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Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 1 Câncer de Pulmão DEFINIÇÃO Þ O câncer de pulmão é o segundo mais comum em homens e mulheres no Brasil (sem contar o câncer de pele não melanoma). É o primeiro em todo o mundo desde 1985, tanto em incidência quanto em mortalidade. Cerca de 13% de todos os casos novos de câncer são de pulmão. Þ A última estimativa mundial (2012) apontou incidência de 1,8 milhão de casos novos, sendo 1,24 milhão em homens e 583 mil em mulheres. Þ A taxa de incidência vem diminuindo desde meados da década de 1980 entre homens e desde meados dos anos 2000 entre as mulheres. Essa diferença deve-se aos padrões de adesão e cessação do tabagismo constatados nos diferentes sexos. Þ No Brasil, a doença foi responsável por 26.498 mortes em 2015. No fim do século XX, o câncer de pulmão se tornou uma das principais causas de morte evitáveis. Þ O tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. Þ Em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco. Þ O cigarro é, de longe, o mais importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão. A taxa de mortalidade de 2011 para 2015 diminuiu 3,8% ao ano em homens e, 2,3% ao ano em mulheres, devido à redução na prevalência do tabagismo. Þ A taxa de sobrevida relativa em cinco anos para câncer de pulmão é de 18% (15% para homens e 21% para mulheres). Apenas 16% dos cânceres são diagnosticados em estágio inicial (câncer localizado), para o qual a taxa de sobrevida de cinco anos é de 56%. Þ O câncer de pulmão é um dos mais comuns de todos os tumores malignos, afetando desde a traqueia até a periferia do pulmão. É considerada uma das principais causas de mortes evitáveis, pois 90% das pessoas que o desenvolvem fumam ou fumaram no passado. Todos os anos, há um aumento de cerca de 2% nos casos de câncer de pulmão no mundo. Þ A classificação para o câncer de pulmão é feita de acordo com o tipo de células afetadas, como os bronquíolos ou os alvéolos. Existem diversos tipos desta neoplasia, e eles são divididos em dois grupos: Þ Câncer de células não-pequenas: mais comuns, têm três subtipos: carcinomas de células escamosas, adenocarcinomas e carcinomas de células grandes. Þ Câncer de células pequenas: são mais raros e têm comportamento mais agressivo. Ele se espalha pelo sistema linfático, onde as células cancerígenas entram nos vasos linfáticos e começam a se desenvolver nos gânglios linfáticos ao redor dos brônquios e no mediastino (parte central da caixa torácica). Ao atingirem os nódulos linfáticos, provavelmente essas células já se disseminaram para outros órgãos do corpo. TIPOS Þ câncer de pulmão se divide em dois tipos principais, que são tratados de maneira muito diferente: • 80 a 85% dos cânceres de pulmão são do tipo câncer de pulmão de não pequenas células. • 10 a 15% dos cânceres de pulmão são do tipo câncer de pulmão de pequenas células. Þ Câncer de Pulmão de Não Pequenas Células • O câncer de pulmão de não pequenas células dependendo da célula da qual se originou está dividido em três subtipos: • Adenocarcinoma. Os adenocarcinomas começam nas células que revestem os alvéolos e produzem substâncias como muco. Esse tipo de câncer de pulmão ocorre principalmente em fumantes e ex- fumantes, mas também é o tipo mais comum em não fumantes. É mais frequente em mulheres do que em homens, e é mais propenso a ocorrer em pessoas mais jovens do que outros tipos de câncer de pulmão. O adenocarcinoma é normalmente encontrado nas áreas externas do pulmão. Ele tende a crescer mais lentamente do que os outros tipos de câncer de pulmão, e tem mais chance de ser diagnosticado antes de se disseminar. Os pacientes com adenocarcinoma in situ têm um melhor prognóstico do que aqueles com outros tipos de câncer de pulmão. • Carcinoma espinocelular. Esses tumores começam nas células epidermoides, que se caracterizam por serem planas, e revestem o interior das vias aéreas. Esse tipo de câncer de pulmão está relacionado com o tabagismo e tende a ser encontrado na região central dos pulmões, próximo aos brônquios. • Carcinoma de grandes células (indiferenciado). Esse tipo de tumor pode aparecer em qualquer parte do pulmão e Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 2 tende a crescer e se disseminar rapidamente, o que pode tornar o tratamento mais difícil. Um subtipo do carcinoma de grandes células, conhecido como carcinoma neuroendócrino de grandes células, é um tumor de