada apresenta comportamentos de briga, dependência e esquiva baseados na sua percepção distorcida acerca de situações de insegurança em contexto social e a relacionamentos afetivo e interpessoal. Esses autores pontuam que o processo cognitivo disfuncional da paciente demonstra estar relacionado com sua história de vida, desenvolvimento de suas crenças centrais (sou incapaz; não consigo fazer nada sozinha; ...não sou amada...) e suas características compensatórias: solicitar aos outros para reassegurar que gostem dela; fazer tudo o que os outros pedem; solicitar aos outros que a ajudem no enfrentamento das dificuldades e esquivar- se de situações sociais e de desempenho, conforme OLIVEIRA D; (2009). Transtorno obsessivo-compulsivo de personalidade: O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) está incluído no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM) entre os transtornos de ansiedade. O seu início é gradual, uma vez em que ele esteja estabelecido, na maioria dos indivíduos irá ter um curso crônico de 16 vaivém dos sintomas, tendo a sua piora quando relacionados ao estresse (MARTINS, 2010 apud OLIVEIRA D; et al., 2011). As causas do TOC podem ser várias, porém tem dois fatores que estão quase sempre presentes, um componente hereditário e conflitos internos, que podem ser por fatores de natureza psicológica que surgem depois de algum estresse psicológico, conflitos psíquicos que vão agravando os sintomas. Manifesta sob a forma de alterações do comportamento dos pensamentos e das emoções. Caracterizado pela presença de obsessões e compulsões, conforme OLIVEIRA D; et al., (2011). As obsessões são ideias, imagens, impulsos, pensamentos que invadem a mente de forma repetitiva, persistente e estereotipada que causam ansiedade e podem ser seguidos ou não de rituais (GONZALEZ, 1999 apud OLIVEIRA D; et al., 2011). As mesmas são criadas a partir de qualquer substrato da mente, tais como palavras, medos, preocupações, memórias, imagens e músicas. A pessoa tenta resistir a eles, ignorá-los ou suprimi-los com ações ou com outros pensamentos, reconhecendo-os, no entanto, não consegue controla-los. Os sintomas costumam iniciar antes dos 25 anos de idade, frequentemente na infância ou adolescência, conforme OLIVEIRA D; et al., (2011). Os sintomas obsessivos mais comuns são: medo de contaminar-se por germes, imaginar que tenha ferido ou ofendido outras pessoas, imaginar-se perdendo o controle, realizando violentas agressões ou até assassinatos, pensamentos sexuais urgentes e intrusivos, dúvidas morais e religiosas e pensamentos proibidos conforme OLIVEIRA D; et al., (2011). As compulsões por sua vez podem ser caracterizadas por comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, que a pessoa é levada a executar em resposta a uma obsessão ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os comportamentos ou atos mentais são destinados a prevenir ou reduzir a aflição gerada pela obsessão (CAMPOS et al., 2000 apud OLIVEIRA D; et al., 2011). De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias tanto hiperdenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: 17 De acordo com OLIVEIRA D; (2009) Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: controlar rigidamente a si mesmo e aos outros; criar expectativas exageradas; assumir muita responsabilidade; buscar a perfeição. Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: delegar autoridade; desenvolver expectativas flexíveis, exercitar controle somente quando apropriado; tolerar indecisões; agir espontaneamente e impulsivamente; procurar lazer e atividades agradáveis. Gallagher, South e Oltmanns (2003 apud OLIVEIRA D; 2009) em um estudo, verificaram que indivíduos com transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo (TPOC) possuem intolerância de incerteza; dificuldade na tomada de decisão; categorização; necessidade de repetição. Em um esforço constante para manter a ansiedade sob controle, esses indivíduos, presumivelmente, esforçam- se para manter um senso de controle e domínio das suas vidas. Isso corrobora com os dados da APA (2003 apud OLIVEIRA D; 2009) de que o estilo cognitivo do TPOC (preocupação com os detalhes, cognitiva rigidez pode facilitar uma sensação de controle. Transtorno paranoide de personalidade Conforme GOMES A; (2019), padrão de desconfiança e de suspeita tamanhas que as motivações dos outros são interpretadas como malévolas. De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), a palavra-chave para esse transtorno é a “desconfiança”, essa personalidade adota essa postura na maioria, ou em todas as situações. Pessoas com esse transtorno possuem uma visão de si mesmas como sendo indivíduos corretos, inocentes, nobre e vulnerável; uma visão das outras como pessoas como interferentes, maliciosas, discriminadoras e abusivas. Suas principais crenças são: “os motivos são suspeitos”, “esteja em guarda”, “não confie”. De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias tanto hiperdesenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: ser hipervigilante ao perigo; não confiar em ninguém; supor motivações obscuras; ter expectativas de ser manipulado, enganado e inferiorizado, conforme OLIVEIRA D; (2009). 18 Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: confiar nos outros; relaxar; cooperar; acreditar em boas intenções, conforme OLIVEIRA D; (2009). Cramer, Torgersen e Kringlen (2006 apud OLIVEIRA D; 2009), em um estudo populacional sobre personalidade e qualidade de vida, observaram que indivíduos com altas pontuações no transtorno paranoide mostraram reduções fortes e amplas na qualidade de vida. Concluíram que, quanto mais a pessoa apresentava ideação paranoide, pior a qualidade de vida. Sastre, Vinsonneau, Chabrol e Mulle (2005 apud OLIVEIRA D; 2009) correlacionaram respostas do transtorno paranoide com alto nível de neuroticismo, indicando ansiedade e desajustamento emocional. Transtorno antissocial de personalidade O transtorno apresenta dificuldades características na identidade, no auto direcionamento, na empática e/ou na intimidade. Associado existe a presença de traços mal adaptativos específicos nos domínios do Antagonismo e da Desinibição personalidade, conforme GOMES A; (2019). De acordo com PEREIRA, M. L.; et al., (2012) transtorno de personalidade, usualmente vindo de atenção por uma disparidade flagrante entre o comportamento e as normas sociais predominantes, e caracterizado por: Indiferença insensível pelos sentimentos alheios, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). Atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito por normas, regras e obrigações sociais, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). Incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja dificuldade em estabelecê-los, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). Muito baixa tolerância à frustração e um baixo limiar para descarga de agressão,incluindo a violência, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). Incapacidade de experimentar culpa ou de aprender com e a experiência, particularmente punição, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). 