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TERAPIA-DO-ESQUEMA-E-TRANSTORNOS-DE-PERSONALIDADE

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2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 DEFINIÇÃO DE PERSONALIDADE ........................................................... 4 
2.1 Definição de transtorno de personalidade ............................................ 6 
3 TEORIA DE PERSONALIDADE DE AARON BECK ................................... 7 
3.1 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade ................... 9 
3.2 Critério Atuais: DSM 5 e CID -10 ........................................................ 12 
4 PERFIS COGNITIVOS ESPECÍFICOS..................................................... 13 
5 TERAPIA COGNITIVA FOCADA EM ESQUEMAS .................................. 26 
5.1 Os esquemas e sua biologia .............................................................. 37 
5.2 Modos esquemáticos.......................................................................... 40 
5.3 O Modelo Cognitivo das Psicopatologias ........................................... 44 
5.4 Esquemas e Crenças ......................................................................... 45 
5.5 Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) .......................................... 47 
5.6 Esquemas iniciais desadaptativos (EIDs) e Distorções cognitivas ..... 50 
5.7 Processos do Esquema .................................................................... 51 
5.8 As respostas de enfrentamento do esquema ..................................... 52 
6 NEUROBIOLOGIA DOS ESQUEMAS PRIMITIVOS ................................ 54 
7 ESQUEMAS MENTAIS ............................................................................. 56 
8 ESTRATÉGIAS EXPERIENCIAIS EM TERAPIA DO ESQUEMA ............. 59 
9 RELAÇÃO TERAPÊUTICA ....................................................................... 64 
10 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 77 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 DEFINIÇÃO DE PERSONALIDADE 
 
Fonte: agazetadoacre.com 
A origem da palavra personalidade vem do grego persona, que se refere as 
máscaras usadas pelos atores do teatro grego clássico, identificando o personagem. 
A palavra personalidade tem seu papel na descrição da identidade do indivíduo, 
conjunto único que diferencia um indivíduo de outro, atualmente a personalidade vai 
além dos propósitos de identificação e descrição de pessoas e preocupa-se também 
com sua função e estrutura, ela é uma interface para o relacionamento do sujeito com 
o ambiente e a sociedade, particularmente importante para as relações interpessoais, 
conforme NETO H; (2017). 
Cattel, durante a década de 1940, dividiu a personalidade em cinco grandes 
fatores, esses que ao decorrer de vários anos continuaram imutáveis, são eles o 
Neuroticismo (agrega os traços associados à expressão de afetos negativos e à 
instabilidade emocional), Extraversão (reúne os traços associados à expressão de 
afetos positivos, busca interação com o meio e com seus semelhantes), 
Conscienciosidade (descreve traços associados à adoção de escrúpulos morais, 
sentimentos de responsabilidade e preocupação com o futuro em oposição a um 
espirito livre, inconsequente e impulsivo), Cordialidade (representa o conjunto de 
traços que caracterizam a afabilidade, a tolerância e a cooperação em contraste com 
a agressividade e a competitividade) e a Abertura (reúne os traços que representam 
 
5 
 
facilidade para aceitar novas ideias e raciocínio não convencional em oposição ao 
conservadorismo e ao apego às tradições), conforme NETO H; (2017). 
Gray e Eysenck, durante as décadas de 1960 a 1970, defendem o modelo 
psicobiológico. Gray defende dois pilares para a personalidade de um indivíduo, 
inibição e de iniciação do comportamento. Eysenck com um pensamento semelhante, 
descreveu um fator de inibição ligado aos afetos negativos (neuroticismo) e outro de 
iniciação ligado aos afetos positivos (extraversão /extroversão), conforme NETO H; 
(2017). 
Futuramente se nota a emergir um fator não-independente dos afetos e 
relacionado à impulsividade e à não conformidade as regras (psicoticismo). Assim 
nasce o modelo tri-fatorial, uma base sólida na teoria psicobiológica da personalidade, 
três pilares, que conduzem e definem nossas expressões afetivas e reações 
comportamentais em um padrão de respostas emocionais, preferências e 
comportamentos motivados, conforme NETO H; (2017). 
Apesar de um modelo forte, ambas as teorias apresentam falhas, havendo a 
necessidade de uma nova teoria, na qual houvesse uma integração das duas, foram 
realizadas revisões onde Cloninger, Waller e Telengen se destacam, criando a visão 
moderno sobre a personalidade, dividindo-se em temperamento (porção que reúne as 
disposições inatas do indivíduo, que tem determinação predominantemente genética 
e estabilidade temporal), oposição ao caráter (condição que reúne traços derivados 
do aprendizado conceitual, moldado ao longo do desenvolvimento biográfico e que 
apresentam maior flexibilidade temporal, conforme NETO H; (2017). 
De acordo com NETO H; (2017), a maioria dos modelos atuais, contempla três 
fatores de temperamento e três fatores de caráter. 
 
6 
 
 
Fonte: faceres.com.br (Modelo de personalidade: fatores de temperamento e caráter). 
2.1 Definição de transtorno de personalidade 
Kraepelin, acreditava que na personalidade residia os fatores pré - morbidos 
dos transtornos psiquiátricos. Sua teoria defendia que haveria manifestações ao longo 
do desenvolvimento, mesmo que sutis, marcando um ponto de fragilidade, podendo 
se manifestar caso um agente ou contexto atuassem nesse ponto. Kraepelin 
acreditava que os transtornos de personalidade (TP), derivava de um continuum, onde 
a personalidade normal, o TP e a doença mental, estariam alinhadas, avançando do 
normal ao patológico, "uma perspectiva dimensional de que os transtornos da 
personalidade representam variantes mal-adaptativas de traços de personalidade que 
se fundem imperceptivelmente com a normalidade e entre si." (DSM-V), conforme 
NETO H; (2017). 
Com o surgimento da psicanálise e o behaviorismo, nos dois terços iniciais do 
sec. XX, conflitos com o próprio conceito de personalidade surgiram. Porem a 
consolidação clínica e teórica dos TPs surgiram, posteriormente, com Kurt Schneider, 
comprometido com a fenomenologia na década de 1970. Schneider definiu o conceito 
de personalidade anormal, que se difere de uma personalidade normal 
quantitativamente e de maneira extrema em algumas de suas características. Essa 
definição só se tornaria patológica se o indivíduo não fosse capaz de ajustar esse 
extremismo de sua personalidade ao meio, levando o mesmo ao sofrimento ou 
 
7 
 
sofrimento de outras pessoas ao seu redor, sendo assim definida a personalidade 
psicopática, conforme NETO H; (2017). 
A partir do DSMIIIem 1980, se atribuiu o conceito de TP ao construto de 
personalidade instituído por Schneider, até os dias atuais, com algumas modificações 
em edições futuras do DSM. Schneider optou por uma abordagem prototípica, 
diferente das classificações atuais que usam critérios operacionais, descrevendo dez 
perfis, conforme NETO H; (2017). 
A definição de acordo com o DSM-V: "Um transtorno da personalidade é um 
padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia 
acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, 
começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e 
leva a sofrimento ou prejuízo”, conforme NETO H; (2017). 
3 TEORIA DE PERSONALIDADE DE AARON BECK 
 
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br 
No âmbito da Terapia Cognitiva busca-se entender a relação do que chamamos 
de personalidade com a adaptação do indivíduo ao meio. Nesse sentido, o 
entendimento da personalidade não pode prescindir das teorias sobre herança 
filogenética. Obviamente, assim como ocorreu com todas as espécies, as estratégias 
que favoreceram a sobrevivência e a reprodução foram mantidas pela seleção natural. 
 
8 
 
Tais estratégias, pensando agora na espécie humana, contribuíram para que nós 
chegássemos até aqui. Que tivéssemos um domínio razoável da natureza, podendo 
manipulá-la, até certa medida, a nosso favor. O fato é que estratégias que 
favoreceram a sobrevivência e a reprodução devem estar na base do que chamamos 
personalidade, conforme MARTINS P; (2010). 
A discussão sobre personalidade dentro da Teoria Cognitiva avança desde 
estratégias baseadas na evolução, até uma consideração de como o processamento 
da informação, incluindo processos afetivos, antecede a operação destas estratégias 
(Beck & Freeman, 1993 apud MARTINS P; 2010). Uma vez que a demanda ambiental 
surja, o indivíduo avalia as necessidades específicas para lidar com tal demanda e 
automaticamente aciona uma estratégia que pode ou não ser adaptativa ao contexto. 
Para Beck, Shaw, Rush e Emery (2005 apud MARTINS P; 2010) a maneira 
como é avaliada uma situação depende, pelo menos em parte, das crenças relevantes 
subjacentes, as quais estão integradas em estruturas mais ou menos estáveis, 
denominadas “esquemas”, que selecionam e sintetizam informações. A sequência 
psicológica progride, pois, da avaliação para a estimulação afetiva e motivacional e, 
finalmente, para a seleção e implementação da estratégia relevante. 
 A abordagem Cognitiva considera os esquemas como sendo as unidades 
fundamentais da personalidade. E a define como uma organização relativamente 
estável, composta de sistemas e moldes. Sistemas de estruturas (esquemas) 
interconectadas respondem pela sequência que se estende desde a recepção do 
estímulo até o ponto final da resposta comportamental, conforme MARTINS P; (2010). 
Segundo Beck et., al (2005 apud MARTINS P; 2010) traços de personalidade 
identificados por adjetivos tais como “dependente”, “isolado”, “arrogante” ou 
“extrovertido” podem ser conceitualizados como sendo a expressão manifesta dessas 
estruturas subjacentes. Por sua vez, os padrões comportamentais que atribuímos aos 
traços (honesto, tímido, comunicativo), representam as estratégias interpessoais 
desenvolvidas a partir da interação entre padrões genéticos e o ambiente. 
Todos os perfis de personalidade teriam sua raiz na história evolutiva de 
nossa espécie que, assim como todas as outras, sofreram os efeitos da 
seleção natural, permanecendo no ambiente os representantes de cada uma 
delas que fossem mais aptos a se manter vivos e reproduzir. O que 
chamamos de perfis de personalidade então, são o produto de estratégias 
mais eficazes que favoreceram a evolução da espécie humana (Beck & 
Freeman, 1993 apud MARTINS P; 2010). 
 