crescimento rápido, muito semelhante ao câncer de pulmão de pequenas células. • Outros subtipos. Alguns subtipos de câncer de pulmão de não pequenas células, como o carcinoma adenoescamoso e o carcinoma sarcomatoide, são menos comuns. Þ Câncer de Pulmão de Pequenas Células • Esse tipo de câncer de pulmão tende a crescer e se disseminar mais rápido que o câncer de pulmão de não pequenas células. Cerca de 70% dos pacientes com câncer de pulmão de pequenas células terão metástases no momento do diagnóstico. Como esse câncer cresce rapidamente, tende a responder bem à quimioterapia e a radioterapia. No entanto, a maioria dos pacientes terá recidiva da doença em algum momento. Þ Outros tipos de tumores de pulmão • Além dos dois tipos principais de câncer de pulmão, outros tumores podem acometer os pulmões: Þ Tumores carcinoides do pulmão. Correspondem a menos de 5% dos cânceres pulmonares. A maioria destes tumores tem crescimento lento. Þ Outros tumores pulmonares. Outros tipos de câncer de pulmão, como carcinomas adenoides císticos, linfomas e sarcomas, bem como tumores benignos de pulmão, como hamartomas, são raros. Esses são tratados de forma diferente dos cânceres de pulmão mais comuns e não são discutidos aqui. Þ Metástases pulmonares. Os cânceres que começam em outros órgãos, como pâncreas, mama, rim ou pele, às vezes podem se disseminar para os pulmões, mas estes não são cânceres de pulmão. Por exemplo, o câncer que começa na mama e se dissemina para os pulmões ainda é câncer de mama, e não câncer de pulmão. O tratamento para o câncer metastático localizado nos pulmões é baseado no local onde se iniciou (local do câncer primário). Assim se o tumor primário é de mama e a metástase se encontra nos pulmões, será tratada como câncer de mama. FATORES DE RISCO Þ O uso do tabaco causa exposição a uma mistura letal de mais de 4.700 substâncias químicas tóxicas, incluindo pelo menos 50 cancerígenas. O tabagismo é o principal fator de risco para o câncer de pulmão. Em geral, as taxas de incidência em um determinado país refletem seu consumo de cigarros. O fumo de charutos, cigarrilhas, cigarro de palha, entre outros, aumenta o risco. Þ A exposição à poluição do ar, infecções pulmonares de repetição, suplementação de altas doses de vitamina A, doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica), fatores genéticos (que predispõem à ação carcinogênica de compostos inorgânicos de asbesto e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos) e história familiar de câncer de pulmão favorecem ao desenvolvimento desse tipo de câncer. Þ Evidências na literatura mostram que pessoas que têm câncer de pulmão apresentam risco aumentado para o aparecimento de outros cânceres de pulmão e que irmãos, irmãs e filhos de pessoas que tiveram câncer de pulmão apresentam risco levemente aumentado para o desenvolvimento desse câncer. Entretanto, é difícil estabelecer o quanto desse maior risco decorre de fatores hereditários e o quanto é por conta do tabagismo. Þ Altamente letal, a sobrevida média cumulativa total em cinco anos varia entre 13 e 21% em países desenvolvidos e entre 7 e 10% nos países em desenvolvimento. Þ Nos EUA,80% das mortes por câncer de pulmão ainda são causadas pelo tabagismo. O risco aumenta de acordo com a quantidade do consumo e a duração do tabagismo. Þ Outros fatores incluem exposição ao fumo passivo, ao amianto, a certos metais (cromo, cadmio, arsênico), alguns produtos químicos orgânicos, radiação, poluição do ar e escape de diesel. Algumas exposições ocupacionais que aumentam o risco incluem fabricação de borracha, pavimentação, coberturas, pintura e varredura de chaminé. Þ O risco também é provavelmente aumentado entre pessoas com história de tuberculose. A susceptibilidade genética (por exemplo, história familiar) desempenha papel no desenvolvimento do câncer de pulmão, especialmente naqueles que desenvolvem a doença ainda jovens. Þ Apesar de ainda ser pouco explicada, acredita-se que a exposição a arsênico na água induz a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) que causam dano ao DNA, o que pode alterar sua transcrição, principalmente no tocante ao crescimento celular. Þ O uso de suplementos de altas doses (>20mg) de betacaroteno, diferentemente do betacaroteno via alimentação, aumenta o risco para tabagistas. Acredita-se que o uso desses suplementos exacerbe a produção de EROs e aumente a produção de enzimas do complexo do citocromo P450, que destrói o ácido retinoico e sinaliza