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LUIZ FERNANDO DAMASCENO -17819792 -PPTCC -SM NOTURNO - REV

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL 
Bacharelado em Jornalismo 
 
 
 
 
 
 
 
RETRATOS DO SUS: RELATOS E REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA ÚNICO DE 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
 
 
SÃO PAULO 
2020 
 
 
LUIZ FERNANDO DAMASCENO SANTOS - 17819792 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RETRATOS DO SUS: RELATOS E REFLEXÕES SOBRE O SISTEMA ÚNICO DE 
SAÚDE 
 
 
 
Relatório de Fundamentação Teórica e 
Metodológica apresentado ao Curso de 
Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, 
como requisito para obtenção do título de 
bacharel em Jornalismo. 
Orientadora: Profa. Dra. Mirian Meliani Nunes 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória: 
Aos meus pais, irmãs, amigos e 
professores, por toda a ajuda e incentivo 
durante o desenvolvimento deste projeto. 
Para aqueles que mantiveram suas 
esperanças diante de todas as 
adversidades e para a dona Raquel, mãe 
de meu amigo Alessandro Zedequias, que 
lutou bravamente contra um câncer. 
 
 
 
Agradecimentos 
Agradeço a essa energia superior, mística e surreal, que de uma forma nada científica 
sempre esteve presente em minha trajetória, agradeço aos meus amigos que foram 
tão pacientes e generosos durante essa aventura vivida na Universidade. 
Esta vivência que é única, inesquecível e avassaladora, chamada graduação é 
singular graças as experiências humanas ali vividas, graças aos docentes e 
profissionais que realizam diariamente a árdua tarefa de aguçar nosso senso crítico, 
empatia, de ensinar comunicação, de transmitir conhecimentos tão distintos e tão 
cheios de significado. 
Encontrei pessoas incríveis, diversas, difíceis e maravilhosas nessa jornada, fizemos 
uma caminhada que não foi pavimentada por uma trilha de tijolos amarelos como no 
livro “O Mágico de Oz”, mas que em seu final mostrou que a magia sempre esteve em 
nós alunos, assim como o poder de voltar para casa sempre esteve com Dorothy. 
Nessa volta para casa – ou volta para nós mesmo – me encontro mais sábio, menos 
alienado e mais grato. Me sinto validado e percebo que cursar jornalismo foi um dos 
maiores atos de amor próprio que já tive. 
Agradeço a minha prima Kátia Sayuri, a primeira pessoa a perguntar o que eu gostaria 
de ser quando criança e a primeira pessoa a ouvir que eu gostaria de ser jornalista. A 
primeira pessoa que estimulou minha escrita - graças as cartas que trocávamos na 
minha pré-adolescência. 
Agradeço a minha mãe, que sempre leu em voz alta, que sempre contou histórias, 
que sempre disse que me amaria incondicionalmente independente de minhas 
limitações. 
Agradeço as minhas tias Eugênia e Bernadete, dois pilares da família Santos. 
Agradeço ao meu pai por financiar indiretamente meu sonho e por nunca ter se oposto 
as minhas escolhas. 
Agradeço a vida, aos encontros, aos desencontros, e agradeço a todos que 
acreditaram em mim. 
 
5 
 
Ficha-técnica 
Luiz Fernando Damasceno Santos: Discente do oitavo semestre de jornalismo na 
Universidade Cruzeiro do Sul. Estagiário na Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa 
da Universidade Cruzeiro do Sul, com foco na divulgação de ciência, educação e 
saúde. 
Funções: Pesquisador, designer, repórter, pauteiro e redator. 
Taís Bueno: Formada em Licenciatura plena em Artes Visuais pela FPA - Faculdade 
Paulista de Artes. Atuação no campo das artes visuais, projetos educacionais, 
preparação e elaboração de conteúdos didáticos e ministração de oficinas criativas. 
Funções: Ilustração e orientação visual. 
Thais Kowalski: Licenciada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa pela 
Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Atua com revisão de textos e projetos 
educacionais voltados à Literatura. 
Função: Revisora. 
Produto: Livro-reportagem. 
 
 
6 
 
Resumo 
O presente trabalho investigou os retratos do Sistema Único de Saúde na mídia 
por meio da análise do conteúdo de notícias, nele foi observado que as mesmas não 
retratam o SUS com complexidade e tampouco convidam o leitor a refletir sobre a 
origem dos problemas do sistema, bem como sua importância para a sociedade. No 
projeto de pesquisa, foi feita uma análise de conteúdo sobre as notícias veiculadas no 
portal Estadão entre fevereiro e maio de 2020, amparada na Teoria da Complexidade 
e nos critérios de noticiabilidade. 
Com o resultado da pesquisa foi identificada a necessidade da criação de um 
produto jornalístico que abarcasse narrativas diversas sobre o Sistema Único de 
Saúde, através dessa reflexão foi feito um livro-reportagem intitulado “Retratos do 
SUS: relatos e reflexões sobre o Sistema Único de Saúde”, composto por histórias de 
vida e depoimentos de usuários do sistema e profissionais da saúde. 
 
Palavras-chave: SUS e Jornalismo; o SUS na Mídia; Jornalismo e Complexidade; 
SUS e Direito Social; Cobertura do Coronavírus. 
 
 
 
Sumário 
1. Introdução ............................................................................................................... 9 
2. Justificativa ............................................................................................................ 11 
3. Objetivo geral ........................................................................................................ 12 
3.1. Objetivo específico .......................................................................................... 12 
4. Problematização e hipóteses ................................................................................ 13 
5. Aspectos teóricos .................................................................................................. 15 
6. Aspectos metodológicos........................................................................................ 17 
6.1. Análise de conteúdo de notícias do Estadão .................................................. 18 
6.2. Considerações ................................................................................................ 22 
7. Plano Estratégico .................................................................................................. 23 
7.1 Descrição do produto e estratégias aplicadas ................................................. 23 
7.1.1. Visão .................................................................................................................................... 23 
7.1.2. Valores ................................................................................................................................ 23 
7.1.3. Número de páginas ............................................................................................................. 23 
7.1.4. Descrição do produto .......................................................................................................... 23 
7.1.5. Finalidade ............................................................................................................................ 23 
7.1.6. Linha editorial: ..................................................................................................................... 23 
7.1.7. Linguagem e estrutura do produto: ..................................................................................... 24 
7.1.8. Tipografia escolhida: ........................................................................................................... 25 
7.1.9. Identidade visual: ................................................................................................................ 25 
7.2. Estratégias para definição de público alvo ...................................................... 26 
7.3. Técnicas aplicadas .......................................................................................... 27 
7.4. Sinopse ........................................................................................................... 27 
7.5. Descrição dos Capítulos ................................................................................. 28 
7.5.1.Introdução ............................................................................................................................ 28 
7.5.2. Prólogo ................................................................................................................................ 28 
7.5.3. O quarto de paredes amarelas............................................................................................ 28 
7.5.4. Uma nova esperança .......................................................................................................... 28 
7.5.5. Estranha mania de ter fé na vida ........................................................................................ 29 
7.5.6. A fila correta ........................................................................................................................ 29 
7.5.7. Um mosaico de nós mesmos .............................................................................................. 29 
7.5.8. O vírus da elite .................................................................................................................... 29 
7.5.9. Um muro de arrimo ............................................................................................................. 29 
7.5.10. Saúde e identidade ........................................................................................................... 30 
7.5.11. Iniquidades raciais na saúde ............................................................................................. 30 
7.5.12. Um almoço que nunca aconteceu ..................................................................................... 30 
7.5.13. Salve o SUS! ..................................................................................................................... 30 
7.5.14. Notícias do futuro .............................................................................................................. 30 
7.5.15. A presença do SUS ........................................................................................................... 31 
7.5.16. Epílogo .............................................................................................................................. 31 
 
 
8. Referências ........................................................................................................... 32 
9. Notícias analisadas ............................................................................................... 35 
10. Cronograma ........................................................................................................ 36 
11. Investimento ........................................................................................................ 37 
 
 
9 
 
 
1. Introdução 
Junto à Constituição de 1988, que garantiu inúmeros direitos para a sociedade, 
nasceu o Sistema Único de Saúde (SUS), um sistema complexo, com uma gama de 
funções e ações que vão além da assistência básica de saúde individual, como a 
vigilância sanitária e epidemiológica, a saúde do trabalhador e a assistência 
terapêutica integral. 
Segundo Paim (2009), “a saúde passou a ser reconhecida como um direito 
social, ou seja, inerente à condição do cidadão, cabendo ao poder público a obrigação 
de garanti-lo: a saúde é direito de todos e dever do Estado (Art. 196) [...]”. 
O SUS é o único sistema público de saúde no mundo que atende mais de 100 
milhões de habitantes, responsável pelo acolhimento de mais da metade da 
população brasileira, além de ser referência em campanhas de imunização, 
tratamento de HIV, distribuição de medicamentos, assistência em acidentes de 
trânsito e transplante de órgãos: 
 
O SUS realiza, em um ano, cerca de 2,8 bilhões de procedimentos; 2,5 
milhões de partos; 3,2 milhões de cirurgias; 211 mil cirurgias cardíacas; 9,9 
milhões de terapias renais substitutivas, sendo responsável por 97% da oferta 
para pacientes renais crônicos (hemodiálise); 1 milhão de tomografias; 12 mil 
transplantes (mais de 95% dos transplantes feitos no Brasil); 150 milhões de 
imunizações; 422 milhões de exames bioquímicos e anatomopatológicos; 58 
milhões de fisioterapias; 244 milhões de ações odontológicas, 3,7 milhões de 
órteses e próteses; 28 milhões de ações de vigilância sanitária; e 9 milhões 
de exames de ultrassonografia. (PAIM, 2009, p.76) 
 
