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Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências da Saúde Disciplina Integração Básico Clínica 2 Integrantes: Alice Schunk Baumgarten, Amanda da Silva Barreiros, Amanda Reis Flores, Lucas Brumatti Setubal, Luísa D’Ávila Camargo e Luísa Oliveira Aquino Caso 6 – Diabetes Mellitus Data da resolução: 28/07/2021 Descrição do caso: Você acompanha Zélia, 56 anos, negra, mãe de 3 filhos, residente em uma periferia da Grande Vitória, candomblecista, atualmente desempregada, fazia uso do auxílio emergencial do governo federal até recentemente. Zélia recebeu o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 há cerca de 10 anos, infelizmente sempre tendo grandes dificuldades em estabilizar a doença. No último ano, Zélia apresentou piora do quadro clínico. Nesse período, começou a se queixar de sensações (“difícil explicar, mas é horrível”) de queimação, dormência, formigamento, cansaço e cãibras em membros inferiores. Esse desconforto teve piora progressiva e a determinada altura era intenso a ponto de provocar dores de maior intensidade à noite, suficiente para acordá-la na madrugada em algumas ocasiões, com alívio parcial com o movimento. No prontuário, há o registro de um exame do pé realizado por um estudante de medicina há 10 meses. Segue o registro: “Não consigo palpar pulsos pediosos e pulsos tibiais posteriores aparentemente reduzidos. Percepção tátil dolorosa ausente. Sensibilidade vibratória ausente. Perda da sensação de pressão em dois pontos do pé E e em um ponto do pé D com o monofilamento de 10 g. Reflexo aquileu ausente. Algumas unhas encravadas e aparentemente com infecção fúngica”. Há dois meses, Zélia relata ter percebido um “machucado” no pé, mas refere não ter percebido qualquer acidente que o provocasse. Em pouco tempo, a lesão havia progredido significativamente, motivo que a levou a buscar o serviço novamente. Hoje, a lesão estão assim: Zélia, durante o atendimento, disse que se sentia muito mal com sua situação. Tinha vergonha de andar na rua por causa do estado de seu pé, temia por evoluir para amputação e não conseguir mais trabalhar, não conseguia entender o motivo da piora de seu estado já que estava “fazendo tudo certinho”, estava contando com a ajuda dos filhos e netos para os cuidados domiciliares básicos e o pagamento das contas, e esperava pelo menos que a ferida “fechasse logo”. Tem perdido o interesse pelas coisas após o agravamento de sua situação, ficado triste, e está com dificuldades para dormir. Último registro no prontuário de 15 dias atrás: “Infecção em lesão de pé E em remissão. Enfermagem realizando curativos regulares. Hemoglobina glicada = 8.5%. Em uso de metformina 850mg 8/8h e glicazida 30mg 12/12h. Reavaliar esquema”. Palavras-chave: diabetes mellitus tipo 2, queimação, dormência, formigamento, cansaço e cãibras em membros inferiores, dores de maior intensidade a noite, alívio parcial com o movimento, “machucado” no pé” e lesão havia progredido. Termos desconhecidos: pulsos pediosos, pulsos tibiais posteriores, Reflexo aquileu, metformina, glicazida. Pulso pedioso: O pulso dorsal do pé (pedioso) é palpado lateralmente ao tendão do extensor longo do hálux, no prolongamento do pulso tibial anterior, sendo que a artéria dorsal do pé (pediosa) tem variação anatômica e pode apresentar dificuldade na palpação do pulso. Reflexo Aquileu: Reflexo aquileu é um reflexo que ocorre quando o tendão de Aquiles (também conhecido como tendão calcâneo) é percutido enquanto o pé está em flexão plantar. Metformina: A metformina é um antidiabético oral da classe das biguanidas. É um dos medicamentos de escolha no tratamento do diabetes mellitus tipo 2 especialmente em pessoas obesas ou com sobrepeso. Glicazida: É um tipo de sulfoniluréia de medicamento antidiabético, utilizado no tratamento do diabetes mellitus tipo 2. É utilizado quando mudanças na dieta alimentar, exercícios e perda de peso não são suficientes. Pulso tibial posterior: A artéria tibial posterior pode ser localizada no sulco entre o tendão aquileu e a parte posterior do maléolo medial. Questões norteadoras do caso 6 Anatomia 1. Descreva o local e cite as possíveis artérias a serem palpadas. O pulso tibial posterior é palpado posteriormente ao maléolo medial e o pulso dorsal do pé (pedioso) é palpado lateralmente ao tendão extensor longo do hálux, no prolongamento do pulso tibial posterior. Respectivamente, as artérias palpadas são as artérias tibiais posteriores e a artéria dorsal do pé (pediosa). 