Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SEMIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO ANAMNESE BOCA: Os principais sinais e sintomas são: dor, limitação da abertura da boca, disfunção da articulação temporomandibular (ATM), halitose, xerostomia, sangramento gengival, ulcerações aftosas recorrentes, úlceras que não cicatrizam nódulos, vesículas, bolhas, manchas e placas. DOR A mais comum é de origem dentária (odontalgia) As causas estão relacionadas com: cárie dentária, alterações pulpares e dos tecidos de suporte dos dentes, o periodonto. Pode ser aguda, bem localizada, de curta duração e desaparece quando se elimina a causa Pulpite: a dor é aguda e contínua, a princípio localizada, mas com o evoluir do processo irradia para as regiões próximas ao dente comprometido. A intensidade da dor aumenta com substâncias frias, quentes, doces e ácidas e persiste após a interrupção do contato As dores mais comuns estão relacionadas ao abscesso periapical e periodontal, à alveolite e à osteomielite. Abscessos são processos inflamatórios, caracterizado pela formação de pus. A dor é aguda, intensa, pulsátil e contínua. No início é localizada, mas geralmente evolui para dor referida a distância Alveolite é a complicação mais comum após uma extração dentária difícil e traumática. Pois o coagulo sanguíneo se desintegrou ou foi deslocado, resultando em odor desagradável, mas sem supuração Osteomielite é um processo inflamatório agudo ou crônico localizados nos espaços medulares ou nas superfícies corticais. Em geral é uma infecção bacteriana. Os sintomas dos casos agudos são: dor intensa, febre, linfadenopatia regional, mobilidade e sensibilidade dolorosa dos dentes acometidos, presença de fragmentos ósseos com esfoliação espontânea, parestesia ou anestesia do lábio inferior pode ocorrer. Quando a aguda não é tratada, pode evoluir para osteomielite crônica. LIMITAÇÃO DA ABERTURA BUCAL Consiste na dificuldade ou impossibilidade, temporária ou permanente, de abertura da boca. Pode ter causa intra ou extra-articular (ATM) Causas mais comuns: desarranjo interno ou luxação da ATM, fratura da cabeça da mandíbula, sinovite traumática, artrite inflamatória, osteoartrite, anquilose, traumas ou fraturas de ossos da face, edema pós-cirúrgico, etc. HALITOSE Odor bucal desagradável A queixa requer exame adequado, não só da cavidade bucal, mas também dos sistemas respiratório e digestório, da pele e das mucosas Pode ser também de origem metabólica ou psicogênica Normalmente é de causa local: higiene bucal deficiente, doenças gengivais e periodontais, uso de bebidas alcoólicas, tabagismo, ingestão de alimentos e bebidas fortemente aromatizadas Causas não bucais são: respiratórias, digestórias, metabólicas, psicogênicas, jejum prolongado XEROSTOMIA Conhecido como “boca seca” Pode estar relacionada com falta de saliva, contudo, nem sempre a boca seca indica falta ou diminuição na produção de saliva. Pode ocorrer em doenças das glândulas salivares: síndrome de Sjogren, DM, radiação da cabeça e pescoço, quimioterapia e uso de alguns medicamentos SANGRAMENTO GENGIVAL É um sintoma comum A causa mais frequente é o ato de escovar os dentes (necessário pesquisar a presença de gengivite) ULCERAÇÕES AFTOSAS RECORRENTES São comuns em diferentes locais da mucosa bucal, sem causa definida A destruição da mucosa parece representar uma reação imunológica mediada pelas células T As causas incluem: alergias, predisposição genética, deficiências nutricionais, anormalidades hematológicas, influências hormonais, agentes infecciosos, traumas e estresse. ÚLCERAS QUE NÃO CICATRIZAM Ulcerações cutâneas ou em mucosas que não cicatrizam em um período de 4 a 6 semanas devem ser investigadas no sentido de excluir a possibilidade de uma neoplasia maligna A falta de higiene local é fonte de infeções recorrentes, favorecendo a formação de trajetos fistulosos e abscessos. NÓDULOS, VESÍCULAS, BOLHAS, MANCHAS E PLACAS Os nódulos são: processos proliferativos não neoplásicos, neoplasias benignas e relacionadas com o desenvolvimento, tais como o toro do ósseo palatino e mandibular. São lesões bem delimitadas que apresentam superfície lisa, mas que podem apresentar sinais inflamatórios. As vesículas e as bolhas são manifestações de doenças de natureza infecciosa, traumática ou autoimune Manifestações clínicas do herpes, por exemplo, localizadas na região perioral podem se manifestar como vesículas e bolhas dolorosas Manchas na região bucomaxilofacial podem ser resultantes de fatores endógenos ou exógenos As manchas vermelhas ou eritematosas geralmente estão associadas a alterações vasculares, traumáticas, infecciosas e alterações potencialmente malignas As manchas brancas ou leucoplásicas podem ser resultantes de leucoedema, quando localizadas na mucosa jugal. Trauma e uso de cigarros podem estimular a produção local de queratina. ANAMNESE DO ESÔFAGO: As principais queixas são: disfagia, odinofagia, afagia, fagofobia, pirose, dor esofágica e regurgitação Outros sintomas que podem estar relacionados são: eructação, soluço, sialose, afagia, fagofobia e hematêmese. Os mais importante sintoma é DISFAGIA Sinais de alerta para doenças no esôfago: hematêmese, dor, perda de peso, idade avançada, anemia Sintomas atípicos de doença no esôfago: tosse, dor no peito DISFAGIA Dificuldade à deglutição Ocorre nas duas primeiras fases da deglutição, chamada de: bucofaríngea, alta ou de transferência A da terceira fase da deglutição é chamada de: esofágica, baixa ou de transporte A bucofaríngea pode ser facilmente reconhecida: o alimento permanece no todo ou em parte na cavidade bucal após a tentativa de deglutição, podendo haver aspiração para a árvore traqueobrônquica, seguida de tosse ou regurgitação nasal TERMOS TÉCNICOS Algesia: sensibilidade a dor Disgeusia: distorção ou diminuição do senso do paladar Parageusia: mal paladar na boca Tenesmo: espasmo doloroso do esfíncter anal, com desejo de urinas ou defecar, porém com pouca eliminação de fezes ou urina Hematêmese: sangue no vômito Melena: fezes borra de café Enterorragia: sangue vivo nas fezes Plenitude pós-prandial: sensação de empachamento, muito cheio Na disfagia esofágica, o paciente tem a sensação de parada do bolo alimentar no esôfago. Pode ocorrer devido a uma obstrução de natureza orgânica ou a alterações motoras. ODINOFAGIA Dor que surge com a ingestão de alimentos Pode ocorrer como sintoma isolado, porém comumente está associado à disfagia Referida como dor urente, em punhalada, constritiva ou espasmódica Se deve a contrações musculares de maior intensidade no esôfago distal ou a lesões associadas da mucosa AFAGIA Obstrução esofágica completa Se deve a impactação do bolo alimentar e representa uma urgência médica FAGOFOBIA É o medo de deglutir Pode ocorrer em casos de histeria, tétano, raiva e paralisia faríngea Geralmente desencadeado por medo de aspiração de alimento ou comprimidos PIROSE Sensação de acidez Referida pelo paciente como: azia, queimor ou queimação Principal sintoma de refluxo gastresofágico É de localização retroesternal Percebida no nível do apêndice xifoide Pode propagar-se para a região epigástrica, para ambos os lados do tórax ou, mais comumente, em direção ascendente, até o nível do manúbrio esternal Ocorre, na maioria das vezes, após as refeições Pode ser desencadeada por determinados alimentos como: frituras, bebidas alcoólicas, café, frutas cítricas e chocolate, ou pela posição em decúbito As vezes, acompanhada de regurgitação de pequenas quantidades de líquido de sabor azedo ou amargo Sugere insuficiência do mecanismoimpediente de refluxo, cujas causas mais comuns são: o relaxamento transitório do esfíncter inferior do esôfago, a hérnia hiatal e a hipotonia do esfíncter inferior do esôfago DOR A dor “espontânea” distingue-se da odinofagia, por não depender do ato de ingerir o alimento Pode ser causada por mudanças do pH intraluminal, atividade motora anormal ou processos inflamatórios ou neoplásicos da parede esofágica O caráter da dor varia em função da doença-base Esofagite péptica: dor urente, que representa acentuação da pirose Distúrbios motores do esôfago (espasmo difuso e nas manifestações hipercinéticas da esofagopatia chagásica e da acalasia idiopática): dor em cólica, constritiva ou dilacerante. Câncer de esôfago: quando ocorre a dor, ela é surda, contínua. Indicando, quase sempre, extensão da neoplasia às estruturas mediastinais. Esôfago em quebra-nozes: denominação dada ao esôfago com contrações peristálticas acima de 180mmHg REGURGITAÇÃO É a volta do alimento ou de secreções contidas no esôfago ou estômago à cavidade bucal, sem náuseas e sem a participação dos músculos abdominais A regurgitação de pequena quantidade de líquido, pela manhã, é chamada de pituíta. As causas podem ser mecânicas ou motoras As mecânicas mais comuns são: estenoses, neoplasias, divertículo faringoesofágico e obstrução do