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Trabalho sobre o texto de Fernando Becker, Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. Neste trabalho trago uma reflexão sobre os conceitos apresentados pelo Prof. Dr Fernando Becker no texto supracitado, bem como a relação teórica com as minhas experiências em sala de aula. Com isso, viso melhorar a compreensão das relações existentes entre as representações que se vão construindo no ambiente escolar e fora dele, de modo como essas representações influenciam a socialização e a motivação dos alunos, bem como o processo de ensino e aprendizagem. O autor afirma que há três formas diferentes quanto à representação da relação de ensino/aprendizagem, dentro da sala de aula. Num primeiro momento o autor conceitua a Pedagogia diretiva. A) Pedagogia diretiva e seu pressuposto epistemológico Nesta parte o autor nos trás um modelo típico de uma relação completamente hierárquica e passiva, onde somente o professor fala e os alunos escutam. Vejo como um modelo totalmente desprovido de direitos e repleto de deveres. Este modelo traz o conhecimento como algo a ser introduzido pelo professor, onde o aluno é um sujeito que nada sabe e que tudo deve aprender e, neste caso somente a figura do professor é quem obtém o conhecimento e pode transmitir isso ao aluno. O autor no traz esse conceito da seguinte forma: “O alfabetizador considera que seu aluno nada sabe em termos de leitura e escrita e que ele tem que ensinar tudo. Mais adiante, frente à aritmética, o professor, novamente, vê seu aluno como alguém que nada sabe sobre somas e subtrações. No segundo grau, numa aula de física, o professor vai tratar seu aluno como alguém sem nenhum saber sobre espaço, tempo, relação causal. Já, na universidade, o professor de matemática olha para os seus alunos, no primeiro dia de aula e “pensa”: ”60% já está reprovado!” Isto porque ele os concebe, não apenas como folha em branco na matemática que ele vai ensinar, mas devido à sua concepção epistemológica, considera-os estruturalmente incapazes de assimilar esse saber.” (p. 2). Esta relação é claramente estruturada conforme a figura apresentada no texto: A P Desta forma, confirma-se que a relação é totalmente passiva, deixando de lado a credibilidade que o professor tem no aluno, fazendo com que esse não seja um processo de aprendizado, mas sim uma simples transmissão de conhecimento, ou seja, quem sabe tudo passa o conhecimento para àquele que nada sabe. Desta forma cito o texto de Fabrício Carpinejar, conteúdo da aula anterior, como exemplo de que a credibilidade é algo indispensável para o aprendizado, pois segundo o escritor uma professora sugeriu que sua mãe desistisse de lhe alfabetizar, sendo que neste caso a própria professora já havia desistido e completamente descrédula de que era possível alfabetizá-lo, sugeriu que sua mãe lhe colocasse em uma escola especial. Neste caso a mãe do escritor não desistiu e acreditou na capacidade, no entanto, até que ponto isso pode ocorrer nos dias de hoje, dentro das salas de aula de forma silenciosa. Digo isso de maneira que muitos professores desistem de seus alunos em plena sala de aula, mesmo que isso não fique claro para o aluno e tampouco para a família. Acredito que isso possa ocorrer, pois durante a minha vida escolar, observei professores que deixavam de lado àqueles que “não aprendiam de jeito nenhum” e passava a dedicar-se e a olhar apenas os que tinham mais facilidade de aprender e obviamente, não demandavam tanta atenção. Durante a minha vida escolar em um colégio de freiras, tentaram-me fazer acreditar que ter opinião e pensar diferente não era algo positivo, até porque na minha escola (estudei a vida inteira na mesma instituição) qualquer coisa que era questionada, não só em relação ao conteúdo, mas em relação às regras impostas pela escola, eu era vista como uma perturbadora e me era claramente explicado que eu apenas deveria ser cumpridora de ordens e não questionadora. Meus pais que muito me ensinaram a questionar a vida e a entender que não há uma verdade absoluta sobre as coisas, foram chamados inúmeras vezes sem muito entender o motivo até hoje, além disso, ainda espero as respostas que na época questione. Obviamente que hoje compreendo o motivo da quietude da escola em relação à minha conduta, pois o modelo de ensino era àquele e “a troco de quê” eles teriam que explicar algo para uma simples aluna que muito ainda tinha para aprender. O método de ensino que fui submetida durante a minha vida escolar, era totalmente passivo, onde somente o professor e a escola detinham o conhecimento e a razão, o aluno por sua vez apenas obedecia às regras impostas e seguia à risca o conteúdo e a programação impostos. B) Pedagogia não-diretiva e seu pressuposto epistemológico Este segundo modelo apresentado pelo autor, nos dá ideia de que o professor é apenas um facilitador do aluno ou um auxiliar, como traz o texto. De acordo com este conceito, o que será levado em consideração é a bagagem hereditária e social que o aluno traz é a fundamentação para o processo de ensino aprendizagem. O professor deste modelo pedagógico acredita que o raciocínio já nasce com a