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DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA PROFESSORA DRª. Vânia de Fátima Matias de Souza DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 2 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SOUZA, Vânia de Fátima Matias de. Desenvolvimento Psicomotor na Infância. Vânia de Fátima Matias de Souza. Maringá - PR, 2015. 168 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Desenvolvimento. 2. Psicomotor. 3. Infância 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 370 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli, Gerência de Produção de Conteúdo Gabriel Araújo, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de conteúdo Priscilla Campiolo Manesco Paixão, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Nádila Toledo, Qualidade Editorial e Textual Daniel F. Hey, Hellyery Agda, Revisão Textual Keren Pardini, Ilustração Bruno Pardinho e André Onishi, Fotos Shutterstock e Istockphoto. Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas hab- ilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar as- sume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a ed- ucação de qualidade nas diferentes áreas do conhe- cimento, formando profissionais cidadãos que con- tribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desen- volvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de com- petências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão uni- versitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e adminis- trativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comuni- dade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhe- cimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transfor- mou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modi- ficou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecno- logias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transfor- mando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), sig- nifica possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando opor- tunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará duran- te todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi- ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complemen- tando sua formação profissional, desenvolvendo com- petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos Kátia Solange Coelho Diretoria Operacional de Ensino Fabrício Lazilha Diretoria de Planejamento de Ensino em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe- cimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Vir- tual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendi- zagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas apresentação do material DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) aos estudos sobre Desenvolvimento Psi- comotor na Infância. Este livro foi organizado de modo especial para você, que, no nosso entendimento, tem buscado com excelência compreender os desafios que envolvem a criança e os processos do desenvolvimento motor, social, cognitivo e afetivo que influenciamem seu desempenho tanto nas atividades diárias como nas atividades escolares. Isso porque ser professor(a) é exercer uma profissão que trabalha para além dos aspectos conceituais e procedimentais, efetivamos, nas ações, os aspectos atitudinais de formação do homem, uma vez que, nas atividades propostas, o professor(a) rompe com as linearidades técnicas e racionais, oportuni- zando à criança desenvolver as relações efetivas entre os saberes e as competências necessárias para a formação humana. Acreditamos, efetivamente, que a criança se desenvolve a partir das mediações que lhes são ofertadas, todavia há que se conhecer as características de cada fase para que seja possível dialogar e trabalhar com atividades que estejam relacionadas com os interesses e as necessidades de cada criança. Sendo assim, caro(a) aluno(a), você já percebeu que tenho um interesse especial pela infância e os aspectos que a levam a uma aprendizagem significativa, creio, então, que eu deva me apresentar a você. Sou a professora Vânia de Fátima Matias de Souza, organizei este importante material que contribuirá, de modo significativo, para a sua formação profissional e, porque não dizer, pessoal. Nosso objetivo é levá-lo a um estudo sistematizado acerca das teorias do desenvolvimento psicomotor, por meio das reflexões a partir das análises e correlações da teoria para com as ações, para que você possa pensar nas ações e sobre as ações cotidianas resultantes dos desafios escolares encontrados em sua sala de aula, para que possa, assim, auxiliá-los na busca por alternativas e possibilidades reais de uma atuação que permita ao aluno desenvolver suas po- tencialidades de forma autônoma e crítica acerca da sociedade da qual faz parte. O conteúdo apresentado tem grande relevância no que se refere ao processo de formação do professor(a), suas ações enquanto “eu profissional” que se ocupa da educação, em um processo de efetivação dos saberes historicamente produzidos. Antes, porém, de iniciar a leitura do presente livro, gostaria de apresentar a você uma proposta de estudo, para auxiliá-lo(a) na apropriação do conhecimento: • Sistematize um plano de estudo e registre em uma agenda suas metas de estudo diário e prazos. • Procure um ambiente adequado para sua leitura: sem barulhos ou demais interferências. • Tenha sempre em mãos um caderno e uma caneta para registrar suas im- pressões sobre o texto lido. • Procure esclarecer as dúvidas em relação ao conteúdo ou a algum termo desconhecido logo após as leituras. Se deixar para outro momento, a dúvida pode não ter mais sentido e você acabará por não pesquisá-la. • Finalmente, após concluída a leitura, escreva um parecer pessoal sobre o material estudado quanto à relevância do tema e parecer pessoal acerca do seu aprendizado. Este livro é composto por uma introdução seguida de cinco unidades criteriosa- mente analisadas e selecionadas para dar sustentação à presente discussão. Cum- pre destacar que, ao final de cada unidade, você encontrará uma análise do texto realizada, a fim de facilitar seus estudos e compreensão. Caro(a) aluno(a), como você pode perceber, conhecer as teorias do Desenvolvi- mento Psicomotor na Infância vai além do saber fazer, ou do saber exclusivamente técnico-instrumental, uma vez que os saberes historicamente produzidos devem constituir uma ação conjunta, um trabalho coletivo estabelecido entre todos os sujeitos pertencentes ao cenário. Tendo como foco o Desenvolvimento Psicomotor na Infância, queremos levar você a participar de uma reflexão: “Professor não é quem ensina, mas quem de repente aprende”. João Guimarães Rosa/ Grande Sertão: Veredas Eis o nosso desafio, releia o parafraseamento com atenção, reflita e responda ao seguinte questionamento: em que medida a atuação do Professor(a) efetiva a te- oria na prática? Como o professor pode aprender quando ensina? Seria possível descobrir que ainda há muito que se descobrir em uma sala de aula depois de mais de uma década exercendo o magistério? Espero que, ao final da disciplina, tenhamos levado você a refletir sobre esses questionamentos. Bom estudo!! Professora Vânia UNIDADE 01 CORPO E MOVIMENTO 14 Introdução 16 O Papel do Brincar e do Brinquedo no Desenvovimento Infantil 26 Corpo e Movimento: Construindo a Imagem do Corpo 31 A Importância do Movimento no Desenvolvimento do Ser Humano 31 Padrões de Movimento 36 A Relação entre Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor 38 Aprendizagem e Desempenho das Habilidades Motoras 44 Psicomotricidade e Movimento: as Relações entre Cognição, Afetividade e Socialização 46 Construção do Conhecimento: Pensando as Relações entre os Processos de Aquisição da Informação 51 Considerações Finais UNIDADE 02 PSICOMOTRICIDADE E MOVIMENTO: FATORES QUE INTERFEREM NO DESENVOLVIMENTO MOTOR 72 Introdução 74 A Psicomotricidade na História 79 Objetivos da Psicomotricidade 80 As Áreas da Psicomotricidade 83 Habilidades Conceituais 84 Habilidades Psicomotoras e o Processo de Alfabetização 85 Relação entre Desenvolvimento e Aprendizagem: Análises e Compreensão de Conceitos a partir da Teoria Piagetiana 96 Teoria de Piaget: Epistemologia Genética – o Processo de Construção do Conhecimento 99 Considerações Finais sumário UNIDADE 03 PSICOMOTRICIDADE E MOVIMENTO: FATORES QUE INTERFEREM NO DESENVOLVIMENTO MOTOR 106 Introdução 108 Esquema Corporal 110 A Organização do Corpo no Espaço 112 Dominância Lateral 114 Equilíbrio 114 A Organização Latero-Espacial 116 Orientação Espacial 116 Orientação Temporal 117 A Coordenação Dinâmica 118 Desenvolvimento Cognitivo: Entendendo a Construção do Pensamento 120 Estratégias Psicomotoras e Consequências Educativas 122 Exercícios Psicomotores 123 Exercícios de Pré-Escrita 124 Considerações Finais UNIDADE 04 A EVOLUÇÃO PSICOMOTORA DA CRIANÇA 130 Introdução 132 Características Psicomotoras da Criança de Zero a Três Anos 137 Evolução Psicomotora dos Três aos Seis Anos 140 A Evolução da Motricidade Gráfi ca 141 Estratégias Pedagógicas e Consequências Educativas: Teorias e Exercícios para uma Educação Psicomotriz 142 Esquema Corporal 143 Coordenação Óculo-Manual 143 Coordenação Dinâmica Geral 145 Organização e Estruturação Temporal 145 