lúmen esofágico por alimento Os motores mais comuns são: megaesôfago chagásico, a acalasia idiopática e, mais raramente, o espasmo difuso do esôfago. Fatores que favorecem: hipotonia de esfíncter inferior do esôfago, aumento da pressão intragástrica ou intra-abdominal e mudanças posturais, como inclinação do tronco para frente, decúbito dorsal e decúbito lateral direito Ocorre quase sempre após as refeições No megaesôfago, há 2 tipos de regurgitação: ativa, dinâmica ou ortostática, que surge durante ou imediatamente após a refeição, decorrente da incoordenação motora do esôfago, e a passiva, de decúbito ou clinostática, que se manifesta tardiamente, com o paciente deitado, quase sempre à noite. Mericismo: consiste na volta, à boca, de pequenas quantidades de alimento, que, na maioria das vezes, é novamente deglutido pelo paciente, à maneira dos ruminantes. ERUCTAÇÃO Não constitui sintoma próprio das doenças do esôfago Ocorre, na maioria das vezes, em consequência da ingestão de maior quantidade de ar durante as refeições ou em situações de ansiedade Aerofagia: é a deglutição de grande quantidade de ar com o objetivo de eructar SOLUÇO Não constitui sintoma próprio das doenças do esôfago e nem mesmo do sistema digestório É um distúrbio da coordenação da respiração Ocorre por um espasmo diafragmático no momento da inspiração com o concomitante fechamento glótico, acompanhado de ruído característico Causas: doenças do sistema nervoso central, irritação do nervo frênico ou do diafragma, estimulação reflexa, doenças que comprometem o mediastino, pleura e órgãos intra-abdominais SIALOSE Também chamada de sialorreia ou ptialismo Caracteriza-se pela produção excessiva de secreção salivar Observada nas esofagopatias obstrutivas de modo geral e, em particular, no megaesôfago chagásico A hipersalivação se deve ao chamado reflexo esofagossalivar de Roger HEMATÊMESE “Vômito com sangue” Caracteriza a hemorragia digestiva alta A causa mais comum de sangramento são as varizes do esôfago ANAMNESE ESTÔMAGO E DUODENO As relações dos sintomas com fatores emocionais, psicológicos e psiquiátricos têm grande importância na avaliação de quadros de origem gástrica Deve-se perguntar ao paciente sobre: transtornos de humor, de ansiedade, distúrbios alimentares, diabetes, etilismo e tabagismo e uso de medicamentos que podem provocar dispepsia como antibióticos e anti- inflamatórios DOR Sintoma mais frequente das doenças do estômago e duodeno A dor visceral do estômago e do bulbo duodenal é percebida na linha mediana do epigástrico, poucos centímetros abaixo do apêndice xifoide Doenças inflamatórias ou neoplásicas que afetam a face serosa do estômago causam dor contínua e intensa na parte superior do abdômen, principalmente epigástrico PLENITUDE PÓS-PRANDIAL E SACIEDADE PRECOCE É a sensação de persistência prolongada de alimentos no estômago após uma refeição, gerando desconforto A saciedade precoce é definida como a sensação de que o estômago está cheio logo após o início de uma refeição, impedindo que seja terminada NÁUSEAS E VÔMITOS Manifestações comuns das doenças do estômago e do duodeno Náuseas: sensação desagradável relacionada à necessidade iminente de vomitar, localizada no epigástrico ou na garganta Vômito: caracterizado pela expulsão forçada de conteúdo gástrico ou intestinal pela boca, associado à contração dos músculos abdominais e torácicos. A ocorrência de vômitos acompanhando as crises dolorosas não denota necessariamente obstrução do trato de saída do estômago Náuseas e vômito frequentemente têm origem extradigestiva ESOFAGITE EROSIVA É uma consequência do refluxo ANAMNESE INTESTINO DELGADO: A idade é bastante importante nesse caso. Com relação ao sexo, merece referência a doença de Whipple, que ocorre muito mais em homens do que em mulheres, em uma proporção aproximada de 9:1. Origem racial, como a deficiência seletiva da lactase intestinal atinge a quase totalidade dos orientais e dos negros e mais da metade das pessoas de origem árabe. A procedência dos pacientes guarda relação, particularmente, com a distribuição geográfica das doenças infecciosas e parasitárias. Quanto aos antecedentes pessoais, destacam-se os dados sobre a evolução pôndero-estatural na infância e na adolescência e sobre o desenvolvimento puberal. Deficiência do desenvolvimento somático, intelectual ou da maturação sexual pode sugerir doença crônica instalada desde a infância ou adolescência. Tuberculose, que pode causar obstrução ou linfangiectasia intestinal, muitos anos após o seu diagnóstico, tratamento e cura comprovada. A referência a intervenções cirúrgicas ou o encontro de incisões abdominais no exame físico. Atenção particular deve ser dada ao uso de bebidas alcoólicas. A ingestão prolongada ou imoderada de álcool acarreta alterações anatômicas e funcionais em vários órgãos do aparelho digestivo, incluindo o intestino delgado. Pode, também, associar-se a outras condições, como desnutrição ou diminuição da resistência à ação de agentes biológicos. Em algumas situações, as manifestações clínicas estão diretamente relacionadas com os efeitos colaterais de medicamentos utilizados (exemplos: diarreia provocada por antiácidos, anti-inflamatórios, cólicas por sais de ferro). Pacientes com evidentes distúrbios da esfera psíquica estão entre os que, com maior probabilidade, apresentam sintomas desprovidos de substrato orgânico reconhecível. Casos semelhantes na família, o que pode ser útil no diagnóstico de doenças de base genética, como a doença celíaca e as poliposes familiais. As principais manifestações das afecções do intestino delgado são: diarreia, esteatorreia, dor abdominal, distensão abdominal, flatulência e dispepsia, hemorragias digestivas, febre, perda de peso, anemia, edema, manifestações carenciais e insuficiência endócrina. Diarreia A diarreia é a manifestação mais comum das doenças do intestino delgado. O ritmo normal do intestino é 3x ao dia ou 1 vez a cada 2 dias Aumento do teor líquido das fezes, frequentemente associado ao aumento do número das evacuações e do volume fecal em 24 h. Diarreia aguda: duração de até 2 semanas (virose) Diarreia persistente: de 2 a 4 semanas (parasitas) TERMO TÉCNICO Acolia fecal: fezes esbranquiçadas Diarreia crônica: + 4 semanas (síndromedo intestino irritável, neoplasia, etc.) Sinais de alerta para a diarreia: enterorragia, não ouvir nada na ausculta Pode ser decorrente dos seguintes mecanismos: - Aumento da pressão osmótica do conteúdo intraluminal (diarreia osmótica). O acúmulo de substâncias não absorvíveis no intestino delgado pode determinar retardo da absorção de água e eletrólitos ou passagem de líquidos do meio interno para o lúmen intestinal. Este tipo de diarreia aparece quando há defeito na digestão ou na absorção de nutrientes, como se observa na síndrome de má absorção. - Aumento da secreção de água e eletrólitos pela mucosa intestinal (diarreia secretora). Este mecanismo ocorre quando há estímulos à síntese de AMP cíclico intracelular, resultando em secreção ativa de água e eletrólitos pela mucosa do intestino delgado. Na diarreia por enterotoxinas bacterianas (Vi brio cholerae, Escherichia co li) e por alguns medicamentos (teofilina, prostaglandinas), este é o mecanismo responsável. - Aumento da permeabilidade da mucosa intestinal (diarreia exsudativa). Alterações inflamatórias, neoplásicas ou isquêmicas na mucosa intestinal resultam em passagem anormal de líquidos do meio interno para o lúmen do intestino delgado. São exemplos a diarreia das doenças inflamatórias e dos linfomas difusos do intestino delgado • alteração da motilidade do intestino delgado (diarreia motora). Este mecanismo ocorre quando há uma alteração capaz de modificar o padrão normal do trânsito no intestino delgado. São exemplos o hipertireoidismo e a diarreia funcional, condições nas quais o trânsito pelo intestino delgado é acelerado. Certificar-se, em primeiro lugar, da própria existência da diarreia. Isto porque, em alguns casos, o aumento do teor de líquido das fezes pode não provocar mudanças exuberantes ou ser tão gradual que passa despercebido ao paciente. Aumento do teor de líquido das fezes, condição definidora da diarreia. Volume de cada evacuação, da frequência diária das mesmas e da consistência ou teor de líquido das fezes. A determinação da duração do processo diarreico é muito útil, em especial para estabelecer o diagnóstico etiológico. As diarreias de poucos dias de duração apresentam, em geral, causas diferentes das crônicas. Nestes casos, as dejeções costumam ser volumosas e amolecidas, quando não francamente líquidas ou semilíquidas. O volume aumentado das fezes pode ser aparente, quer em cada evacuação, quer quando se calcula o volume de 24 h. Sua frequência está aumentada, mas dificilmente alcança a que se observa nas afecções inflamatórias das porções mais distais do intestino grosso. Podem estar mais claras, brilhantes, leves