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Organização, Legislação e Políticas Públicas 
para o ensino superior 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profa. Dra. Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva 
Profa. Me. Edna Barberato Genghini 
 
 
 
PROFESSORA-AUTORA 
 
Lisienne de Morais Navarro Gonçalves Silva, professora universitária desde 
1999, atuando na educação presencial e a distância. Experiência em todos os níveis 
da educação (educação infantil e fundamental, ensino médio, nas modalidades 
magistério e superior). Gestora de escola de educação infantil por 15 anos, atualmente 
coordena o curso de Pedagogia, há 18 anos, da Universidade Paulista – Unip, campus 
Alphaville. Mestre e doutora em Psicologia da Educação com especialização em 
Psicopedagogia, na qual atua até hoje. Coautora do livro A escola e o aluno: relações 
entre o sujeito-aluno e o sujeito-professor. Desenvolve projetos para atender as 
comunidades da microrregião que congrega os municípios de Barueri, Cajamar, 
Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba. 
Coordena os projetos Oficinas Pedagógicas de Arte e Expressão – que trabalha com 
crianças com dificuldade de aprendizagem da região – e Menos Um – de alfabetização 
de jovens e adultos da região. Participa do grupo de pesquisa Multiletramento na 
Formação Contínua de Educadores, Diversidade e Inclusão nas Práticas Sociais e 
lidera o grupo Linguagens Pedagógicas de Educação a Distância: diversidade em 
ação, da Universidade Paulista – Unip, registrados no CNPQ. Realiza pesquisa na 
área, apresentando trabalhos em congressos nacionais e internacionais. Orienta 
pesquisas de graduação, iniciação científica e pós-graduação da Universidade 
Paulista – Unip. 
 
PROFESSORA COLABORADORA/COORDENADORA 
 
Edna Barberato Genghini é professora universitária desde 2002. Atualmente na 
função de coordenadora para todo o Brasil de três cursos em nível de pós-graduação 
lato sensu: em Psicopedagogia Institucional, Docência para o ensino superior e 
Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista – Unip-EaD, onde 
também atua como professora adjunta nas modalidades SEI e SEPI. É diretora e 
psicopedagoga da Mentor Orientação Psicopedagógica Ltda. Me. desde 1991. Possui 
graduação em Economia Doméstica – Faculdades Integradas Teresa D’Ávila de Santo 
André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), 
pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), mestrado 
em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós-graduação lato 
sensu em Formação em Educação a Distância pela Unip (2011). É autora e coautora 
de livros-texto para cursos de pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia 
Institucional, Docência para o ensino superior e Formação em Educação a Distância 
da Unip-EaD. 
Áreas de interesse: neurociências – educação inclusiva – psicopedagogia 
clínica e institucional – formação e gestão em educação a distância – formação de 
docentes para o ensino superior. 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 5 
UNIDADE I .............................................................................................................................................. 7 
1. ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: ORIGENS E PANORAMA ATUAL ...................................... 7 
1.1 Retrospectiva histórica e panorama da educação superior ........................................................ 7 
1.2 Ensino superior – Contexto histórico ......................................................................................... 14 
1.3 Dados sobre a expansão do ensino superior no Brasil............................................................. 22 
1.4 O avanço do ensino a distância ................................................................................................ 26 
UNIDADE II ........................................................................................................................................... 34 
2. ESTRUTURA DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO ............................................................. 34 
2.1 Organização do ensino superior no Brasil ................................................................................ 34 
2.2 Modalidades de ensino superior ............................................................................................... 43 
2.3 Princípios e propostas da educação superior ........................................................................... 49 
UNIDADE III .......................................................................................................................................... 57 
3. ESTUDO ANALÍTICO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL E SUAS TENDÊNCIAS 
NO MUNDO CONTEMPORÂNEO ........................................................................................... 57 
3.1 Tendências atuais na educação ................................................................................................ 76 
3.2 Formação do aluno-autor .......................................................................................................... 83 
3.3 Educação brasileira na contemporaneidade ............................................................................. 88 
UNIDADE IV .......................................................................................................................................... 97 
4. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ENSINO SUPERIOR ........................................................... 97 
4.1 Estratégias e projetos para a expansão do ensino superior ................................................... 104 
4.2 Democratização do acesso ao ensino superior e inclusão social ........................................... 110 
4.3 Legislação do ensino superior no Brasil aplicada ao EaD ...................................................... 115 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 122 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Caro aluno, 
 
Estamos em um tempo no qual a mudança e a transformação estão presentes, 
marcando o século XXI e, com isso, deparamo-nos com fenômenos políticos, 
econômicos e sociais que pedem um olhar mais crítico. Esse cenário afeta todos os 
setores da sociedade, inclusive a educação, a base estruturante de uma nação, sendo 
necessário que seus atores (professores, gestores e colaboradores) reflitam e se 
coloquem como agentes ativos. Esse livro-texto tem como objetivo dar subsídio para 
se pensar a educação e buscar atuar, em sala de aula, de maneira transformadora e 
consciente, entendendo o processo, estando a par das leis e de suas consequências 
no país. 
Ao longo dos textos, buscaremos levá-lo a entender o contexto sócio-histórico 
e econômico que levaram a transformações tão fortes e suas consequências no 
mundo globalizado. Com a leitura e discussão desse texto, levaremos você a 
compreender a dinâmica da sociedade capitalista, chamada de sociedade da 
informação e do conhecimento rápido e imediatista. Nessa perspectiva, analisaremos 
a legislação brasileira educacional e a situação da aprendizagem de qualidade diante 
do direito à educação de qualidade estabelecida pela Constituição Federal de 1988 e 
demais leis, decretos e declarações. 
Assim, para que você consiga acompanhar a evolução e sistematizar o 
conhecimento, o livro-texto foi dividido em quatro partes, sendo a primeira o contexto 
histórico; a segunda as estruturas do ensino superior no Brasil; na terceira, veremos 
um panorama das políticas educacionais no Brasil e, na quarta, estarão presentes as 
políticas públicas. 
Desejamos um excelente estudo, com contribuições pontuais e efetivas na sua 
formação. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A educação é uma das fontes transformadoras de um país que garante o 
desenvolvimento, a democracia, os direitos a igualdadee permanência, sustenta a 
paz e possibilita o crescimento intelectual da população de uma sociedade. Sem 
educação, a população fica aleijada, sem argumento e força para mudança. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 26, afirma que: 
 
todo ser humano tem direito à instrução gratuita nos graus elementares 
(obrigatória) e fundamentais. Uma instrução acessível e a superior baseada 
no mérito, sendo orientada para o desenvolvimento integral da personalidade 
e fortalecimento do respeito e liberdade do ser humano. A instrução deve 
promover a tolerância e a amizade entre os diferentes, tendo como base o 
respeito e a manutenção da paz (ONU, 1948). 
 
Esse e outros artigos garantem e afirmam a importância da educação gratuita 
e acessível a todos para uma sociedade igualitária. 
Embora as primeiras universidades tenham como marco inicial o primeiro 
milênio na Europa, a história nos mostra que, no século IV a. C., no norte do Egito, a 
cidade de Alexandria tornou-se o centro do conhecimento, com a construção de sua 
biblioteca por Ptolomeu, destacada como centro cultural de Roma e Atenas por reunir 
um número grande de documentos, sendo considerada a primeira universidade, a qual 
formou cientistas como Euclides e Arquimedes. 
Como vimos, caro aluno, a universidade era um espaço que buscava 
conhecimento, estudos, descoberta e pesquisa, em um formato diferente do que 
vemos hoje. Faziam parte desse ambiente os estudiosos ávidos pelo saber, uma 
população pequena que se juntava para estudos aprofundados sobre temas como 
matemática, astrologia e filosofia. Hoje, a universidade é um espaço democrático, 
pertencente a todos, com diferentes objetivos, que não são, necessariamente, 
desbravar a magia do saber. 
Nesse ciclo de chegada das universidades, Bolonha (Itália), em 1088, é a 
pioneira, seguida pela Inglaterra (Oxford), em 1096, e pela França, em 1208. Essas 
universidades serviram como modelo para as demais no mundo inteiro. 
Na América Latina, a primeira universidade foi na República Dominicana – 
Universidade de São Domingos (1538) – e depois no Peru (1551), seguida por México, 
Bogotá, Cuzco, Havana, Santiago (1738). No Brasil, se considerarmos as escolas 
superiores, temos a de cirurgia na Bahia (1808), de Direito, em São Paulo e Olinda 
(1827) e universidades estruturadas apenas no século XX. 
Infelizmente, o Brasil foi o mais atrasado na implantação das universidades, 
realçando a falta de interesse da Coroa e dos comandantes da época. Tivemos um 
início de interesse com a Companhia de Jesus, que criou os cursos de Filosofia e 
Teologia, em 1572. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1752, o ensino passou 
por uma crise. 
 
 
 
A expulsão dos jesuítas em 1759 provocou uma séria crise do ensino no 
Brasil, uma vez que eles detinham a maioria dos educandários da colônia. 
Contudo, algumas instituições vieram a destacar-se nesse período de 
dificuldades. Uma delas foi o Seminário de Nossa Senhora da Boa Morte, em 
Mariana, fundado pelo Bispo D. Frei Manuel da Cruz em 1748, por 
autorização de D. João V. Embora inicialmente o seminário estivesse sob a 
tutela jesuíta, poucos anos depois ela cessou, em decorrência da política 
antijesuítica do Marquês de Pombal20. Mesmo que o seminário não fosse um 
centro de ensino superior, ele teve grande importância na formação de muitos 
brasileiros ilustres. Lá havia um professor de filosofia que se tornou bastante 
conhecido por sua participação na Inconfidência Mineira, o Cônego Luís 
Vieira da Silva. Vieira da Silva possuía uma importante biblioteca particular, 
com centenas de volumes, entre os quais muitos tomos de matemática, física, 
história natural e química, todos devidamente arrolados nos autos do 
sequestro feito quando de sua prisão como conjurado (BARRETO, 2007, 
p. 1782). 
 
