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Autora: Profa. Summaia Farah Colaboradoras: Profa. Sabrina Martins Boto Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Físico-Química QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Professora conteudista: Summaia Farah Graduada no curso de Farmácia e Bioquímica e mestre em Imunopatologia pela Universidade Paulista (UNIP), também possui licenciatura em Química nas Faculdades Oswaldo Cruz. Desde 2012 trabalha como professora adjunta na UNIP. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) F219f Farah, Summaia. Físico-Química / Summaia Farah – São Paulo: Editora Sol, 2018. 172 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-086/18, ISSN 1517-9230. 1. Soluções. 2. Equilíbrio químico. 3. Estudo dos gases. I. Título. CDU 543.5 XIX QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Vitor Andrade QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Sumário Físico-Química APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 SOLUÇÕES .......................................................................................................................................................... 11 1.1 Solubilidade ............................................................................................................................................ 12 1.1.1 Curva de solubilidade ............................................................................................................................ 14 1.2 Unidades de concentração de soluções ...................................................................................... 15 1.2.1 Molaridade ................................................................................................................................................. 16 1.2.2 Fração molar ............................................................................................................................................. 19 1.2.3 Concentração molar .............................................................................................................................. 19 1.2.4 Concentração em massa ...................................................................................................................... 20 1.2.5 Molalidade ................................................................................................................................................. 20 1.2.6 Título ............................................................................................................................................................ 20 1.2.7 Composição percentual ........................................................................................................................ 21 1.3 Soluções coloidais ................................................................................................................................ 24 1.3.1 Tipos de soluções coloidais ................................................................................................................. 25 1.3.2 Classificação dos coloides ................................................................................................................... 29 1.4 Micelas ...................................................................................................................................................... 29 1.5 Preparo das soluções coloidais ....................................................................................................... 30 1.6 Propriedades coligativas .................................................................................................................... 31 1.6.1 Diminuição da pressão de vapor (abaixamento tonoscópico) ............................................. 32 1.6.2 Aumento do ponto de ebulição (elevação ebulioscópica) ..................................................... 34 1.6.3 Diminuição do ponto de congelamento (abaixamento crioscópico) ................................ 35 1.6.4 Aumento da pressão osmótica (elevação osmoscópica) ........................................................ 36 2 TERMOQUÍMICA ............................................................................................................................................... 38 2.1 Energia interna de um sistema ....................................................................................................... 38 2.2 Entalpia ..................................................................................................................................................... 41 2.3 Variações de entalpia-padrão (∆H∅) .......................................................................................... 42 2.3.1 Variação de entalpia-padrão de transição (∆trsHØ)................................................................... 43 2.3.2 Entalpias que acompanham as transformações químicas ..................................................... 45 2.4 Lei de Hess ............................................................................................................................................... 46 2.5 Entropia e transformações químicas ............................................................................................ 49 2.6 Espontaneidade das reações ............................................................................................................ 51 3 CINÉTICA QUÍMICA ......................................................................................................................................... 52 3.1 Teoria das Colisões ............................................................................................................................... 53 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 3.2 Fatores que influenciam a velocidade de uma reação química ........................................ 56 3.2.1 Natureza e tamanho das partículas dos reagentes .................................................................. 57 3.2.2 Concentração dos reagentes ..............................................................................................................57 3.2.3 Temperatura .............................................................................................................................................. 58 3.2.4 Catalisadores ............................................................................................................................................. 59 3.3 Lei de Velocidade e ordem das reações ....................................................................................... 61 3.3.1 Taxa de reação ........................................................................................................................................ 66 4 REAÇÕES QUÍMICAS ...................................................................................................................................... 67 4.1 Tipos de reações químicas ................................................................................................................ 69 4.2 Equação química .................................................................................................................................. 74 4.2.1 Equacionamento da reação química .............................................................................................. 74 4.2.2 Balanceamento das equações químicas ........................................................................................ 75 Unidade II 5 EQUILÍBRIO QUÍMICO NOS SISTEMAS HOMOGÊNEOS E HETEROGÊNEOS .............................. 81 5.1 Conceito e condições de equilíbrio ............................................................................................... 81 5.2 Constante de equilíbrio (k ou keq) .................................................................................................. 82 5.3 Princípio de Le Chatelier.................................................................................................................... 83 5.4 Fatores externos que interferem no equilíbrio e suas consequências ............................ 85 5.4.1 Interferência na concentração dos compostos de um sistema em equilíbrio ............... 85 5.4.2 Alteração na temperatura de uma reação em equilíbrio ....................................................... 86 5.4.3 Mudança na pressão de reações em equilíbrio .......................................................................... 87 6 EQUILÍBRIO QUÍMICO IÔNICO EM SOLUÇÕES AQUOSAS ............................................................... 89 6.1 Ácidos e bases ........................................................................................................................................ 89 6.1.1 Definição de ácido e base segundo Arrhenius ............................................................................ 93 6.1.2 Definição de ácido e base segundo Bronsted e Lowry ............................................................ 94 6.1.3 Definição de ácidos e bases segundo Lewis ................................................................................. 