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RESENHA CRÍTICA DO ARTIGO: PETERSON, Kevin J.; EERNISSE, Douglas J.. The phylogeny, evolutionary developmental biology, and paleobiology of the Deuterostomia: 25 years of new techniques, new discoveries, and new ideas. Organisms Diversity & Evolution, [S.L.], v. 16, n. 2, p. 401-418, 5 fev. 2016. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/s13127-016-0270-x. O artigo “A filogenia, a biologia evolutiva do desenvolvimento e a paleobiologia da deuterostomia: 25 anos de novas técnicas, novas descobertas e novas idéias”, publicado em 2015, dos autores Kevin J. Peterson e Douglas J. Eernisse, professores do Departamento de Ciências Biológicas da Dartmouth College e da California State University respectivamente, possui como objetivo apresentar, por meio de uma ampla revisão bibliográfica, o estado da arte dos estudos sobre a evolução do deuterostomo nos últimos 25 anos, além de abordar perspectivas futuras para tais pesquisas. O artigo está dividido nas seguintes seções: 1. Breve introdução 2. Filogenia dos deuterostomo: 25 anos atrás 3. Daqui a 25 anos - filogenética molecular 4. Biologia evolutiva do desenvolvimento e a morfologia comparativa 5. Paleobiologia 6. Conclusões Cada sessão apresenta reflexões a partir de estudos realizados sobre a filogenia do deuterostomo e aspectos correlatos, com linguagem leve e fluida, os autores vão tecendo opiniões acerca das pesquisas e autores citados em sua obra. Um aspecto interessante do desenvolvimento do artigo, é que, há todo momento, os autores destacam o fato de que a ciência é dinâmica e evolutiva, assim como o objeto de estudo. Ou seja, cada vez que novos dados são descobertos, novas análises podem ser feitas, e assim, hipóteses e teorias vão sendo construídas ao longo dos anos. Assim, o conhecimento nunca chega ao fim. Irei discutir o artigo por sessão, para garantir que a ideia central de cada uma das sessões seja abordada corretamente. 1. Introdução Os autores iniciam o artigo apresentando aqueles que provavelmente foram os primeiros pesquisadores a aplicar o raciocínio cladístico ao problema da filogenia animal, http://dx.doi.org/10.1007/s13127-016-0270-x gerando um cladograma feito à mão da maioria dos principais filos animais, Brusca e Brusca (1990). Segundo os autores, esse uso de cladística se colocou como um modo de compreender a filogenia muito revolucionária para época, anunciando assim, novos olhares para discutir a evolução animal, iniciando assim, uma espécie de “corrida da filogenia”: vários pesquisadores dedicaram os estudos para comparar centenas de genes de dezenas de táxons para inferir assim, uma filogenia. Essa revolução científica não permitiu somente a elucidação da filogenia, mas também identificar semelhanças no desenvolvimento de animais tão díspares quanto moscas e ratos (Carroll et al. 2005). Os autores também destacam a importância do estudo de fósseis para o avanço da filogenia, ao destacar que, juntamente com novas perspectivas sobre antigas descobertas fósseis levaria a novas interpretações da morfologia antiga, revelando combinações em animais extintos jamais imaginadas, dada a biota de hoje. Os autores concluem a introdução ressaltando que toda essa sólida compreensão sobre as relações filogenéticas, que vêm sendo desenvolvida desde os anos 90 até 2015, contribuem principalmente ´para impulsionar novas descobertas para os próximos 25 anos. 2. Filogenia dos deuterostômios: 25 anos atrás Os autores propõem nesta seção discutir as propostas evolutivas sobre a origem dos cordados e demais animais, tomando como ponto de partida, o impacto da filogenia animal de Brusca e Brusca (1990). Para os autores referenciados no artigo, os deuterostômios eram compostos por cinco grandes grupos, os chaetognatha, os equinodermos, os foloforatos (os braquiópodes, os foronídeos e os briozoários ou ectoproctos), os hemicordados e os cordados. Os autores concluem a seção indicando que, apesar de algumas diferenças entre estudos, os pesquisadores identificaram as origens dos cordados perto ou dentro do hemicordados. Além disso, essas primeiras análises filogenéticas eram consistentes com ideias que viam o ancestral dos deuterostômios como um organismo alimentador de filtros sésseis com um modo de desenvolvimento único e arranjo celular comparado aos protomas. 