9 
 
O comportamento dramático que acaba por chamar a atenção na 
personalidade histriônica, pode ter suas raízes em ritos de exibição em animais não-
humanos; o antissocial, no comportamento predatório, e o dependente no 
comportamento de apego observado em todo o reino animal, (Beck & Freeman, 1993 
apud MARTINS P; 2010). Todos os outros perfis têm correspondência em 
comportamentos que foram e muitas vezes ainda são extremamente importantes para 
a adaptação do indivíduo. 
Para Beck et al. (2005 apud MARTINS P; 2010) embora os organismos não 
tenham consciência do objetivo último dessas estratégias biológicas, eles a têm dos 
estados subjetivos que refletem seu modo de operação: fome, medo, estimulação 
sexual e recompensas ou punições. Todas elas orientadas para garantir a 
sobrevivência e a reprodução, ou seja, contribuindo para a adaptação do organismo. 
3.1 A abordagem cognitiva dos transtornos de personalidade 
Partindo da ideia de que os perfis de personalidade são resultado de 
estratégias que foram importantes para a adaptação da espécie ao ambiente, resta 
responder como surgem os transtornos da personalidade. Estratégias que 
favoreceram a adaptação do indivíduo são também a base para Psicopatologias. Mais 
precisamente, neste caso, de transtornos da personalidade, conforme MARTINS P; 
(2010). 
Uma vez que os esquemas, essas estruturas que estariam na base da 
personalidade de cada um de nós, têm características estruturais como amplitude 
(estreitos ou amplos), flexibilidade ou rigidez (capacidade de modificação), e 
densidade (destaque na organização cognitiva) e valência (grau em que são 
energizados), pode-se afirmar que os esquemas nos transtornos de personalidade, 
seriam amplos, rígidos, densos e hipervalentes, conforme MARTINS P; (2010). 
Uma vez hipervalentes, os esquemas são facilmente ativados, mesmo que o 
estímulo seja inócuo. Esses esquemas inibem outros esquemas mais adaptativos ou 
mais apropriados e introduzem um viés sistemático no processamento da informação 
(Beck & Davis 2005 apud MARTINS P; 2010). Apesar da semelhança entre os 
esquemas dos transtornos de personalidade e os das síndromes sintomáticas, os 
primeiros operam sobre o processamento de informação em uma base mais contínua. 
 
10 
 
Um esquema no transtorno de personalidade será ativado quase sempre e será parte 
do processamento da informação, normal e cotidiano, do indivíduo. 
Atualmente, existem 10 transtornos da personalidade específicos catalogados 
no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (AMERICAN 
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017), onde podem 
ser descritos e caracterizados conforme as suas características diagnósticas, 
desenvolvimento e curso, prevalência, fatores de riso, prognóstico, questões 
diagnósticas relativas à cultura e ao gênero e diagnóstico diferencial. 
 São eles: transtorno da personalidade paranoide, conforme OLIVEIRA 
B; et al., (2017). 
 transtorno da personalidade esquizoide, conforme OLIVEIRA B; et al., 
(2017). 
 transtorno da personalidade esquizotípica, conforme OLIVEIRA B; et 
al., (2017). 
 transtorno da personalidade antissocial, conforme OLIVEIRA B; et al., 
(2017). 
 transtorno da personalidade borderline, conforme OLIVEIRA B; et al., 
(2017). 
 transtorno da personalidade histriônica, conforme OLIVEIRA B; et al., 
(2017). 
 transtorno da personalidade narcisista, conforme OLIVEIRA B; et al., 
(2017). 
 transtorno da personalidade evitativa, conforme OLIVEIRA B; et al., 
(2017). 
 transtorno da personalidade dependente, conforme OLIVEIRA B; et al., 
(2017). 
 transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, conforme 
OLIVEIRA B; et al., (2017). 
Segundo o DSM (APA, 2002 apud MARTINS P; 2010) o traço de personalidade 
é um padrão persistente de perceber, relacionar-se com e pensar sobre o ambiente e 
sobre si mesmo, que se manifesta em vários contextos sociais e pessoais. Esses 
traços, quando inflexíveis e desadaptativos, causam mal-estar subjetivo e prejuízo 
funcional significativo, caracterizando assim um transtorno de personalidade.11 
 
Portanto, a personalidade humana considerada dentro da normalidade é 
constituída de vários traços (BECK; DAVIS; FREEMAN, 2017 apud OLIVEIRA B; et 
al., 2017). Estes traços possuem características que influenciam diretamente uma 
variedade considerável de indicadores nos níveis individual, interpessoal e social, 
dentre eles: escolha, satisfação e desempenho profissionais; qualidade das relações 
familiares, amorosas e com colegas; felicidade, saúde física e psicológica; 
espiritualidade e identidade; envolvimento na comunidade, atividade criminosa e 
ideologia política. (OZER, 2006 apud MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017 apud 
OLIVEIRA B; et al., 2017). 
Dados sugerem que cerca de 15% dos adultos dos Estados Unidos apresentam 
no mínimo um transtorno de personalidade (AMERICAN PSYCHIATRIC 
ASSOCIATION, 2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). O Manual Diagnóstico e 
Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (2014 apud OLIVEIRA B; et al., 2017) 
define um transtorno da personalidade como: 
[...] um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se 
desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e 
inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao 
longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo. (AMERICAN PSYCHIATRIC 
ASSOCIATION, 2014, p.684 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). 
Os transtornos da personalidade estão entre os transtornos mentais mais 
difíceis de diagnosticar e, principalmente, tratar. Isso se dá pela própria natureza dos 
sintomas, que são pouco diferenciados, com uma fronteira menos nítida com a 
normalidade e precisam ser avaliados em diversos contextos e de forma longitudinal. 
Outra dificuldade é a resistência para uma avaliação e posterior tratamento clínico 
especializado, pela maioria das características diagnósticas serem egossintônicas, o 
que faz com que o indivíduo tenha um insight pobre sobre si e suas dificuldades, 
considerando-as como parte do “seu jeito de ser”. (MAZER; MACEDO; JURUENA, 
2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017). 
Pessoas com este tipo de transtorno pagam um preço significativo em suas 
vidas, pois suas relações sociais são diretamente afetadas. Beck, Davis e Freeman 
(2017 apud OLIVEIRA B; et al., 2017) apontam que pessoas com transtornos da 
personalidade têm sido descritas com palavras que denotam rotulação e permanência 
dos sintomas, como por exemplo: difícil, problemático e intratável. 
 
 
12 
 
3.2 Critério Atuais: DSM 5 e CID -10 
A décima edição da Classificação Internacional de Doenças (CID -10) (OMS, 
1992 apud MARTINS R; 2019), da Organização Mundial da Saúde, considera três 
categorias de transtorno de personalidade de ordem etiológica: transtornos 
específicos de personalidade (F60); alterações permanentes de personalidade, não 
atribuíveis a lesão ou doença cerebral (F62); e transtornos decorrentes de doença, 
lesão e disfunção cerebrais (F07); caracterizados pela mudança de personalidade em 
decorrência de acidentes vascular cerebral, tumores, quadros epiléticos, 
traumatismos entre outras, conforme MARTINS R; (2019). 
Os transtornos específicos da personalidade seriam consequência da 
constituição ambiental cujo critério desadaptativo está relacionado a padrões rígidos, 
comportamentais e cognitivos de ordem interpessoal e social, que sistematicamente 
afastaria do conceito mediano estabelecido em determinada cultura, conforme 
MARTINS R; (2019). 
 Na CID 10 está relacionado a possibilidade de sujeitos sem transtorno prévio, 
sofrer permanente alteração comportamental em atributos característicos de sua 
personalidade, após doença psiquiátrica (F 62.0), ou na interpretação subjetiva de 
situação catastróficas (F 62.1); no DSM 5 o modelo encontra-se semelhante ao CID 
10, porém considera a modificação da personalidade como parte integrante a uma 
condição médica geral (310.1), conforme MARTINS R; (2019). 
 
13 
 
4 PERFIS COGNITIVOS ESPECÍFICOS 
 
Fonte: repositório.com - AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 - Critérios Gerais para 
Transtorno da Personalidade. 
De acordo com GOMES A; (2019), o diagnóstico de um transtorno de 
personalidade precisa ser feito baseado em duas determinações: 
 1) uma avaliação de nível de prejuízo da personalidade, sendo essencial 
para o Critério A; conforme GOMES A; (2019) 
2) uma avaliação dos traços de personalidade patológicos, necessária para o 
Critério B. Os prejuízos no funcionamento da personalidade e a manifestação dos 
traços de personalidade são relativamente flexíveis e difusos, dentro de uma ampla 
faixa de situações, sendo abordado pelo Critério C; sendo estáveis ao longo dos anos, 
tendo seu início na adolescência (pelo menos) ou início da idade adulta (Critério D); 
não são melhor explicados por outro transtorno mental (Critério E); não estão 
relacionados com os efeitos de alguma substância ou condição médica (Critério F); e 
não são bem entendidos como normais para o estágio do desenvolvimento de um 
indivíduo ou para seu ambiente sociocultural (Critério G). Qualquer transtorno de 
personalidade da Seção III satisfazem esses critérios gerais, assim como os TP-ET 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014 apud GOMES A; 2019). 
 