Apesar de inúmeras ações benéficas para a sociedade, o SUS, desde sua 
fundação, sofre com o descaso do governo, com a falta de investimento, desvio de 
verbas e sucateamento, isto reflete em hospitais lotados, filas quilométricas, falta de 
médicos e demora no atendimento. Todos os efeitos da irresponsabilidade dos líderes 
políticos reverberam na veículos midiáticos, que raramente trazem reflexões sobre a 
causa desses problemas considerando a complexidade do sistema, resultando em 
narrativas reducionistas. 
Considerando tais pontos, criamos uma análise de conteúdo das notícias sobre 
o SUS veiculadas no portal da web Estadão entre o dia primeiro de fevereiro até o dia 
cinco de maio de 2020; foram avaliadas notícias veiculadas na categoria Saúde e que 
tiveram o termo “SUS” no título da matéria. 
10 
 
Diante a relação da mídia com o Sistema Único de Saúde, este projeto de 
pesquisa teve como objetivo fazer um breve estudo sobre os retratos midiáticos do 
sistema. Durante o processo, refletimos sobre como a ausência de determinados 
aspectos pode minimizar a importância do SUS na sociedade. Também verificamos 
uma pequena mudança no tônus das notícias sobre o SUS após a pandemia do novo 
coronavírus. 
O Sistema Único de Saúde é composto por inúmeros agentes e não se limita 
apenas aos profissionais da saúde. Para Paim (2009), políticos, educadores e 
jornalistas também são agentes indiretos de saúde e a imprensa possui um papel 
fundamental na construção de percepções sobre o SUS, portanto, este projeto 
ponderou sobre o papel da grande mídia e da própria sociedade para com a 
valorização do sistema. 
A pesquisa contou com uma análise de conteúdo das notícias veiculadas no 
site do Estadão e teve como aporte teórico a Teoria da Complexidade de Edgar Morin 
que justifica a importância do pensamento complexo. Também foram utilizados 
estudos sobre os critérios de noticiabilidade para compreender a relação da mídia com 
o objeto. No projeto experimental foi produzido um livro-reportagem que contou com 
pesquisas qualitativas: entrevistas com especialistas e histórias de pacientes 
localizados na cidade de São Paulo, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. 
 
11 
 
2. Justificativa 
Os conteúdos encontrados nos meios de comunicação podem cercear uma 
visão complexa sobre o SUS? O presente trabalho buscou respostas para essa 
indagação e quis compreender o papel da mídia na construção de percepções 
referente ao Sistema Único de Saúde, por meio da análise de conteúdo de publicações 
sobre o sistema veiculadas no site Estadão e um livro-reportagem. 
Segundo Edgar Morin (2019), um sistema possui várias camadas e aspectos, 
tal multiplicidade o torna complexo e o faz formar um todo, no entanto, esse todo não 
é mais importante que suas partes. Essa variedade de elementos pode ser encontrada 
no SUS e se aplicou neste projeto. Além de Edgar Morin, foi utilizado os estudos de 
critério de noticiabilidade e valores-notícia de Mauro Wolf e Nelson Traquina e Análise 
de Conteúdo. 
O SUS é responsável pelo atendimento de 75% da população brasileira, 
segundo dados levantados pela ONG Politize!. Suas ações são reconhecidas 
mundialmente pela Organização Mundial da Saúde e Organização das Nações 
Unidas, além de servirem como referência para outros países que também possuem 
um sistema de saúde pública. Tais dados reforçam a importância do sistema para a 
sociedade e demonstram a necessidade da mídia de produzir narrativas que exploram 
a multiplicidade da entidade. 
Foram criadas tabelas de análise de análise de conteúdo com aspectos de 
complexidade, baseadas nosestudos da complexidade e critérios de noticiabilidade; 
elas serviram para justificar a elaboração do livro-reportagem. 
As entrevistas apresentadas no livro-reportagem serviram para a construção 
de reflexões e narrativas que mostram pontos complexos sobre a saúde pública. O 
produto apresentou histórias dos usuários que tiveram experiências com o SUS e fez 
uma ligação desses relatos com as ações do SUS, buscando mostrar justamente a 
complexidade do sistema. 
O debate sobre o modo como são construídas as notícias sobre o SUS se torna 
importante por investigar as ações dos jornalistas na construção de conteúdos e 
narrativas que abarquem toda a multiplicidade, diversidade e profundidade do 
sistema, bem como refletir sobre o papel desses como agentes indiretos da saúde. 
 
12 
 
3. Objetivo geral 
O projeto teve como objetivo apresentar novos ângulos sobre o Sistema Único 
de Saúde pelas perspectivas de usuários do sistema, mostrando visões complexas, 
que levem em conta a importância do sistema para sociedade, propondo diálogos 
sobre todos os aspectos do SUS, e enquadramentos que abarquem tanto pontos 
negativos quanto positivos do sistema. 
 
3.1. Objetivo específico 
Em sua gênese, este projeto coletou dados sobre os retratos do SUS na mídia 
por meio da análise de conteúdo do portal de notícias Estadão; foram avaliadas 
notícias veiculadas na categoria Saúde e que tiveram o termo “SUS” no título da 
matéria, do dia primeiro de fevereiro até o dia cinco de maio de 2020. 
Essa primeira análise foi feita em tabelas que incluíram os critérios de 
noticiabilidade proposto por Mauro Wolf (importância do indivíduo (nível hierárquico), 
influência sobre o interesse nacional, número de pessoas envolvidas, relevância 
quanto à evolução futura) e adicionando o pensamento complexo proposto pelo 
teórico Edgar Morin, que tenta não resumir o personagem a uma única palavra, leva 
em conta seu histórico, sua imperfeição, e busca soluções para as situações através 
de diálogo e reflexões, exercendo um pensamento capaz de lidar com o mundo real. 
A análise contribuiu para a construção de argumentos que justificassem a 
importância do pensamento complexo dentro da mídia e principalmente em assuntos 
que necessitam de um tato maior no momento em que são abordados. 
Após a construção da análise de conteúdo e de reflexões sobre os critérios de 
noticiabilidade e pensamento complexo, criamos um livro-reportagem, que traz 
histórias de vidas e narrativas complexas sobre o Sistema Único de Saúde. 
 
13 
 
4. Problematização e hipóteses 
Ao nos depararmos com os conteúdos veiculados na mídia sobre o Sistema 
Único de Saúde, notamos que ele quase sempre está associado a uma narrativa que 
não corresponde a sua total amplitude; um ponto de reflexão sobre o que a mídia 
mostra como realidade e o que é verossímil. 
Uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 
2011, o Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS)1, que avalia a percepção 
de usuários e não usuários sobre o SUS, pode ilustrar a relevância desta investigação; 
nela podemos ver alguns pontos sobre o sistema: 
 
O atendimento de urgência e emergência recebeu a maior proporção de 
avaliações como “ruim” ou “muito ruim” no Brasil (31,4%) e nas regiões Sul 
(34,4%), Centro-Oeste (34,9%) e Nordeste (36,1%). Nas regiões Sudeste e 
Norte, o serviço pesquisado que recebeu a maior proporção de avaliações 
negativas foi aquele prestado nos centros e/ou postos de saúde. Nestas 
regiões, estas proporções foram 28,3% e 42,2%, respectivamente. (IPEA, 
2011, p.7) 
 
Embora esses indicadores não fossem recentes, revelavam a ineficácia do 
sistema em determinados aspectos do atendimento individual, principalmente no que 
diz respeito ao atendimento de urgências médicas, com 31,4% da população brasileira 
classificando-o como “ruim” ou “muito ruim”. 
A mesma pesquisa também mostrou que “a distribuição gratuita de 
medicamentos no SUS foi qualificada como muito boa ou boa por 69,6% dos 
entrevistados e como ruim ou muito ruim por 11% destes.” (IPEA, 2011, p.6), bem 
como o atendimento com médicos especialistas foi classificado como “bom” e “muito 
bom” por 60,6% dos entrevistados (IPEA, 2011). 
Esses dados serviram para uma reflexão sobre a multiplicidade do SUS, pois o 
mesmo sistema que é visto como ruim em algumas de suas ações também é visto 
como bom em outros aspectos, logo se pode compreender que o SUS, de fato, é 
complexo, e tal complexidade se justifica em uma visão sistêmica. 
Para Morin (2015), a visão sistêmica é fundamental para um entendimento 
diverso sobre qualquer assunto, situação ou objeto. E por que acreditamos que o 
pensamento complexo proposto por Morin não é muito utilizado pelos veículos de 
 
1 Disponível em: <https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/110207_sipssaude.pdf> 
14 
 
comunicação? Um palpite é o ambiente organizacional das redações jornalísticas, 
onde os maquinários de produção de notícias estabelecem padrões sobre 
determinados assuntos que não permitem a exploração das nuances e contrapontos 
da notícia. 
Esse “fazer jornalístico”, também conhecido como Newsmaking, molda os 
meios de confecção da notícia e leva em consideração apenas critérios de 
noticiabilidade que podem limitar o enquadramento de um objeto: 
 
Embora os valores-notícia façam parte da cultura jornalística e sejam 
partilhados por todos os membros desta comunidade interpretativa, a política 
editorial da empresa jornalística pode influenciar diretamente o processo de 
seleção dos acontecimentos por diversas formas... Outro ponto que deve ser 
sublinhado é que os valores-noticia estão enterrados nas rotinas jornalísticas. 
(TRAQUINA, p.96, 2008) 
 
Sendo assim, uma das hipóteses foi que a falta de narrativas complexas sobre 
o SUS poderiam limitar a visão do leitor sobre o sistema, como: o que ele representa, 
qual sua importância para a sociedade, sua ordem e seu caos. 
Outro ponto considerado: o esse excesso de notícias onde o sistema sempre 
está relacionado a ineficiência, sem dar importância a sua complexidade, pode 
reforçar ideias que colocam o SUS como antagonista da saúde pública. 
 
