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LITERATURA_NORTE_AMERICANA (1)

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2009
LITERATURA
NORTE-AMERICANA
Anderson Soares Gomes
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
©2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização 
por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Júpiter Images
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G612L
Gomes, Anderson Soares
Literatura norte-americana / Anderson Soares Gomes. – Curitiba, PR: IESDE 
Brasil, 2009.
216 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-0383-9
1. Literatura americana - História e crítica. 2. Literatura americana - Aspectos 
sociais. 3. Literatura e história - Estados Unidos. 4. Estados Unidos - História. 5. Cul-
tura - Estados Unidos. I. Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. II. Título.
09-2430 CDD: 810.9
CDU: 821.111(73).09
Doutor em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
Rio), Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Ba-
charel em Letras pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Anderson Soares Gomes
Sumário
Literatura colonial e a América puritana .......................... 11
A chegada do Mayflower ........................................................................................................ 12
O estabelecimento das treze colônias ............................................................................... 14
A literatura colonial: o puritanismo e o Great Awakening ........................................... 18
O período revolucionário ...................................................... 29
Os conflitos com a Inglaterra e a luta pela independência ........................................ 29
Os “Pais Fundadores” ................................................................................................................ 33
Os textos revolucionários ....................................................................................................... 37
A prosa romântica .................................................................... 47
O ideal romântico e a construção da identidade norte-americana ........................ 47
O transcendentalismo ............................................................................................................. 52
A inspiração gótica ................................................................................................................... 59
A poesia romântica .................................................................. 69
A poesia de Edgar Allan Poe .................................................................................................. 69
Walt Whitman: a busca por uma voz norte-americana ............................................... 73
Emily Dickinson: a poesia de cunho metafísico ............................................................. 76
A Guerra Civil e a literatura correspondente .................. 87
Diferenças entre o norte e o sul dos EUA.......................................................................... 87
A escravidão e os textos abolicionistas ............................................................................. 90
Consequências do conflito: textos literários de temática da Guerra Civil ............ 95
O Realismo norte-americano .............................................103
As mudanças socioeconômicas .........................................................................................104
Uma voz nacional: Mark Twain ...........................................................................................107
O Naturalismo ...........................................................................................................................112
Henry James: a literatura entre os Estados Unidos e a Europa ...............................116
A prosa norte-americana 
na 1.ª metade do século XX ................................................125
F. Scott Fitzgerald e a Jazz Age ............................................................................................126
Ernest Hemingway e a precisão da escrita .....................................................................130
William Faulkner e a tradição sulista ................................................................................133
John Steinbeck e a Grande Depressão ............................................................................136
A poesia norte-americana 
na 1.ª metade do século XX ................................................147
Robert Frost: a natureza como poesia .............................................................................147
T.S. Eliot & Ezra Pound: trilhando caminhos modernos .............................................151
Elizabeth Bishop e sua relação com o Brasil ..................................................................158
O teatro e as vertentes da prosa norte- 
-americana na 2.ª metade do século XX ........................167
O teatro de Arthur Miller e Tennessee Williams............................................................168
A ascensão da literatura afro-americana ........................................................................174
Inovações na prosa: J.D. Salinger e New Journalism ...................................................178
Possibilidades de ensino de literatura 
norte-americana no ensino médio ..................................189
A obra literária como produto de um momento histórico .......................................190
Abordagens para o ensino da literatura norte-americana .......................................194
Gabarito .....................................................................................205
Referências ................................................................................213
Apresentação
No mundo contemporâneo, onde a cultura norte-americana se encontra prati-
camente onipresente nas formas de expressão ocidentais, é cada vez mais im-
portante investigar as maneiras através das quais os Estados Unidos se desenvol-
veram (historicamente, socialmente e artisticamente) de colônia inglesa à maior 
potência mundial.
Tal desenvolvimento pode ser visto especialmente através de sua literatura. É na 
literatura norte-americana que podemos aquilatar a quase totalidade do proces-
so histórico cultural dos Estados Unidos. A partir de seus principais textos (fic-
cionais ou não) e do pensamento de seus autores mais significativos, é possível 
compreender como a identidade norte-americana foi sendo construída através 
dos séculos.
Este material, portanto, se propõe como um estudo das mais relevantes obras 
literárias produzidas nos Estados Unidos numa perspectiva histórico-social, para 
assim se traçar um panorama do “homem norte-americano” – seus valores, suas 
formas de expressão e sua visão de mundo.
Veremos neste trabalho a criação de um ideal para a América através da literatura, 
começando com a saída dos peregrinos da Inglaterra e seu estabelecimento nas 
treze colônias. Analisaremos então o processo de independência norte-america-
no, suas ideologias, seus principais nomes e textos. Assim, vamos estudar como 
se deu a consolidação dos Estados Unidos através da literatura, passando pelo 
período da Guerra Civil, o Romantismo e o Realismo. Por fim, no século XX, trata-
remos da ascensão de novos estilos literários que se tornaram essenciais para o 
reconhecimento da escrita norte-americana como uma das mais representativas 
da contemporaneidade.
O presente trabalho também abordará como a literatura dos Estados Unidos se 
relaciona com outras formas de representação artísticas, como o cinema, a música 
e o teatro.Dessa forma, será possível estabelecer uma ampla perspectiva das mu-
danças e do desenvolvimento da cultura norte-americana.
Que este trabalho sirva de inspiração e estímulo para que futuros profissionais 
da área de Letras possam, de forma crítica e complexa, percorrer os sinuosos – 
porém enriquecedores – caminhos traçados pelos principais nomes da literatura 
produzida nos Estados Unidos.
Anderson Soares Gomes
Literatura colonial e a América puritana
Refletir sobre as expressões literárias da cultura norte-americana é, 
mesmo que de forma subconsciente e intrínseca, refletir sobre a própria 
natureza do nome do país que lhe deu origem.
Os Estados Unidos da América são um país que já em seu nome, no 
plural, prenunciam uma natureza múltipla e variada, indicador que a for-
mação de seu território, seu povo e sua identidade foi construída através 
da união de objetivos comuns e superação de diferenças. Uma das poucas 
nações do mundo reconhecida por uma sigla (EUA, ou “USA” em inglês), os 
Estados Unidos também têm por hábito referirem-se a si próprios como 
“América”, e seus cidadãos como americanos.
Se o fato de se intitular “América” acaba gerando uma insatisfação por 
parte de seus vizinhos da América Central e da América do Sul, não há 
como negar que os Estados Unidos acabaram criando um novo significa-
do para o termo “América”, que ultrapassa os limites geográficos: a Amé-
rica é a terra da democracia, da liberdade individual e da oportunidade. É 
claro, contudo, que nem sempre foi assim. Apesar de existirem evidências 
de que o território da América do Norte já havia sido visitado pelos vikings 
no século IX, é apenas com Cristóvão Colombo, em 1492, que a Europa 
finalmente descobre o novo continente.
A Inglaterra a princípio ocupa um papel secundário na ocupação da 
América, já que Portugal e Espanha tomam para si a maior parte do ter-
ritório. Inicialmente, os ingleses se dedicam à pirataria, roubando ouro 
e prata de navios espanhóis e portugueses. Posteriormente, no entanto, 
a Inglaterra concentra-se na exploração e investigação do território do 
Novo Mundo.
Primeiramente com John Cabot e depois com Walter Raleigh (que nomeia 
a região a que chega de Virgínia, em homenagem à rainha Elizabeth I, a 
“rainha virgem”), há uma tentativa real de colonização da América do Norte 
por parte dos ingleses. Porém, as situações extremas a que esses primeiros 
colonos foram submetidos (doenças, ataques de nativos, fome) puseram fim 
a esse primeiro esboço de uma colônia de domínio inglês na América.
12
Literatura Norte-Americana
Com outro monarca no poder (James I), a Inglaterra tenta novamente implan-
tar uma colônia na América. A estratégia e a natureza desta nova empreitada, 
no entanto, são diferentes daquelas usadas durante o reinado de Elizabeth I. Ao 
invés de nobres desbravadores, esses novos colonizadores eram representantes 
de empresas inglesas que, num esquema pré-capitalista, tinham autorização da 
Coroa para explorar as terras do Novo Mundo. Assim, os ingleses finalmente al-
cançam o sucesso em seu processo de colonização e uma nova fase começa para 
a América do Norte.
A chegada do Mayflower
O primeiro povoado inglês de caráter permanente na América do Norte foi 
Jamestown (assim chamado em homenagem ao rei James I), na Virgínia em 1607. 
Patrocinado pela Virginia Company of London, Jamestown tem outro significado 
muito especial: um dos colonos do povoado foi John Smith (1580-1631), um dos 
mais importantes personagens da história colonial norte-americana.
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o.
John Smith.
John Smith foi um capitão inglês que, através de seus textos e sua fabulosa 
biografia, definiu o perfil dos primeiros colonos americanos: aventureiro, des-
Literatura colonial e a América puritana
13
temido e promotor das belezas e das promessas do Novo Mundo. Em sua pro-
dução textual sobre a América (de cunho notadamente propagandista, já que 
havia enorme interesse em atrair mais e mais colonos ingleses para o novo con-
tinente), Smith cria cenários, eventos e personagens de natureza quase mítica, 
que servem de fundação não só para a literatura, mas também para a identidade 
norte-americana. A América de John Smith é a “terra de oportunidades”, expres-
são que até hoje ecoa na mente daqueles que buscam nos Estados Unidos um 
horizonte para um futuro de prosperidade.
