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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre Emergências psiquiátricas Medicina – 8º semestre 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre INTRODUÇÃO – CONCEITOS • Emergência psiquiátrica X urgência: Em medicina, emergência é aquela situação que pode levar ao risco de morte ou de lesão do órgão alvo em até 24 horas. Urgência é uma situação grave, mas que não tem esse risco tão concreto nesse período, ou seja, dá pra esperar um pouco. Na psiquiatria não é muito feita essa diferenciação, porque uma urgência pode virar uma emergência e vice versa. Exemplo: paciente ansioso na emergência pra ser atendido e alguém fala que no hospital só tem doido. Neste caso, a tendência é que o paciente fique ainda mais ansioso e com um sofrimento mais intenso. Em psiquiatria, é usado basicamente o termo emergência. Exemplos: tentativas de suicídio, agitação psicomotora - APM (paciente muito agitado, acelerado, que sai quebrando tudo, batendo nas pessoas), crises de ansiedade, episódios psicóticos (fuga da realidade, alucinações), hipomania e mania (episódios de elevação do humor em que a pessoa está tão eufórica que se expõe a determinados riscos, como exposição na internet, abuso sexual, abuso de drogas, situações de vulnerabilidade). • Agressividade autodirigida (a si próprio; exemplo: mutilação) X heterodirigida (dirigida pra outras pessoas); • Violência (conceito ¨psiquiátrico¨ X OMS): Segundo a OMS, violência é qualquer situação em que uma pessoa causa danos a outra, seja físico, psíquico ou material. Na psiquiatria, violência é só a parte física mesmo e, fora a parte física, tudo é agressividade. Agressividade física é a violência. OBJETIVOS NA EMERGÊNCIA • Estabilizar o quadro (¨acalmar¨ o paciente): aliviar o sofrimento do paciente. O propósito não é sedar o paciente, mas se for preciso, é feito. • Afastar causas orgânicas (incluindo uso de Substâncias Psicoativas – SPAs): afastar outros transtornos. Exemplo: senhora que nunca teve transtorno mental na vida e com 50-60 anos começa a apresentar queixas de ansiedade. Exame físico: bócio. Neste caso, é importante pensar em hipotireoidismo, hipertireoidismo, tireoidite de Hashimoto. Outra coisa que precisa ser afastada é o uso de drogas. Às vezes o paciente usou muita cocaína e foi parar na emergência, apresentando intoxicação aguda. • ¨Levantar¨ hipóteses diagnósticas: não é preciso fechar a suspeita diagnóstica, mas é importante sugerir. • Orientações (prescrição, encaminhamento, mudanças): Avaliar se o medicamento precisa ser feito no momento ou se pode ser feito em casa. Encaminha quando necessário. Importante: MEV – mudança no estilo de vida - atividade física, alimentação balanceada, exercício de respiração. CONDUTA INICIAL • Conhecer a unidade: equipe (enfermagem, psicólogo), exames em geral (toxicológico, ureia, lipemia), rotas de fuga (muito importante na psiquiatria), pendências do plantão anterior ... • Observar a sala de espera: verificar se tem alguém agitado, inquieto, gritando. Se tiver, tenta adiantar um pouco o atendimento dela. • Estimar risco de agressividade. Quais são os pacientes que tem maior risco de ser agressivo? ESTRUTURA DA SALA DE ATENDIMENTO Introdução e Conceitos 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre É de extrema importância a presença de uma porta que abra pra fora atrás do médico, caso tenha a necessidade de fuga. RISCO DE AGRESSIVIDADE • Punhos cerrados: paciente com a mão fechada ou pra cima ou pra baixo. • Tom de voz elevado: gritos, elevação da voz. • História de agressividade: exemplo: paciente nervoso, que arranha os pais. • Sexo masculino; • Idade: 15-24 anos; • Abuso de álcool e outras SPAs: pessoa alcoolizada, que usou drogas. A gente tem que saber reconhecer no rosto ou nas atitudes do paciente coisas que sugiram o motivo. Dente preto → será que fumou crack? Sangramento nasal → será que usa cocaína? • Inquietação/mudança frequente de postura: pode ser um nervosismo de ansiedade ou de agressividade. • Comportamento provocativo: xingamentos. CONDUTA NA CONSULTA • Estar a uma distância segura do paciente; • Estabelecer vínculo com o paciente: Se a gente fala diretamente com o paciente, ele entende que a gente está ali pra ajudar. Se fala com a família, possivelmente, dê a entender que está contra. • Entender o objetivo do paciente em estar ali: qual é o motivo que levou o paciente ao hospital? EVITAR • Confrontar o paciente agressivo; • Movimentos bruscos: sempre avisar o que está fazendo e não fazer de forma repentina. • Anotações; • Se ¨contaminar¨ com emoções negativas do paciente: os pacientes chegam chorosos e tristes e o médico tem que saber lidar com as emoções. • Fazer relatórios para INSS e outras situações. É um direito do paciente, porém é feito da forma que o médico quer. Exemplo: paciente foi atendido dia tal, com quadro tal, suspeita tal, tratamento tal. Salvador, dia 04/08, Chico. ANAMNESE NA EMERGÊNCIA • Com quem o paciente compareceu? Colocar nome • Queixa: o que o levou à emergência NAQUELE dia/momento? Por que não veio ontem e por que não esperou amanhã? Hoje tá pior? • HMA: uso de medicamentos (medicamento, dose, posologia, momento do uso – peculiaridade, há quanto tempo, efeitos colaterais ou terapêuticos). Pra tomar fluoxetina tem que estar com o estômago cheio. • AM: tentativas de suicídio ou homicídio. Evitar falar ¨cometer suicídio¨. Cometer tem relação com cometer crime/assassinato. Perguntar se o paciente já matou alguém não faz parte da anamnese na emergência. EXAME PSÍQUICO NA EMERGÊNCIA • Nível de consciência: acordado, alerta, sonolento, torporoso? Na emergência, geralmente o paciente está alerta, no máximo, sonolento. • Aparência (inclui odor): O paciente se cuida? CID-10 → R46 – aparência pessoal bizarra. • Atitude: calmo, ansioso, colaborativo, conversa recusada, emotivo? • Psicomotricidade: movimentação. O paciente está inquieto, agitado, parado - catatônico? • Sensopercepção: alucinações, vozes, solilóquio, muscitação - sussuro? • Humor: Eutímico (humor normal), eufórico, desinibido, humor diminuído? • Orientação: mais avaliado em paciente idoso, paciente demenciando, com retardo, depressão grave. Ex. Que lugar é esse que você está? • Pensamento: organizado, conteúdo delirante ou não, curso acelerado? EXAME FÍSICO NA EMERGÊNCIA • Devemos fazer? Literatura: Sim! Na prática, ninguém faz! • Inspeção geral; • Exame neurológico; • Tireoide; • ACV; AR; • Abdome; • Extremidades. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre EXAMES LABORATORIAIS Nos hospitais psiquiátricos não tem esses exames. Sempre analisar comorbidades, idade ... • Hemograma; • Função renal. • Função e lesão hepáticas; • Glicemia; • Eletrólitos. • Exame toxicológico (via urinária, sanguínea, via bulbo capilar). Esses são os exames que mais podem apontar alguma alteração orgânica, ou seja, alguma alteração física que está levando a uma alteração psíquica. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS • Uso ou abstinência de SPAs: uso ou abstinência. • Infecções (SNC ou sepse); Lembrar do delirium, que é um quadro orgânico em que o paciente tem uma doença física que leva a alteração de eletrólitos, glicemia. Pode haver delirium, alucinação, alteração de atenção. Acontece mais em idosos. • Hipóxia, hipoglicemia; • Encefalopatias; • Neoplasias; • Demências; • AVC; • TCE. CARACTERÍSTICAS – ORGANICIDADE Coisas que sugerem que a doença mental do paciente é física/orgânica: • Alucinações visuais ou táteis: exemplo: sentir umas baratinhas subindo no pé é a cara da organicidade. •Primeiro episódio: avaliar o paciente por completo. Análise da tireoide, exames clínicos ... • Idade avançada (>40 anos): Doença mental é doença de jovem. • Doença clínica preexistente: exemplo: conhecimento da doença renal, hipertensão, diabetes. É mais fácil que isso tenha descompensando do que ter surgido um novo quadro psíquico. • Sinais e sintomas neurológicos; • Rebaixamento do nível de consciência (RNC): Doença mental não causa rebaixamento do nível de consciência. O que pode causar é a narcolepsia, mas no geral não causam. • História de trauma recente: o paciente caiu, bateu a cabeça? MEDICAMENTOS • Antipsicóticos típicos; • Antipsicóticos atípicos: Olanzapina. É um remédio muito bom que alivia bastante na emergência. • Benzodiazepínicos – ansiolíticos: clonazepam, diazepam e alprazolam. ❖ Rivotril = Clonazepam = benzodiazepínico. Antidepressivo e estabilizador de humor não é usado na emergência, pois não resolve na hora. Quem resolve na hora são os antipsicóticos típicos e atípicos e os benzodiazepínicos (acalma), mas não servem a longo prazo. Rivotril é comum dar efeito rebote e levar a abstinência (quando suspenso de vez). Ps: Risperidona 1g/mg é o xarope! CONTENÇÃO MECÂNICA Quando é feita a contenção do paciente fisicamente no leito/maca. • Avisar a equipe antes se percepção de risco de APM; • 5 pontos: 4 membros + compressão torácica. Posição das ataduras para contenção. Na região do tórax usar lençol de preferência. Só usar contenção em tórax em caso de extrema necessidade. INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO • Ideação suicida; • Comportamento persistentemente violento; 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre • Autonegligência grave (desnutrição, desidratação, má higiene); • Desinibição importante: exposição. TIPOS DE INTERNAÇÃO • Voluntária: O paciente quer internar. • Involuntária: O paciente não quer internar. • Compulsória: O juiz mandou internar. ENCAMINHAMENTO • Ideação suicida: NÃO DAR ALTA PARA O PACIENTE SOZINHO SEM AVALIAÇÃO COM PSIQUIATRA. • Solicitar exames se necessário; • Ambulatórios/CAPS/consultórios (inclusive para clínico, endocrinologista ou neurologista). 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre INTRODUÇÃO Tem uma grande incidência na emergência pública, na particular é menos. Em clínicas particulares os quadros mais comuns são os de ansiedade, depressivos, crise de pânico. Entretanto, na emergência pública é mais a agitação psicomotora mesmo, é o paciente que quebra tudo. • Psicose: rompimento com a realidade X • Neurose: realidade. • Esquizofrenia: é a principal doença que cursa com psicose. • ¨Surto¨ psicótico: pra psiquiatria, surto é esquizofrenia. Se não for, pode se usar o termo crise. SINTOMAS • Delírios: ¨ideias¨, ¨pensamentos¨ fora da realidade; Exemplos: ¨minha família quer me matar¨, ¨ meu vizinho está me vigiando com um drone¨. • Alucinações: percepções sensoriais sem estímulo; Exemplos: ¨ouço vozes¨, ¨vejo vultos¨. CASO CLÍNICO • ID: Robnelson, sexo masculino, 21 anos. • Paciente sem história prévia de adoecimento psíquico até os 21 anos, começou a apresentar mudança de comportamento nesta idade, com introspecção, sensação de ¨estranheza¨ do mundo e de si próprio, e risos imotivados. Despersonalização (¨eu não me conheço mais¨) e desrealização (¨eu não conheço mais esse lugar¨). • Iniciou acompanhamento num CAPS, onde foi diagnosticado com uma SÍNDROME PSICÓTICA; • Após alguns meses, Robnelson evoluiu com solilóquios e episódios de mutismo. Depois, começou a ficar mais desconfiado, mais introspectivo, irritado e reativo. Quais podem ser as causas do adoecimento de Robnelson? ❖ Esquizofrenia; ❖ Uso de substâncias psicoativas; ❖ Causas orgânicas (AVC, LES, neurossífilis, meningite, encefalite, hipovitaminoses, alterações renais e hepáticas); ❖ Depressão psicótica; ❖ Neoplasias; ❖ Doenças tireoidianas. Obs. A depressão, a rigor, é um problema neurótico. A pessoa está em sã consciência, mas pode se agravar em delírios e alucinações. ESQUIZOFRENIA • Doença CRÔNICA caracterizada por quebra do senso de realidade (psicose); • Se inicia, normalmente, na JUVENTUDE; • Prevalência: menos de 1% da população em geral; • Sintomas psicóticos (delírios, alucinações ...). CAUSAS • Doenças mentais: endógenas: são causas da mente do paciente, do psiquismo (ex. depressão); exógenas: fora da mente e não do corpo (hipotireoidismo, tumor do SNC); primárias. • Fator genético; • Fatores hormonais; • Doenças orgânicas (hipovitaminose – C,D ...); • ¨Traumas psicológicos¨: trauma físico (TCE) e trauma psicológico (a pessoa pode ter, também, dissociação – psicotiza e sofre alucinações. Um exemplo disso é em uma pessoa que sofreu abuso sexual na infância, que é uma situação extremamente grave, dolorosa, que marca a pessoa, e depois disso a pessoa rompe com a realidade, ela desenvolve uma esquizofrenia e não volta mais); • TCDE (Traumatismo Crânioencefálico); • Uso de substâncias psicoativas (SPAs); O cannabis tem estudos que dizem que o gatilho é de 6x para desenvolver a doença, mas CHICO, acha que a droga CAUSA DOENÇA e não só gatilho. • Uso de medicamentos (corticoides, roacutan). Psicose e agitação psicomotora 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre Normalmente, as dissociações são momentâneas – algumas horas, alguns dias... SURTO PSICÓTICO/APM Agitação psicomotora, ou seja, estamos falando de psicomotricidade, que é a movimentação do paciente, é a função psíquica que interage. O psiquismo com a movimentação. Então a pessoa pode está catatônica super paradona, ou inquieta ou acelerada. • Delírios/alucinações motivando comportamentos de: ❖ Heteroagressividade: agressividade dirigida aos outros. ❖ Frangofilia: ¨tornar tudo em frangalhos¨: quebra tudo. ❖ Aceleração extrema da psicomotricidade: pessoa MUITO agitada, às vezes parece uma crise convulsiva. ❖ ¨Sair correndo¨. A APM e a impregnação medicamentosas são coisas diferentes. Na impregnação, o paciente vai tremer bastante, o corpo vai estar todo travado, rígido, salivando bastante; a impregnação pode cursar com inquietação (acatisia → paciente fica marchando no mesmo lugar ou ela tem a sensação subjetiva de inquietação, fica andando). Na agitação a pessoa está realmente agitada; se mexe mais, quebra as coisas, grita ... APM não necessita ser motivada por delírio ou alucinação. Às vezes um estresse, a pessoa tem transtorno de personalidade Borderline, aquela instabilidade emocional, e acontece alguma coisa e a pessoa sair quebrando tudo, sem psicotizar. CASO CLÍNICO 2 • Robneide, 32 anos, chega na emergência contida com cordas, trazida por familiares (genitora, irmão Robnelson – e primo). Grita com eles, a todo momento: ¨vocês querem me matar! Mas vocês não vão conseguir, eu vou matar vocês primeiro¨. Genitora chorando, traz relatório do CAPS, informando diagnóstico prévio de esquizofrenia. • Paciente se soltando da contenção. • Ao exame, paciente agitada, alerta, contida em mãos e pés, aparência mal cuidada, odor ruim, vestes sujas, pouco abordável, muito irritada e ameaçadora. Hipervigil (tensa, olhando para o ambiente o tempo todo), hipotenaz (não consegue manter a atenção). Sem comportamento alucinatório no momento. • Pensamento: organizado (as ideias estão concatenadas, ou seja, está associando uma coisa com a outra), acelerado e delirante (delírio persecutória que a família quer matá-la). Questão: Qual é a primeira conduta? a) Medicar a paciente. b) Colher história completa da paciente. c)Afastar família do paciente. d) Saber histórico medicamentoso de Robneide. e) Chamar a equipe para conter a paciente na maca. Antes de medicar a paciente, o mínimo que tem que ser feito é colher o histórico medicamentoso de Robnoide. Na emergência não é o melhor lugar pra colher a história da paciente. É necessário afastar a família do paciente. Pra medicar Robnoide, é preciso uma contenção adequada. Sobre o caso: Dados concretos: Robneide está agressiva, vem contida, porém está se soltando da contenção, logo não se deve confiar nessa contenção, além de possuir indicação de ser medicada. a) Não se deve medicar Robneide antes de saber o histórico medicamentoso dela. Ela pode ter alguma alergia a fenergan (existe alergia a antialérgico). Ela pode ser sensível a haldol. Por isso, não se deve medicar a paciente sem antes, no mínimo, saber um histórico breve da medicação da mesma. É uma emergência psiquiátrica que pode virar uma emergência clínica. b) Em uma emergência, Robneide atacadíssima, dizendo que vai matar as pessoas, esse não é o momento de colher a história completa dela. Precisa sim ser feito, mas não nesse momento. c) Ela acha que a família quer matá-la. É necessário sim ter um afastamento dos membros da família nesse momento, porém – primeiramente – as condutas podem ser simultâneas (enquanto o médico chama a equipe para melhorar a contenção, ao mesmo tempo, ou com pouco tempo, o mesmo médico pode tirar momentaneamente a família daquele ambiente). 