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História, Trabalho e Movimentos Sociais Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Ney de Souza Revisão Textual: Profa. Ms. Rosemary Toffoli Sociedades Nacionais e a emergência da sociedade global 5 • Introdução • O mundo da pobreza • Mundo do desemprego e do emprego formal • Turismo sexual, trabalho forçado e trabalho infantil · Estudar e analisar o mundo globalizado para reconhecer a natureza das transformações econômicas, sociais e políticas da atualidade; · Esclarecer que a globalização não é somente econômica, atingindo a cultura e esclarecer por que o mundo se torna cada vez menor. Procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material complementar. Não esqueça: a leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas, por isso não deixe de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor. Sociedades Nacionais e a emergência da sociedade global 6 Unidade: Sociedades Nacionais e a emergência da sociedade global Contextualização Refletindo o passado através de ações do presente! Como pesquisador da “Relação Estado-Igreja no Brasil”, ou seja, da política de duas importantes instituições da história do Ocidente, costumo dizer que “A política não é inocente”. Para contextualizar os interesses políticos que levaram a queda da Monarquia no Brasil e a Instalação do regime republicano no poder, gostaria que vocês refletissem sobre as disputas de poder na política, através de um texto publicado na coluna de Eliane Trindade, na Folha de São Paulo. É uma entrevista sobre o evento dos ataques à redação da Charlie Hebdo! Percebam as mobilizações justas em repúdio às ações de terroristas, mas não se esqueçam, “a politica não é inocente”, e observem em outra matéria do site Pragmatismo Político, como as fotos dos estadistas na mobilização de apoio à Liberdade foram forjadas para impressionar a opinião pública!!! “Liberdade, Igualdade e Fraternidade na França? Para Quem?” - Eliane Trindade http://www1.folha.uol.com.br/colunas/redesocial/2015/01/1574239-liberdade-igualdade-e-fraternidade-na-franca-para-quem.shtml (link para assinantes ou cadastrados na Folha) http://horaciocb.blogspot.com.br/2015/01/liberdade-igualdade-e-fraternidade-na.html (link alternativo) “Imagem dos líderes em protesto na França foi montada” - Pragmatismo Político http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/imagem-dos-lideres-em-protesto-na-franca-foi-montada.html 7 Introdução Nas duas últimas décadas uma sociedade civil global vai se delineando. Essa sociedade se apresenta com novos valores morais, culturais, econômicos e políticos. O processo de globalização que teve início nos anos 1980 chegou neste século XXI com um enorme potencial de aceleração. Quais são as características desta sociedade globalizada? Verificaremos nestes pontos seguintes estas características que nos fazem perceber o quanto a sociedade está se transformando. Destacamos por exemplo: a) “rapidíssimas transformações na esfera tecnocientífica; notáveis transformações nas estruturas econômicas dos países”; b) “uma gigantesca aceleração do comércio internacional; a redução da capacidade de os Estados, em maior ou menor escala, se instrumentalizar e controlar de maneira autônoma suas próprias políticas econômicas”; c) “a crescente importância da esfera financeira, entendida como uma dimensão à parte e desvinculada da dimensão econômica propriamente dita”; d) “a desregulamentação, a transnacionalização e a interconexão dos mercados financeiro”; e) “a liberalização das principais economias”; f) “a crescente assimetria entre economias capitalistas altamente desenvolvidas e as chamadas economias emergentes”; g) “a tendência à conversão de todos os habitantes do planeta em consumidores de produtos culturais estandardizados” (MARQUES, BERUTTI, FARIA, 2007, p. 141-142). Há uma enorme diversidade de definições sobre globalização. No entanto, é possível, segundo Eric Hobsbawn, apresentar três observações a respeito deste tema. A primeira é a globalização acompanhada de mercados livres “atualmente tão em voga, trouxe consigo uma dramática acentuação das desigualdades econômicas e sociais no interior das nações e entre elas”. Sua