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Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 ANAMNESE DO SISTEMA DIGESTÓRIO INTRODUÇÃO A anamnese é classicamente composta pelos seguintes tópicos: identificação, queixa principal, história da doença atual (HDA), interrogatório sistemático ou sintomatológico (IS), antecedentes (pessoais e familiares), hábitos de vida e história psicossocial (condições socioeconômicas e culturais). IDENTIFICAÇÃO A identificação é o perfil sociodemográfico do paciente que permite a interpretação de dados individuais e outros aspectos relacionados a ele. São elementos obrigatórios da identificação do paciente: nome, idade, sexo, cor/etnia, estado civil, escolaridade, profissão e local de trabalho, religião, naturalidade e procedência e grau de confiabilidade. O registro do nome do paciente deve ser completo, sem abreviações. A idade é quantificada em dias ou meses, no caso de crianças abaixo de 1 ano de idade, e em anos, no caso de indivíduos acima de 1 ano de vida. O registro do sexo biológico é feito como masculino ou feminino. No entanto, o gênero pode diferir do sexo biológico e também deve constar na identificação. O registro da cor/etnia deve basear-se na autodeclaração do paciente e recomenda- se usar a seguinte nomenclatura: cor branca, cor parda, cor preta, etnia indígena, etnia asiática, entre outras. A escolaridade e a religião são informações importantes da identificação, uma vez que interferem diretamente na vida do paciente e na sua relação com determinadas situações e doenças. A naturalidade é o local onde o paciente nasceu e a procedência refere-se ao local de residência atual do paciente. QUEIXA PRINCIPAL Registra-se o motivo ou a queixa principal que levou o paciente a procurar atendimento médico, coloca-se exatamente como o paciente relata. Geralmente uma anotação entre aspas. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL Cada sintoma principal deve ser bem caracterizado e deve incluir os 7 atributos de um sintoma: (1) localização; (2) características; (3) quantidade ou intensidade; (4) cronologia, inclusive início, duração e frequência; (5) a situação em que ocorre; (6) os fatores que agravam ou aliviam o sintoma; e (7) as manifestações associadas. PRINCIPAIS QUEIXAS DO SISTEMA DIGESTÓRIO Disfagia: define-se como dificuldade à deglutição. A disfagia que ocorre nas duas primeiras fases da deglutição é chamada de bucofaríngea, alta ou de transferência, e a disfagia da terceira fase da deglutição, de disfagia esofágica, baixa ou de transporte. A disfagia bucofaríngea pode ser facilmente reconhecida: o alimento permanece no todo ou em parte na cavidade bucal após a tentativa de deglutição, podendo haver aspiração para a árvore traqueobrônquica, seguida de tosse, ou regurgitação nasal. Na disfagia esofágica, o paciente tem a sensação de parada do bolo alimentar no esôfago, embora não possa localizar precisamente o nível da obstrução. Ela pode ocorrer devido a uma obstrução de natureza orgânica ou a alterações motoras De modo geral, a disfagia que se manifesta somente para sólidos é sugestiva de obstáculo mecânico, ao passo que a disfagia que ocorre tanto Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 com alimentos sólidos como líquidos indica alteração da motilidade esofágica. É importante considerar a evolução da disfagia. Nas obstruções de natureza orgânica, a disfagia é intermitente nas membranas e anéis, e progressiva nas neoplasias e nas estenoses pépticas. Nos distúrbios motores do esôfago, a disfagia é intermitente no espasmo difuso e progressiva no megaesôfago ou acalasia. Disfagia transitória pode ser provocada por processos inflamatórios. Odinofagia: dor que surge com a ingestão de alimentos, pode ocorrer como sintoma isolado, porém comumente está associada à disfagia. O caráter da dor é variável, sendo referida como dor urente, em punhalada, constritiva ou espasmódica. A dor urente representa grau mais intenso da pirose e é frequente na esofagite péptica, sendo exacerbada pela ingestão de alimentos ácidos ou condimentados. Nos distúrbios motores esofágicos, a odinofagia se deve a contrações musculares de maior