criança, e em sua prática crê que precisa apenas despertá-lo, imputando ao aluno inclusive a determinação de suas ações docentes, entendendo que o aluno é auto- suficiente, policiando-se para interferir o mínimo possível, o que resulta em um ambiente desfavorável para o processo de ensino aprendizagem, em que o professor é despojado de sua função e o aluno elevado a um status que não possui. O professor não-diretivo, crê que o aluno é capaz de aprender sozinho e que o papel dele é apenas auxiliar na aprendizagem do aluno e despertar o conhecimento que nele já existe. Segundo texto, a bagagem hereditária é o caminho para a aprendizagem neste modelo: “A epistemologia que fundamenta essa postura pedagógica é a apriorista e pode ser assim representada, a nível de modelo: S O. “Apriorismo” vem de a priori, isto é, aquilo que é posto antes como condição do que vem depois. – O que é posto antes? – A bagagem hereditária. Esta epistemologia acredita que o ser humano nasce com o conhecimento já programado na sua herança genética. Basta o mínimo de exercício para que se desenvolvam ossos, músculos e nervos e assim a criança passe a postar- se ereta, engatinhar, caminhar, correr, andar de bicicleta...assim também com o conhecimento. Tudo está previsto. É suficiente proceder a ações quaisquer para que tudo aconteça em termos de conhecimento. A interferência do meio – físico ou social – deve ser reduzida ao mínimo.” (p. 4). Diante do modelo exposto e de suas fundamentações, podemos ver que o processo de ensino aprendizagem, que se encontra fundamentado em teorias e práticas essenciais para a formação integral do aluno e que necessita da orientação e intervenção do professor, torna-se completamente debilitado em se tratando do professor não-diretivo que acredita que os alunos aprendem por si só e a partir de sua genética, não interferindo em seus processos de aprendizagem, o que leva estes, a partir de suas condições prévias em muitas casos a ter uma formação deficiente. Em casos de uma não interferência social, principalmente, posso citar o aprendizado de crianças abrigadas, que por sua vez já estão privadas de um convívio com seus genitores por motivos de negligência ou abusos, a formação dessas crianças não se dará apenas de uma maneira deficiente e debilitada, comparando-se a crianças que não estão privadas deste convívio, como estas poderão ser uma ameaça à sociedade em muitas vezes, pois sua herança genética é em muitos casos, de violência e desrespeito. Acredito que neste caso a interferência física e social seja fundamental para o processo de ensino/aprendizagem dessas crianças, pois somente assim estas poderão desenvolvero que já sabem e aprender que a conduta herdada pode ser não a correta, por isso a formação desse cidadão deverá ser feita com a maior interferência positiva possível, para um cidadão possa ter uma chance de sobrevivência bem como àquelas que vivem normalmente em sociedade sob os cuidados de seus genitores ou não abrigadas. Conforme o texto, o fracasso desse modelo pode ser inevitável. “Ensino e aprendizagem não conseguem fecundar-se mutuamente: a aprendizagem por julgar-se auto-suficiente e o ensino por ser proibido de interferir. O resultado é um processo que caminha inevitavelmente para o fracasso, com prejuízo imposto a ambos os pólos. O professor é despojado de sua função, “sucateado”. O aluno guindado a um status que ele não tem e sua não-aprendizagem explica como “déficit herdado”; impossível, portanto, de ser superado.” (p. 6). Este modelo é claramente estruturado conforme a figura apresentada no texto: C) Pedagogia relacional e seu pressuposto epistemológico Este modelo apresentado pelo autor é baseado no construtivismo, uma vez que o professor provoca o aluno a realizar uma construção através de suas propostas de ensino. A pedagogia relacional baseia-se na relação professor-aluno. Não é centrada no aluno nem no professor, pois este modelo trabalha as relações dentro da sala de aula. O professor acredita que o aluno só aprenderá alguma coisa, isto é, construirá algum conhecimento novo, se apropriará significativamente do novo saber, se ele agir e problematizar a sua ação. Segundo o texto: “O professor não acredita no ensino em seu sentido convencional ou tradicional, pois não acredita que um A P conhecimento (conteúdo) e uma condição prévia de conhecimento (estrutura) possa transitar, por força do ensino, da cabeça do professor para a cabeça do aluno. Não acredita na tese de que a mente do aluno é tabula rasa, isto é, que o aluno, frente a um conhecimento novo, seja totalmente ignorante e tenha que aprender tudo da estaca zero, não importa o estágio do desenvolvimento em que se encontre. Ele acredita que tudo o que o aluno construiu até hoje em sua vida serve de patamar para continuar a construir e que alguma porta abrir-se-á para o novo conhecimento - é só questão de descobri-la: ele descobre isto por construção.” (p. 7). Este processo de construção exigirá uma relação entre professor e aluno, onde ambos devem ter atenção, voltadas ao outro. O aluno precisa aprender o que o professor tem a ensinar e o professor, por sua vez, precisa ensinar e aprender a construir com o aluno, de