e espumosas. As evacuações podem se acompanhar da eliminação de grande quantidade de gases, o que confere um caráter "explosivo" às dejeções. Muitas vezes são precedidas de cólicas abdominais, de localização periumbilical, ou de dor difusa, a qual predomina no hemiabdome direito. São comuns os restos alimentares nas dejeções, sendo importante diferenciar os restos de alimentos normalmente não digeríveis, como os que contêm fibras vegetais, dos normalmente digeríveis. Hábitos alimentares são grandes responsáveis. Outro dado indicador de distúrbio da digestão ou da absorção são as gorduras, que caracterizam a esteatorreia. O uso de medicamentos, pois vários fármacos podem produzir ou agravar a diarreia. Entre estes, incluem-se antibióticos, anti-inflamatórios, antiarrítmicos, anti-hipertensivos, cardiotônicos e antiácidos. Se há restos alimentares digeríveis e, em particular, pode ser reconhecida gordura nas fezes, isso indica defeito nos processos de digestão e absorção. Quando a diarreia cessa ou diminui com um período de jejum completo, é sugestivo que ela se deva a aumento da pressão osmótica intraluminal. Se a diarreia não cessar com o jejum, é provável que se trate de processo secretório ou exsudativo. Havendo febre, dor abdominal e eliminação de sangue parcialmente digerido, deve-se pensar na possibilidade de alterações inflamatórias. Esteatorreia É o aumento da quantidade de gorduras excretadas nas fezes. A diarreia, por si, aumenta a excreção de gorduras até 14 g/ dia, condição conhecida como má absorção secundária de gorduras. Se relacionam com má absorção exclusiva do componente lipídico da dieta ou de todos os macronutrientes: hidratos de carbono, proteínas e gorduras. Na grande maioria das vezes, ela associa-se à diarreia com aumento do volume das fezes. É também comum haver manifestações indicativas do aumento do conteúdo gasoso do intestino grosso, proveniente da digestão bacteriana de substratos não absorvidos, traduzido por cólicas periumbilicais, distensão abdominal e flatulência. A diarreia associada à esteatorreia, tendo como mecanismo o aumento da pressão osmótica intraluminal, costuma cessar ou diminuir após um período de jejum completo. As dejeções passam a ser volumosas, brilhantes ou lustrosas, com tendência a certo clareamento das fezes, as quais, não raro, ficam flutuando na água do vaso sanitário. Esta modificação da sua densidade deve-se ao aumento do seu conteúdo gasoso. Considerando que estas constituem importante fonte de calorias, estes estados de má absorção que resultam em esteatorreia frequentemente se manifestam por fraqueza, fadiga e perda de peso. Dor Abdominal A dor abdominal é sintoma comum das doenças do intestino delgado. É importante considerar a localização, a irradiação, a intensidade, o modo de início, as variações cronológicas, os fatores de melhora e de piora e as manifestações associadas. Sua localização é, em geral, imprecisa, sendo indicada pelo paciente em algum ponto próximo da região umbilical. Quando há comprometimento dos segmentos mais distais do íleo, ela se localiza um pouco abaixo da cicatriz umbilical, entre o mesogástrio e o hipogástrio. Se sua origem for no íleo terminal, é percebida no quadrante inferior direito. Quando decorre de uma peritonite restrita, sua localização corresponde à da sede do processo inflamatório. Aliás, com grande frequência, as doenças intestinais cursam com peritonite focal, sendo exemplo disso a doença de Crohn, que afeta preferencialmente o íleo terminal. Nesses casos, a sede mais comum da dor é o quadrante inferior direito do abdome. Por fim, quando há peritonite generalizada, ela é sentida difusamente por todo este local. A irradiação da dor para outros locais depende do mecanismo etiopatogênico e da intensidade da estimulação dolorosa. A dor visceral, originada da distensão ou da contração das paredes musculares do intestino, costuma ser descrita como tendo caráter de "distensão" ou "torção”. Quando há alterações inflamatórias, congestivas ou isquêmicas, é possível que se apliquem as designações "constrição" ou "peso. Sensações semelhantes a "queimação, ou "pontada podem ser empregadas quando há participação do peritônio perivisceral no processo inflamatório. A duração de todo o quadro, permitindo sua caracterização como agudo, subagudo, crônico, recidivante, guarda relação direta com a evolução das várias doenças do intestino delgado. Por fim, a duração dos episódios de dor e a descrição de modificações havidas em seu período de estado podem tornar possível a caracterização da verdadeira cólica intestinal. Esta se caracteriza por uma dor de início relativamente abrupto, com agravamento rápido e progressivo da sua intensidade que, no seu acme, acompanha-se de manifestações autonômicas. Em seguida, a dor diminui gradualmente até tornar-se pouco intensa, ou mesmo desaparecer completamente. A cólica intestinal indica distensão das paredes do intestino ou contraçãode sua musculatura. Distensão abdominal, flatulência e dispepsia Má absorção, pode ocorrer um conjunto de sintomas indicativos de repleção abdominal, provocados por aumento do conteúdo gasoso do tubo digestivo. Estes sintomas, em geral, apresentam-se junto com diarreia, esteatorreia ou dor abdominal, mas também podem ocorrer isoladamente. Sintomas dispépticos são sensações desagradáveis, de natureza variada, atribuíveis às porções proximais do tubo digestivo (estômago e duodeno). Frequentemente, ocorrem em associações diversas que incluem eructações, desconforto ou dor localizados no epigástrio, saciedade precoce, plenitude ou empachamento pós-prandial e náuseas, acompanhadas ou não de vômitos. O aumento do conteúdo líquido do intestino delgado, má absorção ou deficiência de propulsão, e excesso de gases pela fermentação bacteriana de açúcares não absorvidos. Deve ficar claro, na anamnese, se a distensão abdominal, a flatulência e outros sintomas dispépticos apresentam-se isoladamente ou não. A associação com diarreia e, em particular, com esteatorreia sugere sempre a ocorrência de processo patológico causando má absorção global dos nutrientes. A concomitância deles com dor abdominal intensa, contínua, e exacerbações periódicas, pode indicar obstrução mecânica de algum segmento do tubo digestivo. Neste caso, é possível observar períodos de diminuição ou de parada da eliminação de gases e de fezes. Hemorragia digestiva Tem importância no diagnóstico etiológico e no prognóstico do paciente. A localização do sangramento e sua relevância, determinada pelo volume, velocidade e duração da perda sanguínea. Em geral, é o relato de melena que sugere que a hemorragia se originou no intestino delgado, pois há tempo para a digestão do sangue se o local do sangramento estiver entre o ângulo de Treitz e a válvula ileocecal. As fezes tornam-se enegrecidas, podendo ou não guardar uma leve tonalidade avermelhada. Quase sempre o sangramento no intestino delgado provoca aumento do teor líquido das fezes. Daí ser comum a associação de melena com amolecimento das fezes e aumento do número de evacuações ou com diarreia exuberante. Junto com a mudança da cor e da consistência, costuma haver modificação do aspecto das fezes, que ficam mais viscosas e aderentes. Nesse caso, os pacientes se referem à eliminação de "graxa" ou "cola" pretas. Quase invariavelmente, a melena apresenta outra característica peculiar: o odor pútrido. Menos comumente, a hemorragia no intestino delgado expressa-se por enterorragia, isto é, eliminação de sangue vivo pelo ânus. Uma manifestação comum das hemorragias digestivas altas, frequentemente ignorada ou mal interpretada, é a febre. Esta resulta, provavelmente, da absorção de substâncias pirogênicas produzidas pela digestão de sangue extravasado para o lúmen do tubo digestivo. A origem, no intestino delgado, de hemorragia digestiva é sugerida quando coexistem os sintomas próprios das doenças intestinais. A ocorrência de diarreia e dor abdominal acompanhando o sangramento remete à doença de Crohn, aos linfomas, à tuberculose e à estrongiloidíase. Problema clínico difícil é representado por hemorragia no intestino delgado, sem outras evidências de doença neste segmento do tubo digestivo. O divertículo de Meckel é responsável por cerca da metade desses casos, enquanto as neoplasias e as afecções de natureza vascular constituem as causas restantes. Febre Uma manifestação comum nas doenças infecciosas, inflamatórias e neoplásicas do intestino delgado. Na maioria das vezes, apresenta-se junto com diarreia ou dor abdominal, mas, em certos casos, constitui manifestação isolada, precedendo em semanas ou meses o surgimento destas. Isto pode ser observado na doença de Crohn, nos linfomas, na tuberculose intestinal e na doença de Whipple. Febre alta, de início súbito, associada a mal-estar pode acompanhar a diarreia aguda, de curso benigno e autolimitado, cuja causa são as infecções bacterianas ou