O trabalho mais significativo de Smith é The General History of Virginia. Esta 
obra, escrita quando Smith já havia retornado à Europa, serve não só como re-
gistro de sua permanência na colônia, mas também como artifício para tornar o 
novo continente um lugar atraente para prováveis novos exploradores. É com 
esse trabalho que Smith consolida a visão da América como o lugar da riqueza 
abundante, da vida selvagem, dos prazeres e da liberdade individual.
Também é em The General History of Virginia que John Smith conta uma das 
mais famosas narrativas da história norte-americana: sua aventura romântica 
com a índia Pocahontas. O livro relata como Smith foi capturado por índios li-
derados pelo chefe índio Powhatan e feito prisioneiro. Pouco antes de ser morto 
pelos indígenas, a filha de Powhatan, Pocahontas, se coloca entre Smith e os 
índios e salva o capitão inglês da morte. A partir daí é construída uma narrativa 
que indica uma história de amor entre os dois, já que a princesa indígena se 
torna responsável por um maior contato entre sua tribo e os ingleses. Essa his-
tória de amor, no entanto, não tem um final feliz: Pocahontas se casa com outro 
homem – um agricultor inglês – e vai para a Inglaterra, aceitando a fé cristã. 
Diz-se que lá viveu infeliz, alimentando um desejo de retornar à América até o 
momento de sua morte.
Atualmente, por mais que a história de John Smith e Pocahontas seja questio-
nada por historiadores, e que muito da narrativa de The General History of Virginia 
seja vista como ficção, não há como negar que o possível amor entre o capitão 
inglês e a princesa indígena representou, de forma mitológica, a possibilidade 
de união e prosperidade entre povos tão diferentes nesse Novo Mundo.
Os textos de John Smith sobre essa nova terra repleta de riquezas e oportu-
nidades em muito serviam para criar expectativas em futuros colonos. Contudo, 
essa produção de literatura propagandista não foi a única razão para a ida de 
ingleses para a América. Na Inglaterra, o crescimento das cidades com o êxodo 
rural estava criando um excedente de mão de obra que não interessava à Coroa. 
Órfãos e pessoas muito pobres (indo trabalhar em condições de semiescravidão) 
14
Literatura Norte-Americana
também partiam em direção ao Novo Mundo. A ida de ingleses para a América 
não era apenas uma busca por melhor qualidade de vida, mas também uma 
fuga da situação econômico-social predatória em que se encontravam as classes 
menos favorecidas.
Outro fator importantíssimo para a ida de ingleses para o novo continente 
foi a perseguição religiosa. A Inglaterra, desde o reinado de Henrique VIII, tem 
o anglicanismo como sua religião oficial. A criação da igreja anglicana coloca 
diferentes grupos religiosos em conflito com a Coroa inglesa, em especial os pu-
ritanos, assim chamados porque acreditavam numa igreja mais simples e pura, e 
que tinham como base os textos de Calvino escritos durante a Reforma Protes-
tante. Exercer sua fé na Inglaterra se tornava cada vez mais difícil, já que aqueles 
que não praticavam a religião anglicana passaram a ser perseguidos, sendo pu-
níveis até mesmo com a pena de morte. Depois de uma tentativa fracassada de 
estabelecimento na Holanda, os seguidores do puritanismo partem então para 
o Novo Mundo.
Em 1620 chega ao porto de Plymouth, em Massachusetts, o Mayflower – navio 
inglês que traz o primeiro grupo de “peregrinos” para o novo continente. Esses 
colonos, conhecidos historicamente comoPilgrim Fathers (Pais Peregrinos) serão 
responsáveis por formar a primeira fase da identidade norte-americana e seus 
ensinamentos permanecem no imaginário dos Estados Unidos até hoje.
Esses peregrinos chegam à America determinados a fazer da América a “Terra 
Prometida”, um novo começo para a história e para sua religião. Ao mesmo 
tempo buscando a concretização de sua fé e um despertar de um novo ideal 
de sociedade, esses peregrinos – assim chamados porque acentua sua natureza 
religiosa – são os pastores, professores e empreendedores responsáveis pelo su-
cesso da colonização na América do Norte.
O estabelecimento das treze colônias
É preciso fazer uma importante distinção aqui no que concerne à colonização 
ibérica (Portugal e Espanha) e à colonização inglesa. Portugueses e espanhóis 
tinham um modelo de conquista do novo território claramente mais explorató-
rio, o que fazia com que as regiões sob o seu controle (a América Central, a Amé-
rica do Sul e até mesmo algumas partes da América do Norte, como a Flórida) 
fossem vistas como grandes áreas de extração de riquezas para serem enviadas 
para a Europa. A colonização inglesa na América do Norte, por outro lado, tinha 
Literatura colonial e a América puritana
15
como objetivo central o povoamento daquela região, especialmente porque a 
partir da chegada do Mayflower, as pessoas que chegavam àquela terra pouco 
conhecida estavam em busca de um novo recomeço, longe das problemáticas 
religiosas que tanto sofriam no velho continente. A terra é conquistada para se 
morar nela.
No entanto, pode-se dizer que esses diferentes modelos de colonização não 
eram em sua totalidade apenas de exploração ou apenas de povoamento. Nas 
regiões controladas por portugueses e espanhóis, mesmo para extrair o ouro, a 
prata ou pau-brasil, existia a necessidade de criação de cidades (como o Rio de 
Janeiro ou a Cidade do México) e a miscigenação dos povos em muito contri-
buiu para a criação de uma nova identidade nacional. Já nas colônias inglesas, o 
povoamento da região foi especialmente difícil, já que não havia um suporte do 
Estado como na colonização ibérica (a viagem era feita por companhias particu-
lares) e não haviam riquezas abundantes facilmente encontráveis. Apenas anos 
depois, com a expansão para o oeste americano e com a descoberta de ouro e 
petróleo, o caráter exploratório da ocupação da terra se intensifica.
O início da colonização por parte dos peregrinos foi bastante difícil. Os inver-
nos eram bem rigorosos na região e vários colonos morriam de frio e de fome. 
Além do mais, os variados conflitos com os nativos indígenas ainda era um fator 
extra de perigo que os colonos tinham de lidar.
Mesmo assim, o embrião dos Estados Unidos se expande: mais e mais colo-
nos chegam à América, fugindo da perseguição religiosa, buscando melhor con-
dição econômica ou simplesmente em busca de um novo começo numa terra 
inexplorada. Na Baía de Massachusetts, em 1630, ocorre uma imensa imigração 
puritana que consolida de vez o protestantismo de Calvino por quase todo o 
território. Outras regiões, porém, eram adeptas de outras religiões: em 1633, é 
fundado na colônia de Maryland um povoado seguidor do catolicismo; em 1681, 
William Penn funda na Pennsylvania uma colônia onde a população segue os 
preceitos da doutrina Quaker.
Mesmo entre os protestantes calvinistas existiam diferenças que levaram à 
expansão do território. Roger Williams, por exemplo, era um puritano em desa-
cordo com a íntima ligação entre a esfera política (o Estado) e a esfera religiosa 
(o puritanismo) existente na região de Massachusetts. Ele parte em exílio e funda 
uma nova colônia – Rhode Island.
Essa diversidade religiosa, ao contrário do que poderia imaginar, em muito 
contribuiu para a necessidade de tolerância entre os territórios e a aceitação das 
16
Literatura Norte-Americana
diferenças religiosas. Assim, cada cidadão tinha o direito de exercer sua liberdade 
religiosa sem correr o risco de sofrer perseguição e discriminação – exatamente 
a razão primordial da saída desses peregrinos da Europa, daí a necessidade de 
evitar o mesmo erro que os ingleses.
Com a chegada de mais e mais colonos e a criação de novos territórios, os Es-
tados Unidos se expandem e então seu território se estabelece no que é chama-
do de “treze colônias”. É interessante notar que, diferentemente do que aconte-
ceu com outras regiões (como o Brasil, por exemplo), não há apenas uma grande 
colônia sob domínio de uma nação europeia. O que existe é uma extensa região 
que consiste em treze colônias distintas, cada uma com suas peculiaridades e 
características – fator que em muito vai influenciar a história e a literatura dos 
Estados Unidos até hoje.
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Literatura colonial e a América puritana
17
Mas nem só de colonos europeus e puritanos consistiam os Estados Unidos. 
Essa parte da população é o que se costumou chamar de WASP, sigla que signi-
fica White-anglo-saxon-protestant (branco-anglo-saxão-protestante). Membros 
desse grupo acabaram constituindo a parte mais rica e representativa do país, 
deixando outras partes da sociedade à margem do progresso norte-americano.
Embora a chegada dos “Pais Peregrinos” tenha dado um impulso desenvol-
vimentista à América do Norte, existiam outros grupos também responsáveis 
pela criação dos Estados Unidos – através de uma cultura, um estilo de vida e 
uma visão de mundo bem distinta daquela apresentada pelos puritanos vindos 
da Inglaterra. Talvez o mais importante desses grupos seja o dos índios norte- 
-americanos, atualmente chamados de Native-Americans (Nativos-Americanos). 
Como o próprio nome já indica, eles eram nativos da terra e já se encontravam 
no território da América do Norte bem antes da chegada dos primeiros coloni-
zadores europeus.
