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Quadro Fatores etiológicos para HDC e LCNC Estresse/Tensao (Abfração) Endogenos Parafuncao Deglutiçao Exógenos Mastigação de alimentos duros e resistentes Hábitos: morder unhas e objetos como lápis ou canetas Profissões: segurar pregos com os dentes, tocar um instrumento de sopro Aparelhos dentários: aparelhos ortodônticos, grampos de prótese parciais removíveis Protetores de mordida Friccao Exógenos Higiene dental: escovação excessiva, uso de pastas de dentes abrasivas, uso de pastas Ou mecanismos clareadores caseiros Biocorrosão Endógenos( ácidos) Placa de bactérias acidogenicas Fluido gengival crevicular Suco gastrico em pacientes como DRGE, bulimia e outras doenças gastricas Exógenos Consumo de frutas e sucos/bebidas ácidas Exposições ocupacionais a gases industriais ácidos e a outros fatores ambientais Proteólises Ação enzimática (cárie) Protease (pepsina e tripsina) Fluido crevicular Eletroquímica Efeito piezelétrico da dentina Fricção (atrito) Esse mecanismo físico refere-se a perda de substrato induzido por um fluxo sólido, líquido ou gasoso. O uso da escova dental/dentrificio abrasivo, associado a alimentos ingeridos ou ao fluxo de líquidos sobre os dentes, pode levar a perda da camada smear layer ou cemento. No entanto o fluxo na boca é também moderado e tamponado pela saliva que contém proteínas orgânicas/glicoproteínas e sais inorgânicos. Essas substâncias cobrem a superfície dentinária expostas e protegem-nas da mudança de pressão do líquido dos túbulos, mas não necessariamente da abrasão. Há uma suposição comum de que a etiologia da HDC está relacionada a abrasão do dentrificio e da escova dental. Alguns estudos sugeriram que dentrificios e escova de dente se usado sozinho ou em conjunto, não podem ser fatores iniciadores para HDC. A reduzida taxa de desgaste associado com escovas de dentes com cerdas macias e menor tamanho de grão abrasivo em dentrificios parece indicar uma influência secundária sobre HDC. Escova de dentes e dentrificios desempenham um fator de aceleração da HDC. Biocorrosão A presença de biocorrosão é um cofator durante a formação da HDC. Condições ácidas endógenas ou exógenas na boca produzem perda da camada de smear layer/cemento de superfícies dentárias expostas. Ação de ácidos e proteases, com o passar do tempo, produz a dissolução da glicoproteína e outros componentes que, de alguma forma, obstruem os túbulos dentinários. Condições orais de biocorrosão, incluindo a redução do fluxo salivar relacionada ao envelhecimento, uso de fármacos para controle da depressão, e hipertensão e outras condições sistêmicas crônicas com manifestações orais podem, inevitavelmente, aumentar a probabilidade de HDC diminuindo o PH oral. Qualquer condição que produza xerostomia desencadeará um risco de HDC por biocorrosão. Estresse mecânico – Tensão o estresse mecânico é o resultado de forças aplicadas sobre superfícies oclusais, como introduzido por Kornfeld, em 1932, desencadeando acúmulo de tensão na região cervical. O estresse cervical tem sido estudado por numerosos clínicos e pesquisadores para avaliar a perda da camada smear layer/cemento e de esmalte na região da JCE. Quando a taxa dessa perda excede à velocidade salivar de remineralização, os túbulos dentinários abertos atingem um limiar de nocicepção, o limiar da HDC. A presença de HDC é, portanto, indicada como um sinal precoce e sintoma durante o estresse e levando clinicamente a formação da lesão de abfração. Em outras palavras, a HDC é o primeiro sintoma clínico de uma futura lesão cervical não cariosa. Os estudos clínicos e as análises biomecânicas revelarão a base etiológica concomitante de estresse durante o desenvolvimento de lesão cervical não cariosa e HDC Tensão A perda de estrutura dentária na região cervical está cada vez mais comum no diagnóstico realizado pelos cirurgiões dentistas, podendo atingir até 85% de algumas populações. A etiologia das lesões cervicais não cariosas é relacionada a 3 mecanismos distintos e fundamentais: tensão, fricção e biocorrosão. Tensao-Deformação Força estática ou cíclica é uma ação que promove alteração no estado de repouso ou no movimento de um corpo. A força aplicada em um material promove consequências internas no objeto denominada tensão mecânica. A fórmula física aplicada na engenharia para delinear a tensão mecânica é definida como força aplicada em um ponto físico na superfície de um corpo por uma unidade de área (T=F/A). Simplificando, tensão é a energia oriunda de uma força que se propaga no interior da matéria que constitui o objeto. A tensão pode ser classificada entre: tensão de tração, tensão de compressão e tensão de cisalhamento. A deformação de um corpo sólido é considerada qualquer alteração na configuração geométrica que conduz a mudanças no formato ou na dimensão depois da aplicação de ação externa (força). A deformação é uma