segunda observação afirma que aqueles que menos se beneficiam da globalização são os que mais sofrem os efeitos dela. E assim sustenta que “para a maior parte daqueles que vivem dos salários provenientes dos seus empregos nos velhos ‘países desenvolvidos’, o começo do século XXI oferece um quadro sombrio, para não dizer sinistro” (HOBSBAWN, 2008, p. 11-12). Segundo este historiador “O mercado livre global afetou a capacidade de seus países e sistemas de bem-estar social para proteger seu estilo de vida”. Destaca ainda que “em uma economia global, eles competem com homens e mulheres de outros países que têm as mesmas qualificações”, contudo sua situação não é bem diferente, pois “recebem apenas uma fração dos salários vigentes no Ocidente e sofrem nos seus próprios países as pressões trazidas pela globalização do que Marx chamava “ o exército de reserva dos trabalhadores”. São eles os “imigrantes que chegam das aldeias das grandes zonas globais de pobreza”. Neste ponto, conclui Hobsbawn, que “situações desse tipo não antecipam uma era de estabilidade política e social” (HOBSBAWN, 2008, p. 12). 8 Unidade: Sociedades Nacionais e a emergência da sociedade global A terceira e última observação de Eric Hobsbawn constata que a “imigração é um problema político substancial na maior parte das economias desenvolvidas do Ocidente, ainda que a proporção dos seres humanos que vivem em países diferentes daqueles que nasceram seja de apenas 3%”. Segundo o historiador apesar dessa situação da globalização ser temporária, mesmo assim poderá trazer graves consequências políticas nacionais e internacionais. Na sua opinião “a resistência política, embora provavelmente não logre fazer reviver práticas protecionistas formais, tenderá a desacelerar o progresso da globalização dos mercados livres nos próximos dez ou vintes anos” (2008, 12-13). Saiba Mais O aumento da desigualdade entre países ricos e pobres e o crescimento da pobreza está relacionado à abertura dos mercados e ao crescimento desordenado da esfera financeira, levando ao desemprego e ao emprego informal. De acordo com Herrera, outro estudioso de nosso tema, a globalização financeira significa o fim da geografia e sendo assim, supõe uma redução das autonomias dos países. A globalização política, segundo ele, “se manifesta nas precisadas pretensões das principais potências mundiais para tratar de provocar uma homogeneização política”. E, por sua vez, a globalização cultural é consequência dos progressos na área tecnológica. “Essa dimensão da globalização tem como objetivo a uniformização dos padrões ou estilos de vida, sistemas de valores, costumes etc., para a qual se tende à conversão de todos os habitantes do planeta em consumidores de produtos culturais estandardizados de acordo com os fins da globalização” (HERRERA, 1997, p. 22-31). Para o professor e pesquisador em História econômica, Alexandre Barbosa, “a globalização trouxe um aumento dos fluxos internacionais de mercadorias, capitais e informações, os quais perpassam os vários países e afetam a dinâmica econômica das empresas, a realidade social dos indivíduos e as opções políticas de partidos e movimentos sociais”. O pesquisador ainda constata oferecendo uma afirmação contundente que “uma parte significativa das populações, culturas e economias está, entretanto, à margem desse processo”, e assim fica distante e “alheia aos novos bens de consumo e tecnologias”, e por isso “incapaz de acessar e processar as novas informações e ainda imune, em grande medida, aos novos valores sociais e morais” (BARBOSA, 2010, p. 19). O que se constata do ponto de vista cultural é um emergir de uma mídia global e a padronização do consumo e tudo numa mesma linha sem diferenciação dos produtos, tudo em série. Vocêjá percebeu esta situação em sua realidade? A propaganda de uma roupa é motivo para que vire moda e todos usam o mesmo modelo. De um outro lado, cria-se uma resistência local, para a proteção dos valores dos grupos. “É o poder da identidade que se rebela contra a imposição de padrões homogêneos de comportamento e expressão cultural”. Uma possível definição neste ponto é que “a globalização propicia tanto a expansão de alianças sociais internacionais, com propósitos e ideologias diferenciadas, como a reação de movimentos locais e nacionais à invasão estrangeira” (BARBOSA, 2010, p. 103-104). Muitas dessas situações temos constatado no nosso cotidiano. Vários grupos altamente incomodados com esta uniformização internacional, devido à Globalização cultural, manifestam-se de maneira contrária, como por exemplo, no vestuário customizado. 