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historia da filosofia 1

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2013
História da FilosoFia i
Prof. Fernando Lopes de Aquino
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof. Fernando Lopes de Aquino
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
109
A657h Aquino, Fernando Lopes de
 História da filosofia I/ Fernando Lopes de Aquino. Indaial : Uniasselvi, 2013.
 197 p. : il 
 
 ISBN 978-85-7830- 718-9
 1. Filosofia – História.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
III
apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!
Iniciamos os estudos de História da Filosofia I. Composta por 
mais de dois mil e quinhentos anos de tradição, a filosofia é uma esfera 
do conhecimento humano que desperta grande fascínio, sobretudo por 
atravessar a história e manter-se como um dos elementos mais importantes 
de nossa cultura.
Contudo, é por conta dessa mesma fascinação que ela é repleta de 
nuances, interlocutores e outros elementos que a tornam complexa. Perpassar 
os seus períodos históricos, principais pensadores e os elementos que a 
especificam é, portanto, uma tarefa árdua e exige muito esforço.
Ao longo desta disciplina proporcionaremos a você um conjunto 
de unidades que ajudam nessa tarefa. As unidades abordarão os principais 
elementos históricos e conceituais da filosofia, além de referenciais que lhe 
permitam dar sequência a uma reflexão própria, pois, para além da recepção 
passiva de conteúdos, a filosofia exige envolvimento e ação.
Na condição de acadêmicos(as), este deve ser o princípio norteador 
de nossas investigações, e é isto que estará presente ao longo desta disciplina, 
ou seja, a consciência da complexidade do pensamento filosófico, que exige a 
superação de preconceitos e a análise dos fatos com máxima dedicação.
Começando por uma contextualização do mundo grego e dos 
elementos culturais que possibilitaram a origem da filosofia, estudaremos o 
seu período clássico, os seus principais problemas e os destaques conceituais 
desse momento. A fim de problematizarmos a especificidade filosófica, a 
Unidade 1 também possibilitará a você uma análise de alguns dos principais 
campos de investigação filosófica.
A Unidade 2, dando sequência à análise histórica, possibilitará a você 
considerar três momentos fundamentais da reflexão filosófica, a saber: o 
contexto helenista, a filosofia patrística e o período medieval ou escolástico. 
Nesta unidade você também terá contato com a filosofia de importantes 
correntes de pensamento e com as ideias de filósofos de destaque na tradição, 
como Agostinho e Tomás de Aquino, por exemplo.
Na terceira unidade, você compreenderá como a tradição foi 
transformada pela modernidade e como isso se desdobrou em reflexões que 
até hoje repercutem no campo da ciência e da política, por exemplo. Também 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
compreenderá a especificidade do contexto contemporâneo e as principais 
críticas estabelecidas pelos filósofos e correntes filosóficas que o compõem. 
Por fim, possibilitaremos a você uma análise do contexto e do modo como a 
filosofia foi assimilada no Brasil.
Bons estudos!
 
Prof. Fernando Lopes de Aquino
V
VI
VII
UNIDADE 1 – ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA ................................................... 1
TÓPICO 1 – A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA .................................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 CONTEXTO HISTÓRICO: O “MILAGRE GREGO” .................................................................... 4
2.1 FORMAÇÃO DO POVO GREGO ................................................................................................. 5
3 A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA ........................................................................................ 7
3.1 O MITO .............................................................................................................................................. 9
4 OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS ............................................................................................... 13
4.1 O PENSAMENTO JÔNICO ............................................................................................................ 14
4.2 ANAXIMANDRO ............................................................................................................................ 15
4.3 ANAXÍMENES ................................................................................................................................. 16
4.4 HERÁCLITO DE ÉFESO ................................................................................................................. 17
4.5 PITÁGORAS DE SAMOS ............................................................................................................... 18
4.6 XENÓFANES .................................................................................................................................... 19
4.7 PARMÊNIDES .................................................................................................................................. 19
4.8 EMPÉDOCLES ................................................................................................................................. 21
4.9 OS ATOMISTAS: LEUCIPO E DEMÓCRITO .............................................................................. 22
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 24
TÓPICO 2 – A SINGULARIDADE DO SABER FILOSÓFICO ...................................................... 25
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 25
2 O QUE É A FILOSOFIA? ..................................................................................................................... 25
3 A FILOSOFIA E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO ................................................................... 29
4 A FILOSOFIA E OUTRAS FORMAS DE SABER ..........................................................................31
5 O CONHECIMENTO MÍTICO E RELIGIOSO .............................................................................. 31
6 CONHECIMENTO DO SENSO COMUM OU EMPÍRICO ......................................................... 33
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 34
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 35
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 36
TÓPICO 3 – OS PRINCIPAIS CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA .......................... 37
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 37
2 ÉTICA, MORAL E POLÍTICA ........................................................................................................... 37
2.1 ÉTICA E MORAL ............................................................................................................................. 38
2.2 POLÍTICA ......................................................................................................................................... 40
3 ESTÉTICA .............................................................................................................................................. 41
4 EPISTEMOLOGIA ............................................................................................................................... 44
4.1 DESCARTES E O RACIONALISMO MODERNO ...................................................................... 45
4.2 HUME E O EMPIRISMO ................................................................................................................ 48
5 LÓGICA E LINGUAGEM ................................................................................................................... 51
5.1 LÓGICA E LINGUAGEM EM PLATÃO E ARISTÓTELES ....................................................... 52
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 56
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 57
sumário
VIII
UNIDADE 2 – DO PERÍODO CLÁSSICO À FILOSOFIA ESCOLÁSTICA ................................ 59
TÓPICO 1 – O PERÍODO CLÁSSICO DA FILOSOFIA .................................................................. 61
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61
2 SÓCRATES E OS SOFISTAS: UMA MUDANÇA DE PERSPECTIVA ...................................... 61
2.1 OS SOFISTAS E A SUA TÉCNICA: PANORAMA GERAL ....................................................... 65
2.2 SÓCRATES ........................................................................................................................................ 68
3 PLATÃO E A TEORIA DAS IDEIAS ................................................................................................ 74
3.1 TEORIA DAS IDEIAS...................................................................................................................... 76
4 O SISTEMA ARISTOTÉLICO ........................................................................................................... 79
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 85
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 86
TÓPICO 2 – FILOSOFIA HELENISTA ............................................................................................... 87
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87
2 CONTEXTO HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS GERAIS ...................................................... 87
3 EPICURISMO ........................................................................................................................................ 90
4 ESTOICISMO ........................................................................................................................................ 92
5 CETICISMO ........................................................................................................................................... 94
6 O NEOPLATONISMO ......................................................................................................................... 96
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 99
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100
TÓPICO 3 – FILOSOFIA MEDIEVAL: PATRÍSTICA E ESCOLÁSTICA ...................................101
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101
2 A FILOSOFIA PATRÍSTICA .............................................................................................................101
2.1 JUSTINO, O MÁRTIR ...................................................................................................................103
2.2 CLEMENTE DE ALEXANDRIA..................................................................................................104
2.3 ORÍGENES ......................................................................................................................................105
2.4 TERTULIANO ................................................................................................................................105
2.5 AGOSTINHO DE HIPONA .........................................................................................................107
2.6 BOÉCIO ...........................................................................................................................................109
3 O DESENVOLVIMENTO DA FILOSOFIA ESCOLÁSTICA ....................................................110
3.1 TOMÁS DE AQUINO ...................................................................................................................114
3.2 SABER E FÉ EM TOMÁS DE AQUINO .....................................................................................115
3.3 AS CINCO PROVAS SOBRE A EXISTÊNCIA DE DEUS EM TOMÁS DE AQUINO .........116
4 O DECLÍNIO DA ESCOLÁSTICA ..................................................................................................118
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................120
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................122
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................123
UNIDADE 3 – FILOSOFIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA ...............................................125
TÓPICO 1 – FILOSOFIA MODERNA ...............................................................................................127
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127
2 CONTEXTO DE TRANSFORMAÇÕES E O FLORESCER DA “MODERNIDADE” ..........127
3 A EPISTEMOLOGIA MODERNA ..................................................................................................131
3.1 EPISTEMOLOGIA RACIONALISTA .........................................................................................1313.2 O EMPIRISMO INGLÊS...............................................................................................................134
IX
4 A MODERNIDADE E A POLÍTICA ..............................................................................................136
4.1 MAQUIAVEL .................................................................................................................................136
4.2 HOBBES E O CONTRATO SOCIAL ...........................................................................................139
4.3 ROUSSEAU E O ESTADO DE NATUREZA ..............................................................................147
5 TRADIÇÃO ILUMINISTA ...............................................................................................................149
5.1 TRADIÇÃO ILUMINISTA FRANCESA .....................................................................................150
5.2 TRADIÇÃO ILUMINISTA ALEMÃ ............................................................................................152
6 IDEALISMO ALEMÃO E A CRISE DA MODERNIDADE .......................................................154
7 MARX E O MATERIALISMO HISTÓRICO .................................................................................159
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................161
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................163
TÓPICO 2 – FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA ..............................................................................165
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165
2 FILOSOFIA ANALÍTICA ..................................................................................................................165
3 FENOMENOLOGIA ..........................................................................................................................166
4 EXISTENCIALISMO ..........................................................................................................................169
5 A ESCOLA DE FRANKFURT ...........................................................................................................170
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................173
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174
TÓPICO 3 – FILOSOFIA NO BRASIL ..............................................................................................175
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175
2 FILOSOFIA NO BRASIL: HERANÇAS EUROPEIAS ................................................................175
3 FILOSOFIA LATINO-AMERICANA E A ÉTICA DA LIBERTAÇÃO .....................................178
4 FILOSOFIA, POLÍTICA E EDUCAÇÃO NO BRASIL ................................................................180
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................183
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................187
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................188
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................189
X
1
UNIDADE 1
ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA 
FILOSOFIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 Esta unidade tem por objetivos:
• identificar os principais elementos históricos e culturais que possibilita-
ram o surgimento da filosofia no contexto grego;
• distinguir os temas e problemas da investigação filosófica no contexto pré-
-socrático;
• relacionar a filosofia com as outras formas de conhecimento e especificar 
as suas principais características;
• analisar os principais campos de investigação filosófica.