3. Daqui a 25 anos - filogenética molecular Nesta seção, os autores apresentam várias estudos da filogenética molecular de metazoários e deuterostômios, discutindo o impacto que a filogenia animal teve em nossa compreensão das inter-relações e distribuição de características, sendo uma das primeiras tentativas de compreender a filogenia animal de nível superior usando o pensamento cladístico. 4. Biologia evolutiva do desenvolvimento e a morfologia comparativa Para os autores, vinte e cinco anos de processos moleculares cada vez mais sofisticados análises filogenéticas, juntamente com novos tipos de dados, e novos olhares para dados antigos, levou a uma revisão completa do nossa compreensão sobre os deuterostômios. De fato, passamos de imaginar os deuterostômios ancestrais como alimentadores de filtros sésseis para um vago e ativo animal parecido com verme. No entanto, um entendimento adequado da evolução requer mais do que apenas uma filogenia bem fundamentada: avaliação da homologia consiste não apenas em congruência de caracteres, mas também em caráter similaridade e conjunção de caracteres. Assim, os autores concluem a seção, após apresentar estudos de diversos autores, que os estudos atuais sobre os deuterostômios indicam seres dotados de um sistema nervoso de cordado derivado de um sistema nervoso adulto de um ancestral, simples ou complexo, sugerindo que as larvas evoluíram várias vezes em várias linhagens. Os autores também tecem uma opinião sobre a metodologia científica desses estudos: testar hipóteses de ganho e perda larval usando os dados de expressão gênica não são triviais, dados os efeitos confusos da homologia das estruturas adultas. 5. Paleobiologia Nessa última seção os autores destacam que os últimos 25 anos de pesquisa paleontológica sobre a evolução dos deuterostômios revelaram novas descobertas espetaculares sobre as morfologias antigas, além de apresentar novas maneiras de explorar registros fósseis da vida e do genoma orgânico. De fato, o acoplamento do registro fóssil geológico com o registro fóssil genômico revelou insights fundamentais sobre as relações existentes entre a história da Terra e a história da vida. 6. Conclusões A conclusão do artigo é repleta de poesia e gratidão à ciência. Os autores destacam, que, enquanto comunidade científica, foram abençoados com a sorte de trabalhar em uma época em que ideias fundamentais foram ganhando destaque por desvendar a história evolutiva não apenas de deuterostômios, mas a vida em geral. Os últimos 25 anos foram transformadores para a biologia evolutiva como nenhuma outra vez em história, com o progresso obtido exatamente pelo desenvolvimento de novas técnicas, como a filogenética, juntamente com novas descobertas, como a fauna de Chengjiang, e com novas ideias, variando de uma ideia surpreendentemente simples como a PCR à riqueza de novas ideias que seguem para o sequenciamento genômico animal. Os autores também enfatizam que esse desenvolvimento da compreensão filogenética da evolução dos deuterostômios, além de desvendar os fundamentos de desenvolvimento de personagens importantes que foram adquiridos no início da evolução dos deuterostômios, contribui também para análise das aquisições de características por parte desses seres ao longo dos anos, tornando se assim, arcabouço científico para as discussões de como essas modificações impactaram a ecologia e a morfologia de animais extintos. Retomando a discussão trazida no início do artigo. os autores indicam que existem muitas outras descobertas a serem feitas pelos próximos 25 anos, prometendo assim ares de novas técnicas e ideias queimpactarão significativamente o nosso entendimento de tempo e lugar na história da vida. Este artigo possui grande relevância científica, não somente por se tratar de uma completa, contextualizada e crítica revisão bibliográfica, mas por abordar diferentes estudos e perspectivas metodológicas para o objeto de estudo em questão.
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