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História, Trabalho e Movimentos Sociais Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Ney de Souza Revisão Textual: Profa. Eliane Tavelli Alves As Metamorfoses no Mundo do Trabalho 5 • Introdução • Fordismo e Taylorismo • Do Fordismo ao Toyotismo • Toyotismo • Globalização e Trabalho · Compreender as diferenças entre as novas formas de organização de trabalho a partir do novo conceito de divisão do trabalho (tecnologias, processos, formas de gerenciamento); · Apresentar e estudar a acumulação flexível, a ocupação do espaço e sua relação com a globalização. Caro (a) aluno (a), Procure ler, com atenção, o conteúdo teórico disponibilizado e o material complementar. Não esqueça, a leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas, por isso não deixe de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor. Para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo possível, além da apresentação narrada e da videoaula, na pasta de atividades, você encontrará as atividades de sistematização, de aprofundamento e de avaliação. Bons estudos! As Metamorfoses no Mundo do Trabalho 6 Unidade: As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Contextualização Após assistir ao documentário abaixo - deste importante pensador da atualidade, Zygmunt Bauman - sugerimos que você realize uma reflexão sobre as imposições da globalização na sociedade contemporânea. Verifique se comandamos nossos interesses ou se somos comandados pelos ditames da sociedade capitalista pós-industrial; se construímos o nosso pensamento ou se nos tornamos fantoches das grandes empresas que inclusive ditam moda: o que comer, o que visitar de cultural e outras situações em seu cotidiano que poderão ser analisadas e acrescentadas a esta lista. Filme: Zygmunt Bauman – Fronteiras do Pensamento Neste filme Bauman, importante filósofo da atualidade, analisa a individualização na sociedade contemporânea. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=POZcBNo-D4A Acesso em: 28 maio 2015. https://www.youtube.com/watch?v=POZcBNo-D4A 7 Introdução No século XX ocorreram diversas transformações nas formas de organização do trabalho. Logo no início do século surgiram dois formatos de organização da produção industrial que levaram a mudanças significativas no que se refere ao desenvolvimento fabril. Essas transformações são creditadas a Henry Ford e Frederick Taylor. O objetivo destes norte- americanos era a racionalização da produção para alcançar a maximização da produção do lucro. Sem dúvida, toda essa reviravolta trouxera inúmeras consequências até a atualidade, mesmo passando por mudanças. O propósito desta unidade é tratar o Fordismo, Taylorismo, Toyotismo e a acumulação flexível e sua relação com a globalização. O estudo inicia com a apresentação e desdobramentos destas teorias para, a seguir, efetuar uma análise de suas consequências para os trabalhadores chegando à globalização. Fordismo e Taylorismo A expressão fordismo é derivada do nome do norte-americano Henry Ford (1863–1947). Seu surgimento foi no ano de 1914. Ford estabeleceu um sistema de produção em série, em sua fábrica em Dearbon, no Michigan (Estados Unidos). O fordismo é uma organização do trabalho industrial. Na introdução de linhas de montagem cada operário ficava responsável em um determinado local da fábrica, realizando somente a sua tarefa específica. O automóvel, produto destas fábricas, ficava numa esteira rolante e girando pelo interior da fábrica. Fica claro, nesta prática industrial, que quem dita o ritmo de trabalho são as máquinas (HARVEY, 2012, p. 122). Filme documentário: Na linha de montagem – Fordismo, produção em massa e sociedade de consumo Apresenta um estudo sobre estas temáticas com imagens de época e excelentes entrevistas com especialistas no assunto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2mLCYiTX5lU Acesso em: 30 maio 2015. O funcionário é tão somente o especialista numa etapa do processo produtivo. Seu trabalho era exaustivamente repetitivo de uma produção em série. O modelo de trabalho, que é uma enorme exploração dos operários, se tornou um grande sucesso, sendo adotado por várias empresas. As jornadas de trabalho eram de 8 horas diárias a um pagamento de 5 dólares por dia trabalhado. Henry