As grandes perguntas que permearão nossa conversa são: “por que o Brasil 
demorou tanto para implantar a universidade? Quais interesses circundam essa 
lacuna intelectual na população?”. Tentaremos trazer uma reflexão sobre o tema, 
fazendo com que você não apenas entenda a dinâmica política da educação, mas 
entre na sala de aula com um olhar transformador. Pronto para começar os estudos? 
Vamos lá! 
 
 
7 
UNIDADE I 
 
1. ENSINO SUPERIOR NO BRASIL: ORIGENS E PANORAMA ATUAL 
 
Se quisermos responder às perguntas: “por que o Brasil demorou tanto para 
implantar a universidade? Quais interesses circundam essa lacuna intelectual na 
população?”, teremos de fazer uma reflexão sobre o tema fazendo com que você, 
aluno, não apenas entenda a dinâmica política da educação, mas também o faça a 
partir de um olhar crítico, transformador. 
 
1.1 Retrospectiva histórica e panorama da educação superior 
 
Já vimos anteriormente que Itália, França e Inglaterra foram os primeiros 
países a valorizarem a formação mais aprofundada. Comecemos esse capítulo com 
um pouco de imagens. Vejamos como eram as primeiras universidades do mundo. 
 
Figura 1 – Universidade de Bolonha1 
 
 
 
1Disponível em: https://super.abril.com.br/. Acesso em: 13 dez. 2019. 
https://super.abril.com.br/
 
8 
Figura 2 – Universidade de Oxford 
 
Fonte: University of Oxford2. 
 
Figura 3 – Universidade de Oxford 
 
Fonte: India Today, 20183. 
 
Figura 4 – Universidade de Paris 
 
Fonte: Universidades Francesas, 20154. 
 
 
2Disponível em: https://www.ox.ac.uk/about/organisation/history?wssl=1. Acesso em: 13 dez. 2019. 
3Disponível em: https://www.indiatoday.in/education-today/scholarships/story/-want-to-study-in-
oxford-university-apply-before-july-31-for-rhodes-scholarship-1287017-2018-07-16. Acesso em: 
13 dez. 2019. 
4Disponível em: http://www.universidadesfrancesas.com.br/as-3-universidades-mais-antigas-da-
franca/. Acesso em: 13 dez. 2019. 
https://www.ox.ac.uk/about/organisation/history?wssl=1
 
9 
Estudos mostram que a universidade, o espaço de pesquisa ao encontro do 
saber, sempre foi interesse de poucos, de uma elite intelectual. Saber não era para 
todos, mas muito valorizado pela população de posses. 
No século XII, em Paris, havia escolas avançadas no conhecimento de arte, 
direito e medicina, deixando para a Europa um legado histórico de pesquisa e 
estudo. 
As universidades, em sua origem, sempre tiveram dois vieses: o de busca e 
o de preservação do saber, um espaço que guarda um espírito de pesquisa e 
seriedade. Hoje, apenas algumas conservam esse aspecto. 
Cabe ressaltar o poder do clero sobre o saber. Por muito tempo, a Igreja foi 
a detentora do espaço da investigação. 
As universidades foram espaços importantes para o avanço das ciências e 
de construção de espaço para compartilhar e desenvolver ideias novas. 
De acordo com Rashdall (1936), a universidade tinha uma conotação de um 
amontoado de estudantes ou pessoas, mudando, no século XIII para um grupo de 
estudantes e mestres. Rashdall se interessou e estudou as universidades 
medievais e suas contribuições para o que temos hoje. Segundo esse autor, elas 
guardam mais histórias que as igrejas que tanto se estuda e visita. 
As universidades tiveram um marco importante para a burguesia e para a 
ciência e seu desenvolvimento. As instituições surgem para responder a questões 
de interesse da elite. Portanto, vale ressaltar que as descobertas servem para o 
homem. 
O texto apresentado abaixo traz uma visão sobre o interesse nas 
universidades. O autor focou sua pesquisa na história da universidade de Bolonha, 
considerada a primeira do mundo. Vale a pena! 
Boa leitura. Aproveite esse momento de conhecer mais. 
 
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A Universidade Medieval: Uma Memória 
 
Terezinha Oliveira 
 
[...] O primeiro fato ao estudar as origens das Universidades, o primeiro 
problema com o qual Savigny se depara é a dificuldade de se definir um fato 
específico que teria marcado o nascimento dessa Instituição. Do seu ponto de vista, 
essaorigem pode ser explicada pela existência de um grande mestre, por um 
privilégio imperial, por uma concessão eclesiástica, enfim, nada assegura, com 
exatidão, o acontecimento que permitiu o nascimento dessa corporação. 
É exatamente por causa dessa dificuldade que Savigny decide buscar as 
origens da Universidade na cidade de Bolonha, pois lá seria encontrado o 
documento mais antigo que legisla sobre a criação da primeira unidade dessa 
Instituição, a Universidade de Bolonha. Cumpre observar aqui que não podemos 
nos esquecer da formação desse intelectual. Trata-se, como já mencionamos, de 
um jurista, portanto, as leis constituem um elemento essencial de sua abordagem. 
Isso não quer dizer, contudo, que Savigny não possa ser encarado do ponto de 
vista da história, muito pelo contrário. 
O fato histórico do qual devo tratar é o privilégio concedido por Frederico I 
em novembro de 1158, na assembleia de Roncaglia. Embora Bolonha não tenha 
sido escolhida não tinha como não lhe conceder esse privilégio. O privilégio foi 
estabelecido em favor daqueles que viajam com o intuito de estudar e os 
professores de direito são especialmente mencionados com palavras muito 
honrosas. 
 
[…] Este privilégio tinha dois objetivos: em primeiro lugar concedia 
proteção especial aos estudantes estrangeiros que por amor a ciência 
enfrentavam tantas dificuldades. Eles tinham o direito de viajar livremente 
por toda parte, era proibido submetê-los a qualquer tipo de vexação sob 
pena de severíssimas punições, também não podiam ser acusados pelos 
delitos ou pelos erros de seus compatriotas. Existia, além disso, uma 
jurisdição particular fora da qual não poderiam ser conduzidos 
(SAVIGNY, 1844, p. 108-109). 
 
A passagem acima explicita claramente que os estudantes e mestres, 
especialmente os de direito, passaram a ter determinados privilégios que lhes 
possibilitaram se dedicarem com mais tranquilamente aos estudos. E um dos mais 
importantes privilégios nesse sentido foi a liberdade dada aos homens de saberes 
para que pudessem viajar livremente. Para nós, contemporâneos, esse direito é 
 
11 
algo bastante estranho, na medida em que temos, em geral, inteira liberdade de 
viajar. 
Contudo, para o homem medieval isto era bem diferente, embora essa 
sociedade seja a de “andarilhos”, os homens não podiam viajar sem a autorização 
de seus senhores, fossem laicos ou eclesiásticos. Além disso, eram 
constantemente importunados nas paragens, nos pedágios. Ao dar liberdade de 
locomoção, Frederico I permite ao menos no âmbito da legislação, que os homens 
dedicados ao conhecimento não passassem mais por esses aborrecimentos. 
Paulo Nardi, um teórico contemporâneo, ao analisar as relações entre as 
Universidades e os poderes (laico e eclesiástico, entenda-se governo), chama-nos 
a atenção para a importância da lei de Frederico I, a Authentica Habita, mencionada 
por Savigny. 
Nardi, do mesmo modo que o jurista alemão considera que a primeira 
medida real de proteção “às gentes de estudo” foi tomada por Frederico I, em fins 
do século XII, por ocasião da promulgação de uma “constituição”, intitulada 
Authentica Habita, na qual se colocava sob proteção o saber científico e todos 
aqueles que se dedicassem a ele, fossem habitantes naturais da Itália ou 
estrangeiros. 
 
[…] a Authentica Habita, uma constituição publicada pelo imperador 
Frederico I, o Barba Roxa, quando foi a Itália pela primeira vez para 
receber a coroa. Ele reuniu-se com os mestres e estudantes da escola de 
Direito em Maio de 1155, perto de Bolonha. Segundo o autor anónimo de 
‘Carmen de gestis Frederici I’, aqueles suplicaram ao imperador que 
proibisse o exercício do direito de represália contra os escolares 
estrangeiros (captura de pessoas ou propriedade para satisfazer dívidas 
em que incorriam os seus compatriotas) e que lhes concedesse a todos 
liberdade de movimento Para que todos os homens inclinados ao estudo 
sejam livres de ir e vir e vivam em segurança […] Frederico I, o Barba 
Roxa, publicou imediatamente a famosa constituição em que – em 
primeiro lugar – afirmava o valor preeminente do saber científico e 
reconhecia que todas as pessoas que, em busca desse saber, eram 
obrigadas a viver longe do seu país eram dignas de louvor e mereciam 
proteção (NARDI, 1996, p. 76). 
 
De acordo com o autor, as medidas promulgadas pela Authentica não foram 
totalmente respeitadas, inclusive em função das condições históricas da época. A 
insegurança que rondava as cidades, a rejeição aos estrangeiros, a pouca 
importância que a população citadina dava aos homens que se devotavam ao 
saber, os privilégios dos mestres e dos escolares em relação à população local, ou 
seja, um conjunto de condições e fatores obstaculizaram o livre cumprimento dessa 
lei. Contudo, isso não impediu que novas leis fossem criadas pelo rei, na Itália, 
visando a proteção das “gentes do saber”. Isso demonstra que se tratava de uma 
luta intensa para estabelecer e proteger o saber, pois, mesmo o rei não estava 
conseguindo. 
 
