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Emergências psiquiátricas - Aula 1 - Introdução e conceitos

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Beatriz Machado de Almeida 
Emergências psiquiátricas – Aula 1 
INTRODUÇÃO – CONCEITOS 
• Emergência psiquiátrica X urgência: 
Em medicina, emergência é aquela situação que pode 
levar ao risco de morte ou de lesão do órgão alvo 
em até 24 horas. Urgência é uma situação grave, 
mas que não tem esse risco tão concreto nesse 
período, ou seja, dá pra esperar um pouco. Na 
psiquiatria não é muito feita essa diferenciação, 
porque uma urgência pode virar uma emergência e 
vice versa. 
Exemplo: paciente ansioso na emergência pra ser 
atendido e alguém fala que no hospital só tem doido. 
Neste caso, a tendência é que o paciente fique ainda 
mais ansioso e com um sofrimento mais intenso. Em 
psiquiatria, é usado basicamente o termo emergência. 
Exemplos: tentativas de suicídio, agitação 
psicomotora - APM (paciente muito agitado, 
acelerado, que sai quebrando tudo, batendo nas 
pessoas), crises de ansiedade, episódios psicóticos 
(fuga da realidade, alucinações), hipomania e mania 
(episódios de elevação do humor em que a pessoa está 
tão eufórica que se expõe a determinados riscos, 
como exposição na internet, abuso sexual, abuso 
de drogas, situações de vulnerabilidade). 
• Agressividade autodirigida (a si próprio; 
exemplo: mutilação) X heterodirigida (dirigida 
pra outras pessoas); 
• Violência (conceito ¨psiquiátrico¨ X OMS): 
Segundo a OMS, violência é qualquer situação 
em que uma pessoa causa danos a outra, seja 
físico, psíquico ou material. Na psiquiatria, 
violência é só a parte física mesmo e, fora a 
parte física, tudo é agressividade. Agressividade 
física é a violência. 
OBJETIVOS NA EMERGÊNCIA 
• Estabilizar o quadro (¨acalmar¨ o paciente): 
aliviar o sofrimento do paciente. O propósito não 
é sedar o paciente, mas se for preciso, é feito. 
• Afastar causas orgânicas (incluindo uso de 
Substâncias Psicoativas – SPAs): afastar outros 
transtornos. 
Exemplo: senhora que nunca teve transtorno mental 
na vida e com 50-60 anos começa a apresentar 
queixas de ansiedade. Exame físico: bócio. Neste 
caso, é importante pensar em hipotireoidismo, 
hipertireoidismo, tireoidite de Hashimoto. 
Outra coisa que precisa ser afastada é o uso de 
drogas. Às vezes o paciente usou muita cocaína e foi 
parar na emergência, apresentando intoxicação 
aguda. 
• ¨Levantar¨ hipóteses diagnósticas: não é 
preciso fechar a suspeita diagnóstica, mas é 
importante sugerir. 
• Orientações (prescrição, encaminhamento, 
mudanças): Avaliar se o medicamento precisa ser 
feito no momento ou se pode ser feito em casa. 
Encaminha quando necessário. Importante: MEV 
– mudança no estilo de vida - atividade física, 
alimentação balanceada, exercício de 
respiração. 
CONDUTA INICIAL 
• Conhecer a unidade: equipe (enfermagem, 
psicólogo), exames em geral (toxicológico, ureia, 
lipemia), rotas de fuga (muito importante na 
psiquiatria), pendências do plantão anterior ... 
• Observar a sala de espera: verificar se tem 
alguém agitado, inquieto, gritando. Se tiver, 
tenta adiantar um pouco o atendimento dela. 
• Estimar risco de agressividade. Quais são os 
pacientes que tem maior risco de ser agressivo? 
ESTRUTURA DA SALA DE ATENDIMENTO 
 