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre Dessa forma, a conduta C e E podem ser feitas de forma simultânea. d) Também muito importante colher, mas em um momento posterior. SEQUÊNCIA DO QUE FAZER 1. Chamar a equipe pra conter a paciente na maca; 2. Afastar a família da paciente; 3. Saber histórico medicamentoso; 4. Exames físico (inspeção) e psíquico BREVES do paciente; 5. Medicar a paciente; 6. Colher história completa da paciente. (1) Como ela está se soltando da contenção, a primeira coisa a fazer com Robneide é conter de uma forma correta. Para medicá-la, é preciso fazer uma contenção segura, pois uma contenção frouxa pode quebrar a agulha no momento da aplicação do medicamento, por exemplo. (2) O afastamento da família ocorre de maneira simultânea com a contenção na maca (lembrando que se a família acolhe e a paciente está delirando com outra coisa, não precisa afastar a família). (3) O histórico medicamentoso pode ser colhido fora do ambiente em que a paciente está contida; o médico pergunta para a família se a paciente tem alguma alergia, se já usou determinadas medicações ... 4 – Exames físico e psíquico BREVES do paciente): O exame psíquico já vai sendo feito assim que o paciente chega na unidade; o exame físico é uma inspeção muito rápida, breve, objetivando ver algum sangramento, alguma alteração nos olhos, nariz (pode ter cheirado cocaína) etc. O exame físico pode sim mudar a conduta, por exemplo, se o paciente tem hálito etílico, não se deve usar Rivotril. Por exemplo, às vezes na unidade de emergência é feito 2H1F1M (Duas ampolas de Haldol, uma de Fenergan e uma de Midazolam); o midazolam é um benzodiazepínico, o que resulta em uma diminuição da frequência respiratória; se for usado junto com álcool, pode causar uma depressão respiratória, levando até ao óbito. Pergunta: se a paciente chegasse sozinha, como medicar? Resp.: existe a zona de conforto. Para isso, utiliza-se de haldol e fenergan. O haldol é um dos medicamentos mais seguros para se usar. Porém, se o paciente está agitado, quebrando tudo, provavelmente ele será trazido por alguém, visto que se o paciente tem a ideia “minha família quer me matar”, ele sozinho não terá intenção de ir em um hospital psiquiátrico. Mas, considerando que não tem nenhuma informação da paciente, pode usar o haldol. Pode dar ruim? Sim, a paciente pode ter alergia, pode ficar impregnada, mas se ela tem indicação de ser medicada, deve-se usar o que é menos pior. Exemplo: chegou um paciente, uma criança de 5 anos, estava indo para escola, caiu da rua, se machucou, está sangrando, alguém tratou essa criança na rua e levou para o HGE, a criança está com dor, não saberá se ela tem alergia, vai medicar com uma medicação mais segura. No caso psiquiátrico, a medicação mais segura é o Haldol, até se o paciente impregnar tem a solução para isso, que é o Fenergan ou o biperideno. Espera-se uma APM numa emergência mais para drogas estimuladoras (cocaína, craque), mas a canabis também pode cursar com isso. O midazolam é usado juntamente com o haldol e o fenergan (2H1F1M) caso precise que o paciente melhore mais rápido. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO HALOPERIDOL (HALDOL) • Antipsicótico TÍPICO, antagonista da DA. • Formulações: comprimido 1mg, comprimido 5mg, ampola 5mg (1 ml), solução 2mg/ml. • Vias: VO, IM, EV (evitar EV, devido ao risco de arritmias). Os típicos são mais antigos, também chamados de antipsicóticos de 1ª geração, são antipsicóticos que possuem um mecanismo dopaminérgico, são antagonistas dopaminérgicos, derrubando a dopamina do paciente. O problema disso é que não reduz apenas a via principal, reduz em todas as vias, quando faz isso gera os efeitos colaterais, que é a impregnação (tremor, rigidez articular, marcha em bloco, hipersialorreia, acatisia/ distonia aguda - o pescoço do paciente fica parecendo com tétano, contração muscular da musculatura cervical/ algum tipo de crise/ acatisia - o paciente fica marchando no 9 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre mesmo lugar), é chamado de pseudoparkinsonismo (Parkinson falso - uma condição causada por uma medicação). Na psiquiatria evita-se medicação venosa pela dificuldade do paciente psiquiátrico seguir os comandos, a não ser que o paciente já esteja internado com acesso venoso já instalado. O haldol venoso tem risco de arritmia (torsades de points), até 10 mg o livro diz que é seguro, no entanto, para prevenir, melhor fazer IM ou oral. Faz venoso se estiver dando muita medicação IM no idoso, chega um momento que ele não tem mais musculatura para absorver, fazendo, então, venoso. O haldol solução acaba sendo mais aceito porque o paciente associa a xarope ser para tosse, não tem gosto forte, podendo colocar no chá, no suco, que o paciente nem percebe, caso ele recuse o tratamento. Normalmente na emergência usa 5-10mg VO ou IM e a cada 30-45min pode repetir 5mg caso o paciente ainda esteja agitado. Haldol decanoato: medicação de depósito. É uma ampola que tem 50mg de haldol e vai ser liberado aos poucos. Caso um paciente internado não faça a adesão ao tratamento essa medicação é uma ótima escolha, sendo liberado de 20 a 30 dias no organismo, normalmente 20 dias, garantindo que mesmo que o paciente não tome o remédio, essa injeção seja liberada aos poucos, garantindo alguma melhora do quadro, quando acabar, o paciente deve voltar e tomar outro. Não são medicamentos que precisam ter desmame. Precisa fazer esse haldol decanoato depois de fazer o haldol rápido VO ou IM, porque deve saber se essa medicação vai fazer mal para o paciente, já que será liberado por tanto tempo. Isso se aplica também para o flufenan depot, paliperidona (invega sustena), ou seja, todos os de depósito. Esse haldol decanoato não resolve na emergência, deve ser utilizado nesse caso o haldol normal (rápido). Os sintomas negativos são causados pela hipoestimulação da via mesocortical. PROMETAZINA (FENERGAN) • Antihistamínico, anticolinérgico, usado para evitar SEP dos antipsicóticos e acalmar o paciente. Ele ajuda a combater os efeitos extrapiramidais dos antipsicóticos típicos, ou seja, quando o paciente está tremendo, está salivando demais, está todo duro. Ele nãoé o melhor para combater isso, mas às vezes é usado. O melhor é o biperideno. Frequentemente usamos junto com haldol. Inclusive pode misturar na mesma seringa. • Formulações: comprimido: 25mg, ampola 50mg (2ml), solução (lenda). A ampola dele é 25mg por mL, mas como são 2mL tem- se 50mg • Vias: VO, IM (NÃO SE FAZ EV). Normalmente fazemos a ampola inteira intramuscular. Na teoria existe o fenergan gotas que seria mais utilizado na infância e adolescência, porém na pratica não é usado nem nisso. • Não faz sentido ser usado sozinho para PSIQUIATRIA. CLORPROMAZINA (AMPLICTIL) • Antipsicótico TÍPICO, porém fraco, grande ação sedativa. Ele não é tão bom, mas essa ação sedativa é boa. Às vezes tratamos insônia com amplictil, às vezes o paciente ainda acorda de manhã meio sedado. Nesses casos, cabe ao paciente perceber isso e avisar ao médico do efeito indesejado do medicamento, perguntando se pode mudar ou reduzir a dose. Mas, na teoria, a menor dose terapêutica do clorpromazina são 25 a 100 mg; em doses baixas, o efeito é mais insônia, um pouco de sedação, às vezes é um paciente que é muito agitado durante o dia. Nesses casos, é feito Clorpromazina (25 mg) 1-1-2, ou seja, um comprimido de manhã, um comprimido durante a tarde e dois comprimidos durante a noite; a concentração maior durante a noite se deve ao fato de o psiquiatra querer que o paciente durma mais durante a noite; de forma geral, medicamentos 10 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre mais sedativos são usados em doses mais concentradas durante a noite. • Formulações: comprimido: 25mg, comprimido 100mg, ampola com 25mg (5ml), solução 40 mg/mL. É um antipsicótico típico, também tem o mesmo mecanismo de ação dopaminérgico. Para se