Exercício de Organização e Estruturação Espacial 146 Considerações Finais UNIDADE 05 PSICOMOTRICIDADE: UM ENFOQUE PREVENTIVO E REEDUCATIVO 152 Introdução 154 Psicomotricidade: Ação Preventiva e Reeducativa 156 A Psicomotricidade pode ser entendida a partir da Filogênese, Ontogênese e Retrogênese 157 Os Transtornos Psicomotores da Infância 161 A Importância da Avaliação Psicomotora 163 Considerações Finais 165 Conclusão 166 Referências sumário CORPO E MOVIMENTO Professora Me. Vânia de Fátima Matias de Souza Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Corpo e Movimento: construindo a imagem do corpo • A importância do Movimento no Desenvolvimento do ser humano • Padrões de Movimento • Relações entre Psicomotricidade e desenvolvimento motor • Psicomotricidade e Movimento: as relações entre cognição, afetividade e socialização Objetivos de Aprendizagem • Compreender as relações entre corpo e movimento no contexto do desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança. • Entender o processo de desenvolvimento do ser humano, enquanto corpo e movimento, a partir da psicomotricidade. unidade I INTRODUÇÃO 14 Caro(a) aluno(a), estamos iniciando a discussão de um tema relevante e significativo para a prática do- cente e para as relações cotidianas estabelecidas no diálogo com o universo infantil. As abordagens tratadas, neste texto, nos possi- bilitarão refletir, um pouco mais, acerca da função que o professor(a) exerce na interlocução e mediação do universo infantil com o mundo adulto, trazendo os conceitos cotidianos sustentados nos conceitos científicos, produzindo saberes e conhecimentos que oportunizarão à criança desde a mais tenra idade de- senvolver-se cognitiva, motora, afetiva esocialmen- te, sem que haja uma abrupta ruptura do ser criança, do brincar, com as funções sistematizadas e organi- zadas do ambiente escolar. Para iniciarmos essa reflexão, convido você, ca- ro(a) aluno(a), nesse momento, a desprender-se dos pensamentos que lhe ousam tirar a concentração. Pronto? Concentrou-se? Então, vamos lá! Observe a figura e preste atenção no contexto. • O que está acontecendo nessa figura? • O que você vê? • O que a criança está fazendo? • Por que ela se dedica tanto e está tão concen- trada? Como as perguntas são simples e fáceis, certamente você as respondeu rapidamente. Mas agora, reflita- mos juntos. Vejamos, se seu pensamento foi: “Está brincando”, você teve uma boa resposta. Se a respos- ta foi: “Está realizando uma atividade orientada a possibilitar uma melhoria no desenvolvimento das habilidades cognitivas e motoras ludicamente”, a resposta foi excelente. Esse é o olhar do professor(a). Como educadores, olhamos o brincar como uma possibilidade de intervenção que auxilia, de forma significativa, no desenvolvimento da criança e, em especial, das que se encontram na mais tenra idade. Muitas vezes, o que para a criança é um simples ato de brincar, para nós, é muito mais, é um momento de aprender, de experimentar, de vivenciar e de de- senvolver. Quando a criança brinca, ela desenvolve os do- mínios cognitivo, afetivo e motor, além de ser um momento repleto de processos e situações que privi- legiam o desenvolvimento de ações internas e exter- nas para ela. Outro fato de destaque refere-se à ques- tão de que, por meio do brincar, a criança aprende a conviver em grupo (relações sociais), a respeitar regras, a aceitar o outro e as suas próprias limitações (emoção e afeto). 15 DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 16 Ao brincar, a criança estabelece a relação corpo e movimento, sendo traduzida e expressa por meio da gestualidade, esta, por sua vez, refere-se à representação, ao entendimento e a percepção de mundo que a criança tem. Para entender a criança e, sobretudo, o papel do brincar no contexto infantil, precisamos entender que o ato do brincar vai além do fazer pelo fazer, segundo Brougère (1993), o brincar não tem valor em si, ele se opõe às atividades sérias e apresenta-se como uma substituição de algo que lhe toca, seja sob a forma de recreação, relaxamento necessário ao es- forço intelectual, seja pelo faz de conta, a forma de interpretação permite a criança aprender. A forma, o trato com o brincar no desenvolvi- mento infantil associa-se com os hábitos, costumes e perspectivas teórico-metodológicas para associar, apropriar-se ou não do brincar no processo educati- vo, o que significa que o professor(a) deve conhecer os interesses da criança, conhecer as necessidades inerentes a ela em cada estágio, para, assim, adentrar no universo da cultura infantil, permitindo que a ação seja significativa e promotora de novas mudan- ças comportamentais, motoras, cognitivas e sociais. O Papel do Brincar e do Brinquedo no Desenvovimento Infantil EDUCAÇÃO FISÍCA 17 James et al. (1998 apud SOARES, 2001, p. 58) de- finem a cultura da infância como sendo “uma forma de ação social, contextualizada de muitos e variados modos, pela qual as crianças se integram nas institui- ções e estruturas sociais, que informam os modos e os processos das suas vidas quotidianas”. Essa cultura traduz em artefatos, em jogos e brincadeiras, pensa- mentos e condutas, os mundos de vida das crianças, mundo que se constitui no vaivém entre culturas ge- radas, conduzidas e dirigidas pelos adultos para as crianças e culturas geradas pelas crianças nas suas interações de pares, pois, como toda cultura, a cul- tura infantil também é produto da interação social. No entendimento de Sarmento (2003, p.54), as culturas infantis são produzidas numa relação de interdepen- dência com culturas societais atravessadas por relações de classe, de gênero e de proveniência étnica que impedem definitivamente a fixação num sistema coerente único dos modos de sig- nificação e ação infantil. Isso nos indica que, apesar das diferenças, é possível detectar as crianças e seus próprios mundos objeti- vos e subjetivos em todas as culturas, e aí está a sua peculiaridade, esta que pode definir seu enquadra- mento social na infância. No entanto, até por volta do século XII, a infân- cia era desconhecida ou não representada pela arte medieval. O mais provável para esse fato é que não houvesse lugar para a infância nesse mundo. No mundo das fórmulas românticas e até o fim do século XIII, não existem crianças caracterizadas por uma expressão particular, e sim homens de ta- manho reduzido (ARIÉS, 1981). A característica marcante desse período é o fato de que as crianças estão integradas no mundo dos adultos. Nos séculos X-XI os homens não se pren- diam frente à imagem da infância, pois ela não apre- sentava interesse para eles e para a época, a infância também não era uma realidade, fato esse que se faz pensar na infância como um período de transição, imediatamente ultrapassado e cuja lembrança tam- bém era rapidamente perdida. É por volta do século XIII que surgem alguns ti- pos de crianças um pouco mais próximas dos senti- mentos modernos. Surgiu o anjo, representado por meio da iconografia sob a aparência de um rapaz muito jovem, um jovem adolescente (ARIÉS, 1981). Em seguida, surgiu o segundo tipo de imagem da criança, a que seria o modelo e o mais antigo de todas as crianças da história da arte, conhecido como o menino Jesus. Dessa simbolização religiosa da in- fância, finalmente, iria se destacar uma iconografia leiga nos séculos XV e XVI. Toda essa representação sugere duas ideias: pri- meiramente, de que as crianças, em sua vida cotidia- na, se encontravam sempre juntas, dos adultos, mis- turadas com eles, em segundo lugar de que as crianças eram representadas pelos pintores por sua graciosida- de, regozijando-se em enfatizar a sua presença dentro do grupo ou da multidão (ARIÉS, 1981). As crianças faziam-se presentes na Idade Mé- dia, mas não como o modelo de um retrato, de uma criança real, pois nesse período a criança ainda não era vista como tendo já desde sua infância a persona- lidade de um homem. Segundo Ariés (1981, p. 57), a criança era tão insignificante, tão mal entrada na vida, que não se temia que após a morte ela voltasse para importunar os vivos. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 18 Mesmo assim, apesar das condições demográfi- cas não mudarem muito do século XIII ao XVII, um novo sentimento, tornando a alma da criança algo mais importante do que antes, foi aplicado a esses seres frágeis que pouco, ou melhor, ninguém dava importância em reconhecê-los (ARIÉS, 1981). Sen- do o século XVII o período em que a criança começa a ser o centro da composição das iconografias, dos retratos, a família passou a se organizar em torno da criança e não se misturar a elas, sua personalidade começou a ter valor. A infância, ou o sentimento de infância, é, desse modo, um fenômeno histórico. Foi a partir da ação dos homens que se produziu esse sentimento que nos é tão caro atualmente. Somente passa a existir com a criação de um mundo das crianças diverso do mundo dos adultos. Isso significa estabelecer espa- ços de atuação privilegiada para cada um daqueles grupos, seja limitando o acesso de crianças aos jo- gos, brincadeiras e espaços tidos como destinados aos adultos, seja censurando/limitando os adultos em sua conduta quando em contato com as crianças. Todo o pensamento da sociedade contemporânea tem por referência a separação entre o mundo dos adultos e das crianças. Para Soares (2001, p. 61), a infância também “é encarada como o tempo privilegiado onde o ser hu- mano pode brincar, voluntariamente, com prazer e energia”, já que brincar é o trabalho primordial da criança. “Brincar é a condição da aprendizagem e, desde logo, da aprendizagem da sociabilidade” (SARMENTO, 2003,p. 62). Antes das novas formas de pensar nascidas do romantismo, nossa cultura parece ter designado o brincar como uma atividade que se opõe ao traba- lho, caracterizada por sua futilidade e oposição ao que é sério. Porém, diferentemente de um passatem- po, brincar é hoje um meio de aprender a viver e a inventar a vida, é uma atividade dotada de uma sig- nificação social precisa que, como outras, necessita de aprendizagem. É por meio da brincadeira, do ato de brincar que a criança constrói sua cultura lúdica, edificada de acordo com o ambiente e as condições materiais aos quais o indivíduo está inserido, ou seja, “a cultura lú- dica, visto resultar de uma experiência lúdica, é então produzida pelo sujeito social” (KISHIMOTO, 2002, p. 27). Segundo Altman (2000 apud SEGUNDO, 2002) “por meio dos jogos, a criança, em todos os tempos, estabelece vínculos sociais, ajustando-se ao grupo e aceitando a participação de outras crianças com os mesmos direitos”. Jogos e brincadeiras são importan- tes manifestações de sociabilidade. É por meio deles que uma determinada sociedade ou grupo de pes- soas se integra, exprime as suas tradições e revela o caráter lúdico presente no ser humano. A sociabilidade dos jogos e brincadeiras possibi- lita um estreitamento dos laços afetivos da socieda- de, gerando integração e unidade do grupo. De certo modo, compreender os jogos e as brincadeiras de determinada comunidade pode revelar a sua organi- zação social, as suas preocupações e os seus valores (SERRÃO, 1999). No século XVII, os jogos e brincadeiras eram comuns às crianças e aos adultos, envolvendo toda a sociedade (ARIÉS, 1981, p. 84). Isso revela a exis- tência de outra moral na Idade Média, diferente da observada em nossa época, sob a qual impera uma rígida distinção entre jogos e brincadeiras destinadas aos adultos e às crianças. E já que nos remetemos ao assunto brincar, é in- teressante que saibamos que foi graças ao diário de um médico chamado Heroard que podemos conhe- EDUCAÇÃO FISÍCA 19 cer um pouco mais sobre a vida da criança no iní- cio do século XVII, como eram suas brincadeiras e a quais momentos do seu desenvolvimento cada uma delas correspondia. No diário, escrito por Heroard, segundo Áries (1981, p. 86), relata-se que Luís XIII diverte-se com brinquedos de criança, mas também brinca e se mis- tura com os adultos. Conta-nos Ariès que “esse me- nino de quatro a cinco anos praticava o arco, jogava cartas, xadrez (aos seis anos) e participava de jogos de adultos, como o jogo de raquetes e inúmeros jogos de salão”. Também, assistia a lutas entre os bretões, ao espetáculo de cães lutando com ursos e partici- pava das festas tradicionais de Natal e dos Reis. Aos sete anos, joga dados com fidalgos do rei, aprende a matar, a caçar, a atirar e a praticar jogos de azar. Ao mesmo tempo, continua a brincar de bonecas. A utilização da expressão “ao mesmo tempo”, na última frase, expressa a surpresa diante do comportamen- to do futuro rei, que guia as suas atitudes dentro de uma moral que não separa diversões de adultos e de crianças, tampouco estabelece limites rígidos a uns e outros. Heroard era o médico de Luís XIII Delfim da França, que nascera em 27 de setembro de 1601, um médico que registrava minuciosamente todos os fei- tos e gestos do pequeno menino, deixando-nos, assim, um diário contendo todas essas minúcias. Um dos primeiros registros foi de Luís com um ano e cinco meses até seu um ano e dez meses, Heroard registra que o garotinho “toca violino e canta ao mesmo tem- po” e “toca seu pequeno tambor com todos os tipos de toques”, fato que nos mostra a importância do canto e da música nessa época, mas vale ressaltar que, antes, ele também se contentava em brincar com os brinque- dos considerados comuns para a idade dele, como o cavalinho de pau, o cata vento e o pião (ARIÉS, 1981). Com apenas dois anos, o Delfim canta e dança no gabinete do Rei juntamente com os adultos, ao som do violino, mostrando-nos quão era importante a música e a dança para a educação das crianças da época e sua precocidade. Lembrando, novamente, que o garoto brincava com os brinquedos comuns a toda criança. Mas ainda aos três anos de idade a dança continua a fazer parte da vida do Delfim, pois Heroard registra que o menino dançava todas as mú- sicas. Em 1604, em uma noite de Natal, durante a festa de comemoração, o Delfim, com três anos de idade, ganha alguns presentes como uma bola, brinquedo muito comum a todas as crianças, e mais algumas quinquilharias italianas, como uma pomba mecâni- ca. Isso nos mostra que os brinquedos comumente utilizados, hoje, nas brincadeiras das crianças tam- bém faziam parte das brincadeiras infantis naquela época. Aos três anos e cinco meses, o Delfim começa aprender a ler e, aos quatro anos, a escrever, bem mais cedo do que somos acostumados a ver nos dias atuais, o seu professor era um clérigo da capela do castelo, chamado Dumont. Mas esse novo aprendi- zado nessa nova fase de sua vida não o impedia de brincar, pois ele ainda brincava com boneca, na épo- ca, brinquedo comum também aos meninos, e mi- niaturas de madeira fabricadas por artesãos. Ao mesmo tempo em que brincava com bonecas, o Delfim, com idade de quatro a cinco anos, também praticava arco, jogava cartas e participava de jogos de adulto, como jogos de raquete e jogos de salão, e con- tinuou durante os seis anos acrescentando as brin- cadeiras de mímica que se resumem em adivinhar as profissões e as histórias representadas durante a brincadeira. (ARIÉS, 1981). No entanto, aos sete anos, algumas mudanças DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 20 ocorrem, por exemplo, o seu traje muda, ou seja, ele deixa de usar os trajes da infância, tenta-se fazer com que ele deixe de brincar com as bonecas, os brinque- dos e quinquilharias da infância, devendo realizar mais as atividades de adulto, como caça, cavalos, ar- mas e, talvez, teatro, “não deveis mais brincar com esses brinquedinhos (os brinquedos alemães), nem brincar de carreteiro, agora sois um menino grande, não sois mais uma criança” (ARIÉS, 1978, p. 87). Segundo Ariés (1981, p. 87), “tudo indica que a idade de sete anos marcava uma etapa de certa im- portância: era a idade geralmente fixada pela litera- tura moralista e pedagógica do século XVIII para a criança entrar na escola e trabalhar”. Porém, mesmo devendo abandonar o ato de brincar e, principal- mente, de brincar com as bonecas, o Delfim continua a levar a mesma vida que levava antes, inclusive aos treze anos ele ainda brinca de esconder. Nota-se, assim, que essa mudança ocorre insen- sivelmente durante a longa sequência de divertimen- tos em que a criança divide com os adultos ou pega emprestado deles, pois os jogos eram realizados co- mumente pelas crianças e pelos adultos, não haven- do uma distinção ou separação rigorosa, como hoje, das brincadeiras e dos jogos destinados às crianças e de brincadeiras e jogos destinados aos adultos. Entretanto, no início do século XVII, essas ações comuns entre crianças e adultos não se estendiam mais às crianças pequeninas, pois, por meio de re- presentações iconográficas a partir do século XV de criancinhas brincando fica um tanto quanto claro que os brinquedos, como cavalo de pau, cata-vento, pássaro preso por um cordão, são reservados a elas, conclusão essa que se chega a partir das iconografias feitas pelos artistas da época. Toda essa arte reserva- da agora um pouco mais aos pequeninos se tornou um artesanato popular destinado tanto à satisfação dos adultos como à distração das crianças. Assim, com o tempo, as brincadeiras se liber- taram do simbolismo religioso, perdendo seu cará- ter comunitário, tornando-se individual. De acor- do com Ariés (1981, p. 89), “nesse processo ela foi cada vez mais reservada às crianças, cujo repertório de brincadeiras surge então como o repositório de manifestações coletivas abandonadas pela socieda- de dos adultos e dissacralizadas”,ou seja, a partir do século XVII, a consequência foi a distinção entre os jogos de adultos e de crianças, abandonando-se aquelas brincadeiras e jogos que dividiam o espaço da criança ao do adulto. No entanto, a especialização infantil dos brin- quedos já estava em andamento desde os anos 1600, com algumas diferenças em relação à atualidade, por exemplo, o fato de os meninos também brincarem com bonecas e todas as crianças, tanto menino quan- to menina, usarem os mesmos trajes, ou seja, a dis- criminação hoje existente em relação às brincadeiras e brinquedos de meninas, e de meninos era menos nítida naquela época. De acordo com Ariés (1981), é possível que exista uma relação entre especialização infantil dos brinquedos e a importância da primeira infância no sentimento revelado pela iconografia e pelo traje a partir do fim da Idade Média. A infância se tornava o repositório dos costumes que estavam sendo aban- donados pelos adultos. Vale ressaltar que a especialização das brincadei- ras antigas ocorre apenas