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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL Bacharelado em Jornalismo RETRATOS DO SUS: RELATOS E REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO SÃO PAULO 2020 LUIZ FERNANDO DAMASCENO SANTOS - 17819792 RETRATOS DO SUS: RELATOS E REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Relatório de Fundamentação Teórica e Metodológica apresentado ao Curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, como requisito para obtenção do título de bacharel em Jornalismo. Orientadora: Profa. Dra. Mirian Meliani Nunes São Paulo 2020 Dedicatória: Aos meus pais, irmãs, amigos e professores, por toda a ajuda e incentivo durante o desenvolvimento deste projeto. Para aqueles que mantiveram suas esperanças diante de todas as adversidades e para a dona Raquel, mãe de meu amigo Alessandro Zedequias, que lutou bravamente contra um câncer. Agradecimentos Agradeço a essa energia superior, mística e surreal, que de uma forma nada científica sempre esteve presente em minha trajetória, agradeço aos meus amigos que foram tão pacientes e generosos durante essa aventura vivida na Universidade. Esta vivência que é única, inesquecível e avassaladora, chamada graduação é singular graças as experiências humanas ali vividas, graças aos docentes e profissionais que realizam diariamente a árdua tarefa de aguçar nosso senso crítico, empatia, de ensinar comunicação, de transmitir conhecimentos tão distintos e tão cheios de significado. Encontrei pessoas incríveis, diversas, difíceis e maravilhosas nessa jornada, fizemos uma caminhada que não foi pavimentada por uma trilha de tijolos amarelos como no livro “O Mágico de Oz”, mas que em seu final mostrou que a magia sempre esteve em nós alunos, assim como o poder de voltar para casa sempre esteve com Dorothy. Nessa volta para casa – ou volta para nós mesmo – me encontro mais sábio, menos alienado e mais grato. Me sinto validado e percebo que cursar jornalismo foi um dos maiores atos de amor próprio que já tive. Agradeço a minha prima Kátia Sayuri, a primeira pessoa a perguntar o que eu gostaria de ser quando criança e a primeira pessoa a ouvir que eu gostaria de ser jornalista. A primeira pessoa que estimulou minha escrita - graças as cartas que trocávamos na minha pré-adolescência. Agradeço a minha mãe, que sempre leu em voz alta, que sempre contou histórias, que sempre disse que me amaria incondicionalmente independente de minhas limitações. Agradeço as minhas tias Eugênia e Bernadete, dois pilares da família Santos. Agradeço ao meu pai por financiar indiretamente meu sonho e por nunca ter se oposto as minhas escolhas. Agradeço a vida, aos encontros, aos desencontros, e agradeço a todos que acreditaram em mim. 5 Ficha-técnica Luiz Fernando Damasceno Santos: Discente do oitavo semestre de jornalismo na Universidade Cruzeiro do Sul. Estagiário na Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Cruzeiro do Sul, com foco na divulgação de ciência, educação e saúde. Funções: Pesquisador, designer, repórter, pauteiro e redator. Taís Bueno: Formada em Licenciatura plena em Artes Visuais pela FPA - Faculdade Paulista de Artes. Atuação no campo das artes visuais, projetos educacionais, preparação e elaboração de conteúdos didáticos e ministração de oficinas criativas. Funções: Ilustração e orientação visual. Thais Kowalski: Licenciada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Atua com revisão de textos e projetos educacionais voltados à Literatura. Função: Revisora. Produto: Livro-reportagem. 6 Resumo O presente trabalho investigou os retratos do Sistema Único de Saúde na mídia por meio da análise do conteúdo de notícias, nele foi observado que as mesmas não retratam o SUS com complexidade e tampouco convidam o leitor a refletir sobre a origem dos problemas do sistema, bem como sua importância para a sociedade. No projeto de pesquisa, foi feita uma análise de conteúdo sobre as notícias veiculadas no portal Estadão entre fevereiro e maio de 2020, amparada na Teoria da Complexidade e nos critérios de noticiabilidade. Com o resultado da pesquisa foi identificada a necessidade da criação de um produto jornalístico que abarcasse narrativas diversas sobre o Sistema Único de Saúde, através dessa reflexão foi feito um livro-reportagem intitulado “Retratos do SUS: relatos e reflexões sobre o Sistema Único de Saúde”, composto por histórias de vida e depoimentos de usuários do sistema e profissionais da saúde. Palavras-chave: SUS e Jornalismo; o SUS na Mídia; Jornalismo e Complexidade; SUS e Direito Social; Cobertura do Coronavírus. Sumário 1. Introdução ............................................................................................................... 9 2. Justificativa ............................................................................................................ 11 3. Objetivo geral ........................................................................................................ 12 3.1. Objetivo específico .......................................................................................... 12 4. Problematização e hipóteses ................................................................................ 13 5. Aspectos teóricos .................................................................................................. 15 6. Aspectos metodológicos........................................................................................ 17 6.1. Análise de conteúdo de notícias do Estadão .................................................. 18 6.2. Considerações ................................................................................................ 22 7. Plano Estratégico .................................................................................................. 23 7.1 Descrição do produto e estratégias aplicadas ................................................. 23 7.1.1. Visão .................................................................................................................................... 23 7.1.2. Valores ................................................................................................................................ 23 7.1.3. Número de páginas ............................................................................................................. 23 7.1.4. Descrição do produto .......................................................................................................... 23 7.1.5. Finalidade ............................................................................................................................ 23 7.1.6. Linha editorial: ..................................................................................................................... 23 7.1.7. Linguagem e estrutura do produto: ..................................................................................... 24 7.1.8. Tipografia escolhida: ........................................................................................................... 25 7.1.9. Identidade visual: ................................................................................................................ 25 7.2. Estratégias para definição de público alvo ...................................................... 26 7.3. Técnicas aplicadas .......................................................................................... 27 7.4. Sinopse ........................................................................................................... 27 7.5. Descrição dos Capítulos ................................................................................. 28 7.5.1.Introdução ............................................................................................................................ 28 7.5.2. Prólogo ................................................................................................................................ 28 7.5.3. O quarto de paredes amarelas............................................................................................ 28 7.5.4. Uma nova esperança .......................................................................................................... 28 7.5.5. Estranha mania de ter fé na vida ........................................................................................ 29 7.5.6. A fila correta ........................................................................................................................ 29 7.5.7. Um mosaico de nós mesmos .............................................................................................. 29 7.5.8. O vírus da elite .................................................................................................................... 29 7.5.9. Um muro de arrimo ............................................................................................................. 