para aumentar o crescimento celular. Além disso, alguns metabólitos podem aumentar a ligação dos carcinógenos do tabaco ao DNA. FISIOPATOLOGIA Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 3 Þ Como todos os outros tecidos e órgãos do corpo, o pulmão é composto por células. Normalmente, estas células se dividem e se reproduzem de forma ordenada e controlada. Quando ocorre uma disfunção celular que altera esse processo, o organismo produz excesso de tecido, dando origem ao tumor. Se o tumor for maligno, o seu crescimento não só comprime, mas também invade e destrói tecidos sadios à sua volta. Além disso, as células tumorais podem se desprender do tumor de origem e se espalhar por meio da corrente sanguínea ou dos vasos linfáticos para outras partes do corpo, dando origem a novos tumores (metástases). Mesmo quando outros órgãos são afetados, as células cancerosas desses novos tumores têm as mesmas características das células do câncer de pulmão. O tratamento das metástases leva em conta a localização e o tipo de câncer que as originou, além de outros fatores que serão considerados pelo médico. QUADRO CLÍNICO Þ A maioria dos cânceres de pulmão não provocam quaisquer sintomas até que se disseminam. Os sinais e sintomas mais comuns do câncer de pulmão são: • Tosse. • Tosse com expectoração mucosa. • Tosse com expectoração com sangue. • Dor no peito. • Rouquidão. • Perda de apetite. • Perda de peso inexplicada. • Falta de ar. • Fadiga. • Infecções de repetição. Þ Quando a doença já se disseminou para outros órgãos pode provocar: • Dor óssea. • Alterações no sistema nervoso. • Icterícia (cor amarelada de mucosas e pele). • Nódulos próximos à superfície do corpo. Þ Alguns cânceres de pulmão podem causar um grupo de sintomas muito específicos, que são descritos como síndromes: • Síndrome de Horner. Tumores localizados na parte superior dos pulmões (às vezes, chamados Tumores de Pancoast) podem afetar determinados feixes nervosos da face, provocando um conjunto de sintomas, denominados síndrome de Horner, que incluem: queda de uma pálpebra, constrição da pupila e transpiração diminuída do lado afetado da face. Os tumores de Pancoast podem às vezes provocar dor severa do ombro. • Síndrome da veia cava superior. A veia cava superior é a veia que leva o sangue da cabeça e braços de volta ao coração, passando ao lado da parte superior do pulmão direito e dos linfonodos no interior do tórax. Tumores nessa área podem pressionar a veia cava superior, fazendo com que o sangue retorne para as veias. Isso pode provocar inchaço na face, pescoço, braços e parte superior do tórax, além de dores de cabeça, tontura, e alteração da consciência se afetar o cérebro. Embora a síndrome da veia cava superior possa se desenvolver gradualmente ao longo do tempo, em alguns casos pode tornar-se um risco à vida, e deve ser tratada imediatamente. • Síndromes paraneoplásicas. Alguns tipos de câncer de pulmão podem funcionar de forma semelhante a órgãos secretores de hormônios, substâncias que entram na corrente sanguínea, causando problemas em tecidos e outros órgãos, mesmo que não haja metástase. Estes problemas são denominados síndromes paraneoplásicas, e muitas vezes podem ser os primeiros sintomas do câncer de pulmão. As síndromes paraneoplásicas podem ocorrer com qualquer câncer de pulmão, mas são mais frequentemente associadas ao câncer de pulmão de pequenas células. Algumas síndromes comuns incluem: síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético, síndrome de Cushing, problemas no sistema nervoso, hipercalcemia e coágulos sanguíneos. PLACAS AVERMELHADAS NA PELE Þ O câncer pode provocar alterações na pele, como manchas escuras, pele amarelada, manchas vermelhas ou roxas com bolinhas e pele áspera que causa coceira. Além disso, podem surgir alteração da cor, formato e tamanho de uma verruga, sinal, mancha ou sarda da pele, podendo indicar câncer de pele ou outro tipo de câncer. DETECÇÃO Þ As estratégias para a detecção precoce do câncer são o diagnóstico precoce (abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença) e o rastreamento (aplicação de teste ou exame numa população assintomática, aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões sugestivas de câncer e, a partir daí encaminhar os pacientes com resultados alterados para investigação diagnóstica e tratamento) (WHO, 2007). RASTREAMENTO Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 4 Þ O rastreamento do câncer é uma estratégia dirigida