96 6.1.4 Constante de dissociação de ácido (Ka) e base (Kb) ................................................................. 97 6.1.5 Indicadores ácido-base ......................................................................................................................... 98 6.2 Autoionização da água ....................................................................................................................101 6.3 Escalas de pH e pOH ..........................................................................................................................102 6.4 Solução tampão ..................................................................................................................................106 6.5 Eletrólitos ...............................................................................................................................................109 6.6 Hidrólise de sais ..................................................................................................................................110 6.7 Produto de solubilidade (Kps) .......................................................................................................112 Unidade III 7 ELETROQUÍMICA ............................................................................................................................................120 7.1 Reações de oxirredução ...................................................................................................................121 7.2 Pilha ou célula eletroquímica ........................................................................................................126 7.2.1 Pilha de Daniell ..................................................................................................................................... 127 7.2.2 Cálculo da diferença de potencial (ddp) de uma pilha ........................................................ 129 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 7.3 Relação entre a energia livre e a energia potencial da pilha ...........................................132 7.3.1 Relação entre a constante de equilíbrio (k) de uma reação e seu potencial padrão (E0) ..................................................................................................................................... 133 7.3.2 Equação de Nernst .............................................................................................................................. 135 7.4 Eletrólise .................................................................................................................................................137 8 ESTUDO DOS GASES .....................................................................................................................................139 8.1 Sistema e vizinhança ........................................................................................................................140 8.2 Teoria Cinética dos Gases ................................................................................................................141 8.2.1 Gás perfeito ............................................................................................................................................ 144 8.3 Pressão atmosférica ..........................................................................................................................144 8.4 Leis dos gases .......................................................................................................................................145 8.4.1 Lei de Boyle ............................................................................................................................................ 145 8.4.2 Lei de Charles ........................................................................................................................................ 147 8.4.3 Lei de Gay-Lussac ................................................................................................................................ 149 8.4.4 Lei Combinada dos Gases ................................................................................................................. 150 8.4.5 Princípio de Avogadro.........................................................................................................................151 8.4.6 Equação de Clapeyron ........................................................................................................................151 8.5 Pressão parcial .....................................................................................................................................154 8.6 Difusão e efusão gasosa ..................................................................................................................156 8.7 Densidade dos gases .........................................................................................................................1578.7.1 Densidade absoluta de um gás ...................................................................................................... 159 8.7.2 Densidade relativa (δ) de um gás .................................................................................................. 160 9 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 APRESENTAÇÃO Caro aluno, A disciplina de Físico-Química tem como objetivo promover ao aluno os conhecimentos das propriedades físicas das substâncias relacionadas ao seu comportamento químico, através do estudo de conceitos fundamentais. Inicialmente, destacaremos as soluções e como diferentes solutos e solventes, nas mais variadas concentrações, podem interferir na apresentação de compostos e em suas propriedades características. Na sequência, faremos o estudo da termoquímica, que abrangerá a influência do calor e da energia nos estados físicos da matéria e, também, a variação de energia nos diferentes tipos de reações químicas. Em seguida, o estudo da cinética química trará os conceitos da dinâmica de uma reação química, como a velocidade de reação. Será ainda exposto como as reações químicas acontecem e como são classificadas. Serão apresentados os conceitos sobre o equilíbrio químico e os fatores que influenciam esse equilíbrio. O aluno também será capaz de entender os conceitos de pH, ionização e eletrólitos, além de definir os conceitos de ácido, base e sais. Na sequência, será abordado o ramo da química denominado eletroquímica. Com base nele, é possível entender a corrente elétrica e a geração de energia, por meio das reações de oxidação e redução e processos eletrolíticos. Finalizaremos com o estudo dos gases, a partir do qual o aluno conhecerá como a pressão, o volume e a temperatura são propriedades extremamente importantes e determinantes aos gases. Como a Físico-química requer a aplicação de muitos cálculos matemáticos, estes, quando utilizados no livro, aparecerão simplificados e mostrados passo a passo, para que o aluno possa acompanhar a matemática e, assim, não se perder na química. Este livro também sugere alguns experimentos simples, para serem feitos em casa, e que podem auxiliar o aluno a entender e visualizar com mais clareza os conceitos dados. Embora apresente de maneira simples e clara os conceitos básicos da Físico-química, como esta é uma disciplina que abrange muitos dos conteúdos do curso de Química, nosso material certamente será muito útil na formação do aluno e no seu entendimento sobre a Química em geral. Bons estudos! 10 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 INTRODUÇÃO Ao considerarmos que tudo que existe a nossa volta possui massa, a qual é uma grandeza física que nos permite mensurar o quanto de matéria existe em determinado corpo, e que, por sua vez, toda matéria, em qualquer um dos seus estados físicos, é composta de átomos e moléculas, poderemos entender a ampla gama de divisões e subdivisões que a Química consegue abranger e estudar. Devemos lembrar que os gases e o ar que respiramos, apesar de serem invisíveis a nós, também possuem massa, pois são compostos de matéria e, por isso, são estudados pela Química, possuindo uma subdivisão dedicada ao seus fenômenos e comportamentos. Para fins didáticos – e dizemos isso por ser impossível delimitar cada área da Química, pois essencialmente todas estão relacionadas –, a ciência Química é dividida em quatro grandes áreas: Química Inorgânica, Química Orgânica, Química Analítica e Físico-química, e ainda temos a Química Geral, a qual dá os conhecimentos básicos para o estudo de cada uma das áreas. A área de Físico-química, abordada neste livro-texto, pretende dar ao aluno conhecimentos e entendimento de como os fenômenos físicos, que podemos observar macroscopicamente, ocorrem no âmbito atômico e molecular. Ou seja, qualquer modificação na estrutura ou comportamento da matéria iniciará na estrutura molecular, para então ser visualizada fisicamente. O gatilho para que transformações físicas, nos compostos, aconteça pode ser dado por diversos fatores, como temperatura, pressão e concentração, os quais vão interferir nas reações químicas e nas ligações moleculares das substâncias. O estudo dessas relações será feito através de leis, postulados e cálculos matemáticos que conseguem prever o comportamento da matéria quando submetida a determinadas situações, como a variação de energia que ocorre num sistema (ou reação química) quando este recebe calor. Sendo assim, a físico- química estuda desde fenômenos moleculares até fenômenos visíveis (macroscópicos), interpretando também o caminho entre essas duas escalas e quais fatores podem interferir nesse processo. Por isso, estudaremos neste livro-texto itens como variação de energia e calor em um sistema, velocidade das reações, espontaneidade das reações, propriedades das soluções, equilíbrio de sistemas químicos, processos eletroquímicos e comportamento de substâncias gasosas, e assim será possível conceituar e entender a consequência ou causa de alterações moleculares no estado e comportamento físico das substâncias. 