na primeira infância, pois, após os três ou quatro anos, ela enfraquecia e desa- parecia, nessa idade, a criança passa a participar dos EDUCAÇÃO FISÍCA 21 mesmos jogos e brincadeiras dos adultos, sejam jun- to com eles ou entre as próprias crianças, e os adultos participavam de jogos e brincadeiras que, na atua- lidade, são reservados às crianças. Sendo tudo isso testemunhado por uma abundância de iconografias que representavam cenas de jogos da Idade Média até o século XVIII. No entanto, todos esses divertimentos vivencia- dos pelas crianças e pelos adultos da sociedade an- tiga se davam devido ao fato do trabalho, que hoje ocupa praticamente todo o tempo do ser humano, não ter a mesma importância para os indivíduos daquela época, ao contrário dos jogos e das brinca- deiras que formavam um dos principais meios dos quais a sociedade se utiliza para estreitar seus laços coletivos. Passando pela sociedade antiga e chegando à atualidade, o brincar diferencia-se de todas as ou- tras atividades desenvolvidas pelas crianças em sua infância, atividades que, na maioria das vezes, são prescritas pelos adultos. Permitir a criança brincar, “é deixá-la ser ela mesma, viver o seu mundo, expri- mir os seus valores, regras e condutas” (SOARES, 2001, p. 62). Esse ato de brincar é um dos principais aspectos que distinguem a ação das crianças e dos adultos no mundo. O fato de separar o mundo adulto do infantil e ao diferenciar o trabalho da brincadeira, a humani- dade observou a importância da criança que brinca e educadores passam, assim, a se utilizar do lúdico na educação, principalmente, na educação infantil. Brincar não é, portanto, exclusivo das crianças, é próprio do homem e uma das suas atividades so- ciais mais significativas. Uma diferença importante, porém, é que as crianças brincam, contínua e devo- tadamente e, ao contrário dos adultos, entre brincar e fazer coisas sérias (entre o ócio e o negócio ou entre o lazer e o trabalho) não fazem distinção, sendo o brincar muito do que as crianças fazem de mais sério (SARMENTO, 2003). Vygotski (2007) indica a relevância de brin- quedos e brincadeiras como indispensáveis para a criação da situação imaginária, não como algo oca- sional na vida da criança, e sim como a primeira manifestação da emancipação dela em relação às restrições que lhes permitem realizar a ação, reve- lando que o imaginário só se desenvolve quando se dispõe de experiências que se reorganizam que a riqueza dos contos, lendas e o acervo de brinca- deiras constituirão o banco de dados de imagens culturais utilizado nas situações interativas. Dispor de tais imagens é fundamental para instrumentali- zar a criança para a construção do conhecimento e de sua socialização. Ao brincar, a criança movi- menta-se em busca de parceria e na exploração de objetos, comunica-se com seus pares, se expressa por meio de múltiplas linguagens, descobre regras e toma decisões. Vigotski (2007) afirma, ainda, que Apesar de a relação brinquedo-desenvolvimen- to poder ser comparada com a relação instrução desenvolvimento, o brinquedo fornece ampla estrutura básica para mudanças da necessidade e da consciência. A ação na esfera imaginativa, numa situação imaginária, a criação das inten- ções voluntarias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas – tudo aparece no brinquedo, que se constitui, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. A criança desenvolve-se, essencialmente, através do brinquedo (p. 122). DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 22 Sendo assim, brincar é, acima de tudo, exercer o po- der criativo do imaginário humano, construindo o universo real de quem brinca. Os mundos fantasio- sos do brincar revelam a fertilidade inesgotável de simbolizar o impulso lúdico que habita o imaginário humano (SILVA, 2003). Desse modo, o imaginário infantil é colocado nas representações que as crianças fazem de seu próprio mundo. Elas se imaginam sendo mães, pais, profes- sores, ou seja, elas brincam com o seu meio social. As crianças imaginam-se como mães e a boneca como crianças, crianças pequenas podem fazer coincidir a situação de brinquedo e realidade (VIGOTSKI, 2007). Nesse ponto de vista, por meio do imaginário infantil, as crianças tornam seus sonhos e desejos, fantasiando sua realidade. Com uma predisposição social e histórica para o lúdico, a criança cria o brin- car na sua mais primitiva e pura forma de manifestar a alegria e satisfazer suas necessidades. No período pré-escolar, período de desenvolvi- mento da consciência do mundo objetivo no enten- dimento de Vygotsky (2007), a criança passa a in- tegrar uma relação ativa não apenas com as coisas diretamente acessíveis a ela, mas também em rela- ção ao mundo mais amplo das outras crianças e dos adultos. Uma necessidade de agir da maneira como ela vê os outros agirem. EDUCAÇÃO FISÍCA 23 Nesse período de vida de uma criança, o desen- volvimento das brincadeiras é um processo secundá- rio, a relação entre a brincadeira e as atividades que satisfazem as crianças torna-se diferente, ou melhor, trocam de lugar, o brinquedo passa a ser a principal atividade. “E toda essa mudança ocorre pelo fato do mundo objetivo do qual a criança é consciente, estar continuamente expandindo-se” (LEONTIEV, 1988, p. 120). E, no brinquedo, a ação sempre corresponde, se bem que de forma excepcional, a ação das pessoas em relação ao objetivo. Nos brinquedos do período pré-escolar, as crian- ças assimilam a realidade humana, pois suas opera- ções são sempre reais e sociais. O brinquedo, como disse Gorki, na citação de Leontiev (1988), é real- mente “o caminho pelo qual as crianças compreen- dem o mundo em que vivem e que serão chamadas a mudar” (p. 130). Dessa forma, o brinquedo não surge de uma fantasia artística, arbitrariamente construída no mundo imaginário da brincadeira infantil, a pró- pria fantasia da criança é necessariamente engendra- da pelo jogo, surgindo precisamente, nesse caminho, pelo qual a criança penetra a realidade (LEONTIEV, 1988). Os brinquedos são, por excelência, grandes ami- gos e companheiros das crianças na sua infância. Porém, associado ao grande desenvolvimento con- temporâneo, os brinquedos e o impacto que tiveram nas vidas das crianças também sofreram inevitáveis modificações, principalmente, pela intensa necessi- dade consumista que os alimenta. A grande preocupação está no uso e no abuso que os adultos fazem do brincar e dos brinquedos da criança, preocupações que surgem no sentido de alertar para o fato de “o brincar e o brinquedo serem cada vez menos espontâneos e naturais, cada vez mais estruturados e sem grande margem de ação ino- vadora por parte da criança” (SOARES, 2001, p. 65). Dessa forma, faz-se necessário repensar o rumo que o brinquedo vem tomando, se o que se pretende é proporcionar às crianças vivências genuínas, para tanto, é necessário impedir que uma atividadecomo o brincar, primordial às crianças, se torne uma interes- seira e mercantil atividade, em que atenda somente os interesses daqueles que à volta do brincar e da criança constroem os seus impérios econômicos, atendendo, em última instância, aos interesses, às necessidades e aos valores pertencentes às crianças (SOARES, 2001). Assim, torna-se muito importante resgatar a ex- periência fascinante da brincadeira tradicional, com a função de perpetuar a cultura infantil, criando e re- criando o encantamento do lúdico. As brincadeiras tradicionais infantis como parte integrante da cultura lúdica, brincadeiras transmitidas de geração em ge- ração, expressando valores e diferentes concepções, ainda se fazem presentes nas atividades lúdicas das crianças, como cantigas de roda (ciranda-cirandi- nha), pega-pega, brincadeiras cantadas (“boneca de lata”, “lenço atrás”), esconde-esconde, dentre outras, bem como brincadeiras de construção de materiais, como barquinhos de papel, aviãozinho, chapeuzinho de soldado, pipa. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 24 Entretanto, com as transformações sociais, o ad- vento da televisão e dos brinquedos eletrônicos está desaparecendo da cultura infantil, dando lugar aos computadores, videogames, dentre outros, que as in- dústrias investem e a mídia divulga. Não se trata de considerar que esses últimos não sejam importantes, pois são uma produção histórica, mas de garantir os conhecimentos que são produtos da história. Brincando, a criança aprende e desenvolve a ima- ginação e a criatividade. A fantasia criativa promove um constante revitalizar e harmonizar forças do pen- sar, sentir e querer que se transforme em forças, moti- vação, criatividade e iniciativa no futuro. Vamos brin- car de casinha? Você é a mãe e vai ao supermercado, você é a filha e vai fazer a lição... Depois, vamos fazer um bolo... Quando as crianças brincam estão envolvi- das com a sua imagem total de ser humano que pen- sa, sente e faz acontecer. A criança inteira se encontra no seu mundo. O mundo criativo da infância. Nesse contexto, a psicomotricidade surge como uma possibilidade para que essa relação faça-se pre- sente de forma objetiva e sistematizada no ambiente escolar, uma vez que nas ações interventivas pauta- das em atitudes psicomotoras buscamos tornar real o brincar no processo educacional, favorecendo uma aprendizagem significativa para a criança que