9 Times Square, em Nova Iorque, uma característica notável da globalização é a presença de marcas mundiais Fonte: Nightscream / Wikimedia Commons Neste contexto da globalização “as pessoas em todo o mundo se ressentem da perda do controle sobre suas vidas, seu meio, seus empregos, suas economias, seus governos, seus países e, em última análise, sobre o destino do planeta” (CASTELLS, 2013, p. 93-94). A sensação passa a ser aquela que outros estão vivendo a sua vida, ou ao menos, determinando todos os seus passos: moda, cultura, música, arte. Questionar as tendências atuais da globalização e suas consequências para o mercado de trabalho, a vida em geral e, ao mesmo tempo analisar os possíveis resultados para a história desta guerra capitalista é o objeto deste texto. Vamos continuar o nosso percurso de estudo! Documentário: O mundo global visto do lado de cá O mundo global visto do lado de cá, documentário do cineasta brasileiro Sílvio Tendler, discute os problemas da globalização sob a perspectiva das periferias (seja o terceiro mundo, seja comunidades carentes). O filme é conduzido por uma entrevista com o geógrafo e intelectual baiano Milton Santos. https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM http://pt.wikipedia.org/wiki/Times_Square http://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Iorque https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM 10 Unidade: Sociedades Nacionais e a emergência da sociedade global O mundo da pobreza O mundo globalizado é uma só contradição. Ao mesmo tempo que todos os bens estão na maioria dos lugares do planeta, a maioria das pessoas não têm acessos a estes mesmos bens: alimentos, remédios, cultura dentre outros. O abismo entre os países ricos e pobres se torna cada vez maior. A pobreza tende a crescer cada vez mais nesta globalização acelerada. É praticamente impossível que você não tenha ainda constatado uma dessas situações anteriores no ambiente em que você vive. E o que pensar do futuro? “O futuro não é nada radioso: os países industrializados tornaram-se cada vez mais protecionistas, os juros permanecerão elevados nos anos 90, ‘a crise do endividamento está longe de terminar’”. Na outra ponta desta história se constata que “o crescimento dos países pobres será ‘afetado’ pela conjuntura – incerta – dos países industrializados, que determina sua capacidade de investimento e de ajuda governamental”. O que os especialistas dizem a esse respeito? Qual o quadro apresentado por estes estudiosos da economia? Os especialistas não nos apresentam um resultado nada agradável, “entre o quadro mais otimista e o quadro mais sombrio, haverá uma diferença de 40% nos recursos das nações pobres, no ano 2000”. E os pobres? Como ficará sua situação diante destas constatações dos estudiosos? O que eles verificaram é que “a defasagem do desenvolvimento nesses países tem poucas chances de ser reduzida e é grande o risco de ver ‘crescer muito (...) o número de pobres absolutos’” (DECORNOY, 1991, p. 93). A globalização tem, portanto, ampliado e muito os contrastes e as desigualdades. Essa situação produz um contingente imenso de trabalhadores desempregados e, assim, excluídos dos serviços sociais. Ainda se pode encontrar “os trabalhadores precários, os empregados domésticos, os que realizam ‘bicos’, ou atuam em empregos de ocasião, com baixos níveis de renda, desconectados das novas tecnologias e sem instrução exigida para ascender socialmente e ter acesso aos novos padrões de consumo”. Por consequência, “esses são excluídos da globalização”. Essa população está concentrada “nos países globalizados, ainda que não seja difícil encontra-los nos países globalizadores” (BARBOSA, 2010, 19). É interessante perceber que nem sempre o progresso traz benefícios para a maioria das pessoas, no caso, os pobres. Progresso, veja