29 7.5.10. Saúde e identidade ........................................................................................................... 30 7.5.11. Iniquidades raciais na saúde ............................................................................................. 30 7.5.12. Um almoço que nunca aconteceu ..................................................................................... 30 7.5.13. Salve o SUS! ..................................................................................................................... 30 7.5.14. Notícias do futuro .............................................................................................................. 30 7.5.15. A presença do SUS ........................................................................................................... 31 7.5.16. Epílogo .............................................................................................................................. 31 8. Referências ........................................................................................................... 32 9. Notícias analisadas ............................................................................................... 35 10. Cronograma ........................................................................................................ 36 11. Investimento ........................................................................................................ 37 9 1. Introdução Junto à Constituição de 1988, que garantiu inúmeros direitos para a sociedade, nasceu o Sistema Único de Saúde (SUS), um sistema complexo, com uma gama de funções e ações que vão além da assistência básica de saúde individual, como a vigilância sanitária e epidemiológica, a saúde do trabalhador e a assistência terapêutica integral. Segundo Paim (2009), “a saúde passou a ser reconhecida como um direito social, ou seja, inerente à condição do cidadão, cabendo ao poder público a obrigação de garanti-lo: a saúde é direito de todos e dever do Estado (Art. 196) [...]”. O SUS é o único sistema público de saúde no mundo que atende mais de 100 milhões de habitantes, responsável pelo acolhimento de mais da metade da população brasileira, além de ser referência em campanhas de imunização, tratamento de HIV, distribuição de medicamentos, assistência em acidentes de trânsito e transplante de órgãos: O SUS realiza, em um ano, cerca de 2,8 bilhões de procedimentos; 2,5 milhões de partos; 3,2 milhões de cirurgias; 211 mil cirurgias cardíacas; 9,9 milhões de terapias renais substitutivas, sendo responsável por 97% da oferta para pacientes renais crônicos (hemodiálise); 1 milhão de tomografias; 12 mil transplantes (mais de 95% dos transplantes feitos no Brasil); 150 milhões de imunizações; 422 milhões de exames bioquímicos e anatomopatológicos; 58 milhões de fisioterapias; 244 milhões de ações odontológicas, 3,7 milhões de órteses e próteses; 28 milhões de ações de vigilância sanitária; e 9 milhões de exames de ultrassonografia. (PAIM, 2009, p.76) Apesar de inúmeras ações benéficas para a sociedade, o SUS, desde sua fundação, sofre com o descaso do governo, com a falta de investimento, desvio de verbas e sucateamento, isto reflete em hospitais lotados, filas quilométricas, falta de médicos e demora no atendimento. Todos os efeitos da irresponsabilidade dos líderes políticos reverberam na veículos midiáticos, que raramente trazem reflexões sobre a causa desses problemas considerando a complexidade do sistema, resultando em narrativas reducionistas. Considerando tais pontos, criamos uma análise de conteúdo das notícias sobre o SUS veiculadas no portal da web Estadão entre o dia primeiro de fevereiro até o dia cinco de maio de 2020; foram avaliadas notícias veiculadas na categoria Saúde e que tiveram o termo “SUS” no título da matéria. 10 Diante a relação da mídia com o Sistema Único de Saúde, este projeto de pesquisa teve como objetivo fazer um breve estudo sobre os retratos midiáticos do sistema. Durante o processo, refletimos sobre como a ausência de determinados aspectos pode minimizar a importância do SUS na sociedade. Também verificamos uma pequena mudança no tônus das notícias sobre o SUS após a pandemia do novo coronavírus. O Sistema Único de Saúde é composto por inúmeros agentes e não se limita apenas aos profissionais da saúde. Para Paim (2009), políticos, educadores e jornalistas também são agentes indiretos de saúde e a imprensa possui um papel fundamental na construção de percepções sobre o SUS, portanto, este projeto ponderou sobre o papel da grande mídia e da própria sociedade para com a valorização do sistema. A pesquisa contou com uma análise de conteúdo das notícias veiculadas no site do Estadão e teve como aporte teórico a Teoria da Complexidade de Edgar Morin que justifica a importância do pensamento complexo. Também foram utilizados estudos sobre os critérios de noticiabilidade para compreender a relação da mídia com o objeto. No projeto experimental foi produzido um livro-reportagem que contou com pesquisas qualitativas: entrevistas com especialistas e histórias de pacientes localizados na cidade de São Paulo, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. 11 2. Justificativa Os conteúdos encontrados nos meios de comunicação podem cercear uma visão complexa sobre o SUS? O presente trabalho buscou respostas para essa indagação e quis compreender o papel da mídia na construção de percepções referente ao Sistema Único de Saúde, por meio da análise de conteúdo de publicações sobre o sistema veiculadas no site Estadão e um livro-reportagem. Segundo Edgar Morin (2019), um sistema possui várias camadas e aspectos, tal multiplicidade o torna complexo e o faz formar um todo, no entanto, esse todo não é mais importante que suas partes. Essa variedade de elementos pode ser encontrada no SUS e se aplicou neste projeto. Além de Edgar Morin, foi utilizado os estudos de critério de noticiabilidade e valores-notícia de Mauro Wolf e Nelson Traquina e Análise de Conteúdo. O SUS é responsável pelo atendimento de 75% da população brasileira, segundo dados levantados pela ONG Politize!. Suas ações são reconhecidas mundialmente pela Organização Mundial da Saúde e Organização das Nações Unidas, além de servirem como referência para outros países que também possuem um sistema de saúde pública. Tais dados reforçam a importância do sistema para a sociedade e demonstram a necessidade da mídia de produzir narrativas que exploram a multiplicidade da entidade. Foram criadas tabelas de análise de análise de conteúdo com aspectos de complexidade, baseadas nosestudos da complexidade e critérios de noticiabilidade; elas serviram para justificar a elaboração do livro-reportagem. As entrevistas apresentadas no livro-reportagem serviram para a construção de reflexões e narrativas que mostram pontos complexos sobre a saúde pública. O produto apresentou histórias dos usuários que tiveram experiências com o SUS e fez uma ligação desses relatos com as ações do SUS, buscando mostrar justamente a complexidade do sistema. O debate sobre o modo como são construídas as notícias sobre o SUS se torna importante por investigar as ações dos jornalistas na construção de conteúdos e narrativas que abarquem toda a multiplicidade, diversidade e profundidade do sistema, bem como refletir sobre o papel desses como agentes indiretos da saúde. 12 3. Objetivo geral O projeto teve como objetivo apresentar novos ângulos sobre o Sistema Único de Saúde pelas perspectivas de usuários do sistema, mostrando visões complexas, que levem em conta a importância do sistema para sociedade, propondo diálogos sobre todos os aspectos do SUS, e enquadramentos que abarquem tanto pontos negativos quanto positivos do sistema. 3.1. Objetivo específico Em sua gênese, este projeto coletou dados sobre os retratos do SUS na mídia por meio da análise de conteúdo do portal de notícias Estadão; foram avaliadas notícias veiculadas na categoria Saúde e que tiveram o termo “SUS” no título da matéria, do dia primeiro de fevereiro até o dia cinco de maio de 2020. Essa primeira análise foi feita em tabelas que incluíram os critérios de noticiabilidade proposto por Mauro Wolf (importância do indivíduo (nível hierárquico), influência sobre o interesse nacional, número de pessoas envolvidas, relevância quanto à evolução futura) e adicionando o pensamento complexo proposto pelo teórico Edgar Morin, que tenta não resumir o personagem a uma única palavra, leva em conta seu histórico, sua imperfeição, e busca soluções para as situações através de diálogo e reflexões, exercendo um pensamento capaz de lidar com o mundo real. A análise contribuiu para a construção de argumentos que justificassem a importância do pensamento complexo dentro da mídia e principalmente em assuntos que necessitam de um tato maior no momento em que são abordados. Após a construção da análise de conteúdo e de reflexões sobre os critérios de noticiabilidade e pensamento complexo, criamos um livro-reportagem, que traz histórias de vidas e narrativas complexas sobre o Sistema Único de Saúde. 