consequência da tensão e pode ser classificada de acordo com sua intensidade em transiente ou elástica, permanente ou plástica e fratura. Na deformação elástica, o corpo retorna ao seu estado original após a remoção da força. Na deformação plástica, o corpo não retorna à forma original após a remoção da força. A fratura ocorre quando a ruptura do corpo em 2 ou mais partes. Considerações anatômicas da região cervical A micromorfologia da estrutura dentária influencia diretamente a origem e a progressão da lesão cervical não cariosa. Na região cervical, os prismas de esmalte e os túbulos dentinários estão localizados transversalmente em relação ao longo eixo do dente, ao passo que nos terços oclusal e incisal estão localizados paralelos. Além disso, o esmalte é mais fino e, portanto, mas propenso a fraturas na região cervical. As características da dentina (como, por exemplo, a quantidade de dentina Intertubular e Peritubular) e a direção dos túbulos dentinários são significativamente alteradas de acordo com a localização, e podem promover expressiva influência nos valores de resistência máxima a tração do material. Essa direção, associada a maiores densidade e diâmetro desses túbulos, resulta em uma dentina mais deformável, friável e consequentemente com maior possibilidade de falha. Tais características específicas do esmalte e da dentina proporcionam menor resistência ao tecido dentário na região cervical, com maiores chances de desenvolver micro e macrofaturas consequentes da concentração de tenção superior ao limite elástico do tecido dentário. A resistência máxima do esmalte perpendicular aos prismas é entre 40,1 e 42,1 MPa. A orientação do esmalte na região cervical é paralela aos prismas, ocasionando menor rigidez da estrutura dentária e menores valores de resistência máxima atração. A resistência máxima à tração da dentina varia de acordo com a região e a direção dos túbulos denários quanto maior a profundidade da dentina, menor a resistência máxima a tração. A resistência máxima a compreensão do esmalte e da dentina é de 262 MPa e 234 MPa, respectivamente. Lesão de Abfração e Fator Oclusal A tensão na região cervical, consequente de cargas oclusais cíclicas no esmalte e na dentina, em intensidade que excede os valores máximos de tração e compressão dessas estruturas, resulta em deformação superior à do que o limite elástico das estruturas suporta. Esse processo ocasionará fraturas e o desenvolvimento de lesões de abfração. Essas lesões costumam ocorrer no nível da junção amelocementária (JAC), pois a flexão pode promover o rompimento da camada muito fina de prismas de esmalte e permitir a propagação de microfraturas de cemento e dentina. A abfração refere-se ao processo patológico de perda de tecido dentário rígido em áreas de concentração de tensão decorrentes de contatos oclusais excêntricos. A severidade e o desenvolvimento das lesões de abfração são proporcionais ao acúmulo de tensão e dependem da direção, intensidade, frequência, duração e do local deforças estáticas ou cíclicas. As forças potencialmente mais prejudiciais à estrutura dentária são geralmente as com resultantes fora do longo eixo da intercuspidação, dos movimentos excursivos (lateralidade e protusão) e contatos deflectivos; seja em posição normal ou parafunção. Portanto, existe forte evidência de associação entre facetas de desgastes na face oclusal e presença de lesão cervical não cariosa. Entretanto, nem todo dente que apresenta facetas de desgaste vai apresentar lesão cervical não cariosa; assim como nem todo dente que possui lesão cervical não cariosa vai exibir facetas de desgastes. Oclusões não funcionais frequentemente criam contatos com resultante da força fora do longo eixo, que são relacionados com a presença de lesão cervical não cariosa. Existe evidência que até 100% dos dentes com lesão cervical não cariosa com morfologia em forma de cunha resulta de contato prematuro e forças não axiais. Entretanto, essa análise possui algumas limitações e promove alguns questionamentos. Por exemplo, os efeitos do bruxismo e do apertamento são maiores do que os da mastigação. Entretanto, o apertamento dentário não resulta em desgaste amplo da face oclusal como o bruxismo, mesmo sendo possível a formação de classe IV e flexão dentária. Além disso, não existe um método simples e eficaz para quantificar os efeitos do bruxismo ou apertamento. O bruxismo por exemplo, é subestimado porque somente as facetas de desgaste são sinal clínico que mensura sua intensidade. Portanto, tanto o bruxismo quanto o apertamento são fatores importantes para a formação de lesões cervicais não cariosas. Além da instabilidade oclusal, a morfologia e a geometria da coroa dentária podem influenciar o padrão de distribuição de tenção do elemento dentário. A morfogeometria da coroa dentária é primariamente baseada em fatores genéticos, mas o meio em que o indivíduo