19 Propensão marcante para culpar os outros ou para oferecer racionalizações plausíveis para o comportamento que levou o paciente a conflito com a sociedade, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). Pode também haver irritabilidade persistente como um aspecto associado. Transtorno de conduta durante a infância e à adolescência, ainda que não invariavelmente presente, pode ser maior suporto ao diagnóstico (OMS, 1993, p. 199- 200 apud PEREIRA, M. L.; et al., 2012). Morana, Stone e Abdalla-filho (2006 apud PEREIRA, M. L.; et al., 2012), caracterizam o antissocial pela insensibilidade aos sentimentos alheios e apontam que quando o grau dessa insensibilidade se apresenta elevado, o portador pode adotar um comportamento criminal recorrente definindo assim a consequência em assumir uma psicopatia. De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias compensatórias tanto hiperdenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: mentir; manipular ou levar vantagem sobre os outros; ameaçar ou atacar os outros; resistir ao controle dos outros; agir impulsivamente, conforme OLIVEIRA D; (2009). Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: cooperar com os outros; seguir regras sociais; pensar sobre as consequências. Uma característica essencial do Transtorno de Personalidade Antissocial é a impulsividade, que poderia ser definida como uma tendência para escolhas de comportamentos que são arriscados, mal adaptados, pobremente planejados e prematuramente executados. Estudos epidemiológicos mostram que esse transtorno é comum, com 2% a 3% de comportamentos de risco durante a vida, causando sofrimento social significativo, como desagregação familiar, criminalidade e violência, (Del-Bem, 2005 apud OLIVEIRA D; 2009). Transtorno narcisista de personalidade O perfil narcisista engloba as pessoas que possuem um sentimento grandioso de sua própria existência. Assim como no transtorno histriônico, essas pessoas buscam por atenção exacerbada e geralmente exploram suas relações para benefício próprio (MAFFINI; CASSEL, 2020 apud FERNANDES J; 2020). Ainda há uma lacuna 20 teórica no que se refere à relação entre a personalidade narcisista e a criminalidade, havendo poucos estudos e dados que tratam sobre a temática. Em comum com a personalidade antissocial, uma das principais características da personalidade narcisista que interessa ao Direito Penal é a falta de empatia. A ausência dessa característica é um ponto relevante que diferencia os portadores do narcisismo das pessoas comuns (OLIVEIRA, 2017; LAGOS; SCAPIN, 2017; MAFFINI; CASSEL, 2020; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). Outro aspecto similar entre a personalidade narcisista e a antissocial é que seus portadores são centrados em si mesmos, com expectativas irracionais de que devem ser tratados de forma especial. São indivíduos exploradores em suas relações pessoais, sendo capazes de tirar vantagens dos outros para atingir seus benefícios e desejos próprios (OLIVEIRA, 2017; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). Em face da existência de condutas inadequadas e pensamentos distorcidos na personalidade narcisista, caso seu portador esteja envolvido em algum ato ilícito, as características de sua personalidade devem ser analisadas pelo médico capacitado, para averiguar o grau de interferência na sua saúde mental (LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; BRASIL, 1940; GABRIEL et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). No transtorno de personalidade narcisista, a terapêutica é essencialmente psicoterápica. Diferentes modalidades podem ser utilizadas, mas as principais são: psicanálise, terapia interpessoal, terapia cognitiva, terapia cognitiva comportamental, treinamento de habilidade, terapia baseada na mentalização e terapia em grupo. Um plano terapêutico deve ser elaborado e reavaliado com o tempo, envolvendo o paciente e aqueles com quem se relaciona, conforme FERNANDES J; (2020). A abordagem farmacológica deve ser sintomática, conforme o quadro apresentado (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2018; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: exigir tratamento especial; ser hipervigilante ao tratamento comum (ou normal); punir os outros quando se sentirem insultados, diminuídos, disfóricos. Criticar, inferiorizar as pessoas, tentar competir e controla-las; tentar impressionar as pessoas com posses materiais, conquistas e amizades com pessoas de alto nível social, conforme OLIVEIRA D; (2009). 21 Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: cooperar com os outros para alcançar um objetivo comum; trabalhar assiduamente, passo a passo, para alcançar as metas pessoais; tolerar inconveniências, frustrações, não reconhecimento; satisfazer as expectativas dos outros sem grande benefício para si próprio. Alguns estudos sobre pessoas com transtornos de personalidade narcisista corroboram com o APA (2003 apud OLIVEIRA D; 2009), mostrando que os sujeitos com esse transtorno apresentam um modelo inflado de autoconceito, avaliação negativa de outros, acreditam que os outros podem ameaçar seu ego (Bursten, 1982 In Joiner, Petty, Perez, Sachs-Ericsson & Rudd, 2008 apud OLIVEIRA D; 2009). Quando apresentam sintomas paranoides para manter o autoconceito elevado, geralmente associam com emoções negativas e atitudes de suspeita e raiva em direção à fonte de ameaça, possivelmente, com agressão, ansiedade e violência. Transtorno de personalidade histriônico Os portadores de personalidade histriônica são indivíduos que se comportam de forma dramática e extrovertida. Possuem facilidade de fazer amizades e conhecer pessoas novas, porém apresentam dificuldades de manter essas relações. Buscam sempre por atenção, tendendo à dramatização das emoções (SILVA; GERSEN, 2019; LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAIA et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). A personalidade histriônica apresenta excessiva emotividade, que pode interferir em uma variedade de contextos. Devido a suas características de teatralidade e expressão emocional exagerada, a atuação do psiquiatra forense é de extrema importância ao averiguar se o portador do transtorno, ao cometer o delito, teve