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O PROBLEMA LINGUÍSTICO (ou Problema de Linguagem) A linguagem é uma propriedade primária, fundamental do homem e, além disso, uma propriedade que o caracteriza nitidamente em relação aos outros seres deste mundo, vivos e não vivos. O homem utiliza a linguagem com finalidade e modos bastante variados: como instrumento de expressão de si mesmo, dos próprios sentimentos, desejos, ideias, para se comunicar com os outros, para descrever as coisas, para perguntar, educar, rezar, cantar, como instrumento de luta, de propaganda, de diversão, etc. A linguagem constitui um problema para os cultores de muitas disciplinas. Para o filósofos especificamente, o problema é a origem, a natureza, a função e o valor da linguagem. Mas antes de enfrenta-los, é necessário esclarecer o significado de alguns termos e de algumas distinções: Linguagem: Entende-se todo sistema de signos que possa servir como meio de comunicação; Língua: Significa o sistema linguístico utilizado por uma determinada sociedade; Fala: É a forma concreta e individual assumida do sistema, conforme o uso de uma determinada pessoa, de acordo com os significados pessoais, subjetivos, emotivos por ela desejados; Significante: Indica uma realidade como ela é detonada e estruturada pela linguagem; Significado: Indica o modo, sempre parcial e histórico, em que a língua falada atualiza o significante. 1. ORIGEM DA LINGUAGEM As soluções possíveis para a questão da origem da linguagem, em última análise, são duas: ou a linguagem foi recebida ou foi inventada pelo homem. Conforme Humboldt, a linguagem não poder ter sido inventada pelo próprio homem, pois o “homem é homem somente por meio da linguagem; ora, para inventar a linguagem, ele deveria já ser homem”. Hoje, porém, a tese mais comum é que a linguagem originou-se por evolução. Há diversas maneiras de interpretar esse fato. Alguns afirmam que a evolução foi determinada pela onomatopeia; ao contrário, outros atribuem a parte principal ao acaso e à convenção. A teoria de que a linguagem nasce formando sons onomatopaicos, foi proposta pela primeira vez, de modo científico, apenas por Herder, o qual em sua tese acadêmica afirmava: “O primeiro vocabulário foi constituído de sons recolhidos em toda parte do mundo. De cada natureza que emitia um som obtinha-se o seu nome: a alma humana vale-se desses sons como signos para indicar as coisas”. Recentemente a tese de Herder foi reafirmada com abundantes argumentos por Bruni. Segundo este estudioso, “a tese da origem natural da linguagem, por meio da onomatopeia, é a única cientificamente sustentável”. A opinião de Bruni é a mesma de Merlo. Este afirma que “ as primeiras palavras criadas pelo homem foram onomatopeicas, imitativas de sons que ecoaram em nosso ouvido; onomatopeicas, são as primeiras palavras que a criança produz e que logo esquece, substituindo- as pelas hereditárias. Segundo muitos estudiosos, a linguagem tem origem convencional. Wittgenstein deu expressão autorizada a essa teoria nas suas Philoshoplical Investigations. Nesta obra, ele sustenta que o atribuir nomes ás coisas é arbitrário, do mesmo modo como é arbitrário convir sobre as regras de um jodo. A própria linguagem; é concebida por Wittgenstein como um jogo. 2. CONDIÇÕES TRANSCENDENTAIS DA LINGUAGEM A linguagem pressupõe três condições transcendentais, três constantes ou componentes absolutas: Sujeito que fala ( e se expressa falando) Objeto do qual se fala ( e se representa por meio da palavra) Interlocutor a quem se fala e para o qual se quer transmitir uma comunicação falando. 3. FUNÇÕES E VALOR DA LINGUAGEM A linguagem exerce uma função diferente com relação a seus três componentes: Possui função representativa ou descritiva ou denotativa em relação ao objeto; Possui uma função expressiva ou existencial ou emotiva em relação ao sujeito; Possui uma função comunicativa ou intersubjetiva em relação à pessoa a quem se dirige o discurso. Vinculada à questão das funções da linguagem surge ainda a questão do seu valor. Dela tratam todos os filósofos e mesmo os teólogos e cientistas. As soluções dessa questão são muitas e bem discrepantes. Há quem atribui à linguagem um valor meramente instrumental. Há, por outro lado, quem lhe atribui um valor fundamental de ordem existencial. A) FUNÇÃO DESCRITIVA A corrente neopositivista e analítica, atribuiu valor cognoscitivo à função. Segundo essa corrente, somente a função descritiva capacita o homem a atingir e transmitir verdade. A razão da sua superioridade está na simplicidade do seu critério de significação, que é a verificação experimental, a qual estabelece que se dê significado descritivo apenas àquelas proposições tradutíveis numa cadeia de dados sensíveis. No entanto filósofos de todas as escolas conseguiram provar sua falta de fundamento recorrendo a diversos argumentos. B) FUNÇÃO COMUNICATIVA A função principal da linguagem é a comunicativa, e a comunicação em muitos casos não procura das descrições de objetos, coisas, fenômenos, leis da natureza, mas afeições, sentimentos, desejos, ordens. Esse poder existencial da palavra, esse poder de tornar-nos presente aos outros e os outros a nós mesmos foi maravilhosamente reforçado pelas modernas descobertas do rádio, da televisão, dos gravadores etc. A função primordial da linguagem é a comunicação, no entanto devemos constatar que é uma comunicação que a linguagem jamais nos permite realizar. C) FUNÇÃO E VALOR EXISTENCIAL Além de descrever objetos e comunicar sentimentos, ela serve ainda para testemunhar aos outros e a nós mesmos a nossa existência. A palavra adquire densidade existencial principalmente através do nome. Ter um nome significa possuir uma existência. por causa da publicidade do nome, por meio dele também a minha existência recebe certa publicidade. 4. RELAÇÕES DA LINGUAGEM COM O PENSAMENTO COM AS COISAS E COM OS INTERLOCUTORES Atribui-se à linguagem um valor distinto, conforme os diferentes modos de se conceber essa relação. A preocupação da análise linguística recai sobre as coisas; no existencialismo centra-se sobre o sujeito pensante; na hermenêutica, no personalismo e no estruturalismo centra- se nos interlocutores. Por causa da relação pensamento-linguagem, a solução corriqueira é ver na linguagem um instrumento subordinado e secundário do pensamento. Estruturalistas e hermeneutas tendem a subverter essa relação, pondo a serviço e na independência da linguagem. É uma tese que contém certa verdade, enquanto entre pensamento e linguagem há uma relação bastante profunda. No concernente às relações entre linguagem e ser, existem duas tendências opostas. Estruturalista e hermeneutas querem atribuir à linguagem uma densidade ontológica muito mais profunda. A segunda tese desembocará inevitavelmente numa forma de idealismo. Entre linguagem e interlocutores, ocorrem também aqui duas teses opostas: uma que reafirma o valor precípuo da linguagem para a intersubjetividade. A outra tese atribui pouco valor intersubjetivo à linguagem, que parte de uma concepção egocêntrica, angélica do homem.