O conhecimento que temos hoje da sociedade e da cultura do índio nativo 
norte-americano passa inevitavelmente pelo olhar que o homem branco lançou 
sobre ele assim que chegou à América. Portanto, é importante que a leitura de 
textos que tratem do encontro entre colonizadores e indígenas sempre seja feita 
com um olhar crítico, levando em consideração não só o período histórico, mas 
também os interesses envolvidos.
Em The General History of Virginia, John Smith fala dos índios utilizando termos 
como “bárbaros” e “selvagens”, enfatizando a natureza pagã e violenta dos nativos, 
enquanto descreve a si mesmo sempre envolto em termos cristãos. Esse estilo 
narrativo é ainda mais notório no episódio em que é salvo da morte por Pocahontas, 
como se Smith fosse uma espécie de “novo salvador” posto em calvário.
Essa visão do indígena como selvagem por muito perdurou no imaginário nor-
te-americano. Dentre as várias razões para isso, está o fato de os colonos ingleses 
não terem interesse em catequizar os nativos, como ocorreu no Brasil por exem-
plo. Os índios eram sempre mantidos à distância, e o contato com eles era feito 
apenas no que se relacionava à troca ou compra de mercadorias. Quando se deu 
a expansão para o oeste norte-americano, a relação entre nativos e colonizadores 
alcançou seu ponto mais conflituoso, com o extermínio de milhares de indígenas.
Felizmente, boa parte da cultura indígena foi preservada, especialmente atra-
vés da ficção mantida inicialmente através da tradição oral (histórias passadas 
de geração em geração), que posteriormente serviriam como base para o sur-
gimento da native-american literature (literatura nativa-americana). Várias das 
18
Literatura Norte-Americana
obras da literatura indígena norte-americana têm origem anônima, e misturam 
mitos de criação de heróis com a própria história da sociedade nativa. Diferentes 
tribos também possuem diferentes histórias de criação do mundo e do universo, 
como a Gênese da tribo Blackfeet.
Outro grupo cuja importânciaé crescente nesse período inicial da coloniza-
ção dos Estados Unidos é o dos negros, cuja presença na América se fazia atra-
vés da escravidão. Eles vinham trazidos por navios ingleses que partiam para a 
África, capturavam os escravos e os deixavam nas colônias americanas, para lá 
buscar algodão, tabaco e outros produtos. A escravidão na América durou até 
1861, mas até lá os negros viviam em condições degradantes de servidão, já que 
não eram considerados capazes das mesmas atividades sociais e intelectuais 
que os brancos e, portanto, não merecedores do termo cidadão.
Esses grupos, todavia, permanecem sempre à margem da sociedade branca 
e protestante, que espalha por todas as treze colônias seu estilo de vida e seus 
ideais de sociedade. Sociedade esta cuja mais importante característica é a pre-
sença da crença religiosa puritana em todas as esferas, da política ao lazer. É o 
puritanismo que molda a vivência dos cidadãos dos Estados Unidos e serve de 
impulso para os primeiros textos escritos em solo norte-americano.
A literatura colonial: 
o puritanismo e o Great Awakening
O puritanismo é a força motriz da sociedade norte-americana. É através dos 
ideais norte-americanos que os primeiros peregrinos constroem não só escolas, 
igrejas e universidades: eles constroem também uma ideia da América. Os Esta-
dos Unidos são mais do que um novo lar para esses colonos – são uma região 
onde eles finalmente poderão construir a “nova Canaã” bíblica, já que eles acre-
ditam ser as pessoas escolhidas por Deus para concretizar um reino de prosperi-
dade na terra seguindo fielmente às leis cristãs.
Na Europa, os puritanos muito sofreram com a perseguição religiosa, já que 
como adeptos do protestantismo calvinista, renegavam a doutrina do catolicis-
mo e do anglicanismo, as duas religiões predominantes da Inglaterra. Vários pu-
ritanos chegaram a ser torturados e até mesmo enforcados por exercer a sua fé.
Mesmo dentro de sua própria religião, existiam diferenças nas formas com que 
as pessoas deveriam seguir os ensinamentos da Bíblia. Isso se dava porque, diferen-
Literatura colonial e a América puritana
19
temente do catolicismo (em que predomina uma interpretação dos textos bíblicos 
e se deve respeitar a palavra do Papa), o puritanismo admite leituras pessoais e 
individuais da Bíblia, fazendo com que formas de entendimento distintas surjam 
de mesmos textos religiosos. Assim, dentro do movimento puritano surgem dife-
rentes segmentos como os amish e os quakers, que possuem uma outra visão de 
como as lições das parábolas da Bíblia devem ser incorporadas no seu cotidiano.
Alguns preceitos religiosos estabelecidos por Calvino, entretanto, estavam 
presentes na maior parte da sociedade puritana, dentre eles, a ideia de que o 
pecado original manchou toda a existência humana, e por isso o homem era na-
turalmente corrupto e sujeito à maldade. Os puritanos também acreditavam que 
o sacrifício de Jesus acabou por garantir o perdão de Deus, mas esse perdão não 
é estendido a todos os homens – só alguns eleitos o ganhariam. Além disso, é 
clara no puritanismo a ideia de que Deus escolhe, desde o princípio dos tempos, 
aqueles que vão para o céu e aqueles que vão para o inferno.
É interessante comparar e contrastar os dogmas puritanos e católicos, espe-
cialmente ao considerarmos como a influência religiosa se fez tão presente no 
período colonial das Américas. De forma geral, o catolicismo se volta mais para 
o mundo após a morte, em que Deus julga-nos pelos atos que tivemos em vida. 
Já a vida puritana se concentra nas provas terrenas da benção de Deus, através 
do trabalho e da prosperidade.
O puritanismo também acredita que o bom cristão é aquele que vive bem 
com os frutos do trabalho, produzindo, através de seu esforço e seus méritos, seus 
meios de subsistência e conforto. Para o catolicismo, existe uma visão subjacente 
de que o trabalho é punição, e de que a riqueza carrega em si um estigma 
negativo, uma culpa.
Essas crenças calvinistas estiveram presentes em diversos estágios da coloni-
zação dos Estados Unidos. Os puritanos construíram seus vilarejos e depois suas 
cidades acreditando que assim estariam realizando, através de seu trabalho, o 
desejo de Deus de criar um novo paraíso, onde os homens viveriam seguindo as 
leis bíblicas. Assim sendo, o próprio governo tinha o dever de fazer as pessoas 
obedecerem à vontade divina. Existiam leis, por exemplo, que obrigavam as pes-
soas a irem à igreja, ou que puniam adúlteros.
Tal comunhão entre religião e governo foi crucial para que um episódio 
como o dos julgamentos das bruxas no vilarejo de Salem fosse permitido. Um 
dos mais vergonhosos momentos da história dos Estados Unidos, a série de 
julgamentos e execuções de dezenas de colonos por bruxaria ocorridos em 
20
Literatura Norte-Americana
Salem, Massachusetts, hoje é visto como consequência dos excessos da presença 
puritana na administração das colônias.
Por outro lado, esse sentido de autodeterminação e trabalho recompensado 
ajudou a estabelecer ideais de independência e liberdade que os norte-america-
nos consideram seus principais legados para o mundo ocidental. É através da ex-
periência puritana, com sua promessa de felicidade e recomeço, que os Estados 
Unidos se formam sob a égide (amparo) do american dream (sonho americano) 
– em linhas gerais, a ideia de que qualquer pessoa, não importa o seu passado 
ou condição social, pode ser bem-sucedida.
É através da literatura que os homens e mulheres recém-chegados a essa 
nova terra de oportunidades, mas também de perigos, iriam definir a América. 
As colônias seriam o local onde não só a fé puritana seria testada, mas também 
a língua inglesa e suas narrativas. Com seus textos, os primeiros escritores dos 
Estados Unidos procuravam compreender e descobrir a natureza e os propósitos 
desse novo mundo que se apresentava a eles.
Uma das figuras mais proeminentes deste período inicial foi William Bradford 
(1590-1657). Eleito governador da colônia de Massachusetts por várias vezes, 
Bradford também tem uma enorme importância histórica por ser um dos ideali-
zadores do chamado Mayflower Compact, o primeiro documento oficial compos-
to pelos peregrinos da colônia de Plymouth.
A mais importante obra de William Bradford, contudo, foi Of Plymouth Plan-
tation, um diário pessoal escrito entre 1620 e 1647, narrando a permanência dos 
colonos na região de Massachusetts. O diário de Bradford conta a história da 
partida do Mayflower, a difícil viagem, sua chegada na América e o posterior 
povoamento e desenvolvimento da colônia.
Of Plymouth Plantation é uma obra extremamente rica por dois motivos fun-
damentais. Primeiramente, porque é o mais vívido e detalhado documento des-
crevendo o cotidiano, os problemas e o progresso em uma das mais importantes 
das treze colônias no século XVII; a outra razão para a natureza complexa dos 
escritos de Bradford é a mescla desse aspecto factual com os comentários e as 
interpretações do autor, o que leva a um entendimento mais completo do perío-
do. Dessa forma, enquanto do ponto vista histórico, Of Plymouth Plantation pode 
ser considerada como anais do período colonial; do ponto de vista literário os 
diários de William Bradford são um material que atestam o estilo e a linguagem 
de formação da literatura norte-americana.
