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Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 Vulvovaginites e Vaginoses Conceitos • Vulvovaginite: Se trata de um processo inflamatório e/ou infeccioso que acomete vulva, paredes vaginais e epitélio estratificado escamoso do colo uterino (ectocérvice). • Colpite: Aqui o acometimento é somente no colo útero e paredes da vagina, não envolve a vulva. Na prática usam esses termos como sinônimos. O mais usado é Vulvovaginite. • Vaginose: Ocorre infecção com aumento de bactérias só que na ausência de sinais inflamatórios. • Vulvodínea idiopática: Ocorre prurido, queimação e aumento sensibilidade vestibular causando dispareunia intensa. • Na prática as Vulvovaginites e colpite são chamadas simplesmente de corrimento vaginal, justamente porque é o sintoma predominante no quadro. Ecossistema Vaginal • Compreende a relação entre a microflora endógena vaginal, produtos do metabolismo dessa flora + do metabolismo da mulher, estrogênio e PH. Conteúdo Vaginal Fisiológico • A secreção vaginal normal (fisiológica) é de cor transparente ou branca e consistência mucoide e não é fétido. Ele é composto por várias coisas: muco cervical, micro-organismos da flora vaginal, restos celulares da parede vaginal e cervical, secreção das glândulas (Bartholin e Skene), proteínas, carboidratos, leucócitos (pouca qtidade), glicoproteínas, ácidos graxos. PH é entre 3,8 a 4,2. • Ele fica “armazenado” geralmente no fórnice posterior da vagina. • O volume produzido depende da fase do ciclo menstrual. Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 • Nem todo fluxo genital aumentado se trata de uma doença. Flora Vaginal Normal • Contém inúmeros micro-organismos: a) Bactérias gram-positivas: Lactobacillus acidophilus (ele que é responsável por produzir ác. Lático que deixa PH vaginal ácido impedindo crescimento de bactérias patogênicas, representa 90% da flora), Estafilococus epidermidis e Estreptococo agalactiae. b) Bactérias gram-negativas: E. coli c) Anaeróbicas facultativas e obrigatórias d) Fungos: Candida spp. (Está presente em 30% das mulheres saudáveis e assintomáticas). Ela pode se tornar patogênica em algumas situações. Mecanismos de defesa região genital • Os mecanismos de defesa da região genital feminina são várias. Tem-se: Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 a) Defesa mecânica: através do fechamento (coaptação) que os lábios vaginais promovem, e do muco que “atrapalha” devido viscosidade a ascenção de micro- organismos” b) Defesa química e imune: Através de leucócitos (plasmócitos, eosinófilos, mastócitos...) que ficam na lâmina basal da mucosa vaginal e também de lactoferrina e lisosina que são bactericidas presente no muco. c) PH ácido: Aqui entra os Lactobacillus acidophilus + estrogênio. O estrogênio fornece o substrato para os lactobacillus fazerem fermentação e produzirem ác. Lático para deixar o PH vaginal ácido, e esse substrato é o glicogênio já que o estrogênio amadurece e diferencia as células epiteliais da mucosa vaginal e deixa elas rica em glicogênio. Por isso mulheres pré-puberes e pós-menopausa tem maiores riscos de desenvolverem infecções já que possuem menores níveis de estrogênio. Fatores de risco Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 Quadro clínico Geral • A queixa básica aqui é secreção vaginal aumentada, prurido e irritação que podem vir acompanhados de odor fétido, ardência e desconforto. A coloração em si pode estar alterada e a mulher mesmo assim não apresentar infecção, ocorrendo somente por descamação, coito... • Importante: Muitas vezes a mulher está com secreção vaginal acima do normal só que não tem problema nenhum, se tratando apenas de mucorreia. Para se fazer essa diferenciação basta fazer exame especular e constatar que mucosa vaginal estará normal sem sinais de inflamação e o muco é claro e límpido. A mucorreia é diferente de corrimento (que é patológico). Diagnóstico Geral • Através do exame clínico somente é difícil determinar a causa etiológica, sendo necessário exames complementares que envolvem: Determinação PH vaginal (com fitas reagentes), Exame a fresco (pega secreção e análise microscópio), bacteroscopia com coloração gram e teste das aminas (pega secreção pinga KOH se feder é +). Tem-se um fluxograma do M.S para o diagnóstico: Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 • História clínica isolada é insuficiente para diagnóstico de Vulvovaginites e vaginoses. Etiologia Geral • As vulvovaginites e vaginoses ocorrem quando ocorre um desequilíbrio entre os fatores protetores da vagina, sendo que isso ocorre devido a diversos fatores como: estado hormonal, emocional, imunidade baixa, falta de higiene, roupas apertadas... • As Vulvovaginites e vaginoses podem ser classificadas em infecciosas e não infecciosas depende da etiologia delas, sendo: a) Infecciosas: Vaginose bacteriana (VB, 46% dos casos de corrimento), Candidíase Vulvovaginal (23% dos casos), Tricomoníase (20% dos casos), Vaginite descamativa. b) Não infecciosas: Vaginose citolítica, Vaginose atrófica, Vulvovaginites inespecíficas e outras causas (traumas, uso substancias químicas no local, fatores hormonais, anatômicos, imunodepressão). Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 Vaginose Bacteriana • Definição: Se trata de um desequilíbrio na flora bacteriana por causa desconhecida que ocasiona uma diminuição dos lactobacilos e aumento de bactérias anaeróbicas estritas e facultativas (polimicrobiano). Ocorre aumento principalmente de Gardnerella vaginalis. Vale lembrar que não se chama vaginite porque aqui não ocorre sinais inflamatórios ou quando ocorre eles são discretos. • É a principal causa de corrimento vaginal • Ela não é uma IST, apesar de que coitos frequentes podem desencadeá-la (controverso isso). • As bactérias envolvidas aqui produzem aminas que em contato com KOH produzem cheiro de “peixe podre”, dando positivo o whiff test. Quadro clínico • Aqui o principal sintoma é secreção vaginal com odor fétido, de “peixe podre”. Geralmente a cor é branco acinzentado e em pequena quantidade. As paredes vaginais e vulva aqui não possuem sinais inflamatórios, sendo normais. Apesar disso metade das mulheres com VB são assintomáticas. Diagnóstico • Pode ser diagnosticada clinicamente pelos critérios de Amsel ou por exame complementar de coloração de gram. Para fechar diagnóstico tem que estar presente 3 dos 4 critérios: Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 • O exame microscópico com coloração de gram é considerado o padrão-ouro para diagnóstico do VB. Tratamento • É necessário o tratamento de todas mulheres sintomáticas e caso detecte-se gestante de alto para parto prematuro com VB mesmo que assintomática essa deve ser tratada. • A droga de primeira escolha é metronidazol (500 mg 2x ao dia por 7 dias), que pode ser V.O ou gel vaginal. A dosagem varia de acordo com a diretriz usada. Em mulhere grávidas de 1º trimestre deve-se usar clindamicina e após 1º trimestre pode-se usar metronidazol. • É imporante orientar quanto a abstinência sexual ou então usar preservativos durante o tto. Álcool deve ser evitado tbm. Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 • HIV + tto é o mesmo. Candidíase Vulvovaginal • É causada principalmente pela espécie Candida albicans, sendo que ela é capaz de se proliferar mesmo em ambiente ácido vaginal. É válido lembrar que é mais frequente em mulheres sexualmente ativas, mas que não é uma IST e sim uma doença “eventualmente de transmissão sexual”, pois o coito aumenta sua chance de ocorrência. • É a segunda causa de corrimento vaginal. • Fator de risco: Além daqueles já citados acima, aqui é importante destacar os hábitos de higiene e vestuários inadequados (roupas apertadas que diminuem ventilação e aumentam umidade e calor).Quadro clínico • O principal sintoma é prurido vulvovaginal que vem acompanhados de sinais inflamatórios na vulva e vagina, podendo ocorrer também: queimação, disúria, dispareunia, escoriações e fissuras, vagina e vulva cobertas por placas brancas na mucosa. O corrimento aqui é branco, granuloso, inodoro (aspecto de leite coalhado). Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 Diagnóstico • O diangóstico é clínico e exame a fresco microscópico confirma ele. Tratamento • São várias opções, sendo que escolhas por medicações com tempo de tto mais curto aumenta a adesão. De acordo com M.S primeira opção é Miconazol creme vaginal 2% (usar 1 aplicador cheio a noite por 7 dias). Segunda opção é fluconazol 150 mg V.O dose única. Em grávidas recomenda-se somente a opção tópica. • HIV + tto é o mesmo. Tricomoníase Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 • Ela é causada por um protozoário (Trichomonas vaginalis) e se trata de uma IST. É a 3º causa mais comum de corrimento vaginal. • Fator de risco: como é uma IST, o único aqui envolvido é o sexo desprotegido. • Os homens parceiros de mulheres infectadas geralmente possuem também o tricomona, mas são geralmente assintomáticos e se comportam como vetores, raramente desenvolvendo sintomas. • Ela pode estar associada a outras infecções como VB e gonococcia. Quadro clínico • As mulheres podem ser assintomáticas. No caso de sintomáticas a principal queixa é