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CAPÍTULO 13 Furano o furano é um composto orgânico da família dos heterociclos aromáticos constituído de quatro grupos CH e um áto- - de oxigênio. É um líquido claro, volátil e levemente tóxico que funde a -86°C, tem ponto de ebulição de 32°C, risolúvel em água e solúvel em etanol e éter etílico. J = 3,3 Hz ~ H + H ôH= 6,19 ppm 1,35A 'Y-( '\ "[ ~ ) J=1,8Hz 1,37A/ O H ôH = 7,26 ppm momento de dipolo 0,72 D (devido ao par de elétrons sobre o oxigênio) É usado como um intermediário químico em reações e também como solvente. "- É convertido por hidrogenação ao tetraidrofurano, o qual é um importante solvente em reações orgânicas. O zromo de oxigênio tem dois pares de elétrons favorecendo a formação de complexos de coordenação e a solvatação ::e cátions. O furano é produzido pela descarboxílação catalítica do 2-furaldeído ou pela descarboxilação do ácido 2-furóico om cobre em pó, em quinolina. A adição de hidroquinona ou outros fenóis inibe a polimerização, que ocorre lenta- ente à temperatura ambiente. O 2-furaldeído é obtido industrialmente do resíduo de plantas ricas em pentoses, como o farelo, pelo tratamento com :12504 diluído, seguido pela destilação por arraste de vapor. . pentosana OH OH (---<;CHO OH HO pentose ~CHO O 2-furaldeído é um líquido incolor, venenoso, solúvel em H20, de p.e. 162°C e que lentamente torna-se cinza na presença de ar. Assim como o benzaldeído, participa da reação de Cannizzaro, reação de Perkin, condensação de 70evenagel e condensação de aciloína. A hidrogenação catalítica do 2-furaldeído produz o (hidroximetil) oxolano álcool tetraidro-2-furfurílico). Este composto, pela ação de catálise ácida, sofre um rearranjo nucleofílico 1,2- e gera o 3,4-diidropirano. A preparação do sal incolor de 2-hidróxi-5-(fenilamino) penta-2,4-dienal pela ação de anilina e HCI ilustra a abertura do anel do 2-furaldeído. 58 Furano o 2-furaldeído é usado como solvente na manufatura de polímeros e como material de partida em síntese orgâz, Alguns derivados do 5-nitro-2-furaldeído são bacteriostáticos e bactericidas, como a sernicarbazona (Nitrofural), e usados no combate de doenças infecciosas. O ácido furóico (ácido furano 2-carboxílico) é obtido pela destilação seca do ácido D-galactárico (ácido múci OH OH H0 2 C---<-->-COOH __ l:::..__ .•.•• OHHO -3 H20, -C02 Q-- C0 2 H Os furanos são ocasionalmente encontrados em plantas e microorganísmos, por exemplo, o óxido de carlina, que - obtido pela destilação a vapor das raízes da carlina thistle (Carlina acaulis). . óxido de carlina Furanos são de considerável importância como intermediários sintéticos e estão presentes na estrutura de fármaco _ de produtos naturais, como exemplificado a seguir: Me2N~O,,--U "s ~NH MeHN >==---N0 2 zantac (ranitidina) ~SH O ~ Me 'I ~ MO e perilenotiol furfurila (aroma de café tostado) AcO n ,N-NH 02N~07---(I }-H H O nitrofurazona ~~MOH HO~OAO HO ácido ascórbico (vitamina C) O teubrevina G teulipicina Um método alternativo de abertura do anel é a clivagem de 2-furilmetanóis com HeI em alcoóis, formando ésteres do ácido levulínico. Furano 59 ROH, HCI•• RO~ O O ~ ffil \+ H20, H,,, RO" 1\ ~ ~ H~OÀ RO O Sob condições similares, sistemas o-furíl vinilcarbonílicos (cetonas, ésteres, ácidos) também produzem cetoésteres. Por exemplo, ácido o-furíl acrílico, facilmente acessível de 2-furaldeído pela reação de Knoevenagel com ácido malônico, por descarboxilação produz o éster 3-oxoeptanodicarboxílico (clivagem de Marckwald). ROH, HCI•• RO~COOH OR Esta transformação, que é formalmente um processo de redox interno, pode ser explicada por um mecanismo iônico envolvendo uma adição de ROH, isomerização e abertura hidrolítica do anel. SÍNTESE Vários métodos de síntese de furanos, pirróis e tiofenos empregam uma reação de condensação catalisada por ácido entre uma cetona e uma amina (N), uma fonte de oxigênio (O) ou de enxofre (S). Síntese de iminas A protonação do oxigênio torna a cetona mais ativa para sofrer o ataque nucleofílico da amina, e a perda de um próton produz um intermediário neutro. Uma segunda protonação, uma vez mais sobre o oxigênio, forma o intermediário carregado, o qual perde uma molécula de água e um próton, formando a imina. Todos os passos do mecanismo da reação são reversíveis, mas o equilíbrio pode ser deslocado através de uma destilação azeotrópica, empregando um sistema de destilação de Dean-Stark. Mecanismo de Formação de Imina A preparação de compostos l,4-dicarbonílicos simétricos, empregados na síntese de furanos, pirróis e tiofenos, pode ser efetuada a partir das reações entre um l3-cetoéster apropriado, uma base e iodo. 1) H<±l •• o R ~ O 60 Furano Reação o o o o JL JL EtO- ~ /'_X.'O~ .. • O~ R H EtOH R- o o EtO {x!