Literatura colonial e a América puritana
21
O subtexto dos escritos dos diários indica uma forte influência dos ideais do 
protestantismo calvinista, especialmente no que concernem aos objetivos puri-
tanos para a América. A narrativa de Bradford em muito lembra as grandes nar-
rativas bíblicas, com a busca da Terra Prometida pelo povo eleito, sendo guiado 
pela mão divina em sua longa jornada.
O estilo e a linguagem dos escritos de Of Plymouth Plantation é aquele ca-
racterístico de todas as expressões artísticas realizadaspor puritanos: simples e 
livre de adornos. Bradford afirma que seus relatos vão atestar apenas a “simples 
verdade”. Essa crença na unicidade dos fatos e no que é naturalmente verdadeiro 
é um reflexo da presença dos ensinamentos da Bíblia no raciocínio do puritanis-
mo, em que é bem clara a distinção do que é certo e errado.
Como o próprio William Bradford pôde ver posteriormente, contudo, a verda-
de não se mostrou de forma tão simples assim. À medida que os colonos se es-
tabelecem de forma mais bem sucedida na América e novas gerações sucedem 
os “Pais Peregrinos”, a criação de uma estrutura comercial e lucrativa, o acúmulo 
de terras e a busca pelo sucesso econômico são para o autor um distanciamento 
do sonho de uma comunidade perfeita sob as leis de Deus.
Assim, ao final de Of Plymouth Plantation, a escrita de Bradford adquire um 
tom de lamento e decepção, já que mais e mais as ações das novas gerações se 
afastam dos ideais dos primeiros puritanos que desembarcaram do Mayflower. 
Sobre essa nova perspectiva da vivência puritana nas treze colônias, o escritor 
Malcolm Bradbury afirma:
The puritans persist in writing for themselves a central role in the sacred drama God had 
designed for man to enact on the American stage, the stage of true history. In that recurrent 
conflict between the ideal and the real, the utopian and the actual, the intentional and the 
accidental, the mythic and the diurnal, can be read […] an essential legacy of the puritan 
imagination to the American mind. (BRADBURY; ROLAND, 1992, p. 13-14)
A Nova Inglaterra (região nordeste da América do Norte) vinha então crescen-
do e, neste processo, procurava conciliar os preceitos bíblicos com o surgimento 
de novas formas de relacionamento em sociedade. Se William Bradford tratou 
dessa tensão através de entradas em seu diário, outros autores viram a situação 
como uma grande oportunidade para expressar sua subjetividade e imaginação 
poética.
A mais bem sucedida nesta tarefa foi Anne Bradstreet (1612-1672), reconhecida 
até hoje como um dos maiores nomes da poesia, não só norte-americana, mas 
de toda a língua inglesa. Nascida na Inglaterra, Bradstreet chega acompanhada 
22
Literatura Norte-Americana
de seu marido ao novo continente em 1630. Embora seu pai e seu marido tives-
sem fortes ligações políticas na América (ambos foram governadores da Baía de 
Massachusetts), esse não é um aspecto particularmente importante nos textos 
de Anne Bradstreet. Grande parte da riqueza de seus trabalhos poéticos encon-
tra-se na forma que ela escreveu sobre a atmosfera doméstica da vida puritana. 
Com extrema sensibilidade ao tratar das adversidades presentes no cotidiano 
do novo continente e com um tom metafísico que a permite ultrapassar a mera 
descrição de eventos, Bradstreet desperta interesse não só pela importância his-
tórica, mas também pela qualidade de sua escrita.
Os poemas de Anne Bradstreet atestam de forma clara a complexidade da 
realidade puritana. Sua escrita revela um pensamento livre, dotado de conside-
rável conhecimento poético (era admiradora de grandes poetas ingleses como 
Philip Sidney e Edmund Spenser), mas que contrasta com a rigidez das regras 
puritanas, especialmente quando se considera o papel de submissão a que as 
mulheres eram relegadas. As regras rigorosas do puritanismo, pelo contrário, não 
ofuscam o talento de Bradstreet. Seus poemas sobre o cotidiano e acontecimen-
tos marcantes do período são sempre tocantes porque, através deles, a autora 
reforça sua fé nos ideais divinos em busca de consolo, proteção ou coragem.
Os trabalhos mais reconhecidos de Bradstreet, no entanto, são aqueles em que 
a autora celebra o matrimônio como instituição, reafirmando o profundo amor 
que tinha por seu marido, Simon. Como o marido costumava ficar longe em via-
gens de trabalho, a autora dedicava-lhe grande parte de seus poemas para aplacar 
a dor da distância. Um dos mais famosos, To My Dear and Loving Husband, aborda o 
relacionamento do casal ligado a elementos da natureza, como se o próprio amor 
de marido e mulher fosse necessário a um equilíbrio natural das coisas:
If ever two were one, then surely we.
If ever man were loved by wife, then thee;
If ever wife was happy in a man,
Compare with me, ye women, if you can.
I prize thy love more than whole mines of gold
Or all the riches that East doth hold.
My love is such that rivers cannot quench,
Nor ought but love from thee, give recompense.
Thy love is such I can no way repay,
The heavens reward thee manifold, I pray.
Then while we live, in love let’s so persevere
That when we live no more, we may live ever.
Anne Bradstreet.
Literatura colonial e a América puritana
23
Curiosamente, não foi por vontade própria que Anne Bradstreet se tornou a 
primeira poetisa do novo continente a ter seus trabalhos publicados. Na verda-
de, foi seu cunhado que levou os manuscritos de seus poemas para a Inglaterra e 
lá os teve publicados sob o título de The Tenth Muse Lately Sprung Up in America, 
em 1650. Seus trabalhos desde então permaneceram cruciais para um maior en-
tendimento do período colonial e para o despertar de uma sensibilidade metafí-
sica que tanto influenciaria outros poetas americanos nos séculos seguintes.
A mais popular produção literária do período puritano, no entanto, não foi 
nem o relato em forma de diário e nem a poesia – foi o sermão. Considerando a 
presença das crenças e do estilo de vida puritano em todas as esferas da socie-
dade, nada mais natural que a forma de expressão máxima da América colonial 
fosse a produção de textos religiosos para serem lidos nas pregações.
O centro da vida puritana era a igreja, e era lá que um dos atos mais essenciais 
para o homem cristão acontecia: ouvir os sermões. Dada a natureza do puritanis-
mo, toda a atenção da cerimônia religiosa se voltava não para um altar, mas para 
o púlpito; a força da fé se revelava não por imagens, mas pela palavra.
O sermão atinge o ápice de sua popularidade durante o movimento chamado 
de Great Awakening (Grande Despertar). Fenômeno sociorreligioso ocorrido no 
século XVIII, o Great Awakening foi uma reação por parte de pastores e homens 
religiosos contra o formalismo a que o puritanismo estava sendo submetido, 
com seus principais ideais sendo esquecidos ou adquirindo pouca importância. 
Assim, pastores itinerantes iam de cidade em cidade pregando, de forma caris-
mática, sermões que em muito exaltavam os fiéis e renovavam sua fé. Apesar de 
vários historiadores afirmarem que o Great Awakening não foi um movimento 
organizado, não há como negar que a necessidade por parte de uma nova gera-
ção de pregadores foi essencial para revitalizar o puritanismo.
Uma das mais importantes figuras não só do Great Awakening mas de toda 
a América Colonial foi Jonathan Edwards (1703-1758). Pastor, intelectual e teólo-
go, ele é considerado um dos símbolos do puritanismo na América. Uma análi-
se artificial pode classificar Edwards como um estereótipo do rígido pregador 
puritano que, do alto de seu púlpito, incutia o medo e a culpa nos fiéis através 
de exagerados sermões. Um olhar mais atencioso, todavia, indica que os textos 
de Edwards (apesar de ratificarem a doutrina puritana do homem pecador e de 
um Deus punitivo) também partilham muito da herança de John Locke e Isaac 
Newton, dois nomes cruciais do racionalismo inglês que, entre outros pressu-
postos, acreditavam que o homem poderia trilhar o caminho da bondade.
24
Literatura Norte-Americana
É importante lembrar que os sermões são, essencialmente, textos para serem 
lidos em público. Jonathan Edwards talvez tenha sido o pastor que melhor enten-
deu esse propósito da pregação, já que seus textos imediatamente estabelecem 
com quem os ouve uma ligação emocional pouco comum em outros sermões 
do período. Esses escritos de Edwards seguem, em sua maior parte, o formatoclássico do sermão puritano: primeiramente há o texto, (i.e.)isto é, a passagem 
da Bíblia que vai servir de tópico central do trabalho escrito; a seguir, aparece 
a doutrina, i.e. a lição que deve ser apreendida do texto; a terceira parte é a das 
razões, i.e. provas ou fatos que confirmam a doutrina; finalmente, aparecem os 
usos, i.e. a aplicação da doutrina por parte dos fiéis.
Utilizando essa estrutura clássica, o autor enfatiza o caráter irado de Deus e 
o pecado inerente a todos os homens, que já nascem culpados. Essa atitude cal-
vinista conservadora, no entanto, é aliada ao pensamento mais racionalista de 
Locke. Assim, Edwards também acredita, em seus sermões, que o homem pode 
se aperfeiçoar e melhorar seus traços de caráter.
