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DIAGNÓSTICO DAS PARASITOSES INTESTINAIS 1 GIARDIA O gênero Giardia inclui parasitos flagelados do INTESTINO DELGADO de mamíferos, aves, repteis e anfíbios, e foi possivelmente o 1º protozoário intestinal a ser conhecido. As denominações Giardia lamblia, Giardia duodenalis e Giardia intestinalis têm sido empregadas como sinonímia (isolados de origem humana). A giardíase é uma das causas mais comuns de diarreia entre crianças (pode virar crônica) → problemas de má nutrição e retardo no desenvolvimento e em países desenvolvidos, Giardia spp é o parasito intestinal mais encontrado nos humanos. Filo: sarcomastigophora. Subfilo: mastigophora. Trofozoíto – forma de pera invertida + 8 flagelos. Tem um achatamento para permitir se aderir ao enterócito. Cisto – tem 4 núcleos no seu interior. CICLO EVOLUTIVO O ciclo começa quando o ser humano ingere os cistos (água ou alimentos contaminados), insetos podem funcionar como vetores mecânicos; a partir da ingestão, no estômago começa o processo de ruptura da parede do cisto que vai terminar com a liberação do trofozoíto e começa a colonização dos enterócitos, começam a se multiplicar por divisão binária até que alguns dos trofozoítos escapem para a luz intestinal e aderem no bolo fecal, chegando próximo ao colo intestinal, começa a ter, então, o processo de encistamento (depósito da parede do cisto, duplicação do núcleo, retração do flagelo, eliminação de substâncias não essenciais) que são eliminados nas fezes, as fezes contaminam o ambiente (sem saneamento básico). Ciclo biológico: oral-fecal. Tipo de clico: monoxêmico. Infecção: ingestão dos cistos (água e alimentos contaminados) ou veiculados para alimentos e água potável pelo vento ou por patas de insetos e também pode ocorrer transmissão de pessoa-pessoa (mãos contaminadas). Período de incubação: 3 a 21 dias (média 1 semana). Ingestão de ciclos (de 10 a 100 formas) → desencistamento (início no estômago e fim no intestino delgado) → liberação de trofozoítos → aderem ao ID pela sua parte dorsal → multiplicam-se por divisão binária e colonizam o intestino. O ciclo se completa pelo encistamento do parasito e sua eliminação para o meio exterior (fezes do hospedeiro), podendo permanecer viáveis por vários meses no meio ambiente, desde que em condições favoráveis de temperatura e umidade. Profilaxia: cozimento dos alimentos, fervura da água para higienização das frutas e legumes, eliminar insetos do ambiente domiciliar. SINTOMAS: A giardíase apresenta um espectro clínico diverso, que varia desde indivíduos ASSINTOMÁTICOS até pacientes sintomáticos que podem apresentar um quadro de DIARREIA AGUDA AQUOSA INTERMITENTE E AUTOLIMITANTE, náuseas, vômitos, inchaço abdominal, dor e câimbras, ou um quadro de diarreia persistente, com evidencia de má-absorção e perda de peso, muita produção e flatulência, que muitas vezes não responde ao tratamento específico, mesmo em indivíduos imunocompetentes. FATORES DE RISCO: crianças, imunodeficiências adquiridas ou congênitas (diminuição da produção de IgA por falta de dissacarídeos na parede intestinal). FISIOPATOLOGIA: Pode ocorrer destruição das microvilosidades com a lâmina própria infiltrada de granulócitos e linfócitos. A morte dos parasitas leva à lesões no epitélio (experimento de co-cultura de enterócitos e macrófagos ativados + Giardia lamblia → observa-se atrofia das vilosidades e hiperplasia das criptas, bem como acúmulo de água na luz intestinal). FATORES DO AGENTE ETIOLÓGICO vs IMUNIDADE DO HOSPEDEIRO Várias barreiras naturais podem impedir a fixação do trofozoíto: produção de muco, peristaltismo, proteases, lipases, bile, a microbiota intestinal (faz competição por nutrientes) e as células de Paneth. Resposta imune inata e adaptativa também auxiliam no controle da giardíase. Uma