11 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Unidade I 1 SOLUÇÕES As soluções são sistemas homogêneos (ou simplesmente uma mistura homogênea) compostos de um ou mais solutos e pelo solvente. Um dos mais simples exemplos do que é uma solução é a mistura entre a água e o sal de cozinha (NaCl), em que a água é o solvente e o sal (NaCl) é o soluto, que, por apresentar solubilidade em água, dissolve-se formando uma solução salina. Se nessa mistura homogênea de água e sal de cozinha adicionarmos açúcar, ao dissolvê-la, ainda teremos uma solução na qual o solvente continua sendo a água, só que agora com dois solutos: sal e açúcar. Observação Essa solução de sal e açúcar, quando feita na proporção de 1 litro de água potável mais uma colher de sopa de açúcar (20 g) e uma colher de café de sal (3,5 g), forma o soro caseiro, uma solução simples e de extrema importância no combate à desidratação (e até à morte) de crianças e adultos por excesso de vômitos e diarreia. A água, por ser um solvente universal, é amplamente utilizada nos mais diversos tipos de solução. Isso nos faz relacionar soluções a misturas líquidas, porém, as soluções também podem ser sólidas. Temos como exemplo as ligas metálicas, que são soluções de um metal em outro (solvente é metal e soluto também), como o bronze, que é o resultado da mistura homogênea entre cobre e estanho. As soluções podem também ser gasosas, e o maior exemplo é o ar que respiramos, no qual há uma mistura homogênea de gases diferentes fazendo parte dos solutos e uma quantidade predominante do gás nitrogênio (79%), sendo por isso considerado o solvente – lembrando que o solvente é a parte predominante na mistura. Voltando ao conceito de solubilidade, até aqui podemos entender que uma solução é homogênea porque os solutos presentes nela são solúveis no solvente, isto é, eles se dissolvem porque conseguem se misturar naquele meio formando uma aparente “substância única” (monofásica). Em contrapartida, existem substâncias que não formam uma mistura homogênea (ou solução), e o grande exemplo aqui é o óleo e a água, que formam uma mistura heterogênea (bifásica), isto é, podemos ver a separação dos dois líquidos quando colocados juntos num recipiente. Mas porque isso acontece? Se pensarmos em polaridade, podemos seguir uma regra geral na Química: solventes polares dissolvem solutos polares e solventes apolares dissolvem solutos apolares (na presença de alguns agentes essa regra pode ser quebrada). Assim,a água não dissolve o óleo, pois os dois possuem polaridades diferentes. Outro exemplo é o de mecânicos, que, para tirar graxa das mãos, usam gasolina, removedores, pois esses produtos são 12 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I apolares e dissolvem a graxa, que também é apolar, pois lavar somente com água não seria eficaz para limpeza (os detergentes quebram a gordura, por isso deixam a água mais eficaz na limpeza). A água dissolve solutos polares, como o álcool. Aqui podemos pensar numa bebida comum no Brasil, a caipirinha, na qual há gelo (que se tornará água líquida), álcool, açúcar e suco de limão, todos solutos polares que estarão dissolvidos num solvente polar (água). Solvente Solução Soluto Figura 1 – Componentes de uma solução 1.1 Solubilidade Agora vamos pensar em outra bebida frequentemente consumida em nosso país, o café. Aqui o solvente é a água, e, na maioria das vezes, para adoçá-lo adicionamos um outro soluto, o açúcar. Quando terminamos de tomar nosso delicioso cafezinho, muitas vezes podemos ver um resto de açúcar depositado no fundo da xícara. Isso acontece porque a solução se tornou saturada, ou seja, não foi possível dissolver (ou solubilizar) toda a quantidade de soluto colocada em determinada quantidade de solvente. Porém, se você levar ao fogo, o açúcar se dissolverá, pois a temperatura elevada do solvente aumenta a solubilidade do soluto. Temos como exemplo a calda caramelada de um pudim. Portanto, a concentração de soluto – ou seja, a quantidade de massa do soluto num solvente – tem um determinado limite, e quando o atingimos, dizemos que a solução está saturada. Antes de chegar a esse ponto, a solução é chamada de insaturada. Também podemos dizer que uma solução é concentrada, quando há muito soluto por determinada quantia de solvente, ou fraca, quando há pouco soluto em quantidade determinada do solvente. Fondant é um creme usado para cobrir bolos e pães doces. É composto de açúcar e água, porém, em quantidades que, à primeira vista, parecem impossíveis de se misturar. Na receita tradicional, devemos dissolver duas xícaras de açúcar em apenas uma de 13 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA água, porém, esta dissolução é possível porque é feita numa panela sobre a chama do fogão. Portanto, ao elevarmos a temperatura do solvente (água), aumentamos a solubilidade do soluto. Claro que também existe o fato de que o açúcar facilmente se mistura com a água. Isso acontece porque as moléculas de H2O possuem espaços entre elas, mesmo estando ligadas, e assim são mais acessíveis para formar ligações com as moléculas de açúcar – ocorre uma acomodação das moléculas de açúcar entre as moléculas de água, e, ao aquecermos a mistura, aumentamos esses espaços, promovendo maior interação entre as moléculas do solvente e do soluto. Essas ligações se mantêm unidas por pontes de hidrogênio. Água Moléculas de açúcar Moléculas de açúcar hidratadas Moléculas de água Cristal de açúcar Figura 2 – Dissolução da sacarose (açúcar) em água Figura 3 – O fondant sendo utilizado na cobertura de um bolo 14 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Saiba mais Recomendamos a seguinte leitura: WOLKE, R. L. O que Einstein disse ao seu cozinheiro: a ciência na cozinha. v. 1 e 2. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 1.1.1 Curva de solubilidade Cada substância ou solução tem a sua própria curva de solubilidade (veja a tabela a seguir), pois esta é dependente, além da temperatura e da polaridade, também do tipo de soluto e solvente. Existem curvas de solubilidade do tipo ascendente, nas quais a solubilidade é aumentada quando há elevação da temperatura, e, em contrapartida, as curvas do tipo descendente, em que a solubilidade diminui conforme aumenta a temperatura. Tabela 1 – Solubilidade de alguns compostos em diferentes temperaturas Soluto (g) Solubilidade (g) do soluto por 100 g de H2O na temperatura de 20 ºC Solubilidade (g) do soluto por 100 g de H2O na temperatura de 50 ºC C12H22O11 203,9 g 260,4 g NaCl 36,0 g 37,0 g KClO3 7,4 g 19,3 g NaNO3 88,0 g 114,0 g AgNO3 222,0 g 455,0 g KCl 34,0 g 42,9 g A curva de solubilidade está intimamente relacionada com a saturação de uma solução. Vejamos: • Solução saturada com corpo de fundo ou supersaturada: nessa solução, a quantidade de soluto está em excesso, portanto, não se dissolve totalmente e, sendo assim, por efeito gravitacional, deposita-se no fundo do recipiente. Os pontos de solubilidade estarão acima da curva. • Solução saturada: essa solução possui a quantidade máxima de soluto que pode dissolver; se passar daqui, haverá corpo de fundo. Os pontos estarão na curva. • Solução insaturada: nesse caso, a solução ainda não possui a quantidade máxima de soluto que consegue dissolver, ou seja, está abaixo da quantidade determinada de saturação. Os pontos aparecerão abaixo da curva. 