15 
 
5. Aspectos teóricos 
Ao pensar em uma teoria que tratasse o Sistema Único de Saúde considerando 
tudo o que ele representa, foi quase impossível não recorrer ao pensamento complexo 
de Edgar Morin, afinal, a teoria pode abraçar tanto os prós quanto os contras desse 
sistema, que há mais de trinta anos atende a sociedade brasileira, mesmo diante de 
imperfeições, caos, desordem, singularidade e complicação. 
Para Morin (2015), a ordem é tudo o que é repetição, constância, invariância, 
tudo que pode ser posto sobre a égide de relação altamente provável, enquadrado 
sobre a presença de uma lei. 
Isso pode ser aplicado na prática quando relacionamos a teoria ao serviço de 
distribuição “gratuita” de medicamentos de alto custo feito pelo SUS: quando o Estado, 
por lei, compromete-se ao acesso a medicamentos para o tratamento de doenças 
raras, como Lúpus, Artrite Reumatoide, Esclerose Múltipla etc., os pacientes entram 
com processos de solicitação de medicamento, que são avaliados e enquadrados em 
critérios estabelecidos por uma organização em cumprimento à lei. 
Caso esse processo não dê certo, o paciente pode recorrer à justiça, para um 
outro procedimento burocrático, que pode ser caracterizado como ‘desordem’. “A 
desordem? É tudo o que é irregularidade, desvios com relação a uma estrutura dada, 
acaso, imprevisibilidade” (MORIN, 2015, p.89). 
Esses exemplos foram importantes para entender um outro aspecto do 
pensamento complexo: a singularidade. Mesmo diante do todo, as partes possuem 
sua própria complexidade, “isso significa que abandonamos um tipo de explicação 
linear por um tipo de explicação em movimento, circular, onde vamos das partes para 
o todo, do todo para as partes, para tentarcompreender um fenômeno” (MORIN, 
2019). 
Os aspectos mencionados acima tornaram-se importantes para a construção 
deste projeto, pois traz o pensamento complexo para as questões do Sistema Único 
de Saúde, sejam elas em suas especificidades ou em visões mais amplas. Esses 
aspectos serviram para uma análise de conteúdo, que deu suporte para a pesquisa e 
também justifica a importância do pensamento complexo dentro do jornalismo. 
Para fazer um contraponto entre o pensamento complexo e a abordagem do 
SUS na mídia, foram usadas as teorias de Mauro Wolf encontradas nos estudos de 
Nelson Traquina, sobre os critérios de noticiabilidade e valores-notícia: 
16 
 
 
Para Wolf, os valores-notícia de seleção referem-se aos critérios que os 
jornalistas utilizam na seleção dos acontecimentos, isto é, na decisão de 
escolher um acontecimento como candidato à sua transformação em noticia 
e esquecer outro acontecimento. (TRAQUINA, 2008, p.78) 
 
Os estudos da pesquisadora Gislene Silva, professora do departamento de 
jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, que refletem sobre os critérios 
de noticiabilidade e suas implicações diante das notícias também foram 
acrescentados ao projeto. 
Para Silva (2005), estudar a seleção de notícias implica, inclusive, em rastrear 
os julgamentos próprios de cada seletor, as influências organizacionais, sociais e 
culturais que este sofre ao fazer suas escolhas, os diversos agentes dessas escolhas 
postados em diferentes cargos na redação e até mesmo a participação das fontes e 
do público nessas decisões – aqui vale lembrar os estudos de agendamento (agenda 
setting), que complexificam as investigações sobre o processo de seleção das 
notícias. 
A teoria da complexidade guiou a construção do livro-reportagem, que joga luz 
sobre a diversidade do SUS e considera suas partes e seu todo; através de 
personagens com histórias que, de alguma forma, se encaixem com os apontamentos 
de Morin. 
 
17 
 
6. Aspectos metodológicos 
Buscou-se alguns pontos importantes para o auxílio da construção do produto 
final: a pesquisa bibliográfica, que procurou entender as formas nas quais o Sistema 
Único de Saúde é retratado na mídia e seu histórico e relevância para a sociedade; a 
análise de aspectos de complexidade, inspirada nos processos de Laurence Bardin 
de investigação de conteúdo, junto aos critérios de noticiabilidade propostos por Wolf 
e Traquina; a teoria da complexidade de Edgar Morin, que norteou este trabalho e 
possui tanto uma função metodológica quanto teórica; e as entrevistas em 
profundidade e histórias de vida, que serviram no processo de construção do livro-
reportagem. 
Tivemos como premissa compreender as aplicações do pensamento complexo 
nas mídias construindo um produto que considerasse essa complexidade. Contudo, 
nos próprios levantamentos bibliográficos selecionamos artigos, dissertações, teses, 
vídeos etc. que retratavam o SUS de uma forma diversa, mesmo que nas entrelinhas. 
Depois dos primeiros levantamentos bibliográficos e teóricos, foi construído um 
modelo de tabela de verificação de conteúdo que combinou critérios de noticiabilidade 
com aspectos de complexidade. A tabela serviu para uma breve análise sobre os 
conteúdos encontrados nas notícias do portal Estadão sobre o SUS. 
Com o fim do projeto de pesquisa foram feitas pesquisas qualitativas, 
entrevistas com usuários do Sistema Único de Saúde e figuras que possuíam 
autoridade no assunto para a construção do livro-reportagem, este tornou-se um 
produto ideal devido a liberdade criativa e licença poética que o jornalismo literário 
pode proporcionar, e as histórias de vida foram fundamentais na construção do foco 
narrativo do livro: 
As histórias de vida são preferíveis quando se trata de um livro-reportagem 
mais humanizado, cujo foco são os personagens e suas experiências vividas, 
muitas vezes experiências que ganham mais cor, vivacidade e veracidade nas 
palavras de quem as vivenciou, que na transcrição de uma fita gravada e 
reportada por um jornalista. (COUTO, 2017, n.p.) 
Couto (2017) também afirma que nesta modalidade, a força reside na humanização 
da entrevista, da ambientação daquele que entrevista com seu entrevistado, da 
captação de detalhes de seu ambiente e de sua vida. Em situações como essas, o 
repórter aparece comumente de forma sutil, como aquele que costura os 
depoimentos, interliga visões de mundo, que saltam, vívidas, das páginas para o 
coração, a mente e todo o aparato perceptivo do leitor. 
 
18 
 
 
6.1. Análise de conteúdo de notícias do Estadão 
Ao avaliarmos os caminhos necessários para a identificação de elementos do 
pensamento complexo na mídia, buscamos um método que fosse pratico em sua 
construção e que exemplificasse de modo eficaz nossos apontamentos; por conta 
disso, recorremos à análise de conteúdo em formato de tabelas, pelo seu caráter 
empírico, que possibilita uma exploração sobre o objeto sem perder seu rigor, como 
afirma Bardin: 
 
A análise de conteúdo (seria melhor falar de análises de conteúdo) é um 
método muito empírico, dependente do tipo de "fala" a que se dedica e do 
tipo de interpretação que se pretende como objetivo. Não existe coisa pronta 
em análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, por vezes 
dificilmente transponíveis. (BARDIN, p. 36, 2011) 
 
Esta análise verificou se alguns elementos do pensamento complexo estavam 
presentes nas matérias selecionadas, através da categorização dos mesmos, como 
indica Martino em seus estudos sobre Análise de Conteúdo (2018, p.150): “o centro 
da análise de conteúdo é a definição das categorias para interpretar a mensagem. 
‘Categorias’ foram as divisões usadas em uma pesquisa para compreender o 
conteúdo”. 
Os critérios substantivos de noticiabilidade, baseados nos estudos de Mauro 
Wolf: importância do indivíduo (nível hierárquico), influência sobre o interesse 
nacional, número de pessoas envolvidas, relevância quanto à evolução futura (Silva, 
2005) 
 Enquanto de Morin: ordem, desordem, singularidade (é levado em conta a 
diversidade dos envolvidos), histórico e reflexão (a notícia conduz o leitor a uma 
reflexão sobre os personagens ou situações). 
Tais aspectos foram recortes de uma interpretação do primeiro nível de 
complexidade e, embora os critérios da complexidade tenham sidos baseados nos 
estudos de Morin (2019), estes faziam parte de nossa percepção sobre o pensamento 
complexo, portanto, foi preciso elencá-los para comprovação de um ponto de vista e 
elaboração de uma análise de conteúdo que justificasse a construção do projeto 
experimental. 
19 
 
Porém, esses critérios não tinham o objetivo de criar um suposto lide da 
complexidade, tão menos uma receita para sua aplicação, afinal, a complexidade não 
pode ser delimitada por meras classificações, como afirma Morin: 
 
O primeiro mal-entendido consiste em conceber a complexidade como 
receita, como resposta, em vez de a considerar como desafio e como 
incitamento para pensar; acreditamos que a complexidade deve ser um 
substituto eficaz da simplificação, mas que vai permitir programar e 
esclarecer. (MORIN,2019, p.176) 
 
Referente às notícias analisadas, foram selecionadas cinco matérias no portal 
Estadão, em fevereiro não houve nenhuma publicação que usasse a sigla “SUS” ou 
“Sistema Único de Saúde” em seu título, sendo assim tivemos a análise das seguintes 
notícias: 
 
1 Mais demandado em caso de surto de coronavírus, SUS só tem 44% dos 
leitos de UTI do país – 12 de março de 2020; 
2 Coronavírus pode custar R$ 410 bilhões extras ao SUS, estima Ministério 
da Saúde - 26 de março de 2020; 
3 SUS se prepara para receber “três epidemias” – 30 de março de 2020; 
4 Coronavírus: corrida global por insumos faz SUS perder contratos – 4 de 
abril de 2020; 
5 Com a pandemia do coronavírus, papel do SUS ganha força entre 
paulistanos – 5 de maio de 2020. 
 
