Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MARC 06 Carolina Ferreira : Meu pintinho amarelinho Cenário: alojamento conjunto de maternidade estadual Narrador: Mãe do Samuel Sujeito: RN Samuel Condição socioeconômica: classe social D Enfim chegou o dia de voltarmos p/ casa. Estava muito feliz, carregando nos meus braços o Samuel, meu primeiro filho. Estavamos aguardando a liberação pelo pediatra, eu já havia recebido minha alta. Ainda bem que tive parto normal, minha vizinha do lado teve cesárea e só vai p/ casa daqui 2 dias. O medico pediatra chegou p/ ver meu filho, mandou tirar toda a roupa do Samuel e foi logo dizendo que ele estava amarelo e que ñ poderia ir p/ casa, e que tinha que fazer um exame de sangue, p/ ver se ia precisar tomar banho de luz. Além disso, o Dr. Mário disse que o umbigo do meu estava c/ mau cheiro . Fiquei triste, pois apesar do bebê ter nascido c/ 36 semanas pesando 2,4kg ele ñ precisou ficar no berçário e está mamando super bem e fazendo cocô e xixi normal. Ñ vejo a necessidade de ele ser internado. Quis ir embora, mas o doutor disse que aquela amarelidão podia prejudicar o cérebro do meu bebê. Fiquei c/ muito medo e resolvi aceitar o tratamento Logo levaram meu bebe p/ o posto p/ colher sangue eu fiquei de longe observando ele ser furado e chorando. Depois de 4 horas o Dr.Mário retornou c/ o resultado do exame. Falou que a bilirrubina estava alta e que o Samuel precisava tomar banho de luz. A enfermeira veio c/ um aparelho que colocou em cima do braço, me mandou tirar a roupa do bebê e colocou uma venda nos olhos dele. Falou para só retirar ele do berço na hora de amamentar. Eu perguntei p/ Dr.Mário porque meu bebe estava amarelo e ele falou que era devido meu sangue ser diferente do meu bebê. Fiquei me sentindo culpada! Exames: bilirrubina total: 15 mg/dl, bilirrubina indireta: 14,2 mg/dl e bilirrubina direta: 0,7 mg/dl Tipagem sanguínea: mãe O negativa e RN A positivo, Coombs direto: negativo PONTOS IMPORTANTES -mandou tirar toda a roupa do Samuel e foi logo dizendo que ele estava amarelo e que ñ poderia ir p/ casa, e que tinha que fazer um exame de sangue, p/ ver se ia precisar tomar banho de luz→ Icterícia neonatal? + fototerapia -disse que o umbigo do meu estava c/ mau cheiro→ onfalite -o doutor disse que aquela amarelidão podia prejudicar o cérebro do meu bebe→ Kernicterus? -Eu perguntei p/ Dr.Mário porque meu bebe estava amarelo e ele falou que era devido meu sangue ser diferente do meu bebê → Incompatilibilidade ABO e RH LISTA DE PROBLEMAS • Samuel prematuro, pré-termo, baixo peso, AIG e estava amarelo • Presença de onfalite • Incompatilidade ABO e RH HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS • Hiperbilirrubinemia • Icterícia neonatal -A hiperbilirrubinemia é um problema comum dos RNs, porém geralmente é benigna. Apesar disso, a presença de hiperbilirrubinemia indireta grave é potencialmente neurotóxica. -Grande parte dos RNs apresenta icterícia nos 1º dias de vida: cerca de 60% dos neonatos a termo e 80% dos pré-termos. Contudo, isso não significa a presença de alguma doença: é a chamada icterícia “fisiológica” do RN. Expressa-se clinicamente como coloração amarelada na pele quando os níveis sanguíneos de bilirrubina ultrapassam 5 a 7 mg/dL. Em alguns casos, porém, a icterícia decorre de um processo patológico, portanto deve ser corretamente identificada, pois pode alcançar [ ] elevadas e ser lesiva ao cérebro.Instala-se, assim, o quadro de encefalopatia bilirrubínica. -O da Bilirrubina Direta (BD) habitualmente significa condição hepática grave ou sistêmica, como é