Introdução e Conceitos 
 
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Emergências psiquiátricas – Aula 1 
É de extrema importância a presença de uma porta 
que abra pra fora atrás do médico, caso tenha a 
necessidade de fuga. 
RISCO DE AGRESSIVIDADE 
• Punhos cerrados: paciente com a mão fechada ou 
pra cima ou pra baixo. 
• Tom de voz elevado: gritos, elevação da voz. 
• História de agressividade: exemplo: paciente 
nervoso, que arranha os pais. 
• Sexo masculino; 
• Idade: 15-24 anos; 
• Abuso de álcool e outras SPAs: pessoa 
alcoolizada, que usou drogas. A gente tem que 
saber reconhecer no rosto ou nas atitudes do 
paciente coisas que sugiram o motivo. Dente 
preto → será que fumou crack? Sangramento 
nasal → será que usa cocaína? 
• Inquietação/mudança frequente de postura: 
pode ser um nervosismo de ansiedade ou de 
agressividade. 
• Comportamento provocativo: xingamentos. 
CONDUTA NA CONSULTA 
• Estar a uma distância segura do paciente; 
• Estabelecer vínculo com o paciente: Se a gente 
fala diretamente com o paciente, ele entende 
que a gente está ali pra ajudar. Se fala com a 
família, possivelmente, dê a entender que está 
contra. 
• Entender o objetivo do paciente em estar ali: 
qual é o motivo que levou o paciente ao hospital? 
EVITAR 
• Confrontar o paciente agressivo; 
• Movimentos bruscos: sempre avisar o que está 
fazendo e não fazer de forma repentina. 
• Anotações; 
• Se ¨contaminar¨ com emoções negativas do 
paciente: os pacientes chegam chorosos e tristes 
e o médico tem que saber lidar com as emoções. 
• Fazer relatórios para INSS e outras situações. 
É um direito do paciente, porém é feito da forma 
que o médico quer. Exemplo: paciente foi 
atendido dia tal, com quadro tal, suspeita tal, 
tratamento tal. Salvador, dia 04/08, Chico. 
ANAMNESE NA EMERGÊNCIA 
• Com quem o paciente compareceu? Colocar nome 
• Queixa: o que o levou à emergência NAQUELE 
dia/momento? Por que não veio ontem e por que 
não esperou amanhã? Hoje tá pior? 
• HMA: uso de medicamentos (medicamento, 
dose, posologia, momento do uso – 
peculiaridade, há quanto tempo, efeitos 
colaterais ou terapêuticos). Pra tomar 
fluoxetina tem que estar com o estômago cheio. 
• AM: tentativas de suicídio ou homicídio. Evitar 
falar ¨cometer suicídio¨. Cometer tem relação 
com cometer crime/assassinato. Perguntar se o 
paciente já matou alguém não faz parte da 
anamnese na emergência. 
EXAME PSÍQUICO NA EMERGÊNCIA 
• Nível de consciência: acordado, alerta, 
sonolento, torporoso? Na emergência, 
geralmente o paciente está alerta, no máximo, 
sonolento. 
• Aparência (inclui odor): O paciente se cuida? 
CID-10 → R46 – aparência pessoal bizarra. 
• Atitude: calmo, ansioso, colaborativo, conversa 
recusada, emotivo? 
• Psicomotricidade: movimentação. O paciente 
está inquieto, agitado, parado - catatônico? 
• Sensopercepção: alucinações, vozes, solilóquio, 
muscitação - sussuro? 
• Humor: Eutímico (humor normal), eufórico, 
desinibido, humor diminuído? 
• Orientação: mais avaliado em paciente idoso, 
paciente demenciando, com retardo, depressão 
grave. Ex. Que lugar é esse que você está? 
• Pensamento: organizado, conteúdo delirante ou 
não, curso acelerado? 
EXAME FÍSICO NA EMERGÊNCIA 
• Devemos fazer? Literatura: Sim! Na prática, 
ninguém faz! 
• Inspeção geral; 
• Exame neurológico; 
• Tireoide; 
• ACV; AR; 
• Abdome; 
• Extremidades. 
 