conseguir efeito antipsicótico, é usado – no mínimo – 600 mg; menos que isso não tem efeito antipsicótico. Existem os comprimidos de 25 mg e o de 100 mg (os dois são usados na emergência). A ampola são 25 mg diluídos em 5 mL, ou seja, são 5 mg/mL. Já a solução (gotas) são 40 mg/mL, ou seja, 40 mg em 20 gotas, ou seja, uma gota possui 2 mg. • Vias: VO, IM (risco de hipotensão). *Obs.: o gosto é bastante ruim. Se você quiser medicar um paciente sem ele saber, não é recomendado o Amplictil por conta do alto teor amargo. Pode ser colocado em alimentos amargos ou azedos (café ou suco de limão) para disfarçar mais o gosto. Muitas pessoas acreditam que por ter o gosto ruim é veneno. As vias de administração são oral (tanto em comprimidos, como em gotas) e intramuscular. No caso de IM, existe um risco sério de hipotensão, precisando às vezes fazer soro ou precisando hidratar o tempo todo via oral. O professor fala que evita ao máximo, usando muito mais o Haldol, o Fenergan (lembrando que o fenergan não substitui o amplictil e o fenergan não deve ser usado sozinho) e o Midazolam IM (será citado posteriormente). QUETIAPINA • Antipsicótico ATÍPICO, ação serotoninérgica (5HT-2A); • Formulações: comprimido de 25 mg, 100 mg, 50 mg (XR), 200 mg (XR), 300 mg (XR); • Via oral. *Importante frisar que todos os remédios citados nessa transcrição são usados na emergência, porém como o professor vai falar sobre a Quetiapina, ele vai comentar sobre o uso no contexto da emergência e do uso em casa a longo prazo usado diariamente. A quetiapina é um antipsicótico atípico, logo sua ação é serotoninérgica. Existe uma ação dopaminérgica indireta. Existem várias formulações da quetiapina; os medicamentos XR – ou LP – são os medicamentos de liberação prolongada (eXtended Release). Existem os comprimidos de 25 e 100 mg, com liberação rápida normal (muito usado na emergência). Uma característica interessante da quetiapina é possuir uma ação ansiolítica, porém não é um benzodiazepínico. Dessa forma, um paciente que não pode usar benzodiazepínico, pode ser substituído pela quetiapina. Pacientes em delirium (lembrar do público idoso → não se faz benzodiazepínico em idoso por conta da grande chance de delirium nesse público → idoso ansioso se faz quetiapina. Lembrando que a quetiapina vai tratar a ansiedade no momento, não funcionando como antidepressivo; tem uma ação de potencializar o antidepressivo, mas sozinha não tem como tratar a ansiedade, assim como Rivotril, Diazepam, entre outros não tratariam). Pacientes hepatopatas – utiliza o lorazepam, que é um benzodiazepínico que pode ser usado em hepatopatas por não possuir metabolização hepática. Paciente com abuso de álcool não se utiliza benzodiazepínico, dando vez para a quetiapina. Gestantes é outro público que se evita ao máximo o uso de benzodiazepínico com meia vida mais longa, pois o bebê vai receber essa substância e quando nascer vai ter uma abstinência por benzodiazepínico. A dose diária é de 25 até 800 mg. Pode até fazer mais que isso, mas os ganhos serão apenas na parte da sedação. Efeito ansiolítico, hipnótico e sedativo é conseguido com doses de 25 até 100 mg. Já entre 200 até 400 mg, é um excelente potencializador de antidepressivo, por exemplo, paciente ansioso em uso de fluoxetina 20 mg 0-2-0 (dois comprimidos depois do almoço → melhor com estômago cheio para evitar azia (pode ser usado depois do café da manhã também, mas nunca de noite porque pode tirar o sono do paciente), mas não está conseguindo o efeito desejado; nessa circunstância o psiquiatra pode combinar com quetiapina de 100 mg, por exemplo, 1-0-2 para potencializar essa fluoxetina. A prescrição não deve começar já com uma dose de 300mg/dia, pois o paciente só vai dormir, sendo o correto começar aos poucos até chegar nessa dose de 200-400 mg para potencializar algum antidepressivo. De 400 até 800 mg ela funciona como estabilizador do humor; ela veio como antipsicótico atípico, mas foi 11 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre descoberto que até sozinha funciona na estabilidade do humor. Em dose alta, de 600 até 800 mg, funciona como antipsicótico, porém um antipsicótico fraco, não sendo um remédio usado para esse fim. *Lembrando que benzodiazepínico pode causar depressão respiratório. Dessa forma, se o paciente já estiver com uma depressão respiratória, só se deve fazer benzodiazepínico se a intenção for intubação. Outro fator importante para destacar é que por ser uma medicação de administração oral, o paciente precisa estar aceitando a medicação. OLANZAPINA • Antipsicótico atípico, ação serotoninérgica (5HT-2A); • Formulações: comprimido de 2,5 mg, 5 mg, 10 mg; • Via oral. Também é um antipsicótico atípico, muito bom e potente. O seu grande problema é causar ganho de peso, nível de 10kg em um mês; para a emergência é muito bom, pois tem um efeito antipsicótico e sedativo bastante satisfatório, porém para uso diário não é legal para todo mundo. No caso de um idoso que está psicótico e emagreceu, olanzapina é uma boa pedida, pois vai tirar o idoso da psicose, deixando mais calmo e com um ganho de peso. Na emergência é usado, normalmente, de 5 a 10 mg, um comprimido via oral. Olanzapina 10mg 02 comprimidos VO (a partir desse semestre deve escrever e falar assim). O ideal é até 20-30mg, que é a dose que faz diariamente, normalmente. Ao perceber que um remédio não está fazendo efeito, normalmente, muda a substância e não continua aumentando a dose (pode ser feito olanza com midazolan, olanza com fenergan). MIDAZOLAM (DORMONID) • Benzodiazepínico (ansiolítico). • Formulações: comprimido 15mg, ampola de 15mg (15mg em 3mL, ou seja, 5mg/mL, disse não ter certeza). • Via: oral, IM, EV (porém não se faz medicação EV na psiquiatria). É um remédio bom, tem uma potência boa e faz efeito muito rápido. Um paciente muito grande que está quebrando tudo: haldol + fenergan + midazolam também, que vai fazê-lo sedar rápido (5min).Normalmente faz IM, se for venoso, faz depressão respiratória. Se for fazer venoso, tem que ser muito devagar e diluído, como o Diazepam para epilepsia. Age rápido, mas também o efeito passa rápido, em 2- 3h o paciente já acorda. Usa o Dormonid também para insônia, paciente ansioso a noite, com insônia inicial, ou seja, aquela pessoa que a dificuldade é apenas pegar no sono. Pode causar dependência por ser benzodiazepínico, mas como a meia vida é curta, normalmente não causa. O ideal é que passe para a pessoa, já pensando em tirar, normalmente usa Dormonid apenas 1 mês. Na emergência é tranquilo, pode fazer. Zolpidem (ansiolítico) é um bom indutor do sono, não é bom para manter, a vantagem dele é que não é benzodiazepínico. As desvantagens são: ao tomar, deve deitar, se não manda mensagem para ex namorado, fala besteira, é uma confusão. O zolpidem não relaxa, só apaga, ou seja, se o paciente estiver ansioso, só apaga, usando então, para pessoas que não estão ansiosas, se estiver ansioso, é melhor benzodiazepínico. CASO CLÍNICO – ROBNEIDE Robneide, 32 anos, chega na emergência contida com cordas, trazida por familiares (genitora, irmão – Robnelson – e primo). Grita com eles, a todo momento: “vocês querem me matar! Mas vocês não vão conseguir, eu vou matar vocês primeiro”. Genitora chorando, traz relatório do CAPS, informando diagnóstico prévio de esquizofrenia. Paciente se soltando da contenção. Ao exame, paciente agitada, alerta, contida em mãos e pés, aparência mal-cuidada, odor ruim, vestes sujas, pouco abordável, muito irritada e ameaçadora. Hipervigil (tensa, olhando para o ambiente o tempo todo), hipotenaz (nós estamos normotenaz, ela não, está viajando sem conseguir manter a atenção), sem comportamento alucinatório no momento. Pensamento: organizado (ela fala que os familiares querem matar ela, mas ela vai matar eles antes. Não 12 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre se deve analisar o conteúdo nesse momento, apenas a organização. As ideias dela estão concatenadas, ou seja, está associando uma coisa com a outra, está tudo articulado), acelerado, delirante (delírio persecutório que a família quer matá-la). • Qual a conduta “definitiva” no caso de Robneide? • Qual