sua capacidade de autodeterminação e auto entendimento afetada. Se constatado qualquer grau de perturbação da saúde mental, ela deverá ser documentada (SILVA; GERSEN, 2019; LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAIA et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). A forma como o histriônico se apresenta e se porta durante o exame psíquico já levanta suspeitas para o diagnóstico. Constantemente, ele utiliza sua aparência física para chamar a atenção; sua interação com os outros frequentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor, e seu discurso é excessivamente impressionista e carente de detalhes (SILVA; 22 GERSEN, 2019; LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAIA et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). O tratamento é psicoterápico e não há hoje evidências de remissão com psicofármacos, contudo, estes podem ser usados como adjuvantes ou para tratar comorbidades. A abordagem farmacológica deve ser sintomática, conforme o quadro apresentado (ex: heteroagressividade – antipsicóticos; Síndrome depressiva- antidepressivos) (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017; MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). Conforme OLIVEIRA D; (2009), estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: ser extremamente dramático; vestir, agir e falar de modo sedutor; divertir os outros,buscar elogios. Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: ser quieto, obediente; concordar com os outros; estabelecer padrões razoáveis de comportamento em relação aos outros pacientes; agir dentro dos limites normais, conforme OLIVEIRA D; (2009), Transtorno de personalidade histriônico, geralmente, é associado com aparência física. Em um estudo sobre esse transtorno, foram examinados critérios de atração entre as pessoas em um colégio; coerente com as expectativas, as mulheres com esse traço apresentaram-se mais atraentes do que os homens e do que as pessoas que não apresentam esse traço. Outro dado é que pessoas com esse transtorno tinham uma variada rede de suporte social, exibiram mais comportamentos negativos em relação a outras relações, mostraram maior uso de defesas imaturas, menos uso de distorção de imagem e autossacrificio (Bornstein, 1999 apud OLIVEIRA D; 2009). Transtorno de personalidade borderline Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), transtorno de personalidade é um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo, conforme GRILO M; et al., (2016). 23 As características mais marcantes do transtorno de personalidade Borderline estão relacionadas ao aspecto afetivo. Mudanças bruscas de humor fazem com que o indivíduo vivencie momentos de raiva e ira, que são direcionados a qualquer pessoa e/ou objetos (DALGALARRONDO; VILELA, 1999 apud GRILO M; et al., 2016). Esses episódios causam muito sofrimento e dor, levando essa pessoa a uma possível depressão e quadros de ansiedade. Dalgalarrondo e Vilela (1999 apud GRILO M; et al., 2016) destacaram também que a depressão vivida por pacientes com esse tipo de transtorno é resultado de um sentimento de rejeição muito forte, que faz com que o indivíduo se sinta solitário e queira se isolar cada vez mais. Para alguns autores, a personalidade borderline apresenta um grau de instabilidade emocional muito elevado, interferindo na capacidade de autocontrole do indivíduo, já que essa personalidade apresenta acentuada impulsividade, além de padrões de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização, conforme GRILO M; et al., (2016). Tal instabilidade afetiva, relacionada a um grau elevado de reatividade do humor, pode interferir na conduta da pessoa em dada circunstância. Portanto, essa raiva inadequada e intensa ou a dificuldade de controlá-la, de fato, pode interferir na sua capacidade de autodeterminação (SARMENTO et al., 2020; MAFFINI, 2020; LEITE; CAMPOS, 2016; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2018 apud FERNANDES J; 2020). O tratamento deve ser voltado para a psicoterapia e os fármacos podem ser usados como adjuvantes ou para tratar comorbidades. Conforme a necessidade, pode haver indicação do uso de antipsicóticos, estabilizadores do humor, benzodiazepínicos e antidepressivos. A internação também pode ser indicada quando há risco de suicídio e autoagressividade, lembrando que o encaminhamento precoce para profissionais da área da saúde pode trazer grandes benefícios (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017; MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). Transtorno de personalidade esquizotípica O transtorno de personalidade esquizotípica, conforme estudos realizados utilizando as pesquisas de Aaron Beck (BECK; FREEMAN, 1993 apud HOLANDA J; 24 2008), Harold Kaplan (KAPLAN, 1993 apud HOLANDA J; 2008), Michael Ebert (EBERT, 2002 apud HOLANDA J; 2008), dentre outros, é caracterizado por indivíduos que são considerados esquisitos ou estranhos, mesmo para pessoas leigas. Possuem o pensamento mágico (por exemplo, acreditar que um parente morto está presente ou que os outros sabem o que eles estão pensando), ilusões e desrealização fazem parte de seu mundo e apresentam noções peculiares e ideias de referência (como acreditar que acontecimentos não relacionados estão relacionados a eles de um modo significativo), ou seja, fazem interpretações incorretas de acontecimentos externos ou de incidentes casuais como se tivessem um significado particular e incomum direcionados a eles, conforme HOLANDA J; (2008). Essas ideias de referência devem ser diferenciadas dos delírios de referência. Alterações da percepção podem estar presentes. São indivíduos desconfiados, podendo ter ideação paranoide. Muitas vezes parecem interagir com os outros de maneira inadequada, rígida ou constrita, conforme HOLANDA J; (2008). Seu mundo interior pode estar pleno de relacionamentos imaginários vívidos, temores e fantasias infantis. Podem ter ilusões perceptuais ou macropsia (distúrbio visual em que o paciente vê um objeto com tamanho maior que o real). Além de poderem ser também supersticiosos ou declarar poderes de clarividência. Um paciente declarou certa vez acreditar ter o poder de curar pessoas de suas enfermidades e rezava impondo as mãos sobre estas pessoas, conforme HOLANDA J; (2008). Nesse transtorno, o pensamento e a comunicação estão perturbados, entretanto, as pessoas acometidas por ele podem não conhecer seus próprios sentimentos, mas serem extremamente sensíveis aos sentimentos dos outros. O discurso dessas pessoas pode ser estranho ou peculiar e ter significado apenas para elas. Mostram fracos relacionamentos interpessoais e podem agir de forma inadequada, devido a isto, são isoladas