das formas de defesa é pela migração de mastócitos para a lâmina própria e eles degranulam, grânulos esses que aumentam a contração da musculatura (aumenta o peristaltismo) permitindo a eliminação do protozoário. Outra forma é a IgA que pode neutralizar os antígenos. DIAGNÓSTICO: Pesquisa de trofozoítos e cistos nas fezes (mais de uma coleta pois a excreção dos cistos não ocorre de forma contínua – coletar em horários diferentes). Normalmente, identifica-se os cistos. COMPLICAÇÕES CLÍNICAS: Alguns estudos demonstram uma forte associação com infecções prévias de giárdia com a manifestação de fadiga crônica e síndrome do intestino irritável. ENTAMOEBA HISTOLYTICA Origem do nome: grega – entos: interior + amoibos: mudança de forma + histos: tecido + lysis: destruição tecidos. A E. histolytica é o agente etiológico da amebíase, importante problema de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento. Entamoeba histolytica que pode ser comensal no intestino por longos períodos de tempo, ou pode invadir a mucosa logo após a infecção. Fatores determinantes: a dose inicial, a cepa, fator nutricional e estado do paciente e a microbiota intestinal do hospedeiro. Filo: sarcomastigophora. Subfilo: sarcodina. O ciclo começa com a ingestão dos cistos por água ou alimentos infectados. No estômago começa o desincestamento, liberando trofozoítos no intestino que vai aderir e colonizar o epitélio. Se soltam da parede intestinal, caem na luz e perto do colo começa o processo de encistamento (formação de cistos) e eles são eliminados nas fezes, contaminando o ambiente. Ciclo patogênico (invasivo) – disseminação do trofozoíto para o fígado, pulmão e parede intestinal (amebíase EXTRA-intestinal). Ciclo não patogênico – luz intestinal (amebíase intestinal). Ciclo biológico: fecal-oral. Tipo de ciclo: monoxêmico (só um hospedeiro). Infecção: ingestão dos cistos (água e alimentos contaminados) ou veiculados para alimentos e água potável pelo vento ou por patas de insetos e também pode ocorrer transmissão de pessoa-pessoa (mãos contaminadas). Período de incubação: 2 a 21 dias (amebíase) e 1 a 3 meses (abcessos no fígado). O ciclo se completa pelo encistamento do parasito e sua eliminação para o meio exterior (fezes do hospedeiro), podendo permanecer viáveis por vários meses no meio ambiente, desde que em condições favoráveis de temperatura e umidade. Profilaxia: cozimento dos alimentos, fervura da água para higienização das frutas e legumes, eliminar insetor do ambiente domiciliar. SINTOMAS Forma assintomática: portadores assintomáticos com impacto na transmissão. Forma sintomática: forma intestinal (não invasiva) – dores abdominais, diarreia, sintomas de má absorção. Forma intestinal (invasiva) – colite amebiana aguda, ulcerações, desinteria grave (fezes líquidas com muco e sangue) e pode ser grave e até fatal (gestantes e imunocomprometidos). Forma EXTRA-intestinal – formação dos amebomas: fígado (mais comum), pulmão, cérebro e pele, casos de peritonites (raras). Fatores de risco: gestação, idade e presença de imunossupressão. FISIOPATOLOGIA: Úlceras intestinais e perfurações intestinais. As amebas frequentemente invadem as veias da submucosa do intestino e são transportadas para o fígado → Abcessos hepáticos: o centro do abcesso é formado por semilíquido acastanhado. Abcessos mais antigos são cercados por produtos de reação inflamatória crônica fibrinosa. Os trofozoítos amebianos são encontrados na periferia do abcesso entre os hepatócitos. Resposta imune parecida com a da Giardia. DIAGNÓSTICO: Pesquisa de trofozoítos ou cistos nas fezes. Amebíase como doença oportunista: amebas encontradas no solo e na água. Parasitas facultativos em vertebrados. Excretam proteases que degradam as membranas basais e induzem citólise, bem como apoptose da córnea. Isso finalmente culmina