 
 
14 
 
 Transtorno de personalidade evitativo/esquiva: 
De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), pessoas 
portadoras do transtorno evitativo de personalidade possuem o seguinte conflito-
chave: elas gostariam de aproximar-se de outras pessoas e de conseguir desenvolver 
todo o seu potencial intelectual e vocacional, mas temem ser magoadas, rejeitadas ou 
fracassar. 
A visão que têm de si é que são vulneráveis à depreciação e à rejeição, que 
são socialmente incapazes e incompetentes. A visão que têm dos outros é que eles 
são críticos, depreciadores e superiores. Suas principais crenças podem ser vistas 
como: “é terrível ser rejeitado, rebaixado”, “se as pessoas conhecerem meu 
verdadeiro eu, me rejeitarão”, “não consigo tolerar sentimentos desagradáveis”, 
conforme OLIVEIRA D; (2009). 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias 
compensatórias hiperdesenvolvidas mais utilizadas nesse transtorno são: evitar 
situações sociais; evitar chamar a atenção sobre si mesmo; evitar revelar-se aos 
outros; desconfiar dos outros e evitar emoções negativas. As estratégias 
compensatórias subdesenvolvidas desse transtorno são aproximar-se dos outros; 
confiar na motivação positiva dos outros; procurar intimidade; pensar sobre situações 
e problemas perturbadores. 
Cramer, Torgersen e Kringlen (2006 apud OLIVEIRA D; 2009), em um estudo 
populacional sobre personalidade e qualidade de vida, mostraram que indivíduos com 
transtorno evitativo tiveram uma redução forte e ampla de qualidade de vida; esses 
autores descobriram que pacientes com transtorno evitativo tiveram pior ajustamento 
social e profissional comparativamente àqueles pacientes que apresentavam fobia 
social; os dados da pesquisa mostram que, quanto maior a pontuação apresentada 
no escores do transtorno evitativo, pior a qualidade de vida da pessoa, especialmente 
nas relações interpessoais, o que evidencia a dificuldade em lidar com o outro. 
 
 Transtorno dependente de personalidade: 
De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), as pessoas com 
transtorno dependente de personalidade veem a si mesmas como indefesas e, 
portanto, tentam vincular-se a alguma figura mais forte, que lhes ofereça recursos para 
sua sobrevivência e felicidade. 
 
15 
 
Têm uma visão de si como carentes, fracas, indefesas e incompetentes; uma 
visão idealizada dos outros como provedores, apoiadores e competentes; suas 
principais crenças são: “necessito das pessoas para sobreviver, ser feliz”, “necessito 
de um fluxo contínuo de apoio e de encorajamento”; sua principal estratégia seria 
cultivar relacionamentos de dependência, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRAD; 2009), as estratégias 
compensatórias tanto hiperdesenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas 
nesse transtorno são: 
 Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: confiar nos outros; 
evitar decisões; evitar resolver problemas com independência; tentar 
fazer os outros felizes; ser subjugadas por outros; ser tímida e submissa, 
conforme OLIVEIRA D; (2009). 
 Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: resolver problemas com 
independência; tomar de cisões; manter seu ponto de vista perante os 
outros, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
Os dados do estudo de caso descrito por Zanin e Valerio (2004 apud OLIVEIRA 
D; 2009) corroboram com os critérios da APA (2003 apud OLIVEIRA D; 2009) descrito 
no Quadro acima, em que a paciente estudada apresenta comportamentos de briga, 
dependência e esquiva baseados na sua percepção distorcida acerca de situações de 
insegurança em contexto social e a relacionamentos afetivo e interpessoal. 
Esses autores pontuam que o processo cognitivo disfuncional da paciente 
demonstra estar relacionado com sua história de vida, desenvolvimento de suas 
crenças centrais (sou incapaz; não consigo fazer nada sozinha; ...não sou amada...) 
e suas características compensatórias: solicitar aos outros para reassegurar que 
gostem dela; fazer tudo o que os outros pedem; solicitar aos outros que a ajudem no 
enfrentamento das dificuldades e esquivar- se de situações sociais e de desempenho, 
conforme OLIVEIRA D; (2009). 
 
 Transtorno obsessivo-compulsivo de personalidade: 
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) está incluído no Manual 
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica 
Americana (DSM) entre os transtornos de ansiedade. O seu início é gradual, uma vez 
em que ele esteja estabelecido, na maioria dos indivíduos irá ter um curso crônico de 
 
16 
 
vaivém dos sintomas, tendo a sua piora quando relacionados ao estresse (MARTINS, 
2010 apud OLIVEIRA D; et al., 2011). 
As causas do TOC podem ser várias, porém tem dois fatores que estão quase 
sempre presentes, um componente hereditário e conflitos internos, que podem ser por 
fatores de natureza psicológica que surgem depois de algum estresse psicológico, 
conflitos psíquicos que vão agravando os sintomas. Manifesta sob a forma de 
alterações do comportamento dos pensamentos e das emoções. Caracterizado pela 
presença de obsessões e compulsões, conforme OLIVEIRA D; et al., (2011). 
As obsessões são ideias, imagens, impulsos, pensamentos que invadem a 
mente de forma repetitiva, persistente e estereotipada que causam ansiedade 
e podem ser seguidos ou não de rituais (GONZALEZ, 1999 apud OLIVEIRA 
D; et al., 2011). 
As mesmas são criadas a partir de qualquer substrato da mente, tais como 
palavras, medos, preocupações, memórias, imagens e músicas. A pessoa tenta 
resistir a eles, ignorá-los ou suprimi-los com ações ou com outros pensamentos, 
reconhecendo-os, no entanto, não consegue controla-los. Os sintomas costumam 
iniciar antes dos 25 anos de idade, frequentemente na infância ou adolescência, 
conforme OLIVEIRA D; et al., (2011). 
Os sintomas obsessivos mais comuns são: medo de contaminar-se por germes, 
imaginar que tenha ferido ou ofendido outras pessoas, imaginar-se perdendo o 
controle, realizando violentas agressões ou até assassinatos, pensamentos sexuais 
urgentes e intrusivos, dúvidas morais e religiosas e pensamentos proibidos conforme 
OLIVEIRA D; et al., (2011). 
 As compulsões por sua vez podem ser caracterizadas por comportamentos ou 
atos mentais voluntários e repetitivos, que a pessoa é levada a executar em resposta 
a uma obsessão ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os 
comportamentos ou atos mentais são destinados a prevenir ou reduzir a aflição 
gerada pela obsessão (CAMPOS et al., 2000 apud OLIVEIRA D; et al., 2011). 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias 
compensatórias tanto hiperdenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas 
nesse transtorno são: 
 
 
 
 
17 
 
De acordo com OLIVEIRA D; (2009) Estratégias compensatórias 
hiperdesenvolvidas: controlar rigidamente a si mesmo e aos outros; criar expectativas 
exageradas; assumir muita responsabilidade; buscar a perfeição. Estratégias 
compensatórias subdesenvolvidas: delegar autoridade; desenvolver expectativas 
flexíveis, exercitar controle somente quando apropriado; tolerar indecisões; agir 
espontaneamente e impulsivamente; procurar lazer e atividades agradáveis. 
Gallagher, South e Oltmanns (2003 apud OLIVEIRA D; 2009) em um estudo, 
verificaram que indivíduos com transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo 
(TPOC) possuem intolerância de incerteza; dificuldade na tomada de decisão; 
categorização; necessidade de repetição. 
 Em um esforço constante para manter a ansiedade sob controle, esses 
indivíduos, presumivelmente, esforçam- se para manter um senso de controle e 
domínio das suas vidas. Isso corrobora com os dados da APA (2003 apud OLIVEIRA 
D; 2009) de que o estilo cognitivo do TPOC (preocupação com os detalhes, cognitiva 
rigidez pode facilitar uma sensação de controle. 
 
 Transtorno paranoide de personalidade 
 Conforme GOMES A; (2019), padrão de desconfiança e de suspeita tamanhas 
que as motivações dos outros são interpretadas como malévolas. 
De acordo com Beck et al., (1993 apud OLIVEIRA D; 2009), a palavra-chave 
para esse transtorno é a “desconfiança”, essa personalidade adota essa postura na 
maioria, ou em todas as situações. Pessoas com esse transtorno possuem uma visão 
de si mesmas como sendo indivíduos corretos, inocentes, nobre e vulnerável; uma 
visão das outras como pessoas como interferentes, maliciosas, discriminadoras e 
abusivas. Suas principais crenças são: “os motivos são suspeitos”, “esteja em 
guarda”, “não confie”. 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias 
compensatórias tanto hiperdesenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas 
nesse transtorno são: 
Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: ser hipervigilante ao perigo; 
não confiar em ninguém; supor motivações obscuras; ter expectativas de ser 
manipulado, enganado e inferiorizado, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
 
18 
 
Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: confiar nos outros; relaxar; 
cooperar; acreditar em boas intenções, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
Cramer, Torgersen e Kringlen (2006 apud OLIVEIRA D; 2009), em um estudo 
populacional sobre personalidade e qualidade de vida, observaram que indivíduos 
com altas pontuações no transtorno paranoide mostraram reduções fortes e amplas 
na qualidade de vida. Concluíram que, quanto mais a pessoa apresentava ideação 
paranoide, pior a qualidade de vida. Sastre, Vinsonneau, Chabrol e Mulle (2005 apud 
OLIVEIRA D; 2009) correlacionaram respostas do transtorno paranoide com alto nível 
de neuroticismo, indicando ansiedade e desajustamento emocional. 
 