 
12 
Em 1220, Frederico II edita uma nova lei para proteger as pessoas que se 
devotavam ao saber, especialmente as do Direito de Bolonha e de Nápoles. Aliás, 
há que se destacar um fato notável: o rei promulga essa lei no dia da sua coroação, 
o que demonstra a importância dessa instituição para o seu governo. 
 
No dia da sua da sua coroação, em 22 de Novembro de 1220, o imperador 
Frederico II promulgou a constituição denominada De statutis et 
consuetudinibus contra libertatem Eclesiae editis, em que se salvar 
guardavam as imunidades e privilégios do clero, e ordenou aos juristas de 
Bolonha que o integrassem no grande Corpus de Direito Romano. Ele 
mostrava, deste modo, que o poder político imperial continuava interessado 
nas escolas de Direito, no seguimento de uma tradição que já remontava à 
constituição Habita, mas que depressa foi interrompida pela guerra e pela 
crise dinástica que precedeu a sua ascensão ao trono. Mesmo assim, o 
imperador Frederico II não tinha intenção de competir com o Papa como 
protector do studium de Bolonha; tinha, porém, outros planos, mais 
ambiciosos – como viriam a mostrar os anos de sua enérgica governação 
da Itália. O seu primeiro acto importante no campo da política acadêmica foi 
a fundação do studium de Nápoles, com o objetivo de formar a classe 
dirigente do reino da Sicília – um território que não era menos querido a 
Frederico II do que o Sacro Império Romano. Em 1224, enviou uma carta a 
todos os dignatários do reino, na qual expunha as razões para a sua decisão 
e o modo como esta deveria ser posta em prática; esta carta fazia eco de 
partes da constituição Habita e seguia algumas de suas directivas. Mas por 
razões completamente diferentes: embora ambos os documentos 
mostrassem a intenção de proteger os estudantes e os professores em 
relação aos desconfortos do estatuto de estrangeiros (peregrini), a 
constituição Habita oferecia protecção a todos os centros de ensino 
possíveis e proibia represálias de qualquer espécie, ao passo que a <> de 
1224 limitava essa protecção aos indivíduos que freqüentassem o studium 
de Nápoles. (NARDI, 1996, p. 84-85). 
 
Essa nova lei lembrava, em muitos aspectos, a Authentica. Todavia, ela está, 
efetivamente, mais dirigida ao ensino do direito, objetivando conservar os privilégios 
do clero na Universidade de Bolonha e proteger os alunos e os studi da Itália, em 
virtude, inclusive, da ambição política de Frederico II de expandir o seu Império. 
Nesse sentido, essa nova lei se diferencia da de 1155 uma vez que aquela estendia 
a proteção e o privilégio a todos os estudantes, inclusive aos estrangeiros e aos 
diferentes studia sob o governo de Frederico I. 
Disponível em: Dialnet-AUniversidadeMedievalUmaMemoria-2227065.pdf. 
Acesso em: 8 nov.2018. 
 
O texto possibilita entender o caminho percorrido pelas universidades e os 
interesses que guardavam o surgimento e a abertura das demais. 
Percebe-se que surgem da decadência dasescolas religiosas devido a 
características econômicas e à expansão do ocidente em busca de sujeitos 
competentes para o trabalho. 
De acordo com Charle e Verger (1996), as universidades herdam o modelo 
de ensino de Platão e Aristóteles, que propunham ensinar a seus discípulos 
(alunos) seus conhecimentos. Um sistema resgatado por São Tomás de Aquino, 
na tentativa de conciliar a fé com a razão, depois de estudar as obras de Aristóteles. 
 
13 
Para Aquino, o conhecimento pode ser decorrente da fé ou da razão. Essa linha de 
ensino perde força com a chegada de Galileu e Descartes, que defendem a ideia 
de que as descobertas e pesquisas devem ser comprovadas por observação e 
experiência. 
 
Figura 5 – São Tomás de Aquino5 Figura 6 – Galileu Galilei6 
 
 
Aquino e Galileu marcaram a ciência com suas ideias. O primeiro, 
acreditando na fé e razão na ciência e o segundo, na comprovação do que se 
pesquisa na ciência. 
Universidade era um espaço para estudantes e mestres aludindo à ideia de 
pesquisa, descoberta e transformação e, portanto, muito prestigiada e respeitada, 
pois admirava-se aqueles que decifravam o mistério do livro. Nessa época, nem 
todas universidades possuíam prédios próprios, entendendo-se que o temo 
universidade era utilizado para o agrupamento de mestres e alunos. Esse encontro, 
por vezes, acontecia nas casas dos professores, nas igrejas ou nas ruas e praças. 
Minogue (1981) ressalta que, no início da Idade Média, a universidade 
estava muito ligada à igreja. Com o acesso ao conhecimento e aos estudos, os 
estudantes passaram a reivindicar o afastamento da igreja, pois buscavam 
liberdade para pesquisar e discutir assuntos diversos, sem alguém ou instituição 
restringindo o conhecer. 
Os estudos eram tão respeitados e valorizados que, de acordo com o autor, 
não se pensava em férias, apenas paradas para dias festivos, respeitados por toda 
a população. 
 
 
5Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/. Acesso em: 13 dez. 2019. 
6Disponível em: http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=6. Acesso em: 13 dez. 2019. 
Será que naquela época 
havia diploma? 
 
14 
 
 
Podemos, então, entender que as universidades surgem do interesse de 
saber e conhecer, características filogenéticas do homem. 
O homem, curioso por natureza, busca compreender as coisas do mundo 
que o rodeia e desvendar mistérios transformando a vida e a sociedade de maneira 
que se beneficie. 
Assim, durante a Idade Média, a marca da universidade era um privilégio de 
poucos, contando com o apoio e o reconhecimento da igreja e de instituições que 
queriam ter o privilégio do saber. 
Alguns fatos valem ser ressaltados, como o desenvolvimento dos feudos, a 
exploração marítima, as cruzadas, que fizeram com que os homens tivessem 
contato com culturas diferentes, desenvolvendo mais a curiosidade em entender e 
descobrir as coisas, ampliando seu olhar para o mundo. 
 
1.2 Ensino superior – Contexto histórico 
 
A Europa foi o berço das universidades (Itália, França, Inglaterra e depois 
todo o continente). O Brasil demorou em abrir universidades por ser um país com 
nativos, cujos interesses estavam na convivência simples e natural. 
A tentativa de uma universidade no Brasil foi com os jesuítas, em 1549, com 
o intuito de catequizar os nativos, explorar o espaço e integrá-los ao padrão 
europeu, considerado o certo e o melhor. 
A população brasileira, aos poucos, foi perdendo sua identidade e 
assumindo a dos portugueses. Com os jesuítas, o Brasil recebeu doutrina, 
religiosidade, moral e uma maneira de educar e aprender europeia. 
Tivemos no Brasil vários estudiosos, para os quais a formalização dos 
estudos deveria ser na Europa (em Portugal, mas essa oportunidade era para 
poucos, como membros da Igreja e filhos de burocratas). 
Brasil, atrasado no caminho da intelectualidade, marcava seus estudos na 
literatura, deixando para trás as demais áreas, como geologia, botânica, astronomia 
e outras. 
Pelo tempo em que os jesuítas ficaram no Brasil, somente os seminaristas e 
religiosos tinham acesso ao conhecimento, pois Portugal resistia em trazer 
conhecimento aprofundado à população devido à política de colonização e 
exploração. 
Bom, pelo que tenho 
lido, eles recebiam títulos 
(título de bacharel). 
 
15 
Para eles, não justificava uma universidade ou um aprofundamento do saber 
para os nativos. O ensino superior no Brasil teve seu início em 1808 com a família 
Real, que necessitava de infraestrutura para estadia no Brasil e atendimento à 
aristocracia, que não podia estudar fora do país pelo bloqueio napoleônico. 
O rei D. João criou cursos isolados profissionalizantes de medicina, 
engenharia e economia. Portugal resistia fortemente à implantação de 
universidades, pois temia perder o controle da colonização. 
Alguns estudiosos e historiadores consideram a Academia de Artilharia, 
Fortificação e Desenho, fundada no Brasil em 1792, a primeira universidade trazida 
para o Brasil, pelo vice-rei D. Luís de Castro e, no mesmo ano, o ensino superior 
de engenharia. Esse feito do vice-rei de Portugal foi algo inusitado, haja vista que 
não era do interesse do governo português instalar ensino superior no Brasil e sim 
distribuir bolsas de estudo em Portugal àqueles que eram convenientes a eles. 
As mudanças que ocorreram no Brasil foram decorrentes da necessidade de 
organização política, econômica, militar e judiciária para a instalação da família de 
D. João e sua comitiva. 
Embora o ensino superior continuasse por muitos anos como privilégio de 
poucos, ele foi sendo instituído por vários estados. Vejamos alguns, além da 
Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho de 1792. 
 
1808 Academia dos Guardas-Marinhas Rio de Janeiro 
1808 Academia Médica Cirúrgica Rio de Janeiro 
1808 Escola de Cirurgia Bahia 
1809 Colégio das Fábricas Rio de Janeiro 
1810 Academia Real Militar Rio de Janeiro 
1812 Curso de Agricultura Bahia 
 
A Academia dos Guardas-Marinhas, criada em Portugal em 1782 e instituída 
no Brasil em maio de 1808, formava oficiais para a defesa da Coroa portuguesa. A 
academia ensinava ciências, matemática e estratégias militares, para formar 
oficiais do Exército, Marinha e Engenharia. Temos nessa instituição a junção entre 
marinha e exército em uma única instituição (Academia Militar e de Marinha). Em 
1832, essa junção foi desfeita por falta de espaço, localizado no convento de São 
Bento, para acomodar os alunos. 
 