o caso de colestases, e deve ser prontamente avaliado por um gastroenterologista/ MARC 06 Carolina Ferreira hepatologista pediátrico, pelo risco de atresia de vias biliares. O da bilirrubina conjugada/direta pode ocorrer, mas é rara em RNs. -A icterícia neonatal ocorre quando tem uma [ ] sérica superior a 4 a 5 mg/dL ETIOLOGIA DA HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA O da Bilirrubinemia Indireta (BI) pode ser causado por fatores como: a) Destruição de eritrócitos imaturos recém-formados; b) Degradação intracorpuscular da hemoglobina na medula óssea; c) Degradação de heme livre no fígado; d) da circulação êntero-hepática; e) Destruição de outras proteínas que contenham o grupo prostético heme – mioglobina, catalase e peroxidases; f) da carga de bilirrubina para ser metabolizada pelo fígado, como nas anemias hemolíticas e na policitemia, pelo tempo de vida curto da hemácia como resultado de imaturidade, células transfundidas, clampeamento tardio do cordão umbilical, da circulação êntero-hepática, presença de bossa e céfalo-hematoma e infecção; g) Destruição ou redução da atividade da enzima glicuroniltransferase por deficiência genética, hipóxia, infecção, hipotermia ou deficiência de hormônio tireóideo; h) Competição ou bloqueio da enzima transferase por drogas; i) Qualquer condição que leve à redução da quantidade dessa enzima ou à redução de captação de bilirrubina pelas células hepáticas, como em defeitos genéticos ou na prematuridade; j) Asfixia, prematuridade e meningite fragilizam a barreira hematoencefálica, fazendo que a bilirrubina indireta tenha + chance de impregnar o SNC (impregnação amarelada dos núcleos da base: kernicterus). FATORES DE RISCO • Raça: é + frequente na raça branca do que na raça negra • Geografia: incidência + elevada em populações que vivem em grandes altitudes • Sexo: incidência > no sexo masculino; • Genética: + frequente em RNs c/história familiar de icterícia significativa no período neonatal • Nutrição: incidência + alta em RNs em aleitamento materno • IG: +frequente em prematuros e RNs de baixo peso; • Fatores maternos: RNs macrossômicos, diabetes gestacional; • Drogas: ocitocina e diazepam o nível de bilirrubinas, já o tabaco e o álcool FISIOLOGIA DA BILIRRUBINA -Transporte: a bilirrubina é liberada na corrente sanguínea por meio da degradação da hemoglobina na forma lipossolúvel, denominada Bilirrubina Indireta (BI), e liga-se principalmente à albumina. São fatores que interferem no complexo: pH, idade gestacional e substâncias presentes no soro (cefalosporinas, furosemida, ácidos graxos, sulfas). Desligada da albumina, representa a fração livre da bilirrubina (1% da BI). -Captação e conjugação: captada pelos hepatócitos, desliga-se da albumina. Levada pelas ligandinas Y e Z até o retículo endoplasmático p/ conjugação, combina-se c/ o ácido glicurônico – glicuroniltransferase – e transforma-se em pigmento hidrossolúvel e polar denominado Bilirrubina Direta (BD), o qual fará parte da bile. -Excreção: reduzida a estercobilina/urobilina no intestino, pequena quantidade é hidrolisada novamente à BI (betaglicuronidase) e reabsorvida pela circulação êntero- hepática. No RN, a flora bacteriana e a betaglicuronidase. -Situações em que a bilirrubina pode aumentar: anemia hemolítica isoimune; deficiência de G6PD, esferocitose hereditária, hematomas, Policitemia, sulfonamidas e Aspirina MARC 06 Carolina Ferreira -São sinais sugestivos de hemólise: anemia, aumento de bilirrubina > 0,5 mg/dL/h, reticulocitose e hepatoesplenomegalia -São defeitos genéticos da glicuroniltransferase: síndrome de Crigler-Najjar I, síndrome de Crigler-Najjar II e síndrome de Gilbert. -Degradação da bilirrubina trato gastrintestinal: 1. Ação da betaglicuronidase: a) da circulação êntero-hepática da bilirrubina. 