O sermão mais marcante de Jonathan Edwards é Sinners in the Hands of an 
Angry God. Nesse texto, dirigido a uma congregação em Massachusetts, Edwards 
se utiliza de todo um arsenal imagístico para traduzir para os fiéis o poder e a 
ira de Deus que, por um mero capricho, pode lançar todos os pecadores às 
fornalhas do inferno. A presença dos homens no plano terreno, afirma Edwards, 
se dá apenas pelo prazer de Deus, porque nada o impede de fazer com que os 
homens impuros tenham o chão aberto sobre eles para que caiam nas chamas 
eternas infernais.
Sinners in the Hands of an Angry God ilustra um dos pontos centrais do purita-
nismo (levado ao extremo pelos pastores do Great Awakening): o poder de Deus 
está sempre em eterno contraste com a devassidão e a maldade humana. Essa 
tensão é consequência do pecado original, mas também é a grande causadora 
da culpa que atormenta o homem. Por outro lado, é essa mesma culpa que leva 
o homem a buscar a redenção, o trabalho e o recomeço.
Assim os Estados Unidos, em seu começo, constroem toda uma organização 
social em que a religião é ao mesmo tempo uma força motriz, mas também um 
agente regulador de seu desenvolvimento. As lições da era puritana permane-
cem até hoje no imaginário norte-americano, promovendo um material vastíssi-
mo para que a literatura do país se tornasse uma das mais ricas e complexas do 
mundo.
Literatura colonial e a América puritana
25
Texto complementar
Sinners in the hands of an angry God
(EDWARDS, 1989)
The wrath of God is like great waters that are dammed for the present; 
they increase more and more, and rise higher and higher, till an outlet is 
given; and the longer the stream is stopped, the more rapid and mighty is 
its course, when once it is let loose. It is true, that judgment against your 
evil works has not been executed hitherto; the floods of God’s vengeance 
have been withheld; but your guilt in the mean time is constantly increasing, 
and you are every day treasuring up more wrath; the waters are constantly 
rising, and waxing more and more mighty; and there is nothing but the mere 
pleasure of God, that holds the waters back, that are unwilling to be stopped, 
and press hard to go forward. If God should only withdraw his hand from 
the flood-gate, it would immediately fly open, and the fiery floods of the 
fierceness and wrath of God, would rush forth with inconceivable fury, and 
would come upon you with omnipotent power; and if your strength were 
ten thousand times greater than it is, yea, ten thousand times greater than 
the strength of the stoutest, sturdiest devil in hell, it would be nothing to 
withstand or endure it.
The bow of God’s wrath is bent, and the arrow made ready on the string, 
and justice bends the arrow at your heart, and strains the bow, and it is 
nothing but the mere pleasure of God, and that of an angry God, without any 
promise or obligation at all, that keeps the arrow one moment from being 
made drunk with your blood. Thus all you that never passed under a great 
change of heart, by the mighty power of the Spirit of God upon your souls; 
all you that were never born again, and made new creatures, and raised from 
being dead in sin, to a state of new, and before altogether unexperienced 
light and life, are in the hands of an angry God. However you may have 
reformed your life in many things, and may have had religious affections, and 
may keep up a form of religion in your families and closets, and in the house 
of God, it is nothing but his mere pleasure that keeps you from being this 
26
Literatura Norte-Americana
moment swallowed up in everlasting destruction. However unconvinced 
you may now be of the truth of what you hear, by and by you will be fully 
convinced of it. Those that are gone from being in the like circumstances 
with you, see that it was so with them; for destruction came suddenly upon 
most of them; when they expected nothing of it, and while they were saying, 
Peace and safety: now they see, that those things on which they depended 
for peace and safety, were nothing but thin air and empty shadows.
Dicas de estudo
O site da Biblioteca do Congresso Norte-Americano tem análises bem com-
pletas e interessantes sobre o período colonial dos Estados Unidos, incluindo 
textos de fundação do país e biografias dos Founding Fathers. Disponível em: 
<http://www.americaslibrary.gov/cgi-bin/page.cgi/jb/colonial>
HYTNER, Nicholas. As Bruxas de Salem. 1992. Baseado na peça do dramaturgo 
Arthur Miller, este filme concentra-se no julgamento e execução de vários colo-
nos na colônia de Salem no fim do século XVII, acusados de bruxaria. Exemplo 
mais famoso dos excessos do puritanismo, esse triste episódio da história dos 
Estados Unidos é sempre lembrado quando o país encontra-se envolto em uma 
atmosfera de perseguição e intolerância.
Atividades
1. Como os escritos de John Smith serviram para construir uma visão particular 
da América no imaginário europeu?
Literatura colonial e a América puritana
27
2. Qual a importância do puritanismo para o desenvolvimento da literatura dos 
EUA?
3. Como a passagem do sermão Sinners in the Hands of an Angry God (texto 
complementar) ilustra a relação de Deus com os pecadores de acordo com o 
puritanismo?
O período revolucionário
Se no século XVII a América começa de forma gradual a desenvolver 
uma literatura baseada, entre outros aspectos, no choque civilizatório 
entre o Velho e o Novo Mundo, no século XVIII essa literatura vai ter como 
matéria-prima uma nova forma de pensamento que levará a grandes mu-
danças políticas – especialmente à independência dos Estados Unidos. 
Este foi um período de muita turbulência na Europa, com diversas guerras 
e atritos políticos que levaram a diversas mudanças no governo inglês, o 
que acabou afetando diretamente a relação que a Inglaterra tinha com as 
colônias.
Eventualmente, foi o conflito de interesses entre o governo inglês e os 
políticos e pensadores da América (altamente influenciados por uma pers-
pectiva iluminista) que levou ao desejo das colônias declararem indepen-
dência. Foi um processo muito difícil e trabalhoso – não só pelo inimigo 
externo (a Inglaterra), mas também pela desconfiança dentro do próprio 
território com relação à criação de um país único formado por treze colô-
nias diferentes.
A literatura dos Estados Unidos foi mais que influenciada por essa agi-
tação política – ela exerceu um papel fundamental na divulgação e con-
solidação das ideias revolucionárias que davam legitimidade à indepen-
dência. Foi com essa literatura, altamente baseada em conceitos racionais, 
mas também tendo a rebelião contra a injustiça como uma questão cen-
tral, que uma nação finalmente se constituiu.
Os conflitos com a Inglaterra 
e a luta pela independência
Em meados do século XVIII, as colônias da América se encontravam 
numa situação bem diferente daquela que os primeiros peregrinos viram 
quando desembarcaram do Mayflower em 1620. Os primeiros povoados 
já tinham se tornado grandes cidades, não só em termos de extensão, mas 
30
Literatura Norte-Americanatambém em número de pessoas: na década de 1760, por exemplo, haviam 1,5 
milhões de pessoas nas treze colônias – número seis vezes maior que em 1700.
Politicamente, as colônias já se encontravam em um confortável nível de 
organização. Depois de décadas de experiência de governo, os americanos já 
haviam se acostumado a uma estrutura colonial na qual eles possuíam uma 
certa autonomia política. Em termos econômicos, a América também se encon-
trava em um estágio bem desenvolvido. As colônias do norte estabeleceram, por 
um lado, um forte mercado interno (com a presença de manufaturas) e por outro 
lado, exportavam peles e construíam navios para serem vendidos na Europa. As 
colônias do sul também tinham um importante papel econômico, pois delas é 
que saíam o principal produto de exportação das colônias: o tabaco.
Dessa forma, as treze colônias desfrutavam de um grau de liberdade e auto-
nomia pouco visto em outras regiões das Américas. Essa prosperidade e capa-
cidade de se autogovernar serviu para criar entre os colonos a sensação de que 
todos faziam parte de um grande projeto – o projeto americano. Eles estavam 
concretizando, de certa forma, o ideal puritano de construir uma nova socieda-
de, onde um “povo eleito” viveria em paz e igualdade.
Por mais que as treze colônias tivessem diferenças entre si (e em especial se 
compararmos as da região norte com as da região sul), começa a se formar um 
senso de nacionalidade até então inédito entre os colonos. As razões internas 
para esse crescente nacionalismo vão se encontrar então com um motivo exter-
no para unir ainda mais a população: um inimigo em comum, a Inglaterra.
A Inglaterra, na metade do século XVIII, vinha de um grande conflito em terras 
norte-americanas: foi a chamada Guerra dos Sete Anos (1756 – 1763). Neste con-
fronto, a França perde seu domínio sobre extensas faixas de terra que possuía na 
América do Norte – entre elas, toda a região em torno do rio Mississipi e o atual 
território do Canadá.
O fim da Guerra dos Sete Anos também serviu, de certa forma, para marcar 
o fim do velho sistema de colonização inglês. A ideia de dotar as colônias de 
uma considerável autonomia e de haver pouca influência da Coroa britânica em 
assuntos que tivessem relação exclusivamente à população da América é aban-
donada. Passa a haver, por parte da Inglaterra, um maior controle, em diversos 
aspectos, da vida colonial norte-americana.
Diversos fatores levaram a essa perda de liberdade política e econômica das 
colônias inglesas. Primeiramente, o domínio territorial britânico na América au-
O período revolucionário
31
mentou consideravelmente. O que antes era uma pequena faixa de terra beiran-
do o Atlântico (as treze colônias), tinha se tornado toda a atual região do Canadá 
e a região em torno do rio Mississipi. Para manter o controle sobre essa extensa 
área, a estratégia de colonização antiga, utilizando empresas privadas para levar 
colonos, não seria bem sucedida. Além disso, os ingleses teriam de lidar dessa 
vez não com separatistas religiosos, mas com toda uma nova cultura indígena 
presente nas novas regiões, assim como a população católica que havia sido co-
lonizada pelos franceses mais ao norte.