bem não é sinônimo de bem-estar para a maioria dos cidadãos. Documentário: Pobreza no Brasil Atualmente 16 milhões de brasileiros vivem na miséria com menos de R$ 70,00 reais por mês. A maioria no meio rural. https://www.youtube.com/watch?v=cBWqR8iH0FM Enquanto uma minoria, a elite, consome produtos sofisticados, realizam viagens internacionais, compras de produtos de última geração, acesso a bens culturais, os pobres, na sua grande maioria, não têm acesso aos bens básicos de uma existência digna como cidadãos. Percebemos que a sociedade entrou no caminho de cultuar o capital, o dinheiro, e não se importou com a dignidade humana. O resultado é lamentável: uma sociedade rica em tecnologia e pobre em relações humanas. Morador de rua carregando carrinho de papelão em São Paulo, o recolhimento de materiais recicláveis nas ruas é uma das formas de ganhar dinheiro. Fonte: Wikimedia Commons https://www.youtube.com/watch?v=cBWqR8iH0FM http://pt.wikipedia.org/wiki/Morador_de_rua http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo http://pt.wikipedia.org/wiki/Material_recicl%C3%A1vel 11 Saiba Mais O Relatório do Banco Mundial (2000) estimou 1,2 bilhões de pessoas pobres – 24% da população mundial – vivem com menos de um dólar por dia e 2,8 bilhões com menos de 2 dólares por dia (1998). Com esses dados do Banco Mundial se constata que a globalização não conseguiu criar um padrão de consumo básico para todos os habitantes do planeta. Se, por exemplo, “analisarmos a distribuição da população mais pobre, que dispõe de menos de um dólar por dia, veremos que ela se encontra dividida da seguinte forma: 43% dos pobres vivem no sul da Ásia em países como Índia, Bangladesh e Paquistão; 185 na China; 25% na África; e outros 15% estão distribuídos entre o Sudeste Asiático (Indonésia, Malásia, Filipinas), América Latina e Leste Europeu” (BARBOSA, 2010, p. 105). Essa pesquisa, no mínimo, leva a uma imensa indignação quando se verifica o enorme abismo entre ricos e pobres num mundo ‘globalizado’. Certamente é a globalização da pobreza e da indiferença. Se a globalização não contribuiu para melhorar a vida dessas populações pobres não as deixou também no mesmo patamar de miséria anterior à chegada da globalização: tornou mais grave a situação dos economicamente miseráveis. Em outras palavras, a vida cotidiana dos miseráveis piorou e muito. Mendigo nas ruas de Paris Fonte: Eric Pouhier/Wikimedia Commons Uma mulher cigana e o seu cão pelas ruas de Roma Fonte: Wikimedia Commons Em países como a Somália, Afeganistão, e Haiti, 70% da população é subnutrida. Por sua vez a pobreza foi se ampliando em países industrializados. As crianças sofrem enormes consequências diante desta economia do descartável, como afirma Bauman (1999). Uma parcela da população em países ricos não desfruta das benesses da globalização. Por exemplo, nos Estados Unidos 14% dos adultos e 20% das crianças são considerados pobres. Quando acontece alguma tragédia de destaque internacional em vários países ricos, como os Estados Unidos, sempre vemos emergir os pobres que, muitas vezes, estavam escondidos. A África vive a guerra contra a pobreza http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/geopolitica/a-africa-vive-a-guerra-contra-a-pobreza.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Cigano http://pt.wikipedia.org/wiki/Roma http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/geopolitica/a-africa-vive-a-guerra-contra-a-pobreza.htm12 Unidade: Sociedades Nacionais e a emergência da sociedade global Mundo do desemprego e do emprego formal Damos continuidade ao nosso estudo apresentando uma das enormes preocupações de todos nós: o desemprego. O aumento da desigualdade econômica é um dos fatores que levam ao desemprego e ao emprego informal. É evidente que os bolsões de desemprego nos países desenvolvidos e nos subdesenvolvidos ocupam situações diferentes. O texto de Alexandre Barbosa (2010) relata que “um desempregado sueco ou francês é diferente de um desempregado peruano ou tailandês. No primeiro caso, existem sistemas de seguro-desemprego sólidos, os quais durante mais de um ano cobrem boa parte do salário do trabalhador no último emprego”. No que se refere ao segundo