_O~ •. *{ o -I o R o OEt o o 12 JL JL -I •. /' ~~. 'O~ R I 2) calor Síntese de Paal-Knorr A preparação de furanos pode ser realizada a partir de um composto 1,4-dicarbonílico, especialmente 1,4-dicetor......... que, quando tratados com um ácido apropriado, ciclizam, pois já têm em sua estrutura todos os átomos de carbon o heteroátomo (oxigênio) necessário para a reação de ciclização. Emprega-se meio reacional não aquoso para fav = cer o deslocamento da reação em direção ao produto desejado. A presença de ácido para cata lisar a reação favor - a formação do enol de uma das carbonilas, seguida de ciclização e perda de água. l,4-Dicetonas fornecem furanos l = dissubstituídos. Reação catalisador ácido ~ ou agente desidratante--'--------.. C6HS O CH3 Mecanismo , I I + H+! I I L "-.----H+ R1= H, alquil, aril; R2,3= H, alquil, aril, CO2-alquil, CO2-aril; R4= H, alquil, aril. Catalisador ácido: HCI, H2S04,PPA, p-TsOH, (COOH)2' Arnberlyst" 15; Ácido de Lewis: ZnBr2' ZnCI2, BF3.Et20) Agente desidratante: P205, Ac20. Em um equilíbrio ácido-base, ácidos de Brõnsted e de Lewis são adicionados a um dos grupos carbonila de um sistema 1,4-dicarbonílico, permitindo o ataque nucleofílico intramolecular pelo segundo grupo carbonílico e for- mando o diidrofurano, seguido de j3-eliminação, que ocorre também via catálise básica. Outras variantes da reação de Paal-Knorr são mostradas a seguir: Furano 61 Variante catalisador Pd + cat. ácido catalisador ácido de Lewis HO OH 1)~=--------'<2R R(isomerização/desidratação) íntese de Feíst-Benary Compostos a-halocarbonílicos reagem com [3-cetoésteres para produzir derivados do ácido 3-furóico por cíclocondensação. Reações que formam produtos cíclicos a partir de materiais de partida de cadeia aberta pela eli- .::linação de água, haletos de hídrogênío-ou outros compostos de baixa massa molecular são chamadas de cíclocondensação, que é um método importante para sintetizar compostos heterocíclicos de cinco, seis ou mais membros. eação x = CI, Br Rl = H, alquil R2 = alquil _Iecanismo eR~ct2r: R 1 - o OH OR4 3 2:8:RR transferênciaO X de próton1 ••R "O 0e OR4 RJf:3O R2H30+R1-4 R O OH O diidrofuranol isolável _\ síntese de Feist-Benary requer a presença de uma base; por exemplo, NaZC03 aquoso. Ocorre como uma reação de -:íltiplos passos que envolve, ao menos, dois intermediários, dos quais 3-hidróxi-2,3-diidrofuranos podem ser isolados 62 Furano ----- o ~ em alguns casos. A formação deste intermediário resulta de uma condensação aldólica, e a subseqüente fo diidrofurano ocorre a partir de uma substituição nucleofílica intramolecular. Mecanismo de eliminação de água OH O ~ + H-A - + H-O-H + H-A 1,3-Dicetonas cíclicas também reagem com compostos o-halocarbonílícos, de acordo com a síntese de Feist-Berz; Na reação do ~-cetoéster com uma o-halocetona, a possível competição entre C-alquilação (seguida pela reação ':i tipo Paal-Knorr) e a condensação aldólica (seguida pela reação do tipo Feist-Benary) pode resultar na mistura de furaco isoméricos. A regiosseletividade pode, algumas vezes, ser controlada pelas condições de reação, como, por exemplo. ::... interação da cloro acetona com o éster acetoacético, levando a ácidos 3-furóicos. EtONa EtOH, Nal •• -HCI C~o+ot02EtNaOH O60 ~Et O O etil 2,5-dimetil-3-furoato __ ..••'lr-{C02Et -HCI, ZO~ -H20 etil 2,4-dimetil-3-furoato TRANSFORMAÇÃO DE OXAZÓIS PELA REAÇÃO DE DIELS-ALDER Uma síntese de furanos que não pode ser facilmente deduzida de considerações retrossintéticas é a reação de Diels- Alder de oxazóis com alquinos ativados. Por exemplo, 4-metiloxazol reage com dimetil acetilenodicarboxilato, formando o és ter furano 3,4-dicarboxílico via um aduto não isolável. Furano 63 °primeiro passo é uma cidoadição [4+2) e o segundo uma cidorreversão [4+2).