e possuem poucos ou nenhum amigo íntimo ou confidente, conforme HOLANDA J; (2008). Sentem desconforto na interação com outras pessoas e muitas vezes vivenciam esses relacionamentos como problemáticos. Interagem com os outros quando precisam, mas preferem ficar sozinhos, por acharem que são diferentes. Em situações pessoais que envolvem estranhos sentem-se muitas vezes ansiosos. Sua ansiedade social não cede com facilidade, mesmo passando mais tempo no contexto 25 ou se familiarizando com as outras pessoas, porque a ansiedade tende a estar associada com suspeitas acerca das motivações dos outros, conforme HOLANDA J; (2008). Os aspectos mais marcantes desse transtorno são as esquisitices da cognição, mesmo sendo o isolamento social, o afeto contraído ou inadequado e o comportamento não usual as características do transtorno esquizotípico de personalidade. “As distorções cognitivas desse transtorno encontram-se entre as mais severas dentre todos os transtornos de personalidade” (BECK; FREEMAN, 1993, p. 103 apud HOLANDA J; 2008). Apesar dessas “esquisitices” serem similares às dos esquizofrênicos, e embora a personalidade esquizotípica seja algumas vezes observada em indivíduos com esquizofrenia antes deles adoecerem, a maioria dos adultos com uma personalidade esquizotípica não desenvolve esquizofrenia, conforme HOLANDA J; (2008). Pessoas com este transtorno frequentemente experimentam ilusões, como, por exemplo, pensar que estão vendo pessoas em sombras ou na estampa do papel de parede. Embora o discurso dessas pessoas seja coerente e não haja afrouxamento de associações, o indivíduo esquizotípico frequentemente é tangencial, circunstancial, tartamudo (gago) ou hiper elaborado, fazendo com que apareçam numa linguagem estranha esses tipos de cognição, conforme HOLANDA J; (2008). Transtorno de personalidade esquizoide (TPE) O transtorno da personalidade esquizoide é caracterizado por um padrão generalizado de distanciamento e desinteresse geral pelos relacionamentos sociais e uma gama limitada de emoções nas relações interpessoais. O diagnóstico é por critérios clínicos. O tratamento é com terapia cognitivo-comportamental, conforme msdmanuals: SKODOL A; (2018). De acordo com MAZER A; et al., (2016), o transtornoda personalidade Esquizoide caracteriza – se com estratégias de distanciamento das relações sociais e é uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que se manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contexto, são eles: Não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família, conforme MAZER A; et al., (2016). Quase sempre opta por atividades solitárias, conforme MAZER A; et al., (2016). https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/authors/skodol-andrew https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/authors/skodol-andrew 26 Manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com um parceiro, conforme MAZER A; et al., (2016). Tem prazer em poucas atividades, se alguma, conforme MAZER A; et al., (2016). Não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não sejam parentes em primeiro grau, conforme MAZER A; et al., (2016). Mostra-se indiferente a elogios ou críticas, conforme MAZER A; et al., (2016). Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo, conforme MAZER A; et al., (2016). No transtorno de personalidade esquizoide, a capacidade de se relacionar com os outros é significativamente limitada. Estima-se que cerca de 3,1% a 4,9% da população norte-americana geralmente têm transtorno da personalidade esquizoide. É ligeiramente mais comum entre os homens, conforme msdmanuals: SKODOL A; (2018). O transtorno da personalidade esquizoide pode ser mais comum nas pessoas com história familiar de esquizofrenia ou transtorno de personalidade esquizotípica. Comorbidades são comuns. Até metade dos pacientes tiveram pelo menos um episódio de depressão maior. Eles muitas vezes também têm outros transtornos de personalidade, mais comumente esquizotípica, paranoia, borderline ou esquivo, conforme msdmanuals: SKODOL A; (2018). 5 TERAPIA COGNITIVA FOCADA EM ESQUEMAS Fonte: levpsicologia.com.br https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/authors/skodol-andrew https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-do-humor/transtornos-depressivos#v1028038_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-esquizot%C3%ADpica-tpe https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-paranoide-tpp https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-borderline-tpb https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-da-personalidade-esquiva-tpe https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/authors/skodol-andrew 27 A Terapia dos Esquemas (TE), desenvolvida por Jeffrey Young é uma abordagem sistemática que amplia a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) clássica ao dar ênfase a investigação das origens dos problemas psicológicos na infância e adolescência, as técnicas emotivas, à relação terapeuta-pacientes e aos estilos desadaptativos de enfrentamento (YOUNG, KOSHO, WEISHAR, 2008 apud ISOPPO, 2012 apud SOUZA D; 2017). A TE é uma forma da TCC – terapia cognitivo comportamental de terceira onda e apresenta uma contribuição bastante relevante ao campo da personalidade e do desenvolvimento humano, e esse modelo utiliza elementos cognitivos, comportamentais, experienciais e técnicas interpessoais, através de uma forte e segura relação terapêutica para a intervenção a problemática do paciente. Dessa forma, trata-se de um modelo terapêutico que amplia as estratégias para o tratamento, como enfatizar a confrontação, a experiência afetiva, o relacionamento terapêutico como um veículo de mudança e a discussão de experiências iniciais da vida. (WAINER et al, 2016; KNAPP et al 2008, PAIM et al, 2012 apud SOUZA D; 2017). A TE é uma proposta inovadora e integradora que potencializa os tratamentos cognitivos comportamentais utilizando das escolas cognitivo-comportamental, de apego, da gestalt, de relações objetais, construtivista e psicanalítica em um modelo conceitual de tratamento, ela proporciona um novo sistema psicoterápico especialmente adequado a pacientes com transtornos da personalidade ou com problemas caracterológicos complexos, que eram considerados difíceis de se tratar. A TE pode ser breve, de médio ou de longo prazo, ela ajuda pacientes e terapeutas a entender seus problemas crônicos e a organizá-los de maneira compreensível, conforme SOUZA D; (2017). Portanto, a terapia do esquema teve seu surgimento calcado nas práticas cognitivo comportamentais e nas experiências clínicas de Jeffrey Young, que percebeu a necessidade de amplificar a visão de tratamento de questões relacionadas a padrões de comportamento de longa data e problemas emocionais, conforme ABREU E; (2019). 