Ford (1863–1947) Fonte: Hartsook/Wikimedia Commons https://www.youtube.com/watch?v=2mLCYiTX5lU 8 Unidade: As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Fordismo é o nome atribuído ao modelo de produção automobilística em massa, instituído pelo norte-americano Henry Ford. Esse método consistia em aumentar a produção por meio do aumento da eficiência e baixar o preço do produto, aumentando assim a sua venda e permitindo manter baixo o preço do produto. Os aspectos inovadores – tecnológicos e organizacionais – trabalhados por Ford eram reduzidos a tendências bem-sucedidas. A exemplo da forma de organização elaborada pelas estradas de ferro no decorrer do século XIX, que influenciou muitos setores da indústria principalmente após uma crescente fusão e formação de trustes e cartéis por parte dos manufatureiros americanos... (ALVES, 2007, p. 157). Henry Ford elaborou uma divisão de trabalho que estava baseada nas antigas técnicas trabalhistas. A obra Princípios da Administração Científica (1911) de Frederick Taylor foi de enorme importância para o sucesso do fordismo que, junto com o taylorismo, comandou a forma de produção por quase todo o século XX (HARVEY, 2012, p. 121). Frederick Winslon Taylor (1856–1915), engenheiro mecânico, inventou um modo de produção industrial que passou a ser conhecido como Taylorismo. O funcionário deveria exercer sua função em um curto espaço de tempo. Não era necessário que tivesse conhecimento da forma como se chegava ao resultado final. Somente o gerente conhecia e também fiscalizava o tempo. Este método é o aperfeiçoamento da divisão do trabalho. Era uma padronização de atividades e uma realização simples e repetitiva. Obviamente, Taylor rejeitava os sindicatos e com isso cresceu o movimento grevista. Linha de montagem da Ford – 1913 Fonte: Wikimedia Commons Frederick Taylor (1856–1915) Fonte: Grap/Wikimedia Commons 9 A diferença essencial entre fordismo e taylorismo foi a maneira de ligar a produção de massa ao consumo de massa encontrado no sistema de produção de Ford, sendo este “um novo sistema de produção da força do trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, moderna e populista” (HARVEY, 2012, p. 121). O movimento fordista se constituiu dentro de uma história que se arrastou aproximadamente meio século. Isso devido a uma série de decisões individuais, corporativas, institucionais e estatais, na maioria definidas ao acaso ou em resposta às influências da crise do capitalismo nos anos 30 – a Grande Depressão (HARVEY, 2012, p. 121). Ao que se percebe, duas forças limitaram a expansão do Fordismo no período de guerra: no mundo capitalista o estado das relações de classe era aceitável facilmente frente a um sistema produtivo que visava o acomodamento do trabalhador com longas jornadas de trabalho rotineiro onde as habilidades tradicionais foram postas de lado e elevou-se um controle até então não vivenciado pelos trabalhadores fundamentado num projeto de ritmo e aceleração da produtividade. Tal projeto sustentava-se na mão de obra imigrante (ALVES, 2007, 158). No mundo capitalista, a organização do trabalho e as atividades artesanais eram significativas e a mão de obra imigrante escassa não proporcionando aos movimentos fordista e taylorista bons resultados referente à produção, apesar da aceitação e aplicação dos princípios gerais da Administração Científica (HARVEY, 2012, p. 123). Em sua análise, David Harvey afirma que em 1945 o Fordismo alcançou sua maturidade enquanto regimento acumulativo e se manteve intacto após a Segunda Guerra Mundial até o ano de 1973.A fabricação de carros, navios, equipamentos de transporte, o aço, produtos petroquímicos, a borracha, os eletrodomésticos e a construção funcionaram como impulsionadores do crescimento econômico mundial, centralizados em determinadas regiões: Meio Oeste dos Estados Unidos, a Região Rur-Reno, as Terras Médias do Oeste da Grã-Bretanha, a região produtiva de Tóquio-Yokohama (HARVEY, 2012, p. 125). Filme: David Harvey fala sobre a crise do capitalismo Site do filme: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VOiFVW0eTeo Acesso em: 30 maio 2015. Entrevista com o conhecido e reconhecido pesquisador que realiza uma análise da sociedade capitalista com um referencial