2. Ação das bactérias: b) Formação do urobilinogênio. -Progressão anatômica da icterícia: • Face = 5 mg/dL; • Além da metade do abdome = 15 mg/dL; • Pés = 20 mg/dL. ICTERÍCIA FISIOLÓGICA -Cercade 70% de todos os RNs apresentam níveis de bilirrubina ≥que 5 mg/dL na 1º semana de vida -A icterícia inicia na face, sendo de progressão cefalocaudal. Este fenômeno foi observado pela 1º vez por Kramer, que relacionou o progresso da icterícia dérmica c/ os níveis séricos da bilirrubina, subdividindo a área corporal do RN em 5 zonas e criando um gráfico que permite uma correlação entre a avaliação clínica e os níveis séricos de bilirrubina, o nº de exames laboratoriais solicitados. -A icterícia fisiológica do RN resulta da ocorrência simultânea de 2 fenômenos: 1. a produção de bilirrubina é elevada no RN devido à destruição de hemácias fetais, resultado de sua < vida média e de uma > quantidade de hemácias no período neonatal; 2. a capacidade de excreção hepática é baixa por causa de atividade deficiente da enzima glucuronil-transferase, responsável pela conjugação da bilirrubina. Esta icterícia pode ser agravada em situações em que há acúmulo de sangue no compartimento extracelular, como no cefalohematoma e na deglutição de sangue materno. -Causas: as adaptações fisiológicas do metabolismo da bilirrubina, como do volume de eritrócitos/kg c/ < tempo de sobrevida desses eritrócitos; > eritropoese inefetiva e > turnover das proteínas heme não derivadas da hemoglobina; da circulação êntero-hepática; < captação de bilirrubina pelo fígado; < conjugação de BI por atividade reduzida da UDPG-T; < excreção hepática de bilirrubina ICTERÍCIA PATOLÓGICA -São critérios p/ o diagnóstico da icterícia patológica: MARC 06 Carolina Ferreira ▪ aparecimento nas primeiras 24 horas de vida ▪ bilirrubina sérica aumentando a uma taxa + rápida do que 5 mg/dL em 24 horas ou 0,5 mg/dL/h ▪ qualquer icterícia que alcance níveis de fototerapia ▪ icterícia persistente além de 14 dias de vida ▪ BD > 2 mg/dL em qualquer momento ▪ sintomas associados, como vômitos, letargia, perda de peso, apneia, distermia. - O > risco associado à hiperbilirrubinemia é o desenvolvimento de encefalopatia bilirrubínica (encefalopatia por impregnação SNC– caracterizada pela coloração amarelada dos núcleos da base), que ocorre c/ BI em níveis muito elevados, geralmente > 18 mg/dL). A duração da exposição à bilirrubina e a sua [ ] no cérebro são fatores determinantes da neurotoxicidade. Diante de qualquer sinal de icterícia patológica, deve-se partir p/ a investigação. -P/ diferenciar a icterícia fisiológica da patológica é fundamental que se observe a história clínica materna e do RN, que o bebê tenha sido examinado e que tenham sido realizados os exames laboratoriais necessários -As icterícias patológicas podem ser divididas em 5 grupos principais: distúrbios da produção, distúrbios da captação, distúrbios da conjugação, distúrbios da excreção e alteração da circulação entero-hepática. -Suspeitamos que a icterícia seja patológica nas seguintes situações: ▪ Quando ocorre nas primeiras 24 horas de vida e por tempo prolongado (+ de 1 semana em RN a termo e 2 semanas no prematuro); ▪ Quando a bilirrubina direta é maior do que 2 mg/dL e a bilirrubina total exceda 15mg/dL; ▪ Quando o RN apresenta sinais clínicos de infecção. ICTERÍCIA ASSOCIADA AO LEITE MATERNO -Elevações significativas