 
16 
Figura 7 – Academia dos Guardas-Marinhas 
 
Fonte: Memória da Administração Pública Brasileira (MAPA), 20187. 
 
Em relação à Academia Médica Cirúrgica e à Escola de Cirurgia, 
destacamos que a medicina, do século XVI ao XIX, era praticada por físicos e 
cirurgiões barbeiros. Estes últimos usavam a mesma navalha de barbear para fazer 
uma cirurgia. 
No Brasil, as escolas médicas datam de 1808, por um decreto que 
estabeleceu o curso no Hospital Militar da Corte, deixando como responsável o 
médico José Correia Picanço. Como mencionado anteriormente, os cursos 
superiores, até a chegada da família real, eram proibidos, sendo autorizados para 
melhor acolhimento da realeza. 
Por um tempo, a formação era em Coimbra. A maioria eram cirurgiões 
formados na prática. Eles auxiliavam os cirurgiões e depois passavam por 
avaliação das autoridades e recebiam autorização para praticar a medicina. 
No Brasil, os primeiros cursos foram em hospitais militares da Bahia e do 
Rio de Janeiro. Na Bahia, a escola de cirurgia destinava-se a instruir os que iriam 
exercer essa arte. No Rio de Janeiro encontrava-se a Escola Anatômica, Cirúrgica 
e Médica, mais complexa, no Hospital Real Militar, antigo Colégio dos Jesuítas, 
perto da família real. 
 
7Disponível em: http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/245-academia-militar-e-de-
marinha. Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
17 
Figura8 – Academia Médica Cirúrgica8 
 
 
Em 1808, foi permitida a criação de fábricas e espaço de manufaturas no 
Brasil. O Colégio das Fábricas foi fundado, em 1809, para formar artífices vindos 
de Portugal sob a direção de Sebastião Fábregas Surigué. Os mestres preparavam 
os alunos para atividades e construção de fábricas. 
Nessa escola, as atividades eram variadas. Abrangia escola de tecido, 
bordado, desenho, música, tinturaria, tornearia, serralheria, ferraria, cartas e outras 
mais. 
 
 
8Disponível em: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/escancimerj.html. 
Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
18 
Figura 9 – Colégio das Fábricas 
 
Fonte: Memória da Administração Pública Brasileira (MAPA), 20199. 
 
A Academia Real Militar, criada em 1810, ministrava cursos de ciências, 
matemática e de observação, formando engenheiros, metalúrgicos, topógrafos, 
geógrafos habilitados aos estudos militares e à prática de trabalho. 
A vinda da família real trouxe grandes mudanças para o Brasil, devido à 
necessidade de conforto e atendimento adequado. O que, até 1808, era proibido 
passou a ser permitido com a supervisão de militares e agentes do governo 
português, porém a didática era algo que não fazia parte da preocupação dos 
mestres. Não havia interesse em uma ação que trouxesse crescimento profissional 
e nem melhor capacitação. O objetivo maior era de profissionais especializados, 
mas que não tivessem capacidade de contestar e reivindicar. 
As aulas eram orais, com exposição sob rígida disciplina e punições, caso 
fosse necessário. Os manuais e livros não podiam ser mudados sem autorização 
dos militares. Um ensino voltado ao interesse da corte e não do estudante ou da 
população. 
 
 
Leia o texto de Sad (2011) que traz um estudo minucioso de como era a 
educação nessa época. 
 
Fonte: SAD, L. A. A Academia Militar (1810-1838). Rev. Bras. Hist. Mat., v. 11, 
n. 23, p. 111-138. Disponível em: http://www.rbhm.org.br/issues/RBHM%20-
%20vol.11,no23/10%20-%20Ligia.pdf. Acesso em: 9 out. 2018. 
 
 
 
9Disponível em: http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/155-colegio-das-
fabricas. Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
19 
O curso de Agricultura tinha o objetivo estimular os habitantes a se 
apropriarem do conhecimento sobre as ciências naturais, em função do 
crescimento do cultivo da terra e da necessidade de se apresentar à população 
processos e máquinas de trabalho eficientes. 
A Coroa acreditava que, ao conhecer a natureza, o homem dominaria os 
recursos que esta oferecia e desenvolveria um método de produção eficiente. 
 
Figura 10 – Instrumento para lavrar a terra, em prancha da Enciclopédia iluminista de 
Diderot e d’Alembert, publicada em Paris, de 1751 a 1772 
 
Fonte: Memória da Administração Pública Brasileira (Mapa, 2018)10. 
 
Como mencionado em textos anteriores, a chegada da família real no Brasil 
abriu espaço para o crescimento do país, mesmo lento e sem grande interesse em 
uma população letrada, pois passou a ser importante para eles que o Brasil fosse 
um lugar seguro e adequado para se viver na época e situação que eles passavam. 
Os diplomas eram concedidos, assegurando-se emprego e prestígio aos membros 
da sociedade. 
Mesmo resistindo, as universidades foram criadas e, a partir dessa iniciativa, 
foram se ampliando pelo território brasileiro. 
Fazendo uma retrospectiva da educação, vimos que os jesuítas promoviam 
a fé e buscavam educar os nativos, civilizá-los. Em 210 anos, os jesuítas tentaram 
organizar a educação, inclusive com ensino superior para formação de sacerdotes. 
O marquês de Pombal, que administrava o Império português, passou a não gostar 
dos resultados obtidos pelos ensinamentos dos jesuítas, que começavam a trazer 
conscientização e não apenas mão de obra sem contestação ou questionamentos. 
Em 1759, as escolas foram fechadas e os jesuítas expulsos, pelo comando 
do marquês de Pombal, trazendo anos de escuridão. Ele acabou com a 
organização educacional, deixando o país com uma educação precária, largado a 
professores despreparados. A situação passa a mudar com a chegada da família 
real. D. João VI desenvolve uma estrutura grandiosa para que sua família e 
assessores pudessem viver adequadamente. 
 
10Instrumento para lavrar a terra, em prancha, da Enciclopédia iluminista de Diderot e d’Alembert, 
publicada em Paris de 1751 a 1772. Disponível em: http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-
periodo-colonial/165-curso-de-agricultura-da-bahia. Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
20 
Com isso, pretendemos que você, aluno, possa compreender as questões 
políticas que envolvem a educação no Brasil. 
Abaixo, imagem de um diploma concedido. 
 
Figura 11 – Diploma concedido – Imagem de 1844 
 
Fonte: Arquivo Nacional, 201711. 
 
Durante todo o período colonial, várias vezes tentaram abrir universidades 
no Brasil, haja vista que os jesuítas tinham formação e levaram propostas para 
Portugal, mas não era conveniente que os nativos tivessem acesso a 
conhecimentos mais aprofundados. 
A educação liberta e não era do interesse dos colonizadores que essa 
liberdade chegasse ao Brasil. 
Vale lembrar que a relação entre trabalho e educação era bem distinta, pois 
estamos falando de uma época em que o escravismo existia e o trabalho era 
dividido entre escravos e intelectuais. 
O trabalho escravo não tinha respeito social (manual e rude), diferentemente 
dos trabalhos intelectuais ligados à República ou à elite metropolitana. O trabalho 
realizado na Colônia por indivíduos livres era rejeitado, pois estava associado a 
trabalho realizado por escravos. 
Quando o trabalho era realizado por escravos havia um intermediário e 
quando realizado por pessoas livres, era tratado diretamente com elas, mas, como 
estava ligado a um trabalho realizado por escravos, não era reconhecido 
 
11Carta de Bacharel concedida a Julio Cesar Berenguer de Bittencourt pela Academia de Ciências 
Sociais e Jurídicas de Olinda, 14 de outubro de 1844. Fundo Itens Documentais. QN 68, 7, cód. 
995, 1. Disponível em: http://www.arquivonacional.gov.br/br/component/tags/tag/serie-
imperio.html. Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
21 
socialmente. A relação está intimamente ligada às relações sociais nascidas da 
produção. 
 
 
 
Acesse o link a seguir e conheça a Revista Acadêmica n. 1, de 1920: 
http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/revistas/revistaacademica/REV1920001.pdf. Em 
http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario/80-assuntos/producao/cronologia/508-
periodo-joanino-1808-a-1822, você poderá ver as produções em ordem cronológica 
de 1808 e ter uma ideia sobre as conquistas brasileiras no ano da chegada da 
família real. 
Até o fim do século XIX, a Colônia portuguesa alegava que os ensinos 
superiores só poderiam existir se suas sedes fossem na corte. Com tantos 
argumentos contra, as autorizações não aconteciam. 
Em 1822, a Independência não trouxe mudanças no ensino, pois a elite não 
via vantagem em abertura de universidades devido à facilidade de estudar em 
Lisboa. Estudos mostram, entre 1808 e 1882, 24 projetos de abertura de 
universidades que foram recusados por não haver interesse por parte de Portugal. 
Em 1850, algumas instituições foram abertas, bem como museus e centros 
científicos, e o aumento das universidades era contido pela alegação de pouca 
verba, esbarrando no interesse político. 
O Brasil, até o final do século XIX, contava com apenas 24 ensinos 
superiores, abrindo espaço para as escolas privadas, da elite e Igreja, rompendo 
com o modelo das escolas regidas pelo governo, com destaque para as 
engenharias (1896, Mackenzie). Essa ideia trouxe debates contra e a favor, 
havendo uma elite laica e intelectualizada que defendia uma universidade pública 
com pesquisas. 
Em 1920,as discussões giravam em torno da função social da universidade, 
acreditando que ela deveria guardar a ciência e promover pesquisas para o bem 
social. Ela se transformaria em um centro de saber. 
Para Aranha (1996), as propostas feitas para a educação no século XIX 
contribuíram para movimentos no século XX de escolas públicas e voltadas à 
pesquisa. Com o crescimento das indústrias e o aumento demográfico no Brasil, 
foram necessárias ações políticas voltadas a educação e formação. 
 
http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario/80-assuntos/producao/cronologia/508-periodo-joanino-1808-a-1822
http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario/80-assuntos/producao/cronologia/508-periodo-joanino-1808-a-1822
 
22 
1.3 Dados sobre a expansão do ensino superior no Brasil 
 
Dados mostram que, mesmo tendo aumentado o número de instituições 
superiores (IES) e de alunos matriculados na década de 1990, a taxa de 
escolarização ainda é baixa entre as idades de 18 e 24 anos. 
O Brasil, em 2017, tinha 296 instituições de educação superior pública e 
2.152 privadas, equivalendo a 87,9%. Do total de 2.448 IES (públicas e privadas), 
87,9 % são faculdades e 8,1% são universidades. 
 