marxista. https://www.youtube.com/watch?v=VOiFVW0eTeo 10 Unidade: As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Do Fordismo ao Toyotismo Se durante as duas décadas seguintes ao término da Segunda Guerra Mundial foram de prosperidade, estabilidade social, de desemprego insignificante, o mesmo não se pode afirmar sobre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Anos de significativas mudanças para a economia mundial, nacional e para as empresas. Sustenta Alves que a: crescente deterioração das contas americanas, em especial os constantes déficits em seu balanço de pagamentos, aliada a uma retomada da inflação faz surgir, no cenário mundial a ameaça de incapacidade do tesouro americano de honrar o compromisso do lastro ouro do dólar e uma consequente crise de liquidez (2007, p. 154). Essa situação fez com que os Estados Unidos rompessem seus compromissos financeiros internacionais. Para pensar Será que os desdobramentos do Fordismo na economia mundial trouxeram algum efeito para o Brasil? A inflação já prejudicou a sua vida econômica? Outra situação perturbadora neste quadro de transformações foi a criação e formação de um cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Significou para o mundo, especialmente o Ocidental, o surgimento de uma organização com poder de controle dos preços do petróleo. Opep é a sigla para Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Foi criada em 1960. Sua sede situa-se na cidade de Viena, na Áustria. Tem por objetivo estabelecer a política petrolífera no mundo por meio de seus países membros. Além do preço, controla a organização e a produção de petróleo. Com a descoberta do pré-sal na bacia de Santos, o Brasil é um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo, mas não faz parte da Opep. É fácil concluir que esse quadro de crise provocara um movimento de insatisfação social imenso. A consequência dessa crise: alto nível de desemprego. Esse conflito não é somente devido aos desajustes econômicos, mas também à crise no sistema de produção em massa, em que os avanços tecnológicos, incorporados na produção e o aumento de produtividade, não encontravam mercado para o consumo. Como consequência desta situação anterior, surgiu a especialização flexível e a aceleração do processo de globalização. Atenção A produção em série deu lugar à acumulação flexível. Era a substituição do sistema produtivo industrial, do fordismo pelo toyotismo. 11 A crise detonada pelos problemas do petróleo, na década de 1970, revelou um novo período caracterizado pela inflação, desemprego estrutural, déficit público e recessão. A saturação dos rígidos padrões da acumulação fordista e de suas forças produtivas cedeu a vez a um novo conjunto de forças produtivas como a microeletrônica, as biotecnologias e a sofisticada estrutura de serviços organizados em um novo padrão flexível de acumulação capitalista (ALVES, 2007, 160). Em seu texto, Alves (2007, p. 160-161) comenta que a informática, o just-in-time, a qualidade, a automação, as redes de mercados, a logística, a terceirização, o marketing, as subcontratações, as franquias, o decréscimo numérico do proletariado e a desindustrialização desenharam um novo mundo, um novo estilo de vida e uma nova sociedade com novos padrões culturais, artísticos e estéticos abrigados no pós-modernismo. Já Antunes (2005, p. 28) destaca que na década de 1970 ficou evidente a crise estrutural do capital, uma consequência da crise do padrão de acumulação taylorista-fordista. Just-in-time - método desenvolvido a partir da ideia de que o trabalhador deveria buscar as peças utilizadas no seu trabalho e não ficar esperando por elas, como no modelo taylorista-fordista. A técnica ou filosofia desta organização produz somente o que o mercado necessita. 