virais. Nas salmoneloses, a febre inicia-se vários dias após o aparecimento da diarreia, ou mesmo após esta ter cessado. Febre alta, junto com dor abdominal aguda e intensa, é quase constante na inflamação peritoneal própria da diverticulite de Meckel ou dos períodos de reagudização da doença de Crohn. Febre baixa, episódica, coincidindo ou não com piora de outras manifestações, como a diarreia, pode ocorrer na doença celíaca, de Whipple, de Crohn e nos linfomas. Nestas neoplasias, em particular, a febre pode aparecer somente à noite e ser acompanhada de sudorese profusa. Perda de Peso É uma alteração comum nas doenças do intestino delgado, estando relacionada com alimentação deficiente, má absorção ou aumento do consumo metabólico. A anamnese deve enfocar o apetite, a disposição para comer e as características da alimentação, incluindo quantidade e qualidade dos alimentos, número, tipo e horário das refeições. Verificar se existem razões aparentes, tais como alterações do estado emocional, sintomas que se agravem pela alimentação, uso concomitante de medicamentos e falta de alimentos. Pacientes com dispepsia costumam apresentar piora das eructações e do desconforto epigástrico quando comem. Saciedade precoce e plenitude epigástrica são desencadeadas pelas refeições, mesmo quando de pequena quantidade. Em algumas circunstâncias, os pacientes apresentam vômitos pós- prandiais, os quais constituem forte motivo para reduzir a ingestão de alimentos. É interessante mencionar a situação dos pacientes com insuficiência da irrigação arterial dos intestinos que apresentam dor abdominal intensa de ocorrência exclusiva no período pós-prandial ("angina abdominal") A descoberta pelo paciente de uma relação entre a dor abdominal e a alimentação gera um estado de verdadeiro pavor à comida (sitiofobia). Observar se há emagrecimento, mesmo com aumento da ingestão de alimentos. Nesta circunstância, a redução do peso corporal adquire maior especificidade, como indicador de má absorção ou de doença consuntiva. O emagrecimento aparece associado a evidências clínicas de doença do intestino delgado, tais como diarreia, esteatorreia, dor abdominal, melena e distensão abdominal. A esteatorreia, em particular, é um indicativo seguro de que a perda de peso resulta de má absorção. Anemia As doenças do intestino delgado podem provocar anemia, manifestada por palidez da pele, astenia, fraqueza muscular, fadiga ou cansaço, sonolência, irritabilidade, vertigens, zumbidos e percepção de "moscas volantes". Pode decorrer de deficiência de ferro, vitamina B12 ou folatos, desnutrição proteica, depressão "tóxica" da eritropoese e hemorragia digestiva. Em algumas condições é a única alteração clínica. Nestes casos, o diagnóstico da má absorção só pode ser feito com o uso de exames complementares. Às vezes, a deficiência de ferro ou vitaminas pode ser sugerida por outros sintomas indicativos de carências nutricionais específicas. Quando estes sintomas ocorrem junto com diarreia, esteatorreia, distensão abdominal e perda de peso, o diagnóstico da má absorção torna-se, então, óbvio. Quando a anemia se instala juntamente com melena, a causa mais provável é uma hemorragia digestiva. Edema Pode ser visto em várias afecções do intestino delgado, sendo quase sempre a expressão clínica da redução da pressão coloidosmótica do plasma acarretada por hipoalbuminemia. Redução da ingestão proteica, alteração da síntese de albumina pelo fígado ou sua perda excessiva são as causas da hipoalbuminemia. A redução do volume sanguíneo ativa o sistema renina-angiotensina- aldosterona, com perpetuação do mecanismo de retenção hidrossalina. O edema manifesta-se,em geral, associado à diarreia, à esteatorreia, à dor abdominal ou aos sintomas indicativos de hemorragia digestiva. Contudo, o edema constitui, não raro, a única manifestação da perda gastrintestinal de proteínas (Quadro 82.5). O edema pode ser intenso, generalizado e acompanhado de derrame peritoneal e pleural, caracterizando o quadro de anasarca. Nos casos em que o mecanismo responsável é a obstrução linfática, a ascite costuma ser do tipo quiloso. Na linfangiectasia intestinal pode haver concomitância de linfedema, ou seja, edema duro, inelástico, associado a espessamento e endurecimento da pele. Manifestações de carências nutricionais especificas As doenças do intestino delgado podem provocar má absorção de um ou mais nutrientes, acarretando carências de vários tipos, muitas vezes agravadas pela insuficiente ingestão alimentar (Quadro 82.6). A deficiência de hidratos de carbono, lipídios e proteínas pode ocasionar perda de peso, edema, alterações da pele e dos anexos A carência das vitaminas D e B12 é um indicativo indireto de duração prolongada do processo patológico subjacente, uma vez que o organismo tem, no fígado, um amplo depósito destas substâncias. Apesar da existência de importantes mecanismos de compensação, em particular o que envolve as paratireoides, a deficiência de cálcio pode ser acentuada, em função de existirem várias possibilidades de distúrbio do seu aproveitamento, destacando-se: (1) defeito de absorção propriamente dito; (2) defeito de absorção de vitamina D com retenção renal deste cátion; (3) perda fecal aumentada do cálcio, na forma de sabões formados pela ligação do cálcio com ácidos graxos não absorvidos. A curto prazo, a depleção de cálcio pode resultar em sintomas neuromusculares, tipo cãibras e parestesias. Ao longo dos anos, a reabsorção óssea que se processa como compensação da hipocalcemia pode gerar osteoporose, que se manifesta por dores ósseas e lombalgia. Insuficiência Endócrina Quando se compromete a absorção de nutrientes, pode se instalar insuficiência de glândulas endócrinas. Os mecanismos ainda não são bem entendidos, mas há uma tendência a atribuir tais alterações a desnutrição proteica, anemia crônica e carência de vitaminas e oligoelementos. Em mulheres, a doença celíaca pode cursar com alterações menstruais e infertilidade. Nos homens, com disfunção sexual, perda da libido ou da potência. Em casos graves, podem haver sintomas de hipopituitarismo, com alterações de várias funções, podendo surgir um verdadeiro estado de hipogonadismo, com perda das características sexuais secundárias, amenorreia e, no homem, atrofia testicular. Menos frequentemente, ocorrem manifestações de hipotireoidismo, tais como letargia, sonolência, intolerância ao frio, alterações da pele e mixedema. ANAMNESE INTESTINO GROSSO (CÓLON, RETO E ÂNUS): Na identificação, o grupo etário, o sexo, a profissão e a procedência do paciente podem, per se, fornecer informações importantes para o raciocínio diagnóstico. A idade, por exemplo, reforça determinadas hipóteses diagnósticas. Assim, grave obstipação intestinal em crianças sugere o diagnóstico de megacólon congênito, mas, em adultos, a primeira possibilidade a se cogitar em indivíduo de zona endêmica ou que nela já habitou é o megacólon chagásico. Nesse tipo de situação, a procedência passa a ter significado especial, porém, tal hipótese só se justifica em pacientes oriundos de região onde exista a doença de Chagas. Sangramento anal em crianças sugere pólipos; em adultos jovens, a hipótese mais provável é doença hemorroidária, enquanto, em pessoa Como diferenciar a diarreia do intestino grosso da do intestino delgado? Através da consistência. Intestino Delgado: fezes aquosas em maior quantidade, perda de peso, anemia, liberação de muitos gases, fezes com restos de alimento, melhora com o jejum e pcte acorda para defecar. Intestino Grosso: fezes menos aquosas, não melhora com jejum, presença de muco, pcte dorme bem a noite. acima de 50 anos de idade, sempre é necessário investigar, também, a possibilidade de câncer. Pessoas cuja profissão as obriga a ficar de pé ou sentadas durante muito tempo são mais suscetíveis à doença hemorroidária, enquanto aquelas que têm vida sedentária e se alimentam com poucas fibras vegetais se encaixam com mais frequência na hipótese de doença diverticular do cólon. A genética vem ocupando uma posição de relevo nos dias atuais; portanto, ao se fazer o interrogatório do paciente, deve-se levar em consideração esta preocupação, questionando-se sobre a ocorrência em familiares de algumas afecções com estas particularidades, como o câncer do intestino e a polipose familial. Os principais sinais e sintomas a serem discutidos nas doenças do cólon, reto e ânus são dor, diarreia, obstipação, sangramento anal, prurido anal, distensão abdominal, náuseas e vômitos, anemia e emagrecimento. Dor Sintoma mais comum nas doenças do cólon, reto e ânus e nem sempre sua avaliação clínica é fácil. Em primeiro lugar, deve-se definir o local da dor, a qual pode ser abdominal ou perineal. É mais fácil avaliar a dor perineal, pois esta região pode ser investigada ao exame físico, por inspeção e palpação, ou por intermédio de instrumentos até certo ponto mais simples. É originada