 
Todas as matériaspossuem pautas voltadas ao novo coronavírus por conta da 
relevância do tema, e durante o processo de cobertura da mídia notamos que houve 
algumas mudanças significativas em enquadramentos sobre o SUS; as primeiras 
matérias possuíam uma visão quase que administrativa, voltadas principalmente para 
os dados e previsões sobre os impactos do Covid-19 no SUS. Todas as notícias se 
enquadraram nos critérios substantivos de noticiabilidade. 
Na notícia 1 com a manchete “Mais demandado em caso de surto de 
coronavírus, SUS só tem 44% dos leitos de UTI do país”, publicada em 12 de março 
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de 2020, foi abordada a falta de leitos no SUS e se limitaram a este fato, a reportagem 
não apresentou possíveis reflexões sobre o porquê de a distribuição de leitos ser tão 
desigual; foram fatores econômicos? Problemas de má gestão? Falhas? Mesmo que 
as respostas pudessem parecer obvias, o pensamento complexo implica em levar em 
conta todos esses aspectos do objeto. 
A matéria também mostrava o SUS sob uma ótica administrativa, dando vazão 
somente para os processos burocráticos da situação e suas estatísticas, além de não 
levar em conta outros pontos como a disparidade de falta de leitos em determinadas 
regiões do país ou a falta de acesso à saúde de determinados grupos que vivem em 
vulnerabilidade social. 
A notícia 2, “Coronavírus pode custar R$ 410 bilhões extras ao SUS, estima 
Ministério da Saúde”, do dia 26 de março de 2020, possuía o mesmo caráter 
“econômico”, voltada para dados e gastos que o SUS terá com o covid-19 , o que é 
de se esperar vindo de uma notícia sobre as consequências econômicas que o vírus 
traria para o país, mas a matéria também não se aprofundou em aspectos complexos, 
como o histórico da situação. Esta notícia evidenciava a rivalidade entre o então 
Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o Presidente Jair Messias Bolsonaro; 
enquanto o ministro fala da seriedade do problema, o presidente relativiza a questão, 
minimizando o vírus a uma “gripezinha”. 
Na notícia 3, “SUS se prepara para receber ‘três epidemias’”, do dia 30 de 
março de 2020, o texto dispunha aspectos informativos e instrutivos em alguns trechos 
e, principalmente, nas aspas dos especialistas. Caberiam reflexões sobre a 
diversidade do assunto: quais grupos foram mais afetados pela doença e por quê? As 
diferenças de ações de prevenção nas grandes metrópoles em relação ao campo? 
Como funciona a atuação do Sistema Único de Saúde em locais afastados das 
grandes cidades? 
Na notícia 4, “Coronavírus: corrida global por insumos faz SUS perder 
contratos”, publicada em 4 de abril de 2020, tivemos novamente uma perspectiva mais 
voltada a gestão, sem considerar pontos importantes como uma análise mais 
aprofundada do fato, que apontasse caminhos para uma possível reflexão sobre todas 
as partes envolvidas (como se dão as relações de compra do Brasil com outros países 
seria algo relevante a ser abordado?). 
Todas as quatro matérias falavam de “partes” do SUS, usando-o como sigla 
pra abordar questões pertinentes à saúde pública e, mesmo dentro da categoria 
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“saúde”, as notícias detinham um caráter mais voltado para o capital e a economia do 
que propriamente para a saúde. Reduziam o SUS à uma “repartição do governo que 
cuida da saúde”, não consideraram a complexidade dos fatos ali apontados ou a 
diversidade do próprio sistema. O único aspecto do pensamento complexo encontrado 
foi o da desordem, porém, sem desdobramentos a ponto de trazerem reflexões. 
Apesar das últimas notícias analisadas não abarcarem o SUS em sua 
totalidade, a última notícia comprovou uma das hipóteses apontadas no início do 
trabalho: após a pandemia tomar proporções alarmantes o tônus das notícias 
mudaram e o título da notícia 5, publicada no dia 5 de maio de 2020, apontava isto: 
“Com a pandemia do coronavírus, papel do SUS ganha força entre paulistanos”. 
De uma mera sigla para se referir a questões administrativas sobre a saúde, o 
SUS passará a se ressignificar na reportagem, que falava sobre um levantamento do 
Ibope Inteligência em parceria com a Rede Nossa São Paulo2, onde mostrou que 40% 
dos entrevistados defendiam um maior investimento no SUS. Nesta matéria existiam 
relatos de pessoas que tiveram que recorrer ao SUS após a perda de seus empregos 
devido à crise do novo coronavírus, trazia uma autoavaliação sobre as preocupações 
nos três primeiros meses de pandemia, direcionadas aos gastos públicos e ao cenário 
político do país diante do covid-19. Apresentava os índices de reprovação de Jair 
Bolsonaro (54%) e aprovação de Bruno Covas e João Doria (68%), diante da crise do 
novo coronavírus. Também destacava que a pesquisa havia sido realizada com 
paulistanos das classes A, B e C e continha aspas de entrevistados que falam da 
importância do SUS para a sociedade. 
Embora o direcionamento desta reportagem fosse mais abrangente do que das 
anteriores, ela ainda não abarcava toda a complexidade do sistema: reconhecia que 
o SUS tinha falhas, mas que ele era importante para a população, principalmente em 
um momento de crise sanitária; mudava o enquadramento sobre o SUS, buscando 
falar com usuários do sistema, que são os mais afetados pela ordem ou desordem do 
mesmo; além de se munir com uma pesquisa de percepção do público, porém, ainda 
deixava de lado aspectos como o histórico e ordem do fenômeno. 
 
 
 
2 Disponível em: <https://www.nossasaopaulo.org.br/2020/05/05/o-que-pensam-os-internautas-paulistanos-
sobre-os-impactos-do-coronavirus/> 
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6.2. Considerações 
Essas análises trouxeram um vislumbre sobre relevância de notícias com 
perspectivas mais aprofundas sobre o Sistema Único de Saúde. Nenhuma delas se 
enquadrava em todos os aspectos de complexidade, a maioria focava nos padrões 
comumente praticados pelos jornalistas e pouco dialogaram sobre o elemento da 
complexidade mais presente nelas: a desordem. 
Contudo, a desordem causada pela pandemia fez com que fosse válido para o 
Estadão fazer uma matéria sobre a importância do SUS para os paulistanos. Isso 
poderia indicar uma mudança nos futuros enquadramentos sobre o Sistema Único de 
Saúde? Talvez, assuntos de maior fragilidade como a saúde pública e educação 
ganharão uma abordagem mais ampla no futuro? 
Uma característica que foi descoberta ao longo do projeto é que, ao aplicarmos 
a complexidade em abordagens jornalísticas, nos é permitido trazer humanidade para 
o texto; passamos a não levar em conta somente os critérios de noticiabilidade e 
começamos a ponderar os prós e contras do ecossistema em que um fato é abordado. 
A construção da narrativa complexa exige tato ao retratar determinados 
assuntos e o jornalismo passa a ser mais que um produto da indústria de notícias e 
começa a ganhar e transmitir mais significado, tanto para aqueles que produzem as 
notícias quanto para aqueles que as leem. 
 