15 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA 0 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Massa (g) sacarose Temperatura (Celsius) Massa (g) sacarose/100g água 20 40 60 80 100 Figura 4 – Solubilidade da sacarose em diferentes temperaturas 1 litro, 0 ºC Saturada sem corpo de fundo 1 litro, 0 ºC 13 g se depositam Saturada com corpo de fundo 357 g de NaCl 370 g de NaCl Água Água 357 g de NaCl 357 g de NaCl Figura 5 – Saturação de uma solução de água com sal (NaCl). Corpo de fundo é o nome dado ao soluto excedente que se deposita no fundo do frasco que contém a solução 1.2 Unidades de concentração de soluções A concentração de um soluto e a massa ou volume de um solvente – ou seja, a composição de uma solução – podem ser determinadas por meio de várias unidades de concentração, e a grande maioria delas está baseada na lógica da principal equação de concentração que divide a quantidade de massa do soluto pela quantidade de volume da solução ( mC V= ). O que é regra de 3? É um recurso matemático a partir do qual é possível encontrar um valor desconhecido utilizando outros três valores que são diretamente proporcionais a ele. Por exemplo, sabemos que 1 mol de sódio (Na) possui 23,00 gramas (valor que se encontra 16 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I na tabela periódica, isto é, o número de massa de um elemento é quanto de massa ele possui em um mol). Mas e se tivermos 68,00 gramas de Na, quantos mols teremos? Para saber essa resposta, devemos colocar os três valores que possuímos na regra de 3 e fazer o cálculo cruzando os valores: 1mol de Na 23,00gramas X mol de Na 68,00gramas 68,00g mol1mol.68,00g Xmol.23,00g Xmol X 2,97mol 23,00g → → = ⇒ = ⇒ = Assim, sabemos que 68,00 gramas de sódio têm 2,97 mol. Esse cálculo foi possível por se tratar de grandezas diretamente proporcionais. 1.2.1 Molaridade A molaridade (M) é também conhecida como concentração molar ou massa molar. Como seu valor é expresso em mol/L, é somente usada para líquidos. É a unidade de concentração mais usada pelos químicos, pois como expressa seu resultado em mols, pode ser usada, sem conversão, nas reações estequiométricas, nas quais é possível calcular o rendimento de produtos por meio da equação química balanceada que representa a reação: quantidade em mols do soluto M quantidade em litros da solução =Lembrete Não podemos esquecer que solução é o resultado da soma entre solvente e soluto! Vamos aos exemplos de como a molaridade pode ser usada: Exemplo 1 Precisamos preparar 1 litro de solução 2 M de KCl. Para isso, podemos seguir os seguintes passos: 1 – Pegar 1 mol de KCL, mas como fazer isso? Se você olhar sua tabela periódica, verá que todos os elementos contidos nela possuem um valor de massa, que é dada em gramas por mol. Sendo assim, 17 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA podemos verificar que a massa do potássio (K) é igual a 39,102 g/mol e a do cloro (Cl) é igual a 35,453. Simplesmente somamos esses valores e vamos ter como resultado de massa do KCl o valor 74,55 g/mol, ou, em outras palavras, dizemos que 74,55 gramas de KCl representam 1 mol dessa substância. Porém, iremos preparar uma solução 2 M, então multiplicamos 74,55 por 2 e teremos 149,10 g. Pesamos na balança esse valor, que será correspondente a 2 mol. 2 – Então, devemos encher pela metade um frasco (com capacidade de 1 litro) com água destilada, adicionar os 149,10 gramas de KCl e mexer com bastão de vidro até a dissolução total do sal. Se necessário, pode-se colocar mais água. Quando a dissolução estiver finalizada, completamos o resto do volume com água acertando o menisco até atingir 1 litro (pois não podemos esquecer que iremos preparar 1 litro de solução e isso não significa 1 litro de solvente, pois a solução compreende solvente mais soluto). 3 – Enfim, nossa solução com concentração 2 M de KCl está pronta! Observação Menisco, em Química, é a interface entre o ar e um líquido que está acondicionado num recipiente estreito e, por causa disso, forma uma curvatura. O termo “acertar o menisco” é muito utilizado em Química e significa verificar adequadamente essa curva do líquido e o lugar onde ele atingiu a graduação de um recipiente volumétrico (pipetas) para, então, conferir se uma solução atingiu o volume desejado. É uma ação muito importante, pois nos dá precisão de quantitativa. Figura 6 – Visualização do menisco Exemplo 2 Mas e se fosse ao contrário? Temos uma massa de 37 gramas de KCl e um volume de 420 ml de solução. Qual será a concentração dessa solução? Fazemos o seguinte, então: 1 mol de KCl 74,55 gramas x mol de KCL 37 gramas → → 18 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Fazendo a multiplicação, temos como resultado x 0,49 mol de KCl⇒ em 37 gramas de KCl. Então devemos passar 420 mL para unidade em litros: 1 litro 1000 mL→ x litro 450 mL 0,450L→ ⇒ de solução Colocamos então os dois valores obtidos na equação da molaridade: 0,49 mol de KCl M M 1,08M 0,450L de solução = ⇒ = Portanto, nossa solução com volume de 420 mL e 37 gramas de KCl terá uma concentração de 1,08 M. Exemplo 3 Outra maneira de preparar uma solução é partir de uma já pronta, isto é, fazendo a diluição de uma solução concentrada e, assim, produzindo outra menos concentrada (ou mais fraca). Vamos imaginar então que temos uma solução de ácido clorídrico 15,0 M e precisamos preparar 500 mL de solução de HCl 4 M. Para isso, podemos usar a seguinte fórmula: Vinicial . Minicial = Vfinal . Mfinal Onde: Vinicial: volume a ser pego da solução pronta, também chamada de solução de partida (ou solução mãe); Minicial : concentração molar da solução de partida; Vfinal: volume a ser preparado; Mfinal: concentração da solução diluída. Vamos aos cálculos, então: Vinicial 15 = 500 . 4 onde Vinicial = 133,3mL. O procedimento seguinte é, com o auxílio de uma pipeta graduada, pegar 133,3 mL da solução mãe e adicionar vagarosamente em um frasco contendo aproximadamente 200 mL de água destilada (lembrando que o recipiente deve ter a capacidade mínima de 500 mL), misturar delicadamente com o bastão de vidro e, então, adicionar mais água destilada até completar o volume de 500 mL. 19 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Observação Cuidado! Não podemos esquecer que o ácido sempre deve ser adicionado na água, e nunca o contrário, pois quando colocamos água em ácido há liberação de calor e energia e com isso a solução poderá espirrar em você ou em alguém que estiver por perto. Água Ácido O correto é adicionar lentamente o ácido à água, nunca o contrário Corrosivo desidratante H2SO4 Figura 7 – Sinalização de alerta sobre ácidos corrosivos 1.2.2 Fração molar Através do cálculo da fração molar (X), podemos obter a quantidade de determinado soluto, em mols, em uma determinada solução que contenha diversos solutos diferentes, ou seja, a contribuição em mols que um soluto tem numa solução. Vejamos a fórmula a seguir: ni Xi nt = Onde: Xi: fração em mols de um soluto (i); ni: número de mols de um soluto (i); nt: número total de mols de todos os solutos presentes na solução. 1.2.3 Concentração molar A concentração molar (Ci) expressa a quantidade de soluto em mols presente em determinado volume de solução e é definida pela seguinte fórmula: ni Ci V = 20 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Onde: Ci: concentração de um soluto (i) em mols; ni: número de mols de um soluto (i); V: volume da solução. Observação: como o volume de uma solução pode variar se houver alteração na temperatura ou pressão, a concentração molar de determinado soluto também irá mudar, pois depende do volume da solução em que está contido. Porém, a fração molar desse soluto continuará sendo a mesma. 1.2.4 Concentração em massa A concentração em massa (ℂ) permite determinar o quanto de massa, em gramas, um soluto tem numa solução. Isso é feito através da fórmula: ( ) ( ) m g V L = Onde: C: concentração em gramas de um soluto por litro de determinada solução; m: massa, ou seja, o peso em gramas do soluto presente na solução; V: volume total da solução em litros (solução = solvente + soluto). 1.2.5 Molalidade A molalidade (M) é também uma unidade de concentração que, para ser expressa, utiliza o número de mols do soluto. Ela relaciona o número de mols de um soluto por quilogramas de um solvente – aliás, é uma exceção, pois grande parte das unidades de concentração utiliza a massa ou volume da solução: ( ) número de mols do soluto M massa Kg do solvente = 1.2.6 Título O título (T%) é também conhecido como porcentagem em massa, isso porque esta unidade de concentração determina o quanto por cento há de um determinado soluto em um determinado volume de solução. Podemos calcular o título pela seguinte fórmula: ( ) ( ) massa g do soluto T% x1 00 volume L da solução = 21 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA 1.2.7 Composição percentual 1.2.7.1 Peso/Peso A unidade de concentração Peso/Peso (p/p%), comumente usada, expressa o quanto por cento existe em gramas de um soluto num determinado peso em gramas de uma solução, através da seguinte relação: ( ) ( ) massa soluto gramas p / p% x100 massa solução gramas = Por exemplo, se quisermos preparar 270 gramas de uma solução de NaCl 8% (p/p), devemos começar pelo seguinte raciocínio: 1 – Pela regra de três, vamos calcular quanto em massa correspondem a 8% da solução (que será a participação do soluto – NaCl): 100% da solução → 270 gramas 8% da solução → x gramas ⇒ x = 21,6 gramas Agora sabemos quea solução será composta de 21,6 gramas de NaCl (soluto) e precisamos saber o quanto deverá haver de água (solvente) para totalizar 270 g de solução. Para isso, simplesmente subtraímos o valor do soluto do valor total da solução: 270 g – 21,6 g = 248,4 gramas de água (solvente) Lembrando que sempre podemos pesar líquidos numa balança e obter a massa em gramas. Para transformar em litros, podemos usar a equação da densidade ( ) ( ) m g d V mL = . Porém, como sabemos que a densidade da água é igual a 1 (dH2O = 1), podemos usar também 248,4 mL de água para produzir essa solução. 