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ao redor de máquinas de costura, em “câmaras” ou “sótãos”. Finalmente,
como em toda maquinaria que não constitui um sistema articulado e
é utilizável em tamanho pequeno, artesãos ou trabalhadores domici-
liares utilizam, com a própria família ou com a ajuda de alguns poucos
trabalhadores estranhos, máquinas pertencentes a eles mesmos.253 Ago-
ra prepondera de fato, na Inglaterra, o sistema pelo qual o capitalista
concentra um número maior de máquinas em seus prédios e depois
reparte o produto da máquina entre o exército de trabalhadores do-
miciliares para o processamento subseqüente.254 A diversidade das for-
mas de transição não esconde, porém, a tendência à transformação em
autêntico sistema fabril. Essa tendência é alimentada pelo caráter da
máquina de costura, cuja aplicabilidade diversificada induz à unificação
no mesmo prédio, e sob o comando do mesmo capital, de ramos de
atividade anteriormente separados; devido à circunstância de que tra-
balhos preparatórios de agulha e algumas outras operações se realizam
mais adequadamente no local em que está a máquina; finalmente,
devido à inevitável expropriação dos artesãos e trabalhadores domici-
liares que produzem com suas próprias máquinas. Essa fatalidade já
os colheu em parte agora. A massa sempre crescente de capital investido
em máquinas de costura255 estimula a produção e provoca saturação
de mercado, que fazem soar o sinal para a venda das máquinas de
costura dos trabalhadores domiciliares. A própria superprodução de
tais máquinas força seus produtores, que precisam de escoadouros, a
alugá-las por semana, acarretando, com isso, uma concorrência mor-
tífera para os pequenos proprietários de máquinas.256 As constantes
mudanças na construção e o barateamento das máquinas depreciam
de modo igualmente constante seus exemplares antigos e só permitem
sua utilização ainda lucrativa quando ela se realiza em massa, com-
prados a preços irrisórios, nas mãos de grandes capitalistas. Final-
mente, a substituição do ser humano pela máquina a vapor dá nesse
processo, como em todos os processos similares de revolucionamento,
o golpe decisivo. A utilização da força do vapor choca-se no começo
com obstáculos puramente técnicos, como trepidação das máquinas,
dificuldades em controlar sua velocidade, desgaste rápido das máquinas
mais leves etc., todos eles obstáculos que a experiência logo ensina a
superar.257 Se, por um lado, a concentração de muitas máquinas de
trabalho em manufaturas maiores leva à utilização da força do vapor,
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253 Isso não ocorre na confecção de luvas etc., em que a situação dos trabalhadores quase não
difere da do indigente.
254 Loc. cit., p. 83, nº 122.
255 Em Leicester, só na fabricação de botas e calçados para o atacado estavam em uso, em
1864, 800 máquinas de costura.
256 Loc. cit., p. 84, nº 124.
257 Assim ocorreu no almoxarifado militar de uniformes de Pimlico, em Londres, na fábrica
de camisas de Tillie e Henderson em Londonderry, na fábrica de roupas da firma Tait em
Limerick, que utiliza cerca de 1 200 “braços”.

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