intensidade no esôfago distal ou a lesões associadas da mucosa. Afagia: significa obstrução esofágica completa, que, em geral, se deve a impactação do bolo alimentar e representa uma emergência médica. Fagofobia: é o medo de deglutir, que pode ocorrer em casos de histeria, tétano, raiva e paralisia faríngea. Geralmente desencadeado por medo de aspiração de alimentos ou comprimidos. Pirose: Comumente referida pelo paciente como azia ou queimação, é o principal sintoma do refluxo gastresofágico. Na maioria das vezes, é de localização retroesternal, sendo percebida no nível do apêndice xifoide, podendo propagar-se para a região epigástrica, para ambos os lados do tórax ou, mais comumente, em direção ascendente, até o nível do manúbrio esternal. Ocorre, quase sempre, após as refeições e pode ser desencadeada por determinados alimentos como frituras, bebidas alcoólicas, café, frutas cítricas e chocolate, ou pela posição de decúbito. Acompanha-se, às vezes, de regurgitação de pequenas quantidades de líquido de sabor azedo ou amargo. A pirose constante sugere insuficiência do mecanismo impediente do refluxo, cujas causas mais comuns são o relaxamento transitório do esfíncter inferior do esôfago, a hérnia hiatal e a hipotonia do esfíncter inferior do esôfago. Dor esofágica: A dor esofágica “espontânea” distingue-se da odinofagia por não depender do ato de ingerir alimento, podendo, todavia, com ela coexistir. A dor espontânea pode ser causada por mudanças do pH intraluminal, atividade motora anormal ou processos inflamatórios ou neoplásicos da parede esofágica. O caráter da dor varia em função da doença-base. A dor esofágica pode ser confundida com dor cardíaca da insuficiência coronariana. A avaliação clínica pode necessitar de exames como a endoscopia digestiva alta e a manometria, bem como uma completa investigação cardiológica, tendo em vista que ambas as condições podem coexistir, sobretudo em pacientes idosos. Regurgitação: a volta do alimento ou de secreções contidas no esôfago ou estômago à cavidade bucal, sem náuseas e sem a participação dos músculos abdominais. A regurgitação de pequena quantidade de líquido, pela manhã, é chamada de pituíta. Hematêmese: ou vômito com sangue caracteriza a hemorragia digestiva alta, assim entendida aquela em que a sede do sangramento se localiza desde a boca até o ângulo de Treitz (transição duodenojejunal). A causa mais comum de sangramento são as varizes do esôfago. Na maioria das vezes é volumosa e contém sangue, ainda não Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 alterado por ação do suco gástrico. Hematêmese de menor volume, de origem esofágica, pode ocorrer no câncer do esôfago e nas úlceras esofágicas. Dor (estômago e duodeno): o sintoma mais frequente das doenças do estômago e duodeno. A dor visceral do estômago e do bulbo duodenal é percebida na linha mediana do epigástrio, poucos centímetros abaixo do apêndice xifoide. Esta é a localização indicada pela maioria dos pacientes com úlcera péptica. Também a exibem, menos frequentemente, pacientes com gastrite e câncer gástrico. Dispepsia: trata-se de um grupo heterogêneo de sintomas localizados no andar superior do abdome, na maior parte das vezes na região epigástrica, atribuídos a alterações gastroduodenais. Pode ser definida pela presença de um ou mais dos seguintes sintomas: plenitude pós-prandial, saciedade precoce, epigastralgia e queimação epigástrica. Tais manifestações podem ou não vir acompanhadas de outros sintomas gastrintestinais, como eructações, náuseas e vômito. Podem ser causados por doenças estruturais (gastrite, úlcera péptica, neoplasias), metabólicas (gastroparesia) e funcionais (quando nenhuma causa orgânica reconhecível justifica a sintomatologia).O diagnóstico diferencial deve ser feito com dor de origem não dispéptica, como litíase biliar, pancreatite, tumor de pâncreas, parasitoses, isquemia mesentérica e doenças não abdominais como infarto agudo do miocárdio e pneumonia. Plenitude pós-prandial e saciedade precoce: plenitude pós-prandial é a sensação de persistência prolongada de alimentos no estômago após uma refeição, gerando desconforto. A saciedade precoce é definida como