1.2.7.2 Peso/Volume A concentração na unidade Peso/Volume (p/v%) é expressa pela relação entre a massa em gramas de um soluto com um determinado volume, em mililitros, de solução: ( ) ( ) massa g do soluto p / v% x100 volume mL da solução = 22 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I 1.2.7.3 Volume/Volume Na unidade Volume/Volume (v/v%) o soluto e a solução são expressos em mililitros e relacionados da seguinte forma: ( ) ( ) volume mL do soluto v / v% x100 volume mL da solução = Soluções que contêm álcool etílico (etanol) normalmente são expressas em v/v%, e, no momento de prepará-las, devemos lembrar que não é possível simplesmente separar a parte em água e álcool e misturar, pois, como as moléculas do álcool são bastante polares, serão atraídas pelas da água e “entrarão” no meio delas, ocupando os espaços vazios. Sendo assim, ao preparar uma solução em que a água é o solvente e o álcool é o soluto, devemos proceder como no exemplo a seguir: Exemplo: prepare uma solução de 300 ml (v/v%) com 50% de álcool. 1 – Devemos relembrar o que foi dito anteriormente sobre a polaridade do álcool para não cometermos o erro de simplesmente pegar 150 mL de álcool e misturar com 150 mL de água, pois isso não resultaria numa quantidade exata de 300 mL de solução. 2 – Para fazer a solução na quantidade correta em que foi pedida, devemos adicionar 150 mL de álcool num frasco e então completar o volume com água até os 300 mL. 3 – Feito isso, é preciso conferir novamente o menisco e ver se é necessário completar com mais um pouco de água para novamente atingir os 300 mL. Por que quando misturamos álcool (etanol) com água o volume final é menor do que o esperado? Faça este experimento na sua casa: coloque 100 ml de álcool num recipiente graduado e, então, adicione também 100 ml de água. Misture os dois líquidos (delicadamente para não derramar). Ao observar o volume final, você verá que não serão 200 ml, mas sim algum valor menor! Esse fenômeno acontece porque as moléculas do álcool e da água possuem átomos de hidrogênio e oxigênio ligados que, ao se colidirem, formarão pontes de hidrogênio. Entre as moléculas de água há espaços vazios e, ao se ligarem, as moléculas de etanol ocupam esses espaços, diminuindo a distância entre as moléculas das duas substâncias e, assim, diminuindo o volume final da solução água + álcool. 23 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Átomo oxigênio Átomo hidrogênio Ponte de hidrogênio Espaço entre as moléculas de água Figura 8 – Moléculas de água ligadas pelas pontes de hidrogênio 1.2.7.4 Partes por milhão Na unidade partes por milhão (ppm) é possível determinar concentrações de solutos extremamente pequenos através desta unidade. Uma aplicação muito comum e rotineira do ppm ocorre na medição de poluentes do ar atmosférico e é também muito usada para medir contaminação em água. A relação nesta unidade calcula quantas partes do soluto há em 1 milhão (106) de partes da solução. Devemos entender que numa quantidade gigantesca de solvente os solutos, quando em pequeninas quantidades, podem parecer inofensivos, porém, isto não é verdade, alguns podem causar graves danos à saúde. Temos alguns exemplos como o do metal mercúrio (Hg), que contamina águas de rios e mares e, quando em excesso, deposita-se no corpo humano, causando danos irreversíveis no sistema nervoso. Também existem as unidades de concentração partes por bilhão (ppb) e partes por trilhão (ppt). 1 parte de soluto 1 ppm 1 milhão partes da solução 1 parte de soluto 1 parte de soluto 1 ppb e 1 ppt 1 bilhão partes da solução 1 trilhão partes da solução = = = Observação A unidade ppm (partes por milhão) é muito utilizada para demonstrar a quantidade de flúor presente em pastas de dente. Esses valores são de extrema importância, principalmente nos cremes dentais de uso infantil, pois o excesso de flúor na infância pode causar danos aos dentes (doença denominada fluorose, caracterizada por diversas manchas brancas nos dentes), enquanto a falta desse elemento poderá afetar severamente a dentição, pois ele é imprescindível na prevenção das cáries. Portanto, a quantidade de flúor deve ser controlada para que seja seguramente usado e tenha sua eficácia garantida. 24 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Figura 9 – Rótulo de creme dental demonstrando a quantidade de flúor presente na forma do sal fluoreto de sódio 1.3 Soluções coloidais Como já vimos anteriormente, as soluções são homogêneas, isto é, o soluto se dissolve no solvente e se agrega a ele. Isso, em parte, se deve ao tamanho das partículas do soluto, que nesse caso devem ter aproximadamente 1 nanômetro (1 nm = 1x10-9 metros). Quando o soluto possui partículas maiores que 1.000 nm, elas terão a tendência de se depositar no fundo (precipitar) do recipiente em que estão, e esse sistema se chamará suspensão. São exemplos disso as misturas, em geral líquidas, que avisam no rótulo “agite antes de usar”, o que deve ser feito para que você use a substância na concentração correta e, assim, não ocorram alterações no sabor e na textura e nem mesmo atividade farmacológica, como é o caso, dos sucos industrializados e de muitos antibióticos líquidos. Porém, temos também substâncias que possuem solutos com partículas de tamanho entre 1 e 1000 nm que não se encaixam nas características de solução nem de suspensão: são os chamados coloides. A denominação coloide pode se referir apenas à partícula coloidal ou ao sistema coloidal como um todo. Esse sistema disperso nada mais é do que partículas pequenas de um material dispersas em outro e que, diferentemente da suspensão, não precipitam pela ação da gravidade. Consistem em um soluto, que aqui recebe o nome de partículas coloidais ou fase dispersa, o qual é disperso num solvente, que pode ser chamado de meio coloidal, meio disperso ou fase contínua. O meio de dispersão pode ser sólido, líquido ou gasoso. Tabela 2 – Relação entre o tamanho da partícula e o tipo de composto formado Composto Tamanho das partículas Características Solução verdadeira Inferior a 1 nm Não há separação entre soluto e solvente. Coloide Entre 1 nm e 1000 nm Ocorre separação das partículas pelos processos de ultracentrifugação ou ultrafiltração. Suspensão Superior a 1000 nm As partículas sedimentam espontaneamente ou podem, também, serem separadas por filtração. 25 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Para diferenciar soluções coloidais de soluções verdadeiras, existem poucos métodos. O mais comum é chamado de efeito Tyndall, no qual o líquido deve ser iluminado com um facho de luz; se for um coloide, o facho de luz será refletido no líquido devido ao maior tamanho das partículas de soluto. Nas soluções verdadeiras com soluto muito pequeno, não é possívelver a luz refletida. As pequenas partículas de um coloide geralmente possuem 500 nm, mas também podem ser nanopartículas de 100 nm que irão atravessar um papel de filtro, porém, refletirão a luz e, assim, serão diferenciadas de uma solução. A figura a seguir demonstra o efeito Tyndall em dois tipos de líquidos diferentes. A luz da lanterna atravessa o líquido amarelo; portanto, o copo contém uma solução verdadeira (não coloidal). Em contrapartida, o líquido vermelho reflete a luz; isso significa a presença de partículas maiores de soluto, o que caracteriza um coloide. Figura 10 – Demonstração do efeito Tyndall 1.3.1 Tipos de soluções coloidais 1.3.1.1 Sol São coloides formados quando há a dispersão de um sólido num meio líquido. Temos como exemplo as colas e tintas. Há também o sol sólido, em que um composto sólido está disperso num dispersante também sólido. Temos como exemplos a maioria das pedras preciosas e os vidros. 1.3.1.2 Aerossol Neste tipo de solução coloidal, o meio de dispersão é um gás. Temos como exemplos: • fumaça (partículas líquidas ou sólidas dispersas num gás/ar); • desodorantes spray (partículas líquidas num gás comprimido); • neblina (líquido disperso num gás). Numa estrada é possível visualizar as partículas líquidas através da luz dos faróis acesos de um carro ao iluminar a neblina (efeito Tyndall). 