Esta unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles você encontrará 
atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
TÓPICO 1 – A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
TÓPICO 2 – A SINGULARIDADE DO SABER FILOSÓFICO
TÓPICO 3 – OS PRINCIPAIS CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
1 INTRODUÇÃO
O surgimento da filosofia define uma nova relação entre o homem e o seu 
meio. Há um consenso entre os historiadores de que, apesar de todos os povos 
tentarem compreender os mistérios da realidade através de seus mitos, somente 
os gregos foram capazes de passar da interpretação mítica para uma perspectiva 
fundamentalmente racional, originando assim a filosofia.
Evidentemente, há uma série de nuances entre a passagem do mito para 
a filosofia, e a delimitação precisa de onde começa um ponto e termina o outro 
não é tão clara. Explicitar estes elementos é uma forma de romper com alguns 
pressupostos nem sempre legítimos academicamente, além de carregados de 
juízos no mínimo anacrônicos.
Considerando toda esta complexidade, o objetivo deste tópico é levar 
você, caro(a) acadêmico(a), a trilhar o percurso histórico, político e econômico 
que possibilitou à Grécia criar esta forma de conhecimento, caracterizando os 
principais filósofos desse período e distinguindo os seus pensamentos das 
interpretações que os precediam.
DICAS
Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o contexto de formação da Grécia 
e de sua cultura, leia o livro: VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Rio 
de Janeiro: DIFEL, 2004.
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
4
2 CONTEXTO HISTÓRICO: O “MILAGRE GREGO”
No século III, um importante compilador dos ditos e fatos ligados aos 
filósofos gregos, Diôgenes Laêrtios, defendeu com absoluta convicção que o 
nascimento da filosofia havia ocorrido entre os gregos. Para ele, esta informação 
não continha nada de absurdo, pois, segundo a sua interpretação, “a própria raça 
humana” começou entre os helenos (LAÊRTIOS, 2008, p. 13).
O interessante é que antes de ser tão categórico sobre este ponto, Diôgenes 
expõe uma série de argumentos, atribuindo aos bárbaros o registro de paternidade 
sobre a filosofia. Embora ele faça isso para imediatamente rechaçar essa ideia, 
ainda assim expõe alguns elementos que sinalizam para problemas inerentes 
à análise histórica, como, por exemplo, a desmedida exaltação de um único 
responsável pela origem da filosofia, desconsiderando o seu desenvolvimento 
como algo decorrente de várias interações culturais, cuja contribuição de outros 
povos, possivelmente, também fora essencial.
Para além de leituras autorreferenciadas, em que os gregos são tomados 
como um gênio especial, cuja singularidade se relaciona não apenas com o 
nascimento da reflexão filosófica, mas também com o da própria cultura ocidental, 
essa descrição nos adverte sobre dificuldades que certamente estão incluídas na 
investigação sobre a origem da filosofia.
É evidente que não podemos excluir a atribuição outorgada com pleno 
direito à inteligência grega pelo papel fundamental que ela desempenhou na 
aurora da filosofia, mas nos cabe, enquanto estudiosos, ponderar sobre os seus 
limites e sobre os problemas que envolvem esta questão.
Supostamente, uma das alternativas mais eficazes para superarmos essa 
individuação cultural tem sido considerar o contexto e os acontecimentos que 
sublinharam a origem da filosofia. E neste sentido, há um aspecto particular que 
parece gerar uma conformidade de opiniões curiosas, dado que nem sempre 
encontramos pontos de tamanha convergência teórica entre os filósofos.Pontualmente, a segurança desse procedimento seria pressuposta 
através da ideia de que existiu um “rompimento” entre o pensamento mítico e o 
pensamento racional. Para os que adotam essa perspectiva, os gregos inauguraram 
uma forma de pensar que gradualmente elevou-se em relação ao saber mítico até 
então predominante, transformando o modo como os homens deveriam entender 
e interpretar os fenômenos da natureza e a sua relação com a realidade. Visto 
dessa maneira, esse novo período pode ser concebido como algo diametralmente 
distinto, permitindo-nos apontar quando e onde surgiu a filosofia.
O final do século VII a.C. e início do século VI a.C. delimitariam o 
“quando”, sendo tomados como marco para essa transformação. Por sua vez, 
as colônias gregas da Ásia Menor indicariam “onde” essa nova maneira de ver 
o mundo começou, além de especificar um grupo de personagens e temas para 
as primeiras reflexões filosóficas. Antes de especificar essas reflexões, talvez seja 
importante contextualizar um pouco mais estes aspectos.
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
5
DICAS
Para melhor assimilação do conteúdo sobre o contexto histórico e de formação 
da Grécia, assista ao filme “Troia”.
Sinopse:
Na Grécia antiga, a paixão de um dos casais mais lendários da História, Páris, príncipe de 
Troia, e Helena, rainha de Esparta, desencadeia uma guerra que irá devastar uma civilização. 
Páris rouba Helena de seu marido, o rei Menelau, e este é um insulto que não pode ser 
tolerado. A honra da família determina que uma afronta a Menelau seja considerada uma 
afronta a seu irmão Agamenon, o poderoso rei de Micenas, que logo une todas as tribos 
da Grécia para trazer Helena de volta, em defesa da honra do irmão. Na verdade, a busca 
de Agamenon por honra é suplantada por sua ganância – ele precisa controlar Troia para 
garantir a supremacia de seu vasto império. A cidade cercada de muralhas, comandada pelo 
rei Príamo e defendida pelo poderoso príncipe Heitor, é uma fortaleza que nenhum exército 
jamais conseguiu invadir. A chave da derrota ou da vitória sobre Troia é um único homem: 
Aquiles, tido como o maior guerreiro vivo.
Direção: Wolfgang Petersen
País de origem: EUA
Gênero: Épico
Duração: 2h43min.
Distribuidora: Warner Bros
Ano de lançamento: 2004
FONTE: Disponível em:<http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?
cdfilme=1916>.
2.1 FORMAÇÃO DO POVO GREGO
Por volta de 2000 a 1900 anos a.C., uma série de povos indo-europeus 
fixou-se na Grécia continental e, paulatinamente, passaram a colonizar a região, 
até então habitada por grupos neolíticos originários ou influenciados pelo Oriente 
Próximo. Entre os povos indo-europeus estavam os cretenses, habitantes da Ilha 
de Creta, e os aqueus, um grupo que, ao conquistar as ilhas da Ásia Menor, deu 
origem à chamada civilização micênica, marcada, sobretudo, pelo poder de sua 
realeza e de seu sistema palaciano.
Para Vernant (2004, p. 25), este período ainda pode ser caracterizado pelo 
intercâmbio de relações entre Ocidente e Oriente, em que parte da cultura grega 
pôde se espalhar, mas também sofrer influências orientais. Igualmente importante 
é o fato de ter havido, neste período, uma constituição social que nos permite 
compará-la com os grandes estados orientais próximos, justamente por ser:
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
6
Centralizado em torno do palácio cujo papel é ao mesmo tempo 
religioso, político, militar, administrativo e econômico. Neste sistema 
de economia, que se denominou palaciana, o rei concentra e unifica 
em sua pessoa todos os elementos do poder, todos os aspectos da 
soberania (VERNANT, 2004, p. 24).
Constituída por uma alta burocracia, centrada nos palácios e no forte 
poder desempenhado pelo rei, cada aspecto da vida micênica era controlado, 
desde as produções técnicas, passando pela vida rural e econômica. Tudo era 
devidamente registrado pelas classes sacerdotais e pelos funcionários da corte.