a sensação de que o estômago está cheio logo após o início de uma refeição, impedindo que seja terminada. Podem estar presentes de forma isolada ou acompanhando a dor epigástrica. Náusea e vômito: são manifestações comuns das doenças do estômago e do duodeno. As náuseas são definidas como uma sensação desagradável relacionada à necessidade iminente de vomitar, localizada no epigástrio ou na garganta. O vômito é caracterizado pela expulsão forçada do conteúdo gástrico ou intestinal pela boca, associado à contração dos músculos abdominais e torácicos. A ocorrência de vômitos acompanhando as crises dolorosas não denota necessariamente obstrução do trato de saída do estômago. Quantidades elevadas de bile no vômito sugerem obstrução intestinal alta. Quando há sangue (hematêmese), isto denota sangramento a montante do ângulo de Treitz e pode corresponder a hemorragia proveniente de úlcera péptica ou câncer gástrico. É importante enfatizar que náuseas e vômito frequentemente têm origem extradigestiva. De fato, podem ser causados por doenças sistêmicas tão diversas como intoxicações exógenas, afecções do sistema nervoso central, infarto do miocárdio, litíase e insuficiência renal, infecções de diferentes naturezas e hipertireoidismo. DIARREIA A diarreia é a manifestação mais comum das doenças do intestino delgado, definida como aumento do teor líquido das fezes, frequentemente associado ao aumento do número das evacuações e do volume fecal (maior que 200 g em 24 horas). Mecanismos da diarreia Aumento da pressão osmótica do conteúdo intraluminal (diarreia osmótica). O acúmulo de substâncias não absorvíveis no intestino delgado pode determinar retardo da absorção de água e eletrólitos ou passagem de líquidos do Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 meio interno para o lúmen intestinal. Este tipo de diarreia aparece quando há defeito na digestão ou na absorção de nutrientes, como se observa na síndrome de má absorção e na deficiência das dissacaridases (lactase, frutase ou sacarase) ou na ingesta de nutrientes mal absorvidos, como magnésio, manitol, sorbitol. Aumento da secreção de água e eletrólitos pela mucosa intestinal (diarreia secretora). Este mecanismo ocorre mais comumente quando há estímulos à síntese de monofosfato de adenosina (AMP) cíclico intracelular, por ação de enterotoxinas bacterianas (Vibrio cholerae, Escherichia coli) e por alguns medicamentos (teofilina, prostaglandinas). Pode ocorrer ainda por ação hormonal, como nos tumores neuroendócrinos produtores de serotonina ou peptídio vasointestinal ativo (VIP). Aumento da permeabilidade da mucosa intestinal (diarreia exsudativa). Alterações inflamatórias, neoplásicas ou isquêmicas na mucosa intestinal resultam em passagem anormal de líquidos do meio interno para o lúmen do intestino delgado. São exemplos a diarreia das doenças inflamatórias e dos linfomas difusos do intestino delgado. Alteração da motilidade do intestino delgado (diarreia motora). Este mecanismo ocorre quando há uma alteração capaz de modificar o padrão normal do trânsito no intestino delgado. São exemplos o hipertireoidismo e a diarreia funcional, condições nas quais o trânsito pelo intestino delgado é acelerado. É importante diferenciar a diarreia verdadeira de diarreia paradoxal (ocorre especialmente em idosos, em que pequenas porções de fezes líquidas extravasam ao redor de um fecaloma) e incontinência fecal (incapacidade de controlar a eliminação de fezes). Sempre que tiver oportunidade, o médico deve examiná-las pessoalmente. São classificadas como agudas quando duram menos de 14 dias (e tendem a ter etiologia bacteriana, viral, alérgica ou por toxina), crônicas, se duram mais que 1 mês (tendem a ser não infecciosas), e subagudas, entre 15 e 30 dias. A presença de sangue sugere etiologia inflamatória, assim como a presença de pus. Dejeções líquidas, sem características invasivas ou – aspecto de esteatorreia sugerem etiologia secretora ou osmótica, sendo que a segunda melhora com jejum e a primeira, não. Esteatorreia: em condições normais, o aumento do consumo de lipídios não acarreta a elevação da gordura fecal, traduzindo a enorme capacidade do organismo