corrimento amarelo-esverdeado, fétido e bolhoso. Aqui ocorre principalmente sinais inflamatórios nas paredes vaginais e o sinal clássico de colpite focal ou difusa (colo em “morango”, presente em 90% dos casos). Pode-se ter: dispareunia, prurido e disúria. Diagnóstico • Geralmente é clínico e baseado na medida PH vaginal (é alcalino >5) e também na microscopia a fresco (mto importante). • A cultura em meio Diamond era o padrão-ouro, mas hj existem métodos mais sensíveis por técnicas moleculares. Tratamento • Deve ser sistêmico, logo por V.O. Segundo M.S primeira opção é metronidazol 2g V.O dose única (como não tem cp de 1g tem que tomar 5 de 400 mg). Gestantes devem usar a clindamicina 1º trimestre depois podem usar o metronidazol. Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 • Em HIV + tto é o mesmo • Aqui o tratamento dos pco sexuais é obrigatório (mesmo esquema das mulheres) assim como abstinência sexual durante o tto. OBS: Apesar de recomendarem clindamicina no 1º trimestre, o metronidazol é cat. B e não se tem estudos provando que ele cause danos no feto, logo ele pode ser usado na gravidez até no 1º trimestre, apesar do M.S recomendar clindamicina. Vaginite descamativa • É um processo crônico, que ocorre por motivos desconhecidos, mas com cultura da secreção que predomina estreptococos beta-hemolíticos (do grupo B ou S. agalactiae). É mais comum na menopausa. • Quadro-clínico: Aqui tem-se uma secreção vaginal purulenta em grande quantidade, sem presença de sinais inflamatórios genitais. • Diagnóstico: PH é alcalino e na microscopia observa-se processo descamativo intenso com presença de células profundas (basais), ausência de lactobacilos, e aumento de leucócitos pmn e cocos gram +. • Tratamento: Clindamicina creme 2% - 5g via vaginal por 7 dias. Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 Vulvovaginites e vaginoses não infecciosas Vulvovaginites inespecíficas • Elas se tratam de processo inflamatório na vulva e paredes vaginais (ocorre mais na vulva) só que sem agentes etiológicos principal relacionado. Os próprios micro-organismos normais da flora causam a doença. • Ocorre predominantemente em mulheres pré-puberes, sendo que é a principal causa de Vulvovaginites nesse grupo. (70% dos casos nesse grupo são inespecíficos). Isso devido a fatores higiênicos (inadequado), anatômicos (proximidade uretra-vagina-ânus) e fisiológicos (ph alcalino). • Quadro clínico: corrimento com aspecto variável, sinais de inflamação vulvar (prurido, ardência, escoriação, hiperemia, edema), disúria, sinais má-higiene. • Diagnóstico: É necessário excluir outras causas da queixa, logo deve-se fazer o exame de PH, KOH e microscopia com coloração de gram, sendo que a secreção aqui é coletada por meio de sonda nelaton acoplada na seringa, já que essa doença afetada pré- puberes que são na maioria virgens. Além disso, deve-se realizar EPF com pesquisa pra Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4 oxiúros, EAS e urocultura. Não tendo-se nada disso é feito então diagnóstico. Aqui não é necessário fazer cultura • Tratamento: Boa higiene local com sabão neutro, evitar passar cremes que possam irritar, evitar roupas sintéticas que possam irritar. Caso constate algumas alterações no exame acima deve-se tratar conforme a doença. Vaginose Citolítica • Definição: Corrimento vaginal que ocorre por aumento de lactobacilos, que levam diminuição do PH e assim citólise celular do epitélio vaginal e elas liberam substância irritativas que levam ao corrimento e ardência. • Quando-clínico: Parecido com a CVV, tendo-se: prurido, leucorreia, disúria, dispareunia. • Diagnóstico: PH ácido, (<4,5), microscopia com aumento de lactobacilos e microbiota normal da flora e citólise intensa. • Tratamento: Fazer alcalinização do meio vaginal com duchas vaginais contendo bicarbonato de sódio (30-60g) em 1L de água morna. Fazer 2-3 vezes por semana até remissão do quadro clínico. Vaginite Atrófica • Definição: Vaginite que surge por deficiência de estrogênio. Isso porque o epitélio vaginal e uretral é estrogênio dependente. • Fator risco: Pós-menopausa, medicamentos (tamoxifeno), ooforectomia... • Quadro clínico: Ocorre sintomas vaginais e urinários. Prurido, ardência, dispareunia, secreção vaginal amarelo-esverdeada, disúria, hematúria, ITU, incontinência. No exame físico aqui percebe-se falta de elasticidade e ressecamento dos lábios vaginais, eritema. • Diagnóstico: PH >5 e microscopia com ausência de parasitas e com microbiota normal, aumento de PMN e presença células basais. • Tratamento: Fazer reposição de estrogênio tópico. Lucas Fraga – Medicina UFR turma 4