Essa organização social se destitui apenas no século XII a.C., pelo ímpeto 
das tribos dóricas, que mediante suas armas de ferro marcharam em direção 
ao sul da Península Balcânica e arrasaram as colônias micênicas, já bastante 
desenvolvidas. Ao se estabelecerem no Peloponeso, os dórios causaram um forte 
terror na região e uma dispersão dos povos que ali estavam, marcando assim o 
fim de uma era e o início da civilização helênica.
UNI
A civilização micênica já conhecia a escrita, possuía armas e instrumentos de 
bronze e era bastante desenvolvida na agricultura, no artesanato e no comércio.
De certa forma, todo conjunto estrutural da sociedade se desfez após 
essas invasões, e é a derrocada desse sistema que causará uma “reconsideração” 
fundamental do universo espiritual grego, gerando uma nova estrutura social, 
política e econômica. O rei e sua classe de administradores e servos, que até então 
exerciam um controle rigoroso sobre uma ampla dimensão da vida, ao entrarem 
em declínio, concederam margens para que novas formas sociais viessem à tona. 
O período que sucede essas invasões dóricas (1100 a.C. – 800 a.C.) é 
bastante obscuro, mas o certo é que as colônias reconsideraram estes fatos e 
iniciaram algo que transformou radicalmente a região. Até então centrada em 
uma condição histórica que se baseava fundamentalmente na economia agrária, 
na centralidade do palácio e nas relações ainda tribais, os gregos viram surgir 
uma nova organização, menos hierárquica e instituída por uma forma particular 
de razão.
Aos poucos, a região voltou a se desenvolver economicamente, tornando 
as colônias mais prósperas. Consequentemente, o desmantelamento da sociedade 
agrária foi sentido com mais intensidade e a aristocracia acabou perdendo o seu 
espaço para uma nova classe de comerciantes e artesãos, o que fez com que aos 
poucos a estrutura urbana fosse se tornando o centro das relações.
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
7
Rotas comerciais começaram a ser criadas e a navegação e o comércio, nesse 
momento, transformaram-se em uma forma bastante profícua de restabelecer os 
laços com o Oriente. Todavia, para além dos contratos econômicos com estes 
povos, culturalmente os gregos vislumbram um pouco de seu próprio passado e 
a distância em que agora se encontrava.
Em plena renovação orientalizante, o Helenismo afirma-se como tal 
em face da Ásia, como se, pelo contato reatado com o Oriente, tomasse 
melhor consciência de si próprio. A Grécia se reconhece numa certa 
forma de vida social, num tipo de reflexão que definem aos seus 
próprios olhos sua originalidade, sua superioridade sobre o mundo 
bárbaro: no lugar do rei cuja onipotência se exerce sem controle, sem 
limite, no recesso de seu palácio, a vida política grega pretende ser o 
objeto de um debate público, em plena luz do sol na Ágora, da parte 
de cidadãos definidos como iguais e de quem o Estado é a questão 
comum (VERNANT, 2004, p. 6).
As novas expressões que acabaram surgindo como resultado dessas 
interações também desencadearam uma verdadeira transformação cultural. Com 
a falta de prestígio hereditário, os comerciantes, que também buscavam legitimar 
a sua ascensão, começaram a financiar a vida intelectual na região, patrocinando 
as artes e construindo uma série de monumentos.
No caso da religião e da política, um contínuo processo de laicização se 
desenvolveu. As formulações míticas perderam a sua força e, consequentemente, 
já não eram tão essenciais para determinar a vida pública. O discurso (logos) 
racional passou a ser preponderante na organização do Estado, que também 
requisitou uma reflexão moral e política. Tudo isto acabou contribuindo para o 
nascimento da razão filosófica.
3 A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
Concebemos as reflexões de Tales, Anaxímenes ou Heráclito como algo 
particularmente característico de uma nova forma de pensar, não apenas distinta, 
mas dotada de uma racionalidade superior aos poemas de Homero, às teogonias 
de Hesíodo ou, ainda, às concepções de sábios do Oriente.
Estaleitura da história, na verdade bastante corrente, tende a compreender 
o nascimento da filosofia como uma forte ruptura com a tradição religiosa e mítica 
ou, ainda, como uma espécie de “resposta” à incapacidade dessas expressões de 
continuar sustentando certas explicações sobre a realidade.
“O problema, porém, já assinalado por alguns historiadores é que não é 
tão fácil delimitar a fronteira temporal do momento em que surge o pensamento 
racional e termina a interpretação mítica” (JAEGER, 2003, p. 191). Por isso, este 
que parece ser um ponto não tão polêmico assim, na realidade ainda requer certos 
esclarecimentos.
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
8
O pensamento grego no período clássico experimentou uma série de inter-
relações envolvendo a vida política, econômica e religiosa, cujos personagens 
exerceram e sofreram influências mútuas. O nascimento da filosofia, gerado 
neste contexto, é fruto de uma dinâmica muito mais complexa, e se o pensamento 
jônico é visto como algo “novo”, não é porque antes dele a realidade não havia 
sido interrogada ou que o espanto (thambos) e a admiração diante do espetáculo 
do cosmos não constavam no discurso religioso, mas, sim, porque a própria 
dinâmica e transformação da sociedade requisitou uma nova perspectiva.
Um dos primeiros a consolidar uma leitura contraposta à ênfase dada à 
ruptura entre o pensamento mítico e a filosofia foi o historiador Werner Jaeger. 
Para ele, ao contrário de vermos a racionalidade como um elemento marcando 
as distinções entre estes dois campos, devemos perceber que é justamente isto 
que fornece um elo entre eles, mesmo que no interior da epopeia homérica e dos 
poemas de Hesíodo seja “tão estreita a interpenetração do elemento racional e do 
‘pensamento mítico’ que mal se pode separá-los” (JAEGER, 2003, p. 191).
Sob essa ótica, a filosofia não seria propriamente a origem do pensamento 
racional, na medida em que este já podia ser observado nas concepções míticas, 
mas a progressão dessa racionalidade. 
NOTA
Paideia é o termo usado para caracterizar a educação grega, no sentido de 
uma formação integral do homem, regulada por um ideal de excelência, que em grego 
denomina-se areté.
Para Jaeger, (2003, p. 192) a paideia grega era constituída por uma 
arquitetura unitária entre mito e filosofia, por isso podemos ver estes elementos 
se interpenetrarem no período clássico:
Não é fácil definir se a ideia dos poemas homéricos, segundo a qual 
o Oceano é a origem de todas as coisas, difere da concepção de Tales, 
que considera a água o princípio original do mundo; seja como for, é 
evidente que a representação do mar inesgotável colaborou para a sua 
expressão. Em todas as partes da Teogonia de Hesíodo reina a vontade 
expressa de uma compreensão construtiva e uma perfeita coerência na 
ordem racional e na formulação dos problemas.
Esta é uma perspectiva bastante importante para reconsiderarmos a 
história da filosofia, e certamente nos fornece uma chave de leitura contraposta 
à acentuação de rupturas mais marcantes. Contudo, ainda permanece imposta a 
necessidade de precisarmos melhor o que caracteriza e distingue a filosofia do 
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
9
mito. Em outros termos, superados os possíveis preconceitos que nos levam, do 
ponto de vista de uma racionalidade, a ver no mito algo de inferior, o fundamental 
seria tentar apreender o que há de inovador na reflexão filosófica.
DICAS
Para melhor assimilação do conteúdo sobre o contexto histórico da Grécia e de 
seus elementos culturais e míticos, assista ao filme “A Odisseia”.
Sinopse:
A epopeia de Ulisses/Odisseu, que deixa sua terra, Ática, para ir lutar na Guerra de Troia. 
Mas, por desafiar os deuses, passa anos vagando por estranhos lugares, enquanto a esposa 
Penélope tenta lhe esperar fielmente.
Direção: Andrey Konchalovsky
País de origem: EUA
Gênero: Épico
Duração:176min.
Distribuidora: Warner Bros
Ano de lançamento: 1997
FONTE: Disponível em: <www.filmesraros.com.br/Detalhes.asp?CodProd=6341>.
3.1 O MITO
De modo geral, é uma característica do mito narrar o princípio das coisas, 
como elas se originaram e receberam a sua ordem (cosmos). Preponderantemente, 
as narrativas míticas nos mostram que tudo teria ocorrido por meio da ação de 
alguma divindade ou, no caso do panteão olímpico, de várias divindades. 
Na Teogonia de Hesíodo, por exemplo, lemos a seguinte gênesis do cosmos:
Sim, bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, 
de todos sede irresvalável sempre, dos imortais que têm a cabeça do 
Olimpo nevado, e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias, 
e Eros: o mais belo entre Deuses imortais, solta-membros, dos Deuses 
todos e dos homens todos ele doma no peito o espírito e a prudente 
vontade. 