13 4. Problematização e hipóteses Ao nos depararmos com os conteúdos veiculados na mídia sobre o Sistema Único de Saúde, notamos que ele quase sempre está associado a uma narrativa que não corresponde a sua total amplitude; um ponto de reflexão sobre o que a mídia mostra como realidade e o que é verossímil. Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2011, o Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS)1, que avalia a percepção de usuários e não usuários sobre o SUS, pode ilustrar a relevância desta investigação; nela podemos ver alguns pontos sobre o sistema: O atendimento de urgência e emergência recebeu a maior proporção de avaliações como “ruim” ou “muito ruim” no Brasil (31,4%) e nas regiões Sul (34,4%), Centro-Oeste (34,9%) e Nordeste (36,1%). Nas regiões Sudeste e Norte, o serviço pesquisado que recebeu a maior proporção de avaliações negativas foi aquele prestado nos centros e/ou postos de saúde. Nestas regiões, estas proporções foram 28,3% e 42,2%, respectivamente. (IPEA, 2011, p.7) Embora esses indicadores não fossem recentes, revelavam a ineficácia do sistema em determinados aspectos do atendimento individual, principalmente no que diz respeito ao atendimento de urgências médicas, com 31,4% da população brasileira classificando-o como “ruim” ou “muito ruim”. A mesma pesquisa também mostrou que “a distribuição gratuita de medicamentos no SUS foi qualificada como muito boa ou boa por 69,6% dos entrevistados e como ruim ou muito ruim por 11% destes.” (IPEA, 2011, p.6), bem como o atendimento com médicos especialistas foi classificado como “bom” e “muito bom” por 60,6% dos entrevistados (IPEA, 2011). Esses dados serviram para uma reflexão sobre a multiplicidade do SUS, pois o mesmo sistema que é visto como ruim em algumas de suas ações também é visto como bom em outros aspectos, logo se pode compreender que o SUS, de fato, é complexo, e tal complexidade se justifica em uma visão sistêmica. Para Morin (2015), a visão sistêmica é fundamental para um entendimento diverso sobre qualquer assunto, situação ou objeto. E por que acreditamos que o pensamento complexo proposto por Morin não é muito utilizado pelos veículos de 1 Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/110207_sipssaude.pdf> 14 comunicação? Um palpite é o ambiente organizacional das redações jornalísticas, onde os maquinários de produção de notícias estabelecem padrões sobre determinados assuntos que não permitem a exploração das nuances e contrapontos da notícia. Esse “fazer jornalístico”, também conhecido como Newsmaking, molda os meios de confecção da notícia e leva em consideração apenas critérios de noticiabilidade que podem limitar o enquadramento de um objeto: Embora os valores-notícia façam parte da cultura jornalística e sejam partilhados por todos os membros desta comunidade interpretativa, a política editorial da empresa jornalística pode influenciar diretamente o processo de seleção dos acontecimentos por diversas formas... Outro ponto que deve ser sublinhado é que os valores-noticia estão enterrados nas rotinas jornalísticas. (TRAQUINA, p.96, 2008) Sendo assim, uma das hipóteses foi que a falta de narrativas complexas sobre o SUS poderiam limitar a visão do leitor sobre o sistema, como: o que ele representa, qual sua importância para a sociedade, sua ordem e seu caos. Outro ponto considerado: o esse excesso de notícias onde o sistema sempre está relacionado a ineficiência, sem dar importância a sua complexidade, pode reforçar ideias que colocam o SUS como antagonista da saúde pública. 15 5. Aspectos teóricos Ao pensar em uma teoria que tratasse o Sistema Único de Saúde considerando tudo o que ele representa, foi quase impossível não recorrer ao pensamento complexo de Edgar Morin, afinal, a teoria pode abraçar tanto os prós quanto os contras desse sistema, que há mais de trinta anos atende a sociedade brasileira, mesmo diante de imperfeições, caos, desordem, singularidade e complicação. Para Morin (2015), a ordem é tudo o que é repetição, constância, invariância, tudo que pode ser posto sobre a égide de relação altamente provável, enquadrado sobre a presença de uma lei. Isso pode ser aplicado na prática quando relacionamos a teoria ao serviço de distribuição “gratuita” de medicamentos de alto custo feito pelo SUS: quando o Estado, por lei, compromete-se ao acesso a medicamentos para o tratamento de doenças raras, como Lúpus, Artrite Reumatoide, Esclerose Múltipla etc., os pacientes entram com processos de solicitação de medicamento, que são avaliados e enquadrados em critérios estabelecidos por uma organização em cumprimento à lei. Caso esse processo não dê certo, o paciente pode recorrer à justiça, para um outro procedimento burocrático, que pode ser caracterizado como ‘desordem’. “A desordem? É tudo o que é irregularidade, desvios com relação a uma estrutura dada, acaso, imprevisibilidade” (MORIN, 2015, p.89). Esses exemplos foram importantes para entender um outro aspecto do pensamento complexo: a singularidade. Mesmo diante do todo, as partes possuem sua própria complexidade, “isso significa que abandonamos um tipo de explicação linear por um tipo de explicação em movimento, circular, onde vamos das partes para o todo, do todo para as partes, para tentarcompreender um fenômeno” (MORIN, 2019). Os aspectos mencionados acima tornaram-se importantes para a construção deste projeto, pois traz o pensamento complexo para as questões do Sistema Único de Saúde, sejam elas em suas especificidades ou em visões mais amplas. Esses aspectos serviram para uma análise de conteúdo, que deu suporte para a pesquisa e também justifica a importância do pensamento complexo dentro do jornalismo. Para fazer um contraponto entre o pensamento complexo e a abordagem do SUS na mídia, foram usadas as teorias de Mauro Wolf encontradas nos estudos de Nelson Traquina, sobre os critérios de noticiabilidade e valores-notícia: 16 Para Wolf, os valores-notícia de seleção referem-se aos critérios que os jornalistas utilizam na seleção dos acontecimentos, isto é, na decisão de escolher um acontecimento como candidato à sua transformação em noticia e esquecer outro acontecimento. (TRAQUINA, 2008, p.78) Os estudos da pesquisadora Gislene Silva, professora do departamento de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, que refletem sobre os critérios de noticiabilidade e suas implicações diante das notícias também foram acrescentados ao projeto. Para Silva (2005), estudar a seleção de notícias implica, inclusive, em rastrear os julgamentos próprios de cada seletor, as influências organizacionais, sociais e culturais que este sofre ao fazer suas escolhas, os diversos agentes dessas escolhas postados em diferentes cargos na redação e até mesmo a participação das fontes e do público nessas decisões – aqui vale lembrar os estudos de agendamento (agenda setting), que complexificam as investigações sobre o processo de seleção das notícias. A teoria da complexidade guiou a construção do livro-reportagem, que joga luz sobre a diversidade do SUS e considera suas partes e seu todo; através de personagens com histórias que, de alguma forma, se encaixem com os apontamentos de Morin. 17 6. Aspectos metodológicos Buscou-se alguns pontos importantes para o auxílio da construção do produto final: a pesquisa bibliográfica, que procurou entender as formas nas quais o Sistema Único de Saúde é retratado na mídia e seu histórico e relevância para a sociedade; a análise de aspectos de complexidade, inspirada nos processos de Laurence Bardin de investigação de conteúdo, junto aos critérios de noticiabilidade propostos por Wolf e Traquina; a teoria da complexidade de Edgar Morin, que norteou este trabalho e possui tanto uma função metodológica quanto teórica; e as entrevistas em profundidade e histórias de vida, que serviram no processo de construção do livro- reportagem. Tivemos como premissa compreender as aplicações do pensamento complexo nas mídias construindo um produto que considerasse essa complexidade. Contudo, nos próprios levantamentos bibliográficos selecionamos artigos, dissertações, teses, vídeos etc. que retratavam o SUS de uma forma diversa, mesmo que nas entrelinhas. Depois dos primeiros levantamentos bibliográficos e teóricos, foi construído um modelo de tabela de verificação de conteúdo que combinou critérios de noticiabilidade com aspectos de complexidade. A tabela serviu para uma breve análise sobre os conteúdos encontrados nas notícias do portal Estadão sobre o SUS. Com o fim do projeto de pesquisa foram feitas pesquisas qualitativas, entrevistas com usuários do Sistema Único de Saúde e figuras que possuíam autoridade no assunto para a construção do livro-reportagem, este tornou-se um produto ideal devido a liberdade criativa e licença poética que o jornalismo literário pode proporcionar, e as histórias de vida foram fundamentais na construção do foco narrativo do livro: As histórias de vida são preferíveis quando se trata de um livro-reportagem mais humanizado, cujo foco são os personagens e suas experiências vividas, muitas vezes experiências que ganham mais cor, vivacidade e veracidade nas palavras de quem as vivenciou, que na transcrição de uma fita gravada e reportada por um jornalista. (COUTO, 2017, n.p.) Couto (2017) também afirma que nesta modalidade, a força reside na humanização da entrevista, da ambientação daquele que entrevista com seu entrevistado, da captação de detalhes de seu ambiente e de sua vida. Em situações como essas, o repórter aparece comumente de forma sutil, como aquele que costura os depoimentos, interliga visões de mundo, que saltam, vívidas, das páginas para o coração, a mente e todo o aparato perceptivo do leitor. 