da BI associadas ao leite materno desenvolvem-se em cerca de 2% nos RNs a termo alimentados ao seio -Esse quadro de icterícia acontece depois de 7 dias de vida -As concentrações de bilirrubina podem variar de 10 a 30 mg/dL na 2º e 3º semanas de vida -A icterícia nesses casos é benigna e ñ há necessidade de suspender o aleitamento materno pois haverá regressão espontânea do quadro. Inclusive ñ é + recomendado suspender temporariamente o aleitamento materno, e cabe ao pediatra orientar a família sobre a benignidade do quadro. ICTERÍCIA DO ALEITAMENTO MATERNO -Tem início precoce e também está associada ao da BI, porém aparece na 1º semana de vida, quando se observam RNs alimentados ao seio c/ bilirrubina + alta do que aqueles alimentados c/ fórmula -Causas podem estar relacionadas à pequena quantidade de leite ingerida, c/ desidratação ou redução da ingesta calórica, além de da circulação êntero-hepática devido à < motilidade MARC 06 Carolina Ferreira gastrintestinal. Suplementos de soro glicosado ou água c/ glicose por via oral a esses RNs alimentados ao seio estão associados a ainda > do nível de bilirrubina. -A correção das técnicas de amamentação, orientação familiar e suplementação c/ fórmulas infantis em casos selecionados é o tratamento da icterícia do aleitamento materno. ENCEFALOPATIA BILIRRUBÍNICA -Trata-se de uma síndrome neurológica resultante da deposição de bilirrubina ñ conjugada nos gânglios da base e no tronco cerebral. -A patogênese é multifatorial e envolve interação entre os níveis de bilirrubina ñ conjugada, passagem por meio da barreira hematoencefálica e suscetibilidade do neurônio à lesão. Kernicterus é o nome da peça anatomopatológica c/ impregnação de bilirrubina nos núcleos da base, mas geralmente o termo é utilizado como sinônimo de encefalopatia bilirrubínica. -A rotura da barreira hematoencefálica por doença, asfixia ou outros fatores o risco. A encefalopatia bilirrubínica é muito rara em RNs saudáveis, a termo, sem hemólise e c/ nível sérico de bilirrubina < 25 mg/dL. -Quanto < a IG , > a suscetibilidade à encefalopatia bilirrubínica. -Quadro clínico: compreende letargia, recusa alimentar, perda do reflexo de Moro e convulsões. -Manifestações clínicas: sinais e sintomas frequentemente aparecem c/ 2 a 5 dias de nascimento do neonato a termo e, de maneira tardia, após o 7º dia de vida em prematuros. Porém, a hiperbilirrubinemia pode levar à síndrome em qualquer momento durante o período neonatal. São características da encefalopatia: ▪ Fase 1: hipotonia, letargia, má sucção, choro agudo ▪ Fase 2: hipertonia, com tendência a espasticidade, febre e opistótono ▪ Fase 3: aparente melhora ▪ Fase 4: sinais de paralisia cerebral, perda da audição, distúrbios extrapiramidais e, mais raramente, do quociente de inteligência -Muitos RNs que progridem p/ esses sinais de doença neurológica morrem. Os sobreviventes podem apresentar sequelas graves. A síndrome neurológica completa comumente apresenta coreoatetose, c/ espasmos musculares involuntários, sinais extrapiramidais, convulsões, deficiência mental, disartria e alteração da audição. ICTERÍCIA COLESTÁTICA -A icterícia colestática é + rara do que a icterícia por BI, no entanto é potencialmente + grave e indica disfunção hepatobiliar. Colestase é definida c/ a redução da formação de bile ou do fluxo biliar que resulta na retenção de substâncias biliares no fígado. É mandatório reconhecer precocemente se a icterícia do paciente é causada por BD ou BI, pois a icterícia colestática é quase sempre patológica. Clinicamente se apresenta com colúria, acolia fecal e do