Do Caos Érebos e Noite negra nasceram. Da noite, aliás, Éter e Dia 
nasceram, gerou-os fecundada unida a Érebos em amor. Terra 
primeiro pariu igual a si mesma Céu constelado, para cercá-la toda 
ao redor e ser aos Deuses venturosos sede irresvalável sempre. Pariu 
altas Montanhas, belos abrigos das Deusas ninfas que moram nas 
montanhas frondosas. E pariu a infecunda planície impetuosa de 
ondas o Mar, sem o desejoso amor. Depois pariu do coito com Céu: 
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
10
Oceano de fundos remoinhos e Coios e Crios e Hipérion e Jápeto e 
Teia e Reia e Têmis e Memória e Febe de áurea coroa e Tétis amorosa 
(HESÍODO, 1995, p. 121).
Em Hesíodo, a explicação para a origem e funcionamento da realidade 
ocorre através daquilo que os gregos chamaram de cosmogonia ou teogonia, isto é, 
uma genealogia de deuses que personificavam elementos como a água e a terra, 
por exemplo.
Dessas mitologias, os gregos tentavam extrair explicações para uma série 
de questões, e muitas respostas também advinham das relações sexuais entre os 
deuses, ou ainda, por meio de suas guerras ou alianças, como no caso da guerra 
de Troia.
NOTA
Segundo Homero, em A Ilíada, a guerra teria começado com uma disputa entre 
as deusas Afrodite, Hera e Atena para saber quem entre elas era a mais bela. Como juiz, as 
divindades estabeleceram o príncipe troiano Páris, filho do rei Príamo. Afrodite conseguiu 
convencê-lo a julgar a favor dela, prometendo a ele a mulher mais bela entre os homens, a 
rainha de Esparta, Helena. Depois de vencer a disputa entre as deusas, Afrodite ajudou Páris a 
raptar Helena, fato que enfureceu o seu marido, o rei Menelau, que organizou um poderoso 
exército para lutar contra troianos e resgatar Helena.
De modo geral, as divindades eram vistas como muito próximas da vida 
cotidiana, presentes na chuva, na colheita, nos negócios, na guerra, na viagem, 
no mar etc. Por esta razão, o povo acreditava que os deuses poderiam conceder 
favores, retribuir os cultos a eles devotados ou se enfurecer caso alguma ordem 
fosse contrariada, manifestando, assim, ira, poder e autoridade (como no caso 
dos raios e trovões, materializando a fúria de Zeus).
Num contexto em que as cidades possuíam costumes tão diversos entre 
si, o mito acabava consolidando-se como um fator de unidade cultural, formando 
a visão de mundo do povo e explicitando o modo como se relacionavam com a 
natureza, como concebiam as suas ocupações, quais os seus costumes, valores, 
sentimentos e assim por diante.
Parte significativa do desenvolvimento intelectual grego foi consolidada 
primordialmente por poetas que contavam esses mitos, e mesmo depois do 
surgimento da filosofia, estes poemas continuaram a ser reverenciados como 
parte fundamental da cultura grega.
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
11
UNI
Além desse aspecto, a religião também desempenhava um papel de unificação 
cultural através das Olimpíadas, celebradas em honra a Zeus a cada quatro anos, na cidade 
de Olímpia.
Apesar de narrativas fantásticas, com apelo ao misterioso e ao mágico, os 
gregos depositavam plenamente a sua fé nessas histórias e as viam como confiáveis, 
seja porque elas eram efetuadas por poetas quediziam ter recebido autoridade 
direta de alguma divindade, especialmente as deusas ligadas à memória, ou 
porque se tratavam de histórias que remontavam os seus antepassados e o que 
eles vivenciaram.
De todo modo, isto ajudava a legitimar os mitos e os tornavam sagrados 
e inquestionáveis, orientando as ações humanas, segundo os preceitos revelados 
pelos deuses.
UNI
Neste caso, a oralidade desempenhava um papel fundamental, sendo 
responsável por transmitir de geração a geração as narrativas.
A força que caracterizava a aceitação do mito persistiu por séculos, 
mas, devido a uma série de transformações políticas e comerciais, o seu papel 
foi paulatinamente se reduzindo. Sua voz deixou de ser preponderante na 
explicação e organização do mundo. E aquilo que poderia ser considerado um 
aspecto especulativo e racional no próprio mito já não era mais suficiente para 
responder às novas demandas que os gregos viram surgir após as migrações das 
tribos dóricas.
A estrutura palaciana, por exemplo, que acabou ruindo, fez com que, 
junto com ela, a classe sacerdotal fosse enfraquecida. A aristocracia perdeu 
espaço e grupos de comerciantes e artesãos floresceram, fortalecendo a economia 
a partir de relações estabelecidas com países bastante avançados em termos de 
conhecimentos (especialmente com relação à geometria, à astronomia e à escrita).
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
12
O grande número de transações econômicas por volta dos séculos VII e 
VI a.C. levou as cidades a instituir algumas rotas comerciais, o que inicialmente 
ocorreu com as colônias jônicas, especialmente Mileto. Assim, estas cidades se 
consolidaram economicamente, e isto possibilitou à população gozar de certa 
prosperidade e tempo ocioso para refletir sobre os diversos conhecimentos que 
estavam adquirindo do contato com os povos de grande erudição, como os 
egípcios e sua matemática, por exemplo.
Entretanto, é principalmente com o surgimento e organização das 
chamadas Cidades-Estados, e com elas uma maior participação política dos 
cidadãos, que a religião terá o seu papel drasticamente reduzido e o discurso 
filosófico exaltado. Neste contexto, a política acaba se efetivando a partir do 
direito dos cidadãos e não da determinação divina revelada pelo mito.
Com isso, a expressão pública das opiniões, sua discussão e ajuizamento, 
ganharam a forma de deliberação sobre os assuntos comuns, calcada em uma 
estrutura lógica e não na autoridade.
A partir das especulações de milesianos, como Tales, Anaximandro 
e Anaxímenes, o século VI a.C. marca então um novo estilo de pensamento, 
favorecido por essas condições históricas e pela convicção de que o próprio 
homem poderia compreender e explicar a ordem e funcionamento do mundo.
Estes pensadores seguiram o mesmo mote das cosmogonias, considerando 
a origem da realidade como um problema fundamental, mas tentaram fornecer 
explicações sem se remeter ao mito, buscando as causas para a realidade nos 
objetos e substâncias naturais que a compunham, por isso esses filósofos também 
foram considerados physiólogos, isto é, teóricos da natureza (physis).
Essas explicações seguiram princípios nem sempre presentes no mito, 
como, por exemplo, a formulação de um discurso lógico e coerente, regido por 
um rigor conceitual bastante distinto. As formulações apresentadas não eram 
revestidas de dogmatismo e nem pretendiam ser absolutas. Ao contrário, assim 
como ocorria no contexto político da polis, estavam sujeitas aos debates e propostas 
alternativas. Tudo isso acabou transformando a cosmogonia em cosmologia, 
descaracterizando a realidade de sua forma divina e tratando-a como forças 
naturais ordenadas por um princípio racional.
Compreender este princípio e como ele era capaz de se transformar 
e ordenar o mundo foi o que levou os primeiros filósofos a formular algumas 
hipóteses, seguindo não mais a autoridade e a tradição mitológica, mas 
exclusivamente a razão (logos). E porque eles compreendiam que tanto o mundo 
quanto o homem compartilhavam deste mesmo logos, postularam que a realidade 
poderia ser apreendida pelo pensamento e transmitida pelo discurso. Nesse 
sentido, conforme assinala Chauí (2002, p. 40), a capacidade de generalização e 
abstração do pensamento também se tornou um elemento preponderante para 
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
13
a filosofia nascente, isto é, ajudou a fornecer “explicações de alcance geral (e 
mesmo universal), percebendo, sob a variação e multiplicidade das coisas e fatos 
singulares, normas e regras ou leis gerais da realidade (logos)”.
Esta dinâmica estava atrelada a dois dos principais termos da filosofia 
nascente, a physis (o mundo natural, do qual deriva o nosso conceito de natureza) 
e a arché (considerado o elemento primordial de todas as coisas). A physis seria 
aquilo que abarca toda a realidade, sendo a sua manifestação, e por isso pode ser 
percebida por nós pelos órgãos dos sentidos. Por sua vez, a arché representaria o 
princípio capaz de fornecer unidade e ordem (cosmos) a esta natureza tão vasta, 
e, por ser oculta aos nossos sentidos, seria apreendida apenas pelo pensamento.
4 OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
DICAS
Para conhecer os textos dos filósofos pré-socráticos, recomendamos a leitura 
fundamental da obra de G. Bornheim. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 2003.
A designação do termo “pré-socrático” é bastante artificial e reflete apenas 
a distinção entre os temas abordados por estes pensadores e os temas refletidos 
por Sócrates (470-399 a.C.). Como veremos adiante, Sócrates é considerado um 
marco na história da filosofia clássica por introduzir novos problemas, não mais 
centrados na physis, mas no próprio homem (anthropos).
A primeira grande dificuldade envolvendo a leitura dos pensadores pré-
socráticos está no fato de que suas obras estão quase todas perdidas. O que restou 
de seus pensamentos são fragmentos ou doxografias compiladas por filósofos que 
viveram em períodos posteriores a eles, como Aristóteles (IV a.C.) ou Simplício 
(século VI d.C.), por exemplo.