 
 
 
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7. Plano Estratégico 
7.1 Descrição do produto e estratégias aplicadas 
7.1.1. Visão 
Servir de material de apoio para futuros estudos sobre o SUS e contribuir com 
o pensamento complexo dentro do Jornalismo. 
7.1.2. Valores 
Diversidade, humanidade e justiça. 
7.1.3. Número de páginas 
Considerando que o regulamento do Trabalho de Conclusão do Curso de 
Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul estabeleceu que o produto impresso livro-
reportagem deve possuir, no mínimo, 80 mil caracteres, este livro possui 99.369 
caracteres e cumpre com o regulamento para a submissão do projeto. 
7.1.4. Descrição do produto 
Dimensões: 148x210 mm; capa: papel cartão triplex 250 gr, colorido, orelha de 
8 cm, acabamento com laminação fosca; miolo: papel Pólen Soft 70 g, 4 cores, frente 
e verso. 
7.1.5. Finalidade 
A obra fala sobre a importância do SUS para a sociedade, algo que foi 
construído através de narrativas nas quais o leitor pudesse se identificar com os 
personagens apresentados. Tal identificação teve a funçãode despertar a empatia no 
processo de compreensão das dimensões do SUS, para dar início a uma reflexão 
mais complexa sobre o sistema. A obra também refletiu sobre o papel e a 
responsabilidade dos profissionais de comunicação ao noticiar temas ligados à saúde. 
7.1.6. Linha editorial: 
 O livro teve como premissa mostrar um SUS por ângulos que considerassem 
sua importância e papel na diminuição das desigualdades sociais, tendo como 
principal meta instigar a reflexão sobre a importância do Sistema Único de Saúde, 
mas sem deixar de citar seus problemas. 
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 Um posicionamento “pró-SUS” foi adotado durante todo o processo de criação 
do produto. Esse posicionamento partiu da necessidade de retratar o fenômeno por 
um lado positivista, e serviu como “resposta” a todo conteúdo imparcial sobre o 
sistema, apresentado na análise de conteúdo deste projeto. 
 Com as inúmeras ameaças que as políticas públicas de acesso à saúde vêm 
enfrentando ao longo dos últimos anos, foi necessário criar narrativas que 
resgatassem a memória do leitor sobre a relevância do SUS e que o chamassem para 
a luta; que enfatizassem que a saúde é um direito de todo cidadão e que esse direito 
precisa ser respeitado e aprimorado pelo Estado. 
7.1.7. Linguagem e estrutura do produto: 
A linguagem deste produto veio de uma insatisfação pessoal do autor em 
relação ao engessamento e às narrativas reducionistas nas produções jornalísticas, 
causadas pelo lead e encontradas em muitos jornais diários. Esse incomodo não é 
exclusivo de um único jornalista, na década de 60 muitos profissionais se 
movimentaram para criar o que ficou conhecido como o “New Journalism”, ou 
“Jornalismo não ficcional”, em que eram permitidas narrativas beirando ao romance, 
repletas de diálogos e uso da primeira pessoa do singular. 
O que vai proporcionar o advento do Novo Jornalismo contemporâneo na 
década de 1960, nos Estados Unidos, é a insatisfação de muitos profissionais 
da imprensa com as regras de objetividade do texto jornalístico, expressas 
na famosa figura do lead, uma prisão narrativa que recomenda começar a 
matéria respondendo às perguntas básicas do leitor. (PENA, 2006, N.P.) 
 
Apesar de ter elementos que flertassem com o “Novo Jornalismo”, ele se 
enquadrou categoricamente no jornalismo literário, que, segundo Pena (2006), 
potencializa os recursos do jornalismo, ultrapassa os limites dos acontecimentos 
cotidianos, proporciona visões amplas da realidade, exerce a cidadania, rompe com a 
burocracia do lead, e garante perenidade e profundidade aos relatos. 
Tal gênero jornalístico permitiu que as entrevistas fossem feitas de forma mais 
profunda e que o texto tivesse liberdade poética, referências da cultura popular, uso 
de metáforas, jogos de palavras, e diversos artifícios presentes em romances 
25 
 
literários. O gênero também permitiu a elaboração de uma narrativa que utilizasse as 
falas e os diálogos dos entrevistados de forma mais ampla. 
Além disso, a modalidade livro-reportagem foi escolhida por ter um caminho 
menos complexo diante ao atual cenário de pandemia e limitações impostas pelo 
isolamento social; isso se dá pela ausência da obrigatoriedade de elementos visuais, 
como fotografias e gravações de vídeo in loco. 
Inspirado na obra “A vida que ninguém vê”, de Eliane Brum, a construção do 
livro é feita com capítulos que são independentes uns dos outros, mas que se ligam 
por meio do tema central, adequando-se à visão sistêmica proposta por Edgar Morin. 
O contexto histórico do Sistema Único de Saúde e os dados foram apresentados 
durante todo o processo de escrita, e foram adicionados intencionalmente em doses 
homeopáticas, com o objetivo de proporcionar uma leitura mais palatável e de fluxo 
contínuo. 
Com narração em primeira pessoa, o autor relatou sua experiencia com o SUS 
e trouxe suas dúvidas e reflexões para a obra, que foram incluídas no início de 
capítulos específicos. Também foi elaborado um glossário, disposto no final da obra, 
para evitar grandes interrupções durante as histórias e facilitar a condução dos relatos. 
7.1.8. Tipografia escolhida: 
 Para o corpo do texto foi escolhida a tipografia serifada Georgia, tamanho 11, 
que está presente em inúmeras produções editoriais. A serifa presente no tipo facilita 
a leitura e a torna confortável, além de conduzir o olhar do leitor. Para o título foi 
escolhida a fonte Roboto, tamanho 14, que é condensada e moderna, dando ao 
produto um ar jovem e despojado. 
7.1.9. Identidade visual: 
 A identidade visual do “Retratos do SUS: relatos e reflexões sobre o Sistema 
Único de Saúde ” teve seu conceito inspirado no título da obra, onde foi trabalhado o 
significado da palavra “retrato”, que é comumente relacionado a fotografias, mas que 
também está vinculado a pinturas, a quadros e a reprodução de imagens; o conceito 
do projeto foi percorrendo por toda essa atmosfera das galerias de arte e houve uma 
decisão estética de substituir o termo “Sumário” por “Galeria de Histórias”, justamente 
para reforçar o imaginário ligado à palavra em questão. 
26 
 
 Foi criada uma ilustração para a capa do produto, presente nos apêndices 
deste documento, que buscou exprimir tudo que o livro e o projeto de pesquisa 
representavam. Os personagens ilustrados na capa são pessoas negras, em sua 
maioria. Essa escolha se deu por uma preocupação em representar a real imagem da 
sociedade brasileira, e foi baseada em um dado divulgado pela Organização das 
Nações Unidas (ONU) que afirma que 80% da população que utiliza o Sistema Único 
de Saúde se autodeclara negra. 
 Como não existia a possibilidade de fotografar todos os entrevistados devido 
ao isolamento social, foram criadas ilustrações que os representassem, e estão na 
abertura de cada capítulo. Essas ilustrações seguiram um padrão estético similar à 
arte da capa, que, por conta de seu traço largo, predominância da cor preta e da 
branca, acabaram remetendo à xilogravura de cordel. No prólogo e no epílogo temos 
a ilustração de um olho, que aparece fechado no prólogo e “se abre” no epílogo, 
sugerindo que ao fim da leitura o olhar do leitor estará aberto a novas perspectivas 
sobre o SUS. 
 Optou-se por manter destaque na cor azul, que é característica na área da 
saúde, e o restante da identidade visual é composto pelas cores preta e branca com 
intuito de transmitir um ar de seriedade. 
7.2. Estratégias para definição de público alvo 
 A construção do livro-reportagem foi feita com a intenção de atingir o maior 
número possível de pessoas por se tratar de um tema que cabe a toda sociedade, 
contudo, acreditamos que o formato e a linguagem se adequem a jovens adultos, com 
idade entre 19 e 29 anos, que possuam interesse pela temática. 
 Profissionais da saúde com idade entre 18 e 40 anos também fizeram parte 
desta percepção e entram como público secundário. Já estudantes de Jornalismo e 
áreas correlatas com idade entre 18 e 26 anos fariam parte do público terciário. 
 
 
27 
 
7.3. Técnicas aplicadas 
 Primeiramente foi elaborada uma análise de conteúdo que justificasse a 
criação de um produto com foco narrativo que enfatizasse o valor do sistema, por 
meio desta foi comprovada a ausência de angulações complexas sobre o SUS. 
 Após isso foi feita uma pesquisa por meio das redes sociais do autor em busca 
de fontes que estariam dispostas a relatar suas experiencias com o SUS, algumas 
fontes vieram por meio dessa pesquisa informal, enquanto outras vieram através de 
indicações. 
 A entrevista em formato de história de vida foi a escolha para o projeto 
justamente por dar voz a esses personagens, e, como afirma Couto (2017), as 
histórias de vida são preferíveis quando se trata de um livro-reportagem mais 
humanizado, cujo foco são os personagens e suas experiências vividas. 
7.4. Sinopse 
 Como um mosaico, o SUS se compõe através da singularidade das suas 
partes, formando uma imagem eaté mesmo um retrato, que podem ser interpretados 
das mais diversas formas. Existe um SUS que não funciona, existe um SUS que 
funciona, existe um SUS que serve como ferramenta política, ou que serve como 
última esperança. Existem muitos SUS dentro do SUS. 
 E este livro, que é feito de gente assim como o Sistema Único de Saúde, se 
encarrega de mostrar histórias que refletem acerca da saúde pública no cotidiano 
pelas experiências individuais de pacientes, percepções de estudiosos e 
trabalhadores da saúde. 
 Uma literatura paralela ao que se vê na academia, aqui o SUS é abordado 
com importância e delicadeza, bem como sua complexidade e papel na diminuição 
das desigualdades sociais. 
 Igual a um colecionador que procura objetos raros para sua coleção, os relatos 
mostrados neste livro possuem sua preciosidade, mas também possuem um teor de 
carga emocional, seja pelo fato de o sistema ter salvado ou prolongado vidas, seja 
pelo atual cenário de pandemia, ou pelo simples fato da escuta afetiva ser usada como 
artifício durante o processo de construção do projeto. 
 Similar a uma fotografia, que revela além de uma imagem, uma lembrança, 
um sentimento e até um propósito, esta obra revela o SUS que a sociedade precisa 
28 
 
enxergar: o SUS além do que é comumente visto nos jornais e na televisão, além de 
narrativas imparciais, um SUS necessário, que, apesar de seus problemas, pertence 
a todos. 
 