 
 
As universidades, com origem no latim, universitas, têm autonomia para 
oferecer mais cursos, porque contemplam todas as áreas de estudo (humanas, 
exatas e biológicas) e têm diferentes graus de pesquisa: graduação e 
pós-graduação (lato e stricto sensu), sendo que o stricto sensu deve abranger o 
mestrado e o doutorado. 
O corpo docente deve ter, no mínimo um terço de mestres e doutores e com 
trabalho em tempo integral, para efetuarem pesquisa e desenvolverem trabalhos 
de extensão. Em uma universidade pública, a maioria dos docentes é de doutores, 
com raras exceções. Já nas universidades particulares encontraremos, com 
frequência, mestres. 
Faculdades têm seu foco em uma área de ensino, podendo ser, por exemplo, 
de humanas ou tecnologias. Não têm obrigação de oferecer cursos de extensão e 
nem é cobrada delas a pesquisa. Portanto, seus docentes podem ter apenas uma 
pós-graduação lato sensu. 
O centro universitário não tem a complexidade da universidade. Há maior 
exigência para sua abertura que para a faculdade. Precisa de um terço de docentes 
mestres e doutores e um quinto deve ser integral para pesquisa. Uma exigência 
menor que a universidade. Por isso, a nomenclatura centro universitário. 
Abaixo, uma tabela de 2016. Você, aluno(a), pode fazer uma análise 
comparativa em relação a 2016 e 2017, como exposto. 
 
 
Vejamos a diferença de 
Universidade, Faculdade e 
Centro Universitário. 
 
 
23 
Tabela 1 – Números de IES 2014-2016 
 
Fonte: Ministério da Educação e Cultura (MEC) / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas 
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), 201712. 
 
Ao longo de 17 anos, de acordo com dados, o número de ensinos superiores 
aumentou e, consequentemente, o de matrículas, solicitando um olhar mais 
detalhado para esse fato, levando em consideração uma série de situações. O olhar 
de um pesquisador não deve ser míope e nem parcial, pois a pesquisa requer certo 
distanciamento, para que a visão seja imparcial e não fragmentada. 
 
Figura 12 – Matrículas entre 2017-2017 
 
Fonte: Brasil, 201713. 
 
12Disponível em: http://www.inep.gov.br. Acesso em: 13 dez. 2019. 
13Disponível em: 
http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2018/censo_da_educ
acao_superior_2017-notas_estatisticas2.pdf. Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
 
24 
O aumento das matrículas no ensino superior não garante a qualidade nem 
a boa formação do cidadão brasileiro. 
Essa análise deve ser feita observando-se o ensino como um todo, o 
caminho a chegar na universidade, considerando-se que 74% das matrículas estão 
concentrados no setor privado, contando com o apoio do Programa Universidade 
para Todos (ProUni), do programa Financiamento Estudantil (Fies) e do Programa 
de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais 
(Reuni). 
A rede privada tem crescido exponencialmente, sendo responsável pelo 
acolhimento da maioria da população que busca continuar os estudos, o que leva, 
cada vez mais, a seu aumento no intuito de lucro. 
 
Figura 13 – Percentual de matrículas 
 
Fonte: Brasil, 201714. 
 
Quando se verifica o percentual de matrículas em ensino superior privado, 
tem-se uma noção do quadro que se apresenta no Brasil em relação ao 
atendimento à população. O governo precisa desenvolver políticas públicas que 
atendam a população de maneira igualitária e equânime. 
No governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), priorizou-se o que as 
indústrias necessitavam, com políticas que atendessem às demandas, levando à 
flexibilização para as universidades privadas, tornando-as instituições voltadas 
apenas ao ensino. 
Para Agapito (2016), foi a partir de 2000 que o governo colocou mais força 
na expansão do ensino superior, com projetos, leis, decretos e incentivos, 
objetivando aumento de matrículas na IES, principalmente nas privadas, para 
 
14Disponível em: 
http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2018/censo_da_educ
acao_superior_2017-notas_estatisticas2.pdf. Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
25 
atender as metas estipuladas pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário 
Internacional (FMI). 
O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), hoje 
integra o grupo Banco Mundial, criado em 1944, junto com o Fundo Monetário 
Internacional (FMI), na cidade de Breton Woods, para auxiliar os países a se 
restabelecerem, tendo como objetivos financiar projetos e estabilizar o sistema 
monetário internacional, diante de um quadro de instabilidade financeira. 
Na década de 1980, o BM passou a exercer um papel importante na busca 
de restabelecimento econômico dos países em desenvolvimento, atrelando seu 
empréstimo a algumas metas que os países que recebessem o auxílio deveriam 
atingir. 
O Plano Nacional da Educação (PNE, 2001-2010) era a universalização do 
ensino superior, trazendo-o para perto do mercado de trabalho, da produção do 
capital intelectual, em apoio às universidades privadas, ao ensino a distância, 
propiciando à população acesso ao ensino superior. 
 
 
EDUCAÇÃO SUPERIOR NO PNE (2014-2024): APONTAMENTOS SOBRE AS 
RELAÇÕES PÚBLICO-PRIVADAS 
 
Lalo Watanabe Minto 
 
PÚBLICO-PRIVADO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: CONSIDERAÇÕES 
HISTÓRICAS 
 
Uma nova lógica de organização foi introduzida pela Reforma Universitária 
de 1968 (MARTINS, 2009), quando teve início uma expansão quantitativa do ensino 
superior privado, que se tornou predominante desde então. Essa expansão, porém, 
é uma das dimensões de um processo mais complexo, não seu único veículo, da 
mesma forma que a mercantilização não é exclusividade do setor privado (Minto, 
2014, p. 250). Desde então, privatizar 
 
[…] passou a denotar a organização e reorganização permanente do nível 
superior de ensino nas condições do novo padrão de acumulação 
capitalista pós-crise dos anos 1960/1970. A afirmação desse caráter 
privatista não deve, contudo, criar a ilusão de que o papel do Estado tenha 
sido diminuído ou neutralizado neste processo (MINTO, 2014, p. 263-264). 
 
O papel do Estado continua a ser decisivo na política educacional. Mas é um 
papel movente, que acompanha os conflitos de classe em sua dinâmica concreta 
 
26 
na qual, em contextos como o predominante nas últimas duas décadas, sua 
posição é de estímulo à lógica privatizante. 
A reestruturação capitalista ampliou a heterogeneidade estrutural da base 
produtiva brasileira, alterando as formas de inserção das classes e frações de 
classes locais na dinâmica do novo padrão global de acumulação de capital. Nesse 
contexto, as próprias frações burguesas locais vêm patrocinando um conjunto de 
políticas que busca inviabilizar a universidade comouma instituição autônoma 
(LEHER, 2010, p.29). A tentativa é de inviabilizar todo um projeto histórico – 
classista (burguês), mas de base nacional democrática – recolocado em pauta no 
processo de democratização pós-ditadura, para o qual a universidade tinha um 
papel a cumprir como centro estratégico de produção científico-tecnológica. 
Esvaziada desse papel, a heteronomia vem tornando-se o modo de ser da 
educação superior brasileira, num processo com dois sentidos principais: de 
reestruturação das universidades “de excelência”, assoladas pelas panaceias do 
eficientismo, do produtivismo e da administração gerencial, em que se valorizam 
aqueles setores e atividades mais afetas aos interesses dos grandes capitais; e de 
crescente mercantilização e vinculação com o capital financeiro internacional nas 
instituições de ensino superior (IES) privadas, em sua maioria não universitárias ou 
arremedos de universidades. […] 
 
Fonte: MINTO; L. W. Educação superior no PNE (2014-2024): apontamentos sobre 
as relações público-privadas. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 23, e230011, 
2018. Disponível em: https://bit.ly/3ofUrh5. Acesso em: 20 nov. 2018. 
 
O texto possibilita uma reflexão sobre ações políticas, dentro de um contexto 
sócio-histórico-político. Nenhuma ação é esvaziada de um interesse maior. 
Percebe-se que uma história de domínio leva anos, décadas e séculos para 
ser transformada e aparadas as arestas deixadas pelas ações inadequadas de 
poucos. A guerra gera desigualdades que perduram e enraízam de maneira a 
deixarem cicatrizes por muitos anos. 
O ensino superior teve um crescimento devido à necessidade de se atender 
a uma exigência de um grupo financiador. Para que se continue a ter a garantia do 
empréstimo financeiro, o Brasil precisa provar ser capaz de cumprir metas. 
 