As consequências da Guerra dos Sete Anos, em especial, também afetaram 
de forma direta a tranquilidade entre a Inglaterra e as colônias. Com o fim da 
guerra, várias tropas britânicas permaneceram em território norte-americano, 
o que aumentava a presença inglesa e servia para intimidar os colonos. Tributos 
maiores também foram impostos para manter os soldados na América.
A interferência britânica em assuntos internos das colônias, até então pouco 
vista, passa a ser a regra. Um dos principais conflitos nesse aspecto foi o desejo 
de expansão por parte dos colonos para as novas regiões conquistadas, em espe-
cial aquelas que se estendiam até o rio Mississipi. Inicialmente, vários confrontos 
surgiram entre indígenas e colonos, até que em 1763 o rei George III da Inglater-
ra, por decreto, afirma que os povos nativos têm soberania sobre as novas áreas 
anexadas a oeste. Essa decisão do rei procura não só evitar novas guerras entre 
índios e colonos (o que dificultaria a consolidação do império britânico), mas 
também garantir o controle administrativo dessa imensa região ainda pouco 
explorada. Assim, os colonos norte-americanos são proibidos de migrar para o 
oeste e têm sua autonomia altamente ameaçada.
Mudanças no governo e na economia britânica também acabaram por afetar 
a forma com que as colônias eram administradas. Com a ascensão da burguesia 
a posições de poder, o comércio e a indústria inglesas começam um período de 
grande desenvolvimento, com a construção de fábricas e uma crescente neces-
sidade de produção. Apesar de possuírem capital e mão de obra, faltava aos in-
gleses a matéria-prima, que vai ser buscada exatamente na América. Acentua-se 
então o caráter exploratório por parte da Inglaterra.
Duas leis marcam de forma definitiva essa nova abordagem da colonização 
inglesa. A primeira é a Lei da Moeda, de 1764, que impede que títulos de crédito 
sejam emitidos nas colônias. Esses títulos eram usados como moeda corrente e 
já estavam em falta. Com a promulgação da lei, a economia colonial é altamen-
te prejudicada. A segunda lei criada pelos ingleses é a Lei do Selo, de 1765. De 
32
Literatura Norte-Americana
acordo com essa lei, todos os jornais, panfletos, contratos, licenças e outros do-
cumentos públicos passariam a receber um selo de cobrança e, portanto, seriam 
taxados. É a partir dessa lei que ocorre a primeira organização das colônias para 
resistir e protestar contra os abusos da Inglaterra. Protestos e passeatas toma-
ram as ruas e a elite colonial (que viu seus negócios serem taxados) ficou contra 
os interesses do império britânico. Um massivo boicote aos produtos ingleses foi 
realizado, dando imenso prejuízo à Coroa. A Lei do Selo é então revogada e as 
colônias mostram a sua força.
No entanto, nenhum evento foi mais fundamental para provar que as colô-
nias estavam firmes em continuar garantindo seus direitos de escolha e liber-
dade que o chamado Boston Tea Party (Festa do Chá de Boston). O chá era um 
produto muito consumido nas colônias, não só devido à tradição inglesa, mas 
também pelo preço acessível. Todavia, quando a Inglaterra decide dar o mono-
pólio da venda do chá exportado para a Companhia das Índias Orientais (que se 
encontrava à beira da falência), os preços inevitavelmente sobem.
Como reação a mais esse abuso praticado pela Inglaterra, um grupo de 
homens disfarçados de indígenas sobe a bordo de navios ingleses ancorados 
no porto de Boston e despeja todo o carregamento de chá no mar. Esse episó-
dio, conhecido como Boston Tea Party, fez com que a Coroa britânica tomasse 
uma série de medidas para punir essa rebeldia por parte dos colonos. Essas me-
didas, que ficaram conhecidas como Coercive Acts (Leis Coercitivas), incluíam o 
fechamento temporário do porto de Boston e a proibição de reuniões de assem-
bleias. A situação entre a Inglaterra e as colônias norte-americanas chega então 
a um ponto crítico, e a ideia da independência dos Estados Unidos passa a ser 
articulada.
Representantes das colônias se reúnem no Congresso Continental da Fila-
délfia para redigir um documento contra as medidas restritivas inglesas. Em res-
posta, a Inglaterra aumentou o número de tropas na América. Assim, em maio 
de 1775, é realizado o Segundo Congresso Continental da Filadélfia, em que é 
feita uma declaração de guerra. Três meses depois, o rei declara que as colônias 
norte-americanas encontram-se em estado de rebelião.
É importante lembrar, porém, que ainda havia certa resistência por parte de 
vários setores norte-americanos quando se tratava da questão da independên-
cia. As elites sulistas não estavam totalmente seguras de que a separação com a 
Inglaterraseria benéfica, já que o grande mercado consumidor de seus produ-
tos poderia ser perdido. Além disso, havia o receio de que o espírito de justiça 
O período revolucionário
33
crescente poderia fazer com que os menos favorecidos (especialmente escravos) 
começassem a lutar também por direitos iguais.
Em 4 de julho de 1776, é aprovada a Declaração de Independência dos Esta-
dos Unidos. Os conflitos com a Inglaterra se intensificavam, e os Estados Unidos 
tinham formado o seu próprio exército – o chamado Exército Continental, sob 
liderança de George Washington, que seria posteriormente o primeiro presiden-
te da nação. A vitória norte-americana nas batalhas não foi fácil. Contudo, três 
fatores foram cruciais para a vitória dos agora ex-colonos: maior conhecimento 
do território, o apoio das tropas sulistas (que os ingleses acreditavam que se 
manteriam leais) e a ajuda militar da França, Espanha e Holanda.
Dessa forma, os Estados Unidos da América se tornam finalmente uma nação 
independente. As pequenas treze ex-colônias inglesas têm agora o direito de 
exercer a sua liberdade política, assim como a população adquire o direito de se 
expandir pelo território da América do Norte. Mais do que a criação de um país, a 
independência dos Estados Unidos garantiu o surgimento da primeira revolução 
moderna, que serviria de base para várias outras nações do ocidente.
Os “Pais Fundadores”
O processo de independência dos Estados Unidos garantiu aos norte-ameri-
canos mais do que a libertação do controle inglês – ele serviu para unir todos os 
estados sob um objetivo comum e criar entre eles um vínculo crucial para que 
uma verdadeira nação, com uma identidade única, fosse estabelecida. Mais do 
que ter um grande inimigo em comum (a Inglaterra) e ideais que os associas-
sem (liberdade, direitos iguais), era necessário que os Estados Unidos tivessem 
figuras públicas representativas que o público não só reconhecesse como indis-
cutivelmente icônicas, mas também as usassem como base para a criação de 
um novo homem norte-americano. Esses homens públicos foram fundamentais 
para a consolidação dos diferentes estados sob apenas uma nação.
Símbolos do espírito republicano norte-americano, historicamente eles são co-
nhecidos como Founding Fathers (Pais Fundadores). Essa ideia de “pais da nação” 
não é inédita na história norte-americana. Os primeiros habitantes das colônias re-
ceberam o nome de “Pais Peregrinos”. É interessante notar a necessidade de marcar 
o nascimento de uma nova fase da nação através dessas pessoas que, seja por sua 
coragem, determinação, ou senso de justiça, se destacam de todas as outras para 
iniciar um período de rompimento histórico com um passado de tirania.
34
Literatura Norte-Americana
No entanto, diferentemente dos peregrinos de Massachusetts que chegaram 
a bordo do Mayflower, esses Pais Fundadores vão servir como emblemas de um 
país recém-criado em busca de uma identidade própria. Eles serão consagrados 
pelo povo norte-americano como os grandes heróis da nação e servirão como 
exemplo de retidão e perseverança não só para políticos, mas para qualquer ci-
dadão dos Estados Unidos.
Os Pais Fundadores são reconhecidos como os homens que assinaram a De-
claração de Independência em 1776, participaram como líderes da guerra re-
volucionária contra a Inglaterra, ou foram responsáveis pela criação da Consti-
tuição dos Estados Unidos, em 1787. Eles foram militares, proprietários de terra, 
mercadores, cientistas – e não coincidentemente, alguns deles se tornaram os 
primeiros presidentes daquele jovem país. Dentre os Pais Fundadores (cujo 
número quase chega a uma centena), três merecem destaque especial por sua 
contribuição militar, política e filosófica para a realização de um ideal norte-ame-
ricano: George Washington, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson.
George Washington (1732-1799) foi uma das mais importantes figuras do perí-
odo revolucionário norte-americano. Militar exemplar, participou na Guerra dos 
Sete Anos lutando contra os franceses e tornou-se símbolo máximo da vitória 
norte-americana sobre os ingleses durante a guerra pela independência. Foi o 
presidente da convenção que criou a constituição norte-americana e também 
tornou-se o primeiro presidente dos Estados Unidos.
George Washington.
D
om
ín
io
 p
úb
lic
o.