7.5. Descrição dos Capítulos 
7.5.1. Introdução 
Neste capítulo são apresentadas, de forma sucinta, questões abordadas no 
projeto de pesquisa, como o papel e a responsabilidade da mídia na construção de 
narrativas sobre o Sistema Único de Saúde, a forma como a mídia aborda as 
temáticas voltadas à saúde, os estigmas e desafios que permeiam o SUS. Esta 
introdução funciona como uma ponte que justifica a criação do livro. 
7.5.2. Prólogo 
Aqui é apresentada a motivação do autor para a criação do que viria a ser o 
livro “Retratos do SUS”. Os insights aconteceram em dois momentos: durante as 
eleições presidenciais de 2018, sobre a qual o autor reflete a respeito da ameaça 
iminente que o novo presidente representava ao Sistema Único de Saúde; e a criação 
de um documentário para um trabalho do curso de Jornalismo. 
7.5.3. O quarto de paredes amarelas 
Primeiro “retrato” do SUS, que sintetiza tudo que o leitor poderá esperar do 
livro. Aqui é narrada a história de José Cícero e Geovana Jessica, sua neta. José 
Cícero teve dois tumores malignos na bexiga e fez seu tratamento pelo Sistema Único 
de Saúde, mas não resistiu ao segundo câncer. Geovana compartilhou tanto suas 
percepções como cuidadora quanto aprendizados que a situação a trouxe. 
7.5.4. Uma nova esperança 
Neste capítulo, é mostrado pelo olhar de Márcia Faria Westphal o passado do 
SUS e o que se sucedeu após sua criação. Márcia é professora em saúde pública e 
esteve presente no processo de construção do Sistema Único de Saúde. 
 
29 
 
7.5.5. Estranha mania de ter fé na vida 
A abertura do capítulo traz um relato de uma experiência sobrenatural do autor, 
que foi o que o motivou a escrever sobre saúde. Depois, ainda falando do passado do 
Sistema Único de Saúde, conhecemos a história de Selma Maria, uma mulher de fé, 
sindicalista e militante da saúde. Aqui refletimos sobre a influência dos movimentos 
sociais e da própria sociedade na criação do SUS. 
7.5.6. A fila correta 
Professor e gestor de UBS, Luís Henrique Andrade é apresentado neste 
capítulo; nele falamos sobre o momento presente do SUS, desafios e realidade do 
sistema, além de vivências, percepções e histórias do especialista. 
7.5.7. Um mosaico de nós mesmos 
Este capítulo inicia com uma reflexão do autor sobre o quanto a descoberta de 
uma doença pode impactar em nossa autoimagem e percepção de mundo. Logo é 
apresentada a história de Susi Loiola, uma influenciadora digital, usuária do sistema 
privado de saúde, que teve de lidar com diversas burocracias para conseguir 
autorização do seu convênio para uma cirurgia que determinaria o rumo de sua vida. 
7.5.8. O vírus da elite 
Aqui são apresentados dados sobre os impactos do coronavírus na sociedade 
e o quanto as desigualdades sociais podem ser prejudiciais em um cenário de 
pandemia. É mencionada a responsabilidade da elite diante a chegada do vírus ao 
país, e também é mostrada a opinião do professor Jairnilson Silva Paim, autor do livro 
“O que é o SUS”. 
7.5.9. Um muro de arrimo 
O autor reflete sobre as perdas cotidianas que o isolamento social causou às 
pessoas, e é compartilhada a história da cuidadora de idosos Angela Maria, que teve 
coronavírus e relatou sua experiência e percepções sobre a doença, sobre o SUS e 
sobre os serviços suplementares de saúde. 
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7.5.10. Saúde e identidade 
Através de uma experiência cotidiana, o autor fala sobre a importância da nossa 
identidade e papel da saúde neste tema; conhecemos a história do jornalista, 
professor e militante da causa LGBTI+ Luiz Fernando Prado Uchoa e falamos das 
dificuldades que pessoas trans encontram nos serviços de saúde e nas políticas de 
saúde para a população LGBTI+. 
7.5.11. Iniquidades raciais na saúde 
A Dra. Camila Carvalho de Amorim, médica da família que possui diversas 
pesquisas voltadas para a saúde da população negra e iniquidades raciais, reflete 
sobre suas experiências como médica em uma UBS na cidade de Florianópolis, e 
sobre as lutas diárias que a população negra enfrenta nos serviços de saúde. 
7.5.12. Um almoço que nunca aconteceu 
Neste capítulo é narrada a história de Raquel Lourenço pela perspectiva de seu 
filho, Alessandro Henrique Zedequias. Raquel foi uma mulher à frente de seu tempo, 
uma enfermeira que criou um filho de muita resiliência, descobriu um câncer no 
intestino e lutou durante cinco anos contra a doença. 
7.5.13. Salve o SUS! 
Existe a indagação sobre uma possível perda de sensibilidade dos jornalistas 
diante das notícias sobre a saúde e é apresentada uma iniciativa chamada “Salve o 
SUS!”, um portal de comunicação que tem como objetivo disseminar informações 
sobre as ações do Sistema Único de Saúde. Também conhecemos a diretora de 
conteúdo do projeto, Natália de Souza. 
7.5.14. Notícias do futuro 
O leitor é convidado a refletir sobre o futuro e a contemplar a possibilidade de 
ele ser imperfeito e complexo, com base nos pensamentos de Edgar Morin. Após está 
abertura, nos debruçamos sobre as opiniões e perspectivas da comunicóloga, doutora 
em saúde e ambientalista Rose Marie Inojosa, e refletimos sobre o SUS ideal. 
31 
 
7.5.15. A presença do SUS 
Neste penúltimo capítulo, o autor encerra o ciclo de entrevistas dialogando 
sobre o fato de o Sistema Único de Saúde estar presente nos detalhes da vida de 
seus usuários, e apresenta a história de Renata Freires, que teve seus dois filhos em 
hospitais da rede pública de saúde. 
7.5.16. Epílogo 
Há uma reflexão sobre o decreto (revogado) do presidente Jair Messias 
Bolsonaro que daria brechas para possíveis privatizações dentro do SUS, e sobre 
como o medo que o autor sentiu no fim de 2018 transformou-se em esperança. 
 
32 
 
8. Referências 
 
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em: <www.nossasaopaulo.org.br/2020/05/05/o-que-pensam-os-internautas-
paulistanos-sobre-os-impactos-do-coronavirus>. Acesso em: 6 nov. 2020. 
34 
 
SETE Em Cada 10 Brasileiros Dependem Do SUS Para Tratamento, Diz IBGE. UOL. 
Disponível em: <noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/09/04/7-
em-cada-10-brasileiros-dependem-do-sus-para-tratamento-diz-ibge.htm>. Acesso 
em: 23 set. 2020. 
SENA, Ana Gabriela Nascimento; SOUTO, Kátia Maria Barreto. Avanços e desafios 
na implementação da Política Nacional de Saúde Integral LGBT. 2017. Disponível 
em: <https://tempusactas.unb.br/index.php/tempus/article/view/1923>. Acesso em: 17 
set. 2020. 
SILVA, Gislene. Para pensar os critérios de noticiabilidade. Disponível em: 
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/viewFile/2091/1830>. Acesso 
em: 13 abri. 2020. 
SOUZA, Renato. 78 Milhões de Brasileiros Não Têm Acesso a Direitos Básicos, 
Aponta IBGE. Correio Braziliense. 2018. Disponível em: 
<www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/12/07/interna-
brasil,723805/milhoes-de-brasileiros-nao-tem-acesso-a-direitos-basicos-aponta-
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SUS e a saúde pública. Mamilos. São Paulo: B9. 24 nov. 2018. Podcast. Disponível 
em: <https://www.b9.com.br/shows/mamilos/mamilos-172-sus-e-a-saude-publica/>. 
Acesso em: 4 fev.2020 
TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo II, A tribo jornalística – uma comunidade 
interpretativa transnacional. 2 ed. Florianópolis: Insular. 2008. 
VARELLA, Drauzio. Sem o SUS é a barbárie. Disponível em: 
<https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/sem-o-sus-e-a-barbarie-
artigo/#:~:text=O%20Sistema%20%C3%9Anico%20de%20Sa%C3%BAde,mas%20t
raduz%20o%20que%20penso>. Acesso em: 8 fev. 2020 
WOLF, Mauro. Mass media: contextos e paradigmas - Novas tendências, efeitos a 
longo prazo, o Newsmaking - Textos de apoio. Disponível em: 
<http://www.jornalismoufma.xpg.com.br/arquivos/mauro_wolf_teorias_da_comunicac
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XAVIER, Caco; NARVAI, Paulo Capel. A marca invisível do SUS. Disponível em: 
<https://www.abrasco.org.br/site/wp-content/uploads/2016/07/Revista-ENSAIOS-
DI%c3%81LOGOS_1_Pag-45-a-49.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2020. 
 