18 6.1. Análise de conteúdo de notícias do Estadão Ao avaliarmos os caminhos necessários para a identificação de elementos do pensamento complexo na mídia, buscamos um método que fosse pratico em sua construção e que exemplificasse de modo eficaz nossos apontamentos; por conta disso, recorremos à análise de conteúdo em formato de tabelas, pelo seu caráter empírico, que possibilita uma exploração sobre o objeto sem perder seu rigor, como afirma Bardin: A análise de conteúdo (seria melhor falar de análises de conteúdo) é um método muito empírico, dependente do tipo de "fala" a que se dedica e do tipo de interpretação que se pretende como objetivo. Não existe coisa pronta em análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, por vezes dificilmente transponíveis. (BARDIN, p. 36, 2011) Esta análise verificou se alguns elementos do pensamento complexo estavam presentes nas matérias selecionadas, através da categorização dos mesmos, como indica Martino em seus estudos sobre Análise de Conteúdo (2018, p.150): “o centro da análise de conteúdo é a definição das categorias para interpretar a mensagem. ‘Categorias’ foram as divisões usadas em uma pesquisa para compreender o conteúdo”. Os critérios substantivos de noticiabilidade, baseados nos estudos de Mauro Wolf: importância do indivíduo (nível hierárquico), influência sobre o interesse nacional, número de pessoas envolvidas, relevância quanto à evolução futura (Silva, 2005) Enquanto de Morin: ordem, desordem, singularidade (é levado em conta a diversidade dos envolvidos), histórico e reflexão (a notícia conduz o leitor a uma reflexão sobre os personagens ou situações). Tais aspectos foram recortes de uma interpretação do primeiro nível de complexidade e, embora os critérios da complexidade tenham sidos baseados nos estudos de Morin (2019), estes faziam parte de nossa percepção sobre o pensamento complexo, portanto, foi preciso elencá-los para comprovação de um ponto de vista e elaboração de uma análise de conteúdo que justificasse a construção do projeto experimental. 19 Porém, esses critérios não tinham o objetivo de criar um suposto lide da complexidade, tão menos uma receita para sua aplicação, afinal, a complexidade não pode ser delimitada por meras classificações, como afirma Morin: O primeiro mal-entendido consiste em conceber a complexidade como receita, como resposta, em vez de a considerar como desafio e como incitamento para pensar; acreditamos que a complexidade deve ser um substituto eficaz da simplificação, mas que vai permitir programar e esclarecer. (MORIN,2019, p.176) Referente às notícias analisadas, foram selecionadas cinco matérias no portal Estadão, em fevereiro não houve nenhuma publicação que usasse a sigla “SUS” ou “Sistema Único de Saúde” em seu título, sendo assim tivemos a análise das seguintes notícias: 1 Mais demandado em caso de surto de coronavírus, SUS só tem 44% dos leitos de UTI do país – 12 de março de 2020; 2 Coronavírus pode custar R$ 410 bilhões extras ao SUS, estima Ministério da Saúde - 26 de março de 2020; 3 SUS se prepara para receber “três epidemias” – 30 de março de 2020; 4 Coronavírus: corrida global por insumos faz SUS perder contratos – 4 de abril de 2020; 5 Com a pandemia do coronavírus, papel do SUS ganha força entre paulistanos – 5 de maio de 2020. Todas as matériaspossuem pautas voltadas ao novo coronavírus por conta da relevância do tema, e durante o processo de cobertura da mídia notamos que houve algumas mudanças significativas em enquadramentos sobre o SUS; as primeiras matérias possuíam uma visão quase que administrativa, voltadas principalmente para os dados e previsões sobre os impactos do Covid-19 no SUS. Todas as notícias se enquadraram nos critérios substantivos de noticiabilidade. Na notícia 1 com a manchete “Mais demandado em caso de surto de coronavírus, SUS só tem 44% dos leitos de UTI do país”, publicada em 12 de março 20 de 2020, foi abordada a falta de leitos no SUS e se limitaram a este fato, a reportagem não apresentou possíveis reflexões sobre o porquê de a distribuição de leitos ser tão desigual; foram fatores econômicos? Problemas de má gestão? Falhas? Mesmo que as respostas pudessem parecer obvias, o pensamento complexo implica em levar em conta todos esses aspectos do objeto. A matéria também mostrava o SUS sob uma ótica administrativa, dando vazão somente para os processos burocráticos da situação e suas estatísticas, além de não levar em conta outros pontos como a disparidade de falta de leitos em determinadas regiões do país ou a falta de acesso à saúde de determinados grupos que vivem em vulnerabilidade social. A notícia 2, “Coronavírus pode custar R$ 410 bilhões extras ao SUS, estima Ministério da Saúde”, do dia 26 de março de 2020, possuía o mesmo caráter “econômico”, voltada para dados e gastos que o SUS terá com o covid-19 , o que é de se esperar vindo de uma notícia sobre as consequências econômicas que o vírus traria para o país, mas a matéria também não se aprofundou em aspectos complexos, como o histórico da situação. Esta notícia evidenciava a rivalidade entre o então Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o Presidente Jair Messias Bolsonaro; enquanto o ministro fala da seriedade do problema, o presidente relativiza a questão, minimizando o vírus a uma “gripezinha”. Na notícia 3, “SUS se prepara para receber ‘três epidemias’”, do dia 30 de março de 2020, o texto dispunha aspectos informativos e instrutivos em alguns trechos e, principalmente, nas aspas dos especialistas. Caberiam reflexões sobre a diversidade do assunto: quais grupos foram mais afetados pela doença e por quê? As diferenças de ações de prevenção nas grandes metrópoles em relação ao campo? Como funciona a atuação do Sistema Único de Saúde em locais afastados das grandes cidades? Na notícia 4, “Coronavírus: corrida global por insumos faz SUS perder contratos”, publicada em 4 de abril de 2020, tivemos novamente uma perspectiva mais voltada a gestão, sem considerar pontos importantes como uma análise mais aprofundada do fato, que apontasse caminhos para uma possível reflexão sobre todas as partes envolvidas (como se dão as relações de compra do Brasil com outros países seria algo relevante a ser abordado?). Todas as quatro matérias falavam de “partes” do SUS, usando-o como sigla pra abordar questões pertinentes à saúde pública e, mesmo dentro da categoria 21 “saúde”, as notícias detinham um caráter mais voltado para o capital e a economia do que propriamente para a saúde. Reduziam o SUS à uma “repartição do governo que cuida da saúde”, não consideraram a complexidade dos fatos ali apontados ou a diversidade do próprio sistema. O único aspecto do pensamento complexo encontrado foi o da desordem, porém, sem desdobramentos a ponto de trazerem reflexões. Apesar das últimas notícias analisadas não abarcarem o SUS em sua totalidade, a última notícia comprovou uma das hipóteses apontadas no início do trabalho: após a pandemia tomar proporções alarmantes o tônus das notícias mudaram e o título da notícia 5, publicada no dia 5 de maio de 2020, apontava isto: “Com a pandemia do coronavírus, papel do SUS ganha força entre paulistanos”. De uma mera sigla para se referir a questões administrativas sobre a saúde, o SUS passará a se ressignificar na reportagem, que falava sobre um levantamento do Ibope Inteligência em parceria com a Rede Nossa São Paulo2, onde mostrou que 40% dos entrevistados defendiam um maior investimento no SUS. Nesta matéria existiam relatos de pessoas que tiveram que recorrer ao SUS após a perda de seus empregos devido à crise do novo coronavírus, trazia uma autoavaliação sobre as preocupações nos três primeiros meses de pandemia, direcionadas aos gastos públicos e ao cenário político do país diante do covid-19. Apresentava os índices de reprovação de Jair Bolsonaro (54%) e aprovação de Bruno Covas e João Doria (68%), diante da crise do novo coronavírus. Também destacava que a pesquisa havia sido realizada com paulistanos das classes A, B e C e continha aspas de entrevistados que falam da importância do SUS para a sociedade. Embora o direcionamento desta reportagem fosse mais abrangente do que das anteriores, ela ainda não abarcava toda a complexidade do sistema: reconhecia que o SUS tinha falhas, mas que ele era importante para a população, principalmente em um momento de crise sanitária; mudava o enquadramento sobre o SUS, buscando falar com usuários do sistema, que são os mais afetados pela ordem ou desordem do mesmo; além de se munir com uma pesquisa de percepção do público, porém, ainda deixava de lado aspectos como o histórico e ordem do fenômeno. 