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LEITURA, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO: APRIMORANDO A CAPACIDADE RECEPTIVA

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Leitura: compreensão e interpretação
A leitura é prática necessária à vida e cabe à universidade, como espaço privilegiado, desenvolver habilidades intelectuais do pensamento. O pensar decorre da existência de um problema ou situação que exige uma solução. A solução provém de uma atividade sistemática na qual levantamos hipóteses, analisamos dados, sintetizamos informações, emitimos julgamentos e chegamos a conclusões e soluções.
Ler e compreender um texto envolve apreensão dos significados nele contidos e capacidade de relacionar o lido às experiências/conhecimentos pré-existentes no “mundo” já conhecido. Freire (1988) explica essa habilidade intrínseca ao ato de ler quando afirma que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” e, assim, “linguagem e realidade se prendem dinamicamente”.
Sem dúvida, o leitor, ao construir o sentido do texto, baseia-se em seus valores sociais, seus conhecimentos prévios e suas experiências de vida. Tal tarefa exige muitas habilidades ligadas aos processos mentais que viabilizam a compreensão.
A leitura requer o reconhecimento do vocabulário e a percepção da lógica frasal para que se possa, assim, encontrar resposta à pergunta feita no título. 
Não é tarefa fácil diferenciar as atividades de compreensão e interpretação. Alguns teóricos percebem-nas como equivalentes, outros sugerem que compreender é muito mais complexo que interpretar.
Esse trabalho consciente na busca das conexões textuais é a atividade de interpretação. Por meio dela, você foi conduzido a comparar os dois textos por meio das três questões que orientaram o seu raciocínio de forma intertextual. Já a compreensão, como destaca Leffa (2012, p. 267), “é vista como uma camada subterrânea, invisível e impregnada de conexões possíveis”, ou seja, compreender abre um leque de outras percepções e entendimentos que as questões dadas não alcançam.
Compreender é uma prática social que envolve a participação do leitor ou do ouvinte na construção dos sentidos necessários à interação. Sendo assim, a compreensão está envolvida em todas as situações nas quais buscamos entender o mundo e participar dele; é condição para conviver, partilhando conhecimentos.
Em síntese, a interpretação é construída por meio de diferentes estratégias e sistemas de conhecimento.
Ler e compreender como processo mental
A leitura é aqui entendida como prática social e, do ponto de vista da interação, dá-se no encontro entre autor e leitor por meio do texto. Nesse sentido, Hartmann e Santarosa (2012, p. 60) entendem que a leitura “se configura em uma prática que conduz à autonomia do pensamento, porque não é apenas recepção, é diálogo, é construção de sentidos [...]”, ou seja, o leitor processa a compreensão, por meio de fatores envolvidos nesse trabalho.
Nessa perspectiva, texto é lugar de interação, são os enunciados concretos que se realizam nas práticas sociais vivenciadas diariamente. É no contato com o texto que construímos o processo pessoal da leitura, por meio de fatores especialmente ligados às habilidades de ler e interpretar.
- Koch e Elias (2010) destacam os seguintes fatores como essenciais ao processamento textual: 
- O conhecimento linguístico;
O conhecimento linguístico refere-se ao conhecimento gramatical e lexical necessários para a compreensão dos recursos utilizados na organização do que se lê. Abrange o conhecimento do vocabulário, das regras da língua e dos seus usos. Ou, como destaca Leffa (2012), é a tradução do código; o que significa afirmar que o leitor aplica seus conhecimentos, acerca do código linguístico, na tarefa de decifrar o texto a ser lido.
- O conhecimento enciclopédico;
O conhecimento enciclopédico ou conhecimento de mundo, por sua vez, está ligado aos conhecimentos gerais sobre o mundo, relativos a vivências pessoais e eventos já arquivados na memória que são evocados na tarefa de produzir sentidos.
- O conhecimento interacional.
Por último, o interacional é o conhecimento das formas de interação por meio da linguagem. Esse tipo de conhecimento refere-se à capacidade de compreender os objetivos do autor, a situação comunicativa em que o texto se insere e a variante linguística empregada; o que também inclui a percepção do gênero textual quanto, por exemplo, aos seus aspectos estruturais e à sua função social.