na dissolução do estroma corneano. Encefalite é fatal cominflamação mononuclear → necrose do tecido cerebral (granulomatosa), com processos hemorrágicos. Trofozoítos amebianos geralmente não são encontrados no líquor. Encontradas em todo o mundo em solo, água (rios, lagos, piscinas, esgotos e água encanada). Cistos estáveis por 8 meses à temperatura ambiente. Incubação: 1 dia a 2 semanas. Ameba comedora de cérebro – Naegleria fowleri. COCCÍDEOS INTESTINAIS Cryptosporidium parvum – 4 esporozoitos nus. Cyclospora – 2 esporocistos com 2 esporozoítos cada. Isospora belli – 2 esporocistos com 4 esporozoitos cada. Vários membros do filo Apicomplexa, além do Toxoplasma e Plasmodium, são de interesse para a Parasitologia Humana. Gênero Sarcocystis Sarcocystis spp: a palavra de origem grega – sarx: carne, kystas: cistos, sporos: semente/cápsula. Na maioria das espécies, ele é responsável por causar uma doença debilitante que pode levar à morte e tem como sinais clínicos: febre, anorexia, prostração, palidez das mucosas, corrimento nasal e ocular, dispneia e salivação. Os sinais clínicos mais frequentes podem variar de acordo com o grau de infecção. Um parasita intracelular obrigatório. Sarcocystis bovihominis vs Sarcocystis suihominis Ingestão de oocistos maduros/esporulados em carne crua ou mal cozida dos animais infeccados (boi ou porco). Chegando no estômago, sobrevive à acidez e chega ao intestino delgado adentrando os enterócitos, lá dentro os bradizoitos se diferenciam em macro/microgameta. Não existe autoinfecção. A forma infectante do homem é o oocisto maduro. Dos animais é o oocisto esporulado – no interior ele se rompe liberando os esporozoítos que migram para a musculatura dos animais (formando ninhos – cistos). Sempre o hospedeiro definitivo tem a reprodução sexuada do parasita (HOMEM). Tipo de ciclo: heteroxêmico. HD: Homem. HI: Suínos/bovinos. Transmissão para o homem: ingestão de oocistos em carne crua ou mal cozida de animais infectados. FISIOPATOLOGIA: Lesões mínimas na mucosa intestinal sem sintomas e/ou assintomáticos (exceto em grande imunossupressão). Sarcosporidiose intestinal – diarreia, náusea, vômitos, distúrbios circulatórios, dor abdominal, anorexia, calafrios e sudorese. Os sintomas desaparecem, na maioria dos casos, entre 12 e 24h e em alguns duram por 36 a 48h. infecções com Sarcocystis bovihominis ou suihominis são, aparentemente, subclínicas e autolimitantes. Sintomas: dor muscular, miosite, mal-estar, febre, sudorese, fibrose e EOSINOFILIA. Profilaxia: evitar o consumo de carne crua ou mal cozida de animais. Diagnóstico: identificação dos oocistos ou esporocistos nas fezes. Gênero Isospora Seu habitat é o intestino delgado e são parasitos intracelular (células epiteliais da mucosa intestinal). Origem do nome: grego isos-semelhante, sporos- esporos, bellum-barriga. Isospora belli: parasita homens e animais. A isosporose humana é mais frequente em regiões quentes onde as condições de higiene são precárias. Em geral, as infecções humanas são benignas, e os pacientes se curam espontaneamente (auto- limitadas). Quadros clínicos graves da doença, as vezes fatais, têm sido assinalados na literatura, associados principalmente à imunossupressão. Ciclo: ingestão de oocistos esporulados. Ciclo assexuado – o oocisto esporulado chegando no intestino delgado vai se romper liberando os esporozoítos do seu interior, os esporozoítos vão invadir os enterócitos e lá dentro vão se diferenciar, quando fazem o processo de diferenciação viram merozoítos que se rompem, alguns merozoítos vão para o ciclo sexuado e outros voltam para o ciclo assexuado. Ciclo sexuado – invade os enterócitos e lá dentro vão formar o macro/microgametas, se unindo formando oocisto imaturo (não esporulado). Esse oocisto é liberado nas fezes. Ciclo: monoxêmico. Transmissão para o