está envolvida no contexto. É no brincar, e somente no brincar, que o indiví- duo, criança ou adulto, pode ser criado e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o seu eu (self) (WINNICOTT, 1975, p. 50). Tem-se o conhecimento de que a educação é direito de todas as crianças, um dever da família e do esta- do (LDB 9394/98, art. 2º) e que a educação infantil constitui-se como a primeira etapa da educação bá- EDUCAÇÃO FISÍCA 25 sica, cuja finalidade é o desenvolvimento da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psi- cológico, intelectual e social. Torna-se possível entender que o professor(a), no ambiente da educação infantil e, por consequ- ência, das séries iniciais do ensino fundamental de nove anos, oportunize situações que levam as crian- ças a desenvolverem-se por meio de uma mediação que considere os estágios ou etapas de seu desen- volvimento, considerando a primazia básica de que, para a criança, o brincar é o carro-chefe de todas as ações ofertadas e realizadas por ela. No brincar, a criança conhece seu corpo, descobre o mundo que a cerca, movimenta-se, explora, conhece, reconhece, age, modifica e é modificada pelas estruturas peda- gógicas que lhes são oportunizadas. Nesse sentido, o movimento permite à criança expressar os seus sentimentos, emoções e pensamen- tos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais, pois pode ser enten- dido como uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o am- biente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. Kishimoto (1996) lembra que essa não é uma discussão da atualidade, mas uma discussão já ace- nada por Froebel Froebel acreditou na criança, enalteceu sua perfeição, valorizou sua liberdade e desejou a expressão da natureza infantil por meio de brincadeiras livres e espontâneas. Instituiu uma pedagogia tendo a representação simbóli- ca como eixo do trabalho educativo, sendo re- conhecido por isso como psicólogo da infância (KISHIMOTO, 1996, p. 452). Por acreditar nessa efetiva relação entre corpo e mo- vimento, o corpo que é a alma, que se comunica, expressa e que fala, continuaremos nossa viagem fa- zendo algumas incursões no universo da ciência da motricidade humana, para podermos compreender como contribuir para que a criança tenha em seu corpo possibilidades para compreender, analisar e desenvolver-se, tornando-se um adulto com domí- nio, habilidades e destrezas motoras, cognitivas e afetivo-sociais. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 26 O homem faz parte do universo, enquanto ação, gestualidades, atitudes e expres-sões. Nossas expressões e atitudes são expressas pelo corpo, por meio de mo- vimentos suaves ou delicados, bruscos ou agressivos, no intuito de demonstrar satisfação, prazer ou raiva, desejo ou desespero, ou seja, o corpo movimenta-se estabelecendo relações efetivas culturalmente estabele- cidas com o outro, com o objeto e com o universo que o cerca, traduzindo, de forma espontânea, a percepção das situações que lhes são postas. O corpo e sua gestualidade representam para o homem o reflexo de suas origens, de sua cultura, enfim do meio ao qual pertence. Podemos ir além e dizer que o homem estabelece, constantemente, uma íntima relação entre a situação e a ação que lhe é posta. O movimentar do corpo, a forma e a postura traduzem quem é esse homem, sua história e suas experiências. Nesse sentido, falar do corpo envolve as mais va- riadas formas de concebê-lo, ou, como escreve San- tin (1995, p. 91), pensar o corpo e no corpo “significa repensar o projeto antropológico desse corpo cons- truído desde os gregos, consagrado pelos teólogos medievais, confirmado pelos filósofos modernos e aceito pelos pensadores contemporâneos”. É por meio da sua relação consciente em determi- nadas situações que o homem comporta-se, adapta- -se ou dá significados ao meio no qual vive e interage. Abordar questões que tratam do corpo significa tratar dos paradigmas do desenvolvimento humano, uma vez que um está amarrado ao outro, o que signi- fica dizer que corpo é movimento e vice-versa. Esse entendimento nos leva a realizar algumas re- flexões, por exemplo, será que podemos conceber o movimento dissociado do corpo? Ou será que pode- mos, em algum momento, pensar no agir do corpo sem que haja algum movimento envolvido no contexto? Percebemos, nessas reflexões, que todas as nos- sas ações pautam-se ou resultam em movimento. Isso porque o movimento é uma das formas mais significativas de adaptação ao mundo exterior, dado que a assimilação contínua do mundo no indivíduo se processa por meio do movimento humanizado, portanto socializado (FONSECA, 2009). Kephart (1960) vai além e afirma que, para enten- der a relação corpo e movimento, faz-se necessário entender a distinção entre o que ele chama de motor e o que é movimento, existe uma diferenciação entre o motor e o movimento. Para o autor, o movimento é qualquer ação externa observável e motor refere-se aos impulsos internos referentes. Corpo e Movimento: Construindo a Imagem do Corpo EDUCAÇÃO FISÍCA 27 A atividade motora interna ocorre constantemen- te, não é observável, como os padrões de movimento, por exemplo, sabemos que a criança aprendeu a andar quando ela se desloca pelo espaço sem que haja a ne- cessidade de auxílio do outro ou do objeto, o que sig- nifica dizer que observamos o desenvolver do andar de forma autônoma, pois podemos visualizar aação da criança executando a tarefa. O movimento humano pode, nesse sentido, ser classificado como não locomotor e locomotor. O pri- meiro refere-se a uma resposta observável executada pelo corpo em uma posição estacionário, como bater palma. Já no segundo, as respostas do corpo são ob- serváveis por meio do movimento do corpo no es- paço, de um ponto a outro, por exemplo, dominar o andar ou o saltar (HARROW, 1983). Negrine (1994) entende que o movimento hu- mano, em sua totalidade, considera tanto os aspectos funcionais, como também os relacionais. Considera- -o não somente proveniente das atividades originá- rias dos exercícios físicos, mas considera a expressão de sentimentos, emoções, manifestações de prazeres e desprazeres, potencialidades e fragilidades pessoais. Portanto, “a forma humana de sentir, pensar, emocionar ou compreender o mundo que o circun- da, é codificada através da expressividade motriz, de- monstrada a todo instante, em todo o gesto humano” (FALKENBACH, 1998, p. 19), pois o corpo é mo- vimento e as ações desempenhadas por esse corpo são frutos das relações sociais, afetivas e das experi- mentações motoras que lhes são ofertadas ao longo da vida, observa-se que a criança, desde a mais tenra idade, prende-se a tarefas que lhes são instigantes, desafiadoras. O movimento para a criança exerce atratividade, o novo, o diferente é o que a desafia e impulsiona a realizar novas conquistas no campo motor e cognitivo. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 28 A noção de satisfação e autorrealização provoca- da pela execução e finalização de uma tarefa sempre lhe surpreende. Seu sorriso de contemplação em fra- ção de segundos inunda o espaço que ocupa e logo dissipa-se. Por exemplo, concentra-se ao máximo e interessa-se exageradamente, dedicando-se com grande entusiasmo para montar um quebra-cabeça que lhe foi dado. No entanto, ao findar a tarefa, admi- ra-o por alguns instantes e o abandona rapidamente. Isso ocorre porque a criança está em constante movi- mento e necessita, constantemente, de possibilidades que a permitam despertar para suas potencialidades. O aprendizado gerado a partir de uma nova brincadeira, ou estímulo, resultará em um novo co- nhecimento. Esse fato ocorre porque somos corpo e mente, estamos interligados a um universo macro de informações de um meio repleto de estímulos e aventuras. Essa relação existente entre corpo e movimento vem, portanto, sendo alvo de interesses e pesquisas em várias áreas do conhecimento, desde as biológi- cas até as ciências humanas (DAMASCENO, 1996). De nossa convivência com as crianças é possível dizer que, ao brincarem, satisfazem uma necessidade básica, que é viver a brincadeira. Por exemplo, quando as crianças brincam de montar o quebra-cabeça ou quando estão pulando amarelinha, elas não estão preocupadas com a co- ordenação necessária para que possam realizar com êxito a tarefa estabelecida, simplesmente brincam, experimentam possibilidades que as permitem rea- lizar suas metas com sucesso. Essa experiência do brincar e do explorar o meio no qual está inserida, nas mais variadas formas e pos- sibilidades irá produzir um repertório de movimen- tos que só pode ser conquistado pela experiência da ação. Não faz sentido para as crianças somente joga- rem a bolinha para “adquirirem” coordenação ma- nual, como desejam muitos(as) especialistas, fazen- do-as repetir os movimentos até acertar. O contexto deve ser educativo, mas, acima de tudo, prazeroso, pois, de acordo com Levin (2001), é por meio da imagem do corpo criada que ocorre a estruturação subjetiva da criança. A imagem que a criança tem de seu corpo se constitui a partir do outro, que pode ser a mãe, a babá, ou a educadora, que coloca sua própria expe- riência para que a criança construa seu próprio eu corporal. EDUCAÇÃO FISÍCA 29 O movimento é a base do desenvolvimento infantil, vamos pen-sar no