de promover a digestão e a absorção dos nutrientes, em geral, e das gorduras, em particular. A esteatorreia é definida como o aumento da quantidade de gordura excretada nas fezes (mais de 7 g de gordura ou 9% do consumo, em 24 horas). Essa condição pode ser decorrente de vários mecanismos, os quais se relacionam com má absorção exclusiva do componente lipídico da alimentação ou de todos os macronutrientes: hidratos de carbono, proteínas e gorduras. Pode ser completamente inaparente, o que é mais provável de acontecer quando o aumento da excreção fecal de gorduras é de pouca monta. Dor abdominal: sintoma comum das doenças do intestino delgado. Na caracterização semiológica da dor abdominal, é importante considerar a localização, a irradiação, a intensidade, o modo de início, as variações cronológicas, os fatores de melhora e de piora e as manifestações associadas. Quando a dor tem origem exclusiva no intestino, sem que haja participação peritoneal, a sua localização é, em geral, imprecisa, sendo indicada pelo paciente Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 em algum ponto próximo da região umbilical. Quando há comprometimento dos segmentos mais distais do íleo, ela se localiza um pouco abaixo da cicatriz umbilical, entre o mesogástrio e o hipogástrio. Se sua origem for no íleo terminal, é percebida no quadrante inferior direito. Quando decorre de uma peritonite restrita, sua localização corresponde ao local da sede do processo inflamatório. Por fim, quando há peritonite generalizada, ela é sentida difusamente por todo este local. A irradiação da dor para outros locais depende do mecanismo etiopatogênico e da intensidade da estimulação dolorosa. Quando é motivada por distensão das paredes do intestino ou por contração vigorosa da sua musculatura, a dor é irradiada para o dorso somente se o estímulo for muito intenso. Quando há peritonite restrita, produzindo dor que se localiza em um ou outro quadrante inferior do abdome, pode haver irradiação para a base da coxa, independentemente da intensidade do estímulo doloroso. A avaliação da intensidade da dor nem sempre é fácil, dado o seu caráter subjetivo. Depende da sensibilidade de cada pessoa e da natureza e da intensidade do processo patológico. Influem também os estados físico e emocional do paciente, se há outros sintomas e o efeito de medicamentos usados. Alguns indicadores da intensidade da dor são: mudanças importantes na vida do paciente, diminuição da capacidade de exercer as atividades usuais, interesse em procurar tratamento sintomático ou atendimento médico e necessidade de uso de analgésicos injetáveis. A ocorrência de manifestações autonômicas, como náuseas, vômito, sudorese, palidez cutânea e inquietude, indica dor abdominal intensa. É preciso se lembrar de obter dados sobre a natureza ou caráter da dor. A dor visceral, originada da distensão ou da contração das paredes musculares do intestino, costuma ser descrita como tendo caráter de “distensão” ou “torção”. Quando há alterações inflamatórias, congestivas ou isquêmicas, é possível que se apliquem as designações “constrição” ou “peso”. Sensações semelhantes a “queimação” ou “pontada” podem ser empregadas quando háparticipação do peritônio perivisceral no processo inflamatório. O modo de início, abrupto ou vagaroso, pode auxiliar na descoberta da natureza do processo patológico. A duração de todo o quadro, permitindo sua caracterização como agudo, Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 subagudo, crônico, redicivante, guarda relação direta com a evolução das várias doenças do intestino delgado. Contribuem, também, para o reconhecimento das causas de dor abdominal as modificações deste sintoma em função das mudanças de posição do paciente. Quando a dor é gerada exclusiva ou predominantemente em segmentos do intestino, sem que haja comprometimento do peritônio, o paciente tende a movimentar-se intensamente, à procura de posições mais confortáveis, fletindo o tronco ou comprimindo o abdome com as mãos. De modo diferente, quando a dor provém de inflamação do peritônio, o paciente tende a ficar imóvel e quieto, pois os movimentos de flexão do tronco ou a compressão