A compreensão e a atividade inferencial
Na leitura, estão envolvidos elementos linguísticos, como letras, sílabas, palavras, estruturas e proposições, bem como as expectativas do leitor, sua interpretação e compreensão. Para a construção de significados, também colaboram elementos que constituem o conhecimento de mundo do leitor, os quais são armazenados na sua memória sob a forma de modelos cognitivos que permitem formular inferências.
Compreender um texto, portanto, exige, como vêm revelando os estudos deste capítulo, que o leitor aplique vários tipos de conhecimento necessários à leitura. Nessa tarefa de produção de sentidos, o conhecimento prévio é essencial, posto que “no processo de compreensão, desenvolvemos atividades inferenciais” (MARCUSCHI, 2008, p. 239). Mas o que são as atividades inferenciais?
Inferência consiste no resultado de um processo cognitivo por meio do qual uma informação nova é gerada com base em uma informação velha, ou seja, chega-se à conclusão de algo a partir de um dado conhecimento. São, pois, conexões que as pessoas fazem na tarefa de interpretar o que leem.
No processamento das informações do texto e com base no contexto que envolve a situação comunicativa, o leitor ativo estabelece relações entre os conhecimentos anteriormente constituídos e as informações novas contidas no texto. Ou seja, a inferência não está no texto, mas na leitura, e vai sendo construída conforme os leitores vão interagindo com a escrita.
O conceito de “mídia” e a diferença entre mídias analógicas e mídias digitais
Etimologicamente, mídia é uma adaptação do termo latino “media”, que é o plural de “medium” (singular), significando meio. Na língua portuguesa, nós utilizamos tanto o termo meios de comunicação como mídias para designar “suportes materiais, canais físicos, nos quais as linguagens se corporificam e através dos quais transitam” (SANTAELLA, 2003, p. 25). Ao longo da história da humanidade, o ser humano produziu inúmeras mídias para armazenar e distribuir informações e, dessa forma, ampliar a sua capacidade de comunicação, pois a nossa voz, por mais eficiente que possa ser em situações de fala, tem uma duração efêmera.
Na Pré-história e na Antiguidade, alguns dos meios de comunicação mais comuns eram a pintura rupestre em cavernas, as tabuletas feitas de argila, os rolos de papiro e pergaminho, que foram sendo substituídos pelos livros de papel e, hoje, em parte, pelos aparelhos de computação.
Atualmente, no campo de estudos das mídias, os pesquisadores costumam caracterizar as mídias mais antigas como “mídias analógicas”. Já as “mídias digitais”, também chamadas de novas mídias, estão relacionadas com o desenvolvimento do computador e das ciências da computação, que tiveram seu início nas décadas de 1950 e 1960. Basicamente, de acordo com Lister et al. (2009, p. 16), o que diferencia uma mídia analógica de uma mídia digital é que, nas mídias analógicas, as propriedades físicas dos dados de entrada (as informações capturadas) são convertidas em um outro objeto, o qual possui uma forma física parecida (análoga) com os próprios dados de entrada.
A fluidez dos conteúdos digitais através das múltiplas plataformas
Ao passo que nas mídias analógicas geralmente o conteúdo é transmitido de forma linear e centralizada para públicos massivos, nas mídias digitais a produção e a recepção não possuem um centro unificado, pois muitas pessoas transmitem conteúdos para muitas outras. Em poucos termos, antes de convergir com as mídias digitais, as mídias analógicas não permitiam que produzíssemos nossos próprios conteúdos a partir da interação com aquilo que recebíamos; já as mídias digitais vêm nos transformando em uma espécie de produtor-consumidor, o que levou o pesquisador Axel Brunsa sugerir o conceito “produser” (em português, produsuário) para caracterizar esse produtor-usuário híbrido (BARKER, 2011).
Para compreender esse fenômeno, podemos comparar o funcionamento da televisão (uma mídia originalmente analógica) com o funcionamento de sites de rede social como o Facebook ou o Youtube.