O período revolucionário
35
Washington é considerado um modelo para todos os presidentes norte-ame-
ricanos pois, num período crucial do país, conseguiu um acordo de paz com a 
Inglaterra, reuniu todos os estados sob um único governo republicano e criou 
um banco nacional. Mesmo que representante da elite colonial (era latifundiá-
rio e proprietário de escravos), até hoje George Washington continua sendo um 
ícone da formação dos Estados Unidos.
Contudo, se Washington foi responsável por organizar o governo norte-ame-
ricano, Benjamin Franklin (1706-1790) criou grande parte do arcabouço filosófico 
e intelectual por trás dele. Talvez o nome mais significativo do século XVIII nos 
Estados Unidos, Franklin permanece até hoje como um ícone da política, da lite-
ratura e do pensamento norte-americano, não só pelo papel que desempenhou 
no processo de independência, mas também por possuir ideias novas que vão 
romper com a influência puritana e conceber ideais que permanecem no imagi-
nário ocidental até hoje.
Jornalista, cientista, diplomata e escritor, Benjamin Franklin nasceu numa fa-
mília pobre de Boston para tornar-se uma das grandes mentes da história dos 
Estados Unidos. Começou a trabalhar escrevendo ensaios e gradualmente se 
tornou o mais bem-sucedido editor do século XVIII na América do Norte. Ele 
possuía seu próprio jornal (o Pennsylvania Gazette), e eventualmente publicava 
nele seus artigos e sátiras.
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No entanto, uma das obras mais famosas de Franklin é o Poor Richard’s Alma-
nac (Almanaque do Pobre Ricardo). O almanaque era provavelmente o tipo de 
publicação mais popular nos Estados Unidos no século XVIII. Espécie de revista 
que incluía diferentes tipos de informação (desde a previsão do tempo até piadas 
e receitas culinárias), o almanaque foi a forma de expressão que Franklin utilizou 
para articular seu ponto de vista de maneira bem-humorada, porém certeira.
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Literatura Norte-Americana
O autor começou a publicar o Poor Richard’s Almanac em 1732 sob o pseudô-
nimo de Richard Saunders e até o fim de sua publicação em 1758, ele foi o alma-
naque mais lido do período colonial. Para cada edição do almanaque, Franklin 
criava provérbios e frases de efeito para preencher os espaços da publicação. Em 
1758 o autor coleta todos os ditados publicados nos 25 anos do Poor Richard’s 
Almanac e os reúne no ensaio intitulado The Way to Wealth (O Caminho para a 
Fortuna).
Nesse ensaio, o personagem Father Abraham (Pai Abraão) se aproxima de 
um grupo de fregueses à porta de uma venda, esperando o momento de aber-
tura do local. A partir daí, Father Abraham começa a disparar suas máximas 
sobre dinheiro, sucesso, prosperidade, trabalho e lazer. Pode-se dizer que Father 
Abraham é um alter ego de Benjamin Franklin, pois os conselhos proferidos pelo 
personagem são um reflexo direto do pensamento do autor.
Franklin é uma “personificação do ideal prático americano” (NABUCO, 2000, 
p. 32) e sua visão de mundo serviu para criar uma das mais importantes contri-
buições do pensamento dos Estados Unidos para o ocidente: a ideia do self-made 
man, isto é, o homem que triunfa através do seu próprio esforço. Por isso os pro-
vérbios presentes em The Way to Wealth se estabelecem sobre dois pilares funda-
mentais: a frugalidade (ou seja, ser prudente e econômico) e o trabalho duro.
Várias das máximas criadas por Franklin permanecem famosas até hoje no 
mundo todo, o que indica como essa tradição do pensamento norte-americano 
se tornouuniversal. Frases como “time is money” (tempo é dinheiro) ou “have you 
somewhat to do tomorrow, do it today” (o que tiver para fazer amanhã, faça hoje), 
entre outras, servem como exemplos da visão de mundo de Franklin, propa-
gando uma perspectiva de sucesso tipicamente fabricada nos Estados Unidos. 
Ainda que essas ideias de Benjamin Franklin também sejam muitas vezes alvo 
de críticas (especialmente no que concerne à obsessão dos americanos pelo di-
nheiro e bens materiais), é inegável que os provérbios de seu almanaque servem 
como símbolos da estrutura capitalista e foram muito significativos no desenvol-
vimento de uma nova ideia de nação que estava surgindo.
Franklin também se destacou como cientista e inventor, pois sua visão huma-
nista ultrapassava a mera discussão de ideias – sua preocupação com o mundo 
e com as pessoas que nele habitavam o impeliam a tomar soluções práticas na 
resolução de problemas. Assim, Franklin inventa o para-raios e as lentes bifocais; 
idealiza uma nova teoria de eletricidade, provando que os raios são de natureza 
elétrica; funda a primeira biblioteca pública e o primeiro corpo de bombeiros da 
O período revolucionário
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Pennsylvania; concebeu inovadores mapas meteorológicos capazes de prever 
tornados e tormentas.
Além disso, Benjamin Franklin foi um dos artífices da independência e pode-
-se dizer que sem sua presença ativa e sua perspicácia o processo revolucionário 
teria sido ainda mais difícil. Até 1775 Franklin representou os interesses das co-
lônias na Inglaterra, chegando a ser visto como um dos principais propagadores 
da rebelião na América. Posteriormente, foi enviado à França com o objetivo de 
conseguir apoio para a iminente revolução. Mais do que ter auxiliado na realiza-
ção da Declaração de Independência, Franklin também é o único dos Pais Fun-
dadores a assinar os quatro documentos que propiciaram a criação dos Estados 
Unidos: além da Declaração de Independência (1776), o Tratado de Aliança com 
a França (1778), o Tratado de Paris (1782) que dava fim à guerra com a Inglaterra, 
e a Constituição Norte-Americana (1787).
Com uma vida tão rica, o autor ainda deu aos Estados Unidos o que alguns 
críticos consideram o primeiro grande livro norte-americano: a Autobiografia de 
Benjamin Franklin. Esta obra, publicada postumamente, é o trabalho mais conhe-
cido de Franklin e uma das mais lidas autobiografias do mundo. Na verdade, o 
livro praticamente estabelece a autobiografia como gênero literário, dando-lhe 
um estilo e formato próprios.
Na Autobiografia, a escrita de Franklin é simples e direta, narrando desde os 
antecedentes puritanos de sua família até o papel que desempenhou na inde-
pendência norte-americana. O livro tornou-se um exemplo da realização do 
American Dream (Sonho Americano), tendo Franklin como seu maior exemplo 
– de filho de pais pobres passando pelo sucesso no mercado editorial até ser 
um dos responsáveis pela criação da nação. A Autobiografia de Benjamin Franklin 
pode ser lida como uma obra que serve de exemplo de superação para os jovens 
norte-americanos, mas seu significado é ainda mais amplo: ela constitui o pró-
prio processo de desenvolvimento dos Estados Unidos.
Os textos revolucionários
Thomas Jefferson (1743-1826), juntamente com George Washington e Benjamin 
Franklin, forma o trio de notáveis entre os “Pais Fundadores” responsáveis 
pela criação e consolidação dos Estados Unidos assim que o país se torna 
independente. Jefferson, porém, destaca-se por pensar toda a estratégia social e 
intelectual que serão os pilares dessa nova nação. A visão nacionalista de Jefferson 
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Literatura Norte-Americana
– humanista, republicana, iluminista – vai estar presente em suas cartas, artigos, 
e especialmente no seu principal texto, o mais importante documento do século 
XVIII: a Declaração de Independência dos Estados Unidos.
Thomas Jefferson.
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Diferentemente de Benjamin Franklin, Jefferson vinha de uma família proe-
minente da Virgínia. Depois de entrar na universidade, começa a ler avidamen-
te e a colecionar livros com os quais monta uma imensa biblioteca (que pos-
teriormente dariam origem à Biblioteca do Congresso Norte-Americano). Suas 
leituras são variadas, mas o jovem Thomas Jefferson desenvolveu um interesse 
particular por autores associados ao movimento iluminista europeu, o que de 
certa forma moldaria futuramente a forma através da qual os Estados Unidos 
seriam formados.
O Iluminismo foi um período do pensamento ocidental em que, de forma 
geral, toda a experiência humana foi dominada pela presença da razão. Foi a 
época em que os grandes pensadores voltaram-se contra os preceitos religiosos 
e das formas de governo tradicionais para tentar explicar o mundo de uma forma 
científica. Os mistérios e milagres da Igreja dão lugar às explicações racionais de 
Newton e Descartes; as organizações sociais e políticas estabelecidas há séculos 
são substituídas por uma nova estrutura governamental, em que os princípios 
básicos são a liberdade e os direitos individuais.
Também conhecido como Idade da Razão, o Iluminismo prima pela busca da 
ordem e da estabilidade através do empirismo – a ideia de que o conhecimento 
surge da experiência. Assim, o que antes era tido como inexplicável ou obscuro 
passa a ser investigado, pois acredita-se que o mundo pode ser explicado através de 
O período revolucionário
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evidências e experiências, especialmente através da observação e método científi-
co. É sob esse paradigma que o pensamento revolucionário americano se forma.