do abdome com as mãos costumam piorar a dor. O mesmo acontece com a tosse ou a movimentação brusca para sentar-se ou mudar de posição. Outros dados de interesse são os efeitos da alimentação sobre a dor e a ocorrência concomitante de vômitos, distensão abdominal, meteorismo e modificações na eliminação de gases e fezes. Quanto à alimentação, deve-se ficar atento para o fato de que, na maioria das vezes, há diminuição significativa da vontade de comer durante os episódios de dor, independentemente da causa que os origine. Quando está diretamente relacionada com o comprometimento do tubo digestório, a alimentação pode desencadear ou agravar a dor, o que nem sempre ocorre quando ela advém de inflamação peritoneal ou de uma afecção não ligada ao tubo digestivo. Distensão abdominal, flatulência e dispepsia: grande número de doenças do intestino delgado, em especial nas associadas à má absorção, pode ocorrer um conjunto de sintomas indicativos de repleção abdominal, provocados por aumento do conteúdo gasoso do tubo digestivo. Estes sintomas, em geral, apresentam-se junto com diarreia, esteatorreia ou dor abdominal, mas também podem ocorrer isoladamente. Sintomas dispépticos são sensações desagradáveis, de natureza variada, atribuíveis às porções proximais do tubo digestório (estômago e duodeno). Frequentemente, ocorrem em associações diversas que incluem eructações, desconforto ou dor localizados no epigástrio, saciedade precoce, plenitude ou empachamento pós-prandial e náuseas, acompanhadas ou não de vômito. Estes sintomas são produzidos por vários mecanismos etiopatogênicos, destacando-se o aumento do conteúdo líquido do intestino delgado, má absorção ou deficiência de propulsão, e excesso de gases pela fermentação bacteriana de açúcares não absorvidos. Hemorragia digestiva: embora não seja manifestação comum das doenças do intestino delgado, tem importância no diagnóstico etiológico e no prognóstico do paciente. Quase sempre o sangramento no intestino delgado provoca aumento do teor líquido das fezes. Daí ser comum a associação de melena com amolecimento das fezes e aumento do número de evacuações ou com diarreia exuberante. Junto com a mudança da cor e da consistência, costuma haver modificação do aspecto das fezes, que ficam mais viscosas e aderentes. Nesse caso, os pacientes se referem à eliminação de “graxa” ou “cola” pretas. Quase invariavelmente, a melena apresenta outra característica peculiar: o odor pútrido. Menos comumente, a hemorragia no intestino delgado expressa-se por enterorragia, isto é, eliminação de sangue vivo pelo ânus. Mesmo quando o sangramento no intestino delgado se expressa por enterorragia, é provável que apareça também melena ou que o aspecto do sangue eliminado sugira algum grau de digestão. Febre: é manifestação comum nas doenças infecciosas, inflamatórias e neoplásicas do intestino delgado. Na maioria das vezes, apresenta-se junto com diarreia ou dor abdominal, mas, em certos casos, constitui Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 manifestação isolada, precedendo em semanas ou meses o surgimento destas. Ela resulta, provavelmente, da absorção de substâncias pirogênicas produzidas pela digestão de sangue extravasado para o lúmen do tubo digestório. Febre alta, de início súbito, associada a mal-estar pode acompanhar a diarreia aguda, de curso benigno e autolimitado, cuja causa são as infecções bacterianas ou virais. Nas salmoneloses, a febre inicia-se vários dias após o aparecimento da diarreia, ou mesmo após esta ter cessado. Febre alta, junto com dor abdominal aguda e intensa, é quase constante na inflamação peritoneal própria da diverticulite ou dos períodos de reagudização da doença de Crohn. Febre baixa, episódica, coincidindo ou não com piora de outras manifestações, como a diarreia, pode ocorrer nas doenças celíaca, de Whipple, de Crohn e nos linfomas. Nestas neoplasias, em particular, a febre pode aparecer somente à noite e ser acompanhada de sudorese profusa. Perda de peso: é uma alteração comum nas doenças do intestino delgado, estando relacionada com alimentação deficiente, má absorção ou aumento do consumo metabólico. São essenciais informações