Na televisão, um mesmo conteúdo – uma telenovela, um documentário, um telejornal, por exemplo – é transmitido, ao mesmo tempo, por uma emissora, para um número muito grande de pessoas, o que a caracteriza como uma mídia endereçada a grandes massas.
Já em sites como o Facebook, há uma série de pessoas intercalando os papéis de produtores e receptores de conteúdos os mais variados, ao mesmo tempo.
Assim sendo, quando lemos o que é postado (o que nos torna receptores), também somos capazes de fazer nossas próprias postagens (o que nos torna produtores), e os conteúdos que circulam não são os mesmos a atingir as mesmas pessoas, como ocorria com as mídias analógicas.
Essa dispersão na produção e na recepção, típica das mídias digitais, ocorre porque a digitalização permite que um mesmo conteúdo migre entre muitas plataformas, tornando flexíveis as condições de tempo e espaço para os processos comunicativos. 
Portanto, pode-se dizer que, de certo modo, o conteúdo digital é volátil, no sentido de que não está preso ou fixo a um único suporte ou plataforma, o que não significa que seja instável, pois sempre que for acessado, estará disponível de modo idêntico, independentemente do suporte utilizado para o acesso (por exemplo, um celular, um tablet, um desktop).
O internetês e o uso de ícones visuais
É importante ressaltar que cada nova mídia introduz também novas possibilidades de utilizar a linguagem. No contexto das mídias digitais, existe uma tendência, por parte dos usuários, a modificar a linguagem verbal em relação ao código da norma culta, criando adaptações ou “desvios linguísticos”. Essa tendência é tão forte que levou alguns linguistas a afirmarem que a internet gerou uma nova linguagem, o internetês. Em um estudo sobre a escrita em webblogs, por exemplo, a pesquisadora Roberta Varginha Ramos Caiado (2007, p. 41) constatou uma série de adaptações linguísticas motivadas pelo espaço comunicacional dos blogs. Na internet, ao invés de escreverem as palavras com todas as letras, é muito comum que as pessoas utilizem abreviações, de modo a facilitar e acelerar o ritmo da comunicação.
Outra característica forte da linguagem no espaço das mídias digitais é o uso de signos visuais mesclados à linguagem verbal, principalmente os assim chamados emoticons.
Dessa forma, ocorre um hibridismo entre a linguagem verbal e a linguagem visual quando nos comunicamos através de plataformas digitais.
Entretanto, é muito importante que você saiba que essa linguagem não é adequada em contextos formais de comunicação, como, por exemplo, em uma redação acadêmica, em um documento oficial vinculado ao ambiente de trabalho, entre outros tantos espaços que exigem o domínio da norma padrão da língua escrita.
A remixagem e os memes
O remix (ou remixagem, em português) é uma dessas práticas às quais se refere Jenkins, tendo se tornado tão popular no ambiente digital que a revista Wired (julho de 2005) chegou a afirmar que estamos vivendo “na era do remix”. O pesquisador Chris Barker (2011) esclarece que, em geral, o remix envolve as funções de “cortar e colar”, mas também processos mais complexos para desconstruir e reconstruir conteúdos dos mais diversos campos da cultura, desde obras de arte, literatura, filmes, animação e música. A intenção do remix é sempre produzir algo novo e distinto a partir das formas pré-existentes, sejam elas animações, filmes, charges, fotos ou canções. Nas palavras de Dudeney, Hockly e Pegrum (2016, p. 54),
O remix é a prática de produzir novos conteúdos utilizando conteúdos já disponíveis na Internet.
Outro fenômeno típico do ambiente virtual são os assim chamados memes, conteúdos capazes de despertar o interesse de um número gigantesco de pessoas conectadas à rede – principalmente nas redes sociais – e que, por isso, são compartilhados e difundidos de forma vertiginosa. Alguns memes são construídos com técnicas de remixagem, embora outros sejam gravações de situações do cotidiano ou fragmentos de canções ou programas televisivos. Popularmente, afirma-se que um conteúdo se transformou em meme quando foi viralizado, o que remete a uma metáfora do campo da Biologia.