desempregado os sistemas de proteção “são frágeis e muitas vezes não há alternativa fora dos empregos informais, com baixos salários e sem acesso aos direitos trabalhistas” (2010, p. 108). Você certamente já constatou esse fato na nossa realidade brasileira, não é mesmo? Sobre o segundo desempregado, é claro. Para pensar Como explicar essas tendências de aumento de desemprego e expansão da informalidade? Essa situação, por exemplo, na China, deve-se ao “avanço do trabalho informal” que “esteve relacionado às demissões das empresas estatais em processo de modernização”. Importante constatar que em atividades de trabalho informal os sindicatos raramente estão presentes. Diferente do setor industrial antigo, em que os salários eram mais ou menos iguais e a legislação respeitada, é a situação no setor de serviços urbanos: informalidade é a regra. Veja se você acerta: onde cresceu mais nos últimos vinte anos do século XX o desemprego e a informalidade? Se você respondeu nos países em desenvolvimento, acertou (BARBOSA, 2010, p. 109). Números da precariedade do trabalho no mundo Trabalho forçado (2004) 12, 3 milhões Trabalho infantil (2005) 190,7 milhões Desempregados (2006) 195,2 milhões Desempregados jovens (2005) 88, 2 milhões Trabalhadores pobres (menos de 2 dólares diários – 2006) 1,368 milhões fonte: OIT – organização internacional do trabalho Diante da enorme cifra de desempregados, a única perspectiva vista por vários deles é a imigração. Contudo, não há um dado significativo sobre a quantidade de mão-de-obra imigrante no mundo. Neste ano de 2015, verifica-se uma enorme quantia de pessoas que imigram especialmente para a Europa oriundas da África buscando melhores condições de trabalho e vida, ou buscando trabalho e vida, devido às guerras, perseguições e fome em seus países de origem. No Brasil, de maneira especial e não única, verifica-se a chegada de um número significativos de haitianos nesta busca de vida melhor, nem sempre encontrando. Antes de dar uma opinião fundamenta sobre esta questão, lembre-se: vários que criticam a imigração hoje no passado tiveram seus pais e avós como imigrantes. 13 Segundo Barbosa, não existe “um mercado de trabalho global, seria ingênuo negar os impactos da globalização sobre o mercado de trabalho”. Esta constatação é comprovada “porque as empresas multinacionais passam a subcontratar serviços de trabalhadores na periferia do mundo, com salários e benefícios sociais menores”. Neste sentido “ainda não haja um mercado de trabalho global, as empresas usam, com frequência, a ameaça de que podem mudar as suas fábricas para países mais pobres, no caso de os sindicatos locais não se conformarem com níveis salariais inferiores” (2010, p. 112). E assim, muitas vezes, o trabalhador é submetido a condições de trabalho e salariais aviltantes é obvio, por necessidade. Turismo sexual, trabalho forçado e trabalho infantil Veremos a seguir uma das situações mais graves deste nosso estudo: a exploração de trabalho e sexual infantil. Muitas destas situações estão no nosso cotidiano muitos fingem não ver, “não tenho nada com isso”, às vezes pensam ou falam algumas pessoas. Não temos mesmo? No desenrolar acelerado da globalização, sem legislações nacionais e internacionais, são consentidas muitas atividades ilícitas e desumanas, para não dizer sub-humanas. Dentro deste quadro estão o trabalho infantil, forçado e o turismo sexual. São estas atividades criminosas portadoras de um valioso e enorme desenvolvimento financeiro. Sem dúvida que as novas tecnologias colaboram e muito, não em si, mas a sua utilização para a organização em rede de diversas destas atividades. O tráfico internacional de drogas está inserido dentro desta enorme ‘indústria’ do crime, observa-se uma estrutura organizada para tal finalidade. Você sabia que “o tráfico de mulheres e crianças aparece como a terceira mais rentável atividade do crime organizado global, depois do tráfico de drogas e de armas”? Pois é, estas são as informações do Fundo de Desenvolvimento da Mulher das Nações Unidas. O que se verifica nessa situação é uma rede global, internacional de prostituição. Muitas “garotas são atraídas por anúncios de emprego como garçonetes e babás; ou