homem: ingestão de oocisto esporulados em água e alimentos contaminados. FISIOPATOLOGIA: Isosporose envolve alterações na mucosa do intestino delgado, que resultam na síndrome de má absorção. SINTOMAS: Incluem febre, diarreia, fortes dores abdominais, esteatorreia, vômitos, desidratação, perda de peso, astenia e emagrecimento. A presença de eosinofilia é frequente nos casos de isosporose. DIAGNÓSTICO: Identificação do oocisto não esporulado nas fezes. Gênero Cryptosporidium Inúmeras espécies infectam animais. Cryptosporidium parvum infecta o homem e mamíferos. A partir de 1982 adquiriu importância como oportunista em pacientes com AIDS. Localização: principalmente intestino delgado (microvilosidades). Outras localizações: trato respiratório, ductos pancreáticos e vias biliares. Causa muito comum de diarreia. A cryptosporodiose humana: associada à imunossupressão e pode ocorrer casos de hiper- infecção (disseminação para ducto biliar, pancreático, fígado e outros órgãos) e autoinfecção. Período de incubação: 1 a 2 dias. Mesmo ciclo dos outros (assexuado e sexuado). Tipo de ciclo: monoxêmico. Hospedeiro definitivo: homem. Transmissão: ingestão ou inalação de oocisto esporulados em água e alimentos contaminados ou autoinfecçao. Sintomas: diarreia aquosa (três a dez evacuações diárias, representando um a três litros por dia), com duração de um a 30 dias (média de 12 a 14 dias), anorexia, dor abdominal, náusea, flatulência, febre e dor de cabeça. O quadro clínico é, geralmente benigno e autolimitante, com duração média de dez dias. Fisiopatologia: a infecção crônica em indivíduos imunocomprometidos está associada ao achatamento das microvilosidades, devido à perda do epitélio + falta de regeneração tecidual e com infiltrado linfocitário na lâmina própria (o quadro pode piorar em casos de hiper-infecção). Adicionalmente, verifica-se pouca resposta imunológica. Diagnóstico: identificação dos oocistos nas fezes ou em biopsias. Gênero Cyclospora Gênero recentemente identificado (antes era confundido com o Cryptosporidium parvum). Cyclospora cayetanensis (cistos semelhantes aos do Cryptosporidium). Tipo de ciclo: monoxêmico. Transmissão para o homem: alimentos e água contaminados com oocistos esporulados. Sintomas: a maioria dos casos não tem sintomas. Em pessoas IMUNOCOMPROMETIDAS, idosos ou crianças pequenas, os sintomas podem começar entre 2 a 11 dias depois da ingestão, podem incluir: diarreia aquosa contínua ou episódios de diarreia alternando com episódios de constipação, perda de apetite e peso, distensão abdominal, flatulência, dores de estômago, nausea e vômito, dores musculares, febre e cansaço. Diagnóstico: identificação dos oocistos nas fezes ou em biópsias. MICROSPORÍDEOS HUMANOS GÊNEROS: Enterocytozoon e Encephalitozoon spp. Também apresenta distribuição mundial. Primeira descrição ocorreu na França com base no material de uma paciente haitiana. Característica do gênero: esporos de tamanho minúsculo (estágio infeccioso). Gênero associado: Encephalitozoon spp. Enterocytozoon bieneusi representa cerca de 40% das infecções em seres humanos causadas por microsporídios e cerca de 10% dos pacientes com HIV apresentam infecção pelo E. bieneusi, além de outros agentes oportunistas. Hospedeiros na natureza: animais domésticos e selvagens (coelho, hamsters). Forma de infecção: absorção oral, ingestão de esporos em água e alimentos contaminados com urina, fezes de animais portadores. Sintomas: diarreias intermitentes (ausência de sangue), de 3 a 10x por dia durante 4 a 5 meses, fraqueza, perda de peso, náuseas, dor abdominal e febre. Esta severidade extrema da doença não ocorre em pacientes imunocompetentes. Autoinfecção e hiper-infecção. Diagnóstico: identificação de esporos nas fezes ou em biópsias intestinais.
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