Novas ferramentas e espaços de comunicação
O ambiente de convergência das mídias, onde o compartilhamento dos conteúdos é cada vez mais facilitado, propiciou o surgimento de uma série de novas ferramentas e espaços de comunicação, muitos deles caracterizados como projetos colaborativos, os quais não seriam possíveis sem a mediação da internet.
Um dos exemplos mais conhecidos e bem-sucedidos é a Wikipedia, uma enciclopédia virtual produzida por voluntários ao redor do mundo, em vários idiomas, que fornece conteúdo gratuito a qualquer usuário. 
Uma das primeiras reações do mercado editorial ao cenário das tecnologias digitais foi oferecer versões digitalizadas dos livros impressos para compra e venda, os assim chamados e-books, que podem ser lidos em um desktop, em um celular, em um tablet, mas também nos e-readers (livros eletrônicos) produzidos por empresas como a Kindle, entre outros. Com a possibilidade de digitalização dos livros impressos, surgiram também muitos projetos de bibliotecas virtuais gratuitas ao redor do mundo, permitindo que qualquer pessoa conectada à rede escolha e acesse livros gratuitamente. A grande vantagem dos e-books, comparados com os livros impressos, é a facilidade de acesso e disponibilização dos livros.
As redes sociais da internet
Algumas das mídias digitais mais populares atualmente são os sites de redes sociais, como o Facebook, o Instagram, o Twitter, entre outros. É importante ter claro, de início, que as redes sociais sempre existiram, mesmo antes do surgimento das tecnologias digitais, sendo que, antes, as pessoas se inseriam nessas redes através de espaços como clubes, igrejas, comunidades de trabalho, criando laços através de conversas, cartas, encontros, entre outras tantas possibilidades.
Na era das tecnologias digitais, contudo, ficou muito mais fácil criar e participar de redes sociais.
Os sites de rede social, portanto, influenciam as nossas redes sociais na medida em que possuem modos particulares de funcionamento. Devido ao fato de agregarem uma quantidade imensa de pessoas conectadas em redes e por contarem com tecnologia digital, esses sites proporcionam uma facilidade antes impensada de compartilhamento de informações, transformando-se, dessa forma, em um dos espaços mais importantes da atualidade para a difusão de todos os tipos de conteúdo, desde notícias muito relevantes até informações deliberadamente falsas e discursos violentos.
Nesse sentido, as pessoas parecem cada vez mais interessadas em exibir suas próprias vidas na rede, geralmente transmitindo a ideia de um protagonismo antes destinado apenas aos famosos e exibindo uma felicidade construída e frequentemente artificial. Algumas das práticas mais comuns, nesse sentido, são a exposição espetacularizada de tudo o que se faz durante a maior parte do dia, fotos em situações sempre muito felizes – como viagens, festas, encontros etc. –, além dos famosos selfies. 
Independentemente das razões que nos levam a participar das redes sociais da Internet, é muito importante levarmos em conta que, pelo simples fato de estarmos conectados a elas, produzimos uma identidade on-line naquele espaço, que alguns pesquisadores denominam de identidades digitais. Elas são formadas pelas informações que disponibilizamos nos perfis das plataformas das redes sociais, sites e blogs, mas também pelo tipo de conteúdo que produzimos, postamos e compartilhamos nesses espaços. É cada vez mais comum, no mundo em que vivemos, que empregadores utilizem essas informações, juntamente com outros critérios, para selecionar candidatos a vagas de trabalho. Poressa e outras razões, antes de compartilhar conteúdo, você deve refletir sobre como quer ser conhecido e reconhecido on-line.
Alguns pesquisadores (Recuero, 2012) têm demonstrado que as redes sociais da Internet também são um espaço onde se produz e se adquire capital social, um tipo de valor ou benefício obtido através do pertencimento a um ou vários grupos sociais. Esse aspecto aponta para o imenso potencial dos sites de redes sociais como espaço para a educação, para o crescimento pessoal e para o desenvolvimento da carreira profissional.