coagidas, por meio da força, acabam por se transformar em escravas, por conta das pesadas dividas que detêm com as organizações criminosas”. As regiões em que está situação é mais escandalosa são: o Leste Asiático – especialmente Tailândia e Filipinas – e o Leste Europeu e países da antiga União Soviética, desmembrada após a queda do muro de Berlim em 1989 (BARBOSA, 2010, 114). Documentário sobre exploração sexual http://mais.uol.com.br/view/15097389 A escravidão ainda não foi abolida em pleno século XXI. Agora surge, neste novo contexto, em diversas áreas. Neste sentido, “a prostituição sexual de mulheres, crianças e adolescentes tem-se transformado numa empresa global de alta rentabilidade” (BARBOSA, 2010, 114). Tudo o que foi relatado sobre a prostituição neste texto ainda recebe um ingrediente mais trágico: o turismo sexual. São inúmeros os pacotes turísticos que contemplam atividades sexuais com menores de idade. Infância abandonada, perdida e explorada. O Brasil não está fora deste roteiro de turismo sexual, aliás é um dos destinos preferidos daqueles que se utilizam desta mercadoria humana. 14 Unidade: Sociedades Nacionais e a emergência da sociedade global Neste mesmo aspecto entra a rede global de pornografia, especialmente a infantil. É mais um caso em que a alta tecnologia ajuda esse mercado, “há uma divisão internacional do trabalho, em que os ricos trazem conhecimento e tecnologia e os pobres a destruição dos seus corpos e dignidade” (BARBOSA, 2010, p. 114). O comércio da mulher cresceu na Ásia, são “mulheres escravas – algumas delas crianças (...) O turismo sexual multiplicou-se nos países pobres. Há quem fale em ‘feminização da pobreza’” (O’CONNOR, 1995, p. D2). Essa é uma das situações de vida mais dramáticas do tempo globalizado: pessoas usadas e descartadas. Além disso temos uma infância perdida. Por sua vez, o trabalho forçado está presente em larga escala na Índia, Nepal, Paquistão e Bangladesh na Ásia, também é verificado no norte e oeste da África. Este tipo de trabalho está no contexto da América do Sul e em países desenvolvidos. “Acredita-se que existam três mil escravos domésticos em Paris – tendo sido inclusive criado o Comitê Francês contra a Moderna Escravidão” (BARBOSA, 2010, p. 115). Quem diria, não é mesmo? Em Paris, isto mesmo, na França. Outra imensa catástrofe para a sociedade pós-moderna, globalizada e da mais alta tecnologia é o trabalho infantil. O relatório da Organização Internacional do Trabalho (2004) relata que são quase 200 milhões de crianças entre 5 e 14 anos trabalhando no mundo. No mercado da produção de tecidos reina o Lesoto (África), de tapetes e material esportivo, como bola de futebol, estão neste mercado as crianças no Paquistão. Na agricultura são as crianças egípcias e indianas. Os países desenvolvidos não escapam desta tragédia. Nos Estados Unidos, muitas crianças trabalham em redes de fast-food, em fábricas de roupa no coração de Nova York. Na Itália cerca de 500 milcrianças trabalham, especialmente no sul do país. O que será do nosso futuro? Ou será que o futuro já está em nosso presente? Essas situações nos fazem pensar na nossa humanidade, em democracia, cidadania, direitos da pessoa, dignidade humana. Pense hoje, faça hoje, amanhã poderá ser tarde demais, para os outros e para nós. Outra imensa catástrofe para a sociedade pós-moderna, globalizada e da mais alta tecnologia é o trabalho infantil. O relatório da Organização Internacional do Trabalho (2004) relata que são quase 200 milhões de crianças entre 5 e 14 anos trabalhando no mundo. No mercado da produção de tecidos reina o Lesoto (África), de tapetes e material esportivo, como bola de futebol, estão neste mercado as crianças no Paquistão. Na agricultura são as crianças egípcias e indianas. Os países desenvolvidos não escapam desta tragédia. Nos Estados Unidos, muitas crianças trabalham em redes de fast-food, em fábricas de roupa no coração de Nova York. Estamos chegando ao final do estudo desta unidade. Ainda queremos destacar que “esses exemplos de desagregação social revelam que as possibilidades de se ganhar ‘dinheiro sujo’ no mundo globalizado são as mais variadas”. Sabemos que muitos colaboram com essa rede que leva à