28 A linha integra um recente grupo dentro das terapias cognitivo- comportamentais que se dedicam prioritariamente para o entendimento biológico e relacional do desenvolvimento de problemas caracterológicos crônicos (Young et al., 2008; Martin & Young, 2010 apud ABREU E; 2019). Dentre os principais conceitos da terapia do esquema, Young (2003 apud ABREU E; 2019) propõe que estejam seis construtos teóricos. Estes são: Os esquemas iniciais desadaptativos, conforme ABREU E; (2019). Os domínios de um esquema, conforme ABREU E; (2019). A manutenção de um esquema, conforme ABREU E; (2019). A evitação de um esquema, conforme ABREU E; (2019). A compensação de um esquema, conforme ABREU E; (2019). Os modos esquemáticos, conforme ABREU E; (2019). Os esquemas correspondem a forma como o sujeito irá responder a situações e comportar-se no tempo e no espaço, vivenciando suas experiências de maneira significativa. Contudo, eles não precisam, necessariamente, manterem-se ativos durante todo o tempo, podendo apresentar-se de modo inativo por curtos ou longos períodos, mas sempre estarão presentes no modo com interpretamos as situações do cotidiano. São considerados como traços de nossa personalidade e conceituados também como um construto pessoal, que determina o modo como o indivíduo percebe a si e ao outro, conforme ABREU E; (2019). Estes esquemas são originados a partir das experiências pessoais relacionadas com o atendimento das necessidades emocionais fundamentais, e do modo com que estas são acolhidas (Young, 2003; Leahy, 2006; Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 29 Fonte: repositorio.ucs.br - baseado em Young, 2003; Young et al., 2008 apud ABREU E; (2019). A necessidade de aceitação e reconhecimento foi fundamentada nos princípios propostos por John Bowlby (1979 apud ABREU E; 2019) na teoria do apego, visto que utiliza como base que para um desenvolvimento adequado da personalidade do sujeito, é preciso que este tenha estabelecido um vínculo saudável de apego com seus cuidadores. Essas formas de apego irão acompanhá-lo ao longo de sua vida. 30 Elas são divididas em quatro categorias, sendo a primeira delas o apego seguro, o tipo mais adequado, visto que a criança precisa da presença de sua figura de referência, mas que consegue distanciar-se do mesmo e explorar o ambiente, mesmo que em um curto período de tempo. A segunda categoria é o apego ansioso ou ambivalente, no qual a criança fica extremamente mobilizada na ausência de seu cuidador, vendo o distanciamento deste como uma ameaça. A terceira categoria refere-se ao apego inseguro evitativo, no qual a criança desconsidera o distanciamento do cuidador, podendo substituí-lo por um estranho, sendo característico de indivíduos com esquemas em domínio de desconexão e rejeição, conforme ABREU E; (2019). Por fim, há o apego desorganizado, que ocorre principalmente nas situaçõesde maus-tratos, no qual a criança recebe informações dúbias, visto que o cuidador é sua referência de apego e ao mesmo tempo comete delitos contra si, fazendo com que a mesmo passe a desconfiar dos relacionamentos que tem com os demais (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). Vale destacar que estas tarefas estão intimamente relacionadas com as características biológicas e com o temperamento do indivíduo, que possuem impacto no desenvolvimento de alguns destes esquemas e as diferenças nos temperamentos, que fazem com que as crianças reajam diferentemente a circunstâncias de vida semelhantes. É a interação entre temperamento e eventos precoces da vida que produz diferentes estilos de enfrentamento (Young, 2003; Martin & Young, 2010 apud ABREU E; 2019). No que tange as contribuições da terapia do esquema para com o desenvolvimento da personalidade do indivíduo tem-se que, seja ela salutar ou patológica, o papel do temperamento inato é de extrema importância. A formação da personalidade ocorre de maneira genuína e autêntica, embasada na genética do indivíduo. Ou seja, com base nas heranças genéticas o temperamento é desenvolvido, e juntamente com o ambiente em que o sujeito está inserido, são originados os aspectos comportamentais, emocionais, cognitivos e motivacionais de cada sujeito (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 31 O temperamento, para estudiosos da TE, é considerado como um determinante biológico da personalidade, que não poderá ser totalmente transformado através da interação e das influências do ambiente em que o sujeito está inserido. É tido como uma tendência genética que pode ou não ser amplificada, reduzida, encoberta ou expressa tal como é, mas que nunca será extinto. Além disso, é o temperamento que determinará a quantidade que o sujeito carece de suas necessidades emocionais fundamentais para cada uma de suas fases de desenvolvimento (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). Desta forma, a família ou os cuidadores primários do infante desempenham um papel primordial na formação de sua personalidade, já que as primeiras experiências são vivenciadas com os pais, com os irmãos (caso tenha), com os parentes, com os amigos mais próximos e, no início da vida escolar, com os professores. Contudo, é necessário frisar que a tarefa destes indivíduos é extremamente exigente, visto que para cada momento do desenvolvimento da criança, é necessário que uma necessidade diferente seja atendida de forma integral e adequada (Young et al., 2008; Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). Outro importante conceito para a TE refere-se aos esquemas iniciais desadaptativos [EIDs], também chamados de esquemas desadaptativos remotos, que são concebidos por Young (2003 apud ABREU E; 2019) como as estruturas mais profundas da cognição. Relacionam-se com conteúdos estáveis e duradouros, elaborados desde o período da infância. Mesmo assim, ao longo da vida eles vão sendo perpetuados ou modificados, e, caso permaneçam disfuncionais, tem um grande impacto negativo na vida do sujeito. Eles são utilizados para enfrentar situações posteriores (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). Os EIDs apresentam algumas características relevantes, sendo considerados como “crenças e sentimentos incondicionais sobre si mesmo em relação ao ambiente” (Young, 2003, p.16 apud ABREU E; 2019). São julgados como verdades incontestáveis, tornando-se incondicionais e rígidos e, por excelência, são resultados das origens biológicas aliado ao não atendimento, ou de forma parcial ou inadequada, das necessidades emocionais fundamentais quando criança. 