 Transtorno antissocial de personalidade 
O transtorno apresenta dificuldades características na identidade, no auto 
direcionamento, na empática e/ou na intimidade. Associado existe a presença de 
traços mal adaptativos específicos nos domínios do Antagonismo e da Desinibição 
personalidade, conforme GOMES A; (2019). 
De acordo com PEREIRA, M. L.; et al., (2012) transtorno de personalidade, 
usualmente vindo de atenção por uma disparidade flagrante entre o comportamento 
e as normas sociais predominantes, e caracterizado por: 
 Indiferença insensível pelos sentimentos alheios, conforme PEREIRA, 
M. L.; et al., (2012). 
 Atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito por 
normas, regras e obrigações sociais, conforme PEREIRA, M. L.; et al., 
(2012). 
 Incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja dificuldade 
em estabelecê-los, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). 
 Muito baixa tolerância à frustração e um baixo limiar para descarga de 
agressão,incluindo a violência, conforme PEREIRA, M. L.; et al., 
(2012). 
 Incapacidade de experimentar culpa ou de aprender com e a 
experiência, particularmente punição, conforme PEREIRA, M. L.; et al., 
(2012). 
 
19 
 
 Propensão marcante para culpar os outros ou para oferecer 
racionalizações plausíveis para o comportamento que levou o paciente 
a conflito com a sociedade, conforme PEREIRA, M. L.; et al., (2012). 
Pode também haver irritabilidade persistente como um aspecto associado. 
Transtorno de conduta durante a infância e à adolescência, ainda que não 
invariavelmente presente, pode ser maior suporto ao diagnóstico (OMS, 1993, p. 199-
200 apud PEREIRA, M. L.; et al., 2012). Morana, Stone e Abdalla-filho (2006 apud 
PEREIRA, M. L.; et al., 2012), caracterizam o antissocial pela insensibilidade aos 
sentimentos alheios e apontam que quando o grau dessa insensibilidade se apresenta 
elevado, o portador pode adotar um comportamento criminal recorrente definindo 
assim a consequência em assumir uma psicopatia. 
De acordo com J. Beck (2007 apud OLIVEIRA D; 2009), as estratégias 
compensatórias tanto hiperdenvolvidas quanto subdesenvolvidas mais utilizadas 
nesse transtorno são: 
Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: mentir; manipular ou levar 
vantagem sobre os outros; ameaçar ou atacar os outros; resistir ao controle dos 
outros; agir impulsivamente, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: cooperar com os outros; seguir 
regras sociais; pensar sobre as consequências. 
Uma característica essencial do Transtorno de Personalidade Antissocial é a 
impulsividade, que poderia ser definida como uma tendência para escolhas de 
comportamentos que são arriscados, mal adaptados, pobremente planejados e 
prematuramente executados. Estudos epidemiológicos mostram que esse transtorno 
é comum, com 2% a 3% de comportamentos de risco durante a vida, causando 
sofrimento social significativo, como desagregação familiar, criminalidade e violência, 
(Del-Bem, 2005 apud OLIVEIRA D; 2009). 
 
 Transtorno narcisista de personalidade 
O perfil narcisista engloba as pessoas que possuem um sentimento grandioso 
de sua própria existência. Assim como no transtorno histriônico, essas pessoas 
buscam por atenção exacerbada e geralmente exploram suas relações para benefício 
próprio (MAFFINI; CASSEL, 2020 apud FERNANDES J; 2020). Ainda há uma lacuna 
 
20 
 
teórica no que se refere à relação entre a personalidade narcisista e a criminalidade, 
havendo poucos estudos e dados que tratam sobre a temática. 
Em comum com a personalidade antissocial, uma das principais características 
da personalidade narcisista que interessa ao Direito Penal é a falta de empatia. A 
ausência dessa característica é um ponto relevante que diferencia os portadores do 
narcisismo das pessoas comuns (OLIVEIRA, 2017; LAGOS; SCAPIN, 2017; MAFFINI; 
CASSEL, 2020; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
Outro aspecto similar entre a personalidade narcisista e a antissocial é que 
seus portadores são centrados em si mesmos, com expectativas irracionais de que 
devem ser tratados de forma especial. São indivíduos exploradores em suas relações 
pessoais, sendo capazes de tirar vantagens dos outros para atingir seus benefícios e 
desejos próprios (OLIVEIRA, 2017; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
Em face da existência de condutas inadequadas e pensamentos distorcidos na 
personalidade narcisista, caso seu portador esteja envolvido em algum ato ilícito, as 
características de sua personalidade devem ser analisadas pelo médico capacitado, 
para averiguar o grau de interferência na sua saúde mental (LAURENTINO; ALVES; 
GUALBERTO, 2020; MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; BRASIL, 1940; GABRIEL 
et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). 
No transtorno de personalidade narcisista, a terapêutica é essencialmente 
psicoterápica. Diferentes modalidades podem ser utilizadas, mas as principais são: 
psicanálise, terapia interpessoal, terapia cognitiva, terapia cognitiva comportamental, 
treinamento de habilidade, terapia baseada na mentalização e terapia em grupo. Um 
plano terapêutico deve ser elaborado e reavaliado com o tempo, envolvendo o 
paciente e aqueles com quem se relaciona, conforme FERNANDES J; (2020). 
 A abordagem farmacológica deve ser sintomática, conforme o quadro 
apresentado (MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017; 
OLIVEIRA; ALMEIDA, 2018; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
Estratégias compensatórias hiperdesenvolvidas: exigir tratamento especial; ser 
hipervigilante ao tratamento comum (ou normal); punir os outros quando se sentirem 
insultados, diminuídos, disfóricos. Criticar, inferiorizar as pessoas, tentar competir e 
controla-las; tentar impressionar as pessoas com posses materiais, conquistas e 
amizades com pessoas de alto nível social, conforme OLIVEIRA D; (2009). 
 
21 
 
Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: cooperar com os outros para 
alcançar um objetivo comum; trabalhar assiduamente, passo a passo, para alcançar 
as metas pessoais; tolerar inconveniências, frustrações, não reconhecimento; 
satisfazer as expectativas dos outros sem grande benefício para si próprio. 
Alguns estudos sobre pessoas com transtornos de personalidade narcisista 
corroboram com o APA (2003 apud OLIVEIRA D; 2009), mostrando que os sujeitos 
com esse transtorno apresentam um modelo inflado de autoconceito, avaliação 
negativa de outros, acreditam que os outros podem ameaçar seu ego (Bursten, 1982 
In Joiner, Petty, Perez, Sachs-Ericsson & Rudd, 2008 apud OLIVEIRA D; 2009). 
Quando apresentam sintomas paranoides para manter o autoconceito elevado, 
geralmente associam com emoções negativas e atitudes de suspeita e raiva em 
direção à fonte de ameaça, possivelmente, com agressão, ansiedade e violência. 
 
 Transtorno de personalidade histriônico 
Os portadores de personalidade histriônica são indivíduos que se comportam 
de forma dramática e extrovertida. Possuem facilidade de fazer amizades e conhecer 
pessoas novas, porém apresentam dificuldades de manter essas relações. Buscam 
sempre por atenção, tendendo à dramatização das emoções (SILVA; GERSEN, 2019; 
LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAIA et al., 2019 apud FERNANDES J; 
2020). 
A personalidade histriônica apresenta excessiva emotividade, que pode 
interferir em uma variedade de contextos. Devido a suas características de 
teatralidade e expressão emocional exagerada, a atuação do psiquiatra forense é de 
extrema importância ao averiguar se o portador do transtorno, ao cometer o delito, 
teve sua capacidade de autodeterminação e auto entendimento afetada. Se 
constatado qualquer grau de perturbação da saúde mental, ela deverá ser 
documentada (SILVA; GERSEN, 2019; LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; 
MAIA et al., 2019 apud FERNANDES J; 2020). 
A forma como o histriônico se apresenta e se porta durante o exame psíquico 
já levanta suspeitas para o diagnóstico. Constantemente, ele utiliza sua aparência 
física para chamar a atenção; sua interação com os outros frequentemente se 
caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor, 
e seu discurso é excessivamente impressionista e carente de detalhes (SILVA; 
 
22 
 
GERSEN, 2019; LAURENTINO; ALVES; GUALBERTO, 2020; MAIA et al., 2019 apud 
FERNANDES J; 2020). 
O tratamento é psicoterápico e não há hoje evidências de remissão com 
psicofármacos, contudo, estes podem ser usados como adjuvantes ou para tratar 
comorbidades. A abordagem farmacológica deve ser sintomática, conforme o quadro 
apresentado (ex: heteroagressividade – antipsicóticos; Síndrome depressiva- 
antidepressivos) (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017; MAZER; MACEDO; JURUENA, 
2017; DSM-V, 2014 apud FERNANDES J; 2020). 
Conforme OLIVEIRA D; (2009), estratégias compensatórias 
hiperdesenvolvidas: ser extremamente dramático; vestir, agir e falar de modo sedutor; 
divertir os outros,buscar elogios. 
Estratégias compensatórias subdesenvolvidas: ser quieto, obediente; 
concordar com os outros; estabelecer padrões razoáveis de comportamento em 
relação aos outros pacientes; agir dentro dos limites normais, conforme OLIVEIRA D; 
(2009), 
Transtorno de personalidade histriônico, geralmente, é associado com 
aparência física. Em um estudo sobre esse transtorno, foram examinados critérios de 
atração entre as pessoas em um colégio; coerente com as expectativas, as mulheres 
com esse traço apresentaram-se mais atraentes do que os homens e do que as 
pessoas que não apresentam esse traço. Outro dado é que pessoas com esse 
transtorno tinham uma variada rede de suporte social, exibiram mais comportamentos 
negativos em relação a outras relações, mostraram maior uso de defesas imaturas, 
menos uso de distorção de imagem e autossacrificio (Bornstein, 1999 apud OLIVEIRA 
D; 2009). 
 Transtorno de personalidade borderline 
Segundo o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), 
transtorno de personalidade é um padrão persistente de experiência interna e 
comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do 
indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é 
estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo, conforme GRILO M; et al., 
(2016). 
 