O problema tende a ser ainda maior, na medida em que estes compiladores 
nem sempre descreviam literalmente o texto original, mas os interpretavam ou 
os parafraseavam intencionalmente. As doxografias, na verdade, são uma síntese 
com alguns comentários, algo que jamais poderia substituir as obras destes 
filósofos.
Por se tratar de um resumo em época e contexto distantes, muitas vezes 
estes textos tendem a expressar os interesses de quem os resumiu, ou então, 
serem interpretados segundo categorias de pensamento já bastante distintas do 
autor original.
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
14
[Aristóteles] Era um filósofo interessado no valor filosófico de certa 
tese e completamente indiferente a preocupações com a precisão e o 
cuidado historiográficos. Até os fragmentos, que deveriam devolver 
os ipsissima verba do autor citado, devem ser considerados com 
extrema prudência, porque as supostas citações são extrapoladas de 
um contexto para serem inseridas noutro, muitas vezes diferente em 
medida considerável. Deste modo, eles correm o risco de perder o seu 
significado originário e de assumir um significado novo (DONINI; 
FERRARI, 2012, p. 14).
De modo geral, a recolha e a difusão de todo o material relativo aos escritos 
dos pré-socráticos se devem a este filósofo e à sua escola, especialmente ao seu 
discípulo Teofrasto, o que situa a compilação doxográfica em um período bastante 
posterior ao momento de sua composição original e com todos os problemas já 
assinalados. Apesar disso, este é o único material que nos permite reconstruir o 
pensamento pré-socrático. Portanto, o ponto fundamental é estarmos conscientes 
de todos os problemas que isso implica e da importância desse trabalho.
4.1 O PENSAMENTO JÔNICO
Tales é reconhecido pela tradição como o mais antigo dos filósofos. Sua 
origem parece ser fenícia, mas viveu na cidade de Mileto, na Jônia (Ásia Menor), 
no século VI a.C.Há muitos mitos e anedotas relacionados à figura de Tales, que, 
conforme Diôgenes Laêrtios, foi o primeiro dos Sete Sábios da Grécia arcaica.
Apesar de ter recebido a fama de teórico absoluto em seus pensamentos, 
Tales também realizou coisas muito práticas, como prever o tempo e fazer fortuna 
com olivas, dividir um rio e, principalmente, atuar como político, tentando 
unificar as cidades da Jônia.
Quanto ao seu pensamento filosófico, a ele se credita a hipótese de que foi 
o primeiro a afirmar que tudo havia se originado de um único princípio, a arché, 
embora o termo não seja efetivamente de Tales. Foi Aristóteles, em sua exposição 
sobre o pensamento de Tales, que cunhou e interpretou esse termo de maneira 
tão técnica:
A maior parte dos primeiros filósofos considerava que os princípios de 
todas as coisas reduziam-se aos princípios materiais. A partir destes, 
todas as coisas foram constituídas, o termo primeiro de sua geração 
e o termo final de sua corrupção – enquanto a substância permanece, 
apenas seus estados mudam – é isso que eles têm para o elemento 
e o princípio das coisas: também consideram que nada se cria e que 
nada se destrói, pois essa natureza é sempre conservada [...]. Para 
Tales, fundador dessa concepção filosófica, este princípio é a água 
(ARISTÓTELES, 2002, p. 165).
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
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O que fica sublinhado na consideração aristotélica é que originalmente 
a filosofia está interessada em indagar a origem de todas as coisas, o princípio a 
partir do qual todas as coisas se originaram. Tales teria sido o primeiro a explicitar 
essa concepção, identificando este princípio com a água.
Há, certamente, na concepção de Tales, uma alusão ao mito homérico, 
que sustentava que Oceano e Tétis eram, respectivamente, o pai e a mãe de 
todas as coisas. Todavia, há também muita distinção, pois a hipótese de Tales é 
sustentada pelo raciocínio (logos) e não pela imaginação mítica, como já expomos 
anteriormente.
 Nas palavras de Vernant (2004, p. 76), “o filósofo não se contenta em 
repetir em termos de physis o que o teólogo tinha expressado em termos de 
poder divino”. Há uma mudança profunda de vocabulário, agora “profano”, 
que corresponde a uma nova atitude de espírito, um clima intelectual totalmente 
diferente.
4.2 ANAXIMANDRO
Assim como Tales, Anaximandro também viveu em Mileto no século VI 
a.C. Foi discípulo de Tales, mas, graças à liberdade e ao caráter antidogmático da 
filosofia nascente, ele pôde contestar as ideias de seu mestre.
Para a tradição, Anaximandro foi o primeiro a escrever um livro de 
filosofia, um tratado Sobre a Natureza, que se perdeu completamente, restando 
apenas alguns fragmentos e doxografias feitas por outros filósofos.
Segundo as informações doxográficas, Anaximandro também foi o 
primeiro a usar o termo arché (princípio), afirmando que este era o apeíron 
(o ilimitado ou indeterminado). A privação de limites externos e internos – 
quantitativa e qualitativamente – seria aquilo que torna o apeíron o princípio de 
todas as coisas (limitadas quantitativa e qualitativamente), pois pode circundar e 
sustentar a tudo.
Nas palavras de Laêrtios (2008, p. 47), Anaximandro “afirmou que o 
princípio e o elemento eram o infinito, sem defini-lo como ar, ou água, ou qualquer 
outra coisa”. Para Simplício (apud BORNHEIM, 2003, p. 25), “é evidente que 
Anaximandro, ao observar a transformação recíproca dos quatro elementos, não 
quis tomar um destes como substrato, mas um outro diferente”.
Isto demonstra a grande novidade do pensamento de Anaximandro, 
identificando a arché como algo que não se confunde com nenhum elemento da 
natureza e que só pode ser alcançado pela abstração do pensamento. De fato, 
as ideias propostas por Anaximandro impressionam por sua lógica, conforme 
exemplifica a doxografia a seguir:
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
16
Diz ainda que, no princípio, o homem nasceu de animais de outra 
espécie, porque, enquanto os outros animais logo aprendem a nutrir-
se por si mesmos, o homem necessita de um longo período de lactação; 
por esta razão, não teria podido sobreviver em sua origem, tivesse sido 
assim como é agora. (BORNHEIM, 2003, p. 27).
Embora se contraponha às doutrinas de seu predecessor, Anaximandro 
ainda concede grande valor à água, chegando mesmo a afirmar que ela cobria 
toda a terra no início e que todos os seres vivos surgiram do mar, algo bastante 
avançado em termos de uma teoria evolucionista das espécies.
4.3 ANAXÍMENES
Também em Mileto, no século VI a.C., nasceu Anaxímenes. Segundo a 
tradição, “ele foi discípulo de Anaximandro, atuando na segunda metade do 
século VI a.C. Como seu mestre, escreveu um livro em prosa também intitulado 
Sobre a Natureza, do qual conhecemos apenas um fragmento” (BORNHEIM, 
2003, p. 28).
Para Simplício (apud BORNHEIM, 2003, p. 29), sua concepção sobre a 
physis difere de Anaximandro nos seguintes termos: ele afirma “uma única matéria 
ilimitada como substrato; não indeterminada, mas determinada, chamando-a de ar 
(pneuma): diferencia-se pela rarefação ou pela condensação, segundo a substância”.
Anaxímenes segue o mesmo mote de seu mestre, pensando a arché como 
infinita e ilimitada, mas, como bem notou Marilena Chauí (2002, p. 63), ele 
considerava o “apeíron de Anaximandro ainda muito próximo do caos descrito 
pelo mito”. Com isso, Anaxímenes compreendeu que, apesar de ilimitada, 
incorruptível e imortal, a physis deveria ser concebida a partir de um princípio 
melhor qualificado, no sentido de que “o pensamento só pode pensar o que 
possui determinações”.
Anaxímenes (apud BORNHEIM, 2003, p. 28) concebeu o ar como origem 
de todas as coisas, fazendo a seguinte analogia, descrita no único fragmento 
associado a ele: “Como a nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, assim também 
o sopro e o ar abraçam todo o cosmos”. Além disso, sua doxografia o mostra 
apreendendo a grande capacidade de variação do ar, mais do que qualquer outro 
elemento, e, por isso, prestando-se a fazer nascerem as demais coisas.
Segundo Anaxímenes, o processo pelo qual as coisas se transformam 
ocorre pela condensação e rarefação do ar: “Quando o ar se rarefaz, torna-se fogo; 
e quando se condensa, vento; com maior condensação, nuvem; se for mais forte, 
água; se mais forte ainda, terra; e com sua extrema condensação, transforma-se o 
ar em pedra”. (ANAXÍMENES apud BORNHEIM, 2003, p. 29). Assim, é a tensão 
da realidade originária que permitiria a variação de todas as coisas, e é esse 
processo dinâmico dos elementos físicos que fará do pensamento de Anaxímenes 
um paradigma para as gerações posteriores.
