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Raiana Zacarias de Macêdo | 1 GLOMERULONEFRITE NA PEDIATRIA É um processo inflamatório, de origem imunológica, que acomete os glomérulos de ambos os rins e cuja expressão clínica é uma síndrome nefrítica, que independente da origem, é caracterizada por: hematúria, edema, hipertensão arterial sistêmica, oligúria e proteinúria subnefrótica. ETIOLOGIA (coisas que podem desencadeá-la) - Síndrome pós-infecciosa · Pós-estreptococica · Não-estreptocócica (bacterianas – endocardite, sepse; virais – hepatite B e C, mononucleose; parasitárias - toxoplasmose) - Por doenças multissistêmicas · Lupos eritematoso sistêmico · Síndrome de goodpasture (rara doença autoimune caracterizada por rápida destruição dos rins e hemorragia dos pulmões) - Primária do glomérulo · Doença de Berger (Nefropatia por IgA, doença renal comum causada por depósitos de anticorpos (Imunoglobulina A) causando inflamação e lesão dos glómerulos renais progressiva ao longo dos anos) A Infecção pelo Streptococcus beta-hemolítico do grupo A de Lancefield é o que vai desencadear a GNDA mais comumente. Nem toda cepa é capaz de desenvolver. As mais comuns são as 12/18/25 – faringite ou 2/49/55 – impetigo. Proteína M: Antígeno que induz a imunogenicidade e caracteriza os sorotipos. Sorotipos: 1, 2, 4, 12, 25, 29, 55, 27 e 60. EPIDEMIOLOGIA O pico de incidência se da em tre os 6 – 8 anos. Mais prevalente no sexo masculino. Pode levar a sequelas tardias, não supurativa, de uma infecção Streptococica: · Faringoamigdalite: 7 – 21 dias (media de 2 semanas) · Piodermite: 15 – 28 dias (média de 3 semanas) A GNDA (glomerulonefrite difusa aguda) é a GN mais comum em crianças. Não se sabe o mecanismo, mas existem algumas teorias: · Aprisionamento de imunocomplexos circulantes · Formação de imunocomplexos contra componentes esteptocócicos presentes nos glomérulos · Formação de imunocomplexos in situ contra componentes do glomérulo (mimetismo molecular) · Ativação do complemento no glomérulo e atração de linfócitos T, neutrófilos, macrófagos, com liberação de citocinas O espaço mesangeal vai sendo ocupado por macrófagos e outros componentes. Esse espaço serve de suporte para os glomérulos, que vai sendo ocupado por células inflamatórias e devido ao grande acumulo chega a obstruir a luz do capilar. O espaço de Bowman é comprimido pelo maior volume dos tufos capilares. Por isso que tem redução da diurese. Por conta dessa lesão dos capilares a gente tem uma redução da luz e tem uma lesão na parede desse capilar que é onde ocorre a filtração. Então, fica mais fácil pra hemácia seguir juntamente pelo xixi, causando a hematúria glomerular (formada de células dismórficas). Quando a hematúria não vem do glomérulo, vem após ele, as hemácias não sofrem dismorfismo, porque não precisam passar pelos espaços estreitos que a glomerular tem. A reação inflamatória vai alterar a permeabilidade da membrana do glomérulo, deixando a proteína passar e causando proteinúria. Ela tira a capacidade de conter certas substâncias e de filtrar o sangue de forma correta. TRÍADE CLÁSSICA: 1. EDEMA -> normalmente matutino, periorbitário, aumento progressivo para MMII e genitália. 2. HIPERTENSÃO -> presente em 50 – 90% dos casos. Multifatorial, mas o principal mecanismo inicial da hipertensão é a redução da taxa de filtração glomerular e retenção hidrossalina, mas não é só isso. 3. HEMATÚRIA -> normalmente é macroscópica (50% dos casos) e microscópica em 100% dos casos (urina cor de coca-cola – macroscópica). Outros sintomas comuns são: 4. OLIGÚRIA -> diminuição do volume urinário (25 – 30% dos casos). 5. PROTEINÚRIA -> 73% apresentam proteinúria nefrítica (leve a moderada); 3% vão ter proteinúria nefrótica (>50mg/kg/dia ) e 24% não tem proteinúria. 