a um grupo populacional específico no qual o balanço entre benefícios e riscos dessa prática é mais favorável, com maior impacto na redução da mortalidade e da incidência, nos casos de existência de lesões precursoras. Þ Os benefícios são o melhor prognóstico da doença, com tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Os riscos ou malefícios incluem os resultados falso-positivos, que geram ansiedade e excesso de exames; os resultados falso-negativos, que resultam em falsa tranquilidade para o paciente; o sobrediagnóstico e o sobretratamento, relacionados à identificação de tumores de comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma ameaça à vida) (BRASIL, 2010). Þ Não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de pulmão na população geral traga mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, ele não é recomendado. Estudos recentes mostraram a possibilidade de que a realização de tomografia de baixa dose de radiação em grandes fumantes (um maço por dia por 30 anos) e com idade acima de 55 anos possa reduzir a mortalidade por esse câncer. Entretanto, há riscos ligados à investigação que se segue nos casos positivos. Por isso, a decisão de realizar ou não o exame deve ser discutida entre o paciente e o médico (CTFPHC, 2016; USPSTF, 2021). DIAGNÓSTICO PRECOCE Þ A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de apresentação do câncer (2017). Nessa estratégia, destaca-se a importância de a população e os profissionais estarem aptos para o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos de câncer, bem como ter acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde. Þ Já o diagnóstico precoce desse tipo de câncer é possível em apenas parte dos casos pois a maioria dos paciente só apresenta sinais e sintomas em fases mais avançadas da doença. Os sinais e sintomas mais comuns e que devem serinvestigados são (NICE, 2015; NCI, 2021): • Hemoptise • Tosse, rouquidão persistentes • Dor torácica • Dispneia • Astenia e perda de peso sem causa aparente. DIAGNÓSTICO Þ O diagnóstico do câncer de pulmão, na maioria dos casos, é feito pela radiografia de tórax, exame de fácil execução e relativamente barato, embora tenha sensibilidade em torno de apenas 70% e especificidade entre 89% e 99%. Sua utilização em pacientes assintomáticos sob risco de câncer de pulmão ou com sintomas precoces sugestivos (emagrecimento, tosse persistente, padrão de tosse diferente do habitual) é de grande valor. Þ Apesar do alto custo relativo, a tomografia axial computadorizada de tórax contribui no diagnóstico de praticamente um quinto dos pacientes. Útil na definição do estadiamento, possui sensibilidade e especificidade maiores do que o exame radiográfico simples, devendo ser indicada nos casos em que a radiografia de tórax mostra-se duvidosa. Þ O diagnóstico pode ser feito também, na maioria dos casos, pela broncoscopia, de grande utilidade pela possibilidade de realização de biópsia. As lesões, quando visíveis por meio da broncoscopia, são diagnosticadas em mais de 90% dos casos. É fundamental obter um diagnóstico de certeza, seja pela citologia ou pela patologia. Þ Uma vez obtida a confirmação da doença, é feito o estadiamento, que avalia o estágio de evolução, ou seja, verifica se a doença está restrita ao pulmão ou disseminada por outros órgãos. IMUNOLOGIA Þ Nos últimos 30 anos a imunidade inata passou a ser muito conhecida especialmente devido ao desenvolvimento da imunologia, em grande parte impulsionada pelo progresso científico obtido dos estudos das doenças causadas pelos vírus HIV. A inflamação, marca característica do processo imunológico reacional, tem ganhado reconhecimento como um contribuidor subjacente para as doenças crônicas que incluem diabetes, depressão, doença de Crohn e doença cardíaca. Recentemente os pesquisadores obtiveram indícios da conexão entre inflamação e câncer, transformando completamente o entendimento do câncer. Como se sabe, o câncer começa com uma série de mudanças genéticas induzidas por vários fatores: vírus, drogas, radiações, etc, que atacam um ou mais grupos de células, tornando-as com excessiva capacidade de reprodução e, assim, invadem tecidos vizinhos, onde tem início a malignidade. Um exemplo da biologia do câncer por indução viral (HTLV-1)ocorre na leucemia e linfoma das células T do adulto. Þ Eventualmente alguns tumores celulares podem se deslizar da matriz ou local de origem e dar início a novos tumores celulares em outros tecidos distantes causando a sua propagação (metástase) conforme mostra a figura abaixo. Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 5 Invasão de células tumorais (vermelho) no tecido hepático. As células tumorais chegam por meiode vasos sanguíneos do tecido hepático e se acomodam, dando início à progressão tumoral Þ Estudos imunológicos têm revelado que a progressão da doença tecidual para a forma invasiva do câncer requer células que participam normalmente de processos de inflamatórios e de cicatrização (células endoteliais, macrófagos, fibroblastos e adipócitos) e outras atividades funcionais desviadas para o local onde se está iniciando a formação de tecido pré-maligno (citocinas, plaquetas e fatores de coagulação sanguínea). Algumas das células envolvidas nesse processo são “sequestradas” nesse ambiente “pré- maligno” para se tornarem cúmplices na carcinogênese. Assim, compreende-se que um tumor não é somente um conjunto de células aberrantes, mas é dependente também de vários fatores como o micro ambiente tumoral que abrange células do tecido imunológico e sinais químicos que cruzam uma extensa rede de vasos sanguíneos. Esse novo ponto de vista de compreender o câncer implica que a erradicação até a última célula cancerosa se torna necessária.Um outro fato importante na imunologia dos tumores se refere ao TNF (Fator de necrose tumoral), descoberto no final da década de 90, em que esta citocina quando administrada diretamente no tumor induzia a morte das células cancerosas. Entretanto, pesquisas recentes demonstraram que quando a presença do TNF se torna crônica no tumor, sua ação se desenvolve ao contrário do que poderia se prever. A explicação é de que o gene produtor do TNF se desliga e dessa forma não se produz mais TNF e por essa razão o tumor não se contrai ou retrai. Essas pesquisas foram realizadas em camundongos. Recentemente o TNF tem sido relacionado como um sinalizador de processos proinflamatórios com tendência prémaligna. Esse fato se torna evidente em algumas situações já bem conhecidas entre a relação “inflamação e câncer” em dois exemplos típicos: a infecção com a bactéria Helicobacterpylori que induz a um tipo de inflamação aumentando as chances da pessoa desenvolver o câncer gástrico, e a infecção com o vírus da hepatite C que também induz a inflamação no fígado com grande risco de causar câncer hepático. Þ Por tudo o que se pode ler até o presente, presume- se que um determinado tumor pode “armar uma cilada” contra o sistema imune com o objetivo de dar continuidade à sua sobrevivência e ao seu crescimento. Þ Recomendo leitura para aprofundar temática: https://www.ciencianews.com.br/arquivos/ACET/I MAGENS/imunologia/imunocancer.pdf EXTENSÃO DO TUMOR Þ Uma vez confirmada a doença, é feito o estadiamento, que é medir a evolução do câncer de pulmão e verificar se ele está restrito ao órgão ou espalhado por outros lugares do corpo. Os mais comuns são cérebro, fígado e ossos. O estadiamento é feito por meio de vários exames de sangue e radiológicos, como a tomografia computadorizada. Þ Esses exames vão verificar qual é o estádio do câncer de pulmão, sendo que são sete: IA, IB, IIA, IIB, IIIA, IIIB e IV. O primeiro caracteriza tumores muito pequenos, menores que 2 cm, e restritos ao órgão. A escala vai aumentando progressivamente de acordo com a extensão da doença, até se chegar ao estádio IV, que caracteriza tumores avançados com comprometimento de outros órgãos (metástases). Eventualmente, cirurgia pode ser necessária para o diagnóstico. Þ expressão oat cell ganhou importância na linguagem médica por ser um subtipo especial de câncer pulmonar. As principais características são rápido crescimento, grande capacidade de disseminação e invasão cerebral frequente. Apesar do alto grau de resposta ao tratamento, apresenta baixo percentual de cura. Þ Estadiamento (sistema TNM, da American Joint Committee on Cancer 8ª edição) T – Tumor primário TX – Tumor primário não individualizado. T0 – Sem evidência de tumor. Tis – Carcinoma in situ. T1 – Tumor ≤ 3cm no maior diâmetro, circundado por pulmão e pleura visceral: • T1a – tumor ≤ 2cm • T1b – tumor > 2cm mas ≤ 3cm T2 – tumor >2 cm mas ≤ 7cm ou qualquer destes achados: envolvimento do brônquio principal a mais de 2cm da carina principal, invasão da pleura visceral, associação com atelectasia ou pneumonia obstrutiva sem envolvimento de todo o pulmão. • T2a – tumor > 3cm mas ≤ 5 cm • T2b – tumor > 5cm mas ≤ 7 cm Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 