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
17
4.4 HERÁCLITO DE ÉFESO
Também na Jônia, mas não mais em Mileto, viveu Heráclito. Sua cidade 
de origem era Éfeso, e sua atuação ocorreu entre os séculos VI e V a.C. Sobre o seu 
pensamento, dispomos de mais de cem fragmentos, máximas com um tom oracular 
e difíceis de serem interpretadas (na realidade, desde a antiguidade, Heráclito 
leva o título de “O obscuro”). No entanto, nem por isso estes textos deixaram de 
ser bastante comentados, tanto na antiguidade quanto na modernidade.
Um dos aspectos mais valorizados por Heráclito no pensamento de seus 
antecessores foi a dinâmica pela qual as coisas se transformam. A mudança de 
perspectiva de Heráclito (mas também de Parmênides, como veremos) envolve, 
portanto, a ideia de “movimento” (kinesis). Nas palavras de Chauí (2002, p. 48), 
esta questão ganha a seguinte dimensão: “Partindo do uno (a physis), pergunta-se 
como o múltiplo é possível; ou partindo do múltiplo (o cosmos), pergunta-se como 
o uno é possível”.
 Enquanto Tales, Anaximandro e Anaxímenes buscavam desvelar 
o princípio das coisas, Heráclito refletirá sobre a dinâmica do devir e sobre o 
lugar do homem no interior desse processo. É o início de uma característica que 
paulatinamente irá se impor nos vários ramos da vida humana (como a ética, a 
política, a linguagem, a estética e assimpor diante).
A preocupação com o devir ou vir a ser levará, pouco a pouco, os 
filósofos a distinguir entre a aparência do mundo (os seres percebidos 
diretamente por nossos sentidos na experiência sensorial) e a 
verdade ou essência do mundo (o ser, alcançado exclusivamente pelo 
pensamento e, portanto, invisível como o antigo invisível dos poetas 
e adivinhos, mas um invisível racional e lógico) (CHAUÍ, 2002, p. 49).
Em um de seus fragmentos, “Heráclito diz que é sábio escutá-lo não 
porque ele fala por si, mas porque o logos o dirige” (BORNHEIM, 1971, p. 39), 
isto é, a presença da razão no cosmos e em nós transmitiria alguns sinais da 
verdade, sendo estes apreendidos pelo pensamento e pelo discurso. A principal 
característica do pensamento de Heráclito será, portanto, tomar a ideia de 
princípio (arché) como movimento (kinesis).
Para Heráclito, tudo se move, nada permanece fixo. É o que prescreve o seu 
mais famoso fragmento: “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio. Dispersa-
se e reúne-se; avança e se retira” (BORNHEIM, 2003, p. 41). Há uma mudança 
contínua de todas as coisas (do rio, de nós mesmos, de tudo), e compreender que 
o mundo é esse movimento perpétuo é apreender a verdade da realidade.
Desse princípio se desdobra outra tese fundamental, de que no devir 
tudo está destinado a uma passagem de um contrário ao outro: “Tudo se faz por 
contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia” (BORNHEIM, 2003, 
p. 36). O que é úmido e seco, as coisas frias esquentam, o que é jovem envelhece 
e o que é vivo morre. 
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
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Há uma guerra perpétua entre os contrários, mas é precisamente isto que 
produz a harmonia, “a harmonia invisível, mais forte que a visível” (BORNHEIM, 
2003, p. 39). A verdade consistiria em captar, para além dessa contradição aparente 
e que notamos através de nossos sentidos, a razão (logos) que tudo governa.
4.5 PITÁGORAS DE SAMOS
Pitágoras é uma das figuras mais populares do pensamento antigo. Viveu 
no fim do séc. VI a.C. e morreu no início do século V a.C. Nascido na Jônia (em 
Samos), foi obrigado a emigrar para o sul da Itália, em Crotona, depois que as 
tropas persas ocuparam a sua ilha.
Pitágoras não deixou nada escrito e sua vida foi desde cedo envolta em 
uma série de mitos, como, por exemplo, que era filho de Apolo e que recebeu por 
revelação divina a sua filosofia.
Na cidade de Crotona, Pitágoras fundou uma comunidade cercada por 
mistérios. Além de compartilhar uma perspectiva filosófica, seus membros 
também adotavam as mesmas convicções religiosas. Da reunião deste grupo 
surgiu o pitagorismo, conhecido por seu misticismo e por sua concepção filosófica 
proeminentemente matemática. Os escritos que assinalam este fato são tardios, e 
apenas nos fornecem algumas orientações sobre aquilo que Pitágoras realmente 
pensou.
Para Pitágoras, a physis também foi um problema fundamental, cuja resposta 
foi dada afirmando que todas as coisas seriam números. Tradicionalmente, essa 
afirmação remete aos exercícios espirituais da comunidade, que eram realizados 
ao som da lira órfica.
Pitágoras teria observado que a diferença entre o tom de duas notas numa 
escala harmônica obedecia a princípios e regras que podiam ser expressos de 
forma numérica. 
Observando também as relações e leis dos números com as harmonias 
musicais, parece-lhes, por outro lado, que toda a natureza modelada, 
segundo os números, sendo estes os princípios da natureza, supôs 
que os elementos dos números são os elementos de todas as coisas 
e que todo o universo é harmonia e número (ARISTÓTELES apud 
BORNHEIM, 2003, p. 50).
Com esse argumento foi possível a Pitágoras estabelecer uma analogia 
entre o som, na verdade número, e toda a realidade, vista da mesma forma como 
um sistema ordenado de proporções, portanto uma realidade que também seria 
numérica.
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
19
4.6 XENÓFANES
Xenófanes nasceu na Jônia no século VI a.C., mas se dirigiu para a Magna 
Grécia, no sul da Itália, e por isso é considerado o precursor do pensamento 
dos eleatas. Sua contribuição também está em ter introduzido uma concepção 
do “Ser”, bastante atrelada a uma certa visão teológica e que será retomada por 
Parmênides sob uma perspectiva ontológica.
Não sabemos quase nada sobre a sua vida, a não ser que atacou duramente 
a visão religiosa de seu tempo e a concepção antropomórfica dos deuses. Enfatizou 
que os deuses são sempre caracterizados pelos homens a partir da imagem que 
eles possuem de si mesmos. Em duas sátiras atribuídas a ele, lemos que:
Os mortais imaginam que os deuses são engendrados, têm vestimentas, 
voz e forma semelhantes a eles. 
Tivessem os bois, os cavalos e os leões mãos, e pudessem, com elas, 
pintar e produzir obras como os homens, os cavalos pintariam figuras 
de deuses semelhantes a cavalos, e os bois semelhantes a bois, cada 
(espécie animal) reproduzindo a sua própria forma (BORNHEIM, 
2003, p. 32).
Embora tenha aceitado as ideias naturalistas dos primeiros filósofos, 
Xenófanes não se preocupou em buscar respostas para o que seria essa substância 
primordial que adquire tantas formas, mas, sim, o que a faz mudar. Além 
disso, diante da multiplicidade do universo, concebia a unidade como um deus 
(divindade única, não gerada, que a tudo governa mediante o puro pensamento).
4.7 PARMÊNIDES
Parmênides de Eleia nasceu no fim do século VI a.C. e morreu em meados 
do século V a.C. Possivelmente influenciado por Xenófanes, aceitou a tese de uma 
natureza absoluta da realidade, mas transformou o seu postulado religioso em 
algo estritamente filosófico ou ontológico.
Parmênides foi um grande contraste em relação a Heráclito, expondo sua 
principal tese a partir de dois postulados, expressos em seu mais célebre fragmento:
Vou dizer-te dos únicos caminhos de investigação concebíveis. O 
primeiro (diz) que (o ser) é e que o não ser não é; este é o caminho da 
convicção, pois conduz à verdade. O segundo, que não é, e que o não 
ser é necessário; esta via, digo-te, é imperscrutável, pois não podes 
conhecer aquilo que não é – isto é impossível –, nem expressá-lo em 
palavra (BORNHEIM, 2003, p. 55).
Esta é uma clara estratégia para refutar as teses heraclitianas, cuja 
concepção propunha que a existência de algo implica necessariamente a existência 
de seu contrário. Por sua vez, para Parmênides, se algo existe, ele não pode ser 
outra coisa, sobretudo o seu contrário.
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
20
Portanto, o Não Ser não é, simplesmente não pode existir e, 
consequentemente, não pode ser pensado ou conhecido. Conforme Chauí (2002, 
p. 91), “pela primeira vez é afirmada a identidade entre ser, pensar e dizer, ou 
entre mundo, pensamento e linguagem”.
Estas considerações colocam outro problema, também relacionado com 
o que propunha Heráclito, a saber, tentar responder ao que seriam as constantes 
variações e mudanças no mundo. Para Parmênides, tratam-se de ilusões, próprias 
de opiniões geradas a partir dos sentidos e não da razão (logos). Não podemos 
confiar nelas porque são instáveis e não fornecem um conhecimento verdadeiro 
do Ser, que é, que não muda.