vive, como alguns hábitos ocupacionais e dieta, pode afetar a anatomia. Desgastes oclusais e incisais, assim como a perda de esmalte no terço cervical, pode alteram a anatomia da coroa dentária. Essa variação na morfologia oclusal pode afetar a eficiência do apertamento e, consequentemente, diminuir a concentração de tensão na região cervical devido à diminuição da altura e inclinação das cúspides. Apesar de alguns estudos proporem demonstrar a associação entre os fatores oclusais e a presença de lesões cervicais não cariosas, a literatura ainda é escassa de resultados sobre uma associação clara entre as 2. Isso deve-se ao fato da grande heterogeneidade entre as metodologias utilizadas, falta da padronização e diferenças no diagnóstico de lesão cervical não cariosa (Cunha ou arredondada). Além disso as lesões cervicais não cariosas nem sempre vão originar no dente onde o contato prematuro é identificado. Esse dente é o maior responsável por promover a alteração da oclusão em relação cêntrica para a posição de máxima intercuspidação habitual, o que promoverá a instabilidade oclusal e contatos fora do longo eixo nos demais elementos dentários. Direção das forças oclusais A concentração de tensão na região cervical, devido ao contato oclusal com resultantes da força oblíqua ao longo eixo, apresenta relação física/mecânica com uma falha da estrutura dentária. Assim sendo, a direção da força aplicada influencia diretamente à concentração de tensão. Quando a intensidade de força é aplicada no mesmo ponto da coroa dentária, mas com diferentes angulações, o resultado são diversos padrões de concentração de tensão e deformação na região cervical. O mesmo mecanismo também ocorre quando o local (crista x vertente) de aplicação de carga se altera. Por outro lado, a mesma intensidade de força aplicada axialmente tende a apresentar uniformidade da distribuição de tensões no elemento dentário. Quando ocorrem contatos oclusais excêntricos, a concentração de tensão aumenta assim como a maiores níveis de deformação. A área de contato oclusal é intimamente relacionada a flexão do dente e influencia a concentração de tensão no terço cervical. Em relação ao local do contato oclusal, tratando-se de dentes posteriores superiores quando a força aplicada na vertente triturante da cúspide palatina, a estrutura dentária flexiona em direção palatina, o que resulta em concentração de tensão de tração na região cervical vestibular e tensão compressiva na região cervical palatina. Ao contrário de quando a carga é aplicada na vertente triturante da cúspide vestibular, a tensão de tração concentra-se na cervical da face vestibular, e a tensão compressiva na cervical palatina. Alavancas Para entender melhor os conceitos biomecânicos e a implicação do ponto de fulcro, é fundamental considerar a Importância do efeito de alavanca nos sistemas biológicos. Enquanto os princípios mecânicos de alavancas já estão consolidados nas ciências exatas, sua implicação na biologia ainda é subestimada ou ignorada. Considerando que os seres vivos apresentam alguma parte ou projeção (por exemplo: perna e braço), quando um sujeito realiza uma contração muscular em um desses membros este realizará um movimento de alavanca. Alavanca é um dos mais simples e primitivos mecanismos utilizados pelo ser humano para aumentar a resistência da força muscular. O efeito da alavanca consiste em uma barra rígida livre para rotacionar ao redor de um eixo fixo, denominado ponto de fulcro (F), submetido a ação de 2 ou mais forças, denominadas: e esforço (E) - ou força aplicada; e resistência (R) - ou força de resistência. O objetivo desses princípios é multiplicar a força e o movimento. No caso do elemento dentário estes são considerados cantilévers verticais e reagem de acordo com a direção da força. A alavanca é classificada de acordo com a posição do ponto de fulcro e a força de resistência aplicada. Devido o dente estar fixado por meio da raiz no osso alveolar, a alavanca classe I é a que melhor representa essa situação: o fulcro (F) localiza-se entre o esforço (E) e a resistência (R). As lesões de abfração situam-se próximas ao ponto de fulcro do dente, que está na área de maior concentração de tensão. Essa teoria afirma que a direção das forças oclusais na coroa dentária determinará o local da lesão cervical não cariosa. Morfologia das Lesões Cervicais não Cariosas A alteração do ponto de fulcro em áreas de concentração de tensão afeta o desenvolvimento de lesões cervicais não cariosas e resulta em variações de morfologia. A lesão em forma de cunha, por exemplo, é um padrão comum de LCNC, consequentes de várias ações dos contatos oclusais em dentes anteriores ou posteriores em momentos específicos da função ou parafunção. Alterações na concentração de tensões de tração no interior da lesão resultam em morfologias irregulares além de um ângulo interno bem definido e paredes planas. Algumas