12 Unidade: As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Toyotismo O toyotismo foi implantado na fábrica Toyota (Japão), na década de 1950, de propriedade do engenheiro Ohno Toyota. O engenheiro, após 1945, passou a fabricar bicicletas com motor acoplado. Era uma tentativa de contornar a crise de combustíveis no Japão após a Segunda Guerra Mundial. No entanto, foi durante a crise capitalista dos anos 1970 que começou a ser reconhecido como “uma opção possível para a superação capitalista da crise” (ANTUNES, 2005), pois se adaptava melhor a uma economia em crescimento lento. Linha de montagem Fonte: tocadacotia.com A produção em série deu lugar à acumulação flexível. Diferente do fordismo, a produção se estrutura num processo produtivo flexível, em pequenos lotes, sem estoque, voltada para a demanda (HARVEY, 2012, p. 167). A proposta do sistema toyotista é tornar o trabalhador polivalente, capaz de manusear até cinco máquinas ao mesmo tempo, em uma equipe integrada com intensidade, exigindo menos hierarquização. O trabalhador toyotista é diferenciado do fordista uma vez que os níveis de escolarização são sensivelmente mais altos e vão terminar por tornarem-se necessários à implementação de algumas técnicas de gestão – como o controle estatístico de processo – e políticas de pessoal (ALVES, 2007, p. 162). Outro ponto essencial do toyotismo é que, para a efetiva flexibilização do aparato produtivo, é também imprescindível a flexibilização dos trabalhadores. Direitos flexíveis, de modo a dispor desta força de trabalho em função direta das necessidades do mercado consumidor. O toyotismo estrutura-se a partir de um número mínimo de trabalhadores, ampliando-os, através de horas extras, trabalhadores temporários ou subcontratação, dependendo das condições de mercado. O ponto de partida básico é um número reduzido de trabalhadores e a realização de horas extras. Isto explica por que um operário da Toyota trabalha aproximadamente 2300 horas, em média, por ano, enquanto, na Bélgica (Ford-Genk, General Motors- Anvers, Volkswagen-Forest, Renaut-Vivorde e Volvo-Gand) trabalha entre 1550 e 1650 horas por ano... (ANTUNES, 2005, p. 36). 13 A produção neste sistema é horizontalizada, isto é, a empresa terceiriza para outras empresas etapas de produção de uma única peça. A empresa que trabalha com o sistema toyotista tem uma elevada produtividade em ritmo acelerado. “Nenhuma segurança no trabalho e condições de trabalho ruins para trabalhadores temporários” (HARVEY, 2005, p. 167-168). A acumulação flexível é marcada por um confronto direto com a rigidez de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional (HARVEY, 2012, p. 140). Afirma Alves (2007, p. 165) que a acumulação flexível, como produção industrial, atende a um novo formato de capitalismo: a globalização. O que é visível na transição do fordismo para a acumulação flexível é a distribuição do espaço quando a produção é terceirizada. A produção sai das fábricas e se distribui por vários pontos da cidade e da região, distribuindo a geração de empregos e surgindo pequenos empreendedores. 14 Unidade: As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Globalização e Trabalho Quem nunca ouviu alguém usar a expressão globalização?! Quantos são aqueles poucos que não usam a internet? Você já comprou um produto norte-americano fabricado na Indonésia? Uma grandeempresa europeia de telefonia adquiriu os serviços de telefonia em vários países da América do Sul. Jogadores de futebol brasileiro são negociados e comprados por times europeus, assim como o futebol brasileiro compra jogadores de outros países da América Latina. Os exemplos são praticamente infinitos para a globalização. Mas o que é mesmo globalização? Tentando conceituar o termo, Barbosa usa a seguinte definição: “a globalização é uma realidade presente, que se manifesta nos planos econômico, político e cultural, a partir de uma aceleração do intercâmbio de mercadorias, capitais, informações e ideias entre os vários países, ocasionando uma redução das fronteiras geográficas” (2010, p. 8). O historiador citado continua sua reflexão sobre esta temática, A globalização, no entanto, não afeta todos os países da mesma forma, nem se manifesta com a mesma velocidade nas várias dimensões da vida coletiva. A globalização econômica avança de forma mais rápida, integrando empresas e conectando mercados. As divisões entre países tecnologicamente avançados (como a Suécia, a Alemanha e o Japão), países subdesenvolvidos com potencial industrial (como o Brasil, México e Polônia) e países desprovidos de uma estrutura econômica básica (como o Haiti, Somália e Camboja) são mantidas, e até mesmo ampliadas. Globalização, portanto, não quer dizer uniformidade ou homogeneização das condições econômicas (BARBOSA, 2010, p. 14). Reflita No mercado globalizado, quem