corretas e detalhadas sobre a alimentação do paciente em relação à evolução do emagrecimento. A anamnese deve enfocar o apetite, a disposição para comer e as características da alimentação, incluindo quantidade e qualidade dos alimentos, número, tipo e horário das refeições. Quando as informações sugerem redução da ingestão, convém verificar se existem razões aparentes, tais como alterações do estado emocional, sintomas que se agravem pela alimentação, uso concomitante de medicamentos e falta de alimentos. Anemia: doenças do intestino delgado podem provocar anemia, manifestada por palidez da pele, astenia, fraqueza muscular, fadiga ou cansaço, sonolência, irritabilidade, vertigens, zumbidos e percepção de “moscas volantes”. A anemia pode decorrer de deficiência de ferro, vitamina B12 e/ou folatos, desnutrição proteica, depressão “tóxica” da eritropoese e hemorragia digestiva. Icterícia: um sinal muito comum nas diversas doenças pancreáticas. A dosagem da bilirrubinemia mostra predomínio da fração direta, indicando colestase extra- hepática. Pode ser discreta e fugaz na pancreatite aguda, principalmente na forma edematosa, por uma das seguintes razões: (1) obstrução do colédoco terminal, determinando a icterícia e a própria pancreatite; (2) edema do tecido pancreático, comprimindo o colédoco intrapancreático e causando a icterícia ou contribuindo para o aumento da obstrução. Pode ser de grande intensidade, acompanhada de prurido, colúria e, às vezes, acolia fecal. Nesta eventualidade, a causa, quase sempre, é uma obstrução do colédoco terminal provocada por – cistos ou neoplasias localizadas na porção cefálica do pâncreas, ocasionada por fibrose desta área, como na pancreatite crônica. INTERROGATÓRIO SISTEMÁTICO A principal utilidade prática do IS reside no fato de permitir ao médico levantar possibilidades e reconhecer enfermidades que não guardam relação com o quadro sintomatológico registrado na HDA. Associados ao sistema digestório: • Alterações do apetite: Polifagia ou hiperorexia; inapetência ou anorexia; perversão do apetite (geofagia ou outros tipos). • Sialorreia: Excessiva produção de secreção salivar. • Halitose: Mau hálito. Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 • Dor: Dor de dente, nas glândulas salivares, na língua (glossalgia), na articulação temporomandibular. Trismo. • Ulcerações/Sangramento: Causa local ou doença do sistema hemopoético. Parede abdominal: • Dor: Localização e outras características semiológicas. • Alterações da forma e do volume: Crescimento do abdome; hérnias; tumorações. Estômago: • Dor: Localização na região epigástrica; outras características semiológicas. • Náuseas e vômitos:Horário em que aparecem; relação com a ingestão de alimentos; aspecto dos vômitos. • Dispepsia: Conjunto de sintomas constituído de desconforto epigástrico, empachamento, sensação de plenitude • Distensão por gases, náuseas, intolerância a determinados alimentos. Intestino delgado: • Diarreia: Duração; volume; consistência, aspecto e cheiro das fezes. • Esteatorreia: Aumento da quantidade de gorduras excretadas nas fezes. • Dor: Localização, contínua ou em cólicas. • Distensão abdominal, flatulência e dispepsia: Relação com ingestão de alimentos. • Hemorragia digestiva: Aspecto “em borra de café” (melena) ou sangue vivo nas fezes (enterorragia). • Pirose: Sensação de queimação retroesternal. Cólon, reto e ânus: • Dor: Localização abdominal ou perianal; outras características semiológicas; tenesmo. • Diarreia: Diarreia baixa; aguda ou crônica; disenteria. • Obstipação intestinal: Duração; aspecto das fezes. • Sangramento anal: Relação com a defecação. • Prurido: Intensidade; horário em que predomina. • Distensão abdominal: Sensação de gases no abdome. • Náuseas e vômitos: Aspecto do vômito; vômitos fecaloides. Fígado e vias biliares: • Dor: Dor contínua ou em cólica; localização no hipocôndrio direito; outras características semiológicas. • Icterícia: Intensidade; duração e evolução; cor da urina e das fezes; prurido. ANTECEDENTES PESSOAIS Os antecedentes avaliam a condição de saúde passada e presente do paciente, conhecendo fatores pessoais (fisiológicos), patológicos e