2 Disponível em: <https://www.nossasaopaulo.org.br/2020/05/05/o-que-pensam-os-internautas-paulistanos- sobre-os-impactos-do-coronavirus/> 22 6.2. Considerações Essas análises trouxeram um vislumbre sobre relevância de notícias com perspectivas mais aprofundas sobre o Sistema Único de Saúde. Nenhuma delas se enquadrava em todos os aspectos de complexidade, a maioria focava nos padrões comumente praticados pelos jornalistas e pouco dialogaram sobre o elemento da complexidade mais presente nelas: a desordem. Contudo, a desordem causada pela pandemia fez com que fosse válido para o Estadão fazer uma matéria sobre a importância do SUS para os paulistanos. Isso poderia indicar uma mudança nos futuros enquadramentos sobre o Sistema Único de Saúde? Talvez, assuntos de maior fragilidade como a saúde pública e educação ganharão uma abordagem mais ampla no futuro? Uma característica que foi descoberta ao longo do projeto é que, ao aplicarmos a complexidade em abordagens jornalísticas, nos é permitido trazer humanidade para o texto; passamos a não levar em conta somente os critérios de noticiabilidade e começamos a ponderar os prós e contras do ecossistema em que um fato é abordado. A construção da narrativa complexa exige tato ao retratar determinados assuntos e o jornalismo passa a ser mais que um produto da indústria de notícias e começa a ganhar e transmitir mais significado, tanto para aqueles que produzem as notícias quanto para aqueles que as leem. 23 7. Plano Estratégico 7.1 Descrição do produto e estratégias aplicadas 7.1.1. Visão Servir de material de apoio para futuros estudos sobre o SUS e contribuir com o pensamento complexo dentro do Jornalismo. 7.1.2. Valores Diversidade, humanidade e justiça. 7.1.3. Número de páginas Considerando que o regulamento do Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul estabeleceu que o produto impresso livro- reportagem deve possuir, no mínimo, 80 mil caracteres, este livro possui 99.369 caracteres e cumpre com o regulamento para a submissão do projeto. 7.1.4. Descrição do produto Dimensões: 148x210 mm; capa: papel cartão triplex 250 gr, colorido, orelha de 8 cm, acabamento com laminação fosca; miolo: papel Pólen Soft 70 g, 4 cores, frente e verso. 7.1.5. Finalidade A obra fala sobre a importância do SUS para a sociedade, algo que foi construído através de narrativas nas quais o leitor pudesse se identificar com os personagens apresentados. Tal identificação teve a funçãode despertar a empatia no processo de compreensão das dimensões do SUS, para dar início a uma reflexão mais complexa sobre o sistema. A obra também refletiu sobre o papel e a responsabilidade dos profissionais de comunicação ao noticiar temas ligados à saúde. 7.1.6. Linha editorial: O livro teve como premissa mostrar um SUS por ângulos que considerassem sua importância e papel na diminuição das desigualdades sociais, tendo como principal meta instigar a reflexão sobre a importância do Sistema Único de Saúde, mas sem deixar de citar seus problemas. 24 Um posicionamento “pró-SUS” foi adotado durante todo o processo de criação do produto. Esse posicionamento partiu da necessidade de retratar o fenômeno por um lado positivista, e serviu como “resposta” a todo conteúdo imparcial sobre o sistema, apresentado na análise de conteúdo deste projeto. Com as inúmeras ameaças que as políticas públicas de acesso à saúde vêm enfrentando ao longo dos últimos anos, foi necessário criar narrativas que resgatassem a memória do leitor sobre a relevância do SUS e que o chamassem para a luta; que enfatizassem que a saúde é um direito de todo cidadão e que esse direito precisa ser respeitado e aprimorado pelo Estado. 7.1.7. Linguagem e estrutura do produto: A linguagem deste produto veio de uma insatisfação pessoal do autor em relação ao engessamento e às narrativas reducionistas nas produções jornalísticas, causadas pelo lead e encontradas em muitos jornais diários. Esse incomodo não é exclusivo de um único jornalista, na década de 60 muitos profissionais se movimentaram para criar o que ficou conhecido como o “New Journalism”, ou “Jornalismo não ficcional”, em que eram permitidas narrativas beirando ao romance, repletas de diálogos e uso da primeira pessoa do singular. O que vai proporcionar o advento do Novo Jornalismo contemporâneo na década de 1960, nos Estados Unidos, é a insatisfação de muitos profissionais da imprensa com as regras de objetividade do texto jornalístico, expressas na famosa figura do lead, uma prisão narrativa que recomenda começar a matéria respondendo às perguntas básicas do leitor. (PENA, 2006, N.P.) Apesar de ter elementos que flertassem com o “Novo Jornalismo”, ele se enquadrou categoricamente no jornalismo literário, que, segundo Pena (2006), potencializa os recursos do jornalismo, ultrapassa os limites dos acontecimentos cotidianos, proporciona visões amplas da realidade, exerce a cidadania, rompe com a burocracia do lead, e garante perenidade e profundidade aos relatos. Tal gênero jornalístico permitiu que as entrevistas fossem feitas de forma mais profunda e que o texto tivesse liberdade poética, referências da cultura popular, uso de metáforas, jogos de palavras, e diversos artifícios presentes em romances 25 literários. O gênero também permitiu a elaboração de uma narrativa que utilizasse as falas e os diálogos dos entrevistados de forma mais ampla. Além disso, a modalidade livro-reportagem foi escolhida por ter um caminho menos complexo diante ao atual cenário de pandemia e limitações impostas pelo isolamento social; isso se dá pela ausência da obrigatoriedade de elementos visuais, como fotografias e gravações de vídeo in loco. Inspirado na obra “A vida que ninguém vê”, de Eliane Brum, a construção do livro é feita com capítulos que são independentes uns dos outros, mas que se ligam por meio do tema central, adequando-se à visão sistêmica proposta por Edgar Morin. O contexto histórico do Sistema Único de Saúde e os dados foram apresentados durante todo o processo de escrita, e foram adicionados intencionalmente em doses homeopáticas, com o objetivo de proporcionar uma leitura mais palatável e de fluxo contínuo. Com narração em primeira pessoa, o autor relatou sua experiencia com o SUS e trouxe suas dúvidas e reflexões para a obra, que foram incluídas no início de capítulos específicos. Também foi elaborado um glossário, disposto no final da obra, para evitar grandes interrupções durante as histórias e facilitar a condução dos relatos. 7.1.8. Tipografia escolhida: Para o corpo do texto foi escolhida a tipografia serifada Georgia, tamanho 11, que está presente em inúmeras produções editoriais. A serifa presente no tipo facilita a leitura e a torna confortável, além de conduzir o olhar do leitor. Para o título foi escolhida a fonte Roboto, tamanho 14, que é condensada e moderna, dando ao produto um ar jovem e despojado. 7.1.9. Identidade visual: A identidade visual do “Retratos do SUS: relatos e reflexões sobre o Sistema Único de Saúde ” teve seu conceito inspirado no título da obra, onde foi trabalhado o significado da palavra “retrato”, que é comumente relacionado a fotografias, mas que também está vinculado a pinturas, a quadros e a reprodução de imagens; o conceito do projeto foi percorrendo por toda essa atmosfera das galerias de arte e houve uma decisão estética de substituir o termo “Sumário” por “Galeria de Histórias”, justamente para reforçar o imaginário ligado à palavra em questão. 