volume abdominal. Laboratorialmente, caracteriza-se por BD > 1 mg/dL quando BT ≤ 5 mg/dL ou BD > 2 mg/dL ou > 20% da bilirrubina total quando BT > 5 mg/dL. -As causas + comuns de icterícia colestática, nos 1º meses de vida, são a atresia de vias biliares (de 25 a 40%) e as doenças genéticas metabólicas (25%). Nos RNs prematuros, também há maior incidência de icterícia colestática por imaturidade do sistema hepatobiliar. Crianças que recebem nutrição parenteral prolongada e os pequenos p/ a IG também têm risco > de desenvolvê-la. Nesses casos, os valores de BD caem progressivamente até a sua eventual normalização, e o segmento c/ gastroenterologista ñ é necessário. A colestase persistente em qualquer RN deve ser investigada. MARC 06Carolina Ferreira -Atresia de vias biliares (AVB): é a causa + comum de icterícia colestática nos primeiros 3 meses de vida, c/ prevalência de 1:12.000 nascidos vivos. Normalmente, ñ é acompanhada de nenhuma outra malformação. O RN tem aspecto sadio, em geral, de termo e sem intercorrências no parto ou na gestação (85% dos casos de AVB – forma não sindrômica). O restante dos pacientes com AVB pode ter 1 ou mais malformações (forma sindrômica), como situs inversuse anomalias cardiovasculares, gastrintestinais e geniturinárias. -Diagnóstico:observam-se de bilirrubina total c/ predomínio de BD, valores elevados de ALT e AST e de gama-GT. Alterações de coagulograma são pouco fidedignas. O US abdominal em jejum é uma das maneiras + fáceis de iniciar a investigação. A cintilografia hepatobiliar pode identificar se os ductos biliares estão patentes, porém não tem boa especificidade.E a biópsia hepática continua a ser o exame padrão-ouro p/ o diagnóstico de AVB, podendo ser guiada por ultrassonografia ou cirurgia. -Tratamento: a portoenterostomia hepática de Kasai é a cirurgia realizada p/ desviar o fluxo biliar p/ o hilo hepático ao intestino, desviando-se, assim, dos ductos biliares atrésicos. Essa cirurgia é feita p/ manter o fígado nativo pelo > tempo possível antes do transplante hepático, que é a terapia definitiva p/ pacientes c/ AVB. Quando a cirurgia de Kasai é realizada no tempo certo, ou seja, antes dos 60 dias de vida, as taxas de sucesso são muito boas, e o transplante pode ser postergado. Já quando a cirurgia é feita após os 60 dias de vida, as taxas de sucesso caem notavelmente. A cirurgia ñ é recomendada após 90 dias de vida, daí a importância do diagnóstico precoce. Após esse período, a única opção de tratamento é o transplante hepático. Toda criança c/ icterícia colestática c/ + de 14 dias de vida deve ser investigada p/ AVB, pois a cirurgia de Kasai (portoenterostomia hepática) deve ser realizada o + rápido possível. -Outras icterícias colestáticas: podem-se citar cisto de colédoco, fibrose cística, síndrome de Alagille, deficiência de alfa-1-antitripsina, erros inatos do metabolismo, hepatite neonatal e infecções como sífilis, rubéola, herpes, citomegalovírus e toxoplasmose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS -A icterícia pode aparecer ao nascimento ou em qualquer momento no período neonatal, dependendo da causa. Quanto > é o tecido subcutâneo, > visível é a icterícia -A icterícia habitualmente começa na face e, de acordo c/ o dos níveis séricos de bilirrubina, progride p/ o abdome e finalmente chega à sola dos pés. O exame físico pode mostrar essa progressão anatômica da icterícia. Pode-se estimar que a icterícia que atinge a face corresponda à dosagem sérica de bilirrubina indireta(BI) de aproximadamente 5 mg/dL; quando atinge metade do abdome, a aproximadamente 15 