6 T3 – tumor > 7cm ou que invade qualquer uma das seguintes estruturas: parede torácica, diafragma, nervo frênico, pleural mediastinal, pericárdio; ou tumor com menos de 2cm da carina principal, mas sem envolvimento desta; ou se houver atelectasia ou pneumonite obstrutiva de todo pulmão; ou nódulo(s) tumoral (ais) no mesmo lobo do tumor primário. T4 – tumor de qualquer tamanho que invade qualquer uma das seguintes estruturas: mediastino, coração, grandes vasos, nervo laríngeo recorrente, traqueia, esôfago, corpo vertebral, carina principal; nódulo(s)tumoral (ais) isolado (s) em outro lobo ipsilateral. N – Linfonodos NX – Linfonodo regional não foram avaliados. N0 – Sem metástase em linfonodo regional. N1 – Metástase em linfonodo peribrônquico ipsilateral e/ou hilar ipsilateral e intrapulmonares, incluindo envolvimento por extensão direta. N2 – Metástase em linfonodo mediastinal ipsilateral e/ou subcarinal N3 – Metástase em linfonodo mediastinal contralateral; hilar contralateral; escalênico ipsilateral ou contralateral; ou supraclavicular. M – Metástases a distância MX – Metástase a distância não estudada M0 – Sem evidência de metástase a distância M1 – Metástase a distância: • M1a – Nódulo (s) tumoral (ais) em lobo contralateral; tumor com nódulo pleural ou derrame pleural ou pericárdico maligno. • M1b – Metástase a distância (fora do tórax). TRATAMENTO Þ O tratamento do câncer de pulmão requer a participação de um grupo multidisciplinar, formado por oncologista, cirurgião torácico, pneumologista, radioterapeuta, radiologista intervencionista, médico nuclear, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social. Þ Para o adequado planejamento do tratamento, é necessário fazer o diagnóstico histológico e o estadiamento para definir se a doença está localizada no pulmão ou se existem focos em outros órgãos. Para os pacientes com doença localizada, e, particularmente, sem linfonodo (gânglio) aumentado (íngua) no mediastino (região entre os dois pulmões), o tratamento é cirúrgico, seguido ou não de quimioterapia e/ou radioterapia. Þ Para aqueles com doença localizada no pulmão e nos linfonodos, o tratamento é feito com radioterapia e quimioterapia ao mesmo tempo. Þ Em pacientes que apresentam metástases a distância, o tratamento é com quimioterapia ou, em casos selecionados, com medicação baseada em terapia-alvo. Þ Portanto, o tratamento do câncer de pulmão depende do tipo histológico e do estágio da doença, podendo ser tratado com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, e/ou modalidades combinadas. MODALIDADES DE TRATAMENTO Cirurgia Þ A cirurgia, quando possível, consiste na retirada do tumor com uma margem de segurança, além da remoção dos linfonodos próximos ao pulmão e localizados no mediastino. É o tratamento de escolha por proporcionar melhores resultados e controle da doença. Cerca de 20% dos casos são passiveis de tratamento cirúrgico. Porém, na grande maioria (80-90% dos casos) a cirurgia não é possível na ocasião do diagnóstico, devido à extensão da doença (estágio avançado) ou à condição clínica debilitada do paciente. Þ As cirurgias para tratamento do câncer de pulmão podem ser: • Segmentectomia e ressecção em cunha: Quando se retira uma parte pequena do pulmão (somente o segmento ou parte do segmento que envolve o tumor), reservada para pacientes com tumores pequenos e que não suportam cirurgias maiores por apresentarem idade ou condições clínicas e/ou respiratórias limitadas. • Lobectomia: É a cirurgia de escolha para o tratamento do câncer de pulmão. Retira-se todo o lobo pulmonar (grupo de segmentos), onde o tumor está situado. É o mais adequado por remover toda a doença de forma anatômica. • Pneumectomia: Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 7 É a retirada de um pulmão inteiro (suas indicações são limitadas e restritas). Procedimento com morbidade maior e não tolerado por alguns pacientes. • Quimioterapia O tratamento quimioterápico visa a destruir as células cancerígenas, assim como reduzir o crescimento do tumor ou amenizar os sintomas da doença. Pode apresentar efeitos colaterais indesejáveis, não sendo tolerada por todos os pacientes. • Radioterapia Utiliza radiação para destruir as células cancerígenas. Pode ser utilizada antes ou após a cirurgia. Também pode ocasionar uma série de efeitos colaterais (como pneumonite e esofagite). • Terapia-alvo: Trata-se de uma nova forma de tratamento de câncer, frequentemente usada em pacientes