26 Foi criada uma ilustração para a capa do produto, presente nos apêndices deste documento, que buscou exprimir tudo que o livro e o projeto de pesquisa representavam. Os personagens ilustrados na capa são pessoas negras, em sua maioria. Essa escolha se deu por uma preocupação em representar a real imagem da sociedade brasileira, e foi baseada em um dado divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) que afirma que 80% da população que utiliza o Sistema Único de Saúde se autodeclara negra. Como não existia a possibilidade de fotografar todos os entrevistados devido ao isolamento social, foram criadas ilustrações que os representassem, e estão na abertura de cada capítulo. Essas ilustrações seguiram um padrão estético similar à arte da capa, que, por conta de seu traço largo, predominância da cor preta e da branca, acabaram remetendo à xilogravura de cordel. No prólogo e no epílogo temos a ilustração de um olho, que aparece fechado no prólogo e “se abre” no epílogo, sugerindo que ao fim da leitura o olhar do leitor estará aberto a novas perspectivas sobre o SUS. Optou-se por manter destaque na cor azul, que é característica na área da saúde, e o restante da identidade visual é composto pelas cores preta e branca com intuito de transmitir um ar de seriedade. 7.2. Estratégias para definição de público alvo A construção do livro-reportagem foi feita com a intenção de atingir o maior número possível de pessoas por se tratar de um tema que cabe a toda sociedade, contudo, acreditamos que o formato e a linguagem se adequem a jovens adultos, com idade entre 19 e 29 anos, que possuam interesse pela temática. Profissionais da saúde com idade entre 18 e 40 anos também fizeram parte desta percepção e entram como público secundário. Já estudantes de Jornalismo e áreas correlatas com idade entre 18 e 26 anos fariam parte do público terciário. 27 7.3. Técnicas aplicadas Primeiramente foi elaborada uma análise de conteúdo que justificasse a criação de um produto com foco narrativo que enfatizasse o valor do sistema, por meio desta foi comprovada a ausência de angulações complexas sobre o SUS. Após isso foi feita uma pesquisa por meio das redes sociais do autor em busca de fontes que estariam dispostas a relatar suas experiencias com o SUS, algumas fontes vieram por meio dessa pesquisa informal, enquanto outras vieram através de indicações. A entrevista em formato de história de vida foi a escolha para o projeto justamente por dar voz a esses personagens, e, como afirma Couto (2017), as histórias de vida são preferíveis quando se trata de um livro-reportagem mais humanizado, cujo foco são os personagens e suas experiências vividas. 7.4. Sinopse Como um mosaico, o SUS se compõe através da singularidade das suas partes, formando uma imagem eaté mesmo um retrato, que podem ser interpretados das mais diversas formas. Existe um SUS que não funciona, existe um SUS que funciona, existe um SUS que serve como ferramenta política, ou que serve como última esperança. Existem muitos SUS dentro do SUS. E este livro, que é feito de gente assim como o Sistema Único de Saúde, se encarrega de mostrar histórias que refletem acerca da saúde pública no cotidiano pelas experiências individuais de pacientes, percepções de estudiosos e trabalhadores da saúde. Uma literatura paralela ao que se vê na academia, aqui o SUS é abordado com importância e delicadeza, bem como sua complexidade e papel na diminuição das desigualdades sociais. Igual a um colecionador que procura objetos raros para sua coleção, os relatos mostrados neste livro possuem sua preciosidade, mas também possuem um teor de carga emocional, seja pelo fato de o sistema ter salvado ou prolongado vidas, seja pelo atual cenário de pandemia, ou pelo simples fato da escuta afetiva ser usada como artifício durante o processo de construção do projeto. Similar a uma fotografia, que revela além de uma imagem, uma lembrança, um sentimento e até um propósito, esta obra revela o SUS que a sociedade precisa 28 enxergar: o SUS além do que é comumente visto nos jornais e na televisão, além de narrativas imparciais, um SUS necessário, que, apesar de seus problemas, pertence a todos. 7.5. Descrição dos Capítulos 7.5.1. Introdução Neste capítulo são apresentadas, de forma sucinta, questões abordadas no projeto de pesquisa, como o papel e a responsabilidade da mídia na construção de narrativas sobre o Sistema Único de Saúde, a forma como a mídia aborda as temáticas voltadas à saúde, os estigmas e desafios que permeiam o SUS. Esta introdução funciona como uma ponte que justifica a criação do livro. 7.5.2. Prólogo Aqui é apresentada a motivação do autor para a criação do que viria a ser o livro “Retratos do SUS”. Os insights aconteceram em dois momentos: durante as eleições presidenciais de 2018, sobre a qual o autor reflete a respeito da ameaça iminente que o novo presidente representava ao Sistema Único de Saúde; e a criação de um documentário para um trabalho do curso de Jornalismo. 7.5.3. O quarto de paredes amarelas Primeiro “retrato” do SUS, que sintetiza tudo que o leitor poderá esperar do livro. Aqui é narrada a história de José Cícero e Geovana Jessica, sua neta. José Cícero teve dois tumores malignos na bexiga e fez seu tratamento pelo Sistema Único de Saúde, mas não resistiu ao segundo câncer. Geovana compartilhou tanto suas percepções como cuidadora quanto aprendizados que a situação a trouxe. 7.5.4. Uma nova esperança Neste capítulo, é mostrado pelo olhar de Márcia Faria Westphal o passado do SUS e o que se sucedeu após sua criação. Márcia é professora em saúde pública e esteve presente no processo de construção do Sistema Único de Saúde. 29 7.5.5. Estranha mania de ter fé na vida A abertura do capítulo traz um relato de uma experiência sobrenatural do autor, que foi o que o motivou a escrever sobre saúde. Depois, ainda falando do passado do Sistema Único de Saúde, conhecemos a história de Selma Maria, uma mulher de fé, sindicalista e militante da saúde. Aqui refletimos sobre a influência dos movimentos sociais e da própria sociedade na criação do SUS. 7.5.6. A fila correta Professor e gestor de UBS, Luís Henrique Andrade é apresentado neste capítulo; nele falamos sobre o momento presente do SUS, desafios e realidade do sistema, além de vivências, percepções e histórias do especialista. 7.5.7. Um mosaico de nós mesmos Este capítulo inicia com uma reflexão do autor sobre o quanto a descoberta de uma doença pode impactar em nossa autoimagem e percepção de mundo. Logo é apresentada a história de Susi Loiola, uma influenciadora digital, usuária do sistema privado de saúde, que teve de lidar com diversas burocracias para conseguir autorização do seu convênio para uma cirurgia que determinaria o rumo de sua vida. 7.5.8. O vírus da elite Aqui são apresentados dados sobre os impactos do coronavírus na sociedade e o quanto as desigualdades sociais podem ser prejudiciais em um cenário de pandemia. É mencionada a responsabilidade da elite diante a chegada do vírus ao país, e também é mostrada a opinião do professor Jairnilson Silva Paim, autor do livro “O que é o SUS”. 7.5.9. Um muro de arrimo O autor reflete sobre as perdas cotidianas que o isolamento social causou às pessoas, e é compartilhada a história da cuidadora de idosos Angela Maria, que teve coronavírus e relatou sua experiência e percepções sobre a doença, sobre o SUS e sobre os serviços suplementares de saúde. 30 7.5.10. Saúde e identidade Através de uma experiência cotidiana, o autor fala sobre a importância da nossa identidade e papel da saúde neste tema; conhecemos a história do jornalista, professor e militante da causa LGBTI+ Luiz Fernando Prado Uchoa e falamos das dificuldades que pessoas trans encontram nos serviços de saúde e nas políticas de saúde para a população LGBTI+. 7.5.11. Iniquidades raciais na saúde A Dra. Camila Carvalho de Amorim, médica da família que possui diversas pesquisas voltadas para a saúde da população negra e iniquidades raciais, reflete sobre suas experiências como médica em uma UBS na cidade de Florianópolis, e sobre as lutas diárias que a população negra enfrenta nos serviços de saúde. 7.5.12. Um almoço que nunca aconteceu Neste capítulo é narrada a história de Raquel Lourenço pela perspectiva de seu filho, Alessandro Henrique Zedequias. Raquel foi uma mulher à frente de seu tempo, uma enfermeira que criou um filho de muita resiliência, descobriu um câncer no intestino e lutou durante cinco anos contra a doença. 7.5.13. Salve o SUS! Existe a indagação sobre uma possível perda de sensibilidade dos jornalistas diante das notícias sobre a saúde e é apresentada uma iniciativa chamada “Salve o SUS!”, um portal de comunicação que tem como objetivo disseminar informações sobre as ações do Sistema Único de Saúde. Também conhecemos a diretora de conteúdo do projeto, Natália de Souza. 7.5.14. Notícias do futuro O leitor é convidado a refletir sobre o futuro e a contemplar a possibilidade de ele ser imperfeito e complexo, com base nos pensamentos de Edgar Morin. Após está abertura, nos debruçamos sobre as opiniões e perspectivas da comunicóloga, doutora em saúde e ambientalista Rose Marie Inojosa, e refletimos sobre o SUS ideal. 31 7.5.15. A presença do SUS Neste penúltimo capítulo, o autor encerra o ciclo de entrevistas dialogando sobre o fato de o Sistema Único de Saúde estar presente nos detalhes da vida de seus usuários, e apresenta a história de Renata Freires, que teve seus dois filhos em hospitais da rede pública de saúde. 