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Emergências psiquiátricas – Aula 1 
EXAMES LABORATORIAIS 
Nos hospitais psiquiátricos não tem esses exames. 
Sempre analisar comorbidades, idade ... 
• Hemograma; 
• Função renal. 
• Função e lesão hepáticas; 
• Glicemia; 
• Eletrólitos. 
• Exame toxicológico (via urinária, sanguínea, via 
bulbo capilar). 
Esses são os exames que mais podem apontar alguma 
alteração orgânica, ou seja, alguma alteração física 
que está levando a uma alteração psíquica. 
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS 
• Uso ou abstinência de SPAs: uso ou abstinência. 
• Infecções (SNC ou sepse); 
Lembrar do delirium, que é um quadro orgânico em 
que o paciente tem uma doença física que leva a 
alteração de eletrólitos, glicemia. Pode haver 
delirium, alucinação, alteração de atenção. Acontece 
mais em idosos. 
• Hipóxia, hipoglicemia; 
• Encefalopatias; 
• Neoplasias; 
• Demências; 
• AVC; 
• TCE. 
CARACTERÍSTICAS – ORGANICIDADE 
Coisas que sugerem que a doença mental do paciente 
é física/orgânica: 
• Alucinações visuais ou táteis: exemplo: sentir 
umas baratinhas subindo no pé é a cara da 
organicidade. 
• Primeiro episódio: avaliar o paciente por 
completo. Análise da tireoide, exames clínicos ... 
• Idade avançada (>40 anos): Doença mental é 
doença de jovem. 
• Doença clínica preexistente: exemplo:conhecimento da doença renal, hipertensão, 
diabetes. É mais fácil que isso tenha 
descompensando do que ter surgido um novo 
quadro psíquico. 
• Sinais e sintomas neurológicos; 
• Rebaixamento do nível de consciência (RNC): 
Doença mental não causa rebaixamento do nível 
de consciência. O que pode causar é a 
narcolepsia, mas no geral não causam. 
• História de trauma recente: o paciente caiu, 
bateu a cabeça? 
MEDICAMENTOS 
• Antipsicóticos típicos; 
• Antipsicóticos atípicos: Olanzapina. É um 
remédio muito bom que alivia bastante na 
emergência. 
• Benzodiazepínicos – ansiolíticos: clonazepam, 
diazepam e alprazolam. 
❖ Rivotril = Clonazepam = benzodiazepínico. 
Antidepressivo e estabilizador de humor não é 
usado na emergência, pois não resolve na hora. Quem 
resolve na hora são os antipsicóticos típicos e 
atípicos e os benzodiazepínicos (acalma), mas não 
servem a longo prazo. 
Rivotril é comum dar efeito rebote e levar a 
abstinência (quando suspenso de vez). 
Ps: Risperidona 1g/mg é o xarope! 
CONTENÇÃO MECÂNICA 
Quando é feita a contenção do paciente fisicamente 
no leito/maca. 
• Avisar a equipe antes se percepção de risco de 
APM; 
• 5 pontos: 4 membros + compressão torácica. 
Posição das ataduras para contenção. Na região do 
tórax usar lençol de preferência. Só usar contenção 
em tórax em caso de extrema necessidade. 
 
INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO 
• Ideação suicida; 
• Comportamento persistentemente violento; 
 
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• Autonegligência grave (desnutrição, 
desidratação, má higiene); 
• Desinibição importante: exposição. 
TIPOS DE INTERNAÇÃO 
• Voluntária: O paciente quer internar. 
• Involuntária: O paciente não quer internar. 
• Compulsória: O juiz mandou internar. 
ENCAMINHAMENTO 
• Ideação suicida: NÃO DAR ALTA PARA O 
PACIENTE SOZINHO SEM AVALIAÇÃO COM 
PSIQUIATRA. 
• Solicitar exames se necessário; 
• Ambulatórios/CAPS/consultórios (inclusive para 
clínico, endocrinologista ou neurologista).

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