mg/dL; quando chega à região plantar, corresponde a cerca de 20 mg/dL. INVESTIGAÇÃO CLÍNICA -Icterícia patológica: c) Aparece nas primeiras 24 horas de vida; d) Taxa de da bilirrubina > 5 mg/dL/24 horas; e) Bilirrubina > 12mg/dL em RN a termo; f) Bilirrubina > 10 a 14 mg/dL em RN prematuro; g) Icterícia após 2 semanas de vida; h) BD > 2 mg/dL -Investigação da hiperbilirrubinemia: a) BD e BI; b) Hemoglobina (hemograma); MARC 06 Carolina Ferreira c) Contagem de reticulócitos; d) Tipo sanguíneo da mãe e da criança; e) Teste de Coombs; f) Esfregaço de sangue periférico MANEJO DA ICTERÍCIA -História: frente a um RN ictérico é importante que a história obstétrica e do parto seja feita de forma detalhada e minuciosa, p/ identificar os fatores que possam estar contribuindo p/ a hiperbilirrubinemia, tais como drogas maternas, tipo de parto, retardo no clampeamento do cordão umbilical, grupo sanguíneo, fator Rh e Coombs materno.Em relação à história neonatal, é importante verificar a IG e o peso de nascimento do RN, se já eliminou mecônio, se está sendo amamentado ao seio e se está ingerindo a quantidade de leite necessária. -Exame Físico: deve-se verificar se existem sinais de infecção congênita, como petéquias, hepatoesplenomegalia e estado geral ruim. É importante, ainda, verificar a presença de sangue extravascular, principalmente o cefalohematoma, se há sinais de policitemia, se a icterícia foi de início precoce (<24 horas) ou tardio. -Exames Laboratoriais: exames que devem ser solicitados e que permitirão confirmar o tipo de icterícia (patológica ou fisiológica) são: ° Grupo sanguíneo e fator Rh da mãe e do RN; ° Teste de Coombs direto; ° Hematócrito e hemoglobina; ° Reticulócitos; ° Bilirrubinas (direta e indireta) DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL -Deve-se suspeitar de hemólise quando existe muito rápido da bilirrubina, isto é, > 0,5 mg/dL/h. TRATAMENTO DA ICTERÍCIA NEONATAL (HIPERBILIRRUBINEMIA) -O objetivo da terapia é evitar a [ ] de BI elevada no sangue em níveis neurotóxicos -O tratamento consistirá em fototerapia e, em caso de fracasso, exsanguineotransfusão. A fototerapia deve reduzir os valores de BI em 1 a 2 mg/dL, em 4 a 6 horas. Aos casos em que ñ se obteve sucesso ou há sinais de encefalopatia bilirrubínica evidente, está indicada a exsanguineotransfusão. Deve-se colher controle de bilirrubina total e frações após 6 a 12 horas do início da fototerapia. -P/ RN a termo, atualmente se recomenda o nomograma de Bhutani -Fototerapia: a bilirrubina na pele absorve a energia da luz, a qual, por fotoisomerização, converte a bilirrubina ñ conjugada tóxica nativa para uma forma de bilirrubina ñ conjugada, um isômero capaz de ser excretado na bile sem qualquer necessidade de conjugação. A fototerapia profilática em RN de extremo ou baixo peso pode prevenir a hiperbilirrubinemia e reduzir a incidência de exsanguineotransfusões, porém é controversa. MARC 06 Carolina Ferreira → RNs de extremo baixo peso, recebendo fototerapia por 1 a 3 dias, têm pico de bilirrubina sérica de aproximadamente metade do valor daqueles sem tratamento → A fototerapia utiliza lâmpadas fluorescentes colocadas a 15 a 20 cm de distância do RN → O nível sérico da bilirrubina e o hematócrito devem ser monitorizados a cada 4 a 8 horas em RNs com doenças hemolíticas ou naqueles com níveis de bilirrubina próximos dos níveis considerados tóxicos. -A cor da pele dos RNs em fototerapia ñ é confiável p/ avaliar a eficácia do tratamento, e a pele de RNs expostos à luz pode parecer sem icterícia, mesmo na presença de elevada hiperbilirrubinemia. Os