26 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Figura 11 – Aerossol formado por um desodorante spray, no qual há partículas líquidas dispersas num gás comprimido 1.3.1.3 Espuma Neste sistema coloidal, um meio líquido ou sólido serve de dispersão para bolhas de gás. Um delicioso exemplo é o marshmallow, no qual há coloides de gás dispersos num sólido. Outro exemplo são as espumas em geral, em que coloides de gás dispersam-se em líquidos e sólidos. Neste caso, há uma particularidade: geralmente, as bolhas desses coloides são maiores que 1000 nm, porém, a distância que existe entre uma e outra é bem pequena (< 1000 nm); por esse fato, as espumas são consideradas sistemas coloidais. Figura 12 – A clara em neve é um exemplo de sistema coloidal do tipo espuma. Nesses compostos, partículas de gás ficam dispersas em sólidos ou líquidos 27 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA 1.3.1.4 Gel Sistema coloidal que consiste, geralmente, em água retida num sólido, que no caso é uma rede cristalina tridimensional. Essa rede é composta de minúsculos cristais inorgânicos que se mantêm unidos por forças de Van der Waals; assim, a água, após ser absorvida, é envolvida por esses cristais, ficando presa dentro de um sistema formado por moléculas poliméricas de cadeia longa. Temos como exemplos vários géis que são muito usados na indústria de cosméticos, medicamentos para diversos fins e, também, as coloridas gelatinas. A B Figura 13 – Gel para cabelo (A) e balas de gelatina (B). Exemplos do sistema coloidal gel 1.3.1.5 Emulsão Neste caso, coloides com partículas líquidas ficam dispersos num meio também líquido. A maioria das emulsões líquidas é formada por água em óleo, na qual este último representa um líquido orgânico que não se mistura (é imiscível) com a água. São exemplos: leite, maionese, manteiga. As emulsões podem ser classificadas em: • Emulsão de óleo em água (O/A): nesse tipo de emulsão, a água é a fase contínua (meio de dispersão) e o óleo, as partículas coloidais, isto é, pequenas gotículas que ficam dispersas no meio coloidal (fase dispersa). Temos como exemplo o leite, que tem a água como meio de dispersão de pequenas gotículas de gordura, o que se torna possível pela ação emulsificante de uma proteína do leite denominada caseína. Também encontramos ampla gama de emulsões produzidas para fins cosméticos e terapêuticos. • Emulsão de água em óleo (A/O): nela, partículas de água ficam dispersas num meio de dispersão oleoso. Um exemplo desse tipo de emulsão é a margarina. Muitas receitas culinárias pedem manteiga nos ingredientes, porém, inúmeras vezes ela é substituída pela margarina, o que pode fazer com que o prato não fique tão bom, pois a margarina é muito mais rica em água do que a manteiga e isso pode interferir em algumas combinações de alimento. 28 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Quadro 1 – Tipos de coloides e exemplos Tipo de solução coloidal Partícula dispersa (soluto) Meio de dispersão (solvente) Exemplos Sol Sólida Líquido Tintas, pasta de dente Aerossol Sólida ou líquida Gasoso Poeira, desodorante spray Espuma Bolhas de gás Líquido ou sólido Chantilly, isopor Gel Líquida Sólido Gelatinas, queijos Emulsão Líquida Líquido Leite, maionese A maionese é um molho no qual há a combinação de dois ingredientes que, normalmente, não se misturam: óleo e água. Por isso, é considerada uma emulsão. Ela é composta de óleo vegetal, ovos (que são metade água) e vinagre ou suco de limão. Primeiramente, é feita a mistura aquosa entre ovo e limão e, em seguida, deve-se ir adicionando o óleo aos poucos, misturando vigorosamente. Essa ação é muito importante para formar a emulsão, pois através dela o óleo é desmanchado em gotículas que se dispersam na fase aquosa. O agente estabilizante dessa emulsão é a lecitina, a qual está presente na gema do ovo. Figura 14 – Maionese: exemplo muito comum de emulsão 29 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA 1.3.2 Classificação dos coloides 1.3.2.1 Coloides liofílicos Os coloides liofílicos são substâncias que têm afinidade pelo solvente, e, sendo assim, sua dispersão no meio é espontânea. Caso o solvente seja a água, são denominados coloides hidrófilos. Estas partículas coloidas se dispersam com mais facilidade, pois, geralmente, possuem uma certa semelhança química com o meio de dispersão (solvente). Por exemplo: ambas possuem em suas moléculas grupos hidroxila (-OH), o qual forma ligações entre os hidrogênios. 1.3.2.2 Coloides liofóbicos Os sóis – coloides sólidos dispersos num meio líquido – que não têm a capacidade de se dispersar nesse meio espontaneamente são considerados liofóbicos, isto é, possuem aversão ao líquido ao qual serão misturados. Esses sistemas coloidais são instáveis termodinamicamente e, por isso, podem separar- se em duas fases distintas, ocorrendo precipitação, que pode ser rápida ou bem lenta. Como exemplo de coloides liofóbicos temos os sóis de metais. Se esse sistema coloidal possuir água como solvente, receberá o nome de coloide hidrófobo. 1.4 Micelas Num meio de dispersão aquoso, as moléculas de um soluto ou os íons de um agente surfactante podem se unir e formar aglomerados que recebem o nome de micelas. As micelas são grupos de moléculas que possuem o tamanho de uma partícula coloidal, na qual as “caudas” hidrofóbicas (parte da molécula que repele a água) das moléculas que formam a micela terão a tendência de se unir umas às outras, formando uma área dentro da micela totalmente repelente à água, enquanto as “cabeças” das moléculas, que são hidrofílicas (possuem afinidade pela água), formarão uma película que separará o meio interno da micela do meio externo, o qual é o meio de dispersão aquoso. Esse fenômeno permitirá, por exemplo, que partículas de óleo fiquem dispersas em água, pois mesmo sendo insolúveis nela, estão envoltas e protegidas por uma “película” que tem afinidade pelo meio aquoso. Para solubilizar a água em solventes apolares – que, pelo fato de a água ser polar, são totalmente hidrofóbicos –, formam-se as micelasreversas. Nesse caso, as cabeças polares das moléculas unem-se voltadas para o interior da micela, enquanto as caudas hidrofóbicas interagem com o meio externo e, assim, permitem a dispersão da água num solvente orgânico, pois levam a água retida no interior da micela. Em geral, as moléculas de sabão formam micelas para remover a gordura e, assim, realizam uma limpeza mais eficiente quando comparada à água pura. Isso acontece porque, como sabemos, a água não se mistura com óleo ou gordura; então, para facilitar processos de limpeza, o sabão torna-se um grande aliado, pois forma micelas que 30 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I envolvem as partículas de gordura e, assim, conseguem dispersá-las na água e então removê-las mais facilmente. As micelas formadas nesse processo possuem a parte polar (ou hidrofílica) em sua parte externa, ou seja, na parte que fica em contato com a água, e, portanto, consegue caminhar livremente pelo solvente. Enquanto a parte interna da micela é apolar (lipofílica), e nesse local a gordura entrará por afinidade e ficará aprisionada, podendo então percorrer o solvente aquoso juntamente com a micela. 1.5 Preparo das soluções coloidais Por serem coloides liofóbicos, isto é, não ter afinidade, e sim repulsão pelo solvente, que neste caso é a água, as emulsões necessitam de agentes que promovam a interação das partículas com o meio, os quais são denominados agentes emulsificantes. O emulsificante estabiliza a emulsão formando uma fina película que cobre superficialmente a interface de cada gotícula coloidal (partículas). Isso impede que elas se agreguem (coagulem) e assim as mantém dispersas no meio coloidal. Quando as partículas liofóbicas desses coloides adsorvem íons – por meio de uma corrente elétrica –, elas ficam “carregadas” e, com isso, ocorre uma natural repulsão entre cargas iguais que resultará numa não agregação dessas partículas e evitará a sua sedimentação, impedindo a separação entre as fases. Por causa disso, os coloides depois de prontos passam por um processo de purificação chamado eletrodiálise, no qual se retira grande parte destes íons. Muitos coloides liofóbicos também podem ser produzidos por quebra mecânica de partículas maiores em pequenas, tornando-as partículas coloidais, que, por terem seu tamanho diminuído, conseguem dispersar-se mais facilmente no meio coloidal. Por exemplo, podemos preparar emulsões entre uma partícula líquida que possui aversão ao meio líquido onde deverá ser dispersa quebrando essas partículas através de vigorosa agitação e, depois, adicionando um agente emulsificante ou surfactante (substância somente ativa superficialmente) para estabilizar a emulsão. Qual a diferença entre adsorção e absorção? Apesar da semelhança entre as palavras, tratam-se de processos bem diferentes. Na adsorção ocorre a fixação, adesão de moléculas numa determinada substância que será denominada adsorvente. Um exemplo comum é o do carvão, um excelente adsorvente de moléculas malcheirosas em nossa geladeira (basta colocar um pedaço dentro do refrigerador e este se tornará inodoro). Os filtros de carvão ativado também são utilizados nas estações de tratamento de água. Sua função é retirar os contaminantes, auxiliando no processo de purificação da água. 31 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Já a absorção trata de “trazer” moléculas para dentro, sugá-las, mas sem incorporá-las. Um clássico exemplo é o de uma esponja, que possui a capacidade de se encher de água, mas elimina facilmente essa água absorvida ao ser espremida. Figura 15 – Representação do fenômeno da adsorção sobre carvão. As bolinhas azuis representam o carvão ativado, e as bolinhas coloridas estão representando moléculas de gases hipotéticos que circulam numa geladeira Saiba mais Recomendamos a seguinte leitura: MORITA, T. Manual de soluções, reagentes e solventes. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2007. 1.6 Propriedades coligativas São as propriedades das soluções que possuem relação entre si. O termo coligativa vem da palavra em latim colligatus, que significa “unidos”. A adição de um ou mais solutos num solvente interfere diretamente nessas propriedades, pois quando um solvente puro recebe outra substância (soluto), sua fração molar é diminuída e, com isso, o potencial químico desse solvente também é reduzido, o que causa alterações nas quatro propriedades coligativas de uma solução. São elas: • diminuição da pressão de vapor; • aumento do ponto de ebulição normal; • diminuição do ponto de congelamento normal; • aumento da pressão osmótica. 32 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Propriedades coligativas Pressão osmótica: passagem do solvente de um ambiente menos concentrado para um mais concentrado Tonoscopia: diminuição da pressão de vapor do solvente Ebulioscopia: aumento da temperatura de ebulição do solvente Crioscopia: diminuição da temperatura de congelamento do solvente Figura 16 – Propriedades coligativas 1.6.1 Diminuição da pressão de vapor (abaixamento tonoscópico) Propriedade que ocorre em um líquido que está fechado num frasco, mas que pode evaporar. Quando essa evaporação acontece, moléculas de gás vão para a superfície do líquido, pois querem escapar dali. Assim, exercem a denominada pressão de vapor. Ao adicionarmos um soluto num líquido passível de evaporação, a solução formada terá uma pressão de vapor diminuída quando comparada ao líquido sem o soluto. Isso pode ocorrer por algumas causas, como uma atração entre íons do solvente e do soluto – o que dificultaria a evaporação das moléculas do solvente. A evaporação também pode ser diminuída pela presença de partículas do soluto em toda a superfície da solução, o que dificultaria a passagem das moléculas gasosas. Sendo assim, é possível estabelecer que quanto maior for o número de mols (concentração) do soluto não volátil que está na solução, maior será a diminuição da pressão máxima de vapor. Segue a fórmula para calcular a diminuição da pressão de vapor (tonoscopia) de um sistema: 2P P P∆ = − Onde: P = pressão de vapor da solução; P2 = pressão de vapor do solvente. 33 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Vapor do solvente Solvente puro (ex.: água) Vapor do solvente Solução (ex.: água + glicose) p p’ Figura 17 – Representação da diminuição da pressão de vapor causada pela adição de um soluto (glicose) Observação A palavra volátil é sinônimo de evaporação, que é a passagem de uma substância que está no estado líquido para o estado gasoso. Portanto, uma substância volátil possui a capacidade de evaporar, ou seja, tornar-se gasosa espontaneamente. As moléculas que vão se tornando gasosas começam a exercer uma determinada pressão, chamada de pressão de vapor, e esta indica o quanto do líquido ou solução já se tornou gás. A figura a seguir nos mostra um gráfico que compara o álcool (etanol) e a água e como a elevação da temperatura influencia na evaporação de suas moléculas. Neste caso, como as substâncias são submetidas ao aquecimento, elas entraram em ebulição. Ao observarmos o gráfico, podemos constatar que as duas substâncias, que estão puras, ou seja, sem adição de soluto, conseguem atingir o ponto máximo de 760 mmHg de pressão de vapor. Porém, o álcool atinge essa pressão quando alcança a temperatura de 78,3 ºC; já a água precisa atingir 100 ºC para alcançar o pico máximode pressão de vapor. Esses dados nos fazem concluir que o álcool entra em estado de ebulição mais rapidamente do que a água. 20 ºC 20 ºC Etanol 44mmHg 17,5mmHg Vapor d’àgua Água Manômetro Manômetro Vapor de etanol Figura 18 – Relação entre temperatura e pressão de vapor 34 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Observação O álcool (etanol), por ser uma substância inflamável, nunca deverá ser aquecido no fogo ou sobre a chama do bico de Bunsen. Quando for necessário aquecer uma substância inflamável – ou seja, que pega fogo –, devemos usar uma placa de aquecimento. Há muito modelos dessa placa, mas basicamente todas são elétricas e produzem calor numa chapa metálica ou de cerâmica, na qual o líquido a ser aquecido é colocado (o composto deverá estar dentro de um recipiente de vidro). Figura 19 – Placa de aquecimento utilizada em laboratórios 1.6.2 Aumento do ponto de ebulição (elevação ebulioscópica) O ponto de ebulição de um líquido é aquela temperatura em que o líquido começa a ferver. Temos um exemplo bem comum de como a adição de um soluto interfere no ponto de ebulição. Você pode inclusive testar na sua casa: coloque água para ferver. Ela precisará de 100 ºC para atingir o ponto de ebulição. Meça o tempo até a água começar a borbulhar. Depois, coloque novamente água para ferver, adicione uma colher de sal de cozinha (soluto) e também meça o tempo que levará até começar ferver. Provavelmente a água com sal vai demorar mais tempo para ferver, pois a adição do soluto provocou um aumento no ponto de ebulição, isto é, será necessária uma temperatura maior que 100 ºC para a água com sal ferver. 35 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA água água + glicose te0 te1∆te Figura 20 – Aumento da temperatura de ebulição da água (> 100 °C) causada pela adição de um soluto (glicose) 1.6.3 Diminuição do ponto de congelamento (abaixamento crioscópico) O ponto de congelamento de uma substância é a temperatura em que o líquido se torna sólido, por congelamento. A adição de soluto(s) num líquido puro fará com que o ponto de congelamento desse líquido diminua, ou seja, se tomarmos como exemplo a água, ela se tornará sólida a 0 ºC; porém, se adicionarmos sal nessa água, dependendo da quantidade de NaCl, podemos diminuir o ponto de congelamento dessa solução salina para até -20 ºC. Em países que são afetados pelo excesso de neve, é comum jogar grandes quantidades de sal no gelo para que este derreta mais rapidamente e diminua os transtornos causados pelo inverno rigoroso nas grandes cidades. Isso é possível porque a adição do soluto fará com que a temperatura para manter a água congelada seja menor do que a temperatura climática, e, assim, o gelo se torna água. A crioscopia também nos explica porque os oceanos não congelam nos polos da Terra. Isso acontece porque a água do mar tem diversos solutos (os oceanos são imensas soluções), o que torna seu ponto de congelamento bem menor do que 0 ºC. O gelo, então, é formado pela água mais pura, que fica na superfície do mar devido ao fenômeno de evaporação, em que apenas moléculas de água estão presentes. Figura 21 – Camadas de gelo sobre o oceano polar 36 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Pela fórmula a seguir é possível calcular a diminuição do ponto de congelamento num determinado líquido a partir da adição de um soluto: Tf=Kf.M∆ Onde: ∆TF: quanto o ponto de congelamento irá diminuir; Kf: constante de diminuição do ponto de congelamento (Kf = 1,86 ºC Kg/mol para água); M: molalidade das partículas. água água + glicose tc0 tc1 ∆tc Figura 22 – Diminuição do ponto de congelamento da água (< 0 °C) ocasionado pela adição de soluto (glicose) 1.6.4 Aumento da pressão osmótica (elevação osmoscópica) Para entendermos o que é a pressão osmótica, vamos imaginar a seguinte situação: dois líquidos na mesma quantidade separados por uma fina membrana por onde somente o solvente consegue passar (as partículas do soluto são maiores que os poros da membrana e, por isso, não conseguem atravessá- la). Um dos líquidos será água pura e o outro, uma solução salina concentrada (H2O + NaCl). Após ficarem algum tempo lado a lado, a solução salina terá aumentado seu volume, pois, por ser mais concentrada, “puxa” o solvente de uma solução menos concentrada (no caso água pura), isto é, os solventes sempre fluem, através de membranas, do líquido puro (ou da solução mais diluída) para a solução mais concentrada. Esse processo de passagem de um solvente do meio mais diluído para o mais concentrado é chamado de osmose (que em grego significa “empurrão”). Quanto maior for a quantidade de soluto numa determinada solução, mais força ela terá para exercer a osmose, e para impedir essa entrada de solutos será necessária uma pressão osmótica maior, ou seja, essa pressão é necessária para impedir a osmose e manter o equilíbrio de uma solução. 