35 
 
9. Notícias analisadas 
Mais demandado em caso de surto de coronavírus, SUS só tem 44% dos leitos de 
UTI do país. Estadão: São Paulo. 2020. Disponível 
em:<https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,rede-mais-demandada-em-caso-de-
surto-de-coronavirus-sus-so-tem-44-dos-leitos-de-uti-do-pais,70003230123.> 
Com a pandemia do coronavírus, papel do SUS ganha força entre paulistanos. 
Estadão: São Paulo. 2020. Disponível em: 
<https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,com-a-pandemia-do-coronavirus-papel-
do-sus-ganha-forca-entre-paulistanos,70003292385> 
Coronavírus: Corrida global por insumos faz SUS perder contratos. Estadão: Brasília. 
2020. Disponível em: < https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,corrida-global-por-
insumos-faz-sus-perder-contratos,70003259948> 
Coronavírus pode custar R$ 410 bilhões extras ao SUS, estima Ministério da Saúde. 
Estadão: São Paulo. 2020. Disponível em: 
<https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,coronavirus-pode-custar-r-410-bilhoes-
extras-ao-sus-estima-ministerio-da-saude,70003248383> 
SUS se prepara para receber “três epidemias”. Estadão: Brasília. 2020. Disponível 
em:<https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,sus-se-prepara-para-receber-tres-
epidemias,70003252596> 
36 
 
10. Cronograma 
Tabela 1 – Cronograma (1º e 2° semestre de 2020) 
Atividades 
Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. 
Desenvolvimento do 
projeto de pesquisa 
X X X X 
Desenvolvimento do 
projeto experimental 
 
 X X X X X 
Obtenção de 
bibliografia de 
referência 
X X X X 
Leitura da bibliografia 
escolhida 
X X X X X X 
Projeto de Pesquisa - 
Análise de conteúdo 
 
 
 
X 
 
X 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Projeto de pesquisa - 
Revisão do texto 
 
 X 
Contato com possíveis 
fontes 
 
 X X X 
Captação de relatos 
para o livro-reportagem 
 
 X X X 
Execução do produto - 
layout do projeto 
 
 X X X X X 
Execução do produto – 
redação 
 
 X X X 
Execução do produto - 
revisão do texto 
 
 X 
Execução do produto - 
diagramação 
 
 X 
Execução do produto - 
revisão geral 
 
 X 
Relatório final 
 
 X X 
Entrega do relatório e 
do produto final 
 
 X37 
 
11. Investimento 
Tabela 2 - Investimento 
ORÇAMENTO GERAL 
Item Quantidade Valor Unitário (em 
média) 
Valor total 
Microfone de lapela 
para notebook 
1 R$60,00 R$60,00 
Pacote Adobe 
 
4 R$86,00 R$344,00 
Revisão 2 R$300,00 R$600,00 
Ilustrações 3 R$150,00 R$450,00 
Total: R$1.454 
Fonte: elaborado pelo autor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APÊNDICES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
Apêndice I 
 
Transcrição de entrevista 1 – O quarto de paredes Amarelas 
Fonte: Geovana Jéssica 
Cidade: Antonio Martins - RN 
 
Luiz - Qual sua idade? 
Geovana - 24 anos. 
E seu curso de graduação? 
É engenharia ambiental e sanitária, na Universidade Federal do Semiárido. 
Você vai retomar? 
Iremos retomar esse mês (agosto). 
Como foi que tudo aconteceu? 
Meu avô estava com um tumor em 2018, aí fomos pra uma consulta de rotina e eles 
pediram uns exames e me encaminharam pra Liga, A liga contra o Câncer. Eu sou de 
Antonio Martins, Rio Grande do Norte, é nós fomos encaminhados pra Natal, pra 
capital, pois na cidade pequena não tem atendimento oncológico. E nós fomos pra 
natal, e através do SUS foram feitas as consultas e encaminhado pra outros exames. 
Eles fizeram uma biopsia do canal da uretra para ver se o tumor era benigno ou 
maligno. E a partir daí começamos os processos das quimioterapias, foram todas 
através do SUS. 
Qual foi a sua reação e da sua família ao descobrir o câncer do seu avô? 
Foi um choque! Pois até então a gente não tinha nenhum caso na família, de ter de 
lidar com tratamento e com um resultado como o câncer. É um impacto, pois 
pensamos assim: e agora? Porque quando o médico fala, ele não fala diretamente 
ao paciente, então o primeiro impacto foi “como é que a gente vai dizer pra ele?”, pois 
a pessoa que já é de idade já sente muitas dores e ainda ter de submeter a um 
tratamento. 
Ele ficou quanto tempo lutando? 
40 
 
Ele faleceu em fevereiro deste ano, não chegou nem a ser dois anos, foi um ano e 
oito meses, por aí... 
Com que idade ele faleceu? 
Com 78 anos. Ai primeiro ele tratou e o tumor havia sumido, o primeiro câncer que a 
gente descobriu. Aí passou por mais ou menos 6 meses de quimioterapia, e no retorno 
da consulta o médico ficou admirado porque o tumor que ele estava tratando havia 
sumido, quando passaram seis meses foi descoberto outro câncer também na bexiga. 
Aí começou a ficar mais agressivo pois meu avô estava mais debilitado das outras 
quimioterapias. Ele estava fraco e fragilizado e pra final ele teve uma fratura na 
vertebra e a gente não sabe se o câncer já tinha atingido a parte óssea, quando 
descobrimos a fratura já foi a fase final que ele veio a falecer. 
Como era sua relação com seu vô? 
Nós éramos muito próximos. 
Ele brincava com você, vocês conversavam bastante? 
Foi muito difícil porque assim eu sempre fui muito apegada a ele, eu andava com ele 
para todos os lugares. Era a motorista dele. 
Quando ele realmente precisou se deslocar daqui, e quando minha mãe não podia ir 
ou minha tia não podia, eu quem ia. Teve um período que tranquei a faculdade, e 
assim a gente conversava bastante, ele se queixava muito das dores. Tinham noites 
que ele não conseguia dormir e eu passava acordada com ele. E era uma relação 
muito boa, e foi muito pra mim enquanto pessoa lidar com meu avô nesse período 
porque aprendi muito, principalmente questões humanas; que nós somos humanos e 
nós sentimos a dor do outro, e uma coisa que eu percebi no câncer mesmo, nas 
pessoas que passam pelo tratamento é que o ser humano é muito forte. Pois apesar 
das dores da doença, você ter que lidar com efeitos colaterais de medicamentos, e a 
cada consulta é algo novo... você está ali tendo, passando pelo risco de descobrir 
outro câncer, e é muito choque, ele reclamava muito de dor, que não queria mais 
continuar o tratamento, e era difícil, pois a gente ficava “e aí? Será que a gente 
interrompe ou a gente continua?” 
Se a gente continuar e evitar que o câncer se alastre e se a gente interromper e ele 
falecer mais rápido? Então não tinha como, era algo que não temos controle. 
41 
 
 
Você disse que aprendeu muitas coisas sobre questões de força e etc., e eu me 
lembrei da história da mãe de um amigo meu que faleceu de câncer em 2019. 
Esse amigo me falou algo que vou compartilhar com você: “Minha mãe lutou 
cinco anos contra um câncer no intestino, ela teve oportunidades de ter vários 
medicamentos pelo SUS, tratamentos e tudo mais, mas talvez ela não iria 
aguentar essa situação de pandemia.” 
 Você acha que com o seu avô haveria esse sentimento? 
Foi algo que eu falei no início, já não bastava a luta do tratamento aí você imagina 
ficar entrando em hospitais com medo de contrair o Covid e levar para ele, e também 
em como iria ficar o psicológico dele nesse momento de pandemia. Mas deus sabe 
de todas a coisas! Eu não sei como seria, até assim pra gente mesmo, pois foi algo 
que abalou a todos. Mas e quem já estava abalado? Com noite sem dormir, sem se 
alimentar direito. 
E algo que aprendi com essa situação é que mesmo que a gente fizesse o máximo 
não iriamos conseguir ajudar ao máximo, pois não sabíamos o que ele estava 
sentindo. Ele se queixava de muita dor e não tinha muita coisa que a gente poderia 
fazer para amenizar, a gente tentava de tudo, de compressa de massagem de 
medicamentos pra diminuir a dor, e ele reclamava de frio, de calor, não gostava de 
nada. Ele chegou num ponto que chorava, e quando ele tinha um dia melhor pra gente 
era uma gloria, mas é muito difícil! 
Como seu avô era como pessoa? 
Meu avô era super sincero, se ele não fosse com a cara de alguém ele não tinha 
brincadeirinha, falava na lata o que achava e ele gostava muito de contar histórias... 
Você lembra de alguma história? 
Eram tantas histórias, tantas histórias, e pra eu lembrar de uma sem lembrar de 
muitas, no momento não consigo. Mas ele gostava de caçar, ele contava a quantidade 
de bichos que ele caçava, contava histórias da infância, que ele brincava com os 
irmãos e que as vezes eles se machucavam. Eram brincadeira não muito sadias. 
Ele era muito contador de histórias sabe? Ele sempre dava lições de moral. 
42 
 