abordagem? • Qual medicação? • Qual via? • Internação? • Quais orientações? Robineide nunca tomou nenhum remédio, logo, não se sabe os possíveis efeitos colaterais. Nesse caso dela, o ideal é fazer de outra forma que não VO, já que ela está muito inquieta. • Haldol 5mg (2 ampolas IM) + fenergan 50mg (01 ampola IM) Caso não possa fazer haldol (sensibilidade) e fenergan (alérgica): • Midazolam 15mg (01 ampola IM) ou amplictil 25mg (01 ampola IM) Se for via oral: Olanzapina 10mg (02 comp VO). Inicialmente vamos tentar uma abordagem não coercitiva: Robneide, me conte, o que está acontecendo? Provavelmente ela vai “tocar o terror” e será necessária uma abordagem mais incisiva, coercitiva, fazendo medicação, provavelmente IM porque ela não vai aceitar VO. Internação: se ela melhorar depois da medicação, pode-se pensar em dar alta para ela, revendo a prescrição. Mas, se a mãe prefere que ela continue internada alegando que ela está querendo quebrar tudo todos os dias, será necessário o internamento. Não mantém a dose como se fosse para casa, porque na internação, tem-se maior controle em relação aos efeitos colaterais dela, sendo possível utilizar doses mais elevadas, porque se ela sedar, ter qualquer efeito colateral, é possível controlar, pegando mais pesado na internação. CURIOSIDADE: CASA DE ROBNEIDE Prestar atenção na sujeira, bagunça, acúmulo. Tem um berço, sendo que Robineide tinha 50 anos e não tinha filho, logo, provavelmente tinha um delírio. • Antipsicóticos típicos: haldol, trifluoperazina (stelazine), clorpromazina, levomepromazina (neozine). • Antipsicóticos atípicos: quetiapina, olanzapina, risperidona, aripiprazol. • Antipsicóticos de depósito: haldol decanoato, flufenan depot, invega sustenna. ORIENTAÇÕES • Atividades físicas regulares (30 min, 3-5 vezes por semana). • Exposição ao sol (10-20min por dia). • Lazer. • Higiene do sono. • Hábitos alimentares saudáveis. • Exercícios de respiração. 13 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre CONCEITO LEIGO DE ¨BIPOLARIDADE¨ Isso é ciclotimia e não transtorno do humor bipolar. CONCEITO – THB • Doença CRÔNICA; • Se inicia na juventude; • Cursa com episódios de ELEVAÇÃO ou REBAIXAMENTO e elevação do humor; tem que ter elevação. • Impacto enorme na qualidade de vida do indivíduo: questão da exposição, desinibição sexual, possibilidade maior de gravidez, dívidas. Se o humor subiu em algum momento, é bipolar! Exemplo: se a pessoa teve mil episódios depressivos na vida e 1 episódio de mania, ela é bipolar. O diagnóstico de transtorno bipolar se sobrepõe a depressão! Um episódio de hipomania também configura transtorno bipolar, não precisa ser mania. TIPOS DE EPISÓDIOS • Mania (elevação extrema do humor); • Hipomanina: elevação do humor menor do que a mania (¨fulano é meio soltinho¨); • Episódio depressivo: rebaixamento do humor; • Episódio misto: sintoma de elevação junto com sintomas de perda do humor. QUADRO CLÍNICO • Mania: euforia (felicidade excessiva, exagerada) /disforia (agitação), psicose, desinibição sexual, gastos excessivos, agitação psicomotora, logorreia – fala rápida (mente acelerada - perde o sentido do que tá falando – uma ideia não tem nada a ver com a outra); se tem psicose, é mania. • Hipomania: inadequação, inquietação, loquacidade (pensamento acelerado, porém organizado – mantém uma linha), tom de voz elevado; não existe hipomania com psicose. • Episódio depressivo: humor deprimido, anedonia. Alterações de apetite, sono, vontade. • Episódio misto: oscilações de humor, reatividade + sintomas de elevação ou rebaixamento do humor. Importante: O transtorno esquizoafetivo (característica da esquizofrenia e ados transtornos afetivos) tem episódios de mania (elevação do humor), episódios depressivos e psicose pura – delírios, alucinações (sem alterações do humor). Na psicose maníaca, a psicose é secundária a alterações do humor. • Deliroide → parece delírio, mas não é exatamente. Humor altera → pensamento altera (mania). • Delírio: é uma alteração do pensamento. • Alucinação: é alteração da sensopercepção. CASO CLÍNICO 1 Paciente diz: ¨Sou My Little Pony¨. Principal suspeita diagnóstica: a) Esquizofrenia. b) Hipomania. c) Mania. d) Retardo mental. Sou My Little Pony → delírio (alteração do pensamento), aparência extravagante (no carnaval, seria normal). Se tem delírio ou alucinação, tem psicose, e por isso, não pode ser hipomania, e sim mania. Normalmente, o paciente com transtorno de personalidade histriônico quer seduzir, chamar atenção através da beleza, provavelmente não se vestindo assim, mas poderia ser. Mania e THB na emergência 14 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre Como descartar esquizofrenia nesse caso? Nas esquizo, o afeto da pessoa é mais fechado/distanciado ou embotado (em casos mais graves), normalmente usa roupas mais escuras. APARÊNCIA • Mania: ¨exuberante¨, roupas e maquiagem coloridas, extravagantes e sobrepostas; • Depressão: roupas escuras, manga comprida. *Relatar caso o paciente esteja com odor etílico/alcoolizado, queimado de sol, emagrecido, desidratado. É importante observar também os pés, que quando machucados, pode significar que a pessoa está andando muito de um lugar para o outro. Pode se encaixar em mania. EXAME PSÍQUICO (MANIA) • Aparência extravagante (detalhar): muita roupa? Maquiagem extravagante? • Atitude: comunicativo;• Eufórico ou irritado; • Logorreico ou loquaz, falando alto: a linguagem pode estar tão acelerada que perde o sentido. • Atenção: hipotenaz (possivelmente): o pensamento tá tão acelerado que o paciente não presta atenção no que tá sendo perguntado pra ele. • Afeto sintônico: afeto exagerado. • Psicomotricidade acelerada; • Pensamento: acelerado, delirante, desorganizado (possivelmente); deliroide – por conta da alteração do humor. • Pode apresentar alterações de sensopercepção: paciente em mania pode ouvir ¨você é um Deus¨, ou seja, alucinações auditivas, por exemplo. CASO CLÍNICO II AGHBS, paciente do sexo feminino, 28 anos, chega à emergência trazida por familiares (trazendo seu gato de estimação, chamado ¨Tenebroso¨, vulgo Tetê), devido a quadro de irritabilidade, logorreia, desorganização do pensamento, apragmatismo (fazer coisas sem sentido). Tem diagnóstico de THB, e está em uso de lítio 300mg 1-1-1 e quetiapina 100 mg 1-0-3. Ao exame, AGHBS se encontra abordável, porém desinteressada na consulta, algo irritada, acelerada, inquieta, falando muito com discurso desorganizado, rindo muito (afeto inadequado). Diz que é ¨bonita demais para estar num hospital tão feio¨, e que quer ir embora imediatamente, com Tetê. Primeira conduta: a) Medicar a paciente (VO). b) Contenção mecânica. c) Estreitar relação com AGHBS. d) Medicar a paciente (IM). Quando vai tentar medicar o paciente, tenta primeiro via oral, mas a paciente não está oferecendo risco ao ponto de ter que fazer isso logo. Neste caso, pode tentar estreitar relação com a paciente, mostrando que estar do lado dela e que está ali pra ajudar. Depois disso, faz a medicação. Após tentativa de estreitar relação com AGHBS, ela se mostrou mais irritada, chegando a gritar na consulta. Qual a conduta ideal neste momento? a) Medicar a paciente (tentar VO). b) Contenção mecânica. c) Estreitar relação com AGHBS (tentar novamente). d) Medicar a paciente (IM). Estreitar a relação não será possível, porque já foi tentado uma vez e não deu certo, e isso pode deixá- la mais irritada ainda. Contenção mecânica é quando o paciente está agressivo. Neste caso, a paciente está não-abordável e não colaborativa, mas não está agressiva. Pode tentar fazer uma medicação via oral, pois essa oportunidade ainda não foi dada. Apesar de irritada, AGHB aceitou ser medicada via oral. Baseado APENAS nas informações anteriores, qual a melhor opção? a) Amplictil 25 mg -1 comprimido. b) Haldol 5 mg 02 comprimidos + fenergan 25 mg 01 comprimido. c) Quetiapina 100 mg 02 comprimidos. d) Fenergan 25 mg 02 comprimidos. Sobre o histório medicamentoso, a paciente diz que faz uso de lítio e quetiapina, medicações que podem ser feitas pra paciente agora. A opção mais segura é quetiapina, pois a paciente já fez uso dessa medicação e não teve efeito