bebê logo que nasce, o primeiro teste ao qual é submetido, o Apgar, é um teste cuja escala de valores é mensu- rada a partir das respostas dadas aos estímulos de acordo com o tempo de reação de cada resposta. Portanto, seu progresso é medido desde seu nascimento, por meio de movimentos que vai realizando ao longo da sua jornada. Se retomarmos um pouco a história acerca dos estudos que tratam do desenvolvimento hu- mano, veremos que somente a partir de 1920, quando o bebê e a criança passam a ser o foco de várias investigações, é que se co- meça a valorizar a importância do movimento humano e do traba- lho relacionado a ele para colabo- rar no desenvolvimento integral da criança. Essa tendência, conforme afirma Go Tani (1988), auxiliou no processo de criação de um conceito de desenvolvimento mo- tor, que o entende como sendo um processo natural e progressi- vo, que acontecia sem a necessi- dade de uma preocupação espe- cífica no sentido de preparar um ambiente que o favorecesse. Essa primeira proposição teórica acerca do processo de desenvolvimento foi a hipótese maturacional, nela, o desenvolvi- mento resultava de um mecanis- mo biológico, endógeno (interno) e regulatório, denominado matu- ração (GESELL, 1929). A visão maturacional enfati- zava a necessidade de se conhe- cer a sequência em que surgiam as mudanças no comportamento e, somente a partir da ocorrên- cia de tais mudanças, poderiam ser ensinadas tarefas específicas (GESELL; THOMPSON, 1929). Observamos que, segundo essa posição, a experiência, a experi- mentação e as vivências não in- fluenciavam no processo de de- senvolvimento da criança. No entanto, em 1946, Mc- Graw investigou a relação entre o desenvolvimento e a atuação das experiências, questionou a hipó- tese maturacional como sendo a A Importância do Movimento no Desenvolvimento do Ser Humano DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 30 única explicação para o processo de desenvolvimen- to. Em 1949, Hebb afirmou que as experiências no desenvolvimento adquirem uma importância cada vez maior, na medida em que subimos na escala ani- mal filogenética, em direção à espécie humana. Em 1982, Piaget demonstrou a importância dos movimentos no curso do desenvolvimento intelec- tual do indivíduo. Lewin, no mesmo ano, também demonstrou, em seu trabalho, a importância dos movimentos na evolução da espécie humana. Atualmente, podemos dizer que, para entender- mos o movimento humano, devemos considerar a maturação, as características individuais e as experi- ências (HOTTINGER, 1973). Connolly (1977) vai além e afirma que as mu- danças no desenvolvimento motor dependem das mudanças biomecânicas ocasionadas pelo cresci- mento físico, maturação neurológica (estrutural) e as mudanças provenientes do desenvolvimento cog- nitivo (funcional). Assim, a organização do desenvolvimento se ini- cia na concepção e os domínios motor, afetivo-social (conduta pessoal-social) e cognitivo (conduta adap- tativa e linguagem) vão se diferenciando, gradual- mente, de acordo com as experiências e vivências oportunizadas à criança. Nesse sentido, entendemos que, por meio dos movimentos, o ser humano aprende sobre o meio (social/afetivo/motor) em que vive. O movimento é a essência da infância e, no olhar de Wickstram (1977), para o qual existe vida, existe movimento onde existem crianças, o movimento se perpetua. Logo, não podemos deixar de conceituar e relatar a importância do desenvolvimento motor para o processo de aquisição de informação, estímu- los e desenvolvimento da criança. Go Tani et al. (1988) afirmam que o desenvolvi- mento motor é um processo demorado e, pelo fato de as mudanças mais acentuadas ocorrerem nos pri- meiros anos de vida, existe a tendência em se con- siderar o estudo do desenvolvimento motor como sendo apenas o estudo da criança. É necessário en- focar a criança, pois, enquanto são necessários cerca de vinte anos para que o organismo se torne maduro, autoridades em desenvolvimento da criança concor- dam que os primeiros anosde vida, do nascimento aos seis anos, são cruciais para o desenvolvimento integral da criança. EDUCAÇÃO FISÍCA 31 Para Haywood (1986), desenvolvimento mo-tor é um processo de mudanças contínuas, em que há um progresso de movimentos simples e não organizados para a realização de habilidades altamente complexas. Esse entendimento permite defi nir o desenvol- vimento motor como sendo um processo que se baseia nas mudanças comportamentais observa- das. Mudanças essas que têm seu início centrado na concepção e se prolonga até a morte, permitindo a possibilidade da observação do desenvolvimento de um eixo temporal da vida de uma pessoa, a par- tir de uma determinada ordem e coerência no con- junto de mudanças, o que permite identifi car uma sequência. Essa sequência, por sua vez, pode oscilar de su- jeito para sujeito, pois dependerá das variabilidades e experimentações a que for submetido durante sua progressão, no entanto, haverá sempre uma invariá- vel na sua ordem. Padrões de Movimento DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 32 Resumidamente, podemos dizer, então, que as relações estabelecidas no processo de desenvolvi- mento motor infantil, compreendem-se a partir de um processo sequencial e contínuo que se relacio- na à idade cronológica, prevista para que ocorra o desenvolvimento esperado das habilidades motoras específicas a cada fase, lembrando que as habilidades motoras progridem de movimentos simples e desor- ganizados para a execução de habilidades motoras altamente organizadas e complexas (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Essa relação de perceber o desenvolvimento como sendo um processo ao longo da história, cen- trou-se em vertentes diferenciadas, a priori acredi- tava-se que as mudanças no comportamento motor eram provocadas especificamente a partir das altera- ções maturacionais do sistema nervoso central (TE- CKLIN, 2002). O viés maturacional foi alterado e outras linhas passaram a discutir os aspectos e os fatores que in- fluenciam no processo de desenvolvimento motor da criança, cujo enfoque passa a considerar a ques- tão dos estímulos externos, como o meio, as relações existentes, as vivências e as experimentações a que a criança é oportunizada. Nesse novo olhar, considerar o desenvolvimento motor da criança significa relacionar a interação en- tre aspectos relativos ao indivíduo, por exemplo, suas características físicas e estruturais, bem como o am- biente em que está inserido e a tarefa a ser aprendida são determinantes na aquisição e no refinamento das diferentes habilidades motoras (HAYWOOD; GET- CHELL, 2004). O destaque levantado por Haywood e Getchell (2004) refere-se ao fato de que, mesmo tendo essas perspectivas de transacionalidade no processo de de- senvolvimento, é preciso também se considerar que o surgimento de movimentos e, por consequência, de seu posterior controle, ocorrem em uma direção cé- falo-caudal e próximo-distal, portanto, ocorre fisio- logicamente, a partir de um processo genético pré-es- tabelecido, o que se deve entender é que esse processo não se apresenta de forma linear, uma vez que cada indivíduo responde de forma diferente aos estímulos, com um tempo específico às tarefas que lhes são ofer- tadas, como consequência, os períodos de equilíbrio e desequilíbrio para que acorra a assimilação e aco- modação da informação passam a se diferir. É possível verificar que o desenvolvimento ocor- re em faixas etárias, estágios ou fases similares, mas, para entendê-lo, deve se considerar as condições biológicas (genética do indivíduo), as tarefas e o ambiente em que a criança está inserida. Isso por- que fatores como baixo peso ao nascer, distúrbios carsdiovasculares, respiratórios e neurológicos, in- fecções neonatais, desnutrição, baixas condições so- cioeconômicas, nível educacional precário dos pais e pré-maturidade podem levar a criança a um atraso no seu desenvolvimento motor. O desenvolvimento motor considerado atípico, ou seja, apresentando atraso, não está obrigatoria- mente relacionado à presença de alterações neuro- lógicas ou estruturais, pois até mesmo crianças que não apresentam sequelas graves podem apresentar comprometimento em algumas áreas de seu desen- volvimento neuropsicomotor, como distúrbios liga- EDUCAÇÃO FISÍCA 33 dos à memória, à coordenação viso-motora e à lin- guagem (MANSUR; NETO, 2006). Outro destaque refere-se ao fato de que, crian- ças com desenvolvimento motor atípico, ou que se apresentam com risco de atrasos, merecem atenção e ações específicas, pois associam-se a prejuízos se- cundários de ordem psicológica e social, como baixa autoestima, isolamento, hiperatividade, dentre ou- tros, que dificultam a socialização de crianças e o seu desempenho escolar. volvimento de suas habilidades motoras, mas tam- bém cognitivas, afetivas e motoras. Portanto, para uma melhor compreensão e en- tendimento dos padrões de movimento humano, po- demos dizer que se associam ao comportamento hu- mano e esse, por sua vez, pode ser classificado como sendo pertencente a um dos três domínios, ou seja, pode pertencer aos domínios cognitivo, afetivo-so- cial e motor. Lembramos que fazem parte do domínio cogni- tivo as operações mentais, como a descoberta ou o reconhecimento de informação. Do domínio afeti- vo-social