32 São esquemas inconscientes, visto que são desenvolvidos em um nível emocional e apresentam uma elevada dificuldade de mudança, visto que estão inseridos no centro da personalidade do sujeito, constituindo-a. Graças a isso, durante o processo terapêutico, alguns indivíduos demonstram resistência em modificar seus EIDS, procurando invalidar as intervenções para manter os esquemas, conforme ABREU E; (2019). São os EIDs que estão na origem das respostas emocionais e comportamentais disfuncionais e para que eles sejam ativados, é necessário a ocorrência de uma situação desencadeante de efeito relevante, estando intimamente ligada ao afeto (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). Os EIDS são identificados através dos sintomas atuais e da compreensão da origem destes e dos padrões cognitivos do sujeito e estão reunidos em cinco domínios, em concordância com as cinco necessidades não atendidas das crianças (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). Conceitualmente, domínios são períodos entre a infância e à adolescência, nos quais algumas exigências psíquicas precisam ser atingidas, seja pelos cuidadores do indivíduo ou pelo ambiente em que está inserido, visando o desenvolvimento e a promoção de esquemas mentais saudáveis (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). Estes estão descritos na Tabela abaixo: 33 34 Fonte: Elaborada pela autora (baseada em Young, Klosko e Weishaar, 2008 apud ABREU E; 2019). Normalmente, os EIDs desenvolvidos no primeiro domínio estão relacionados às famílias de origem que apresentam características de vivências de relações instáveis, com presença de abusos de diferentes ordens, sem uma proximidade emocional, tratando seus filhos com frieza e/ou rejeição. Este é o domínio no qual os pacientes costumam apresentar maiores danos, visto que, em função do modo com que aprenderam a se relacionar, vivenciam experiências autodestrutivas ou buscam isolar-se de relacionamentos íntimos (Young, 2003; Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). Já em relação aos EIDs do segundo domínio, percebe-se a presença de famílias típicas que costumam atender a todas as necessidades e vontades do indivíduo demasiadamente, superprotegendo-o, ou, em um número significativamente menor, não prestam a devida assistência a ele (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 35 O traço marcante nas famílias nucleares dos EIDs do terceiro domínio é uma permissividade ou indulgência exacerbada. Já no quarto domínio, a característica central nas famílias de origem refere-se à falta de liberdade para seguir seus próprios desejos (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). Os EIDs desenvolvidos no quinto e último domínio, normalmente referem-se à presença de excessiva severidade, repressão e rigidez por parte de seus cuidadores, sendo que os mesmos passam a ver as situações de sua vida de modo negativo e triste, em função das características listadas anteriormente (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). Em suma, os esquemas iniciais, sejam eles adaptativos ou desadaptativos, são constituídos a partir do temperamento e da herança filogenética do indivíduo, do modo com que suas necessidades emocionais fundamentais foram atendidas, de sua exposição a experiências continuadas, sejam elas traumáticas ou positivas, e da influência de seus cuidadores (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). Os esquemas iniciais desadaptativos são conservados a partir de um mecanismo denominado de processos esquemáticos. Estes foram desenvolvidos a partir da melhor solução encontrada para sanar a situação desorganizadora vivenciada na infância, visando à adaptação do sujeito ao seu ambiente. Sendo assim, percebe-se que nosso cérebro utiliza o que conceituamos como economia psíquica, ou seja, lança mão de estratégias que funcionaram na infância para enfrentar situações ansiogênicas e desorganizantes na vida adulta. Porém, na maioria das vezes, não se obtém sucesso na nova fase, pois o ambiente relacional em que está inserido está modificado (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). Ressalta-se que todos os mecanismos utilizados para enfrentar os esquemas ocorrem de forma inconsciente. Um destes processos é denominado como manutenção ou resignação. Como os EIDs são centrais para a organização da personalidade, osujeito busca, através deste mecanismo, reforça-los e isso pode ocorrer de duas maneiras distintas: pelas distorções cognitivas e/ou pelos padrões de vida autoderrotistas, conforme ABREU E; (2019). É essa característica do esquema que explica a rigidez dos transtornos de personalidade (Arntz & Jacob, 2013 apud ABREU E; 2019). Nas distorções cognitivas, conceito que se originou no cognitivismo, o sujeito tem uma percepção equivocada das situações, dando ênfase ou suprimindo as informações, visando sempre confirmar 36 seu esquema, sendo um processo que ocorre na esfera cognitiva. São exemplos de distorções a catastrofização, a desqualificação do positivo, a emocionalização e o uso de filtro mental. Nos padrões de vida autoderrotistas, o indivíduo recorre a situações ou relacionamentos, de forma inconsciente, que deem continuidade e reforcem esse EID, sendo um processo de ordem comportamental. Um exemplo comum é a escolha de um parceiro crítico e exigente, quando a pessoa possui um forte esquema de defectividade ou vergonha (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). Outro processo esquemático que ocorre com os EIDs é a evitação. Ele é ativado visando minimizar a mobilização de elevados níveis de afeto, que normalmente ocorrem de maneira negativa. Com ele o sujeito evita situações, informações e/ou pessoas, através de processos cognitivos, afetivos ou comportamentais. Isso possibilita que o indivíduo não se depare com as consequências negativas desencadeadas pela ativação de seu EID (Martin & Young, 2010 apud ABREU E; 2019). Ainda podemos citar como um estilo de enfrentamento a um esquema inicial desadaptativo, o mecanismo de compensação. Ele é caracterizado por apresentar “comportamentos e cognições diametralmente opostos ao que seria esperado para o esquema” (Wainer & Rijo, 2016, p. 52 apud ABREU E; 2019), os quais são utilizados para compensá-lo. Pode ser empregado de forma funcional, visando o atendimento de necessidades que não foram contempladas anteriormente, contudo, na maioria dos casos, ocorre uma hipercompensação, adquirindo um caráter negativo de seu uso. Os EIDs podem ser identificados por meio de diversas técnicas. Uma das principais consiste no Questionário de Esquemas de Young (YSQ-S3), desenvolvido pelo criador da TE. Foi produzido em duas formas, sendo a primeira, denominada de forma longa, apresentando 