RNs têm elevação da BD e, muitas vezes, evidência de doença hepática obstrutiva. -A eficácia da fototerapia depende de 3 fatores: 1. Comprimento de onda da luz: o comprimento ideal p/ absorção da bilirrubina-albumina compreende a faixa azul de 425 a 475 nm; 2. Irradiância espectral: a irradiância convencional está entre 8 e 10 mW/cm2/nm, e de alta intensidade, em 30 mW/cm2/nm; 3. Superfície corpórea exposta à luz: quanto > a superfície corpórea do RN exposta à luz, > a eficácia da fototerapia. -Fototerapia Bilispot®: a luz é emitida em forma de spot ou foco. Utiliza- se lâmpada de halogênio, colocada a 50 cm do paciente. É possível fazer fototerapia dupla c/ halos tangenciais. -BiliBlanket®: c/ dimensões reduzidas, é eficaz para prematuros. -Fototerapia de alta intensidade: utiliza lâmpadas eletrônicas de espectro azul e oferece maior área de atuação. (A) Bilitron®; (B) fototerapia com Bilitron® -É importante lembrar que devemos monitorizar a bilirrubina até 24 horas depois de terminada a fototerapia, devido a efeito rebote. -Indicações: em RN a termo ou pré-termo tardio c/ peso > 2.000 g, em berço comum, recomenda-se fototerapia convencional superior ou inferior (reversa) c/ 6 a 8 lâmpadas fluorescentesbrancas e/ou azuis especiais, c/ irradiância mínima de 8 a 10 mW/cm2/nm. Quando a bilirrubinemia é superior ao percentil 95, é preferível iniciar fototerapia de alta intensidade c/ aparelho de fototerapia superior e inferior (reversa), com aumento da irradiância e da superfície corpórea exposta. Nos RNs prematuros c/ peso < 2.000 g, além da fototerapia convencional superior, é possível usar o spot c/ Super LED posicionado acima da incubadora ou colchão de fibra óptica sob o dorso da criança, possibilitando a utilização de fototerapia dupla, se necessária. MARC 06 Carolina Ferreira -Complicações da fototerapia: podem-se citar diarreia, rash macular eritematoso, queimaduras, desidratação e síndrome “do bebê bronzeado”, que consiste em pele marrom- acinzentada causada por fototerapia em RN c/ da BD. -Exsanguineotransfusão: definida como substituição do sangue do RN por meio da retirada fracionada, pela mesma quantidade de sangue de doador homólogo, a exsanguineotransfusão visa corrigir a anemia, o título de anticorpos maternos circulantes, remover hemácias sensibilizadas e retirar a bilirrubina ñ conjugada antes de sua difusão p/ os tecidos. É feita se a fototerapia intensa falha em reduzir os níveis de bilirrubina. Complicações potenciais incluem acidose, anormalidades eletrolíticas, hipoglicemia, trombocitopenia, excesso de volume, arritmias, enterocolite necrosante, infecção e mesmo morte. A presença de sinais clínicos que sugerem encefalopatia bilirrubínica é uma indicação p/ exsanguineotransfusão c/ qualquer nível de bilirrubina sérica. -Imunoglobulina intravenosa: é eficaz em reduzir a bilirrubina nos pacientes c/ anemia hemolítica e teste de Coombs positivo, presumivelmente pela redução da hemólise. -Tratamento Farmacológico: • Fenobarbital: ele a atividade da glucuronil-transferase e, consequentemente, a conjugação da bilirrubina, a sua administração aos RNs que apresentam icterícia ñ é eficaz p/ reduzir os níveis séricos de bilirrubina, ñ sendo, portanto, utilizado de rotina. • Inibidores da Heme-Oxigenase: é um potente inibidor da enzima heme-oxigenase responsável pela transformação do grupo heme em biliverdina e bilirrubina, sendo administrada logo após o nascimento em RNs c/ doença hemolítica. Ainda ñ está disponível p/ uso clínico, sendo, entretanto, uma droga promissora p/ ser incorporada ao arsenal terapêutico do