°fato de esta cidorreversão não ser uma retrorreação do primeiro passo é devido à formação da acetonitrila, substância termodinamicamente mais estável que os dienos e dienófilo (materiais de partida). Reações ° furano participa de reações com reagentes eletrofílicos, freqüentemente com substituição. Porém, pode também reagir por adição e/ou abertura de anel, dependendo do reagente e das condições de reação. Substituição eletrofílica °furano sofre reação de substituição aproximadamente 103 vezes mais rápida que o benzeno em condições similares. As razões para isto são: a energia de ressonância do furano é menor que a do benzeno; o anel furânico tem excesso de elétrons TI, enquanto no benzeno a densidade de elétrons TI é um para cada átomo do anel. As reações de substituição eletrofílica do furano, similares àquelas do benzeno, ocorrem por um mecanismo de adi- ção/eliminação. Hf!sE O I ~E /(ci')<H O E 11 complexo TI complexo s A substituição é regiosseletiva para a posição a e, quando estas posições estão ocupadas, a posição !3é substituída. A cloração do furano a -40 °e produz 2-dorofurano e 2,5-didorofurano; a bromação com o complexo Br.-dioxano a -5 °e forma 2-bromofurano. Por sua vez, a nitração é mais bem conduzida com ácido nítrico fumegante em anidrido acético entre -20 "C e -10 "C, produzindo 2-nitrofurano. Os complexos píndína-SO, ou dioxano-SO, convertem furano no ácido 2-furano sulfônico e consecutivamente no ácido 2,5-furano dissulfônico. Alquilação e acilação tam- oém são possíveis. 02Nf) r HNOjAc,O t». O el2 o c:•. + 0 1 -40 °ee no c: SOipiridina ~nA BrJ) E0S03 O + n-BuLio + n-BuH 64 Furano A ação do doreto de mercúrio (Il) e acetato de sódio em etanol aquoso conduz à mercuriação do furano. Q Metalação n-Butilítio em hexano metal a o furano na posição 2, enquanto o excesso do reagente a altas temperaturas prod 2,5-dilítio furano. Esta é principalmente uma reação ácido-base, sendo o furano desprotonado pela base forte butilítio. Reações de adição o furano é transformado no correspondente tetraidrofurano por hidrogenação catalítica. Em algumas reações de adição, os fura nos comportam-se como os 1,3-dienos. Por exemplo, os furanos reagem c bromo em metanol na presença de acetato de potássio, formando 2,5-dimetóxi-2,5-diidrofurano por adição 1,4-. ~Br-Br -HBr + MeaH .c:•-HBr Mea O aMe A analogia da reatividade do fura no com a do butadieno é realça da pelo fato de o furano participar da reação de Diels Alder com dienófilos, tal como o anidrido maleico. a cQo 1 aduto endoCo a+ a H aa ~o aduto exoc 2 H a A reação é estereosseletiva. A regra endo de Alder aplica-se para a estereoquímica dos cícloadutos, assim, em acetonitrila a 40°C, o aduto endo é formado 500 vezes mais rápido que o aduto exo. No entanto, com um tempo de reação mai longo, a formação do produto torna-se sujeita ao controle cinético. O composto endo inicialmente formado é completa- mente convertido via os adutos no composto exo. A reação de Diels-Alder dos furanos tem sido estudada em detalhes com dienófilos acetilênicos, como o éster acetilenodicarboxílico, formando adutos que são isomerizados por ácidos a fenóis. A hidrogenação seletiva, seguida de uma cidorreversão [4+2], produz fura nos 3,4-dissubstituídos. Furano 65 Existem reações que envolvem uma ligação '1T olefínica do furano. Por exemplo, furanos reagem com cetonas sob as condições da reação de Paterno-Büchi, formando 2a,5a-diidro-2H-oxeto[2,3-blfuranos. Reações de abertura do anel Q + hv OiRO Furanos são protonados na posição 2, e não no átomo de oxigênio, por ácidos de Brónsted. .c-: O --.~ polímeros.•. .•. o ácido sulfúrico concentrado ou ácido perclórico induz à polimerização dos cátions, enquanto ácidos diluídos, por exemplo, ácido perclórico em DMSO aquoso, via hidrólise, produz compostos 1,4-dicarbonílicos. O ataque nucleofílico pela água ocorre na posição 3 do furano protonado. Finalmente, em uma versão da síntese de Paal-Knorr, 2-hidróxi-2,3- iidrofurano forma compostos 1,4-dicarbonílicos e hexano-2,5-dionas. \
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