Recuero esclarece que o capital social tem um duplo aspecto, pois, de um lado, é preciso investimento nas relações sociais para, apenas num segundo momento, obter os benefícios advindos dessas relações. Em outros termos, o capital social está relacionado com o investimento que cada pessoa está disposta a realizar nas redes, o qual, por sua vez, está relacionado com as expectativas de retorno. Nesse sentido, a maior parte das pessoas conectada nas redes parecem estar interessadas em obter recursos como reputação, visibilidade, popularidade, conhecimento, suporte social e laços sociais. Os principais investimentos para atingir esse capital, por sua vez, geralmente demandam a criação e a manutenção das conexões (que pode acontecer através de conversações ou outras atividades de interação com os contatos), a construção de um perfil e o compartilhamento constante de recursos na rede (conteúdos e informações).
Quando compartilhamos conteúdos nas mídias sociais, é comum termos a sensação de estarmos sozinhos, pois não estamos vendo as inúmeras pessoas que fazem parte da nossa rede. Nesse sentido, Recuero (2015) nos lembra que, na comunicação presencial, face a face, nós emitimos vários sinais de feedback que informam as pessoas quando elas estão entrando em uma zona "perigosa" ou "tensa" durante a fala, permitindo que mudem de assunto, ou que simplesmente reparem o que foi dito. Esse contexto da comunicação presencial não existe on-line, pois os usuários têm a sensação de estarem "falando" para uma tela, não para uma pessoa e, muito menos, para um grupo imenso de pessoas. Alguns pesquisadores denominam esse fenômeno de “colapso do contexto” ou, então, de “audiências invisíveis” na rede (RECUERO, 2015). Por essa razão, é muito mais fácil disseminar discursos de violência, conteúdos agressivos e, em alguns casos, informações equivocadas ou deliberadamente adulteradas através dos sites de redes sociais do que presencialmente. Os prejuízos causados com esse tipo de prática são imensos e incluem o ciberbullyng, a difamação, a agressão verbal, a violência simbólica contra minorias, além da propagação de ignorância, obscurantismo e ódio.
Isso nos leva a concluir que, acima de tudo, é necessário aprender a se relacionar nas redes mediadas pela internet, investindo em práticas que nos tragam benefícios como informação atualizada e de qualidade, fortalecimento de nossas relações sociais, entretenimento.
Antes de compartilhar algo, portanto, é preciso pesquisar sempre a fonte, garantir a veracidade e a legitimidade do que está sendo compartilhado: uma vez que algo entra na rede, sua capacidade de impacto sobre as pessoas será sempre maior do que se imagina.
A relação entre a linguagem verbal e a linguagem visual
A linguagem verbal – falada e escrita – é o mais complexo sistema de que dispõe o ser humano para se comunicar. No entanto, não devemos subestimar a capacidade dos demais sistemas comunicativos, principalmente as imagens. Na comunicação oral, é muito comum utilizarmos a linguagem verbal juntamente com outros sistemas de signos. Por exemplo, quando falamos, não emitimos apenas palavras. Também comunicamos através de nossas expressões faciais, dos gestos de nossas mãos e, mesmo, através de certas posturas corporais.
Muitas vezes, só é possível identificar se o que está sendo dito é sério ou não através dos gestos, da entonação da voz e da expressão facial que acompanha as palavras enunciadas. Outras vezes, nós sequer utilizamos palavras para a comunicação, quando, por exemplo, fazemos um sinal afirmativo com a mão ou quando balançamos a cabeça para sinalizar uma resposta negativa.
Em todos esses casos, estamos utilizando a visualidade produzida pelo nosso corpo como forma de expressão para nos comunicarmos, juntamente com a linguagem oral.