205 perguntas a serem respondidas e a segunda, reduzida, contando com 75 perguntas, conforme ABREU E; (2019). Todavia, ambas apresentam a mesma função, que se concentra na descoberta dos principais esquemas presentes na personalidade daquele indivíduo. Outra técnica é chamada de “Flecha Descendente”, que através de questionamentos visa-se chegar ao esquema nuclear do sujeito, ou através da técnica de observação de consistência na forma como o indivíduo vê a si e aos outros (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 37 Após a apresentação de alguns dos principais conceitos da TE, é importante salientar que a chance de que o sujeito venha a desenvolver um transtorno de personalidade está intimamente ligada à exposição ao estresse precoce na infância, seja qual a forma assumida por ele, ou a deficiência no atendimento a suas necessidades básicas, conforme ABREU E; (2019). As principais formas de estresse na infância são a ocorrência de abusos, sejam eles físicos, sexuais ou emocionais e a negligência física e emocional. Estes diferentes modos de maus-tratos acabam por maximizar os riscos de desenvolvimento de comportamentos de agressão e/ou impulsividade, ou de depressão e ansiedade (Young et al., 2008; Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). Há ainda o conceito de modos esquemáticos para ser explorado, que foi desenvolvido a partir de estudos com pessoas diagnosticadas com transtorno de personalidade borderline. Devido à instabilidade dos traços – esquemas – e da labilidade emocional presente nestes indivíduos, optou-se por categorizar os diferentes modos de enfrentamento, como modelos de estado (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 5.1 Os esquemas e sua biologia Iremos abordar neste tópico uma visão biológica dos esquemas, que foram embasadas em pesquisas recentes referentes emoção e biologia do cérebro. Realçamos que se trata de hipóteses sobre possíveis mecanismos de desenvolvimento e modificação de esquemas, já que ainda não se concretizaram pesquisas para fundar se estas suposições são validas. Porém, pesquisas atualizadas sugerem que não existe apenas um sistema emocional no cérebro, e sim, diversos (LEDOUX apud YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). Diferentes emoções relacionam-se com distintas funções de sobrevivência – como responder ao perigo, encontrar comida, fazer sexo e encontrar parceiros, cuidar dos filhos, estabelecer laços sociais, - e cada uma delas parece mediada por sua própria rede cerebral (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008, p. 38-39 apud MACHADO L; 2016). Em momentos de transição do século XIX para o XX, foram apresentadas as derradeiras teorias neuropsicológicas das emoções, com destaque aos sentimentos de William James e Carl Lange, para os quais a experimento emocional individual 38 constituiria em aparições comportamentais e fisiológicas (ou seja, se sorri é porque se esta alegre), bem como às ideias de Phillip Barde Walter Cannon que estabeleceram que o Sistema Nervoso Central determinasse tanto a experiência subjetiva quanto as aparições fisiológicas e comportamentais (ESPERIDIÃO et al, 2007 apud MACHADO L; 2016). Os sistemas cerebrais relacionados ao condicionamento do medo e trauma, em estudos sobre a biologia do cérebro apontam partes onde pode ocorrer acionamento de esquemas baseados em eventos traumáticos de infância, como abandono ou abuso. Em resumo da pesquisa sobre a biologia das memórias traumáticas, escreve durante uma situação de aprendizagem traumática, as memórias conscientes são estabelecidas por um sistema que envolve o hipocampo e as áreas corticais relacionadas, ao passo que as memórias inconscientes são estabelecidas por mecanismos de condicionamento do medo que operam por meio de um sistema baseado nas amígdalas. Esses dois sistemas operam em paralelo e armazenam diferentes tipos de informação relacionada à experiência, conforme MACHADO L; (2016). Quando os estímulos presentes durante o trauma inicial são encontrados mais tarde, cada sistema é potencialmente capaz de recuperar suas memórias. No caso do sistema amigdalino, a recuperação resulta na expressão de respostas corporais que preparam para o perigo e, no caso do sistema do hipocampo, ocorrem lembranças conscientes. Dessa forma, os mecanismos cerebrais que registram, armazenam e recuperam memórias da importância emocional de um evento traumático diferem dos mecanismos que processam memórias e cognições conscientes sobre o mesmo evento. A amígdala armazena a memória emocional, enquanto o hipocampo e o neocortéx armazenam a memória cognitiva. As respostas emocionais podem ocorrer sem a participação de sistemas de processamento superior do cérebro, envolvidos no pensamento, no raciocínio e na consciência (LEDOUX apud YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008, p. 39 apud MACHADO L; 2016). Utilizando destas pesquisas algumas implicações possíveis para teoria dos esquemas, desenvolvemos um esquema com um conjunto de memórias, emoções sensações corporais e cognições que giram em torno de um ponto na infância. Pode- se definir a biologia cerebral de um esquema da seguinte forma, quando um indivíduo encontra estímulos reminiscentes dos eventos da infância que levaram ao desenvolvimento do esquema, as emoções e sensações corporais associadas ao evento são ativadas inconscientemente pelo sistema amigdaliano: se o indivíduo está consciente delas, as emoções e sensações corporais ativa-se mais rapidamente do que as cognições, conforme MACHADO L; (2016). 39 Essa ativação das emoçõese sensações corporais é automática e, provavelmente constituirá uma característica permanente da vida do indivíduo, embora o grau de ativação possa ser reduzido com a cura do esquema. Por sua vez, as memórias e as cognições conscientes associadas ao trauma armazenam-se no sistema hipocampal e nos córtices superiores (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008, p. 41 apud MACHADO L; 2016). Esperidião et al (2007 apud MACHADO L; 2016) apresenta que os sistemas das emoções parecem estar organizados em rede; onde não existem elementos que digam como ele funciona especificamente, ou seja, todos os meios desempenham papéis de desencadeamento semelhantes entre si. Compreendendo-se assim, que esses sistemas dependem da uniformidade de seus componentes de uma maneira complexa, não hierárquica, necessitando de mais estudos e esclarecimentos a respeito. Devido ao fato de aspectos emocionais e cognitivos da experiência traumática vivenciada, localizarem-se em diferentes sistemas cerebrais, pode-se explicar a impossibilidade de se alterarem os esquemas por meio do método cognitivo simples. Além disso, os