desfrutará do acesso ao emprego na nova hierarquia da mobilidade? Na mesma direção desta posição de Barbosa está John Kavanagh, do Instituto de Pesquisa Política de Washington, citado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman: A globalização deu mais oportunidades aos extremamente ricos de ganhar dinheiro mais rápido. Esses indivíduos utilizam a mais recente tecnologia para movimentar largas somas de dinheiro mundo afora com extrema rapidez e especular com eficiência cada vez maior. Infelizmente, a tecnologia não causa impacto nas vidas dos pobres do mundo. De fato, a globalização é um paradoxo: é muito benéfica para muito poucos, mas deixa de fora ou marginaliza dois terços da população mundial (KAVAGNAGH apud BAUMAN, 1999, p. 79). No mundo globalizado um elemento compartilhado à exaustão são “as transformações sociais, decorrentes da expansão descontrolada da dimensão econômica – como o desemprego, a informalidade, a redução de importância dos movimentos sindicais e a privatização do Estado – que podem ser encontradas em vários países” (BARBOSA, 2010, p. 15). 15 Documentário: Globalização e seus efeitos no mundo do trabalho O que é globalização e quais seus efeitos na sociedade contemporânea. É um documentário com inúmeras imagens passando rapidamente com música ao fundo, praticamente não tem nenhuma “fala”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=A-_kQIUkCpw Acesso em: 30 maio 2015. O que mais se constata com os desdobramentos da globalização neste formato exposto é a expansão do desemprego e do emprego informal. Evidente que ficar desempregado na Finlândia é bem diferente do que ficar nesta mesma situação nas Filipinas. Com esse fator a precarização do trabalho no mundo cresce. Uma constatação neste contexto é que “os novos postos de trabalho, que estão surgindo em função das transformações das tecnologias e da divisão internacional do trabalho, não oferecem, em sua maioria, ao seu eventual ocupante as compensações usuais que as leis e contratos coletivos vinham garantindo”, e mais ainda “as vantagens da flexibilidade externa são evidentes no curto prazo. A empresa pode funcionar com mais flexibilidade, sem se preocupar em continuamente encher sua carteira de pedidos e, sobretudo, manter o sindicato em posição de fraqueza”. O resultado disto é a dificuldade de “organizar sindicalmente os precários, e a solidariedade entre o pessoal estável e eles é fraca” (SINGER, 1998, p. 24-28). Veja no quadro abaixo (HARVEY, 2012, p. 167-168) o contraste entre o fordismo e a acumulação flexível. FORDISTA Trabalho na produção fordista Realização de uma única tarefa pelo trabalhador Pagamento baseado em critérios da definição do emprego Alto grau de especialização de tarefas Pouco ou nenhum treinamento no trabalho Organização vertical do trabalho Nenhuma experiência de aprendizagem Ênfase na redução da responsabilidade do trabalhador Nenhuma segurança no trabalho Just-in-time Trabalho just-in-time Múltiplas tarefas Pagamento pessoal Eliminação da demarcação de tarefas Longo treinamento no trabalho Organização mais horizontal do trabalho Aprendizagem no trabalho Ênfase na corresponsabilidade do trabalhador Grande segurança no emprego para trabalhadores centrais (emprego perpétuo) Nenhuma segurança no trabalho e condições de trabalho ruins para trabalhadores temporários https://www.youtube.com/watch?v=A-_kQIUkCpw 16 Unidade: As Metamorfoses no Mundo do Trabalho As graves consequências para o mundo do trabalho por meio de suas metamorfoses são visíveis na atualidade. Os desdobramentos do fordismo/taylorismo ao toyotismo/acumulação flexível no mundo globalizado apresentam situações de precarização do mundo do trabalho. Na opinião dos especialistas, a precarização do trabalho na atualidade é um fenômeno mundial. Está situação contribui para aumentar o número dos excluídos (os que não consomem). Os reflexos são evidentes: aumento dos mecanismos informais de trabalho, degradação dos seres humanos, crescimento da violência urbana. Assim, a organização do trabalho sofreu gravíssimas consequências. David Harvey, professor emérito de antropologia do centro de pós-graduação da City University of New York, citado várias vezes neste texto, afirma que: O trabalho organizado foi solapado pela reconstrução