em lesões agudas da região, destacando-se, dentre elas, a trombose hemorroidária, os abscessos e as fissuras. As manobras propedêuticas realizadas durante o exame auxiliam na sua caracterização, pois podem agravar ou despertar a dor. Um tipo especial de dor localizada no períneo é o tenesmo, que é a sensação de dor no reto e no períneo, acompanhada do desejo imperioso de defecar. O paciente sente dor intensa, espasmódica, e tem a impressão de que a defecação será abundante, porém, elimina apenas pequena quantidade de fezes ou de muco. O tenesmo ocorre nas afecções do reto, especialmente nos processos inflamatórios agudos e na síndrome disentérica. A dor localizada no abdome é mais difícil de ser interpretada em vista do grande número de vísceras e órgãos aí situados. O exame clínico tem que ser abrangente, ou seja, não se pode restringir ao abdome o exame de um paciente que se queixa de dor localizada nesta área. A dor pode ser aguda, de instalação súbita e com pouco tempo de duração, ou crônica, persistindo por dias, semanas ou meses. Nesses casos, costuma ter períodos de acalmia. Para facilitar o raciocínio diagnóstico, pode-se esquematizar a dor abdominal originada no intestino grosso da seguinte maneira: 1. Dor difusa 2. Dor no quadrante superior direito 3. Dor no quadrante inferior direito 4. Dor no quadrante superior esquerdo 5. Dor no quadrante inferior esquerdo. 1. DOR DIFUSA Exemplo típico desse tipo de dor é a da peritonite. A dor tem início em determinada região, mas sua característica é, que com o passar de algum tempo, difundir-se por todo o abdome. Quando ainda se mantém na sua localização inicial, manobras palpatórias adequadas possibilitam definir com alguma precisão - e isso é fundamental para o raciocínio diagnóstico - o órgão no qual teve início o processo inflamatório. Em consequência da peritonite, além da dor, a parede abdominal torna-se, com a evolução do processo, endurecida, daí a clássica denominação de abdome em tábua. Várias outras afecções podem provocar dor abdominal difusa, destacando-se a colite, a obstrução intestinal e a impactação fecal. 2. DOR NO QUADRANTE SUPERIOR DIREITO São poucas as causas colônicas de dor nesta região, em virtude da profunda localização da víscera em relação à parede abdominal. Quando ocorre, deve-se pensarem impactação fecal alta e obstipação intestinal grave. Nesse caso, a dor adquire características de cólica. É preciso lembrar que a vesícula biliar também está localizada nesta região e que suas afecções, como a colecistite, podem confundir o diagnóstico. 3. DOR NO QUADRANTE INFERIOR DIREITO Nesta topografia, em razão da proximidade do cólon (ceco e início do cólon ascendente) com a parede abdominal, o quadro doloroso é mais facilmente avaliado, conseguindo-se, em geral, definir sua causa por intermédio de manobras semióticas. Várias afecções do cólon podem causar dor nessa região, destacando-se a apendicite, o câncer do ceco, processos inflamatórios (doença de Crohn, tuberculose intestinal), invaginação intestinal por lesões benignas ou malignas. 4. DOR NO QUADRANTE SUPERIOR ESQUERDO Tal como no quadrante superior direito, esta região é de difícil acesso às manobras semióticas. O cólon está profundamente alojado e protegido pelos arcos costais, e só raramente há condições de palpá-lo, tal como ocorre na vigência de lesões muito graves (câncer avançado). Como causa de dor nessa área, podem citar-se a diverticulite, a impactação fecal alta e a obstipação intestinal crônica. A correta interpretação da dor toma-se difícil devido aos inúmeros órgãos nessa região (estômago, pâncreas, baço, rim), os quais também podem provocá-la. 5. DOR NO QUADRANTE INFERIOR ESQUERDO Sendo o cólon sigmoide normalmente palpável, é possível, com certa segurança e algum grau de confiabilidade, definir por manobras palpatórias a origem do quadro doloroso. A afecção que mais comumente causa dor nessa região é a doença diverticular do cólon, o qual está sujeito a inflamar-se, dando origem a diverticulite ou abscesso, às vezes com perfuração em peritônio livre e consequente peritonite. Nesses casos, inicialmente a dor é bem localizada, mas com a evolução do processo toma-se difusa. Além da doença diverticular, são capazes de provocar dor nessa região obstipação intestinal, processos inflamatórios ou irritação da mucosa intestinal - seguida de espasmos, como no cólon irritável e neoplasias. Diarreia e Desinteria Caracteriza-se a diarreia pelo número aumentado de dejeções (mais de três evacuações por dia), diminuição da consistência fecal e, às vezes, restos alimentares nas fezes. Disenteria é uma síndrome na qual, além da diarreia acompanhada de cólicas intensas, as fezes são mucossanguinolentas. Além disso, ocorre tenesmo ao final de cada evacuação. Pode ser de origem amebiana ou bacilar (shigellose). Algumas vezes toma-se difícil diferenciar uma diarreia relacionada com o intestino delgado (diarreia alta) de uma originada no cólon (diarreia baixa). Por isso, é necessário fazer uma análise criteriosa das suas características semiológicas. Entre estas, destaca-se a evolução do quadro diarreico no correr de um dia. Existe, inclusive, um aforismo que, embora não tenha valor absoluto, serve como ponto de referência na avaliação de uma diarreia. Costuma-se dizer que o cólon "dorme" à noite. Isto significa que, se um paciente apresenta diarreia contínua, dia e noite, deve-se considerar que sua origem possivelmente não é colônica ou exclusivamente colônica. A diarreia baixa compreende dois grupos: aguda e crônica. Ambas podem ter causa infecciosa ou não infecciosa. Dentre as causas de diarreia aguda, sobressaem a retocolite ulcerativa inespecífica, na qual, quase sempre, há fezes amolecidas misturadas com sangue, eventualmente com muco e pus; as colites e retites actínicas; a doença de Crohn do reto e do cólon. O câncer do intestino grosso, principalmente quando localizado no cólon direito, provoca diarreia em alguma fase de sua evolução e, portanto, deve ser sempre cogitado nesses casos. Praticamente todas essas afecções podem causar diarreia crônica, algumas vezes por não responderem à terapêutica instituída na fase aguda ou pela própria evolução da doença. Existem, no entanto, algumas enfermidades que têm como característica clínica a diarreia crônica desde o início. Entre elas, destaca-se o cólon irritável, o qual costuma apresentar, na sua evolução, alternância de diarreia e obstipação. Mudança do ritmo intestinal Não se pode deixar de considerar no estudo das diarreias a mudança do ritmo intestinal. Tal característica, quando presente, sempre nos leva a pensar em câncer do intestino grosso. Um indivíduo que tinha um ritmo intestinal normal e passa a apresentar a alternância de obstipação e diarreia obriga o médico a programar uma investigação adequada, pois é possível que estejamos diante de uma neoplasia do intestino. É preciso lembrar, ainda, que neoplasias localizadas no lado direito do cólon geralmente evoluem com diarreia, quase sempre crônica. Obstipação Intestinal O ritmo intestinal varia de um indivíduo para outro. Considera-se normal desde três evacuações por dia até uma evacuação a cada 2 dias, ou seja, podem ser normais intervalos de 8 a 48 h entre uma exoneração intestinal e a seguinte. Quando as fezes ficam retidas por mais de 48 h, diz-se que há obstipação ou constipação intestinal, fato designado na linguagem leiga como "prisão de ventre" ou "intestino preso". Na avaliação de uma possível obstipação intestinal, é necessário levar em conta também a consistência das fezes. Podem ser apenas um pouco mais duras, ressecadas ou em cíbalos (fezes em pequenas bolas, como nos caprinos). A adequada progressão fecal depende de muitos fatores, destacando-se a composição do bolo fecal, em especial da quantidade de fibras na alimentação, a regulação neurovegetativa, merecendo referência a integridade dos plexos intramurais, a ação de hormônios secretados no próprio aparelho digestivo ou fora dele (principalmente da glândula tireoide) e de várias substâncias (serotonina, prostaglandinas). Têm importante papel no ritmo intestinal as condições psicológicas do paciente, pois os arcos reflexos que participam da evacuação intestinal mantêm conexões com o diencéfalo e o córtex; daí se dizer que o reflexo da evacuação é um "reflexo assistido': com mecanismos inibitórios e motores complexos. A multiplicidade de fatores fisiopatológicos que participam da gênese da obstipação intestinal possibilita reconhecer oito grupos de causas: - Mecânicas, quando há lesões que ocluem o lúmen ou impedem a contração das paredes intestinais (malformações, impactação fecal, oclusão tumoral, processos inflamatórios). - Neurogênicas, nas quais há comprometimento dos componentes nervosos (aganglionose ou doença de Hirschsprung, megacólon chagásico, paraplegia). -Metabólico-hormonais, incluindo hipotireoidismo, urernia, hiperparatireoidismo, porfiria. - Psicogênicas, nas