lesões parecem apresentar estrias nas paredes da cavidade, também conhecidas como “linhas de progressão”. Essas linhas significam alta influência do fator etiológico tensão no desenvolvimento da LCNC. A intensidade exacerbada dos valores de tensão e deformação no fundo e nas paredes da lesão apresenta maior proximidade com a câmara pulpar e promove estímulos às células pulpares devido à maior possibilidade de danos ao complexo dentinopulpar. Nesses casos, a deposição de dentina pelos odontoblastos deriva na formação de dentina esclerótica. Essa dentina de defesa é resultado de um processo inflamatório e é depositada próximo às áreas que também estão sujeitas aos demais mecanismos para evolução da lesão cervical não cariosa. Esse processo resulta em uma dentina mais mineralizada e menos permeável devido a obliteração dos túbulos dentinários. A deposição de dentina reparadora também pode ser depositada na câmara pulpar para manter os tecidos nervosos e vasculares mais distantes dos estímulos tensão/corrosão/fricção, consequentemente reduzindo O volume da Câmara pulpar. Em razão dessa deposição, é comum na prática clínica seobservar uma dentina escurecida no fundo das LCNC e também dentes com necrose pulpar consequente dos altos valores de tenção e deformação. Nesses casos, o paciente raramente se queixa de hipersensibilidade dentinária cervical. Outras considerações Em determinadas situações, pode ser constatar que a concentração de atenção não é provocada por contatos oclusais, mas consequente da pressão provocada pela língua contra os dentes. Este é um hábito para funcionar o relacionado principalmente a pacientes com mordida aberta anterior. Apesar do seu tamanho pequeno se comparada a outros conjuntos musculares, a língua é considerada um dos músculos mais Fortes do corpo e é capaz de produzir carregamentos em intensidade suficiente para exceder o limite elástico das estruturas dentárias (quando este é realizado em movimentos repetitivos e por um longo período).A pressão da língua contra os dentes exerce uma força com resultante oblíqua ao longo eixo e virgula associada com agentes biocorrosivos, atua no desenvolvimento e na progressão da LCNC ou lesões de cáries (quando a placa bacteriana está presente em pacientes que apresentam qualidade insatisfatória de higiene). Tensão-Biocorrosão O Mecanismo de tensão é inevitável e recorrente na cavidade oral. Em conjunto com os demais outros fatores modificadores vão atuar para definir a origem e a progressão das LCNC, e isso pode resultar em diferentes morfologias. A tensão-biocorrosão refere-se à ação sinergista de ambos os fatores etiológicos, e tem um importante papel no desenvolvimento e na progressão das LCNC; assim como as lesões cariosas em regiões de acúmulo de tensão. A combinação de tensão com a biocorrosão pode promover mais danos do que quando os fatores atuam separadamente. A prevalência de LCNC na superfície vestibular é influenciada pelo reduzido contato com a saliva nesta região, ocasionando maior efeito do fator biocorrosão nas lesões de abfração mesmo quando a concentração de tensão é similar em outras regiões da cavidade oral. O potencial biocorrosivo oriundo da dieta ácida (por exemplo: ingestão de frutas cítricas e refrigerantes) assim como hábitos ocupacionais e cotidianos (por exemplo: fumar cigarros) atuam associados com tensão deformação na região cervical. Além disso, as faces linguais e palatinas possuem 600% mais saliva serosa do que a região vestibular. A saliva cerosa tem potencial para neutralizar vários ácidos e agentes proteolíticos de origem biocorrosiva. Esta é uma das vantagens da saliva, pois a dentina pode ser degradada por ácidos exógenos ou endógenos, assim como agentes proteolíticos. Esses cofatores atuam na dentina, tornando-a mais frágil e suscetível para o mecanismo de abfração. A combinação dos mecanismos de tensão-deformação com a biocorrosão resultará na degradação dentinária na superfície vestibular do elemento dentário. Comportamento Biomecânico de Lesões de Abfração A perda de estrutura dentária é o principal fator modificador para alteração do comportamento biomecânico do elemento dentário. Essa perda, resulta em um remanescente dentário menos rígido e mais frágil para eventuais desgastes dentários e consequentes falhas. Portanto, em casos de perdas de estrutura na região cervical, como as LCNC, o remanescente dentário apresentará alteração no padrão de distribuição de tensão-deformação. Nesses casos, a tensão será acumulada nas paredes da cavidade da LCNC, principalmente no fundo, pois regiões de maior módulo de elasticidade e ângulos tendem a apresentar maior intensidade de tensão. Outra consideração importante é que quanto maior a perda de estrutura, maior será a concentração de tensão e mais rápida será a evolução da LCNC. Restauração O procedimento restaurador da LCNC é indicado para proteger a dentina exposta