 
23 
 
As características mais marcantes do transtorno de personalidade Borderline 
estão relacionadas ao aspecto afetivo. Mudanças bruscas de humor fazem com que 
o indivíduo vivencie momentos de raiva e ira, que são direcionados a qualquer pessoa 
e/ou objetos (DALGALARRONDO; VILELA, 1999 apud GRILO M; et al., 2016). Esses 
episódios causam muito sofrimento e dor, levando essa pessoa a uma possível 
depressão e quadros de ansiedade. 
 Dalgalarrondo e Vilela (1999 apud GRILO M; et al., 2016) destacaram também 
que a depressão vivida por pacientes com esse tipo de transtorno é resultado de um 
sentimento de rejeição muito forte, que faz com que o indivíduo se sinta solitário e 
queira se isolar cada vez mais. 
Para alguns autores, a personalidade borderline apresenta um grau de 
instabilidade emocional muito elevado, interferindo na capacidade de autocontrole do 
indivíduo, já que essa personalidade apresenta acentuada impulsividade, além de 
padrões de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizados pela 
alternância entre extremos de idealização e desvalorização, conforme GRILO M; et 
al., (2016). 
Tal instabilidade afetiva, relacionada a um grau elevado de reatividade do 
humor, pode interferir na conduta da pessoa em dada circunstância. Portanto, essa 
raiva inadequada e intensa ou a dificuldade de controlá-la, de fato, pode interferir na 
sua capacidade de autodeterminação (SARMENTO et al., 2020; MAFFINI, 2020; 
LEITE; CAMPOS, 2016; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2018 apud FERNANDES J; 2020). 
O tratamento deve ser voltado para a psicoterapia e os fármacos podem ser 
usados como adjuvantes ou para tratar comorbidades. Conforme a necessidade, pode 
haver indicação do uso de antipsicóticos, estabilizadores do humor, 
benzodiazepínicos e antidepressivos. A internação também pode ser indicada quando 
há risco de suicídio e autoagressividade, lembrando que o encaminhamento precoce 
para profissionais da área da saúde pode trazer grandes benefícios (SADOCK; 
SADOCK; RUIZ, 2017; MAZER; MACEDO; JURUENA, 2017; DSM-V, 2014 apud 
FERNANDES J; 2020). 
 
 Transtorno de personalidade esquizotípica 
O transtorno de personalidade esquizotípica, conforme estudos realizados 
utilizando as pesquisas de Aaron Beck (BECK; FREEMAN, 1993 apud HOLANDA J; 
 
24 
 
2008), Harold Kaplan (KAPLAN, 1993 apud HOLANDA J; 2008), Michael Ebert 
(EBERT, 2002 apud HOLANDA J; 2008), dentre outros, é caracterizado por indivíduos 
que são considerados esquisitos ou estranhos, mesmo para pessoas leigas. 
Possuem o pensamento mágico (por exemplo, acreditar que um parente morto 
está presente ou que os outros sabem o que eles estão pensando), ilusões e 
desrealização fazem parte de seu mundo e apresentam noções peculiares e ideias de 
referência (como acreditar que acontecimentos não relacionados estão relacionados 
a eles de um modo significativo), ou seja, fazem interpretações incorretas de 
acontecimentos externos ou de incidentes casuais como se tivessem um significado 
particular e incomum direcionados a eles, conforme HOLANDA J; (2008). 
Essas ideias de referência devem ser diferenciadas dos delírios de referência. 
Alterações da percepção podem estar presentes. São indivíduos desconfiados, 
podendo ter ideação paranoide. Muitas vezes parecem interagir com os outros de 
maneira inadequada, rígida ou constrita, conforme HOLANDA J; (2008). 
Seu mundo interior pode estar pleno de relacionamentos imaginários vívidos, 
temores e fantasias infantis. Podem ter ilusões perceptuais ou macropsia (distúrbio 
visual em que o paciente vê um objeto com tamanho maior que o real). Além de 
poderem ser também supersticiosos ou declarar poderes de clarividência. Um 
paciente declarou certa vez acreditar ter o poder de curar pessoas de suas 
enfermidades e rezava impondo as mãos sobre estas pessoas, conforme HOLANDA 
J; (2008). 
Nesse transtorno, o pensamento e a comunicação estão perturbados, 
entretanto, as pessoas acometidas por ele podem não conhecer seus próprios 
sentimentos, mas serem extremamente sensíveis aos sentimentos dos outros. O 
discurso dessas pessoas pode ser estranho ou peculiar e ter significado apenas para 
elas. Mostram fracos relacionamentos interpessoais e podem agir de forma 
inadequada, devido a isto, são isoladas e possuem poucos ou nenhum amigo íntimo 
ou confidente, conforme HOLANDA J; (2008). 
Sentem desconforto na interação com outras pessoas e muitas vezes 
vivenciam esses relacionamentos como problemáticos. Interagem com os outros 
quando precisam, mas preferem ficar sozinhos, por acharem que são diferentes. Em 
situações pessoais que envolvem estranhos sentem-se muitas vezes ansiosos. Sua 
ansiedade social não cede com facilidade, mesmo passando mais tempo no contexto 
 
25 
 
ou se familiarizando com as outras pessoas, porque a ansiedade tende a estar 
associada com suspeitas acerca das motivações dos outros, conforme HOLANDA J; 
(2008). 
Os aspectos mais marcantes desse transtorno são as esquisitices da 
cognição, mesmo sendo o isolamento social, o afeto contraído ou inadequado 
e o comportamento não usual as características do transtorno esquizotípico 
de personalidade. “As distorções cognitivas desse transtorno encontram-se 
entre as mais severas dentre todos os transtornos de personalidade” (BECK; 
FREEMAN, 1993, p. 103 apud HOLANDA J; 2008). 
Apesar dessas “esquisitices” serem similares às dos esquizofrênicos, e embora 
a personalidade esquizotípica seja algumas vezes observada em indivíduos com 
esquizofrenia antes deles adoecerem, a maioria dos adultos com uma personalidade 
esquizotípica não desenvolve esquizofrenia, conforme HOLANDA J; (2008). 
Pessoas com este transtorno frequentemente experimentam ilusões, como, por 
exemplo, pensar que estão vendo pessoas em sombras ou na estampa do papel de 
parede. Embora o discurso dessas pessoas seja coerente e não haja afrouxamento 
de associações, o indivíduo esquizotípico frequentemente é tangencial, circunstancial, 
tartamudo (gago) ou hiper elaborado, fazendo com que apareçam numa linguagem 
estranha esses tipos de cognição, conforme HOLANDA J; (2008). 
 
 Transtorno de personalidade esquizoide (TPE) 
O transtorno da personalidade esquizoide é caracterizado por um padrão 
generalizado de distanciamento e desinteresse geral pelos relacionamentos sociais e 
uma gama limitada de emoções nas relações interpessoais. O diagnóstico é por 
critérios clínicos. O tratamento é com terapia cognitivo-comportamental, conforme 
msdmanuals: SKODOL A; (2018). 
De acordo com MAZER A; et al., (2016), o transtornoda personalidade 
Esquizoide caracteriza – se com estratégias de distanciamento das relações sociais e 
é uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que se 
manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contexto, 
são eles: 
 Não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte 
de uma família, conforme MAZER A; et al., (2016). 
 Quase sempre opta por atividades solitárias, conforme MAZER A; et al., 
(2016). 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/authors/skodol-andrew
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/authors/skodol-andrew
 
26 
 
 Manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com 
um parceiro, conforme MAZER A; et al., (2016). 
 Tem prazer em poucas atividades, se alguma, conforme MAZER A; et 
al., (2016). 
 Não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não sejam parentes 
em primeiro grau, conforme MAZER A; et al., (2016). 
 Mostra-se indiferente a elogios ou críticas, conforme MAZER A; et al., 
(2016). 
 Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo, 
conforme MAZER A; et al., (2016). 
No transtorno de personalidade esquizoide, a capacidade de se relacionar com 
os outros é significativamente limitada. Estima-se que cerca de 3,1% a 4,9% da 
população norte-americana geralmente têm transtorno da personalidade esquizoide. 
É ligeiramente mais comum entre os homens, conforme msdmanuals: SKODOL A; 
(2018). 
O transtorno da personalidade esquizoide pode ser mais comum nas pessoas 
com história familiar de esquizofrenia ou transtorno de personalidade esquizotípica. 
Comorbidades são comuns. Até metade dos pacientes tiveram pelo menos um 
episódio de depressão maior. Eles muitas vezes também têm outros transtornos de 
personalidade, mais comumente esquizotípica, paranoia, borderline ou esquivo, 
conforme msdmanuals: SKODOL A; (2018). 
5 TERAPIA COGNITIVA FOCADA EM ESQUEMAS 
 
Fonte: levpsicologia.com.br 
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/authors/skodol-andrew
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-do-humor/transtornos-depressivos#v1028038_pt
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-esquizot%C3%ADpica-tpe
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-paranoide-tpp
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-borderline-tpb
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-da-personalidade-esquiva-tpe
https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/authors/skodol-andrew
 