cujo tumor tenha determinadas características moleculares (genéticas). Essas medicações têm sido reservadas para o tratamento de doenças avançadas. Novos estudos estão em andamento para selecionar o grupo de pacientes que melhor se beneficiará deste tratamento. GENÉTICA E CÂNCER DE PULMÃO Þ Casos familiares de câncer de pulmão sempre intrigaram aos médicos, especialmente a nós oncogeneticistas. Não é incomum identificarmos mais de um caso de câncer de pulmão em parentes de uma mesma família, em geral, em idade abaixo dos 55 anos e, para os quais, as causas mais comuns de câncer de pulmão – o tabagismo ativo e passivo – não podem ser identificadas. Nesses casos, a predominância é de ocorrência em mulheres e o tipo tumoral mais comumente descrito é o adenocarcinoma. Þ Aí, sempre nos vem o questionamento: o que teria causado nestas pessoas o câncer de pulmão? Elas nunca fumaram e nem conviveram com fumantes. Sabemos que a exposição prolongada ao gás radônio também é um fator de risco a ser considerado. O radônio é um gás radioativo liberado durante o decaimento natural de tório e urano. Temos no Brasil um solo rico em tório e urano em vários locais e este fato pode concorrer para o aumento da incidência de câncer de pulmão. Þ Entretanto, em vários casos de câncer de pulmão em membros consanguíneos de uma mesma família, não conseguimos estabelecer uma relação causal, pois os mesmos não vivem em áreas de alta exposição ao gás. Þ Durante décadas convivemos com esta dúvida atroz. Pelo fato de muitas vezes identificarmos mais de um consanguíneo, e em geral de parentesco próximo, com o mesmo diagnóstico, a suposição senso comum entre nós especialistas e que poderia se tratar de uma predisposição hereditária a este câncer, como ocorre em vários outros cânceres para os quais os genes responsáveis foram devidamente identificados e, hoje, podem ser avaliados por meio de testes genéticos sofisticados. Þ Como exemplos podemos citar as síndromes de predisposição a cânceres de mama e ovário (causadas principalmente por mutações herdadas ou germinativas dos genes BRCA 1 e 2); a síndrome de predisposição a cânceres de intestino, corpo uterino e vários outros órgãos dos tratos digestivo e urinário, a chamada Síndrome de Lynch (mutações herdadas dos genes MLH1, MSH2, PMS2, MSH6 e EPCAM); e também a Síndrome de Li-Fraumeni, causada pela mutação herdada do gene TP53 e que causa vários tipos de câncer, como mama, sarcomas, tumores cerebrais e vários outros. Suspeita-se de uma síndrome hereditária de predisposição ao câncer quando o mesmo ocorre em idade mais jovem que o habitual (em geral abaixo dos 55 anos) e em vários parentes próximos de uma mesma família, através de gerações (o que chamamos de transmissão mendeliana). Þ Ocorre que, até pouco tempo atrás, nenhum gene responsável, de forma inequívoca, pelo aumento de incidência do câncer de pulmão havia sido descrito ou identificado. Entretanto, recentemente um consórcio internacional de pesquisadores identificou uma mutação envolvida na suscetibilidade de uma pessoa ao câncer de pulmão. A variante encontrada pode ajudar a identificar determinadas populações com maior risco de câncer de pulmão, de acordo com os resultados relatados por Ji Xuemei e colaboradores neste estudo considerado esclarecedor, publicado na prestigiada revista médica Nature Communications. Þ Os esforços combinados da equipe identificaram uma variante genética que altera a sequência de proteínas do gene ATM (variante ATM L2307F- rs56009889). Esse gene é conhecido por causar uma doença genética que cursa com ataxia (perda ou irregularidade da coordenação muscular) e telangiectasia (pequenos vasos sanguíneos dilatados na pele ou nas mucosas, em qualquer lugar do corpo) - daí as iniciais ATM, sendo M de mutação. Þ O gene ATM está envolvido na reparação de danos no DNA e sua mutaçãotambém é implicada em uma síndrome de predisposição hereditária ao câncer (usualmente câncer de mama), mas a suscetibilidade ao câncer de pulmão nunca foi claramente reconhecida como parte de seus efeitos até que essa variante genética foi identificada. Þ Como a pesquisa envolveu estudos de países em todo o mundo, os pesquisadores foram capazes de rastrear as origens populacionais dessa variante. Ela foi encontrada quase exclusivamente em indivíduos decentes judeus Ashkenazi. O fato de a variante ser encontrada principalmente em uma população é consistente com algo que os geneticistas chamam de efeito fundador. Þ As variantes