O mais influente de todos os filósofos iluministas foi John Locke (1632-
1704). Parece uma grande ironia que foi exatamente um pensador inglês o 
responsável por dar às colônias a base intelectual para começarem o movimento 
de rebelião contra a Inglaterra. Mas fato é que suas principais teorias sobre o 
governo, a sociedade e a noção de propriedade terão um impacto profundo 
nos revolucionários norte-americanos e, especialmente, nos ideais de Thomas 
Jefferson presentes na Declaração de Independência dos Estados Unidos. Vários 
dos pensamentos de Locke responderam diretamente aos anseios e necessidades 
da revolução norte-americana. Uma de suas mais importantes obras, Treatises 
of Civil Government (Tratados sobre o Governo Civil), de 1690, vai fornecer uma 
nova forma de organização político-social para aqueles que desejam se ver livres 
das amarras dos colonizadores.
O principal conceito desenvolvido por Locke é o do contrato social. De acordo 
com este princípio, haveria um acordo implícito entre os governos e o povo com 
o objetivo de manter a ordem social e garantir a estabilidade de uma nação. 
Dessa forma, a população deveria abrir mão de alguns direitos e seguir certas 
leis, assim como o Estado deveria usar a estrutura governamental sem cometer 
abusos de poder. Pode-se dizer portanto que, de acordo com o contrato social, a 
legitimidade da autoridade do Estado é garantida apenas com o consentimento 
da população governada.
Quando o contrato social é estabelecido e respeitado, o homem pode usu-
fruir de seus direitos naturais, como a felicidade e a liberdade. Nota-se aqui uma 
diferença fundamental em relação ao pensamento calvinista presente durante 
o período puritano. Se para os protestantes calvinistas o homem já nasce mau, 
manchado pela culpa do pecado original, para o pensamento iluminista de 
Locke o homem nasce como uma tábula rasa (uma folha de papel em branco) – 
o que vai definir se ele se tornará bom ou mau é a sua experiência de vida.
Esse conceito da tábula rasa, presente em Essay Concerning Human Unders-
tanding (Ensaio sobre o Entendimento Humano), também de 1690, faz possível 
a articulação de que os “homens bons” só seriam formados se inseridos em so-
ciedades também “boas” – ordenadas, bem-estruturadas, com direitos e deveresdefinidos, ou seja, sociedades nas quais está presente o contrato social. Nessas 
sociedades, portanto, o homem tem o direito de ser livre, buscando a prosperi-
dade e o bem-estar.
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Literatura Norte-Americana
As ideias de Locke sobre a humanidade e a sociedade são sintomáticas do pe-
ríodo iluminista, em que a razão toma o lugar do místico e do inexplicável, espe-
cialmente no aspecto religioso. A noção de “direito divino dos reis”, através dos 
quais acreditava-se que os monarcas eram escolhidos por Deus para governar 
um povo, é refutada por Locke. No lugar da presença de Deus, o filósofo inglês 
coloca uma estrutura racional bem definida – o contrato social.
Como todo acordo, todavia, o contrato social pode vir a ser quebrado. Se 
o Estado abusa de seu poder de governo, é incapaz de garantir à população a 
ordem social, ou seja, não garante aos cidadãos seus direitos naturais, é dever 
dos membros dessa sociedade organizar uma revolução e substituir o governo. 
Não é uma rebelião, mas uma luta em respeito à permanência do contrato social, 
à liberdade e à felicidade. Tais preceitos estabelecidos por John Locke vão for-
necer um arcabouço filosófico para as colônias se libertarem do jugo (controle) 
inglês. A partir do pensamento iluminista, os revolucionários norte-americanos 
vão transformar o processo de independência dos Estados Unidos em algo muito 
maior: a luta do homem pela preservação de seus direitos mais básicos.
Thomas Jefferson, como grande leitor que era, percebeu isso melhor do que 
qualquer outro dos Pais Fundadores da nação – e não é coincidência que foi 
ele o escolhido para redigir o texto básico da Declaração de Independência dos 
Estados Unidos. Nesse documento, o mais importante de toda a história norte-
americana, Jefferson faz mais que anunciar ao seu povo e ao mundo o surgimen-
to de uma nova nação – ele faz da independência norte-americana o símbolo 
máximo dos direitos naturais da humanidade.
Em suas emblemáticas primeiras frases, a Declaração de Independência ecoa 
os pensamentos de Locke – remetendo diretamente ao princípio de contrato 
social – e transforma a luta contra a Inglaterra na luta universal do homem pelo 
seu próprio direito à vida:
When in the Course of human events it becomes necessary for one people to dissolve the 
political bands which have connected them with another and to assume among the powers 
of the earth, the separate and equal station to which the Laws of Nature and of Nature’s God 
entitle them, a decent respect to the opinions of mankind requires that they should declare 
the causes which impel them to the separation.
We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed 
by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the 
pursuit of Happiness. – That to secure these rights, Governments are instituted among Men, 
deriving their just powers from the consent of the governed, – That whenever any Form of 
Government becomes destructive of these ends, it is the Right of the People to alter or to 
abolish it, and to institute new Government, laying its foundation on such principles and 
organizing its powers in such form, as to them shall seem most likely to effect their Safety and 
Happiness. (JEFFERSON, 1989, p. 689-691) 
O período revolucionário
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Jefferson estabelece, em seu texto, que é um direito do povo norte-america-
no tornar-se independente da Inglaterra, já que sua estrutura de governo não 
torna mais possível aos cidadãos garantirem seus princípios básicos de segu-
rança e felicidade. Ao mesmo tempo documento oficial e texto revolucionário, 
a Declaração de Independência dos Estados Unidos é o ápice do pensamento 
filosófico norte-americano aliado a um senso prático de humanidade.
A Declaração de Independência, no entanto, foi um produto não só da influ-
ência iluminista nos ideais revolucionários norte-americanos, mas também de 
uma sequência de outros textos escritos no século XVIII com o objetivo de infla-
mar a sociedade contra o domínio inglês. Esses textos revolucionários, de cunho 
propagandista, foram fundamentais no período que antecede a guerra com a 
Inglaterra e também durante o conflito em si.
De toda a produção do período, o autor mais significativo em se tratando de 
convergir a população para o interesse comum da independência foi Thomas 
Paine (1737-1809). Nascido na Inglaterra, Paine foi um dos principais defenso-
res da causa norte-americana. Após passar por uma série de crises financeiras 
e pessoais, o autor chega à América em 1774 com uma carta de recomendação 
de Benjamin Franklin e passa a trabalhar na Pennsylvania Magazine. O processo 
revolucionário começava a se desenvolver, com a Inglaterra endurecendo mais 
sua política controladora, prejudicando a autonomia e os interesses econômicos 
das colônias.
Tomado pelo espírito rebelde da época, Paine publica em janeiro de 1776 
um folheto de 50 páginas intitulado Common Sense (Senso Comum). Lançado 
quando os colonos ainda discutiam sobre como responder aos abusos de poder 
da Inglaterra, Common Sense propôs abertamente a separação com a Coroa bri-
tânica. O texto de Paine foi crucial para exaltar os revolucionários e apresentar 
argumentos que validassem a independência.
O título do folheto remete à ideia central apresentada por Paine: as revoltas e 
os conflitos na América não seriam resolvidos com a submissão dos colonos às 
leis inglesas, quer eram notoriamente insultantes. A solução para o problema era 
a busca instintiva por um “senso comum”, o que ele afirma na primeira frase: “In 
the following pages I offer nothing more than simple facts, plain arguments and 
common sense.” (PAINE, 1989, p. 694)
Essa atitude simples foi em parte a grande responsável pela popularização 
de Common Sense e sua rápida aceitação nas colônias. Com seu estilo direto e 
pontual, o autor ataca diretamente a monarquia inglesa, não só em relação aos 
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Literatura Norte-Americana
tributos e leis impostas aos colonos, mas também tendo em vista a própria razão 
para a ida dos primeiros peregrinos para a América.
This New World hath been the asylum for the persecuted lovers of civil and religious liberty 
from every part of Europe. Hither have they fled, not from the tender embraces of the mother, 
but from the cruelty of the monster; and it is so far true of England, that the same tyranny which 
drove the first emigrants from home, pursues their descendants still. (PAINE, 1989, p. 695)
Tal argumento, que relacionava a Inglaterra a um verdadeiro histórico de tira-
nia, em muito serviu para despertar os ânimos revolucionários.
De forma sistemática, Paine articula em seu texto as diferentes razões pelas 
quais a relação com a Inglaterra é extremamente prejudicial às colônias. Sobre 
a economia colonial, afirma: “Whenever a war breaks between England and any 
foreign power, the trade of America goes to ruin, because of her connection with 
Britain.” (PAINE, 1989, p. 696). Um dos pontos mais enfáticos levantados pelo 
autor, contudo, é o próprio desejo de Deus que essa união entre a Inglaterra e a 
América seja desfeita:
The blood of the slain, the weeping voice of nature cries, ‘TIS TIME TO PART. Even the distance 
at which the Almighty hath placed England and America is a strong and natural proof that the 
authority of the one over the other, was never the design of Heaven [...] The Reformation was 
preceded by the discovery of America: as if the Almighty graciously meant to open a sanctuary 
to the persecuted in future years, when home should afford neither friendship nor safety. 
(PAINE, 1989, p. 696-697)
Assim, Paine associa o fato de a Inglaterra e o continente americano estarem 
separados por um oceano e o acontecimento da Reforma Protestante antes da 
descoberta do Novo Mundo a sinais divinos, indicando que a América deveria

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