de agentes biocorrosivos, além de fornecer maior resistência ao dente enfraquecido. Os materiais restauradores devem apresentar módulo de elasticidade similar ao da estrutura a ser restaurada para promover um comportamento biomecânico similar ao do dente hígido. A restauração da LCNC resultará em menor concentração de tensão no fundo da cavidade e nas paredes da lesão, além de reduzir a deformação da estrutura dentária. Tratamento Ortodôntico Pacientes pós-ortodônticos são considerados grupos de risco para apresentar LCNC e HD. Entretanto, a literatura considera que ainda faltam evidências científicas mais concretas para comprovarem essa efetiva correlação. Por se tratar de uma afirmação ainda empírica, o estudo da distribuição de tensão na região cervical de dentes que recebem carregamentos oclusais fora do longo eixo durante o tratamento ortodôntico é importante. Além disso, movimentos ortodônticos promovem concentração de tensão ao nível da JAC, como, por exemplo, em movimentos extrusivos e de vestibularização. Em dentes com LCNC, a intensidade da tensão é maior nas paredes da cavidade. Quando a LCNC é restaurada com resina composta, a distribuição da tensão é mais homogênea nas estruturas dentárias quando comparada com a LCNC sem restauração. Portanto, o procedimento restaurador é indicado para evitar maiores valores de tensão no fundo e nas paredes da LCNC durante o tratamento ortodôntico e contatos oclusais funcionais ou parafuncionais. Considerações periodontais As forças oclusais recebidas pelos dentes são transmitidas para as estruturas de suporte periodontal que vão amenizar e dissipar tensão resultante quando essa ocorrer no longo eixo do dente. Quando o ligamento periodontal é submetido a tensão de compressão, e esta é superior ao limite elástico, mediadores celulares são ativados na região e induzem a reabsorção óssea na área de compressão do osso alveolar. Também conhecido como deflexão óssea, esse mecanismo ameniza, reduz-se e distribui mais homogeneamente a tensão, não sendo esta concentrada somente nos tecidos do órgão dentário. Caso ocorra perda de inserção óssea, o ponto de fulcro desloca para apical, e as forças aplicadas resultarão em menor intensidade ao nível da JAC. Entretanto, devido a perda de inserção óssea e gengival, a região cervical apresentará maior área de cemento e dentina exposta para outros fatores etiológicos das LCNC, como abrasão da escova/dentrificio, e especialmente, agentes corrosivos. Conclusão • A tensão resultante de contatos oclusais não axiais é o principal cofator do grupo abfração para origem e progressão de LCNC. • A direção de contatos oclusais excêntricos afeta o padrão de tensão-deformação do elemento dentário. • A perda de estrutura dentária altera o padrão biomecânico, portanto a LCNC pode apresentar morfologia irregular de acordo com a alteração da área de maior concentração de tensão de tração. • O procedimento restaurador da LCNC promove maior homogeneidade na distribuição de tensão no fundo e nas paredes da cavidade. • A associação da tensão com biocorrosão promove maiores danos ao tecido dentário do que quando esses fatores atuam isolados. • A perda de inserção gengival pode reduzir a concentração de tensão ao nível da JAC, entretanto isso resulta em maior área de cemento e dentina radicular expostos aos fatores biocorrosivos e de fricção. • Pacientes com bruxismo, apertamento dentário e pós-ortodônticos são considerados grupos de risco para desenvolver LCNC e HD consequentes do fator tensão. Fricção Como um mecanismo para as lesões cervicais não cariosas (LCNC), a fricção pode ser classificada em endógena (atrição) ou exógena (abrasão). A atrição ocorre como resultado do contato entre os dentes (por exemplo, durante a mastigação), ao passo que a abração é causada por objetos externos ou substâncias que são constantemente introduzidas na boca (por exemplo, dentifrício). Os principais fatores que afetam a abrasão dentária a partir da escovação são: a técnica particular de escovação, o tipo de escova de dente, o dentifrício usado durante a escovação e a duração e a intensidade da escovação.Técnicas de escovação A escovação é o método mais eficiente para a remoção do biofilme das superfícies dentárias. A técnica correta de escovação permite a adequada remoção do biofilme, protege os tecidos periodontais e reduz o risco de recessão gengival. Contudo, a incorreta aplicação da escova de dente pode ser um cofator para as LCNC e aumentar a perda de esmalte amolecido, particularmente no terço cervical do dente onde a concentração de estresse é maior. Em casos severos, isso pode levar a exposição da dentina ao ambiente oral. Vários métodos de escovação manual são recomendados por dentistas e associações de dentistas para atender idade específicas e grupos de pacientes. A técnica de escovação mais comumente sugerida aos pacientes por dentistas e higienistas é a