de focos de acumulação flexível em regiões que careciam de tradições industriais anteriores e pela reimportação para os centros mais antigos das normas e práticas regressivas estabelecidas nessas novas áreas. A acumulação flexível parece implicar níveis relativamente altos de desemprego estrutural, rápida destruição e reconstrução de habilidades, ganhos modestos de salários reais e o retrocesso do poder sindical – uma das colunas políticas do regime fordista (2012, p. 141). As mudanças “nas formas de organização da classe trabalhadora (como os sindicatos), por exemplo, dependiam bastante do acúmulo de trabalhadores nas fábricas para serem viáveis, sendo peculiarmente difícil ter acesso aos sistemas de trabalho familiares e domésticos”. Além disso, “os sistemas paternalistas são territórios perigosos para a organização dos trabalhadores, por que é mais provável que corrompam o poder sindical (se ele estiver presente) do que tenham seus empregados liberados por este domínio e políticas paternalistas de bem-estar do ‘padrinho’”. Deste modo, solapando “a organização da classe trabalhadora e a transformação da base objetiva da luta de classes” (HARVEY, 2012, p. 145). 17 Material Complementar Caro(a) aluno(a), A fim de complementar as informações do material teórico, sugiro os seguintes materiais: Vídeos: Filme: David Harvey fala sobre a crise do capitalismo Entrevista com este importante pesquisador da atualidade que apresentará uma visão altamente critica do modo de produção capitalista. https://www.youtube.com/watch?v=VOiFVW0eTeo Filme: SOCIÓLOGO Allain Tourraine faz análise do Processo de Globalização – Parte 1 Tourraine foi um dos primeiros a enxergar o processo de globalização. https://www.youtube.com/watch?v=nV4ApCsTwyU Filme: O Império das Marcas Documentário sobre as marcas, a globalização e a influência na cultura do cotidiano https://www.youtube.com/watch?v=kUXTmyBw5rE Filme: Mario Vargas Llosa – A Civilização do Espetáculo Escritor peruano aborda o conceito de ‘cultura’. Esta conferência do prêmio Nobel de literatura afirma que a cultura passou a abranger tudo e assim esse tudo não é nada. https://www.youtube.com/watch?v=yWDgjPjp1S8 “Leia” o filme de forma crítica, lembre-seque mesmo os documentários são obras de ficção e carregam em si intenções e ideologias de quem produziu-os, assim como a própria história que nos foi deixada como legado pelos nossos antepassados. https://www.youtube.com/watch?v=VOiFVW0eTeo https://www.youtube.com/watch?v=nV4ApCsTwyU https://www.youtube.com/watch?v=kUXTmyBw5rE https://www.youtube.com/watch?v=yWDgjPjp1S8 18 Unidade: As Metamorfoses no Mundo do Trabalho Referências Básica CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 2010. GOHN, M. G. História dos movimentos e lutas sociais: a construção da cidadania dos brasileiros. 7ª ed. São Paulo: Loyola, 2012. HOBSBAWM, E. J. Mundos do trabalho: novos estudos sobre história operária. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. Complementar AQUINO, R. S. L. et al. Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais. Da crise do escravismo ao apogeu do neoliberalismo. Rio de Janeiro: Record, 2005. FAUSTO, B. (Dir.). O Brasil republicano: sociedades e instituições (1889–1930). Col. História geral da civilização brasileira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. T. III. Vol. 9. GOHN, M. G.; BRINGEL, B. M. Movimentos sociais na era global. Petrópolis: Vozes, 2012. KHOURY, Y. A. As greves de 1917 em São Paulo. São Paulo: Cortez Editora, 1981. ORO, A. P. (Org.). Representações sociais e humanismo latino no Brasil atual: religião, política, família e trabalho. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. Bibliografia Complementar da Unidade ALVES, J. L. Globalização, acumulação flexível e configuração espacial. In: Revista de Geografia. Recife: UFPE, v. 24, n. 3, 2007. ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo/Campinas: Cortez Editora/Editora da UNICAMP, 2005. BARBOSA, A. F. O mundo globalizado: política, sociedade e economia. São Paulo: Editora Contexto, 2010. BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 2012. SINGER, P. Globalização e desemprego: diagnóstico e alternativas. São Paulo: Editora Contexto, 1998. 19 Anotações
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