6. CONGESTÃO CIRCULATÓRIA 7. PALIDEZ E alguns sintomas inespecíficos como: febre, mal-estar, dor abdominal, cefaleia, anorexia, cansaço. E outros sintomas raros, mas com alta taxa de mortalidade se não tratada: anúria, insuficiência renal (IRA), encefalopatia hipertensiva e insuficiência cardíaca. DIAGNÓSTICO · História + exame físico · Sumário de urina: hematúria, cilindros hemáticos, leucocitúria, proteinúria. · Bioquímica: Ureia aumentada, creatinina normal ou aumentada e hiponatremia dilucional. · Avaliação hematológica: anemia normocítica e normocrômica. Trombocitopenia. · Imunologia: ASLO (anticorpo contra o strepto – usa na infecção de orofaringe) eleva-se 10-14 dias após a infecção streptococica. Pico na 4ª semana. Na piodermite não se altera. Anti-DNAse B: se altera na piodermite em 90-95% dos casos. Uma grande característica da glomerulonefrite, na GNDA, é o consumo de complemento. C3 e CH50 vão estar diminuídos (90-100% dos casos) e o C4 menos alterado. TRATAMENTO 1. Erradicação do estreptococo (não muda a glomerulonefrite, mas impede a disseminação das cepas). PENICILINA BENZATINA. ERITROMICINA (nas hipersensibilidades). Se for usar AMOXICILINA, tem que passar por pelo menos 10 dias. 2. Repouso relativo para controle do edema e da hipertensão. 3. Restrição hídrica e de Na: Ingesta hídrica limitada a 400ml/m2 ou 20ml/kg + perdas do dia anterior. E 2g de sal/dia. Na fase oligúrica, edema e HAS. 4. Restrição proteica: máximo de 1g/kg/dia 5. Durético FUROSEMIDA: 1-4mg/kg/dia. Se sinais de intoxicação hídrica. 6. Anti-hipertensivo (paciente em estagio 2, faz o diurético primeiro, se não houver melhora, aí inicia). Bloqueadores de canal de cálcio: NIFEDIPINO E ANLODIPINO. São os de primeira escolha. Vasodilatadores associados se necessário. Beta-bloqueadores CUIDADO COM OS IECAS! Embora sejam nefroprotetores, causam vasoconstricção da arteríola aferente, diminuindo a TFG. Então, evitar em situações agudas. EVOLUÇÃO Tem recorrência rara. Costuma ter excelente evolução em crianças. Apenas 1% dos pacientes pediátricos evoluem para DRC. A oligúria melhora em 2 semanas, bem como o edema, a HAS atinge níveis normais de PA em 3-4 semanas, a hematúria fica macroscópica por até 3 semanas e a microscópica por até 12 meses. O C3 e CH50 normalizam em até 8 semanas. A furosemida é retirada com 1 semana, logo no inicio, mas mantem o anlodipino por um mês. Se depois de oito semanas ainda tem o complemento baixo, você deve pensar em outras glomerulopatias. EVOLUÇÃO ANORMAL São situações em que provavelmente não é uma pós-estreptococica. Situações que indicam biópsia: · Hematúria macroscópica > 4 semanas · Azotemia (elevação de ureia e creatinina sem uremia) > 4 semanas · HAS > 4 semanas · Proteinúria nefrótica > 4 semanas · Complemento baixo > 8 semanas · Oligoanúria > 72 horas DISCUSSÃO DO CASO CLÍNICO · Urina cor de coca-cola: hematúria macroscópica · Edema periorbitário · Indisposição, diminuição de apetite · Vários irmãos dormindo no mesmo quarto: fácil disseminação de doenças · 27kg 112cm · Mv reduzido + edema -> congestão · Abdome doloroso a palpação e fígado aumentado Embora ele não tenha tido infecção previa segundo mãe, no exame não fala sobre como estava a pele da criança que seria indicativo de uma piodermite. Encontram-se lesões cicatriciais. Dessa forma, posso considerar um caso de GNDA. · Hipertensão estágio 1 · HB: 10.8 (hemodiluição pela hipervolemia) · SEMPRE PEDIR SUMÁRIO DE URINA · Densidade (1015-1030): 1035 · Aspecto turvo · Proteina 3+ · Leucocitúria (até 7000): 10000 · Hemáceas: campo tomado · OBS: cilindros hemáticos -> quase sempre glomerulonefrite · A proteinuria pode ser decorrente da hematúria fazendo um falso positivo · Na proteinúria 24h: a fisiológica é < 4mg/kg/dia. A maciça > 50mg/kg/dia -> nefrótica. É muito difícil de colher a urina de 24h em crianças, o que se usa mais é a relação proteína/creatinina. Uma amostra de urina e dosa essas concentrações. Proteinúria nefrótica > 2. Normal < 0,2. Nunca olhar a creatinina pelo valor de referencia, sempre calcular o clearence. CLEARENCA = K x altura(cm)/creatinina sérica. O k em meninas será sempre: 0,55. Nos meninos 0,55 também até a puberdade. Da puberdade até os 18 anos o K=0,7. TFG tem que estar acima de 90!
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