Por outro lado, é importante saber que a linguagem escrita também possui uma dimensão visual que se manifesta, por exemplo, quando dizemos que a letra de uma pessoa é bonita, feia, legível, ilegível. Além disso, com recursos de computação, podemos mudar e manipular facilmente as fontes das letras que usamos para digitar um texto, às vezes, apenas por questões estéticas, mas também para expressar algum significado adicional. Na comunicação mais informal que predomina em redes sociais da internet ou em aplicativos como o MSN e o Whatsapp, as pessoas costumam utilizar a visualidade das letras para expressar emoções ou para criar efeitos estéticos nas mensagens. Por exemplo, se alguém faz um convite para ir a um restaurante ou a uma festa, é possível reagir de várias maneiras, algumas muito empolgadas e outras muito negativas: repetindo a mesma letra, usando maiúsculas ou minúsculas, acrescentando sinais de pontuação, mudando o tipo de fonte, mudando a cor das fontes.
Embora na linguagem formal isso seja pouco adequado, o uso da visualidade das letras é utilizado intencionalmente como forma de expressão em alguns tipos de discurso, não apenas na linguagem informal das redes sociais, mas também na publicidade e na literatura, especialmente na poesia.
O processo de significação das imagens
A compreensão do significado de uma palavra depende do domínio de um código ou convenção. Por exemplo, para entender o que é uma casa em países onde não se fala português, é preciso aprender o código linguístico (o idioma) que cada uma dessas sociedades utiliza para expressar o significado daquilo que denominamos “casa”, pois não há nenhuma semelhança entre as palavras casa, Haus (Alemão), house (Inglês), Maison (Francês), indlu (Zulu) e o objeto que reconhecemos como uma casa.
As palavras, portanto, só fazem sentido para as pessoas que dominam os códigos, convenções ou acordos de cada comunidade linguística, o que faz com que as palavras sejam consideradas “signos convencionais ou arbitrários”.
Já as imagens não dependem necessariamente do domínio de um código para fazerem sentido. Retomando o exemplo anterior, poderíamos simplesmente desenhar, pintar ou fotografar uma casa e mostrar essa imagem para o receptor que não fala português, o qual provavelmente entenderia imediatamente o que queremos expressar. Em poucos termos, enquanto palavras não fazem sentido se não dominarmos o código linguístico em que elas se inserem, para compreender o significado de uma imagem, basta conhecer previamente o seu objeto de referência, pois existe uma semelhança entre ambos. Por essa razão, as imagens são consideradas “signos icônicos”.
Devido à semelhança que mantêm com os objetos que representam, a compreensão das imagens seria, aparentemente, mais fácil do que a compreensão das palavras faladas ou escritas. No entanto, isso é verdadeiro apenas em parte, pois o que compreendemos, de imediato, em uma imagem, é apenas o seu significado mais óbvio, que pode ser chamado de significado literal ou denotativo, mas não os seus significados conotativos, simbólicos, culturais e ideológicos.
No caso de imagens artísticas, embora seja possível reconhecer imediatamente o significado denotativo de “casa”, para compreender os seus significados conotativos você precisaria pesquisar e aprender um pouco sobre os códigos estéticos e artísticos de cada pintor que as produziu.
Como interpretar diagramas ou gráficos?
Podemos afirmar que o diagrama é uma imagem criada como a representação gráfica de alguma informação que se quer veicular e não de um objeto físico. A compreensão desse tipo de signo demanda, portanto, que você faça um exercício para entender a relação entre a forma visualda imagem e a informação que essa forma visual representa.
Um exemplo bastante simples de diagrama são os mapas, que, em última análise, não passam de representações visuais de determinados espaços geograficamente definidos.
Ao pensar no território brasileiro, por exemplo, provavelmente a primeira imagem que vem à sua mente é o mapa do Brasil. Mas existem muitos outros tipos de diagramas, alguns muito simples e outros mais complexos.
Representações diagramáticas muito simples são, por exemplo, flechas alinhadas uma do lado da outra para representar a ideia de sequência, progressão ou evolução, círculos fatiados para indicar a ideia de comparação ou proporção entre partes, colunas para criar grupos, classificar ou hierarquizar informações, entre tantas outras possibilidades.
Por outro lado, utilizando diferentes imagens articuladas entre si em um mesmo diagrama, é possível não apenas representar visualmente ideias mais complexas e sofisticadas, mas também tornar a sua compreensão mais simples e mais rápida.