37 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Caso a pressão osmótica exercida em uma solução seja maior que a osmose, irá ocorrer a chamada osmose reversa, isto é, a água será forçada a atravessar a membrana no caminho inverso, passando do lado mais concentrado (com maior quantidade de solutos) para o mais diluído. Este é um dos processos de purificação da água. A pressão osmótica é muito importante para o nosso organismo, que, por ser constituído na maior parte por água, precisa manter suas soluções fisiológicas equilibradas e na concentração adequada. Temos como exemplo a célula sanguínea humana (hemácia), as quais estão rodeadas por líquido intersticial. Quando a pressão osmótica é a mesma dentro e fora da célula, a água entra e sai nas quantidades corretas, sem diferenças bruscas e sem causar danos na célula, mantendo uma pressão denominada isotônica. Caso esse fluido intersticial se torne mais concentrado que a célula (meio hipertônico), ele promoverá a osmose, fazendo com que a célula perca água para o meio e desidrate (plasmólise). Por outro lado, se o fluido se tornar menos concentrado que a célula (meio hipotônico), ela irá “puxar” água em excesso e romperá (hemólise). Isso nos chama atenção ao cuidado que deve haver no preparo de soluções intravenosas, pois como entram diretamente na corrente sanguínea, se não estiverem em concentração isotônica podem causar graves danos à saúde do paciente. Observação Pipetas são instrumentos de vários tipos e tamanhos utilizados para medir volume e que possuem extrema precisão, mas, para isso, devem ser seguidas algumas regras para usá-las corretamente: • Sempre pipetar com dispositivos adequados (pera de borracha), nunca com a boca. • Usar pipetas intactas, sem pontas quebradas. • Limpar e secar as pipetas antes de qualquer uso. • Utilizar uma pipeta com capacidade de volume o mais próximo possível ao volume a ser medido. • Utilizar sempre a pipeta na posição vertical. • Posicionar os olhos na altura do menisco para evitar erro de leitura do volume (evitar paralaxe, que é leitura errada do valor por causa do ângulo inadequado na posição dos olhos) 38 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Figura 23 – Pipeta de vidro graduada e pera 2 TERMOQUÍMICA 2.1 Energia interna de um sistema A termodinâmica é um ramo da Química que tem como principal foco de estudo as leis e relações entre calor e outrasfontes de energia. Um dos tópicos dessa seção é a chamada termoquímica, a qual estuda as trocas de calor ou energia que acontecem nas reações químicas. O que é calor? Quando lemos essa palavra, pensamos em algo quente, mas de onde vem isso? Vem da energia que está armazenada em um corpo e que foi produzida pelo movimento de suas moléculas. Essa energia fica em determinado corpo até que seja transferida para outro e, assim, o calor pode ser mensurado ou sentido. Por exemplo: quando colocamos nossa mão em uma panela quente e sentimos queimar a pele, isso acontece porque o calor armazenado no alumínio da panela é maior que o calor que está nas nossas mãos, por isso essa energia é transferida para nosso corpo e, assim, podemos sentir – às vezes bem dolorosamente! Portanto, o calor é a energia que é transferida de corpos (ou compostos) mais quentes para corpos mais frios, quando estes entram em contato. A unidade de calor é o joule (J), o qual pode ser medido através de calorímetros. 39 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Observe a figura a seguir: Termômetro Água Agitador Condutores de ignição Isolamento externo Vaso de aço Bomba de aço Cápsula da amostra Figura 24 – Esquema simplificado de um calorímetro Observação Há vários tipos de calorímetro. A função básica desse aparelho é isolar dois corpos ou substâncias do meio externo para impedir a troca de calor com este e, assim, mensurar a temperatura resultante da troca de calor entre dois compostos que estavam em diferentes temperaturas. Para que uma reação química ocorra, são necessários componentes fundamentais que, juntamente com a reação, farão parte de um sistema, isto é, farão parte desse sistema os reagentes, os produtos, o recipiente ou reator onde ocorre a reação e as quantidades de calor e pressão fundamentais para que ela aconteça. Além disso, toda reação química libera ou absorve calor, e essa energia pode ser “medida” através de métodos de calorimetria. Vejamos a equação: q = ∆U + t 40 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Onde: q: é a energia trocada com o meio externo na forma de calor; ∆U: é a variação de energia interna do sistema; t: é a energia trocada com o meio exterior na forma de trabalho. Diferentes fontes de energia, como a eletrônica, cinética e nuclear, fazem parte da energia interna de um sistema, porém, não é possível mensurar totalmente essa energia interna porque é impossível medir os diversos tipos de energia, mas todo sistema possui uma certa energia interna (U) que pode ser medida. Tabela 3 – Relação entre energia e sistema q > 0 sistema absorve calor ∆U > 0 energia interna aumenta t > 0 ocorre expansão q < 0 sistema libera calor ∆U < 0 energia interna diminui t < 0 ocorre compressão q = 0 sistema adiabático ∆U = 0 energia interna constante (isotérmica) t = 0 isocórica Quando fornecemos calor (q) ou, em contrapartida, retiramos calor de um sistema, essa ação terá como resultado a realização de um trabalho (t) e, como consequência, a variação, ou seja, mudança de energia interna nesse sistema (∆U), a qual se manifesta através de trabalho e/ou calor. Assim, podemos observar que a energia em forma de calor se conservou, ou seja, não se perdeu, e sim se transformou (Primeira Lei da Termodinâmica, que diz respeito ao princípio da conservação de energia). Observação Podemos observar a afirmação que acabamos de fazer realizando um simples experimento caseiro. Coloque água para ferver em uma panela tampada. Cuidado! Quando começar a ferver, é possível ver a tampa se mexer; se forçada para sair, e quanto mais forte a água borbulhar, com mais força a tampa baterá, fazendo até barulho. Isso acontece porque o calor que a água recebeu aumentou a temperatura dela, variando a energia interna e, assim, produzindo trabalho (transformação em outro tipo de energia). ∆U Calor fornecido (q) Trabalho (t) ou calor Sistema Figura 25 – Variação da energia interna de um sistema 41 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 FÍSICO-QUÍMICA Quando o sistema é isolado, isto é, não permite a entrada nem a saída de energia, sua energia total interna (U) não muda. Porém, essa energia constante não impede que haja reações e misturas dentro do sistema. Não possuir variações na energia interna não torna o sistema obrigatoriamente estático. A afirmação anterior se refere à Primeira Lei da Termodinâmica: quando um sistema estiver isolado, sua energia interna total permanecerá constante. Segue sua representação matemática: ∆U = 0 Se o isolamento de um sistema tiver a capacidade de impedir a entrada ou saída de calor (q), ele será denominado sistema adiabático e terá a equação: q = 0 2.2 Entalpia A quantidade de energia em uma determinada reação química e, também, a energia interna que cada substância possui recebem o nome de entalpia (H). Quando se realiza uma reação química, ocorre paralelamente o fenômeno da transformação química, isto é, os componentes do sistema estão também se modificando. A variação da energia interna ou da entalpia que ocorre junto com essa modificação pode ser relacionada pela seguinte fórmula: ∆rH = Hf - Hi ou ∆rH = Hprodutos - Hreagentes Onde: ∆rH: variação de entalpia da reação; Hf / Hprodutos: entalpia dos produtos ou final; Hi / Hreagentes: entalpia dos reagentes ou inicial. Reações ou processos químicos que liberam calor são chamados de exotérmicos. Neste caso, a entalpia do sistema diminui; sendo assim, se a pressão no sistema for constante, a variação de entalpia será menor que zero (∆H<0), ou seja, negativa. Inversamente, se a reação química absorver calor, ocorrerá aumento da entalpia e, sendo a pressão constante, a variação de entalpia será maior que zero (∆H>0). Observe a seguir a comparação gráfica entre uma reação exotérmica e endotérmica: 42 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20 18 Unidade I Energia liberada pela reação Produtos Reagentes Reação exotérmica En er gi a Figura 26 – Reação exotérmica Energia absorvida pela reação Produtos Reagentes Reação endotérmica En er gi a Figura 27 – Reação endotérmica 2.3 Variações de entalpia-padrão (∆H∅) Neste caso, ocorre variação na entalpia de substâncias e reações que se encontram em condições consideradas padrão, ou seja, o processo mantém o estado padrão do início ao fim. O estado-padrão de um elemento ou substância é a condição em que ele se encontra quando está na sua forma pura e sobre a pressão de 1 atm (quando é um elemento alotrópico, isto é, quando forma mais de um tipo de substância simples, este deve ser especificado). Mesmo não havendo uma temperatura padrão específica, a grande maioria dos químicos usa como padrão a temperatura de 25 °C. Assim, a variação da entalpia-padrão numa reação, ou num processo químico, será a diferença entre as entalpias dos produtos e dos reagentes, todos em seus estados-padrão e numa determinada temperatura. Exemplo: Variação da entalpia-padrão de vaporização (∆vapHø) Neste caso, é mensurada a variação de energia por mol que ocorre quando uma substância líquida pura (H2O), na pressão de 1 atm, evapora, isto é, transforma-se em gás, também sob pressão de1 atm. ( ) ( ) 12 2H O l H O g onde vapH 40,66kJmol−→ ∆ ∅ = 43 QU IM - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 6 /0 5/ 20
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