Se os sentidos nos enganam, se são condicionados e limitados, então, dirá 
Parmênides, devemos nos afastar da aparência sensorial para apreender o que 
há de essencial por detrás deles. Por conseguinte, o conhecimento da verdade se 
dará apenas mediante o uso de nossa razão, que, ao contrário, é capaz de produzir 
por meios lógicos e dedutivos um conhecimento verdadeiro das coisas.
Estas teses serão levadas ao extremo pelo discípulo de Parmênides, 
Zenão, também de Eleia. Nota-se que, ao afastar o pensamento puro da realidade 
sensorial, Parmênides obtém premissas que contrariam a própria realidade 
observável. Por exemplo, apesar de vermos a mudança no mundo: sementes 
se transformando em árvores, crianças crescendo, seres vivos morrendo etc., 
Parmênides dirá que pela razão podemos saber que o ser éna verdade imutável.
Questões como essas foram problematizadas ainda mais por Zenão, em 
seus famosos paradoxos. Para Zenão, se aceitamos que só há um ser, único e 
imóvel, o movimento é uma mera ilusão. Pensemos no movimento de uma flecha, 
diz Zenão: para que ela alcance um alvo, precisaria ocupar a cada movimento um 
espaço igual a si mesma, estando, consequentemente, sempre parada. A ideia de 
movimento, portanto, submetida à lógica do pensamento seria um absurdo.
Temos então que, após essas reflexões, a filosofia terá que lidar com o 
impasse de conciliar a ideia de um Ser, único e imóvel, com aquilo que nossos 
sentidos nos fornecem. 
Se é verdade que os pitagóricos foram em busca da estrutura invisível 
das coisas e que Heráclito contrapôs o pensamento e a experiência 
sensorial, também é verdade que somente com os eleatas a filosofia 
chega à compreensão de que o pensamento não só difere da experiência 
sensorial, mas possui leis próprias de operação e tem o poder para 
refutar o testemunho dos sentidos (CHAUÍ, 2002, p. 101).
TÓPICO 1 | A PASSAGEM DO MITO À FILOSOFIA
21
4.8 EMPÉDOCLES
Os argumentos colocados por Heráclito, Parmênides e Zenão impuseram 
à filosofia ter que pensar a physis a partir de uma perspectiva metodologicamente 
diferente daquela usada pelos primeiros naturalistas. 
Nas palavras de Donini e Ferrari (2012, p. 39), era necessária:
Uma mudança que fosse capaz de defender a pesquisa naturalista dos 
erros lógicos evidenciados pelos eleatas, garantindo ao mesmo tempo 
direito de cidadania às duas características constitutivas da natureza: 
a multiplicidade e o movimento. 
Em outros termos, a questão agora era ter que conciliar a ideia de que o ser 
é, devido à sua permanente identidade, sempre igual a si mesma, mas também a 
multiplicidade da experiência e a transformação das coisas. O primeiro a tentar 
realizar esta conciliação foi Empédocles.
Nascido no início do século V a.C., em Agriento, na Sicília, Empédocles 
era descendente de uma família bastante influente na região. Por se envolver com 
a política da cidade, foi desterrado depois que uma tirania se instalou no lugar. 
Além de filósofo, atuou como poeta, dramaturgo e médico.
Seu pensamento sofreu a influência de tudo o que havia sido proposto 
nos 100 anos anteriores a ele, desde o pensamento jônico até o eleatismo. Deste 
último, valorizou o vínculo dado à pesquisa sobre a physis com novas exigências 
lógicas. Sua concepção parte do mesmo princípio de Parmênides, vendo como 
impossível a concepção do Ser e o Não Ser simultaneamente.
A vida e a morte, por exemplo, são interpretadas equivocadamente, 
diria Empédocles. O que ocorre, na verdade, é um processo de composição 
e dissociação daquilo que ele chamou de “raízes de todas as coisas”, quatro 
substâncias eternamente iguais e indestrutíveis. Nas palavras de Aristóteles 
(apud BORNHEIM, 2003, p. 82):
Empédocles admite como princípio quatro (elementos), acrescentando 
(à água, ao ar e ao fogo) a terra como quarto. Estes, diz ele, são eternos 
e não foram gerados, mas se unem em quantidade maior ou menor à 
unidade e dela separam-se novamente.
Ao contrário dos jônios, Empédocles é mais pluralista e, portanto, não 
prioriza somente um dos elementos, mas vê os quatro como um só “princípio”, 
transformando-se nas demais coisas. Como força capaz de unir ou separar tais 
elementos, Empédocles introduziu a ideia de Amor e Ódio, ou ainda, Amizade e 
Discórdia. Quando há o predomínio do Amor, há também união, e, por sua vez, 
quando prevalece o Ódio, há a separação.
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
22
4.9 OS ATOMISTAS: LEUCIPO E DEMÓCRITO
O primeiro a desenvolver uma teoria atomista, última tentativa de 
resolver os problemas advindos dos eleatas, foi Leucipo, no final do século V 
a.C. Leucipo era provavelmente de Mileto, mas foi para a Itália e ali conheceu a 
filosofia eleata. De Eleia foi para Abdera, onde fundou uma escola que, por meio 
do seu discípulo mais ilustre, Demócrito, alcançou grande difusão. Demócrito 
chegou a ser contemporâneo de Sócrates, vivendo no século IV a.C.
Os atomistas aceitavam parte da visão de Parmênides sobre a natureza 
do Ser, afirmavam também a impossibilidade do Não Ser e viam o nascer e 
morrer como Empédocles, isto é, como um agregar e um desagregar de coisas já 
existentes. A isto eles acrescentaram a ideia de um número infinito de entidades, 
chamadas de átomos (não divisível ou indivisível).
Estes átomos são concebidos como diferentes em tamanho e forma, 
movimentando-se constantemente. Ao se chocar, eles produziriam as combinações 
das quais resultariam as coisas e, como são infinitos os números de átomos, 
também são infinitas as possibilidades de combinações entre eles. A ordem para 
essas combinações estaria em certa relação mecânica entre os átomos, não sendo, 
portanto, possível estabelecer uma ordem final para elas.
O que permitiria o movimento destes átomos é o vazio entre eles, mas, ao 
mesmo tempo, este vazio é a sua negação. Assim, átomo (Ser) e vazio (Não Ser) 
representariam o princípio explicativo do universo. Para além disso, só existiria a 
mera opinião, pois os atomistas não aceitavam que a aparência do mundo poderia 
levar o filósofo a conhecer a verdade. 
Em um de seus escritos, Demócrito (apud BORNHEIM, 2003, p. 107) diz que:
Há duas formas de conhecimento, uma autêntica e a outra obscura 
(inautêntica). À obscura pertencem todos os seguintes: a vista, 
o ouvido, o olfato, o gosto, o tato; a outra é autêntica, daquela 
completamente separada.
Para além dessas observações, o pensamento de Demócrito e Empédocles 
também introduziu vários problemas relacionados à vida do homem, como 
as questões em torno da técnica e suas consequências éticas. Como assinala 
Chauí (2002), estes pensadores fizeram vários elogios às técnicas como aquilo 
que possibilitou ao homem inventar a si mesmo, responsabilizando-se por sua 
própria organização.
Abandonando as respostas míticas sobre a origem do homem e da 
sociedade, eles acabaram afirmando que “no princípio, o mundo humano não 
tinha ordem nem lei” (CHAUÍ, 2002, p. 127), por isso começaram a se reunir em 
grupo e a construir instrumentos para sobreviver. Estes elementos fizeram destes 
pensadores “filósofos de transição”, preocupados com as questões cosmológicas, 
típicas dos pré-socráticos, mas também atentos às questões antropológicas que 
marcaram o período socrático.
23
Neste tópico você estudou:
• O contexto histórico de formação da Grécia e as especificidades da cultura 
helênica permitiram o desenvolvimento progressivo do pensamento filosófico.
• A complexidade e as inter-relações culturais, políticas e econômicas 
possibilitaram ao pensamento grego a crítica filosófica e suas primeiras 
investigações sobre a physis.
• A ideia de que a distinção entre mito e filosofia possui certa nuance e é difícil 
de determinar com clareza os seus limites. 
• A ideia de que a interpenetração entre mito e filosofia é algo considerável neste 
momento histórico.
• Os filósofos pré-socráticos são caracterizados assim não porque simplesmente 
viveram antes de Sócrates, mas por conta da especificidade temática de suas 
investigações.
• Os filósofos pré-socráticos são aqueles que, investigando a physis, procuraram 
determinar a sua arché.
• Os principais pensadores deste período são aqueles que compuseram a escola 
jônica (Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Xenófanes e Heráclito); a escola 
pitagórica (cujo fundador e principal pensador foi Pitágoras de Samos); a 
escola eleata (Parmênides e Zenão); e a escola atomista (Leucipo e Demócrito).