colateral. Ela faz uso 15 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre da quetiapina 1-0-3 (dose mais concentrada a noite), efeito sedativo. Como ela está na emergência, pode usar 2 ou 3 (dormir) comprimidos. Na emergência, o objetivo é acalmar o paciente e não fazê-lo dormir. As alternativas A e B não estariam errada, a única alternativa que não faz sentido é a letra D. Pra casa, se colocasse um antipsicótico típico, como por exemplo, haldol ou amplictil, o humor da paciente poderia cair, causando uma virada depressiva. Então, neste caso, para uso contínuo, seria melhor deixar com o antipsicótico atípico (quetiapina), o qual ela já estava em uso. PARTE FORA DA AULA Euforia + 3 sintomas ou disforia + 4 sintomas 1. Autoestima inflada ou grandiosidade; 2. Redução da necessidade de sono; 3. Loquacidade maior que o habitual ou pressão para continuar falando; 4. Fuga de ideias ou percepção subjetiva de que os pensamentos estão acelerados; 5. Distratibilidade, conforme relatado ou observado; 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou na escola, seja sexualmente) ou da agitação psicomotora (i.e., atividade sem propósito não dirigida a objetivos); 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos). Se tiver psicose, reforça o diagnóstico, mas a psicose não é necessária. Euforia → patologicamente alegre além da conta. Disforia → humor irritado. Medicamentos já vistos: haloperidol, prometazina (fenergan), amplictil, quetiapina, olanzapina, midazolam. Medicamentos que serão vistos na próxima aula: risperidona, clonazepam (rivotril), diazepam, levomepromazina (neozine) e trifluoperazina (stelazine). REVISÃO DOS MEDICAMENTOS HALOPERIDOL (HALDOL) • O mais usado é o comprimido de 5mg, mas tem o intramuscular também, que usa bastante. Vantagem: mais seguro, não tem muita interação medicamentosa, pode usar na mesma ampola com o Fenergan. Então, ao mesmo tempo que vai tirar o paciente da psicose (antipsicótico), também acalma um pouco. Junto faz o fenergan, que é anti- histamínico que não tem nada a ver com a psiquiatria, mas também tem um efeito interessante, pois vai acalmar um pouco o paciente. Pode sedar e causar muita sonolência e esse não é o nosso objetivo. O objetivo é tirar o paciente daquela angústia e daquele momento de tensão e de preocupação maior. Porém, para alguns pacientes, se isso acontecer, isso não é um problema. Estamos mais seguros se isso acontecer do que se tivéssemos feito uma dose menor e o paciente ainda tivesse correndo algum risco de agitar, agredir a equipe ou se machucar. Então se ele dormir não é um problema não. PROMETAZINA (FENERGAN) Fenergan além do que já foi dito, ele combate alguns efeitos extrapiramidais do Haldol. Lembram que os antipsicóticos típicos causam tremor, rigidez articular, hipersialorreia, marcha em bloco (a pessoa fica parecendo um robozinho, toda travada, não consegue virar o pescoço normalmente). Distonia aguda: complicação aguda dos antipsicóticos, quando a pessoa fica toda travada. Paciente chega parecendo que está tendo um avc, todo duro, parecendo que está com tétano. Causa rigidez muscular muito intensa, geralmente da musculatura cervical, e é uma condição bem dolorosa. Paciente chega com o pescoço todo travado, duro. Dói e limita muito a atividade, o que acaba sendo uma emergência psiquiátrica também. O bom é que se resolve facilmente. O fenergan ajuda só um pouquinho a tratar, a resolver, a dificultar que isso aconteça. Porém temos o Biperideno, um medicamento que pode ser feito via oral e intramuscular que ajuda bastante nisso, resolve em 15 min. 16 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre Exemplo: paciente chegou com suspeita de AVC, toda dura. A ver a prescrição, o caso era típico de distonia aguda, com contração muscular, principalmente cervical, bem intensa e dolorosa e estava em uso de antipsicótico. Foi feito uso de Biperideno intramuscular e em 15 minutos a paciente melhorou. É uma emergência psiquiátrica que pode trazer um grande prejuízo para o paciente, principalmente pelo desconforto da dor, mas não é um caso tão grave e resolve facilmente. AMPLICTIL (CLORPROMAZINA) • Antipsicótico típico, porém tem uma ação como antipsicótica muito fraca. Ele é bom para sedação. Causa bastante sonolência. • Via oral e via intramuscular. • Intramuscular: causa hipotensão. Evita em algumas situações. QUETIAPINA E OLANZAPINA • Antipsicóticos atípicos. • Tem uma ação sedativa legal. • Olanzapina tem uma ação antipsicótica muito boa. • Quetiapina não tem uma ação antipsicótica tão boa quanto a Olanza. É usado pela sedação e pelos outros efeitos, como estabilizar o humor, insônia, bom paramanter o sono. Medicamento seguro em idoso. Prescreve bastante inclusive na emergência psiquiátrica. • Diferença principal da Olanza e Quetiapina: as duas ajudam a induzir o sono, ajudam a manter, são ansiolíticas, funcionam como estabilizadores de humor, vão dar uma sedação ao paciente, porém a Olanzapina é um antipsicótico melhor e a Quetiapina é um antipsicótico fraco, mesmo em dose alta. • O chato dessas medicações é que só tem comprimido, então só tem via oral. MIDAZOLAM • Benzodiazepínico. • Meia vida ultra curta. • Bom para induzir o sono, acalmar o paciente rápido. • Problema: como a meia vida é ultra curta, de 2-3 horas esse efeito tende a passar. • Para iniciar ele é bom! • Comprimido e via intramuscular (ampola). • Lembrando que na psiquiatria se evita o uso de medicação venosa. Faz mais intramuscular. MEDICAMENTOS PARTE II OBS: os mais importantes são a risperidona, clonazepam e Diazepam. Levomepromazina e trifluoperazina é só para saber que existe. RISPERIDONA • Antipsicótico atípico (só que em doses mais altas - a partir de 4-6mg por dia, ele começa a ter uma ação de típico). • Em dose baixa, ela vai atingir os receptores serotoninérgicos e em dose alta vai começar a atingir também os receptores dopaminérgicos. • Risperidona é um atípico que pode ter um efeito colateral semelhante ao típico. Então, pode causar impregnação, hiperprolactinemia, hipersialorreia, galactorreia, ginecomastia (homens), alteração no ciclo menstrual (mulheres). Pode afetar a parte hormonal. • Comprimido de 1,2 e 3 mg. No SUS normalmente tem de 1 e 3 mg, não tem o de 2mg, o que não tem o menor problema. Ex: Risperidona 2mg 1- 0-1, podemos mudar para Risperidona 1mg 1-0- 3, ou Risperidona de 3mg ½-0-1. • Temos também a solução de 1mg/mL. 1 ml = 20 gotas. 20 gotas contêm 1mg. Quero fazer 2mg de manhã e 3mg a noite = Risperidona 1mg/ml, 40 gotas-00-60gotas. (40 gotas de manhã, não toma nada a tarde e 60 gotas de noite). • Idoso = star low, go slow. Começa em dose baixa e aumenta devagar. Com o idoso, podemos começar 0,5mg pela manhã e 1 mg a noite. Se o idoso impregnar, evita biperideno e fenergan. Reduz a dose da risperidona ou troca por outra substância. Pode trocar a risperidona pela Olanzapina. Evitar fazer anti-histamínico, anticolinérgico, pois podem precipitar quadro de delirium. • OBS: OLANZAPINA além de engordar, pode aumentar colesterol e risco de DAC. O ideal é que seja um idoso magrinho e que se faça um acompanhamento com exames - perfil lipídico, 17 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre glicemia (pode causar também resistência periférica a insulina). • Se for uma pessoa com sobrepeso, obesidade, idosos gordinhos, faz Aripiprazol ou Lurasidona. São antipsicóticos atípicos que podem ser usados em pessoas com ganho de peso, glicemia alta, colesterol alto. São atípicos que não afetam normalmente o metabolismo. • Normalmente antipsicóticos atípicos engordam, geram resistência periférica a insulina, dislipidemia. O aripiprazol e lurasidona não causam esses efeitos, porém são muito mais caros, o aripiprazol é em torno de 180mg 10mg. • A Paliperidona não é usada na emergência. CLONAZEPAM (RIVOTRIL) • Benzodiazepínico (ansiolítico, agonista GABA de meia vida longa (12-18h). O clonazepam pode ser muito bom para uma coisa, mas pode ser péssimo para outras. Ele é muito bom quando usado para efeito ansiolítico, pois é muito rápido, atua no momento que o paciente está ansioso e em momentos de crises, podendo cessar ou diminuir os efeitos. • O Rivotril