 
Quando você pensa no SUS, o que vem na sua cabeça? 
O SUS... Nós do interior, o pessoal do interior utiliza bastante o SUS, então 
atendimentos gerais normalmente são pelo SUS, tem as questões da dificuldade ao 
acesso, pois é muita gente pra acessar, as vezes tem a má administração das 
cidades... 
Mas quando penso no SUS, penso numa oportunidade que assim que é muito boa. 
Eu não considero o SUS apenas como um sistema de saúde falido, como muita gente 
considera, sei das filas de espera, mas quando precisei fui bem encaminhada e 
atendida. E essa questão da demora acontece até em planos de saúde, as pessoas 
que pagam convênios também ficam à mercê da espera. 
O problema do ser humano em relação ao SUS é a questão da espera. Aqui, por ser 
uma cidade pequena, temos problemas por que muitas vezes o próprio paciente não 
procura o local correto, existe uma triagem. 
Sobre os canais de tv e jornais, como você acha que eles retratam o SUS? 
Eu acredito que eles mostram o que está visível. Eles não conhecem a realidade do 
SUS, mas acredito que nunca se utilizaram do sistema, não entendem como ele é. 
Se você pudesse melhorar algo no SUS, o que melhoraria? 
Eu acredito que a capacitação pessoal de pessoas, a assistência, o preparo das 
pessoas. Profissionais que saibam lidar com pessoas. Falta investimento, pois 
dinheiro a gentes sabe que tem, pois pra onde vai aquela dinheirama toda que a gente 
vê na TV? Aqueles roubos todos. 
O governo tem feito sua parte? 
Deveria fazer mais! Pois tem como fazer mais. 
O que você acha das pessoas que defendem o fim do SUS? 
Eu acho que essas pessoas nunca precisaram, nunca passaram por uma necessidadede um atendimento pelo SUS. São pessoas que não vivem a realidade e não deveriam 
nem se meter, deveriam procurar outras coisas pra falar ao invés de colocar um fim 
no SUS. 
43 
 
E como seria a situação de seu avô sem o SUS? 
Com certeza seria mais complicada. Olhando pelo meu avô, com a aposentadoria, ele 
não teria condições de custear um tratamento. Eu tenho certeza que seria difícil, pois 
além de pagar as consultas das consultas, iria ter as passagens pois tínhamos que 
nos deslocar do interior até a capital, a alimentação. Sem o SUS não teríamos 
conseguido amenizar a nossa tensão. 
Qual foi a memória que seu avô deixou, o que ele te ensinou...? 
Um dia em uma das consultas meu avô disse algo que me motivou a lutar com ele, 
ele disse: “eu vou tentar porque enquanto a vida a esperança.” E ele tinha muito 
medo... de morrer. Porque ele era dessas pessoas duronas, e ninguém quer morrer 
né? Ele tinha medo do médico, de se submeter a tratamento. Veio esse câncer e ele 
conseguiu lutar. Ele me ensinou muito sobre o amor, enquanto eu lutava com ele e 
via seu sofrimento eu aprendi muito, inclusive que o amor não é só na felicidade, ele 
é na dor. 
Ele reclamava, não encarou o tratamento de forma positiva, e falava coisas negativas. 
E eu entedia pois não era eu que estava passando por aquilo, mas a gente tentava 
contornar a situação, tentava dizer algo positivo. Então aprendi demais sobre 
paciência. Após a perda a ficha vai caindo e a gente percebe que não sabe o que o 
outro sente. Muitas vezes ele falava coisas pesadas e eu chorava escondida pra que 
ele não sofresse ao me ver sofrer. E era uma batalha complicada, e eu admiro as 
pessoas que lutam com alguma doença, pois a família sofre junto e sofre limitada. 
Sou uma pessoa de bastante fé, tenho muita fé em Deus, e a fé me ajudou muito a 
passar por essa situação, pois havia dias que dava vontade de sumir, não morrer, mas 
apenas fugir da situação, mas não tinha como fugir da realidade. Tinha dias que eu 
cantava para ajudar ele a dormir. Todo tempo ele me agradeceu, me abençoava. 
Foi difícil, depois tive de lutar contra dias escuras pois ficamos com as saudades e as 
lembranças dos piores momentos, com o tempo a gente querendo substituir os piores 
pelos melhores pra continuar. Por tudo isso eu não falo mal do SUS, eu acredito que 
o SUS tem salvado muitas vidas. Nós fomos no Hospital da Liga do Câncer, e o 
atendimento lá era diferenciado, tinham pessoas à beira da morte, mas sempre 
44 
 
haviam profissionais que sabia lidar com aquilo, e muitas vezes esses profissionais 
tem que lidar com as próprias limitações do sistema. 
Esses dias escuros passaram? 
Sim, eu evitei falar sobre a morte dele. Eu evitava conversar com a família sobre. Ver 
minha família sofrer pela ausência dele me doía. Mas assim, me conforta em saber 
que ele descansou. Seria muito egoísmo se eu quisesse que ele continuasse vivo e 
sofrendo do jeito que estava. Não queremos e nunca estamos prontos pra morte. 
A cada dia que passa mais distante eu fico do me avô, as lembranças ruins também 
vão ficando distantes e os dias escuros graças a Deus passaram. Esse quarto era o 
quarto que ele dormia, e eu me mudei pra esse cá, pois era difícil ver o quarto fechado, 
pensava que ele estava aqui dentro. Então pra evitar essa ilusão na minha mente eu 
trouxe minhas coisas pra cá, e graças a Deus eu estou bem. Espero que meu avô 
também, e que ele tenha tido o descanso eterno. As vezes dói, as vezes dá saudade, 
mas é o ciclo da vida. Fica um vazio, mas eu vivi muito bem ao lado do meu avô. 
Eu não tenho remorso só saudades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
 
Transcrição de entrevista 2 – Uma nova esperança. 
Fonte: Márcia Faria Westphal 
Cidade: São Paulo – SP 
 
Luiz – Qual a sua história com a saúde? 
Márcia - Eu trabalho com saúde há 50 anos, comecei como educadora sanitária e ali 
já me convidaram pra trabalhar na Faculdade de Saúde Pública. Trabalhei nos centros 
de saúde e depois fui fazer o curso de ciências sociais. Trabalhei no sanatorinhos do 
Ipiranga, a Associação dos Sanatórios Populares. 
O que era esperado com a criação do SUS? 
Houve muita comoção e expectativa em relação a criação do SUS. No começo a gente 
tinha um entusiasmo muito grande, todos batalharam muito pelo SUS. Sempre 
procuramos fazer ações que não se restringiam ao atendimento à saúde, eram 
trabalhos com a comunidade relacionados ao SUS. A ideia do SUS, é a ideia de 
garantir o direito à saúde e um dos princípios muito importantes do SUS é a 
participação social. Então, contávamos muito com a participação da população. 
Como era antes do SUS? 
Antes do SUS ou as pessoas iam para os Institutos de Aposentadoria e Pensão, na 
área comercial, industrial e etc., ou iam para as Santas Casas, não havia uma 
organização de atenção à saúde no Brasil. A criação do SUS foi importante, trouxe a 
possibilidade de acesso à saúde para população, mas ele não ficou do jeito que a 
gente almejava. O SUS não mudou a vida das pessoas como a gente esperava, mas 
pelo menos as pessoas tinham onde recorrer quando precisavam. 
Como era seu trabalho na faculdade? 
A gente tinha um trabalho muito grande na região de Cotia Itapecerica da Serra, que 
ficam próximas a Faculdade de Saúde Pública. Havia um projeto onde a população 
da região de Itapecerica da Serra foi consultada para ver quais eram as suas 
46 
 
necessidades, e para eles era muito necessário um hospital naquela região, graças a 
essa pesquisa e a participação da sociedade esse hospital foi feito. Então, veja que é 
muito mais que simplesmente o atendimento à saúde. Tinha atenção primaria, 
segundaria, terciaria para fazer a distinção destes tipos de atenção e nessa época 
falávamos que se o Centro de Saúde funcionasse bem, 90% dos problemas da 
população estariam resolvidos. 
O governo tem feito sua parte? 
Seria muito bom se o SUS estivesse funcionando muito bem, e se tivéssemos um 
Ministro da Saúde que organizasse as políticas, as ações em diferentes 
níveis. Acredito inclusive que se houvesse essa organização não estaríamos 
sofrendo tanto com a pandemia. Não que os governantes não estejam fazendo nada, 
mas poderia ser feito muito mais. Imagine que o nosso presidente vai em reuniões 
para discutir medicações! Ele não tem nada a ver com isso. Ele deveria apoiar, usar 
a máscara e dar exemplo. É uma situação muito ruim pois a gente poderia tá numa 
situação melhor agora. 
Quais são os desafios do sistema? 
O SUS tem vários desafios, mas um dos grandes desafios é o financiamento. Outro é 
a questão de recursos humanos, não existe uma política de formação do pessoal e 
supervisão no SUS. Não existe um jeito fácil de resolver os problemas do SUS. 
Sempre aparecem iniciativas, como a do Mais Médicos que se organizou envolvendo 
as universidades com um programa de capacitação, teve resultados maravilhosos, 
mas não foi pra frente. 
Qual o motivo dessa falta de continuidade? 
 Essa descontinuidade de iniciativa se dá primeiramente pela desvalorização do SUS, 
se você desvaloriza algo você não investe. Hoje nós vivemos num país capitalista, 
então o que é importante? O serviço privado, não é o SUS o mais importante. Na 
verdade, como não tem investimento no SUS ele não funciona como deveria 
funcionar. Por isso há uma reclamação da sociedade. 
 
47 
 
Qual o papel do SUS na diminuição das desigualdades? 
O SUS pode diminuir as desigualdades sociais e tem toda potencialidade para isso. 
Se ele funcionasse do jeito que a gente imagina, se a gente reunisse a população, 
discutisse, a gente fortaleceria o sistema. Ajudaria no empoderamento da população, 
para ela reivindicar melhores serviços. Com isso o SUS teria tudo para melhorar as 
condições de vida das pessoas. O empoderamento da população ajuda muito! É um 
dos propósitos do SUS. Eu trabalho com promoção de saúde, é minha área de 
trabalho, se a gente

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