desagregação. Há “combustíveis” velhos e novos neste mercado: “drogas, armas, mulheres e crianças tornaram-se mercadorias de alto valor, gerando lucros propiciados por um conjunto de agentes econômicos ilegais”. A globalização, como já afirmamos, tornou os miseráveis ainda mais miseráveis. E “é nesse contexto que os excluídos se reinserem na globalização, comprometendo o seu futuro, a sua saúde e os seus valores morais” (BARBOSA, 2010, p. 115). Uma sociedade com todos esses elementos que fazem do humano uma simples mercadoria, é uma sociedade vazia e doente. Vamos gritar: queremos uma outra globalização! Globalização da dignidade e solidariedade com a pessoa. 15 Material Complementar Para expandir seu conhecimento a respeito do conteúdo da unidade, sugiro os seguintes materiais: Vídeos: Laranjas do sertão Este documentário recebeu o Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo em 2014, na categoria “Melhor Reportagem Cinematográfica”. A temática é o subemprego. https://www.youtube.com/watch?v=uh5C3ePxpZk Pobreza no Brasil - Caminhos da Reportagem O Caminhos da Reportagem revela a pobreza no Brasil. A equipe da TV Brasil foi em busca de famílias no semi-árido nordestino e nas favelas das grandes cidades, e encontrou histórias de vidas muito sofridas. Confira cada uma delas e saiba o que pode ser feito para reverter essa situação: https://www.youtube.com/watch?v=TkEYL7L4tuI Roda Viva | Thomas Piketty | 09/02/2015 Economista francês discute sua tese de que acúmulo de renda em países desenvolvidos é maior do que taxas de crescimento econômico: https://youtu.be/6pcGuqxyVJs Profissão Repórter – Prostituição O documentário apresenta variados formatos de prostituição. Interessante relacionar seu conteúdo com sociedade globalizada e as suas consequências: https://www.youtube.com/watch?v=qDob8gBv3kU “Leia” os documentários de forma crítica, lembre-se de que mesmo os documentários são obras de ficção e carregam em si intenções e ideologias de quem os produziu, assim como a própria história que nos foi deixada como legado pelos nossos antepassados. https://www.youtube.com/watch?v=uh5C3ePxpZk https://www.youtube.com/watch?v=TkEYL7L4tuI https://www.youtube.com/watch?v=qDob8gBv3kU 16 Unidade: Sociedades Nacionais e a emergência da sociedade global Referências Básica CASTELLS, M. O Poder da Identidade. São Paulo: Paz e Terra, 2010. GOHN, M. G. História dos Movimentos e Lutas Sociais: A Construção da Cidadania dos Brasileiros. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2012. HOBSBAWM, E. J. Mundos do Trabalho: Novos Estudos Sobre História Operária. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000 Complementar AQUINO, R. S. L. et alii. Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais. Da crise do escravismo ao apogeu do neoliberalismo. Rio de Janeiro: Record, 2005. FAUSTO, B. (dir.). História Geral da Civilização Brasileira. T. III. O Brasil Republicano. Vol. 9. Sociedades e instituições (1889-1930). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. GOHN, M. G.; BRINGEL, B. M. Movimentos sociais na era global. Petrópolis: Vozes, 2012. KHOURY, Y. A. As greves de 1917 em São Paulo. São Paulo: Cortez Editora, 1981. ORO, A. P. (org.). Representações sociais e humanismo latino no Brasil atual. Religião, política, família e trabalho. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. Bibliografia Complementar da Unidade BARBOSA, A. F. O mundo globalizado. Política, sociedade e economia. São Paulo: Contexto, 2010. BAUMAN, Z. Globalização as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. CASTELLS. M. O poder da identidade. Vol. 2. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. DECORNOY, J. Desenvolvimento e pobreza. In: Le monde Diplomatique apud Carta: falas, reflexões, memórias. Brasilia: Gabinete do Senador Darcy Ribeiro, 1991. HERRERA, S. B. Globalización y desarrollo mundial. La Habana: Editorial de Ciencias Sociales, 1997. HOBSBAWN, E. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História do tempo presente. São Paulo: Contexto, 2007. O’CONNOR, A. M. Leis demoram para acompanhar mudanças. In: O Estado de São Paulo. 3 set. 1995, p. D2. 17 Anotações
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