pediatra nos próximos anos. Como diferenciar a icterícia fisiológica da patológica? A icterícia fisiológica acomete cerca de 2/3 dos RNs e é mais frequente nos prematuros. Essa é uma circunstância normal, de forma leve na maioria dos casos, que regride espontaneamente na maioria das vezes. A BI aumenta em taxa < 5 mg/dL em 24 horas. A icterícia torna-se visível clinicamente no 2º ou 3º dias de vida, frequentemente tendo o valor máximo no 2º, no caso de RN termo, ou no 4º, no caso de RN prematuro, e diminui em torno do 5º ao 7º dias de vida.São critérios para o diagnóstico da icterícia patológica: aparecimento nas primeiras 24 horas de vida; bilirrubina sérica aumentando a uma taxa mais rápida do que 5 mg/dL em 24 horas ou 0,5 mg/dL/h; icterícia persistente além de 14 dias de vida; BD > 2 mg/dL em qualquer momento; sintomas associados, como vômitos, letargia, perda de peso, apneia, distermia. -A incompatibilidade ABO é quando o tipo sanguíneo da mãe é diferente do tipo do bebê, considerando os antígenos A e B, e a ausência deles. É a incompatibilidade sanguínea + comum e ñ é considerada grave, ocasionando somente a chamada icterícia neonatal ( dos níveis de bilirrubina no sangue do recém nascido) que é tratada c/ fototerapia (o tão falado banho de luz), nos casos em que requer tratamento. Muito raramente pode causar anemia no bebê, antes do nascimento. MARC 06 Carolina Ferreira -A incompatibilidade pelo Rh é + grave e acontece quando a mãe tem o Rh negativo e o bebê Rh positivo. Nestes casos, caso haja troca de sangue entre a gestante e o bebê durante a gestação ou + comumente durante o parto, o organismo da mulher começa a produzir anticorpos anti-Rh. Caso haja contato desses anticorpos c/sangue Rh positivo, eles atacarão as células Rh positivo, que serão consideradas invasoras. Este processo se chama aloimunização. -P/ a 1º gestação em que isso acontece ñ costuma haver problemas. Porém, em uma próxima gestação, caso o novo bebê também tenha Rh positivo, o sistema imunológico da mãe aloimunizada considerará este antígeno como uma ameaça e começará a atacar e destruir as hemácias do feto. -Essa incompatibilidade acontece quando a criança herda do pai o fator Rh positivo e a mãe possui o Rh negativo, ou seja, a mãe não tem o antígeno e o feto sim. -Uma vez que a mãe foi aloimunizada (teve contato com hemácias Rh positivo e começou a produzir anticorpos anti Rh) pode haver sérias consequências em uma próxima gestação. -Na 1º gravidez, os anticorpos que são criados pela incompatibilidade sanguínea são grandes moléculas (tipo IgM) e por isso não conseguem cruzar a barreira da placenta.Assim, se o sangue da mãe for colocado em contato com o sangue do bebê, nada acontece. -Na gravidez seguinte, se o bebê for novamente Rh positivo, o sistema imunológico da mãe irá reconhecer os antígenos Rh positivo e rapidamente irá produzir anticorpos menores (tipo IgG) e que conseguem assim chegar até a placenta, atravessá-la e atacar as hemácias do bebê. Este processo imunológico acaba levando ao surgimento de doença hemolítica perinatal, uma anemia fetal causada pela destruição de suas hemácias ainda no ventre materno, pelos anticorpos produzidos pela mãe. -As principais consequências da anemia fetal são: da produção fetal de hemácias, levando a crescimento do fígado e baço; congestão hepática; da bilirrubina fetal; insuficiência cardíaca fetal; hidropsia fetal; polidrâmnio ( na quantidade de líquido amniótico); paralisia cerebral; surdez; Kernicterus (lesão cerebral pelo depósito de bilirrubina no SNC do RN); óbito fetal ou neonatal.
Compartilhar