acordo com o que este aprendeu até o momento. Com isso, o sujeito constrói seu conhecimento, como conteúdo ou como construção de algo novo. O modelo exposto pode ser observado através da figura de um novo professor, que fora aluno da instituição em que leciona. A história é contada no filme de 1989, A Sociedade dos Poetas Mortos. A trama conta a história de um professor de poesia nada ortodoxo, de nome John Keating (interpretado por Robin Williams), em uma escola preparatória para jovens, a Academia Welton, na qual predominavam valores tradicionais e conservadores. Esses valores traduziam-se em quatro grandes pilares: tradição, honra, disciplina e excelência. O filme mostra também que a ideia do professor é de instigar o pensamento próprio de seus alunos, e que estes deveriam opor-se, contestar, gritar e sobretudo pensar por si mesmos, a não deixar que ninguém condicione a sua maneira de pensar e que outros digam o que e como devem agir e/ou o que devem ser. Através deste filme podemos ver claramente a aplicação de dois, dos três modelos pedagógicos, apresentados no texto de Fernando Becker e aqui discutidos. A pedagogia diretiva, no filme representado pela própria escola, e a pedagogia relacional, que neste caso é representado pelo papel do professor. Os dois modelos se confrontam, pois um quer preparar os alunos para o vestibular e sua formação profissional, considerando que a escolha é feita pelos pais com o apoio da escola a outra quer preparar o aluno não só para o vestibular, mas para a vida. Através da construção do professor, podemos perceber que ele não transmite o conhecimento e que não há uma verdade absoluta, ele propõe que os alunos pensem e desenvolvam a sua própria linha de raciocínio, fazendo com que estes olhem para dentro de si, como não os era permitido antes, perceber o que eles são capazes de aprender sem que alguém lhes diga o que e como deve ser. O modelo, obviamente que há diferenças, não foge muito daquele proposto durante a minha vida escolar. Acredito que se aprendi a questionar e a pensar por mim mesma, foi por influência da minha vida social, dos meus pais pois se dependesse apensar da formação da escola, jamais pensaria que um dia poderia expor a minha opinião e criticar. Considerando que isso é levado para a vida toda, pois se não somos líderes de nós mesmos, como poderemos ser futuramente em uma empresa, seja ela própria ou não. Mas o que trago aqui é como pensar futuramente quando a necessidade de pensarmos por nós mesmos e de sermos ativos em relação ao conhecimento e as regras, decidirá o nosso futuro profissional e consequentemente econômico. O modelo da pedagogia relacional pode ser representado, conforme a figura abaixo: Conforme a linha pensada anteriormente sobre o pedagógico relacional, o texto diz: “Uma proposta pedagógica, dimensionada pelo tamanho do futuro que vislumbramos, deve ser construída sobre o poder constitutivo e criador da ação humana – “é a ação que dá significado às coisas”. Mas não a ação aprisionada: aprisionada pelo treinamento, pela monotonia mortífera da repetição, pela predatória imposição autoritária. Mas sim, a ação que, num primeiro momento, realiza os desejos humanos, suas necessidades e, num segundo momento, apreende simbolicamente o que realizou no primeiro momento: não só assimilação, mas assimilação e acomodação; não só reflexionamento, mas reflexionamento e reflexão; não só ação de primeiro grau, mas ação de primeiro e de segundo graus - e de enésimo grau; numa palavra, não só prática, mas prática e teoria. A acomodação, a reflexão, as ações de segundo grau e a teoria retroagem sobre a assimilação, o reflexionamento, as ações de primeiro grau e a prática, transformando-as. Poder-se-á, assim, enfrentar o desafio de partir da experiência do educando, recuperando o sentido do processo pedagógico, isto é, recuperando e (re) constituindo o próprio sentido do mundo do educando... e do educador.” (p. 12). Este aprendizado mútuo que a relação deste modelo permite, traz o papel do professor como fundamental para o aprendizado de seus alunos, considerando que é este em estimula o pensamento dos alunos e este quem propõe o livre pensamento. Esta é uma pedagogia cujo comprometimento é voltado totalmente a aprendizagem, ao desenvolvimento e ao crescimento do aluno, respeitando suas A P particularidades e permitindo-lhe a autonomia intelectual e iguais oportunidades na sociedade, ainda, que estes sejam de classes sociais diferentes ou que sua herança genética não seja tão rica. Através deste trabalho tive a oportunidade de rever a minha vida escolar e de compreender o seu funcionamento. Neste caso, agradeço aos meus pais por me permitirem pensar e desenvolver as ideias de acordo com a vida e a sociedade, mostrando-me a realidade. Hoje, acredito que posso interferir na vida das crianças abrigadas que tenho trabalhado como voluntária. Esta é uma oportunidade não só para mim, mas para estas crianças de poderem aprender e se desenvolver também como pessoa, sem que tenham que contar apenas com suas heranças genéticas e o conteúdo do vestibular. Fabiana Müller Marques da Silva Fundamentos dosProcessos de Ensino-Aprendizagem – 41 (EaD) - 2012/2