27 
 
A Terapia dos Esquemas (TE), desenvolvida por Jeffrey Young é uma 
abordagem sistemática que amplia a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) 
clássica ao dar ênfase a investigação das origens dos problemas psicológicos na 
infância e adolescência, as técnicas emotivas, à relação terapeuta-pacientes e aos 
estilos desadaptativos de enfrentamento (YOUNG, KOSHO, WEISHAR, 2008 apud 
ISOPPO, 2012 apud SOUZA D; 2017). A TE é uma forma da TCC – terapia cognitivo 
comportamental de terceira onda e apresenta uma contribuição bastante relevante ao 
campo da personalidade e do desenvolvimento humano, e esse modelo utiliza 
elementos cognitivos, comportamentais, experienciais e técnicas interpessoais, 
através de uma forte e segura relação terapêutica para a intervenção a problemática 
do paciente. 
 Dessa forma, trata-se de um modelo terapêutico que amplia as estratégias 
para o tratamento, como enfatizar a confrontação, a experiência afetiva, o 
relacionamento terapêutico como um veículo de mudança e a discussão de 
experiências iniciais da vida. (WAINER et al, 2016; KNAPP et al 2008, PAIM et al, 
2012 apud SOUZA D; 2017). 
A TE é uma proposta inovadora e integradora que potencializa os tratamentos 
cognitivos comportamentais utilizando das escolas cognitivo-comportamental, de 
apego, da gestalt, de relações objetais, construtivista e psicanalítica em um modelo 
conceitual de tratamento, ela proporciona um novo sistema psicoterápico 
especialmente adequado a pacientes com transtornos da personalidade ou com 
problemas caracterológicos complexos, que eram considerados difíceis de se tratar. 
A TE pode ser breve, de médio ou de longo prazo, ela ajuda pacientes e terapeutas a 
entender seus problemas crônicos e a organizá-los de maneira compreensível, 
conforme SOUZA D; (2017). 
Portanto, a terapia do esquema teve seu surgimento calcado nas práticas 
cognitivo comportamentais e nas experiências clínicas de Jeffrey Young, que 
percebeu a necessidade de amplificar a visão de tratamento de questões relacionadas 
a padrões de comportamento de longa data e problemas emocionais, conforme 
ABREU E; (2019). 
 
 
 
28 
 
A linha integra um recente grupo dentro das terapias cognitivo-
comportamentais que se dedicam prioritariamente para o entendimento biológico e 
relacional do desenvolvimento de problemas caracterológicos crônicos (Young et al., 
2008; Martin & Young, 2010 apud ABREU E; 2019). 
Dentre os principais conceitos da terapia do esquema, Young (2003 apud 
ABREU E; 2019) propõe que estejam seis construtos teóricos. Estes são: 
 Os esquemas iniciais desadaptativos, conforme ABREU E; (2019). 
 Os domínios de um esquema, conforme ABREU E; (2019). 
 A manutenção de um esquema, conforme ABREU E; (2019). 
 A evitação de um esquema, conforme ABREU E; (2019). 
 A compensação de um esquema, conforme ABREU E; (2019). 
 Os modos esquemáticos, conforme ABREU E; (2019). 
Os esquemas correspondem a forma como o sujeito irá responder a situações 
e comportar-se no tempo e no espaço, vivenciando suas experiências de maneira 
significativa. Contudo, eles não precisam, necessariamente, manterem-se ativos 
durante todo o tempo, podendo apresentar-se de modo inativo por curtos ou longos 
períodos, mas sempre estarão presentes no modo com interpretamos as situações do 
cotidiano. São considerados como traços de nossa personalidade e conceituados 
também como um construto pessoal, que determina o modo como o indivíduo percebe 
a si e ao outro, conforme ABREU E; (2019). 
Estes esquemas são originados a partir das experiências pessoais 
relacionadas com o atendimento das necessidades emocionais 
fundamentais, e do modo com que estas são acolhidas (Young, 2003; Leahy, 
2006; Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
 
29 
 
 
 
Fonte: repositorio.ucs.br - baseado em Young, 2003; Young et al., 2008 apud ABREU E; (2019). 
A necessidade de aceitação e reconhecimento foi fundamentada nos princípios 
propostos por John Bowlby (1979 apud ABREU E; 2019) na teoria do apego, visto que 
utiliza como base que para um desenvolvimento adequado da personalidade do 
sujeito, é preciso que este tenha estabelecido um vínculo saudável de apego com 
seus cuidadores. Essas formas de apego irão acompanhá-lo ao longo de sua vida. 
 
 
 
30 
 
Elas são divididas em quatro categorias, sendo a primeira delas o apego 
seguro, o tipo mais adequado, visto que a criança precisa da presença de sua figura 
de referência, mas que consegue distanciar-se do mesmo e explorar o ambiente, 
mesmo que em um curto período de tempo. A segunda categoria é o apego ansioso 
ou ambivalente, no qual a criança fica extremamente mobilizada na ausência de seu 
cuidador, vendo o distanciamento deste como uma ameaça. A terceira categoria 
refere-se ao apego inseguro evitativo, no qual a criança desconsidera o 
distanciamento do cuidador, podendo substituí-lo por um estranho, sendo 
característico de indivíduos com esquemas em domínio de desconexão e rejeição, 
conforme ABREU E; (2019). 
Por fim, há o apego desorganizado, que ocorre principalmente nas situaçõesde maus-tratos, no qual a criança recebe informações dúbias, visto que o cuidador é 
sua referência de apego e ao mesmo tempo comete delitos contra si, fazendo com 
que a mesmo passe a desconfiar dos relacionamentos que tem com os demais 
(Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Vale destacar que estas tarefas estão intimamente relacionadas com as 
características biológicas e com o temperamento do indivíduo, que possuem impacto 
no desenvolvimento de alguns destes esquemas e as diferenças nos temperamentos, 
que fazem com que as crianças reajam diferentemente a circunstâncias de vida 
semelhantes. É a interação entre temperamento e eventos precoces da vida que 
produz diferentes estilos de enfrentamento (Young, 2003; Martin & Young, 2010 apud 
ABREU E; 2019). 
No que tange as contribuições da terapia do esquema para com o 
desenvolvimento da personalidade do indivíduo tem-se que, seja ela salutar ou 
patológica, o papel do temperamento inato é de extrema importância. A formação da 
personalidade ocorre de maneira genuína e autêntica, embasada na genética do 
indivíduo. Ou seja, com base nas heranças genéticas o temperamento é desenvolvido, 
e juntamente com o ambiente em que o sujeito está inserido, são originados os 
aspectos comportamentais, emocionais, cognitivos e motivacionais de cada sujeito 
(Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
 
 
 
31 
 
O temperamento, para estudiosos da TE, é considerado como um determinante 
biológico da personalidade, que não poderá ser totalmente transformado através da 
interação e das influências do ambiente em que o sujeito está inserido. É tido como 
uma tendência genética que pode ou não ser amplificada, reduzida, encoberta ou 
expressa tal como é, mas que nunca será extinto. Além disso, é o temperamento que 
determinará a quantidade que o sujeito carece de suas necessidades emocionais 
fundamentais para cada uma de suas fases de desenvolvimento (Young et al., 2008 
apud ABREU E; 2019). 
Desta forma, a família ou os cuidadores primários do infante desempenham um 
papel primordial na formação de sua personalidade, já que as primeiras experiências 
são vivenciadas com os pais, com os irmãos (caso tenha), com os parentes, com os 
amigos mais próximos e, no início da vida escolar, com os professores. Contudo, é 
necessário frisar que a tarefa destes indivíduos é extremamente exigente, visto que 
para cada momento do desenvolvimento da criança, é necessário que uma 
necessidade diferente seja atendida de forma integral e adequada (Young et al., 2008; 
Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Outro importante conceito para a TE refere-se aos esquemas iniciais 
desadaptativos [EIDs], também chamados de esquemas desadaptativos remotos, que 
são concebidos por Young (2003 apud ABREU E; 2019) como as estruturas mais 
profundas da cognição. Relacionam-se com conteúdos estáveis e duradouros, 
elaborados desde o período da infância. Mesmo assim, ao longo da vida eles vão 
sendo perpetuados ou modificados, e, caso permaneçam disfuncionais, tem um 
grande impacto negativo na vida do sujeito. Eles são utilizados para enfrentar 
situações posteriores (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
Os EIDs apresentam algumas características relevantes, sendo considerados 
como “crenças e sentimentos incondicionais sobre si mesmo em relação ao ambiente” 
(Young, 2003, p.16 apud ABREU E; 2019). São julgados como verdades 
incontestáveis, tornando-se incondicionais e rígidos e, por excelência, são resultados 
das origens biológicas aliado ao não atendimento, ou de forma parcial ou inadequada, 
das necessidades emocionais fundamentais quando criança. 
 
 
 
32 
 
São esquemas inconscientes, visto que são desenvolvidos em um nível 
emocional e apresentam uma elevada dificuldade de mudança, visto que estão 
inseridos no centro da personalidade do sujeito, constituindo-a. Graças a isso, durante 
o processo terapêutico, alguns indivíduos demonstram resistência em modificar seus 
EIDS, procurando invalidar as intervenções para manter os esquemas, conforme 
ABREU E; (2019). 
São os EIDs que estão na origem das respostas emocionais e 
comportamentais disfuncionais e para que eles sejam ativados, é necessário 
a ocorrência de uma situação desencadeante de efeito relevante, estando 
intimamente ligada ao afeto (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 
Os EIDS são identificados através dos sintomas atuais e da compreensão da 
origem destes e dos padrões cognitivos do sujeito e estão reunidos em cinco 
domínios, em concordância com as cinco necessidades não atendidas das crianças 
(Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 
Conceitualmente, domínios são períodos entre a infância e à adolescência, nos 
quais algumas exigências psíquicas precisam ser atingidas, seja pelos cuidadores do 
indivíduo ou pelo ambiente em que está inserido, visando o desenvolvimento e a 
promoção de esquemas mentais saudáveis (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
Estes estão descritos na Tabela abaixo: 
 
 
33 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
Fonte: Elaborada pela autora (baseada em Young, Klosko e Weishaar, 2008 apud ABREU E; 2019). 
Normalmente, os EIDs desenvolvidos no primeiro domínio estão relacionados 
às famílias de origem que apresentam características de vivências de relações 
instáveis, com presença de abusos de diferentes ordens, sem uma proximidade 
emocional, tratando seus filhos com frieza e/ou rejeição. Este é o domínio no qual os 
pacientes costumam apresentar maiores danos, visto que, em função do modo com 
que aprenderam a se relacionar, vivenciam experiências autodestrutivas ou buscam 
isolar-se de relacionamentos íntimos (Young, 2003; Young et al., 2008 apud ABREU 
E; 2019). 
Já em relação aos EIDs do segundo domínio, percebe-se a presença de 
famílias típicas que costumam atender a todas as necessidades e vontades 
do indivíduo demasiadamente, superprotegendo-o, ou, em um número 
significativamente menor, não prestam a devida assistência a ele (Young, 
2003 apud ABREU E; 2019). 
 