1.4 O avanço do ensino a distância 
 
Estamos presenciando um cenário em que a tecnologia está muito presente 
no cotidiano da população. A informação pode ser obtida praticamente de maneira 
instantânea e a exigência da sociedade passa a ser de cidadãos proativos, 
atualizados. 
A globalização leva todos os setores a repensarem seus objetivos e ações, 
não sendo diferente na área da educação, que deve se preparar para uma 
sociedade do conhecimento, que está em constante mudança e necessita de 
pessoas que acompanhem e sejam agentes dessa transformação. 
 
27 
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n.º 9.394 de 20 de 
dezembro de 1996, flexibiliza a abertura do ensino a distância. Para fortalecer essa 
decisão, o Decreto n.º 2.494/1998 e a Portaria n.º 301/1998 responsabilizam pela 
oferta da educação a distância as instituições públicas e privadas de ensino. 
A LDB n.º 9.394/1996 torna a educação a distância uma modalidade 
concreta e não paliativa para a democratização do ensino. Com o incentivo 
oferecido pelo governo, ela passa a ser um meio de continuidade da formação 
inicial, com destaque para os cursos de licenciatura. 
Esse panorama sinaliza a impotência das instituições públicas de acolherem 
a população e, para que o acolhimento seja efetivado, flexibiliza-se o vestibular. 
O ensino superior a distância ganha força no primeiro Plano Nacional de 
Educação (PNE, 2001-2010), que tinha concentradas suas ações no ensino 
superior para todos, pois a desigualdade social era muito visível e o analfabetismo 
ainda assustador. 
O PNE buscava a universalização do ensino, incentivando o ensino a 
distância, que sanaria algumas fragilidades encontradas no Brasil. Dessa forma, 
educação deveria ser desenvolvida a qualquer custo. Medidas foram tomadas na 
tentativa de melhora do quadro que se apresentava. 
 
 
 
O quadro abaixo traz a possibilidade de analisar o sexo, o turno e a idade 
dos alunos do ensino a distância. Percebe-se que o sexo não é determinante na 
escolha da modalidade, porém a característica de ingressantes é de pessoas mais 
velhas, sendo os cursos de licenciatura os mais procurados. 
 
Cabe analisarmos o contexto em que 
se apresenta a educação a distância. 
 
28 
Figura 14 – Perfil do profissional da educação
 
Fonte: Brasil, 201715. 
 
A educação a distância viabilizou que não só a distância não fosse empecilho 
para estudar como também a dinâmica do cotidiano não fosse um fator de 
separação da população com a formação e desenvolvimento. 
Deparamo-nos com o desafio de adequar a educação a distância a 
necessidade de sociedade tão complexa como a do Brasil. Com a diversidade que 
o caracteriza, a EaD deve pensar em como atingir a todos de maneira que promova 
o desenvolvimento efetivo. 
A educação a distância não é nova, mas seu crescimento está sendo 
significativo, pela demanda de constante informação e formação. A educação 
presencial não está dando conta de atender as exigências em relação à rapidez da 
informação a ser adquirida, à qualidade com a qual essa é transmitida e o tempo 
disponível para estudo e deslocamento. Nesses casos, a EaD é uma alternativa 
para democratização e acesso ao ensino. 
 
 
15Disponível em: 
http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2018/censo_da_educ
acao_superior_2017-notas_estatisticas2.pdf. Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
29 
 
A EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E A EAD: 
DINÂMICAS E LUGARES 
 
Kátia Morosov Alonso 
 
A discussão sobre a expansão da EaD no Brasil apresenta, de fato, 
contradições importantes sobre a qualidade do ensino superior, denotando 
algumas das estratégias do poder público para o incremento dos índices de acesso 
a esse nível de ensino. Se há, por um lado, programas de financiamento que 
canalizam recursos da esfera pública para a esfera privada, como o Programa 
Universidade Para Todos (PROUNI), a EaD é claramente tomada como modalidade 
de ensino para aceleração rápida da expansão de vagas no ensino superior. 
No mote da expansão da EaD, dois temas são recorrentes: a 
democratização do acesso ao ensino superior e a necessidade da formação dos 
profissionais da educação, como fator para melhoria da qualidade do ensino 
fundamental e médio. Importante frisar que a tônica das propostas, no âmbito da 
formação dos profissionais da educação, abarca as duas dimensões que são 
consensuais em se tratando da formação do professor: a inicial e a continuada. 
A formação inicial, como exposto no Documento da Conferência Nacional de 
Educação Básica (CONEB, 2008), 1 tem vinculação com a formação em nível 
superior. No caso da formação de professores, tal perspectiva tem origem nas lutas 
docentes das décadas de 1980/ 1990 e na própria “conformação” da carreira 
profissional que traz a formação inicial, em nível superior, como condição para se 
atingir patamares mínimos que a articulem – formação – e salário. Isto posto, se a 
concordância em torno desse assunto implica reconhecer a necessidade de 
expansão efetiva do sistema do ensino superior brasileiro, de modo que seja 
assegurada a formação inicial aos professores em exercício, bem como àqueles 
que fizerem a opção por esta carreira, teríamos aqui uma das primeiras questões 
a serem pensadas/discutidas no momento. 
Além da formação inicial, o documento da CONEB aponta também a 
formação continuada como uma das condições para a melhoria da qualidade da 
educação. Embora a ideia da educação continuada não esteja vinculada apenas às 
instituições de ensino superior, por se considerar que essa dimensão da formação 
profissional esteja integrada, no caso dos professores, aos sistemas de ensino, há, 
de toda maneira, estreita ligação entre as dimensões de formação antes citadas e 
o ensino superior. 
A temática “Formação e expansão do ensino superior” é importante para 
discussão das propostas relacionadas à EaD, na medida em que se propõe 
estabelecer, minimamente, como se faz no documento da CONEB, os âmbitos da 
formação que poderiam, ou não, ser desenvolvidos por essa modalidade de ensino. 
[…] 
 
30 
Fonte: ALONSO, K.M. A Expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas 
e lugares. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, 
p. 1319-1335, out. 2010. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/es/v31n113/14.pdf. Acesso em: 22 out. 2018. 
 
Atividade de aplicação 
 
Diante do texto apresentado e de sua leitura sobre o assunto, elabore uma 
reflexão sobre a Educação a Distância e sua função social dentro nas perspectivas 
das políticas públicas no Brasil. Traga autores pertinentes ao tema. 
 
 
Nessa unidade, você teve a oportunidade de entrar em contato com a história 
das universidades, conhecendo as consideradas pioneiras e o contexto histórico da 
educação no Brasil, que teve seu início com a chegada dos jesuítas, responsáveis 
pelas primeiras mudanças na formação dos nativos, e posteriormente com a 
chegada da família real, que, por motivo de fuga de Portugal, deu continuidade a 
uma educação, embora tivesse uma concepção elitista. 
Entender o caminho percorrido para a conquista da escola, faz com que 
entendamos a nossa educação e o que está por trás das decisões tomadas pela 
elite política que a rege. 
O conceito de universidade para todos envolveu muitos anos e gerações, 
com ideia de um espaço laico para pesquisa. Essa luta, que demorou para chegar 
no Brasil, teve como consequência a abertura de algumas universidades pela 
Europa e posteriormente nas américas, chegando ao Brasil em 1808, de maneira 
tímida e controlada. 
Percebemos que políticas públicas educacionais visam interesses de 
poucos, cabendo à população buscar seus direitos e exercer seus deveres para a 
conquista da educação igualitária e equânime. 
Você teve a oportunidade de conhecer a história do ensino superior, sua 
expansão e o incentivo à educação a distância para cumprir as metas dos Planos 
Nacionais da Educação (PNEs). 
Em relação à educação superior, os planos nacionais de educação tomam o 
Estado neoliberal e buscam sanar as lacunas sociais existentes no Brasil, como a 
desigualdade e a falta de estruturas física e financeira para atender a uma situação 
 
31 
legal de educação como direito de todos e de continuidade dos estudos garantida, 
estipulada na Constituição Federal de 1988 e na LDB n.º 9.394/1996. 
Logo, com as metas estipuladas pelo PNE, abre-se possibilidade de atender 
a população dentro de sua complexidade e especificidade. 
Trouxemos textos importantes para sua formação e discussão sobre a 
relação entre educação, crescimento e desenvolvimento de um país. 
Esperamos que tenha aproveitado e que esse livro-texto seja apenas um 
começo na sua caminhada para o saber político educacional. 
 
 
Leia o texto abaixo com atenção. 
De acordo com a Unesco (1998), a tendência da educação superior 
constatada a partir da década de 1990, associada aos novos desafios resultantes 
do desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação (NTICs), 
fez com que as autoridades educativas tivessem que redefinir, do ponto de vista 
legal e pedagógico, o papel e a missão da universidade para orientar o 
desenvolvimento em função de novos enfoques e possibilidades. Ainda que, em 
linhas gerais, a globalização tenha afetado de forma diferenciada o sistema 
educacional dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, é possível detectar 
uma série de tendências comuns a esses países. Segundo Segrera (2005), elas 
são: 1) mudanças na organização e no tipo de trabalho exigem um nível mais 
elevado de educação da força de trabalho e a requalificação permanente; 
2) pressão crescente sobre os governos dos países em desenvolvimento para que 
estes invistam mais em educação, para poder preparar uma força de trabalho mais 
competitiva, produzir técnicas sofisticadas, que permitam competir num mercado 
mundial cada vez mais globalizado; 3) a complexidade crescente da educação 
superior, que tornou seus currículos mais diversificados e passou a requerer 
estudantes adeptos do domínio de novas tecnologias e vários idiomas; 
4) o desenvolvimento da educação virtual, nem sempre com o objetivo de expandir 
a educação pelo menor custo, com a tendência de a educação virtual vir a 
tornar-se a forma predominante de educação – em especial na educação superior; 
e 5) as redes de informação globalizadas implicam a transformação da cultura 
mundial, ao tempo em que os “excluídos” dessa “ordem mundial” se organizam em 
movimentos contrários à globalização e forçam que os maîtres du monde, isto é, 
líderes e responsáveis pelas políticas neoliberais, reconheçam que é necessário 
atenuar essas políticas a fim de reduzir suas consequências danosas. 
 
