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NUTRIÇÃO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA CASO CLÍNICO Data do atendimento: 19/03/2021 Identificação: M.N.M., sexo masculino, branco, natural e procedente de São Miguel dos Milagres, Alagoas. Data de nascimento: 19/03/2012 Queixa principal: Mãe levou o filho para a Unidade Básica de Saúde com queixa de fraqueza e cansaço para atividades diárias; relatou que o rendimento escolar tem piorado nos últimos meses. Antecedentes pessoais: Nasceu de parto normal a termo, 3.000 g e 50 cm. A gestação correu de forma adequada, com acompanhamento pelo SUS. Caderneta de vacinação completa. Andou e falou em tempo normal. Amamentou até 1 ano de idade. Introdução alimentar após 6 meses, adequada. Desenvolvimento e crescimento normal da criança até os 8 anos de idade. Antecedentes familiares: Avô era hipertenso. Pais não possuem nenhuma doença. Rotina diária: A criança estuda no período matutino. Ao retornar para casa, a criança faz o dever de casa e auxilia a mãe percorrendo a orla da praia para vender trabalhos manuais. Segundo a mãe, caminham por várias horas sob o sol. Histórico familiar: Quando a criança completou sete anos de idade, a mãe refere que foi morar sozinha com o filho (havia separado do marido que era etilista) e que o sustento da família vinha apenas da venda de trabalhos manuais da mãe, não sendo sempre suficiente para os gastos mensais. Mãe estudou até a 4ª série do ensino fundamental. Alimentação: No desjejum, consome a merenda oferecida pela escola, geralmente composta por um pão tipo bisnaga com margarina e um copo de leite integral com achocolatado em pó ou um suco de fruta tipo néctar e uma fruta (banana ou maçã). Em casa, geralmente almoça polenta ou mandioca cozida com um legume ou verdura refogados e, quando disponível, um pedaço de peito de frango cozido. Para complementar esta refeição, a mãe prepara um mingau de leite integral com amido de milho. A noite costuma comer um pão francês com margarina e, quando a mãe consegue comprar, mortadela ou presunto. Consome frutas e hortaliças ocasionalmente, porque estes alimentos vêm de fora da cidade com um valor elevado para as feiras livres. Consumo de carne vermelha é raro, apenas quando a mãe consegue comprar; consumo de peixe todas as sextas-feiras, quando José, seu vizinho pescador, entrega para a família. Análise do consumo nutricional com base em três dias de registro alimentar: Nutriente Ingestão média diária Energia (kcal) 1503 Carboidratos (g) 213 (57%) Proteínas (g) 48 (13%) Lipídeos (g) 52 (31%) Cálcio (mg) 766 Ferro (mg) 3,9 Vitamina A (μg) 450 Vitamina C (mg) 5 Ácido fólico (μg) 161 Fibra alimentar (g) 5 Exame físico: Paciente reativo, sem febre, sem icterícia, eupneico, desidratado. Presença de palidez de face e conjuntiva pálida. Dados vitais: Pressão no valor mínimo da normalidade e bradicardia leve. Antropometria: ● Peso atual: 22,5 Kg ● Estatura atual: 133 cm ● Dobra cutânea tricipital: 6 mm ● Circunferência do braço: 15 cm ● Circunferência abdominal: 51 cm Exames bioquímicos: Elemento Valor Normalidade Hematócrito (%) 32 35 Hemoglobina (g/dl) 10,0 11,5 Hemácias (milhões/mm3) 4,5 4,5 - 6,5 VCM (U3) 68 77 - 98 Hemoglobina corpuscular média (HCM) pg 25 25 - 32 Concentração hemoglobínica (CHCM) (%) 30 32 - 36 RDW (%) 16 11 - 15 Glicemia (mg/dL) 68 70 - 100 Proteínas totais (g/dL) 7,0 6,0 – 8,0 Albumina (g/dL) 4,2 3,5 - 5,2 Globulina (g/dL) 2,8 1,5 – 3,5 Com base nas informações apresentadas, responda às questões a seguir: (10,0) 1.Classifique o estado nutricional do escolar com base nos parâmetros antropométricos apresentados (lembre-se de apresentar os valores de escore-z e/ou percentil e o diagnóstico segundo o protocolo do Ministério da Saúde – SISVAN - e demais referências). (2,0) Peso/idade → escore-z = -1,57 → peso adequado para idade (OMS, 2007); em contextos de vulnerabilidade social, formas leves de desnutrição podem ser consideradas, para isso utiliza- se o seguinte ponto de corte: < -1 a –2 → desnutrição leve segundo peso/idade. Altura/idade → escore-z = 0,07 → estatura adequada para idade (OMS, 2007). IMC/idade → escore-z = -2,82 → magreza (OMS, 2007). CB → Circunferência do braço: Menor que o percentil 5, indicando risco de doenças relacionadas à desnutrição, segundo a classificação de Frisancho, 1999. CMB → Circunferência muscular do braço: = 16 - (0,314 x 5) = 14,43 cm, que é menor que o percentil 5 para a idade, indicando risco de doenças relacionadas à desnutrição, segundo a classificação de Frisancho (1990). CA → < p50: não indica excesso de adiposidade abdominal (Freedman et al., 1999). 