2. Pensando em GENERALIDADES e estratimeria do pé, de acordo com a foto abaixo. Identifique, pele (P), tela subcutânea (TS), fáscia (F), músculos (M), articulação (A). Imunologia 3. Como células imunes participam do processo de cicatrização? Descreva os principais componentes celulares e moleculares envolvidos neste processo A cicatrização é um processo composto por quatro fases: fase de hemostasia, fase inflamatória, fase proliferativa e fase remodeladora ou de cicatrização. A imunidade inata está presente principalmente na fase inflamatória, por meio do processo da inflamação aguda, em que ocorre acúmulo de leucócitos, proteínas plasmáticas e líquido derivado do sangue no local da lesão. Os leucócitos e proteínas plasmáticas desempenham as funções efetoras que matam microrganismos e iniciam o reparo do tecido danificado, sendo que o primeiro leucócito recrutado é um neutrófilo, visto que é o leucócito mais abundante e o que responde mais rápido aos sinais quimiotáticos. Já entre as proteínas plasmáticas que entram nos sítios inflamatórios, estão as proteínas do complemento, os anticorpos e os reagentes de fase aguda. Com o passar do tempo, os monócitos sanguíneos, que se transformam em macrófagos no tecido, tornam-se cada vez mais proeminentes. Os macrófagos, além de ajudarem na fagocitose, também promovem o reparo de tecidos lesados estimulando o crescimento de novos vasos sanguíneos (angiogênese) e a síntese de matriz extracelular rica em colágeno (fibrose). Essas funções são mediadas pelas citocinas secretadas pelos macrófagos que atuam em várias células teciduais. Bioquímica e Biofísica 4. Qual a razão de se medir a Hemoglobina Glicada ao invés de glicose plasmática em jejum? O teste de tolerância à glicose oral é considerado o critério diagnóstico padrão para a classificação de diabetes e pré-diabetes, porém a incerteza da fase de jejum, valores de tolerância à glicose de 2 horas e variabilidades individuais são alguns dos motivos para que se encontre uma alternativa às medições de glicose para o diagnóstico de diabetes. Além disso, podem ocorrer flutuações diárias de glicose elevada e também certos pacientes podem não seguir as regras de preparação do teste da forma adequada, e o uso de certos medicamentos pode ainda prejudicar a detecção da doença. Nesse sentido, vários estudos demonstraram vantagens em se medir a Hemoglobina Glicada (HbA1c), em comparação com o teste citado. Pois, pode ser realizada a qualquer hora do dia, sem necessidade de jejum noturno e teste de glicose. Além disso, os resultados não são afetados pela análise atrasada após a coleta, se armazenados adequadamente de acordo com as diretrizes padrão. O HbA1c possui menos instabilidade pré-analítica e tem uma relação mais consistente com complicações microvasculares diabéticas do que a concentração de glicose no plasma em jejum, sendo o melhor indicador de nível glicêmico. 5. Explique o mecanismo molecular básico da metformina e sulfonilureia (glicazida) no metabolismo de glicose. A metformina é um agente hipoglicemiante oral, utilizado como medicamento de primeira linha para o tratamento de diabetes mellitus tipo 2. Seu mecanismo exato em relação à redução do nível de glicose ainda permanece pouco compreendido. Porém, sabe-se que um de seus efeitos é a supressão da produção de glicose endógena basal aumentada em pacientes com Diabetes mellitus, por meio de uma redução de 25-40% na taxa de gliconeogênese hepática que se supõe ser causada pela ativação da AMPquinase. Além disso, ocorrem efeitos inibitóriosdiretos na função mitocondrial, e a metformina também é capaz de melhorar a sensibilidade à insulina e a captação de glicose estimulada pela insulina no músculo esquelético. Esse medicamento não é metabolizado no corpo e é excretado inalterado na urina por intermédio da secreção tubular ativa no rim. As sulfonilureias são os agentes orais utilizados de forma ampla no tratamento de Diabetes, cujo mecanismo de ação é a estimulação da secreção de insulina e também da insulina basal por meio da ligação ao receptor 1 de sulfonilureia (SUR1). SUR1 é uma parte do canal K + sensível a ATP (KATP). A interação entre sulfonilureia e SUR1 causa inibição do canal KATP, diminuindo o efluxo de K + e despolarização das células β. Isso leva à abertura de canais de Ca 2+ dependentes de voltagem, provocando influxo de Ca 2+ e aumentando o Ca 2+ intracelular. O pico dos níveis intracelulares de Ca 2+ desencadeia a fusão do zimogênio da insulina com a membrana plasmática e a secreção de insulina. Assim sendo, é recomendada para uso como droga anti-hiperglicêmica adicional na ausência de controle glicêmico adequado devido à modificação do estilo de vida e à monoterapia com metformina. E também