técnica de Stillman modificada. Essa técnica enfatiza a remoção do biofilme localizado acima e logo abaixo da margem gengival. As cerdas da escova são posicionadas a 45° da margem gengival, e movimentos de escovação horizontais e verticais são realizados; movimentos vibratórios e ligeiramente rotatórios são, então, aplicados antes de se mover para o próximo grupo de dentes. As técnicas de escovação incorreta envolvem o uso de força excessiva (que pode chegar a 1,96N) durante os movimentos de escovação. A escovação com força excessiva aumenta a fricção entre as cerdas da escova e o esmalte dentário ou dentina, o que pode levar a um aumento do desgaste nesses tecidos duros. Porém, o contato da escova não causa desgaste significativo por si só. Uma escova com cerdas macias promove desgaste da dentina inferior a 0,5 micrômetro por mês, o que é clinicamente insignificante. O desgaste sobre esmalte pela abrasão da escova de dente é ainda mais insignificante. Geralmente, escovar com uma escova de dentes manual resulta em maiores forças de escovação do que escovar com uma escova de dentes elétrica, e a velocidade de escovação não mostrou influenciar a abrasão do esmalte ou da dentina. Estudos sugeriram que não há diferença na abrasão de tecidos duros entre a escovação elétrica e a manual com pasta de dente, apesar da constatação que as ações da cabeça e/ou o filamento das escovas de dentes elétricas podem deslocar rapidamente a pasta de dentes da cabeça da escova. Escova de Dentes A escova influencia o processo de desgaste em combinação com o dentifrício porque a cerdas macias são capazes de reter mais pasta de dente e criar uma superfície de contato maior com o substrato. Além disso, o aumento do diâmetro do filamento promove mais abrasão. Verificou-se que os dentifricios em combinação com escovas de dentes com filamento de 0,20 mm de diâmetro induzem perdas de esmalte superiores a 0,15 - 0,25 milímetros. Em contraste, um aumento no número de filamentos pode diminuir os valores de rugosidade média e perda de volume e aumentar o contato superficial, o que melhora a habilidade de limpeza. De fato, a combinação escova/dentífricio pode, simultaneamente, aumentar a perda de volume, porém menos arranhões profundos, promovendo uma superfície mais lisa. Outro aspecto que deve ser considerado é o tipo de cerdas na escova. Fora demonstrado que escovas com cerdas macias apresentam as melhores morfologias das pontas das cerdas, o que resultou em melhor controle de qualidade. Em contraste, escovas de dentes com cerdas duras apresentam as piores morfologias das pontas das cerdas e podem prejudicar os tecidos duros e moles, levando a recessão gengival. No entanto, não foram encontradas diferenças significativas entre escovas de dentes com cerdas moles e duras na produção de abrasão do esmalte. Dentífricios Os dentífricios são compostos de um abrasivo, um umectante aquoso e um agente terapêutico ativo. Os agentes terapêuticos podem incluir dessensibilizadores da dentina, agentes clareadores ou substâncias que promovem atividade bacteriostática/bactericida. O conteúdo abrasivo promove a remoção de manchas porque as partículas são mais rígidas do que a mancha, porém menos rígidas do que o esmalte sadio. O desgaste é dependente da dureza da partícula, da forma, do tamanho, da distribuição, da concentração e da carga aplicada durante a escovação. Dentifrícios de diferentes abrasividades estão disponíveis no mercado, dependendo do conteúdo de sólidos e dos tipos de abrasivos presente. A quantidade de abrasivo na formulação e o grau de abrasividade não estão correlacionados, e as características físicas dos minerais que compõem os dentífricios devem ser consideradas. O carbonato de cálcio na forma romboédrica ou ovoide é mais regular e exibe uma abrasividade que é menor do que a das partículas aragoniticas que são mais irregulares. No entanto, quando são usadas partículas finas de carbonato ou sílica, o dentifrício exibe abrasividade reduzida. Os fabricantes indicam apenas o tipo principal de abrasivo utilizado na formulação; dados fundamentais, tais como formas e tamanho das partículas, não são revelados. Abrasividade A abrasividade das pastas de dente varia, e o desgaste depende da interação da pasta com a escova. O potencial abrasivo de qualquer pasta de dente é determinado de acordo com os valores de abrasao do esmalte irradiado e da abrasão da dentina irradiada. Esses valores são definidos com base nos padrões da organização Internacional para normalização (ISO) 11609, e os dentífricios são classificados de acordo com sua abrasividade em categorias de nocividade baixa média e alta. As substâncias abrasivas primárias, as quais são usadas em pastas para remover manchas nos dentes, são bicarbonato de sódio, sílica hidratada, óxido de alumínio, carbonato de cálcio, fosfato dicálcico, pedra pomes em pó e misturas com outros pós, como óxidos