7.5.16. Epílogo Há uma reflexão sobre o decreto (revogado) do presidente Jair Messias Bolsonaro que daria brechas para possíveis privatizações dentro do SUS, e sobre como o medo que o autor sentiu no fim de 2018 transformou-se em esperança. 32 8. Referências BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 1 ed. São Paulo: Edições 70. 2011. BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. SciELO - Editora FIOCRUZ, 2008. Edição do Kindle. BATISTA, Amanda et al. Análise socioeconômica da taxa de letalidade da COVID- 19 no Brasil. 2020. Disponível em: <https://www.sites.google.com/view/nois- pucrio/publica%C3%A7%C3%B5es>. Acesso em: 20 out. 2020. COLLUCCI, Cláudia. 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Disponível em: <https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,com-a-pandemia-do-coronavirus-papel- do-sus-ganha-forca-entre-paulistanos,70003292385> Coronavírus: Corrida global por insumos faz SUS perder contratos. Estadão: Brasília. 2020. Disponível em: < https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,corrida-global-por- insumos-faz-sus-perder-contratos,70003259948> Coronavírus pode custar R$ 410 bilhões extras ao SUS, estima Ministério da Saúde. Estadão: São Paulo. 2020. Disponível em: <https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,coronavirus-pode-custar-r-410-bilhoes- extras-ao-sus-estima-ministerio-da-saude,70003248383> SUS se prepara para receber “três epidemias”. Estadão: Brasília. 2020. Disponível em:<https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,sus-se-prepara-para-receber-tres- epidemias,70003252596> 36 10. Cronograma Tabela 1 – Cronograma (1º e 2° semestre de 2020) Atividades Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Desenvolvimento do projeto de pesquisa X X X X Desenvolvimento do projeto experimental X X X X X Obtenção de bibliografia de referência X X X X Leitura da bibliografia escolhida X X X X X X Projeto de Pesquisa - Análise de conteúdo X X Projeto de pesquisa - Revisão do texto X Contato com possíveis fontes X X X Captação de relatos para o livro-reportagem X X X Execução do produto - layout do projeto X X X X X Execução do produto – redação X X X Execução do produto - revisão do texto X Execução do produto - diagramação X Execução do produto - revisão geral X Relatório final X X Entrega do relatório e do produto final X37 11. Investimento Tabela 2 - Investimento ORÇAMENTO GERAL Item Quantidade Valor Unitário (em média) Valor total Microfone de lapela para notebook 1 R$60,00 R$60,00 Pacote Adobe 4 R$86,00 R$344,00 Revisão 2 R$300,00 R$600,00 Ilustrações 3 R$150,00 R$450,00 Total: R$1.454 Fonte: elaborado pelo autor. 38 APÊNDICES 39 Apêndice I Transcrição de entrevista 1 – O quarto de paredes Amarelas Fonte: Geovana Jéssica Cidade: Antonio Martins - RN Luiz - Qual sua idade? Geovana - 24 anos. E seu curso de graduação? É engenharia ambiental e sanitária, na Universidade Federal do Semiárido. Você vai retomar? Iremos retomar esse mês (agosto). Como foi que tudo aconteceu? Meu avô estava com um tumor em 2018, aí fomos pra uma consulta de rotina e eles pediram uns exames e me encaminharam pra Liga, A liga contra o Câncer. Eu sou de Antonio Martins, Rio Grande do Norte, é nós fomos encaminhados pra Natal, pra capital, pois na cidade pequena não tem atendimento oncológico. E nós fomos pra natal, e através do SUS foram feitas as consultas e encaminhado pra outros exames. Eles fizeram uma biopsia do canal da uretra para ver se o tumor era benigno ou maligno. E a partir daí começamos os processos das quimioterapias, foram todas através do SUS. Qual foi a sua reação e da sua família ao descobrir o câncer do seu avô? Foi um choque! Pois até então a gente não tinha nenhum caso na família, de ter de lidar com tratamento e com um resultado como o câncer. É um impacto, pois pensamos assim: e agora? Porque quando o médico fala, ele não fala diretamente ao paciente, então o primeiro impacto foi “como é que a gente vai dizer pra ele?”, pois a pessoa que já é de idade já sente muitas dores e ainda ter de submeter a um tratamento. Ele ficou quanto tempo lutando? 40 Ele faleceu em fevereiro deste ano, não chegou nem a ser dois anos, foi um ano e oito meses, por aí... Com que idade ele faleceu? Com 78 anos. Ai primeiro ele tratou e o tumor havia sumido, o primeiro câncer que a gente descobriu. Aí passou por mais ou menos 6 meses de quimioterapia, e no retorno da consulta o médico ficou admirado porque o tumor que ele estava tratando havia sumido, quando passaram seis meses foi descoberto outro câncer também na bexiga. Aí começou a ficar mais agressivo pois meu avô estava mais debilitado das outras quimioterapias. Ele estava fraco e fragilizado e pra final ele teve uma fratura na vertebra e a gente não sabe se o câncer já tinha atingido a parte óssea, quando descobrimos a fratura já foi a fase final que ele veio a falecer. Como era sua relação com seu vô? Nós éramos muito próximos. Ele brincava com você, vocês conversavam bastante? Foi muito difícil porque assim eu sempre fui muito apegada a ele, eu andava com ele para todos os lugares. Era a motorista dele. Quando ele realmente precisou se deslocar daqui, e quando minha mãe não podia ir ou minha tia não podia, eu quem ia. Teve um período que tranquei a faculdade, e assim a gente conversava bastante, ele se queixava muito das dores. Tinham noites que ele não conseguia dormir e eu passava acordada com ele. E era uma relação muito boa, e foi muito pra mim enquanto pessoa lidar com meu avô nesse período porque aprendi muito, principalmente questões humanas; que nós somos humanos e nós sentimos a dor do outro, e uma coisa que eu percebi no câncer mesmo, nas pessoas que passam pelo tratamento é que o ser humano é muito forte. Pois apesar das dores da doença, você ter que lidar com efeitos colaterais de medicamentos, e a cada consulta é algo novo... você está ali tendo, passando pelo risco de descobrir outro câncer, e é muito choque, ele reclamava muito de dor, que não queria mais continuar o tratamento, e era difícil, pois a gente ficava “e aí? Será que a gente interrompe ou a gente continua?” Se a gente continuar e evitar que o câncer se alastre e se a gente interromper e ele falecer mais rápido? Então não tinha como, era algo que não temos controle. 41 Você disse que aprendeu muitas coisas sobre questões de força e etc., e eu me lembrei da história da mãe de um amigo meu que faleceu de câncer em 2019. Esse amigo me falou algo que vou compartilhar com você: “Minha mãe lutou cinco anos contra um câncer no intestino, ela teve oportunidades de ter vários medicamentos pelo SUS, tratamentos e tudo mais, mas talvez ela não iria aguentar essa situação de pandemia.” Você acha que com o seu avô haveria esse sentimento? Foi algo que eu falei no início, já não bastava a luta do tratamento aí você imagina ficar entrando em hospitais com medo de contrair o Covid e levar para ele, e também em como iria ficar o psicológico dele nesse momento de pandemia. Mas deus sabe de todas a coisas! Eu não sei como seria, até assim pra gente mesmo, pois foi algo que abalou a todos. Mas e quem já estava abalado? Com noite sem dormir, sem se alimentar direito. E algo que aprendi com essa situação é que mesmo que a gente fizesse o máximo não iriamos conseguir ajudar ao máximo, pois não sabíamos o que ele estava sentindo. Ele se queixava de muita dor e não tinha muita coisa que a gente poderia fazer para amenizar, a gente tentava de tudo, de compressa de massagem de medicamentos pra diminuir a dor, e ele reclamava de frio, de calor, não gostava de nada. Ele chegou num ponto que chorava, e quando ele tinha um dia melhor pra gente era uma gloria, mas é muito difícil! Como seu avô era como pessoa? Meu avô era super sincero, se ele não fosse com a cara de alguém ele não tinha brincadeirinha, falava na lata o que achava e ele gostava muito de contar histórias... Você lembra de alguma história? Eram tantas histórias, tantas histórias, e pra eu lembrar de uma sem lembrar de muitas, no momento não consigo. Mas ele gostava de caçar, ele contava a quantidade de bichos que ele caçava, contava histórias da infância, que ele brincava com os irmãos e que as vezes eles se machucavam. Eram brincadeira não muito sadias. Ele era muito contador de histórias sabe? Ele sempre dava lições de moral. 