pode ser usada como tratamento anti-hiperglicêmico de primeira linha devido à intolerância à metformina ou seus efeitos adversos. Habilidades 2 e Medicina social 6. Como podemos classificar a ferida do pé da paciente, quanto ao tempo, quanto ao potencial de infecção, quanto ao tipo de ferida. Em primeiro lugar, o “pé diabético” é descrito como a presença de ulceração de tecidos associada a anormalidades neurológicas e a vários graus de doença vascular periférica em pessoas com DM. A origem dessas ulcerações pode ser: 1. Neuropática: com sintomas como câimbras, como relatado pela paciente; 2. Vascular: com sintomas como ausência de pulsos tibial posterior e pedioso dorsal no exame físico, como relatado pela estudante; 3. Misto(neurovascular): com sintomas de origem vascular e neuropática. Então, infere-se que a paciente se enquadra nesta opção. Pé diabético neurovascular. Ademais, existem outras classificações: ● Tempo: diagnosticada com diabetes mellitus há 10 anos e percebeu a ferida há cerca de dois meses. Estima-se que em torno de 15 anos após dado o diagnóstico de DM, os sinais e sintomas de neuropatia diabética periférica começam a aparecer. ● Potencial de infecção: o potencial de infecção avalia o risco de o paciente ter gangrena e amputação, então, de acordo com os sintomas do caso, a paciente possui categoria de risco 4. Porque aqui existe perda total da espessura da pele e exposição de tecidos, como músculo, tendão, ligamento; ● Tipo de ferida: Ferida ulcerativa. As feridas ulcerativas são aquelas de aspecto escavado, resultantes de traumatismo, doenças ou condições que impedem o adequado suprimento sanguíneo. É nessa categoria que estão incluídas as lesões venosas, arteriais e por pressão. 7. Quais são as opções de controle, tratamento e acompanhamento deste tipo de ferida? Para o tratamento da ferida seria interessante aplicar um curativo a vácuo para evitar contaminação aeróbia. O curativo associado à terapia por pressão negativa é um método adjuvante viável para o tratamento das feridas diabéticas por acelerar o processo de cicatrização da ferida e ser de baixo custo. Um protocolo possível seria realizar inicialmente o debridamento cirúrgico dos tecidos desvitalizados, associado ao início de antibioticoterapia de largo espectro (ciprofloxacino e clindamicina). Após 48 horas, submeter a paciente à aplicação da técnica de Terapia por Pressão Negativa de baixo custo com materiais de consumo hospitalar convencionais, previamente descrito na literatura. Para prevenir esse tipo de ferida, é muito importante controlar a diabetes e a obesidade. No caso clínico, a paciente relata que “faz tudo certinho”, entretanto, a hemoglobina glicada dela está em 8.5% o que significa que a sua diabetes está descompensada. Portanto, seria interessante que a Dona Zélia fizesse acompanhamento com nutricionista que oriente sobre os alimentos com alto índice glicêmico. Por exemplo, para uma pessoa leiga, o problema do diabetes é comer muito açúcar ou doces em geral, mas a pessoa não sabe ou não entende que alguns alimentos podem ser prejudiciais para o controle da diabetes como macarrão, bebidas alcoólicas, farinha de mandioca etc. Então, acompanhamento médico com instrução da paciente levando em consideração as necessidades nutricionais e a situação socioeconômica da paciente são fundamentais para o sucesso do tratamento. 8. Como explicar os sintomas apresentados e a perda de sensibilidade nesta situação. O pé diabético é a expressão que resume o conjunto de complicações nos pés, incluindo as ulcerações. A úlcera do pé diabético pode ter várias origens: 1. Neuropática, quando ocorrem alterações em nervos que resultam na redução da sensibilidade à dor. A úlcera deste tipo localiza-se mais na planta dos pés, onde incide maior pressão. Há sensação de formigamento, queimação ou dormência. 2. Vascular ou isquêmica, quando ocorrem problemas circulatórios nas extremidades dos membros inferiores. A mais incidente deste tipo é a úlcera venosa, que surge próxima aos maléolos mediais, neste caso a oxigenação dos tecidos é reduzida, por conta de níveis altos de glicemia. Nesse caso os pés ficam frios, pálidos, com a pele fina e com pulsos diminuídos, podendo também ficar inchados. 3. Neurovascular, quando ocorre a combinação das complicações neuropáticas, vasculares e infecciosas. Sendo essa última (a neurovascular) a situação da Zélia no caso, pela compilação de sintomas de formigamento, queimação, dormência,perda da sensibilidade, assim como pés inchados e pulsos diminuídos, além da infecção no pé percebido na clínica.
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