Fonte: HERMIDA, J. F.; BONFIM, C. R. S. A educação a distância: história, 
concepções e perspectivas. Disponível em: https://www.fe.unicamp.br/pf-
fe/publicacao/4919/art11_22e.pdf. 
 
 
 
32 
De acordo com o texto apresentado, leia as afirmativas e assinale a correta. 
 
I. As discussões sobre a EaD no ensino superior vão além do seu espaço 
e características. 
II. As discussões sobre a EaD no ensino superior devem atentar-se a suas 
especificidades, sem entrar em outros espaços de discussão. 
III. Para que a EaD seja aceita na sociedade, é necessário que seja 
abandonada a ideia de universalização do ensino e se atenha a sua 
necessidade. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
a) I, II e III estão corretas. 
b) II e III estão corretas. 
c) I e II estão corretas. 
d) Apenas a I está correta. 
e) Apenas a III está correta. 
 
Correta: d. 
 
Comentário: a educação a distância, no nível superior, é uma modalidade 
relativamente nova, que deve ser discutida de maneira ampla, levando em 
consideração todos os aspectos da sociedade. Vale ressaltar que a modalidade de 
EaD está expandindo e tem uma aceitabilidade considerável. 
 
 
 
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2. Em relação ao plano nacional da educação, leia as assertivas abaixo: 
 
I. O plano nacional de educação vigente de 2001 a 2010 foi considerado o 
primeiro plano aprovado por lei. Teve seu foco relativo à construção de 
políticas e programas que objetivaram a melhoria da educação 
porque 
II. o que se tinha nesse período era um país com uma considerável igualdade 
social com altos índices de analfabetismo e um crescimento considerável na 
procura das universidades. 
 
a) As afirmativas I e II estão corretas e se complementam. 
b) As afirmativas I e II estão incorretas. 
c) A afirmativa I está correta e a II incorreta. 
d) As duas afirmativas estão corretas, mas não se complementam. 
e) A afirmativa I está incorreta e a II correta. 
 
Correta: c. 
Comentário: o plano nacional de educação, vigente de 2001 a 2010, foi considerado 
o primeiro plano aprovado por lei e o quadro que se apresentava nessa época era 
de um país com uma considerável desigualdade social, altos índices de 
analfabetismo e poucas pessoas frequentando universidades. 
 
34 
UNIDADE II 
 
2. ESTRUTURA DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO 
 
Entender o contexto da educação superior no Brasil perpassa interesses, 
movimentos, estratégias e estruturas para melhor organização das políticas 
públicas e para o interesse empresarial. O ensino superior oferece três opções de 
credenciamento e formação: faculdades, centro universitário e universidades, 
diferenciados pelo tipo de organização de cada instituição. 
As exigências para cada tipo de credenciamento diferem quanto às áreas 
disponibilizadas, professores pesquisadores e extensão. 
Faculdade oferecem menos cursos e não têm autonomia para abrir cursos, 
necessitando de autorização. A exigência de professores doutores também não é 
a mesma em relação aos centros universitários e universidades e o tempo de 
dedicação integral não é uma exigência. 
Centro universitários são bem próximos às universidades com uma estrutura 
menor, oferecendo menos cursos de graduação e pós-graduação. Precisam ter um 
terço de professores doutores e mestres, igual a uma universidade, porém com um 
quinto dos professores com dedicação integral. 
Universidade é considerada como tal por abrangermaior área de 
conhecimento, oferecendo cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, com pelo 
menos quatro programas de pós e doutorado. É necessário ter pesquisa e extensão 
e um terço dos professores do quadro serem mestres e doutores com um terço de 
dedicação integral. 
Todas as instituições começam como faculdades, podendo passar para 
centro universitário ou universidade com o tempo, ao atenderem as exigências do 
Ministério da Educação (MEC). 
As universidades possuem atividades de extensão e pesquisa, com um 
corpo docente de alta qualidade. 
 
2.1 Organização do ensino superior no Brasil 
 
Entender a organização do ensino superior no Brasil é localizar o Brasil 
dentro de um espaço e tempo. 
O Brasil está em um continente reconhecido como de muita pobreza e 
diferenças sociais e econômicas que influenciam no objetivo a ser atingido com um 
ensino superior. 
 
 
35 
O Banco Mundial divulgou um documento que coloca a América Latina em 
um índice de desigualdade muito alto e acrescenta que: 
 
As crescentes taxas de pobreza do Brasil têm sido acompanhadas por um 
salto na taxa de desemprego, que cresceu quase seis pontos percentuais 
do primeiro trimestre de 2015 e chegou a 13,7% da população no primeiro 
trimestre de 2017. A miséria se distribui de forma desigual pelo país: afeta 
6,1% dos cidadãos no Rio Grande do Sul, mas chega a 44,9% no Amapá. 
O problema é mais grave na zona rural, onde mais de um terço (38,1%) 
da população vive em pobreza, comparado a menos de um quinto (17,6%) 
nas áreas urbanas. Já a desigualdade social, depois de diminuir 8,5% 
entre 2001 e 2014, voltou a aumentar com a crise econômica a partir de 
2015. O índice de Gini, que tinha caído de 59,4 para 51,5 no período, foi 
a 53,1 em 2016, tornando o desfile carnavalesco das classes sociais 
brasileiras cada vez mais estranho16 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DAS 
NAÇÕES UNIDAS, 2018). 
 
Com um índice alto de desigualdade, a universidade assume um papel 
importante no processo de inserção do cidadão no mundo do trabalho, consciente 
de sua função nesse espaço complexo e nada equitativo. Assim, deparamo-nos 
com a questão de assegurar conhecimento e condições de promover avanço e 
melhoria para a sociedade. 
O Brasil tem oportunizado à população estudar e seguir sua formação, mas 
a questão é com qual qualidade. 
Nas últimas décadas, o Brasil teve um aumento considerável de matrículas 
no ensino superior, mas ainda não atende a demanda nem a condição de qualificar 
de maneira efetiva para o trabalho e para a transformação do meio. 
Educação sendo entendida como direito de todos não pode ser organizada 
de maneira a atender a uma sociedade mercadológica ou mesmo ser vista como 
curso de formação de mão de obra. As instituições podem ser classificadas como 
públicas ou privadas (particulares, conforme regido pela Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional, n.º 9.394/1996), sendo as públicas organizadas e 
supervisionadas pelos governos estaduais, municipais e federais e as particulares 
por pessoas físicas ou jurídicas que poderão ser subdivididas em comunitária ou 
cooperativa; confessionais, por pessoa ou grupo físico ou jurídico com determinada 
orientação confessional e filantrópica, sem fins lucrativos, tendo como objetivo 
atender a uma comunidade carente. 
 
 
16Disponível em: https://nacoesunidas.org/banco-mundial-alerta-para-desigualdades-de-renda-no-
brasil/. Acesso em: 13 dez. 2019. 
 
36 
Conforme afirmado na LDB n.º 9.394/19969.394/1996: 
 
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: I - as instituições de 
ensino mantidas pela União; II - as instituições de educação superior 
criadas pela iniciativa privada; III - os órgãos federais de educação. Art. 
20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão nas seguintes 
categorias: I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que são 
instituídas e mantidas por um ou mais pessoas físicas ou jurídicas de 
direito privado que não apresentem características dos incisos abaixo; II - 
comunitárias, assim entendidas as que são instituídas e mantidas por uma 
ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e alunos 
que incluam na sua entidade mantenedora representantes da 
comunidade; III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas 
por grupos de pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e 
ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior; IV - filantrópicas, na 
forma da lei (BRASIL, 1996). 
 
 
37 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados apontam para um número considerável de instituições de ensino 
superior (IES) particulares com o intuito de atender a uma fatia populacional 
considerável que não teve ou tem oportunidade de completar seus estudos. 
O cenário brasileiro aponta para uma crise social e econômica muito forte 
que está reduzindo a renda da população devido ao aumento do desemprego, 
afetando a população mais carente de atenção e cuidado: pobres, negros, 
indígenas, quilombolas e mulheres. 
O caminho de crescimento do Brasil e da diminuição da desigualdade teve 
uma parada entre 2016 e 2017 e o caminhar para uma população 
socioeconomicamente mais igualitária tomou um novo rumo: o da busca de atender 
à economia mercadológica. 
 
Sabia que existe a faculdade integrada? 
A diferença é que todo IES, ao ser 
autorizado, começa como faculdade, 
podendo com o tempo ser mudado seu 
estatuto para faculdades integradas, 
criando novos cursos. 
Temos também as faculdades isoladas, 
que oferecem um ou dois cursos com 
estatutos próprios. Algo pequeno que 
atenda a uma fatia da população. 
 
38 
Essa estagnação levou o Brasil de décimo para nono lugar na lista de países 
que têm uma força na desigualdade. 
 
O número de pessoas pobres também cresceu no período. Havia 15 
milhões de pessoas pobres no Brasil em 2017, o que corresponde a 7,2% 
da população - aumento de 11% em relação a 2016, quando havia 13,3 
milhões. É considerado pobre quem sobrevive com renda de até US$ 1,90 
por dia, cerca de R$ 7, conforme critério do Banco Mundial17. 
 