35 
 
O traço marcante nas famílias nucleares dos EIDs do terceiro domínio é uma 
permissividade ou indulgência exacerbada. Já no quarto domínio, a característica 
central nas famílias de origem refere-se à falta de liberdade para seguir seus próprios 
desejos (Young et al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
 Os EIDs desenvolvidos no quinto e último domínio, normalmente referem-se à 
presença de excessiva severidade, repressão e rigidez por parte de seus cuidadores, 
sendo que os mesmos passam a ver as situações de sua vida de modo negativo e 
triste, em função das características listadas anteriormente (Young et al., 2008 apud 
ABREU E; 2019). 
Em suma, os esquemas iniciais, sejam eles adaptativos ou desadaptativos, são 
constituídos a partir do temperamento e da herança filogenética do indivíduo, do modo 
com que suas necessidades emocionais fundamentais foram atendidas, de sua 
exposição a experiências continuadas, sejam elas traumáticas ou positivas, e da 
influência de seus cuidadores (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 
Os esquemas iniciais desadaptativos são conservados a partir de um 
mecanismo denominado de processos esquemáticos. Estes foram desenvolvidos a 
partir da melhor solução encontrada para sanar a situação desorganizadora 
vivenciada na infância, visando à adaptação do sujeito ao seu ambiente. Sendo assim, 
percebe-se que nosso cérebro utiliza o que conceituamos como economia psíquica, 
ou seja, lança mão de estratégias que funcionaram na infância para enfrentar 
situações ansiogênicas e desorganizantes na vida adulta. Porém, na maioria das 
vezes, não se obtém sucesso na nova fase, pois o ambiente relacional em que está 
inserido está modificado (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Ressalta-se que todos os mecanismos utilizados para enfrentar os esquemas 
ocorrem de forma inconsciente. Um destes processos é denominado como 
manutenção ou resignação. Como os EIDs são centrais para a organização da 
personalidade, osujeito busca, através deste mecanismo, reforça-los e isso pode 
ocorrer de duas maneiras distintas: pelas distorções cognitivas e/ou pelos padrões de 
vida autoderrotistas, conforme ABREU E; (2019). 
 É essa característica do esquema que explica a rigidez dos transtornos de 
personalidade (Arntz & Jacob, 2013 apud ABREU E; 2019). Nas distorções cognitivas, 
conceito que se originou no cognitivismo, o sujeito tem uma percepção equivocada 
das situações, dando ênfase ou suprimindo as informações, visando sempre confirmar 
 
36 
 
seu esquema, sendo um processo que ocorre na esfera cognitiva. São exemplos de 
distorções a catastrofização, a desqualificação do positivo, a emocionalização e o uso 
de filtro mental. 
Nos padrões de vida autoderrotistas, o indivíduo recorre a situações ou 
relacionamentos, de forma inconsciente, que deem continuidade e reforcem esse EID, 
sendo um processo de ordem comportamental. Um exemplo comum é a escolha de 
um parceiro crítico e exigente, quando a pessoa possui um forte esquema de 
defectividade ou vergonha (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 
Outro processo esquemático que ocorre com os EIDs é a evitação. Ele é 
ativado visando minimizar a mobilização de elevados níveis de afeto, que 
normalmente ocorrem de maneira negativa. Com ele o sujeito evita situações, 
informações e/ou pessoas, através de processos cognitivos, afetivos ou 
comportamentais. Isso possibilita que o indivíduo não se depare com as 
consequências negativas desencadeadas pela ativação de seu EID (Martin & 
Young, 2010 apud ABREU E; 2019). 
Ainda podemos citar como um estilo de enfrentamento a um esquema inicial 
desadaptativo, o mecanismo de compensação. Ele é caracterizado por apresentar 
“comportamentos e cognições diametralmente opostos ao que seria esperado para o 
esquema” (Wainer & Rijo, 2016, p. 52 apud ABREU E; 2019), os quais são utilizados 
para compensá-lo. Pode ser empregado de forma funcional, visando o atendimento 
de necessidades que não foram contempladas anteriormente, contudo, na maioria dos 
casos, ocorre uma hipercompensação, adquirindo um caráter negativo de seu uso. 
Os EIDs podem ser identificados por meio de diversas técnicas. Uma das 
principais consiste no Questionário de Esquemas de Young (YSQ-S3), desenvolvido 
pelo criador da TE. Foi produzido em duas formas, sendo a primeira, denominada de 
forma longa, apresentando 205 perguntas a serem respondidas e a segunda, 
reduzida, contando com 75 perguntas, conforme ABREU E; (2019). 
Todavia, ambas apresentam a mesma função, que se concentra na descoberta 
dos principais esquemas presentes na personalidade daquele indivíduo. Outra técnica 
é chamada de “Flecha Descendente”, que através de questionamentos visa-se chegar 
ao esquema nuclear do sujeito, ou através da técnica de observação de consistência 
na forma como o indivíduo vê a si e aos outros (Young, 2003 apud ABREU E; 2019). 
 
 
 
37 
 
Após a apresentação de alguns dos principais conceitos da TE, é importante 
salientar que a chance de que o sujeito venha a desenvolver um transtorno de 
personalidade está intimamente ligada à exposição ao estresse precoce na infância, 
seja qual a forma assumida por ele, ou a deficiência no atendimento a suas 
necessidades básicas, conforme ABREU E; (2019). 
As principais formas de estresse na infância são a ocorrência de abusos, sejam 
eles físicos, sexuais ou emocionais e a negligência física e emocional. Estes 
diferentes modos de maus-tratos acabam por maximizar os riscos de desenvolvimento 
de comportamentos de agressão e/ou impulsividade, ou de depressão e ansiedade 
(Young et al., 2008; Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Há ainda o conceito de modos esquemáticos para ser explorado, que foi 
desenvolvido a partir de estudos com pessoas diagnosticadas com transtorno de 
personalidade borderline. Devido à instabilidade dos traços – esquemas – e da 
labilidade emocional presente nestes indivíduos, optou-se por categorizar os 
diferentes modos de enfrentamento, como modelos de estado (Young et al., 2008 
apud ABREU E; 2019). 
5.1 Os esquemas e sua biologia 
Iremos abordar neste tópico uma visão biológica dos esquemas, que foram 
embasadas em pesquisas recentes referentes emoção e biologia do cérebro. 
Realçamos que se trata de hipóteses sobre possíveis mecanismos de 
desenvolvimento e modificação de esquemas, já que ainda não se concretizaram 
pesquisas para fundar se estas suposições são validas. Porém, pesquisas atualizadas 
sugerem que não existe apenas um sistema emocional no cérebro, e sim, diversos 
(LEDOUX apud YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). 
Diferentes emoções relacionam-se com distintas funções de sobrevivência – 
como responder ao perigo, encontrar comida, fazer sexo e encontrar 
parceiros, cuidar dos filhos, estabelecer laços sociais, - e cada uma delas 
parece mediada por sua própria rede cerebral (YOUNG; KLOSKO e 
WEISHAAR, 2008, p. 38-39 apud MACHADO L; 2016). 
Em momentos de transição do século XIX para o XX, foram apresentadas as 
derradeiras teorias neuropsicológicas das emoções, com destaque aos sentimentos 
de William James e Carl Lange, para os quais a experimento emocional individual 
 
38 
 
constituiria em aparições comportamentais e fisiológicas (ou seja, se sorri é porque se 
esta alegre), bem como às ideias de Phillip Barde Walter Cannon que estabeleceram 
que o Sistema Nervoso Central determinasse tanto a experiência subjetiva quanto as 
aparições fisiológicas e comportamentais (ESPERIDIÃO et al, 2007 apud MACHADO 
L; 2016). 
Os sistemas cerebrais relacionados ao condicionamento do medo e trauma, em 
estudos sobre a biologia do cérebro apontam partes onde pode ocorrer acionamento 
de esquemas baseados em eventos traumáticos de infância, como abandono ou 
abuso. Em resumo da pesquisa sobre a biologia das memórias traumáticas, escreve 
durante uma situação de aprendizagem traumática, as memórias conscientes são 
estabelecidas por um sistema que envolve o hipocampo e as áreas corticais 
relacionadas, ao passo que as memórias inconscientes são estabelecidas por 
mecanismos de condicionamento do medo que operam por meio de um sistema 
baseado nas amígdalas. Esses dois sistemas operam em paralelo e armazenam 
diferentes tipos de informação relacionada à experiência, conforme MACHADO L; 
(2016). 
 Quando os estímulos presentes durante o trauma inicial são encontrados 
mais tarde, cada sistema é potencialmente capaz de recuperar suas 
memórias. No caso do sistema amigdalino, a recuperação resulta na 
expressão de respostas corporais que preparam para o perigo e, no caso do 
sistema do hipocampo, ocorrem lembranças conscientes. Dessa forma, os 
mecanismos cerebrais que registram, armazenam e recuperam memórias da 
importância emocional de um evento traumático diferem dos mecanismos que 
processam memórias e cognições conscientes sobre o mesmo evento. A 
amígdala armazena a memória emocional, enquanto o hipocampo e o 
neocortéx armazenam a memória cognitiva. As respostas emocionais podem 
ocorrer sem a participação de sistemas de processamento superior do 
cérebro, envolvidos no pensamento, no raciocínio e na consciência (LEDOUX 
apud YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008, p. 39 apud MACHADO L; 2016). 
Utilizando destas pesquisas algumas implicações possíveis para teoria dos 
esquemas, desenvolvemos um esquema com um conjunto de memórias, emoções 
sensações corporais e cognições que giram em torno de um ponto na infância. Pode-
se definir a biologia cerebral de um esquema da seguinte forma, quando um indivíduo 
encontra estímulos reminiscentes dos eventos da infância que levaram ao 
desenvolvimento do esquema, as emoções e sensações corporais associadas ao 
evento são ativadas inconscientemente pelo sistema amigdaliano: se o indivíduo está 
consciente delas, as emoções e sensações corporais ativa-se mais rapidamente do 
que as cognições, conforme MACHADO L; (2016). 
 