NÃO TRATA, só tapa buracos. A parte ruim do Rivotril, como qualquer benzo, é que acelera processos demenciais, causa dependência, causa tolerância com o uso diário (a mesma dose vai perdendo efeito com o tempo), em doses altas pode acelerar a psicomotricidade (o paciente fica tropega, se for idoso tem risco de queda). • Lembrete: não se usa benzo em idoso. • Formulações: comprimidos de 0,25mg, 0,5mg, 2mg, solução (gotas) 2,5 mg/ml. É usado 2,5mg/mL. Efeito do GABA → Inibitório Efeito do Glutamato → Excitatório Os benzo são agonistas gaba (por isso deixa o paciente tranquilo e sonolento). • Vias: VO ou SL (sublingual comprimido 0,25mg). DIAZEPAM • Benzodiazepínico (ansiolítico, agonista GABA) de meia vida longa (12-18h). Ele é muito parecido com o clonazepam, mesmo mecanismo de ação e função ansiolítica, anticonvulsivante, hipnótico, relaxante muscular e amnésico. • Formulações: comprimidos de 5mg e 10mg, ampola com 10mg (5mg/ml, 2ml). O comprimido de diazepam de 10 mg equivale ao rivotril de 2mg, então o diazepam para desmame não é muito bom. O desmame do Rivotril é melhor porque utiliza a fórmula em gotas para diminuir a dose. Na prática, pode diminuir 1/4 da dose de benzo por semana, porém muitos pacientes não toleram essa redução. Paciente que usava 6mg de Rivotril por dia, e iniciou o processo de desmame: Continua com 4mg de comprimido, as 2mg que faltam muda para a solução de gotas e vai reduzindo uma a duas gotas por semana. O uso do Rivotril se torna melhor que o Diazepam por conta das formulações, Diazepam só tem 5mg ou 10mg, enquanto que o Rivotril possui mais formulações. • Via ORAL ou EV (raramente se faz EV na psiq.). EV é muito usado para crises convulsivas, grande mal, epilepsia, crises convulsivas refratárias. Porém, na psiquiatria não faz! Quando é feito tem que ser bem diluído e devagar, para o paciente não rebaixar. • Não fazer IM, absorção errática: Existe a ampola com 10 mg, mas o paciente pode absorver tudo de vez e rebaixar ou não absorver nada e ter efeito nenhum. LEVOMEPROMAZINA (NEOZINE) • Antipsicótico Típico: Tem a mesma ação dos outros, porém, tem uma ação sedativa muito grande. Então, antes de melhorar a psicose, ele seda. É mais usado para insônia principalmente em gestantes e puérperas. É um medicamento um pouco mais seguro, em poucas gotas o paciente dorme bem. Já para ter efeito antipsicótico teria que ser uma dose alta, mas acaba que o paciente não tolera. • Formulações: cp de 25mg, cp de 100mg, solução a 1% (10mg/ml), solução a 4% (40mg/ml) • Via oral. 18 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre OBS: psicose é contraindicação absoluta de amamentação. Paciente que se encontra somente ansiosa, sem psicose pode amamentar e usar o Neozine em baixa dose. TRIFLUOPERAZINA (STELAZINE) • Antipsicótico Típico (pouco usado). Ele é muito parecido com o Haldol (preferência - mais barato e de fácil acesso). • Formulações: cp de 5mg*, cp de 2mg. • Via Oral. CASO CLÍNICO II AGHBS cuspiu a medição VO. Qual seria a conduta medicamentosa, via IM, mais adequada? (Altura: 1,52m, peso: 48kg, IMC: 20, 8, PA: 90 X 70mmHg, glicemia capilar: 88). A) Amplictil 25mg 01 ampola. Causa hipotensão, e a pressão da paciente já está baixa. Se a pressão estivesse normal poderia fazer. B) Diazepam 10mg 01ampola. Embora o Diazepam possa ser administrado sozinho, IM leva a absorção errática. Se fosse oral estaria certa. C) Haldol 5mg 01 ampola IM + Fenergan 50mg ampola IM. Vai ser uma ampola de cada e não duas ampolas de cada porque a paciente é pequena e magrinha. 1H1F, poderia ser 2H1F, porém a conduta seria mais pesadinha para a paciente. D) Fenergan 50mg 01 ampola. Não faz sozinho. Detalhes do caso: Paciente chegou na emergência acompanhada de familiares com TT? E carregando uma CPU (computador) na mão (apragmatismo), irritada, falando muito, perdendo conteúdo do que estava falando e desorganizada. Foi tentado fazer uma abordagem não coercitiva, e a paciente ficou mais irritada. Foi decidido fazer medição VO, mas paciente cuspiu. Assim, é necessário fazer uma medição IM.19 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre CONCEITO - DEPRESSÃO • Doença CRÔNICA: geralmente, quando o quadro se inicia, a pessoa vai manter durante um período longo. Pode ter só um quadro depressivo na vida, mas isso é a exceção, não a regra. • Se inicia, normalmente, na juventude: até os 25 anos. • Cursa com rebaixamento do HUMOR (humor deprimido): triste, pra baixo, chorosa. • Impacto enorme na qualidade de vida do indivíduo: tem que ser tratada, pois pode evoluir para um desfecho grave – suicídio. • Tristeza X Depressão: a tristeza é um estado natural da vivência humana, porém, quando está muito intensa e/ou crônica, começa a afetar a qualidade de vida do paciente, não sendo mais fisiológica, o que sugere um quadro depressivo. CAUSAS • Fator genético: se a pessoa teve pai e/ou mãe com depressão, a chance é maior. • Fatores hormonais: principalmente as oscilações, justificando talvez, o fato das mulheres serem mais propensas que os homens. • Doenças orgânicas (hipovitaminose – C, D ...): hipotireoidismo, neoplasia, doenças renais crônicas, doenças hepáticas, desnutrição (a própria depressão pode levar a esse quadro). Tem pessoas que morrem na depressão por inanição. • ¨Traumas psicológicos¨: lembrar tanto do trauma psicológico quando físico. Exemplos: abuso, assédio, opressão. • TCE (traumatismo cranioencefálico); • Uso de substâncias psicoativas (SPAs): Importante ressaltar que Cannabis não é de ¨de boa¨. O canabiol é ilegal, mas o THC (uma das substâncias que tem no Cannabis) pode causar muitos sintomas psíquicos. • Uso de medicamentos: corticoides, roacutan, sibutramina ... • Gestação: não seria a causa, mas as alterações hormonais que a mulher tem na gestação e no puerpério podem ser gatilho para os quadros. Observação: depressão psicogênico é depressão causada por trauma. QUADRO CLÍNICO Sintomas maiores: • Humor deprimido; • Anedonia: ausência do prazer. Exemplo: a pessoa gostava de estudar e agora não gosta mais. Tem que ter pelo menos um dos dois (humor deprimido ou anedonia) pra fechar um episódio depressivo. • Alterações do sono (* inversão do ciclo sono- vigília); • Alterações do apetite e peso; • Anergia/prostração; • Hipobulia/avolição. • Humor irritado; • Choro fácil; • Oscilações de humor; • Sentimento de inutilidade/menos-valia; • Prejuízos de atenção, memória e pensamento; • Pensamento de morte/suicida. Quando se trata de doenças psiquiátricas, não se fala de cura. Se a pessoa tem uma depressão que não melhora com nada, ela pode melhorar com eletroconvulsoterapia, psicoterapia. Nestes casos, outra coisa importante, é mudar a terapia medicamentosa, ao invés de usar só antidepressivo, coloca também um estabilizador de humos. Às veze, o paciente tem uma depressão bipolar, e como o humor nunca subiu, não levanta essa suspeita. Pode-se fazer o teste de lítio com olanzapina, e se a pessoa melhorar, entende-se que ela era bipolar, e na verdade, não precisava de um antidepressivo, e sim de um estabilizador do humor. Diferença entre luto e depressão: No luto normal, a pessoa sofre/chora, pode ter dificuldade no trabalho, dependendo da pessoa que a pessoa perdeu (exemplo: pais e filhos podem ser pior). Se a pessoa tá sofrendo demais, perdendo peso, com pensamentos de ¨quero morrer também¨ já não é um luto normal. Hoje, não existe mais um critério temporal em relação ao luto (antes era de pelo menos 6 meses). Transtornos Depressivos na Emergência 20 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre DO SOFRIMENTO AO SUICÍDIO Lembrar que a pessoa não se mata do nada! Ela vem com um sofrimento crônico, até que não aguenta mais. • Sofrimento; • Pensamento de morte: ¨se eu morresse, meu sofrimento acabava¨; é mais grave do que o sofrimento propriamente dito. • Ideação suicida: ̈ eu poderia fazer alguma coisa pra morrer e aliviar o sofrimento¨; • Planejamento suicida: ¨já sei o que fazer para morrer¨. • Tentativa de suicídio: quando a pessoa de fato faz alguma coisa. • Suicídio ativo/suicídio passivo: Ativo → quando a pessoa faz alguma coisa. Passivo → quando ela se expõe ao risco de morte, como por