quais há alterações emocionais, muitas vezes ligadas a traumas na infância. -Medicamentosas, em consequência do uso de antiácidos, anticolinérgicos, opiáceos, além de outros. - Relacionadas com a alimentação inadequada (dieta pobre em fibra) - Inibição reiterada do reflexo da evacuação. - Hipossensibilidade senil. O reconhecimento da origem da obstipação intestinal depende de um exame clínico bem feito, que inclui o toque retal, complementado por estudo radiológico e endoscópico do intestino grosso. Nunca é demais lembrar que a procedência do paciente é um fator importante a ser levado em consideração quando se estuda a obstipação intestinal, pois a doença de Chagas, endêmica em algumas regiões, pode causar o megacólon, importante causa desta sintomatologia. Sangramento Anal O sangramento anal é um sintoma que leva um paciente a procurar o médico sempre com apreensão. Provocado por hemorroidas, doença benigna e de fácil solução terapêutica. Risco de deixar sem diagnóstico outra lesão que também pode estarsangrando, localizada a montante do canal anal (câncer do reto ou do cólon, por exemplo). Outra causa comum de hemorragia é a doença diverticular difusa dos cólons, na qual sempre se deve pensar em indivíduos acima da quarta década de vida que apresentam episódios de sangramento anal, principalmente se a hemorragia é grave. Os pólipos também sangram com facilidade, sendo a causa mais comum de hemorragia digestiva na criança. No adulto, justifica-se certa preocupação pela possibilidade de estas lesões se malignizarem, dando origem aos adenocarcinomas. Processos inflamatórios, como a retocolite ulcerativa e a doença de Crohn, as retites e as colites actínicas, podem sangrar em virtude de lesões na mucosa. Todo sangramento anal obriga a pensar também na possibilidade de uma hemorragia de partes mais altas do tubo digestivo (úlcera do estômago, por exemplo). Nestes casos, o sangue raramente é vermelho-vivo, mas escuro tipo borra de café (melena), e, na maioria das vezes, está misturado com as fezes. Contudo, em casos de distúrbios da atividade motora do tubo digestivo (atividade mais rápida), pode haver perda de sangue vermelho-vivo pelo ânus (enterorragia) em afecções de partes altas do trato digestivo. Prurido Anal O prurido anal é uma manifestação clínica que aparece em diferentes condições e pode tomar-se muito incômodo. Suas causas são múltiplas, destacando-se a má higiene anal, a enterobíase (principal causa em crianças), doenças anorretais cutâneas (eczemas, dermatite seborreica e de contato) e sistêmicas, em especial diabetes e hepatopatias crônicas. Na maioria dos casos de prurido anal, não se consegue definir a causa. Distensão Abdominal A distensão abdominal caracteriza-se por aumento do volume do ventre. Pode traduzir várias condições, tais como ascite, meteorismo, fecaloma, neoplasias. Com relação ao intestino grosso, a distensão abdominal depende da dificuldade do trânsito nos cólons, ou seja, se algum obstáculo está impedindo a progressão de gases e fezes. Uma causa comum de distensão aguda é o vólvulo do sigmoide (torção do cólon sigmoide sobre seu próprio eixo), uma complicação grave do megacólon chagásico. Esta afecção ocasiona também o chamado fecaloma (impactação fecal), que causa distensão do cólon a montante do obstáculo. A distensão abdominal também pode ser causada por câncer do intestino, o qual pode ocluir o lúmen do órgão, ocasionando acúmulo de fezes e gases a montante da neoplasia. Devem ser citadas também a estenose do cólon e do reto, bridas pós- cirurgia abdominal e dilatação tóxica e aguda do cólon (presente algumas vezes no megacólon tóxico, uma das complicações da retocolite ulcerativa). Pacientes com megacólon chagásico apresentam, com frequência, um quadro às vezes grave de distensão abdominal, em consequência da incoordenação da atividade motora do cólon, a qual impede a progressão normal do conteúdo intestinal. Ao examiná-los, visualiza-se o relevo da alça colônica - geralmente o cólon sigmoide - na parede abdominal, indicando fortes "contrações" desta alça. Náuseas e Vômitos As náuseas e os vômitos não são frequentes nas afecções do intestino grosso. Pacientes com cólon irritável, náuseas costumam, em alguns casos, ocorrer durante as crises dolorosas. Na oclusão intestinal, os vômitos surgem à medida que o quadro clínico evolui. Após certo tempo, podem tornar-se fecaloides. Anemia e Emagrecimento As doenças consuntivas (câncer do cólon, por exemplo) causam anemia e emagrecimento que podem chegar à caquexia. Quando o paciente entra nessa fase, o prognóstico é sempre sombrio. São as lesões blastomatosas do cólon direito as que mais comumentemente costumam evoluir com anemia, isto porque, no cólon direito, há também reabsorção de ferro. As lesões aí localizadas alteram a fisiologia da mucosa intestinal, ocasionando déficit desse elemento. Os pacientes com megacólon chagásico apresentam, com frequência, alterações no esôfago (megaesôfago chagásico), as quais podem causar dificuldade para deglutir, causando emagrecimento e até caquexia. A doença diverticular difusa dos cólons pode causar grandes hemorragias que levam à anemia aguda, porém o mais comum é a perda crônica de pequenas quantidades de sangue, imperceptíveis a olho nu, que também ocasiona anemia. Pacientes com doença hemorroidária ou prolapso retal, as repetidas perdas de sangue podem causar anemia de certa intensidade, responsável por parte dos sintomas que estes relata ANAMNESE PÂNCREAS: É um órgão de difícil acesso ao exame físico, por isso é importante uma anamnese detalhada Pancreatite agude: mais comum no sexo feminino Pancreatite crônica: mais comum no sexo masculino A idade também é um fator importante Infância e adolescência: insuficiência pancreática sugerem mucoviscidose ou doença fibrocística do pâncreas, Síndrome de Shawachman ou mesmo pancreatite hereditária O uso de bebidas alcoólicas está relacionado com pancreatite crônica DOR É o sintoma mais frequente Na forma aguda está presente em quase todos os casos Branda ou muito intensa Aumentando gradualmente ou se agravando com um curto espaço e tempo Costuma ser contínua e durar horas Localização: região epigástrica e do hipocôndrio esquerdo (mais comum). Eventualmente é retroesternal Irradia para o dorso, normalmente Piora com alimentação Pode diminuir quando o paciente se inclina para a frente ou comprime o tórax com o joelho NÁUSEAS E VÔMITOS O vômito geralmente é de difícil controle, podendo levar, rapidamente, a desequilíbrio hidroelétrico EMAGRECIMENTO Costuma estar presente na evolução da pancreatite crônica Na pancreatite aguda, o emagrecimento é devido ao jejum prolongado e ao acentuado catabolismo ao se instalar o processo inflamatório ANOREXIA Pode ocorrer em quaisquer das doenças do pâncreas, sendo mais frequente nos processos neoplásicos ASTENIA Presente em praticamente todas as doenças crônicas Anorexia, astenia e emagrecimento sugere sempre neoplasia maligna ICTERÍCIA É um sinal muito comum Pode ser discreta e fugaz na pancreatite aguda, principalmente na forma edematosa Pode ser de grande intensidade acompanhada de: prurido, colúria e, às vezes, acolia fecal. DIARREIA As fezes são volumosas, pastosas, brilhantes, de odor rançoso, coloração pálida, deixando traços ou camada oleosa sobre a água do vaso SÍNDROME DE MÁ ABSORÇÃO Representada por esteatorreia e creatorreia A esteatorreia (perda de gordura pelas fezes) deve-se à deficiência da lipase responsável por sua digestão A creatorreia (perda de proteína nas fezes) é devido a deficiência das enzimas proteolíticas, especialmente da tripsina e quimiotripsina. DIABETES Pode variar desde a forma branda, relevada apenas por intolerância à glicose, até a forma franca HEMORRAGIAS Na pancreatite aguda e na agudização da forma crônica ocorrem hemorragias por ruptura de vasos sanguíneos devido à digestão das paredes pelas enzimas pancreáticas ativadas, sobretudo pela elastase. O sangramento pode exteriorizar-se sob a forma de hemorragia digestiva, quando houver comunicação do vaso com o canal pancreático ANAMNESE FIGADO E VIAS BILIARES: Dor A dor originária do fígado e das vias biliares localiza-se no quadrante superior direito do abdome e apresenta diferentes características, conforme a afecção que a provoca. O parênquima hepático não tem sensibilidade, mas a cápsula de Glisson, quando distendida abruptamente, ocasiona dor contínua localizada no hipocôndrio direito e epigástrio, sem irradiação e que piora com a palpação da região. A causa mais comum é a congestão do fígado, que ocorre na insuficiência cardíaca, constituindo o que secostuma denominar hepatomegalia dolorosa. Este tipo de dor pode ocorrer também na hepatite aguda viral e na hepatite alcoólica, que se acompanham de rápido crescimento do fígado. A dor do abscesso hepático pode ser muito intensa, com localização mais restrita, correspondente