componentes cognitivos de um esquema, muitas vezes, desenvolvem- se mais tarde, após as emoções e as sensações corporais já estiverem registradas na amigdala (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). As emoções mais “primitivas” e bem estudadas pelos neurofisiologistas com a finalidade de estabelecer suas relações com o funcionamento cerebral são a sensação de recompensa (prazer, satisfação) e de punição (desgosto, aversão), tendo sido caracterizado, para cada uma delas, um circuito encefálico específico (ESPERIDIÃO, 2007, p.58 apud MACHADO L; 2016). Vários esquemas se desenvolvem em uma etapa pré-verbal, originando-se antes que a criança adquira a linguagem. Os esquemas pré-verbais aparecem quando a criança ainda é muito pequena e tudo que esta armazenado são memórias, emoções e sensações corporais. As cognições aparecem posteriormente, quando a criança começa a pensar e falar palavras. Sendo assim, as emoções têm primazia em relação às cognições no trabalho com muitos esquemas (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). Quando se ativa um esquema desadaptativo remoto, o indivíduo é inundado por emoções e sensações corporais. A pessoa pode conectar conscientemente ou não as emoções e sensações corporais à memória original. As memórias encontram-se no coração dos esquemas, mas, via de regra, não estão explícitas na consciência, mesmo sob a forma de imagens (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). 40 Um entendimento global referente às bases biológicas e as influências diferenciadas tanto nas aprendizagens diretas como daquelas obtida pelos exemplos dos pais/cuidadores desde o nascimento até a adolescência. A terapia dos esquemas destaca a complexidade intrínseca a constituição de uma identidade individual funcional aos mais diversos contextos. Também denota a intensa tarefa de pais/cuidadores e familiares, uma vez que a cada um dos cinco momentos críticos do desenvolvimento da criança (DEs) há de se fornecer necessidades emocionais distintas e com graus diferenciados de acordo com a própria natureza do filho (WAINER et al, 2016 apud MACHADO L; 2016). 5.2 Modos esquemáticos Como um último conceito principal da TE, temos os modos esquemáticos, também chamados de modos dos esquemas. Estes são um conjunto de esquemas e de suas respostas de enfrentamento, que são utilizados quando um número elevado de esquemas é ativado e o sujeito torna-se resistente (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). O conceito de modo esquemático é definido como uma junção entre esquemas iniciais desadaptativos e de processos esquemáticos, que demonstram um modelo particular e específico de como um sujeito funciona, sendo ativados, principalmente, quando há a ocorrência de situações que envolvam elevado grau de afeto (denominadas situações de ativação emocional). Este modo compreende desde sentimentos e pensamentos, até as maneiras (saudável ou patológica) como que ele irá lidar com o cenário de seu cotidiano (Roedger & Stevens, 2016 apud ABREU E; 2019). Os modos são os estados emocionais predominantes em um momento específico. Estes são utilizados de forma desadaptativa quando necessidades primordiais não cumpridas ativam e acionam os esquemas disfuncionais. Assim, funcionam como tentativas de evitar ou lidar com as frustrações do não preenchimento das necessidades emocionais fundamentais (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). Eles estão divididos em quatro categorias, totalizando 10 modos de esquemas, como demonstra na imagem abaixo: 41 Fonte: cetcconline.com.br 42 Fonte: cetcconline.com.br 43 WAINER, 2016 - Adaptado de Young e colaboradores (2008 apud OLIVEIRA T; 2018). Acerca do primeiro grupo, é válido destacar que para diminuir a ativação do modo criança zangada, é necessário identificar o modo criança vulnerável. Outro fato merecedor de destaque é de que quanto mais grave é o transtorno da personalidade, mais vezes os modos de enfrentamento desadaptativos serão acionados (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). A contribuição dos modos esquemáticos para a compreensão da dinâmica do casal é efetivada no entendimento consciente e emocional dos processos esquemáticos e dos EIDs presentes na relação conjugal, para que assim, seja possível identificar, explorar e expor as vulnerabilidades e necessidades presentes em cada parceiro, para que estes possam desenvolver estratégias adequadas para propor uma reparentalização assertiva, conforme ABREU E; (2019). Assim, acessando o modo criança vulnerável, os parceiros podem realizar essa identificação e atuar no modo adulto saudável, sendo um agente reparentalizador de tal necessidade ou vulnerabilidade (Paim, 2016 apud ABREU E; 2019). 44 5.3 O Modelo Cognitivo das Psicopatologias De acordo com o modelo cognitivo das psicopatologias, as diferenças entre os transtornos estão no conteúdo dos esquemas e crenças mal-adaptativos e nas interpretações enviesadas associadas a cada transtorno. Enquanto na depressão os esquemas mal- adaptativos estão relacionados a uma visão negativista, por exemplo, na ansiedade estão relacionados à vulnerabilidade e ao medo de ameaças físicas ou psicológicas (A. Beck, 1976, conforme citado em Clark, A. Beck & Brown, 1989 apud PERES A; 2008). Os significados atribuídos aos eventos a partir da visão e temas negativistas idiossincráticos descobertos por meio de observações de pacientes deprimidos estão relacionados a questões sociais vitais, como fracasso e sucesso, aceitação e rejeição, respeito ou desdém (A. Beck, 1991 apud PERES A; 2008). Diversos modelos teóricos cognitivos de psicopatologias foram propostos e todos davam destaque ao papel fundamental da mediação cognitiva nas respostas comportamentais e afetivas. Os modelos diferenciam-se no que diz respeito à explicação dada a essa mediação (Clark e cols., 1989 apud PERES A; 2008). As abordagens psicoterápicas cognitivas pressupõem que fatores cognitivos específicos estão fortemente relacionados à etiologia, curso e tratamento dos transtornos psicológicos. Ainda, diversas pesquisas apontam que as variáveis cognitivas são importantes determinantes das disfunções emocionais (Ingram, Kendall, Smith, Donnel, & Ronan, 1987 apud PERES A; 2008). De acordo com Ingram e Kendall (1986, conforme citado em Clark e cols., 1989 apud PERES A; 2008) as variáveis cognitivas podem ser divididas, em sua maioria, em termos de estrutura e conteúdo, operação e produto do sistema de processamento de informações. Variáveis de estrutura e conteúdo referem-se, respectivamente, a forma de organização interna das informações (esquemas ou redes associativas,
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