de efeito fundador são usadas nos programas de rastreamento do câncer de mama, particularmente nas populações judaicas asquenazes. Essa variante ATM tem uma prevalência semelhante a aquelas. Os pesquisadores descobriram que ela está relacionada à predisposição de câncer de pulmão em pacientes sem histórico de tabagismo, em geral Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 8 mulheres e com um subtipo específico de câncer pulmonar: o adenocarcinoma. Þ Houve grande progresso nas técnicas de triagem de câncer de pulmão nos últimos anos, como o rastreamento periódico com o uso da tomografia de tórax em cortes finos com pequenas doses de irradiação, que comprovadamente, consegue detectar câncer de pulmão em estágio muito precoce em fumantes, propiciando assim a oportunidade para um tratamento cirúrgico precoce e potencialmente curativo. Þ Portanto, essa descoberta pode ser realmente útil para a triagem de pulmão direcionada, uma vez que portadores dessa mutação também podem ser submetidos a esta tomografia de rastreamento periódica e em idade precoce (sugestão de se iniciar o rastreamento a partir dos 25 anos de idade). Þ Compreender os processos biológicos nos quais essa variante ATM atua também pode levar a novas opções terapêuticas, uma vez que identifiquemos drogas que atuem especificamente em células que apresentem esta mutação. Þ Essa fascinante descoberta nos faz considerar fortemente a necessidade da pesquisa genética desta variante quando se suspeitar de uma síndrome hereditária de predisposição a câncer de pulmão. A identificação correta, por sua vez, vai propiciar um rastreamento mais precoce e preciso do câncer de pulmão, para que, então, um tratamento cirúrgico precoce e mais curativo possa ser indicado. TRATAMENTO HAS Em se tratando de tratamento da Hipertensao Arteria Sistemica (HAS), podemos dividir a abordagem em duas categorias: a não medicamentosa e o uso de anti- hipertensivos. Ambas as medidas tendo objetivo de redução de níveis pressóricos visando proteção de órgãos alvo e prevenção de complicações cardiovasculares e renais. Lembrando que para definir o esquema terapêutico considerar não apenas o nível de PA mas também fatores de risco, além de considerar sempre a maior classificação da PA quando achaamos valores diferentes entre a PAS e PAD. Faz parte do tratamento não medicamentoso: controle do peso, adoção de medidas nutricionais, pratica de atividades físicas, parar/controlar tabagismos, redução de estresse. Faz parte do tratamento medicamentoso os medicamentos das classes dos Diuréticos, Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA). Lembrando que para indicação do medicamento ele deve ser: bem tolerado, indicado com menores doses efetivas, ser usado em associação, eficaz por via oral e ser capaz de reduzir a morbidade cardiovascular. Pacientes classificados em hipertensão nos estágios 2 ou 3, o mesmo de alto risco cardiovascular, devem iniciar tratamento farmacoógico associado a terapia não medicamentosa. Estabelecemos uma meta pressorica inferios a 130/80 para pacientes em alto risco, já para aqueles classificados no estágio 3 a meta estabelecida é de no mínimo 140/80. Em se tratando de idosos a meta é <150/90 mmHg. DOR NO BRAÇO EM RELAÇÃO AOS GÂNGLIOS Þ Inchaço dos gânglios linfáticos geralmente acontece devido a uma infecção ou inflamação da região em que surge, porque os gânglios linfáticos fazem parte do sistema imune, ajudando no combate às infecções porque atacam e destroem os germes que são transportados pelo líquido linfático. Þ As neoplasias malignas pulmonares metastasiam principalmente para linfonodos hilares, cervicais e pancreáticos. É comum o achado acidental de na radiografia de torax, de nodulo único que pode referir a uma neoplasia primaria do pulmão ou a uma tuberculose nodular apical. Se os achados são múltiplos nódulos as causas podem ser desde metástase de uma neoplasia primaria de outro sitio ou até mesmo outra manifestação da tuberculose denominada acino-nodosa. Þ Achados nodulares não são patognomónicos para neoplasia pulmonar maligna!!!! Þ Lembrete: nódulo é uma lesão com tamanho menor ou igual a 3cm. Devemos investigar a partir disso: Idade do paciente, tabagismo/carga Maria Clara Passos, Thalia Castro e Simone Valente, TUT 13 E 16 Tutoria 04, Câncer de Pulmão 9 tabágica, tamanho do tumor, características (tempo de crescimento, margem, calcificações), malignidade e benignidade.
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