39 
 
Essa ativação das emoçõese sensações corporais é automática e, 
provavelmente constituirá uma característica permanente da vida do 
indivíduo, embora o grau de ativação possa ser reduzido com a cura do 
esquema. Por sua vez, as memórias e as cognições conscientes associadas 
ao trauma armazenam-se no sistema hipocampal e nos córtices superiores 
(YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008, p. 41 apud MACHADO L; 2016). 
Esperidião et al (2007 apud MACHADO L; 2016) apresenta que os sistemas 
das emoções parecem estar organizados em rede; onde não existem elementos que 
digam como ele funciona especificamente, ou seja, todos os meios desempenham 
papéis de desencadeamento semelhantes entre si. Compreendendo-se assim, que 
esses sistemas dependem da uniformidade de seus componentes de uma maneira 
complexa, não hierárquica, necessitando de mais estudos e esclarecimentos a 
respeito. 
Devido ao fato de aspectos emocionais e cognitivos da experiência traumática 
vivenciada, localizarem-se em diferentes sistemas cerebrais, pode-se explicar a 
impossibilidade de se alterarem os esquemas por meio do método cognitivo simples. 
Além disso, os componentes cognitivos de um esquema, muitas vezes, desenvolvem-
se mais tarde, após as emoções e as sensações corporais já estiverem registradas 
na amigdala (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). 
As emoções mais “primitivas” e bem estudadas pelos neurofisiologistas com 
a finalidade de estabelecer suas relações com o funcionamento cerebral são 
a sensação de recompensa (prazer, satisfação) e de punição (desgosto, 
aversão), tendo sido caracterizado, para cada uma delas, um circuito 
encefálico específico (ESPERIDIÃO, 2007, p.58 apud MACHADO L; 2016). 
Vários esquemas se desenvolvem em uma etapa pré-verbal, originando-se 
antes que a criança adquira a linguagem. Os esquemas pré-verbais aparecem quando 
a criança ainda é muito pequena e tudo que esta armazenado são memórias, emoções 
e sensações corporais. As cognições aparecem posteriormente, quando a criança 
começa a pensar e falar palavras. Sendo assim, as emoções têm primazia em relação 
às cognições no trabalho com muitos esquemas (YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 
2008 apud MACHADO L; 2016). 
Quando se ativa um esquema desadaptativo remoto, o indivíduo é inundado 
por emoções e sensações corporais. A pessoa pode conectar 
conscientemente ou não as emoções e sensações corporais à memória 
original. As memórias encontram-se no coração dos esquemas, mas, via de 
regra, não estão explícitas na consciência, mesmo sob a forma de imagens 
(YOUNG; KLOSKO e WEISHAAR, 2008 apud MACHADO L; 2016). 
 
40 
 
Um entendimento global referente às bases biológicas e as influências 
diferenciadas tanto nas aprendizagens diretas como daquelas obtida pelos exemplos 
dos pais/cuidadores desde o nascimento até a adolescência. A terapia dos esquemas 
destaca a complexidade intrínseca a constituição de uma identidade individual 
funcional aos mais diversos contextos. Também denota a intensa tarefa de 
pais/cuidadores e familiares, uma vez que a cada um dos cinco momentos críticos do 
desenvolvimento da criança (DEs) há de se fornecer necessidades emocionais 
distintas e com graus diferenciados de acordo com a própria natureza do filho 
(WAINER et al, 2016 apud MACHADO L; 2016). 
5.2 Modos esquemáticos 
Como um último conceito principal da TE, temos os modos esquemáticos, 
também chamados de modos dos esquemas. Estes são um conjunto de esquemas e 
de suas respostas de enfrentamento, que são utilizados quando um número elevado 
de esquemas é ativado e o sujeito torna-se resistente (Young et al., 2008 apud ABREU 
E; 2019). 
O conceito de modo esquemático é definido como uma junção entre esquemas 
iniciais desadaptativos e de processos esquemáticos, que demonstram um modelo 
particular e específico de como um sujeito funciona, sendo ativados, principalmente, 
quando há a ocorrência de situações que envolvam elevado grau de afeto 
(denominadas situações de ativação emocional). Este modo compreende desde 
sentimentos e pensamentos, até as maneiras (saudável ou patológica) como que ele 
irá lidar com o cenário de seu cotidiano (Roedger & Stevens, 2016 apud ABREU E; 
2019). 
Os modos são os estados emocionais predominantes em um momento 
específico. Estes são utilizados de forma desadaptativa quando necessidades 
primordiais não cumpridas ativam e acionam os esquemas disfuncionais. Assim, 
funcionam como tentativas de evitar ou lidar com as frustrações do não preenchimento 
das necessidades emocionais fundamentais (Wainer, 2016 apud ABREU E; 2019). 
Eles estão divididos em quatro categorias, totalizando 10 modos de esquemas, 
como demonstra na imagem abaixo: 
 
41 
 
 
Fonte: cetcconline.com.br 
 
 
 
42 
 
 
Fonte: cetcconline.com.br 
 
 
43 
 
 
WAINER, 2016 - Adaptado de Young e colaboradores (2008 apud OLIVEIRA T; 2018). 
Acerca do primeiro grupo, é válido destacar que para diminuir a ativação do 
modo criança zangada, é necessário identificar o modo criança vulnerável. Outro fato 
merecedor de destaque é de que quanto mais grave é o transtorno da personalidade, 
mais vezes os modos de enfrentamento desadaptativos serão acionados (Young et 
al., 2008 apud ABREU E; 2019). 
A contribuição dos modos esquemáticos para a compreensão da dinâmica do 
casal é efetivada no entendimento consciente e emocional dos processos 
esquemáticos e dos EIDs presentes na relação conjugal, para que assim, seja 
possível identificar, explorar e expor as vulnerabilidades e necessidades presentes 
em cada parceiro, para que estes possam desenvolver estratégias adequadas para 
propor uma reparentalização assertiva, conforme ABREU E; (2019). 
Assim, acessando o modo criança vulnerável, os parceiros podem realizar essa 
identificação e atuar no modo adulto saudável, sendo um agente reparentalizador de 
tal necessidade ou vulnerabilidade (Paim, 2016 apud ABREU E; 2019). 
 
44 
 
5.3 O Modelo Cognitivo das Psicopatologias 
De acordo com o modelo cognitivo das psicopatologias, as diferenças entre os 
transtornos estão no conteúdo dos esquemas e crenças mal-adaptativos e nas 
interpretações enviesadas associadas a cada transtorno. Enquanto na 
depressão os esquemas mal- adaptativos estão relacionados a uma visão 
negativista, por exemplo, na ansiedade estão relacionados à vulnerabilidade e ao 
medo de ameaças físicas ou psicológicas (A. Beck, 1976, conforme citado em Clark, 
A. Beck & Brown, 1989 apud PERES A; 2008). 
Os significados atribuídos aos eventos a partir da visão e temas 
negativistas idiossincráticos descobertos por meio de observações de 
pacientes deprimidos estão relacionados a questões sociais vitais, como fracasso 
e sucesso, aceitação e rejeição, respeito ou desdém (A. Beck, 1991 apud PERES A; 
2008). 
Diversos modelos teóricos cognitivos de psicopatologias foram propostos e 
todos davam destaque ao papel fundamental da mediação cognitiva 
nas respostas comportamentais e afetivas. Os modelos diferenciam-se no 
que diz respeito à explicação dada a essa mediação (Clark e cols., 1989 apud 
PERES A; 2008). 
As abordagens psicoterápicas cognitivas pressupõem que fatores cognitivos 
específicos estão fortemente relacionados à etiologia, curso e tratamento dos 
transtornos psicológicos. Ainda, diversas pesquisas apontam que as variáveis 
cognitivas são importantes determinantes das disfunções emocionais (Ingram, 
Kendall, Smith, Donnel, & Ronan, 1987 apud PERES A; 2008). 
De acordo com Ingram e Kendall (1986, conforme citado em Clark e cols., 1989 
apud PERES A; 2008) as variáveis cognitivas podem ser divididas, em sua 
maioria, em termos de estrutura e conteúdo, operação e produto do sistema de 
processamento de informações. Variáveis de estrutura e conteúdo referem-se, 
respectivamente, a forma de organização interna das informações (esquemas ou 
redes associativas,

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