familiares que influenciam seu processo saúde- doença. Nos antecedentes pessoais é feito o registro dos principais acontecimentos considerados fisiológicos daquele indivíduo, como gestação e nascimento, desenvolvimento neuropsicomotor e desenvolvimento sexual. Nos antecedentes patológicos, investiga-se as doenças sofridas pelo paciente: começando-se pelas mais comuns na infância (sarampo, varicela, coqueluche, caxumba, moléstia reumática, amigdalites) e passando às da vida adulta Ana Victória Ribeiro Barbosa – M7 (pneumonia, hepatite, malária, pleurite, tuberculose, hipertensão arterial, diabetes, artrose, osteoporose, litíase renal, gota, entre outras). Além disso, são investigadas alergias, cirurgias prévias (registrar a data, o tipo de cirurgia, o diagnóstico que a justificou e o nome do hospital onde foi realizada), histórico de traumatismo (indagar sobre o acidente em si e sobre as consequências deste) e transfusões sanguíneas (anotar número de transfusões, quando ocorreu, onde e por que). Para pacientes do sexo feminino, registra-se a história obstétrica da mesma: número de gestações (G); número de partos (P); número de abortos (A); número de prematuros e número de cesarianas (C). Para pacientes do sexo masculino, questiona-se o número de filhos. Encerra-se a investigação dos antecedentes patológicos questionando sobre as imunizações do paciente (qual vacina; época da aplicação/ doses) e os medicamentos em uso (nome, posologia, motivo, quem prescreveu). Os antecedentes familiares começam com a menção ao estado de saúde (quando vivos) dos pais, irmãos, cônjuge e filhos. Não esquecer dos avós, tios e primos do paciente. Se tiver algum doente na família, esclarecer a natureza da enfermidade. Em caso de falecimento, indagar a causa do óbito e a idade em que ocorreu. Pergunta-se sistematicamente sobre a existência de enxaqueca, diabetes, tuberculose, hipertensão arterial, câncer, doenças alérgicas, doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, dislipidemias, úlcera péptica, colelitíase e varizes, que são as doenças com caráter familiar mais comuns. Quando o paciente é portador de uma doença de caráter hereditário (hemofilia, anemia falciforme, rins policísticos, erros metabólicos), torna-se imprescindível um levantamento genealógico mais rigoroso e, nesse caso, recorre- se às técnicas de investigação genética. HÁBITOS DE VIDA Os principais tópicos abordados são: Alimentação: discriminar sua alimentação habitual, especificando, tanto quanto possível, o tipo e a quantidade dos alimentos ingeridos. Ocupações anteriores: questionar e obter informações tanto da ocupação atual quanto das ocupações anteriores exercidas pelo paciente. Atividades físicas: questionar qual tipo de exercício físico realiza; frequência; duração; e tempo que pratica. Tabagismo: tipo, quantidade (carga tabágica), frequência, duração do vício; abstinência (se já tentou parar de fumar). Álcool: tipo de bebida e a quantidade habitualmente ingerida, frequência, duração do vício; abstinência (se já tentou parar de beber). CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS Este item aborda as condições socioeconômicas e culturais do indivíduo e tem como objetivo principal, conhecer melhor o paciente fora do contexto da doença. As principais áreas abordadas – são: habitação, família e relações pessoais, condição socioeconômica, lazer, entre outros. Condições de moradia: se mora em casa ou apartamento, se a casa é feita de alvenaria ou não, qual a quantidade de cômodos, se conta com saneamento básico (água tratada e rede de esgoto), com coleta regular de lixo, se abriga animais domésticos, entre outros. Questão familiar: relacionamento entre pais e filhos, entre irmãos e entre cônjuges. Neste momento, pode-se perguntar também sobre outras redes de apoios que o paciente possa vir a ter. Por fim, costuma-se indagar sobre o trabalho do paciente: situação profissional, rendimento mensal, se há dependência econômica de parentes ou instituição. Além disso, pode-se perguntar sobre o grau de escolaridade, religiosidade, tradições e crenças, comportamentos e hábitos alimentares.
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