metálicos, fosfatos, extrato de plantas e componentes ativos com ações preventivas; assim, cada dentífrico pode conter mais de um abrasivo. De acordo com a ISO, existe um grau de abrasividade que deve ser tolerado por um dentifricio. A norma RDA indica que a abrasividade dentinária máxima não deve exceder 250. As pastas de dentes de clareamento exibem tipicamente RDA entre 60 e 100 ou mais de 100, que representam abrasividade média e alta respectivamente. É importante enfatizar que a RDA sozinha não define a abrasividade de um dentifrício, mas sim sua associação com o valor de rugosidade. A abrasividade de dentifrícios é normalmente descrita através da utilização da técnica rádiotracer para calcular o valor de RDA. Essa técnica quantitativa baseia-se na irradiação da substância dentária no material de teste com nêutrons que convertem o fósforo de hidroxiapatita da dentina em seu isótopo radioativo. Entretanto, a técnica precisa ser complementada por outras medidas quantitativas e qualitativas. Apesar da importância da abrasividade, é necessário avaliar a eficácia de limpeza do dentifrício sobre a dentina (isto é, a relação de limpeza da película em relação a abrasividade). Em geral, as pastas de dentes com sílica exibem bons valores de PCR/RDA, que são menores do que de algumas pastas de dente com carbonato de cálcio e tri- hidrato de alumina, e a adição de abrasivos pode melhorar o poder de limpeza e a relação PCR/RDA17. Outras considerações Outro fator importante que deve ser considerado é o PH do dentifrício, porque um PH mais alcalino é caracterizado por um grau reduzido de abrasão. Alguns dentifrícios com menor PH apresentam maior abrasividade que pode ser potencialmente um indicativo da combinação de efeitos biocorrosivos e abrasivos. Além disso, a interação de detergentes e abrasivos às fórmulas de dentifricios pode aumentar seu efeito abrasivo. As lesões com margens bem definidas podem ser relacionadas com os fatores abrasivos, ao passo que a biocorrosão produz lesões mais amplas, em forma de prato e mais rasas. Pastas Dentais Clareadoras Devido a um aumento pela procura de dentes mais brancos, novas pastas de dente especificamente designadas para clareamento dental foram lançadas. Comoregra geral, as pastas de dentes clareadoras contêm maiores quantidades de abrasivos e detergentes do que as pastas de dente típicas para remover manchas mais profundas. Os componentes básicos dos dentífricios clareadores abrasivos são a sílica hidratada, carbonato de cálcio, perlita, di- hidrato de fosfato dicálcico e bicarbonato de sódio. A perlita é um abrasivo considerado mais eficaz na remoção de manchas do que a sílica, E resulta desde desgastes do esmalte a valores clinicamente menos relevantes. Como mencionado anteriormente, a extensão do desgaste dentário por abrasam depende da dureza do tamanho, da forma e da concentração de partículas abrasivas em adição à pressão (isto é, força) utilizada durante a escovação. As partículas finas de perlita são eficazes na limpeza dos dentes com mínima abrasão dentária. O tamanho de partícula otimizado e a geometria são responsáveis pelo melhor desempenho de pastas de dente de perlita em comparação com as pastas de dentes clareadoras com sílica de alta limpeza. Os agentes clareadores, tais como peróxido de hidrogênio e carbamida, podem também ser incorporados aos dentifrícios em baixas concentrações (0,5 a 1,5%) e atuar como agentes antibacterianos moderados. Esses agentes oxidam os pigmentos dentais para promover a remoção química e, consequentemente, o clareamento dental. A presença de peróxido de hidrogênio na pasta de dente não promove alterações significativas nos tecidos moles e não apresenta manifestação oral adversa. Tipicamente, pastas de dentes clareadoras podem iluminar a cor do dente por uma ou 2 tonalidades. No entanto, esses dentifrícios podem conter abrasivos com potenciais efeitos colaterais sobre a estrutura dentária e, portanto, devem ser usados com cautela. As pastas de dentes clareadoras não estão associadas ao aumento da abrasam, mas estudos mostraram que os dentifricios clareadores promovem efeitos mais deletérios no esmalte e na dentina do que as pastas de dente regulares, e o uso combinado de um dentifrício e um enxaguante bucal para o branqueamento pode causar desgaste intensivo da dentina. No entanto a abrasividade dos dentifrícios de clareamento é o principal fator de atuação e manifestou correlações evidentes com o RDA e alteração de cor. Essas descobertas sugerem que o efeito clareador do dentifrício está, principalmente, relacionado à sua capacidade de remover mecanicamente manchas da superfície do esmalte e que o dentifrício abrasivo pode causar algum grau de desgaste dental. Entretanto, os dentifrícios abrasivos que contêm bicarbonato de sódio produzem lesões mais severas, ao passo que os dentifrícios com peróxido de carbamida produzem lesões menos