à área de projeção do abscesso, a qual se torna hipersensível, dificultando sobremodo a palpação da víscera. A dor originada nas vias biliares apresenta-se de duas maneiras: 1) Cólica biliar, outrora denominada cólica hepática, com característica de cólica, de início súbito, de grande intensidade, localizada no hipocôndrio direito, com várias horas de duração; em geral, o paciente fica inquieto, nauseado, podendo apresentar vômitos. A causa mais frequente é a colelitíase. O aparecimento de icterícia após episódio de cólica biliar sugere a passagem do cálculo para o colédoco; 2) Na colecistite aguda, a dor é contínua, localizada no hipocôndrio direito, podendo irradiar-se para o ângulo da escápula ou para o ombro direito, via nervo frênico. Acompanha-se de hiperestesia e contratura muscular. A palpação da região desperta dor (sinal de Murphy) e pode surpreender uma vesícula distendida. O diagnóstico diferencial da dor originada no fígado e nas vias biliares inclui várias afecções, destacando-se a pancreatite aguda, a úlcera péptica perfurada, a cólica nefrética, a pleurite e a isquemia miocárdica. A análise dos sintomas acompanhantes quase sempre oferece elementos para esta diferenciação. Contudo, não é raro que só se consiga definir a causa da dor com a ajuda de exames complementares Icterícia Icterícia consiste em uma coloração amarelada da pele e das mucosas, devida à impregnação dos tecidos por pigmentos biliares. Só se consegue detectar icterícia quando os níveis de bilirrubina são maiores que 2 mg/d.f (normal, 1 mg/d.f). Em algumas pessoas normais, a pele apresenta tonalidade amarelada, mas, nesse caso, a esclerótica não fica pigmentada. Alguns alimentos (cenoura e mamão) e certos medicamentos, em especial os antimaláricos, contêm substâncias que podem conferir coloração amarelada à pele, mas, nesses casos, a esclerótica também permanece de cor normal. Nas pessoas da raça negra, pode-se perceber a tonalidade amarela na parte exposta da esclerótica, dado o acúmulo, na conjuntiva, de uma discreta camada de gordura. Mas, como ela não atinge toda a superfície anterior do olho, basta um exame mais detalhado dos olhos para descartar a possibilidade de icterícia. A investigação diagnóstica de um paciente com icterícia inclui tempo de duração, intensidade e evolução da icterícia - se foi de instalação súbita ou gradativa, se aumentou progressivamente ou se está havendo flutuação da intensidade. Interessa saber a cor da urina e das fezes e se há ou não prurido. Náuseas e Vômitos Náuseas e vômitos são manifestações clínicas frequentes nas doenças do fígado e das vias biliares. Na colecistite e na colelitíase costumam estar relacionados com a ingestão de alimentos gordurosos. EXAME FÍSICO DO ABDOME IMPORTANTE Ambiente tranquilo Posição relaxada e confortável Paciente em pé, depois decúbito dorsal Decúbito dorsal, braços ao lado do corpo Exposição total do abdome (genitália coberta) Paciente com bexiga vazia Estar com unhas curtas Examinar pelo lado direito do paciente Deixar o exame de áreas dolorosas para o final Delimitar as regiões do abdome REGIÕES E QUADRANTES LOCALIZAR Apêndice xifoide Rebordos costais Cristas ilíacas Região supra-púbica LIMITES DO ABDOME EXTERNAMENTE: o ACIMA: pelo apêndice xifoide e pelas arcadas costais até a coluna o ABAIXO: pela crista pubiana, pregas inguinais, crista ilíaca e base do sacro. Delimitado pela sínfise púbica INTERNAMENTE: o ACIMA: a cavidade das 2 cúpulas diafragmáticas até o assoalho pélvico. INSPEÇÃO DO ABDOME Volume: aumentado ou normal Forma: plano, globoso, piriforme, avental, pendular, batráquio ou escavado Cicatriz umbilical: onfalite (inflamação do umbigo) ou Sinal de Cullen Pele Cicatrizes do abdome Circulação colateral (devido à obstruções): problema na veia porta (cabeça de medusa) ou problema na VCI (reta) Movimento: peristalse (direções normais), pulsações da aorta abdominal, tipo respiratório (feminino: costal superior, masculino: toraco abdominal, qnd some indica peritonite) Hérnias: Manobra de Valsava Diástases: levantar pernas ou cabeça - Plano: não tem significado clínico - Escavado: significa magreza, podendo significar uma patologia ou não (emagrecimento involuntário, caquéticos e desidratados). - Globoso: pode ser fisiológico ou patológico (obesidade, crescimento do fígado e baço, ovário ou intestinos). - Variante do globoso, formato de pera na parte inferior, observado na gravidez. - Batráquio: espalhamento para os lados, dilatação exagerada dos flancos. - Avental: grande acumulo de tecido adiposo, abdômen cai sobre as coxas, visto em obesos. - Pendular: indica flacidez na região abdominal inferior, comum após a gravidez. INSPEÇÃO ESTÁTICA “Parado”. Observar: Simetria Pele; pelos Massas Hérnias Movimentação Peristaltismo ALTERAÇÕES CICATRIZES DIÁSTASE DOS MM, RETOS ABDOMINAIS: Separação visível das fibras do músculo reto abdominal - confirmada na palpação superficial SÍNDROME DE PRUNE BELLY: CIRCULAÇÃO COLATERAL, chamada também de “cabeça de Medusa”: HÉRNIAS SINAL DE CULLEN SINAL DE GREY-TURNER Síndrome do Abdome da Ameixa Seca - deficiência ou mesmo ausência dos músculos na parede do abdômen, ficando como os intestinos e a bexiga apenas cobertos pela pele. Em indivíduos normais, veias abdominais não são visíveis, geralmente. Distensão dos vasos – obstrução do sistema venoso porta ou veia cava. Equimoses azuis-pretas na região periumbilical, decorrentes de hemorrafia retroperitoneal. Causas: ruptura de gravidez etópica ou pancreatite aguda. Equimoses em flancos; pancreatite aguda; taxa de mortalidade (aumenta de 8-10% para 40%) Pode ser acompanhado pelo Sinal de Cullen INSPEÇÃO DINÂMINA Hérnias: Manobra de Valsalva – pedir para o paciente exalar forçadamente o ar contra os lábios fechados e nariz tapado – o que força o ar em direção ao ouvido médio se a tuba auditiva estiver aberta. Movimentos peristálticos: Ondas de Kussmaull Pulsações: o Pulsações epigástricas: em pessoas magras – pode ser fisiológico. - Também pensar em hipertrofia ventricular direita ou em dilatação aneurismática – aneurisma de aorta abdominal - Pacientes magro, é possível visualizar. - Pode ser peristaltismo de luta, quando há alguma alteração, inflamação ou infecção que ele esteja tentando vencer. - Peristaltismo do estomago: visto na região epigástrica, no sentido do estomago para o intestino delgado. (Aproximadamente 3 ondas/ min) - Podem ser umbilicais, inguinal, crural (femoral) ou em áreas onde houver debilidades de parede, por diástase de musculatura do reto abdominal ou cicatrizes cirúrgicas (incisional). - Hérnia encarcerada: ocorre quando a hérnia não consegue sair e pode haver comprometimento vascular e outras complicações. - Toda hérnia deve ser descritas. DETECÇÃO DOS RHA - Iniciar na FID (válvula ileocecal) - Pode ser auscultado por estetoscópio ou normalmente. Normalmente com mais frequência na topografia da válvula íleo-cecal, intestino grosso e no estomago e menos comumente no intestino delgado.Estalidos: mais metálicos AUSCULTA É realizada sempre antes de tocar no abdome, para não interferir nos resultados da análise. Dois minutos em cada foco Analisar movimento de gases e líquidos (ruídos hidro-aéreos) Íleo paralítico (não escuta nada) ou oclusões intestinais (borborigmo) 4 quadrantes: de 1 a 2 min em cada Sentido horário Normalidades: de 3 a 6 sons peristálticos/min (sopros, batimentos fetais, gargarejo) OBS.: em casa de desconfiar de um íleo paralítico, ausculta cada quadrante por 5 min PERCUSSÃO Objetivos: determinação do limite superior do fígado, da área de macicez hepática e esplênica, avaliação da sonoridade do abdome SONS: timpanismo o macicez Pesquisa de ascite (percurtir os 4 qd) Hepatimetria (medir o fígado; D= 8 a 12 cm e E= 4 a 6 cm) Pesquisa do Espaço de Traube (bolha gástrica): o som é quase claro pulmonar, pois tem muito ar. Se não encontrar indica esplenomegalia ou tumor na região TÉCNICAS DE PERCUSSÃO TIPOS DE SONORIDADE Sons timpânicos: ar dentro de uma víscera oca percebido em quase todo abdome o Hipertimpânicos: aumento na quantidade de ar meteorismo, obstrução intestinal, pneumoperitônio Digito-digital: golpeando com a borda ungueal do dedo médio da mão direita na superfície dorsal da 2ª falange do dedo médio ou indicador da outra mão. Piparote: examinador golpeia abdome por piparotes, e a outra mão fica espalmada na região contralateral – captar ondas líquidas contra a parede abdominal. Ascite volumosa – se + Submaciços: menor quantidade de ar, ou superposição de uma víscera maciça sobre uma alça intestinal áreas de projeção do fígado, baço e útero gravídico o Maciço: ascite, tumores ou cistos contendo líquido PALPAÇÃO Bimanual Manobra de Lemos-Torres: uma mão mais alta que a outra Manobra de Mathie SUPERFICIAL X PROFUNDA SUPERFICIAL: o Abdome em tábua o Palpação da pele o Hérnias e diástases o Pontos dolorosos: epigástrico, cístico, apendicular e ureterais PROFUNDA: o Analisar as vísceras (estômago, fígado, baço aorta abdominal, cólon transverso e sigmoide, ceco e rim) FÍGADO Percussão do hemitórax direito ao nível da linha hemiclavicular desde sua origem na clavícula. No início da percussão, ouve-se um som claro pulmonar. E na altura do 5º-6º EIC, observa-se um som submaciço - limite superior do fígado Continuar percussão até delimitar área de macicez hepática. limite inferior é determinado pela palpação Adultos: borda inferior do fígado não deve ultrapassar 1- 2 cm do rebordo costal, tomando-se como referência a linha hemiclavicular direita Crianças o limite normal pode estar 2-3 cm do rebordo costal Se estiver além disso, podemos identificar uma HEPATOMEGALIA. Sinal de Jobert: timpanismo entre a linha axilar anterior e média nas últimas costelas do lado D, o normal é estar maciço (negativo) mas se estiver timpânico (positivo) pode ser perfuração de víscera oca (pneumoperitôneo) ou sobreposição de alça intestinal. BAÇO ESPAÇO DE TRAUBE Em forma de crescente, circundado pela borda inferior do pulmão esquerdo, a borda anterior do baço, o rebordo costal esquerda e a margem inferior do lobo esquerdo do fígado Normal: som timpânico – pois o baço não é percutível. Se tiver com som maciço, indica esplenomegalia – o baço está pelo menos 2 vezes o seu tamanho normal. ASCITE Sinal de piparote fica positivo em ascites volumosas (com + de 4,5 litros) MACICEZ MÓVEL: o paciente fica em decúbito lateral e percute-se o abdome em linha horizontal, tanto na parte mais superior e mais inferior em relação ao examinador. Macicez móvel e Semicírculo de Skoda Se +, observará timpanismo na parte superior, e macicez na parte inferior (por conta do líquido). Depois, deve-se virar o paciente para o outro lado, e comparar a percussão. PALPAÇÃO SUPERFICIAL Objetivos Avaliar sensibilidade da parede abdominal palpando-se levemente ou fazendo certa compressão sobre a parede. Ganhar a confiança do paciente Comparar de formar simetricamente e bilateral Avaliar resistência da parede abdominal Diferenciar a contratura voluntária da involuntária Avaliar a continuidade da parede abdominal Avaliar as pulsações Cerca de 1 cm para dentro e com movimentos rotativos O abdome em tábua é quando todo o abdome esta enrijecido, quando tem um grau avançado de peritonite PALPAÇÃO PROFUNDA Órgãos contidos na cavidade abdominal; eventuais “massas palpáveis” Consegue palpar a grande curvatura do estômago e os cólons ascendente e descendente Condições normais: não se consegue distinguir estômago, duodeno, intestino delgado, vias biliares, cólons ascendente e descendente (palpáveis quando houver aumento de volume ou alteração de sua consistência) Ceco, transverso e sigmoide: palpáveis. ÓRGÃOS E MASSAS PALPÁVEIS - Analisar as seguintes características Localização Forma (designações comparativas, tamanho de uma azeitona, limão, laranja, etc) Sensibilidade Consistência (cística- ex.: bexiga cheia de urina, borrachosa- ex.: fígado gorduroso, dura ou pétrea- ex.: neoplasias de maneira geral) Mobilidade Pulsatilidade Se tiver perto de uma artéria não muda de tamanho a cada pulsação Se muda de tamanho a cada pulsação, é porque ele tá perto de alguma estrutura PALPAÇÃO DO FÍGADO Paciente: decúbito dorsal, a parede abdominal deve estar relaxada tanto quanto possível Exame: palpar o hipocôndrio direito, o flanco direito e o epigástrio, indo do umbigo ao rebordo costal. Em seguida, executa-se a palpação junto a reborda, coordenando-a com os movimentos respiratórios: Durante a expiração, a(s) mão(s) do examinador ajusta(m)- se à parede abdominal sem fazer compressão e sem se movimentar; à inspiração, a mão do examinador, ao mesmo tempo que comprime, é movimentado para cima, buscando detectar a borda hepática. Pode-se associar um artifício para aproximar o fígado da parede abdominal anterior: colocar a mão esquerda ao nível da loja renal direita, facilitando a palpação. Técnica em Garra ou de Mathieu: no movimento expiratório, posiciona-se mais atrás do paciente Lemos Torres: Palpação Vesícula Biliar Normalmente não palpável Tem que estar a 2cm do rebordo costal (hepatimetria) PALPAÇÃO DO BAÇO - exame realizado da mesma maneira que o do fígado, só que a região examinada é o quadrante superior esquerdo Processo de Mathieu-Cardarelli ou em garra - examinador fica à esquerda do paciente; com as mãos “em garra”, a cada Inspiração, e a borda do baço será percebida pelas polpas digitais quando o Baço estiver aumentado de volume) Técnica em Garra ou Mathieu Técnica de Lemos Torres Posição de Schuster – paciente em decúbito lateral direito, com a perna direita estendida e a coxa esquerda fletida sobre o abdome em um ângulo de 90º; o ombro esquerdo deve ser elevado, colocando-se o braço correspondente sobre a cabeça - Colocar a mão esquerda com certa pressão sobre a área de projeção do baço como se quisesse deslocá-lo para baixo. Durante a inspiração, o examinador avança sua mão no rumo da reborda costal. Deve-se ter cuidado para não confundir a última costela, que é flutuante, com o baço. Característica semiológica principal: distância entre a reborda costal e a extremidade inferior do baço (em cm) referência - linha hemiclavicular esquerdadéia do volume Geralmente, palpar esse órgão (em adultos) significa que está aumentado (esplenomegalia) Baço ser palpável: dobro do seu tamanho O ponto de McBurney esté em uma linha imaginária traçada do umbigo até a crista ilíaca direita. O Sinal de Blumbergue, omédico faz a palpação profunda do lado esquerdo e tira a mão bruscamente e o paciente refere dor no lado direito PALPAÇÃO DO CECO, CÓLON TRANSVERSO E SIGMÓIDE Sinal de Courvoisier Terrier: Palpável e indolor no HD – TU de Pâncreas Palpação do ceco: fossa ilíaca direita Deslizamento da mão ao longo de uma linha que une a cicatriz umbilical à espinha ilíaca anterossuperior. Ao alcançar a borda interna do ceco, percebe-se uma súbita elevação. Ao atingir a espinha ilíaca anterossuperior, o examinador sem retirar a mão do local, deve encurvar ligeiramente os seus dedos e repetir a manobra em direção oposta, procurando deslocar o ceco para dentro com a finalidade de investigar o seu grau de mobilidade. O exame pode ser difícil e pouco conclusivo em indivíduos obesos ou que tenham paredes abdominais espessas. Sinal de Murphy +: Parada da inspiração à palpação do ponto cístico, durante inspiração, por gerar dor – Colecistite. PALPAÇÃO DO COLO TRANSVERSO Pode ser identificado principalmente em indivíduos magros ou com parede abdominal flácida Deslizamento de uma ou, de preferência, ambas as mãos, de cima para baixo e de baixo para cima no abdome Localização variável: geralmente percebido como uma corda de direção transversal na região mesogástrica. Palpação do sigmoide: parte do trato digestivo de mais fácil percepção durante a palpação - palpado no quadrante inferior esquerdo - percebido como uma corda de consistência firme e pouco móvel Sinal de Gersuny: Palpação de fecaloma. Características: Móvel, fibroelástico; pode ser Megacólon ou constipação. Sinal de Rovsing: dor na fossa ilíaca direita à palpação da fossa ilíaca esquerda; indica apendicite. Sinal de Blumberg: Manobra da descompressão súbita no ponto de McBurney. Dor à descompressão indica irritação peritoneal. PALPAÇÃO DOS RINS Normalmente não palpáveis Palpáveis em condições patológicas: Hidronefrose, Rim policístico (geralmente aumento bilateral), Tumores. Manobra de Israel Paciente em decúbito lateral palpar anteroposteriormente com as duas mãos em pinça Manobra de Guvon Paciente em decúbito dorsal rim direito - mão E na região dorsal tracionando para frente enquanto a mão D entra abaixo do rebordo costal durante a inspiração ao encontro da mão esquerda, tentando “pegar” o rim entre as duas mãos Rim E - passar para o lado esquerdo e realizar a mesma manobra Manobra de Goalet Com o paciente em pé flete-se o joelho do lado que deseja palpar, flete-se o joelho do lado que deseja palpar, apoiando sobre uma cadeira. Tração anterior com uma das mãos enquanto a outra é usada na tentativa de palpar o polo inferior do rim Teste de hipersensibilidade renal Manobra de Giordano: Percussão com a borda ulnar da mão realizada na junção do rebordo costal com a musculatura paravertebral Manobra de percussão de Murphy: Punho persussão, da mesma forma que Giordano. SONS ESCUTADOS NA PALPAÇÃO Importante 2º hipertimpanismo IDENTIFICAR A PRESENÇA DE SOPROS E SEUS SIGNIFICADOS: - Sistólico: é mais comum nas artérias (aorta abdominal, renal, ilíaca e femoral) 12- PERCUSSÃO - 1º faz-se percussão geral, em sentido horário, encontra-se som timpânico. - No Hipocôndrio direito podemos encontrar o fígado, som sub-maciço. - No Hipocôndrio Esquerdo, vamos encontrar o estomago, espaço de Traube. Maciçez móvel e semicírculo de Skoda: manobras feitas em casos mais leves. Piparote: é feito para casos mais acentuados de ascite, em decúbito dorsal.
Compartilhar