fazem parte os sentimentos e as emoções. E do domínio motor fazem parte os movimentos. O domínio motor, por vezes, pode ser entendido como sendo o domínio psicomotor, isso porque, por meio da variabilidade de prática nas atividades reali- zadas pela criança, possibilita-se a realização de um movimento (desde o mais simples ao mais comple- xo), envolvedo os aspectos cognitivos, para que esse possa ocorrer com sucesso. O movimento tem sido definido de várias for- mas. Acatamos o entendimento de Neweel (1978), que afirma que o movimento refere-se, geralmente, ao deslocamento do corpo e dos membros produzi- dos como consequência do padrão espacial e tempo- ral da contração muscular. As experiências que a criança tem durante esse período determinarão, por grande extensão, que tipo de adulto a pessoa se tornará (HOTTINGER apud GO TANI et al. , 1988). Com base na sequência de desenvolvimento, Harrow (1983) elaborou uma taxionomia para o do- mínio motor que apresenta os seguintes níveis: Dessa forma, conhecer os padrões de movimen- to, as fases e estágios, torna-se de extrema relevância para o trabalho do professor(a), pois, ao desenvol- ver atividades realizadas na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, será possível oportunizar às crianças situações de experimentação e vivências que lhe ajudarão no processo de desen- DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 34 • Movimentos reflexos: referem-se às respostas automáticas e involuntárias perceptíveis no recém-nascido que, em um momento seguin- te, possibilitará a interação do bebê com o ambiente, o que caracterizará, no futuro, atos voluntários, como os reflexos de preensão, tô- nico do pescoço, dentre outros. • Habilidades básicas: está ligada à questão das atividades voluntárias que permitem a loco- moção e a manipulação em diferentes situa- ções, caracterizadas por uma meta geral, ser- vindo de base para aquisição futura de tarefas mais complexas, como andar, correr, saltar, arremessar, chutar e outras habilidades. • Habilidades perceptivas: são atividades moto- ras que envolvem a percepção do executante, por meio das quais os estímulos visual, audi- tivo, tátil e sinestésico recebidos são interpre- tados pelos centros cerebrais superiores que emitem uma decisão como resposta, possibi- litando o ajuste ao ambiente. • Capacidades físicas: são as características funcionais essenciais na execução de uma habilidade motora. Quando desenvolvidas, proporcionam ao executante uma melhoria do nível de habilidade. Dentre essas capaci- dades estão força, flexibilidade, resistência e agilidade. • Habilidades específicas: atividades motoras voluntárias maiscomplexas e com objetivos específicos, como um chute, um arremesso, ou outra atividade mais específica a uma tarefa. • Comunicação não verbal: atividades motoras mais complexas, organizadas de maneira que a qualidade dos movimentos apresentados permita a expressão de uma emoção, um de- sejo ou uma necessidade. EDUCAÇÃO FISÍCA 35 Nesse sentido, para que possamos levar a criança a alcançar determinados padrões de movimentos, de- vemos ampliar o repertório de informação a ela ex- perimentadas e vivenciadas no campo motor, para que ela possa, assim, organizar, reorganizar seus co- nhecimentos e responder, satisfatoriamente, a uma tarefa ou estímulo a ela oferecido. pobres. Tipicamente, os movimentos locomoto- res, manipulativos e estabilizadores de crianças de dois anos de idade estão no nível inicial. b. Estágio elementar: envolve maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimen- tos fundamentais. Segundo o autor, crian- ças de desenvolvimento normal tendem a avançar para o estágio elementar por meio do processo de maturação, embora alguns indivíduos não consigam desenvolver além do estágio elementar em muitos padrões de movimento e permanecem nesse estágio por toda a vida. c. Estágio maduro: é caracterizado como me- canicamente eficiente, coordenado e de exe- cução controlada. Tipicamente, as crianças têm potencial de desenvolvimento para estar no estágio maduro perto dos 5 ou 6 anos, na maioria das habilidades fundamentais. Para que essas habilidades sejam desenvolvidas, é necessário que se dê à criança oportunidades de desempenhá-las. O movimentar-se é de gran- de importância biológica, psicológica, social e cultural, pois é por meio da execução dos mo- vimentos que as pes- soas interagem com o meio ambiente, re- lacionando-se com os outros, apreendendo sobre si, seus limites, capacidades e solucionando problemas, pois é comum encontrar in- divíduos que não atingiram o padrão maduro nas habilidades básicas, nas quais apresentam um nível inicial ou elementar, o que preju- dicará todo o desenvolvimento posterior. Gallahue (1982) propõe um modelo de padrões motores que apresentam como ponto de vista o fato de que as mudanças, observáveis nas características do movimento, refletem o processo de desenvolvi- mento, orientadas ao nível mais superior da sequência para a aquisição de habilidades. Esse modelo mostra que, para se chegar ao domínio de habilidades, faz-se necessário um longo processo, no qual as experiên- cias com habilidades básicas, classificadas pelo autor como movimentos fundamentais são de extrema im- portância. Gallahue e Ozmunn (2003) dividem a fase dos movimentos fundamentais em três estágios: a. Estágio inicial: representa a primeira meta orientada da criança na tentativa de executar um padrão de movimento fundamental. A integra- ção dos movimentos espaciais e temporais são DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 36 Para entendermos as áreas que abrangem a Psicomotricidade, temos que fazer um breve resgate acerca de suas conceituações e delimitações, uma vez que somente a par- tir desse entendimento podemos definir e perceber como se processa as possiblidades de atuação da psi- comotricidade enquanto área, isso porque, a partir de cada vertente, sua análise se diferencia, por exemplo, no entendimento de (AJURIAGUERRA, 1947 apud ISPE-GAE, 2007), é possível entender a psicomotri- cidade a partir do conceito de uma ciência da Saúde e da Educação, pois, indiferente das diversas escolas, psicológicas, condutistas, evolutistas, genéticas etc, o enfoque visa à representação e à expressão motora, por meio da utilização psíquica e mental do indiví- duo. Como consequência dessa delimitação, torna-se possível perceber que se observa o desenvolvimento psicomotor ainda do prisma das individualidades e das questões oriundas da genética. Por outro, (COSTALLAT, 1947 apud ISPE- -GAE, 2007) afirma que a Psicomotricidade é a ciência de síntese, que, com a pluralidade de seus enfoques, procura elucidar os problemas que afe- tam as inter-relações harmônicas, que constituem a unidade do ser humano e sua convivência com os demais. Logo, nessa perspectiva, nota-se com clareza a relação do ambiente, das questões sociais, os estímulos sendo aqui tratados e considerados como base de apoio para compreender a criança, seu processo de desenvolvimento, aquisição e re- tenção da informação. Já na visão de (LOUREIRO, 1947 apud ISPE- -GAE, 2007), a Psicomotricidade é a otimização cor- poral dos potenciais neuro, psicocognitivo funcio- nais, sujeitos às leis de desenvolvimento e maturação, manifestados pela dimensão simbólica corporal pró- pria, original e especial do ser humano e que, por- tanto, considera no corpo e com o corpo, as relações que são estabelecidas com o universo que o cerca. Le Boulch (1982) aponta, ainda, que a análise da psicomotricidade ocorre por meio de correntes distintas. Enquanto uma aponta para a educação psicomotora, outra, para a terapia e reeducação psi- comotora. Essas correntes já apontam não só para diferentes intervenções, de um modo superficial, sob a perspectiva de mercado e atuação profissional, mas, sobretudo, de diferentes olhares. É importante salientarmos que a Psicomotricida- de é um campo de conhecimento que se relaciona, diretamente, ao desenvolvimento motor e que, por- tanto, a entendemos como sendo um componente do desenvolvimento da criança. O desenvolvimento motor pode ser entendido como o resultado da maturação anatomofisiológica da criança, que resultará na execução com destreza das habilidades necessárias a determinadas tarefas. A Relação entre Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor EDUCAÇÃO FISÍCA 37 Portanto, estamos nos referindo aos comporta- mentos não aprendidos que surgem espontaneamen- te desde que a criança tenha condições adequadas para exercitar-se. Bee (1997) vai além e afirma que o desenvolvi- mento refere-se às mudanças, que ocorrem como continuidade ao longo de toda variação de idade, da concepção até a morte. Percebemos, nesse sentido, que um bom de- senvolvimento de nosso corpo ocorre não somente mecanicamente, mas sim em parceria com as expe- rimentações que são aprendidas e vivenciadas jun- to à família, à escola, aos grupos sociais nos quais a criança está inserida e que lhe dá suporte para que possa formar a base da noção de seu eu corporal. Nesse processo de desenvolvimento, não po- demos deixar de relatar a importância dos sen- timentos da criança na fase do conhecimento de seu próprio corpo, pois um esquema corporal mal estruturado pode acarretar na criança sentimentos de ordem psicológica, como a baixa na autoestima, que pode ser resultante de outros problemas, por exemplo, a falta de coordenação para correr ou dominar uma bola. A tendência é que, com o pas- sar do tempo, o problema iniciado no componente motor, quando não sonado, faça com que a criança rejeite as tarefas motoras, reagindo com agressivi- dade, mau humor ou apatia em relação a elas. Ou seja, o que, para alguns, às vezes, parece ser algo tão simples poderá originar sérios problemas de motricidade que serão manifestados por meio do comportamento motor, quando não trabalhados de forma satisfatória e condizente com as necessi- dades da criança. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 38 “Quando vejo uma criança, ela me inspira dois sentimentos: ternura pelo que ela é e, respeito pelo que pode ser” (JEAN PIAGET, 1978) de processos psicológicos tradicionais da percepção, motivação, pensamento e aprendizagem, mas no con- teúdo sobre o que é percebido, desejado, temido, pen- sado ou adquirido como conhecimento, bem como “a natureza desse material psicológico muda em função da exposição e interação de uma pessoa com o meio ambiente” (BRONFRENBRENNER, 1996, p. 12). O ambiente ecológico é representado pelo autor por meio do modelo sistêmico, que considera três âmbitos específi cos. O primeiro âmbito, o mais in- terno,está relacionado ao ambiente imediato, a casa e a sala de aula, por exemplo. No segundo, a pessoa relacionada com a escola e a família. No terceiro âm- bito, ambientes nos quais nem mesmo a pessoa esta- ria presente. Esse autor vai além e afi rma que o desenvolvi- mento ocorre em função de sistemas denominados por ele como: microssistema, mesossistema, exossis- tema e macrossistema. O microssistema é defi nido como “um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais vivencia- dos pela pessoa em um dado ambiente com caracte- rísticas físicas”. Para pensar a criança e suas especifi cidades, é necessário compreender o contexto no qual ela se encontra, bem como os processos de desenvolvimento que alicerçam suas atitu- des e comportamentos motores, além dos processos de aprendizagem nos quais ela pode subsidiar-se para adquirir novas habilidades. Para entender a criança, é preciso compreender o seu desenvolvimento, tendo em vista que esse se baseia nas mudanças que ocorrem ao longo de sua vida. E, portanto, está associado aos domínios moto- res, afetivos, cognitivos e psicomotores, como afi rma Gallahue (2000). Nesse sentido, algumas perspectivas são delinea- das, iniciemos pela abordagem de desenvolvimento humano na perspectiva Ecológica de Bronfrenbren- ner (1996, p. 10), que defi ne o desenvolvimento como “a concepção desenvolvente da pessoa no meio ambiente ecológico, e sua relação com ele, e também com a crescente capacidade da pessoa de descobrir, sustentar ou alterar suas propriedades”. Nessa concepção, a ênfase ao desenvolvimento, se- gundo Alonso (2000), não ocorre em uma perspectiva Aprendizagem e Desempenho das Habilidades Motoras EDUCAÇÃO FISÍCA 39 No segundo nível do modelo sistêmico, aparece o mesossistema, o qual apresenta vínculos entre os ambientes. É formado sempre que o indivíduo em desenvolvimento entra em um novo ambiente, pro- vocando as inter-relações entre dois ou mais ambien- tes, tais como: para uma criança, as relações em casa, na escola e com os amigos da vizinhança; para um adulto, as relações familiares, no trabalho e na vida social (BRONFRENBRENNER, 1996, p. 21). O exossistema é definido como o sistema que se refere a um ou mais ambientes que não envol- vam a pessoa e o desenvolvimento como um par- ticipante ativo, mas no qual ocorrem eventos que afetam, ou são afetados, por aquilo que acontece no ambiente contendo a pessoa em desenvolvi- mento (BONFRENBRENNER, 1996, p. 21). E, como último modelo sistêmico, apresenta-se o macrossitema, definido pelo autor (p. 21) como aquele que se refere a consistências, na forma de conteúdo de sistemas de ordem inferior (micro, meso e exo) que existem, ou poderiam existir, no nível da subcultura ou da cultura como um todo, juntamente com qualquer sistema de crença ou ide- ologia subjacente a essa consistência. Portanto, o de- senvolvimento humano, na perspectiva ecológica de Bronfrenbrenner (1996), considera o ambiente como peça fundamental para que se possa compreender o desenvolvimento como mudanças nas características do indivíduo, que implicam em uma reorganização que tem certa continuidade ao longo do tempo e do espaço. E tal mudança no desenvolvimento ocorre nos aspectos da percepção e da ação, determinando um desenvolvimento no contexto. Isso porque o autor entende que o meio ambiente ecológico é constituído por uma série de estruturas, encaixadas uma dentro da outra, representando os diferentes meios em que o indivíduo transita, de for- ma direta ou indireta. Esses ambientes atuam como sistemas de influência na construção das suas iden- tidades. Nessa abordagem, todos os ambientes estão inter-relacionados e o importante é a maneira como a pessoa os percebe e interage dentro deles e com eles. A pessoa em crescimento está se desen- volvendo constantemente a partir das relações de reciprocidade criadas entre ela e os diferentes am- bientes que habita. Para ela, o meio ambiente não se limita a um único ambiente imediato, mas in- clui a interconexão entre os ambientes que sofrem influências internas e externas oriundas de meios mais amplos. Outro destaque é a sequência do desenvolvimen- to motor dos estudos de Gallhue e Ozmun (2005), Le Boulch (1987) e Faw (1981), dentre outros, os quais orientam a discussão do desenvolvimento por meio de etapas ou fases nas quais os processos de aprendi- zagem das habilidades ocorrem com maior destre- za e facilidade. Esses autores apresentam as etapas a partir do fator de maturação e das experiências pro- porcionadas ao indivíduo. Sobre isso, Alonso (2000, p. 25) salienta que deve ocorrer “a integração com o meio ambiente para que possa ocorrer um melhor e pleno desenvolvimento do sujeito”. Por consequência, o trato com a aquisição de habilidades e desempenho motor da criança está as- sociado aos processos de crescimento e maturação a que o sujeito encontra-se. O que significa considerar que, ao tratar do processo de desempenho das habi- lidades motoras da criança, é importante ressaltar a interdependência dos aspectos do crescimento físico e a idade cronológica e biológica (BOHME, 1999). Entretanto, é necessário entender a criança como um ser humano que se integra afetiva, cognitiva e psico- motoramente. DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA INFÂNCIA 40 Como já mencionado na teoria ecológica de Bronfrenbrenner (1996), para que as mudanças pos- sam ocorrer de forma significativa, contribuindo para o aprendizado de uma tarefa, transformando-a em uma nova habilidade motora da criança, é im- portante entender como ocorre o desenvolvimento da criança, bem como o ambiente que a cerca. Isso porque a infância é um momento em que as mudan- ças são uma constante. Vieira et al. (2004, p. 40) entendem que: os seres humanos desenvolvem-se gradativa- mente em diferentes dimensões, como: a cog- nitiva, a afetiva, a social e a motora, dimensões que fazem parte de um processo contínuo e de inter-relação, ou seja, necessitam estar harmo- nicamente estruturadas ao longo da vida. Essa afirmação traz o entendimento de que o desen- volvimento humano passa por mudanças durante toda vida e que essas são responsáveis por promove- rem o seu desenvolvimento, uma vez que esse com- preende “todas as transformações experimentadas por um indivíduo desde que é concebido até a mor- te” (BEE, 1996, p. 61). Para Thiessen e Beal (1995), o desenvolvimen- to humano refere-se aos avanços que o ser humano compreende ao passar por determinadas experiên- cias, reagindo a elas e, consequentemente, modifi- cando-se. Afirmam, ainda, “que é o indivíduo, seu crescimento, sua maturação e sua aprendizagem” (p. 11). Nessa ótica, corroborando com o entendimento de um desenvolvimento alicerçado em um conjunto de fatores, Gallahue (2000) acrescenta que o desen- volvimento caracteriza-se como uma mudança pro- gressiva na capacidade motora de um indivíduo, de- sencadeada pela interação desse indivíduo com seu ambiente e com a tarefa em que esteja engajado. O autor ainda aponta que é por meio dessas inte- rações que ocorre a aquisição das destrezas motoras. O termo destrezas motoras refere-se ao desenvol- vimento do controle motor, da precisão na perfor- mance de movimentos, tanto fundamentais quanto especializados. As destrezas motoras são desenvolvidas e refina- das ao ponto de as crianças serem capazes de agir com considerável facilidade e eficiência dentro de seus contextos. Conforme a criança desenvolve-se maturacionalmente, essas destrezas motoras funda- mentais (ou básicas) adquiridas são aplicadas como destrezas especializadas (ou complexas) a uma varie- dade de jogos, esporte, dança e atividades recreativas (GALLAHUE, 2000). Manoel (1999) entende que o desenvolvimento motor refere-se às mudanças em classes gerais do comportamento motor (locomoção, estabilidade e manipulação) condicionadas pelo histórico de vida do indivíduo. As mudanças ocorrem em uma escala de tempo de meses, anos ou décadas. A dinâmica do comportamento
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