severas, quando associados a outros fatores etiológicos. Pastas de dentes clareadoras alternativas contêm enzimas naturais. Essas enzimas quebram os componentes orgânicos do Biofilme e removem manchas. Por exemplo, verificou- se que os efeitos de clareamento dos dentifricios clareadores que contém papaína e bromelina são superiores àqueles de pasta de dente abrasivas e dentifrícios de controle sem afetar o desgaste do esmalte ou da dentina. Hipersensibilidade dentinária cervical A hipersensibilidade dentinária cervical HDC representa um dos primeiros sinais clínicos durante a formação de uma LCNC. A perda da estrutura dentária na região cervical de um dente pode ser responsável pela sensibilidade dentária, mas o clareamento dental também pode promover HDC. Os mecanismos de ação dos agentes de clareamento são baseados em seus poderes de oxidação que causam a decomposição de material orgânico pigmentado através da liberação de radicais livres e oxigênio. Uma vez que esses agentes de clareamento infiltram o tecido dental, eles podem ser capazes de provocar alterações morfológicas na estrutura molecular ou na composição do dente. Embora a perda de mineral da escovação com dentifrícios clareadores seja devido aos efeitos de fricção Da escovação em si, e não dos agentes clareadores, quando exposta ao ambiente bucal, a dentina é mais suscetível a degradação química, e os agentes clareadores podem permear os túbulos dentinária os abertos e resultar em HDC. Interação entre fatores etiológicos das LCNC A gênese da LCNC tem sido descrita como um processo multifatorial que envolve os mecanismos de tensão, biocorrosão e fricção. Enquanto alguns clínicos ainda vêem a abrasão de escova de dente/dentifrício como um importante cofator durante o desenvolvimento da LCNC os autores afirmam que a biocorrosão e a concentração de estresse cervical são os principais fatores etiológicos na formação e na progressão de LCNC. No entanto, a abrasão dos tecidos duros aumenta se o dente tiver sido afetado por um desafio biocorrosivo, como alimentos ou bebidas ácidas ou ácido do estômago decorrente da regurgitação. Em tais situações, o ataque ácido leva a uma perda irreversível do tecido duro dos dentes, que é acompanhada de um amolecimento progressivo da superfície; consequentemente essa zona amolecida torna-se mais suscetível a forças mecânicas como a abrasão de escova de dente/dentífricio. Portanto, a escovação após as refeições deve ser adiada por pelo menos, alguns minutos, a fim de se permitir a remineralização e a redeposição de glicoproteína. Há evidência de que a escovação dentária de um dente biocorroído com dentifrício provoca desgaste dentário e pode resultar em patologia à medida que a dentina se torna exposta. É a HDC, que surge devido ao movimento de fluidos nos túbulos dentinários expostos e manifesta- se como dor. Se um doente estiver utilizando um agente dessensibilizante eficaz, tal como um dentífricio fluoretado ou sensodyne, então a HDC pode não anteceder ou estar presente durante a progressão da lesão cervical não cariosa. É importante lembrar que a composição mineral da dentina é menor do que a do esmalte; consequentemente, a dentina é mais suscetível a abrasão. Essas descobertas sugerem que o uso de pastas de baixa ou moderada RDA deve ser recomendado para a segurança e prevenção da perda de substância dentária. Outro conceito que deve ser considerado é que o detergente que está presente no dentifrício remove parcialmente a Smear layer, mas também pode atacar quimicamente o material orgânico da dentina, principalmente o colágeno. Assim, a abrasão causada por um dentífricio em situações em que a dentina fora continuamente exposta devido à degradação química e ao estresse, é mais intensa. A fricção durante a escovação dos dentes age para influenciar a velocidade da progressão das LCNC e é dependente do tipo de abrasivo, veículo, forma e força aplicada pela escova de dente. É fundamental que os profissionais compreendam essas interações de maneira a poder aconselhar os pacientes sobre os métodos e materiais utilizados para manter a higiene bucal adequada. Conclusão • A fricção causada pela escova dental/dentifrício, de forma isolada, é o fator menos preponderante na etiologia das LCNCs. No entanto, torna-se fator acelerador quando associada a substâncias ácidas. • O uso de força excessiva durante a escovação pode levar a uma maior perda de tecido duro, mas esse desgaste é insignificante. • A abrasividade dos dentifricios varia, e dentifricios mais abrasivos levam a um maior desgaste. • Pastas de dentes clareadoras tem um maior número de abrasivos do que pastas de dentes normais e podem levar a um desgaste aumentado, bem como a HDC. • A biocorrosão torna os dentes mais suscetíveis a abrasão. • A fricção durante a escovação dos dentes influencia a velocidade de progressão das LCNC.
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