42 Quando você pensa no SUS, o que vem na sua cabeça? O SUS... Nós do interior, o pessoal do interior utiliza bastante o SUS, então atendimentos gerais normalmente são pelo SUS, tem as questões da dificuldade ao acesso, pois é muita gente pra acessar, as vezes tem a má administração das cidades... Mas quando penso no SUS, penso numa oportunidade que assim que é muito boa. Eu não considero o SUS apenas como um sistema de saúde falido, como muita gente considera, sei das filas de espera, mas quando precisei fui bem encaminhada e atendida. E essa questão da demora acontece até em planos de saúde, as pessoas que pagam convênios também ficam à mercê da espera. O problema do ser humano em relação ao SUS é a questão da espera. Aqui, por ser uma cidade pequena, temos problemas por que muitas vezes o próprio paciente não procura o local correto, existe uma triagem. Sobre os canais de tv e jornais, como você acha que eles retratam o SUS? Eu acredito que eles mostram o que está visível. Eles não conhecem a realidade do SUS, mas acredito que nunca se utilizaram do sistema, não entendem como ele é. Se você pudesse melhorar algo no SUS, o que melhoraria? Eu acredito que a capacitação pessoal de pessoas, a assistência, o preparo das pessoas. Profissionais que saibam lidar com pessoas. Falta investimento, pois dinheiro a gentes sabe que tem, pois pra onde vai aquela dinheirama toda que a gente vê na TV? Aqueles roubos todos. O governo tem feito sua parte? Deveria fazer mais! Pois tem como fazer mais. O que você acha das pessoas que defendem o fim do SUS? Eu acho que essas pessoas nunca precisaram, nunca passaram por uma necessidadede um atendimento pelo SUS. São pessoas que não vivem a realidade e não deveriam nem se meter, deveriam procurar outras coisas pra falar ao invés de colocar um fim no SUS. 43 E como seria a situação de seu avô sem o SUS? Com certeza seria mais complicada. Olhando pelo meu avô, com a aposentadoria, ele não teria condições de custear um tratamento. Eu tenho certeza que seria difícil, pois além de pagar as consultas das consultas, iria ter as passagens pois tínhamos que nos deslocar do interior até a capital, a alimentação. Sem o SUS não teríamos conseguido amenizar a nossa tensão. Qual foi a memória que seu avô deixou, o que ele te ensinou...? Um dia em uma das consultas meu avô disse algo que me motivou a lutar com ele, ele disse: “eu vou tentar porque enquanto a vida a esperança.” E ele tinha muito medo... de morrer. Porque ele era dessas pessoas duronas, e ninguém quer morrer né? Ele tinha medo do médico, de se submeter a tratamento. Veio esse câncer e ele conseguiu lutar. Ele me ensinou muito sobre o amor, enquanto eu lutava com ele e via seu sofrimento eu aprendi muito, inclusive que o amor não é só na felicidade, ele é na dor. Ele reclamava, não encarou o tratamento de forma positiva, e falava coisas negativas. E eu entedia pois não era eu que estava passando por aquilo, mas a gente tentava contornar a situação, tentava dizer algo positivo. Então aprendi demais sobre paciência. Após a perda a ficha vai caindo e a gente percebe que não sabe o que o outro sente. Muitas vezes ele falava coisas pesadas e eu chorava escondida pra que ele não sofresse ao me ver sofrer. E era uma batalha complicada, e eu admiro as pessoas que lutam com alguma doença, pois a família sofre junto e sofre limitada. Sou uma pessoa de bastante fé, tenho muita fé em Deus, e a fé me ajudou muito a passar por essa situação, pois havia dias que dava vontade de sumir, não morrer, mas apenas fugir da situação, mas não tinha como fugir da realidade. Tinha dias que eu cantava para ajudar ele a dormir. Todo tempo ele me agradeceu, me abençoava. Foi difícil, depois tive de lutar contra dias escuras pois ficamos com as saudades e as lembranças dos piores momentos, com o tempo a gente querendo substituir os piores pelos melhores pra continuar. Por tudo isso eu não falo mal do SUS, eu acredito que o SUS tem salvado muitas vidas. Nós fomos no Hospital da Liga do Câncer, e o atendimento lá era diferenciado, tinham pessoas à beira da morte, mas sempre 44 haviam profissionais que sabia lidar com aquilo, e muitas vezes esses profissionais tem que lidar com as próprias limitações do sistema. Esses dias escuros passaram? Sim, eu evitei falar sobre a morte dele. Eu evitava conversar com a família sobre. Ver minha família sofrer pela ausência dele me doía. Mas assim, me conforta em saber que ele descansou. Seria muito egoísmo se eu quisesse que ele continuasse vivo e sofrendo do jeito que estava. Não queremos e nunca estamos prontos pra morte. A cada dia que passa mais distante eu fico do me avô, as lembranças ruins também vão ficando distantes e os dias escuros graças a Deus passaram. Esse quarto era o quarto que ele dormia, e eu me mudei pra esse cá, pois era difícil ver o quarto fechado, pensava que ele estava aqui dentro. Então pra evitar essa ilusão na minha mente eu trouxe minhas coisas pra cá, e graças a Deus eu estou bem. Espero que meu avô também, e que ele tenha tido o descanso eterno. As vezes dói, as vezes dá saudade, mas é o ciclo da vida. Fica um vazio, mas eu vivi muito bem ao lado do meu avô. Eu não tenho remorso só saudades. 45 Transcrição de entrevista 2 – Uma nova esperança. Fonte: Márcia Faria Westphal Cidade: São Paulo – SP Luiz – Qual a sua história com a saúde? Márcia - Eu trabalho com saúde há 50 anos, comecei como educadora sanitária e ali já me convidaram pra trabalhar na Faculdade de Saúde Pública. Trabalhei nos centros de saúde e depois fui fazer o curso de ciências sociais. Trabalhei no sanatorinhos do Ipiranga, a Associação dos Sanatórios Populares. O que era esperado com a criação do SUS? Houve muita comoção e expectativa em relação a criação do SUS. No começo a gente tinha um entusiasmo muito grande, todos batalharam muito pelo SUS. Sempre procuramos fazer ações que não se restringiam ao atendimento à saúde, eram trabalhos com a comunidade relacionados ao SUS. A ideia do SUS, é a ideia de garantir o direito à saúde e um dos princípios muito importantes do SUS é a participação social. Então, contávamos muito com a participação da população. Como era antes do SUS? Antes do SUS ou as pessoas iam para os Institutos de Aposentadoria e Pensão, na área comercial, industrial e etc., ou iam para as Santas Casas, não havia uma organização de atenção à saúde no Brasil. A criação do SUS foi importante, trouxe a possibilidade de acesso à saúde para população, mas ele não ficou do jeito que a gente almejava. O SUS não mudou a vida das pessoas como a gente esperava, mas pelo menos as pessoas tinham onde recorrer quando precisavam. Como era seu trabalho na faculdade? A gente tinha um trabalho muito grande na região de Cotia Itapecerica da Serra, que ficam próximas a Faculdade de Saúde Pública. Havia um projeto onde a população da região de Itapecerica da Serra foi consultada para ver quais eram as suas 46 necessidades, e para eles era muito necessário um hospital naquela região, graças a essa pesquisa e a participação da sociedade esse hospital foi feito. Então, veja que é muito mais que simplesmente o atendimento à saúde. Tinha atenção primaria, segundaria, terciaria para fazer a distinção destes tipos de atenção e nessa época falávamos que se o Centro de Saúde funcionasse bem, 90% dos problemas da população estariam resolvidos. O governo tem feito sua parte? Seria muito bom se o SUS estivesse funcionando muito bem, e se tivéssemos um Ministro da Saúde que organizasse as políticas, as ações em diferentes níveis. Acredito inclusive que se houvesse essa organização não estaríamos sofrendo tanto com a pandemia. Não que os governantes não estejam fazendo nada, mas poderia ser feito muito mais. Imagine que o nosso presidente vai em reuniões para discutir medicações! Ele não tem nada a ver com isso. Ele deveria apoiar, usar a máscara e dar exemplo. É uma situação muito ruim pois a gente poderia tá numa situação melhor agora. Quais são os desafios do sistema? O SUS tem vários desafios, mas um dos grandes desafios é o financiamento. Outro é a questão de recursos humanos, não existe uma política de formação do pessoal e supervisão no SUS. Não existe um jeito fácil de resolver os problemas do SUS. Sempre aparecem iniciativas, como a do Mais Médicos que se organizou envolvendo as universidades com um programa de capacitação, teve resultados maravilhosos, mas não foi pra frente. Qual o motivo dessa falta de continuidade? Essa descontinuidade de iniciativa se dá primeiramente pela desvalorização do SUS, se você desvaloriza algo você não investe. Hoje nós vivemos num país capitalista, então o que é importante? O serviço privado, não é o SUS o mais importante. Na verdade, como não tem investimento no SUS ele não funciona como deveria funcionar. Por isso há uma reclamação da sociedade. 47 Qual o papel do SUS na diminuição das desigualdades? O SUS pode diminuir as desigualdades sociais e tem toda potencialidade para isso. Se ele funcionasse do jeito que a gente imagina, se a gente reunisse a população, discutisse, a gente fortaleceria o sistema. Ajudaria no empoderamento da população, para ela reivindicar melhores serviços. Com isso o SUS teria tudo para melhorar as condições de vida das pessoas. O empoderamento da população ajuda muito! É um dos propósitos do SUS. Eu trabalho com promoção de saúde, é minha área de trabalho, se a gente
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