2. Avalie o exame físico em conjunto com os exames bioquímicos e apresente sua hipótese diagnóstica, justificando. Você solicitaria outro(s) exame(s) para comprovar a hipótese diagnóstica? (2,0) R: A avaliação do exame físico deste paciente revela desidratação e palidez de face e conjuntiva e a avaliação antropométrica indica magreza. Constata-se que o paciente apresenta desnutrição moderada. A palidez é um sinal clínico sugestivo de anemia hipocrômica. A condição hipocrômica é comprovada pelo índice hematimétrico HCM (hemoglobina corpuscular média), o qual encontra-se baixo, segundo o ponto de corte específico para a idade do paciente. Isso é compatível com o diagnóstico de anemia, comprovado pelo exame de hemoglobina abaixo do corte de 11,5g/dl. A anemia em questão é, possivelmente, uma anemia ferropriva, porque, segundo o índice VCM, trata-se de uma anemia microcítica. Como se trata de uma redução na ingestão alimentar generalizada e combinada com uma desnutrição, seria importante complementar o pedido de exames com outros marcadores para deficiências de ferro, vitamina B12 e folato, como a concentração plasmática de ferritina em conjunto com o marcador inflamatório proteína C reativa, a concentração plasmática de homocisteína, a concentração sérica de ferro, de vitamina B12 e ácido fólico, a capacidade de ligação com o ferro e a concentração sanguínea do receptor de transferrina solúvel. 3. Avalie a adequação do consumo alimentar do paciente. (0,5) Nutriente Ingestão média diária Avaliação Energia (kcal) 1503 Abaixo das necessidades energéticas estimadas Carboidratos (g) 213 (57%) Adequado (AMDR) Proteínas (g) 48 (13%) Adequado (AMDR) Lipídeos (g) 52 (31%) Adequado (AMDR) Cálcio (mg) 766 Possivelmente inadequado Ferro (mg) 3,9 Possivelmente inadequado Vitamina A (μg) 450 Risco de inadequação Vitamina C (mg) 5 Possivelmente inadequado Ácido fólico (μg) 161 Possivelmente inadequado Fibra alimentar (g) 5 Abaixo das recomendações (ADA e FAO/OMS) 4. Com base na avaliação e nas informações fornecidas, identifique possíveis fatores de risco para o desenvolvimento do quadro do paciente. (2,0) R: O principal fator de risco que contribui para a desnutrição energético-proteica associada à anemia ferropriva verificada no paciente é a insegurança alimentar. A baixa disponibilidade de alimentos no seu domicílio é um fator de importante influência sobre seu estado nutricional atual. Como determinantes proximais ao quadro do paciente podemos mencionar: Dieta inadequada; Baixo aporte de fontes proteicas na alimentação; Baixo aporte de fontes de ferro na alimentação; Consumo de alimento lácteo logo após refeição principal; Atividade física intensa para idade e aporte nutricional. 5. Estime as necessidades energéticas e proteicas para recuperar o estado nutricional do paciente. (0,5) Para recuperação do peso em casos de desnutrição moderada, pode-se utilizar a seguinte fórmula de bolso para estimativa do aporte calórico: 150-220 Kcal/Kg/dia → 3375-4950 Kcal/dia. Recomenda-se a ingestão de 4-6 g de proteínas/kg/dia → 90-135 g/dia Obs.: Na fase de recuperação do crescimento,o objetivo é propiciar a reposição dos tecidos perdidos, sendo assim, é necessária uma abordagem vigorosa para atingir ingestões muito altas e crescimento rápido (recomenda-se até >10 g/kg/dia). 6. Você é o nutricionista responsável pelo acompanhamento do paciente em questão. Quais estratégias você poderia utilizar para alcançar os objetivos do tratamento nutricional? Cite ao menos três orientações nutricionais que você daria para a mãe do paciente. (3,0) R: Considerando a situação econômica do domicílio, as estratégias nutricionais devem ser voltadas a amparar a família, oferecendo informações relevantes para aderirem a programas de apoio ao DHAAS e otimizar ao máximo a aquisição de alimentos de baixo custo e alto valor nutritivo. Entre elas estão: • Pedir auxílio da Equipe de Saúde da Família da localidade de residência do paciente para que identifiquem outros possíveis fatores de risco para desnutrição no local • Pedir auxílio do assistente social para encaminhar a família à programas sociais de recebimento de alimentação e transferência de renda • Ensinar sobre o aproveitamento integral dos alimentos • Ensinar sobre o preparo de refeições de baixo custo e alto valor nutricional • Densificar algumas refeições, adicionando óleo de soja para atingir a meta de necessidade energética • Fracionar as refeições da criança, idealmente a cada 3 horas, atingindo ao mínimo 5 refeições diárias • Explicar sobre a importância de boas práticas de preparo de alimentos para evitar infecções e infestações, que são fatores de risco para piora do quadro de desnutrição • Fortalecer o vínculo mãe-filho para incentivar o cuidado e proporcionar uma boa relação com a alimentação Outras recomendações nutricionais específicas poderiam ser trabalhadas: • Não fornecer mingau logo após almoço, pois o cálcio presente no leite prejudica a absorção de ferro → incluir como lanche intermediário ou noturno • Verificar possibilidade de adquirir cereais e leguminosas de qualquer tipo para compor as refeições principais (orientar sobre a importância de deixar leguminosas de molho antes do cozimento) • Procurar adquirir carnes a preço acessível (miúdos, fígado), quando possível • Manter consumo de peixe quando possível → verificar possibilidade de aumentar o recebimento • Procurar adquirir FLV a preço acessível → frequentar feiras livres (verificar a possibilidade de hortas em casa) • Se possível, oferecer suco de fruta ou fruta rica em vitamina C logo após refeição principal • Se possível, adicionar verduras verde-escuras às preparações cozidas • Utilizar farinhas de trigo e de milho enriquecidas com ferro e ácido fólico para as preparações → ensinar leitura de rótulos --
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