Devido à sua incrível capacidade de sistematizar e esquematizar um grande volume de informação de forma rápida e simples, os gráficos estão presentes em muitas dimensões de nossa vida letrada, sendo também muito utilizados em provas e testes. Por isso, é muito importante que você aprenda a interpretá-los corretamente.
A relação entre imagem e publicidade
Vivemos em uma sociedade capitalista, cuja economia está fundamentada na produção e no consumo de produtos (mercadorias e serviços). O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2008, p. 18) resume em três regras a lógica dos mercados contemporâneos:
Primeira, o destino final de toda mercadoria colocada à venda é ser consumida por compradores. Segunda: os compradores desejarão obter mercadorias para consumo se, e apenas se, consumi-las for algo que prometa satisfazer seus desejos. Terceira: o preço que o potencial consumidor em busca de satisfação está preparado para pagar pelas mercadorias em oferta dependerá da credibilidade dessa promessa e da intensidade desses desejos.
A função da publicidade, nesse processo, é fundamental, pois ela se destina a convencer o maior número possível de pessoas a comprar e consumir, o que só ocorrerá se for capaz de criar, mobilizar e intensificar os seus desejos. Para tanto, uma das principais estratégias da publicidade é a construção de imagens que levem as pessoas a realizarem “uma associação entre os produtos oferecidos e certas características socialmente desejáveis e significativas, a fim de produzir a impressão de que é possível vir a ser certo tipo de pessoa [...] comprando aquele produto [...]” (KELLNER, 2001, p. 318). Por essa razão, geralmente, as peças publicitárias contêm imagens que associam os produtos anunciados a ideias de riqueza, alegria, felicidade, juventude, beleza, entre outros, pois se trata de valores muito desejados na sociedade em que vivemos.
Um dos motivos porque é tão importante estudar as estratégias de representação das imagens publicitárias é justamente porque “a propaganda ‘interpela" os indivíduos e os convida a se identificar com produtos, imagens e comportamentos” (KELLNER, 2001, p. 322). Em outras palavras, as imagens construídas nesses anúncios estão carregadas de valores culturais e, por isso mesmo, vendem não apenas os produtos que anunciam, mas também identidades e estilos de vida. É por isso que algumas pessoas se sentem empoderadas quando conseguem comprar produtos de certas marcas. Para citar alguns exemplos mais atuais, podemos dizer que algumas marcas de tênis estão associadas com classe social elevada, sucesso, juventude, saúde, aventura, liberdade; algumas marcas de cerveja estão associadas com a masculinidade; alguns acessórios femininos, como bolsas e joias, estão associados às ideias de elegância, distinção, sucesso e classe social elevada, entre tantos outros exemplos possíveis.
Imagens nos espaços digitais
Com o surgimento das tecnologias digitais, ficou mais fácil produzir e fazer circular imagens. Hoje, praticamente qualquer aparelho celular, além de estar equipado com uma câmera fotográfica, também disponibiliza acesso à internet, o que faz com que, diariamente, sejam produzidas e compartilhadas, nas redes sociais, um número imenso de imagens. Além disso, existem muitos softwares que permitem não apenas armazenar, senão também editar as imagens digitalizadas, o que possibilita acrescentar textos escritos às imagens, corrigir possíveis imperfeições, alterar os padrões visuais originais, mudar cores, acrescentar frames, mesclar imagens, entre inúmeros outros recursos existentes.
Essa facilidade para produzir imagens (e outros tipos de texto) a partir de conteúdos já disponíveis nos espaços digitais levou alguns teóricos a afirmar que estamos vivendo na cultura da remixagem.
Para finalizar, é importante afirmar que grande parte das produções remixadas e dos memes que circulam na Internet se destinam ao entretenimento. No entanto, a facilidade para remixar e propagar imagens no ciberespaço também tem levado à proliferação de imagens manipuladas com o objetivo de difamar e estigmatizar certas pessoas e grupos sociais, frequentemente estimulando a cultura do ódio e do preconceito.

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