RESUMO DO TÓPICO 1
24
1 Considerando a ideia de “milagre grego”, assinale com um “X” quais 
elementos históricos contribuíram para o desenvolvimento do pensamento 
filosófico:
a) ( ) A derrocada da civilização micênica após as invasões dóricas e a 
descentralização do poder aristocrático.
b) ( ) O florescimento comercial e o contato com povos e culturas mais 
desenvolvidos.
c) ( ) A intervençãoe inspiração divina sobre o desenvolvimento técnico.
d) ( ) A laicização da religião e da política.
e) ( ) A imigração de povos orientais.
2 A partir da doxografia a seguir, situe a reflexão entre os autores pré-
socráticos e explicite a distinção entre o pensamento filosófico deste período 
e o conhecimento mítico:
Dizem que a água é o princípio. As aparências sensíveis os conduziram 
a esta conclusão; porque aquilo que é quente necessita de umidade para viver, 
e o que é morto seca, e todos os germes são úmidos, e todo alimento é cheio de 
suco; ora, é natural que cada coisa se nutra daquilo de que provém; a água é o 
princípio da natureza úmida, que mantém todas as coisas; e assim concluíram 
que a água é o princípio de tudo e declararam que a terra repousa sobre a água. 
(SIMPLICIUS apud BORNHEIM, 2003).
AUTOATIVIDADE
25
TÓPICO 2
A SINGULARIDADE DO SABER FILOSÓFICO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Perguntas como “O que é a filosofia?”, apesar de paradigmáticas, podem 
ser respondidas de diferentes maneiras, sobretudo se olharmos para a história da 
filosofia, que desde a sua origem tem gerado não uma, mas várias tradições que 
ora dialogam entre si, ora se contrapõem.
A explicitação desse embate é na verdade uma forma de compreender que 
as respostas dadas a perguntas como estas implicam um exercício tipicamente 
filosófico, uma reflexão que seja capaz de problematizar os saberes estabelecidos 
e não apenas reproduzi-los.
Além de caracterizar como alguns filósofos interpretaram a identidade 
da filosofia, o objetivo deste tópico é tentar especificar os seus principiais campos 
de atuação e a sua singularidade com relação a outras formas de conhecimento, 
oferecendo a você, acadêmico(a), algumas chaves de leitura para pensar problemas 
como este.
2 O QUE É A FILOSOFIA?
Tentar responder à questão “O que é a filosofia?” não é uma tarefa fácil, 
dada a particularidade desse saber e da própria questão. Ao longo da história, 
este problema foi enfrentado por vários pensadores, e por isso temos um acervo 
com incontáveis alternativas. Perspectivas e modelos que variam não apenas de 
uma época longínqua para outra, mas entre filósofos que foram contemporâneos 
entre si, o que nos adverte desde já a não presumir que só existe uma resposta 
realmente válida.
É este o papel fundamental da história da filosofia, ou seja, permitir-nos 
transitar de uma perspectiva para outra e perceber que ao longo dos séculos 
a própria filosofia foi compreendida de modos diferentes. Esta é também a 
particularidade da pergunta, isto é, o desafio filosófico que se impõe a nós em 
apreender e atualizar a história. Não se trata de tomarmos a filosofia apenas 
como um conjunto de respostas, algo que pudéssemos escolher à la carte, mas de 
constituir os nossos próprios caminhos, de filosofar.
UNIDADE 1 | ORIGEM E ESPECIFICIDADE DA FILOSOFIA
26
Há duas histórias clássicas que podemos tomar como modelo para 
refletir sobre esta afirmação. A primeira história nos ajuda a caracterizar melhor 
aquele que faz filosofia, o filósofo. A segunda, o sentido desse fazer.
Cícero, célebre orador do século I a.C., ao apresentar a filosofia aos 
romanos, narrou um episódio bastante interessante envolvendo Pitágoras. Diz 
ele que todos os que se aplicaram ao estudo contemplativo das coisas divinas e 
humanas receberam o título de sábios (sophos), mas esta definição teria persistido 
apenas até Pitágoras, e ele explica por quê.
Diz Cícero que, certo dia, Pitágoras dialogava com um príncipe e, em 
determinado momento, admirado com os seus conhecimentos, o príncipe o teria 
interrogado sobre qual ciência lhe parecia melhor. Pitágoras então afirmou que 
desconhecia uma ciência nesses termos, dizendo que era apenas um amigo (philo) 
da sabedoria (sophia), portanto, um filósofo (philo-sophos). A novidade do termo 
teria levado o príncipe a querer saber mais sobre o que viria a ser isto, ao que 
Pitágoras lhe respondeu com uma analogia:
Compare a vida do homem ao comércio que se fazia diante da Grécia 
reunida durante a solenidade dos jogos públicos. Assim como uns se 
vendem para brilhar nos exercícios do corpo e merecer a honra de uma 
coroa, outros vão para lá somente para obter algum lucro, vendendo 
ou comprando, enquanto existe uma terceira classe, e a mais nobre, 
que lá não procura nem os aplausos nem o lucro, que lá comparece 
somente para observar atentamente o que se faz e como as coisas se 
passam; da mesma forma, nós viemos de uma outra vida, de uma 
outra existência, como se vai de uma cidade a uma grande feira: uns, 
para procurar a glória; outros, dinheiro; um pequeno número somente 
desdenha todo o resto e aplica-se a bem estudar a natureza das coisas. 
São esses os homens que chamamos amigos da sabedoria, isto é, filósofos; 
e como nos jogos a posição mais nobre é a de assistir sem espírito de 
lucro, da mesma forma, na vida, o estudo e o conhecimento das coisas 
são preferíveis a todo o resto (CÍCERO apud DUMONT, 2004, p. 35). 
Esta história nos conduz à origem da palavra “filosofia” e apresenta o seu 
significado como o amor ou a amizade pela sabedoria. No entanto, ao fazer isto, 
também nos fornece alguma explicação sobre a especificidade daquele que é o 
amante do saber. Para Pitágoras, o filósofo é alguém que consegue se maravilhar 
com as coisas e faz isso porque nem mesmo a glória entre os seus pares (atletas 
olímpicos) ou a riqueza do mundo (interesses comerciais) lhe é preferível quando 
comparadas com o conhecimento.
“Em outra passagem, na qual Pitágoras também é descrito como o criador 
do termo, suas palavras assinalam para o fato de que a verdadeira sabedoria 
só cabe aos deuses, enquanto que para o filósofo, amante desse saber, restaria 
apenas desejá-la”. (LAÊRTIOS, 2008, p. 15). 
Seguindo esta mesma perspectiva, a constante busca e a falta do objeto 
desejado são interpretadas por Perine (2007, p. 23) da seguinte forma:
TÓPICO 2 | A SINGULARIDADE DO SABER FILOSÓFICO
27
[O filósofo maravilha-se com a realidade sob um duplo aspecto] Por 
um lado, aquele que admira não sabe tudo daquilo que admira e, mais 
ainda, sabe que não sabe; por outro, sabendo disso, põe-se a caminho 
do saber, porque deseja a ciência. Esse é o verdadeiro sentido da 
admiração como atitude originante do filosofar, que justifica a palavra 
filo-sofia. 
Esta contemplação de algum modo nos tornaria melhores, colocaria-nos 
em uma posição mais “nobre”, mas não porque possuímos a sabedoria, já que 
esta pertence aos deuses, e sim porque o filósofo reconhece o que de fato importa, 
dedicando-se a perseguir este objeto de desejo, mesmo que para isso tenha que se 
contrapor ao seu mundo. Infelizmente, esta imagem também tende a gerar uma 
interpretação não tão positiva do filósofo, que é caracterizado como alguém distante 
e absorto em seus próprios pensamentos, contemplando de longe o que se passa 
na vida. Ora, este ponto nos dá margem para apresentar a nossa segunda história.
UNI
“Diríamos aristocratas, no sentido de “melhores”, “mais bravos”, “excelentes”. A 
palavra aristocrático possui como raiz a palavra grega aristói, que significa exatamente o que 
foi destacado acima” (CHAUÍ, 2002, p. 495).
Em Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres, de Diôgenes Laêrtios, há uma 
passagem no mínimo caricata a respeito de Tales, mas não menos significativa. 
Conta-se que, conduzido para fora de uma casa para observar as estrelas, aquele 
que é considerado um dos sete sábios gregos e o primeiro dos filósofos não 
conseguiu enxergar um buraco à sua frente e nele caiu, por manter o olhar fixo 
nelas. Vendo isso, uma escrava que o acompanhava disse, zombando dele: “Como 
pretendes, Tales, tu, que não podes sequer ver o que está à tua frente, conhecer 
tudo acerca do céu?” (LAÊRTIOS, 2008, p. 21).
A anedota também é muito próxima às críticas que geralmente são feitas 
aos filósofos. Postos em seu mundo particular, eles desejam conhecer tudo o que há 
de elevado, não enxergando, entretanto, os buracos à sua frente, não percebendo 
a realidade

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