Pesquisas mostram que o rendimento por pessoa teve uma queda, 
equivalendo ao ano de 2012. De acordo com a Agência Brasil, o que crescemos 
até 2012 foi se perdendo até 2017, caracterizando uma queda brutal. 
 
 
 
É nesse panorama difuso, Banco Mundial cobrando melhoria e empresas 
buscando profissionais a qualquer custo, que o Brasil se faz presente, no meio do 
desenvolver profissionais capacitados e atender a uma demanda por diploma 
universitário. Ficam as IES nesse caminho de desenvolver competências e formar 
indivíduos para espaços diversos e com uma distância significativa de interesse. 
A educação tem uma interferência forte no desenvolvimento econômico e 
estrutural de uma sociedade. Portanto, ao analisar a situação de um país, deve ser 
levada em conta a qualidade da educação e o preparo que ele oferece à população. 
A educação guarda um espaço a ser privilegiado no processo de se fazer 
cidadão participativo. Não é apenas a disciplinas, conteúdo e conhecimento que a 
escola deve se ater, mas em propiciar que o aluno aplique o que aprendeu em 
diferentes momentos e situações. Conhecer, fazer, para ser um cidadão no sentido 
amplo de transformação social. 
Ser homem não depende do ensino superior, porém a universidade guia o 
conhecimento para agir em determinada área, com possibilidade de pesquisa e 
melhoria do fazer. 
 
17Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2018-11/renda-recua-e-
Brasil-se-torna-o-9%C2%BA-pa%C3%ADs-mais-desigual. 
E as IES? Como ficam nisso? 
 
39 
A promoção da autonomia deve ser o principal ponto a ser desenvolvido no 
futuro profissional, dando subsídio para que ele busque informações e 
conhecimentos para solucionar problemas que venham a aparecer. 
Newman (2001) afirma ser a missão da universidadetornar o homem o mais 
independente possível. Desenvolver a autonomia para que ele saiba discernir o 
certo do errado e buscar a solução. A autonomia nas dimensões social, emocional, 
cultural, política e profissional é de extrema importância para que ele transite na 
sociedade e busque resoluções sempre que necessário. 
Educar para tornar o homem autônomo e preparado para problemas e 
situações diversas. Essa deve ser a função primária da educação, em qualquer 
nível. A autonomia possibilita que o indivíduo entenda a dinâmica da sociedade e 
suas contradições, dentro de suas diferenças e exigências. 
 
 
40 
 
DOCÊNCIA NA UNIVERSIDADE ULTRAPASSA PREPARAÇÃO PARA 
MUNDO DO TRABALHO 
 
Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira 
 
Docência na contemporaneidade 
 
Qual é o compromisso do professor universitário no atual período histórico? 
Vivemos hoje em uma sociedade em que, cada vez mais, se lida com grande 
volume e volatilidade de informações. Esta situação nos faz, mais uma vez, refletir 
sobre a importância de se transcender a transitoriedade da situação de sala de aula 
focada somente no conteúdo especificamente profissional e fazer dela a 
oportunidade para trabalhar uma formação mais completa do aluno, isto é, trabalhar 
a sua formação intelectual, moral e cultural. Isto reforça o compromisso do 
professor com a autonomia do aluno. Para tal, muitos professores precisam operar 
mudanças em seu sistema de valores sobre o que é a docência, o ensino e a 
aprendizagem. Mudanças em sua forma de ver o aluno, o conhecimento, a 
sociedade, ultrapassando o que são as necessidades imediatas destes para 
trabalhar as necessidades mais perenes da humanidade. 
A experiência de ensinar e aprender não é uma experiência de laboratório 
que se pode replicar, mas é única e se diferencia em cada situação pedagógica. 
Cada sala de aula é única, com diferentes alunos e situações específicas. A 
docência é uma atividade social e é direcionada de forma dialética, pelo e para os 
valores culturais de determinada sociedade em determinado contexto. No entanto, 
o que se processa na relação professor- aluno-conhecimento ultrapassa os limites 
do espaço da sala de aula e do tempo histórico em que ocorre a relação. É uma 
relação de reciprocidade onde professor e aluno se formam e se transformam. 
A relação do professor com o aluno é, na perspectiva heideggeriana, o que 
deve ser a ênfase da educação. Utilizando-se de uma alegoria descrita no livro O 
Ser e o Tempo, Heidegger (2006) associa a ação de educar à ação de “cuidar”. 
Heidegger descreveu por meio de uma alegoria mítica, que a educação, como a 
ação de cuidar, é algo que se desenvolve por toda a vida do indivíduo. A alegoria 
conta que o céu, a terra e o cuidado concorreram para dar origem ao homem. O 
cuidado ao tomar uma porção de terra nas mãos pediu ao céu que lhe insuflasse o 
espírito de vida para que este deixasse de ser inerte e se transformasse em ser 
vivente. Ao dar vida à porção de terra transformando-a em ser, o céu se sentiu 
criador da criatura, o que foi contestado pelo cuidado. Chamaram então uma outra 
entidade mítica, o tempo, para pôr fim à disputa. O tempo entendeu que a criatura 
deveria se chamar “homem”, pois provinha do húmus (terra) e que sua alma, dada 
pelo céu, deveria voltar para lá quando morresse, mas durante toda a vida deveria 
depender, permanentemente, do cuidado (educação). Podemos tomar emprestado 
 
41 
esse conto mitológico de Heidegger para entender o valor e a importância da 
educação como processo contínuo de formação do homem. 
Em pesquisa desenvolvida por Feltram (2003) sobre as lembranças que 
diferentes profissionais tinham sobre um bom professor do tempo da universidade, 
a autora buscou conhecer especialmente os aspectos reconhecidos por estes como 
os mais estimuladores para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Feltran 
(2003) concluiu que as características mais marcantes para os alunos não estavam 
apenas no trato do conteúdo (inegavelmente importante), mas na condição de ter 
levado o aluno à autonomia como pessoa e como profissional. 
 
Para a grande maioria dos docentes, a formação técnica do aluno é o que 
importa, é o objetivo da relação ensino-aprendizagem. A preocupação com a 
formação técnica leva, de forma consciente ou não, à exclusão dos valores éticos 
e estéticos, a privilegiar os benefícios econômicos e pouco dimensionar a 
necessidade de pensar as consequências sociais dos atos profissionais. A forma 
como as universidades se organizam e a forma como os professores desenvolvem 
as aulas e os conteúdos estão totalmente vinculadas à emergência da educação 
superior no período industrial. Nesse período as empresas começaram a demandar 
profissionais habilitados e capacitados para as suas necessidades, as quais 
passaram a ser tomadas como as necessidades da sociedade e confundidas com 
as necessidades de desenvolvimento das nações. Essa forma de ensino, que 
privilegiava a formação técnica, pragmática e utilitarista, fez com que se perdesse 
a preocupação com a formação do indivíduo. Ainda hoje os professores têm para 
si que formar bem os estudantes é dar-lhes condições de responderem ao mercado 
de trabalho, sem se questionarem que mercado é esse. 
A falta de preocupação com uma formação docente para a educação 
superior é um indicativo de como a questão da formação do homem, nesse nível 
educacional, é pouco evidenciada. As instituições, de forma geral, permitem que 
seus professores aprendam a ministrar aulas por ensaio e erro, desconsiderando a 
responsabilidade de formação do aluno que a relação docente envolve. 
Essa forma de atuar na formação do estudante nos vem do entendimento 
utilitarista sobre o ensino superior e da organização dos cursos por meio de 
disciplinas técnicas, pragmáticas que tenham utilidade no mercado de trabalho. É 
fato que os grandes progressos proporcionados pela racionalidade científica dão 
respaldo a essa forma de ensinar, mas ela toma o estudante como sendo uma 
“peça” necessária para a engrenagem da maquinaria social e não como um 
indivíduo. É uma formação eficiente para o mercado, mas ineficiente para o ser 
humano, para a sociedade mais ampla e para a humanidade. 
Morin (2007) critica esse modelo de formação afirmando que ele proporciona 
uma capacidade mecanicista, disjuntiva e reducionista. Para ele, é uma capacidade 
normalmente cega, que destrói as possibilidades de compreensão, reflexão e a 
capacidade de julgamentos éticos, complexos e contextuais, tornando-os 
profissionais inconscientes da responsabilidade social e sem autonomia. 
Um comportamento docente que é determinante para os tempos atuais é o 
de assumir que ensinar é inserir o aluno na condição de criar e produzir seu 
conhecimento. O pensamento tradicional de transferência de conhecimento do 
professor para o aluno não tem mais lugar em quaisquer dos níveis de educação. 
 
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Ao produzir seu conhecimento, o aluno adquire autonomia intelectual, pois o 
processo de aprender é composto por condições internas e externas, particulares 
do aluno, nas quais a qualidade da relação professor-aluno tem grande influência 
e se faz nos espaços da contradição entre os determinantes e as possibilidades. É 
acreditando que esse espaço é possível que se pode dizer da construção do 
pensamento autônomo do aluno. Agir e oportunizar reflexões profundas sobre a 
direção que o conhecimento toma ao ser construído e ao ser utilizado é uma das 
tarefas mais importantes da docência nos tempos atuais. 
 
Fonte: PEREIRA, E. M. A. Docência na universidade ultrapassa preparação para 
mundo do trabalho. Rev. Ens. Sup. Disponível em: 
https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos/docencia-na-
universidade-ultrapassa-preparacao-para-mundo-do-trabalho. Acesso em: 20 out. 
2018. 
 
Esse texto leva a uma reflexão sobre a função da universidade e do professor 
na formação do sujeito, no mundo da diversidade e da globalização. Entender a 
universidade dentro de sua organização