exemplo, atravessar a rua sem olhar para os lados. Observação: os antidepressivos com menor impacto na vida sexual (libido, disfunção erétil) do homem são: bupropriona, mirtazapina, desvenlafaxina, fluvoxamina. DEPRESSÃO NA EMERGÊNCIA • Sofrimento psíquico intenso (pode incluir psicose): a pessoa deprimida vai na emergência por estar em um sofrimento psíquico muito intenso, o qual pode incluir psicose. • Crises de choro; • Pensamentos de morte: se a família pode ter uma vigilância em cima do indivíduo, os psiquiatras ficam mais tranquilos pra não internar. Mas, de forma geral, é um fator que pesa muito na hora da internação, sendo um critério, mas não o único. Existem fatores que dão segurança para o médico, como por exemplo: paciente que faz uso adequado da medicação (se necessário), família orientada, contato com emergência, mecanismos que dificultem a ação. • Ideação suicida. CASO CLÍNICO – SORAIA Soraia, gênero feminino, 62 anos, chega à emergência trazida pela filha, devido a crises de choro intensas e relato de que quer morrer. Tem diagnóstico de depressão há muitos anos, em tratamento com desvenlafaxina 100 mg 1-0-0 e quetiapina 100 mg 0- 0-1. Já tentou suicídio com ingestão de medicamentos, há cerca de 3 anos. Ao exame, paciente bastante chorosa, deprimida, angustiada. Alerta, aparência bem cuidada, inquieta, hipovigil e hipotenaz (prejuízo na atenção), pensamento lógico, sem alterações de curso, conteúdo melancólico, de desvalia, pensamentos de morte. Afeto sintônico (concordante). Das medicações estudadas previamente, qual a melhor opção para Soraia, no momento? a) Fenergan 25 mg 01 comprimido VO. b) Haldol 5 mg 1 ampola + fenergan 50 mg 1 ampola IM. c) Clonazepam 0,25 mg 02 comprimidos sublingual. d) Amplictil 100 mg 01 comprimido via oral. Resumo do caso: Soraia é uma senhora, 62 anos, chegou na emergência querendo morrer, chorando muito. Então, ela precisa melhorar rapidamente dessa situação. Para melhora rápida, as melhores vias de administração são IM e sublingual. Fenergan sozinho não se faz, pois é antialérgico. O amplictil VO seria uma opção, mas a paciente precisa de melhora rápida e a via oral vai demorar de ser absorvida, metabolizada, demorando pra ter o efeito desejado. Além disso, ela está ansiosa e angustiada, mas não está psicótica. O haldol e o fenergan IM até poderia dar um efeito rápido, mas além de ser invasivo, o haldol não é exatamente um ansiolótico. Ansiolítico é Clonazepam. O Clonazepam tem como vantagem ser sublingual. Poderia ser Diazepam via oral, mas o clonazepam sublingual tem efeito mais rápido. Poderia ser Rivotril gotas. Haldol e fenegan seriam úteis se fosse uma depressão mais atípica, se a paciente tivesse um pouca mais irritada, agitada (alteração da psicomotricidade é também um dos critérios para depressão). ALPRAZOLAM • Benzodiazepínico de meia-vida intermediária: 6 (normalmente)-20 h (mais em idosos); • Formulações: 0,25mg, 0,5 mg, 1 mg, 2 mg; • Via oral. Existia a versão sublingual, que era o Frontal SL, porém não existe mais no mercado. Por isso, agora só 21 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre tem via oral, o que é péssimo, pois se o indivíduo não se dá bem com Rivotril sublingual, só vai ter medicação oral. Assim como o Bromazepam, eles possuem uma meia- vida mais curta. Dessa forma, em paciente que tem algum problema no metabolismo renal, pode-se optar por essas duas opções. O paciente não fica sedado muito tempo. Se fosse o Rivotril (clonazepam) ou Diazepam, ele provavelmente teria um riscomaior de quedas, de se machucar nos lugares. BROMAZEPAM • Benzodiazepínico de meia-vida intermediária: 8-20h; • Formulações: 3 e 6mg; • Via oral. LORAZEPAM – LORAX • Benzodiazepínico de meia-vida curta: 6-12 horas: normalmente, a meia-vida ainda é mais curta que a referência, chegando a ser 4-8 horas. • Formulações: 2 mg; • Via oral; • PODE seu usado em hepatopatas. Lembrar que muitos pacientes alcoólatras desenvolvem cirrose; alguns continuam bebendo, outros não. Na hora que eles param de beber, deve- se tratar a abstinência, para não evoluir para um delirium tremens. Nesses casos, pode usar o Lorazepam, sendo essa a sua principal indicação (pacientes com doença hepática, principalmente, cirrose). A desvantagem é que, por ter sua meia0vida ultracurta, faz-se ao menos 3 ou 4 vezes ao dia. O tratamento de abstinência alcóolica em pacientes hepatopatas é feito de 6/6 horas, às vezes até de 4/4h. Em idosos, pode fazer, mas tem um risco no momento. No início tem que ser um benzo (de preferência lorazepam) e depois pode trocar por quetiapina. Os efeitos colaterais são os mesmos para qualquer benzodiazepínico: risco de queda, de dependência, sedação excessiva, tolerância, aceleração de processos demenciais em quem já tem uma tendência. TABELA DE EQUIVALÊNCIA CASO CLÍNICO - SORAIA 1 hora após Soraia ser medicada com clonazepam 0,25mg 02 cp SL, você passa na sala de observação, onde ela está com a filha, e pergunta como Soraia está. Ela, menos chorosa, diz: mais ou menos. Você ouve gritos na sala de espera, e descobre que um paciente está agitado. Qual a melhor conduta INICIAL? a) Medicar Soraia novamente. b) Dar alta para Soraia. c) Ir para a sala de espera, ver o paciente agitado. d) Conversar melhor com Soraia. A alta pra Soraia tá meio precoce sem antes conversar com calma. Possivelmente, será necessário medicar Soraia novamente, no entanto, se tem um paciente agitado, não pode deixar que ele agite os outros. CASO CLÍNICO II Após ouvir gritos, você vai para a sala de espera e encontra um paciente francamente psicótico, alucinando e dizendo que os demônios estão atrás dele. O paciente está nervoso, agitado. Qual a melhor conduta? a) Perguntar para a família sobre história breve e medicamentos do paciente, para já medicá-lo ali mesmo. b) Voltar para medicar Soraia. c) Pedir para família e equipe trazerem o paciente para a sala de medicação/observação. 22 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre d) Abordar o paciente e questionar o motivo de ele ter ido à emergência. É preciso ser rápido, mas não pode medicar o paciente na sala de espera. Neste caso, Soraia vai ficar chateada, mas é preciso pegar o paciente e colocar dentro do hospital, na sala de medicação, para que então seja ofertado os medicamentos. Quando o paciente é trazido à sala de medicação, gritando, Soraia fica muito assustada, nervosa. Soraia diz que está tendo falta de ar, e que vai morrer (está com medo). Qual a melhor conduta para ela, neste momento? a) Medicar Soraia novamente. b) Auscultar a paciente. c) Chamar o SAMU para avaliar a paciente e transferi-la para unidade clínica. d) Conversar melhor com Soraia. Neste caso, Soraia está apresentando uma crise de pânico, que não resolve com ¨calma, fique tranquila¨, sendo necessária a medicação. Depois do comprimido, pode conversar. Qual a melhor medicação para Soraia neste momento? a) Haldol 5 mg 02 ampolas. IM + Fenergan 50 mg 01 ampl. IM. b) Clonazepam solução 2,5 mg/ml 10 gotas VO. c) Midazolam 15 mg uma ampola IM. d) Haldol 5 mg 02 comprimidos VO> Não tá psicótica neste momento, então não seria necessário nem o Haldol nem o Fenergan. 1 ampola de midazolam para uma senhora de 62 anos é muito, devendo ser ½ ou 1/3 da ampola. Lembrar do *Start Low go Slow¨... começou o Rivotril em dose baixa e agora vai aumentar um pouco mais, otimizando a dose do medicamento já feito. Fenergan não é bom para idoso, porque pode precipitar quadros de delirium. Haldol 10mg pra uma idosa é muito, seria melhor 5mg. O clonazepam é mais seguro e mais rápido nessa situação. FRASES QUE NÃO DEVEM SER FALADAS PARA ALGUÉM COM DEPRESSÃO 23 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre INTRODUÇÃO • A ansiedade é uma experiência fisiológica, natural da vida. • Medo, antecipação e preocupação. • Fisiológica X patológica: a diferença entre a ansiedade fisiológica e a patológica é o sofrimento. Naturalmente, a ansiedade deve nos motivar, porém a ansiedade patológica pode levar a paralisação da pessoa. • Pode levar a sintomas físicas, como taquicardia, tremor, entre outros. Normalmente, são pessoas que tem tendência a ter vários medos. TRANSTORNOS ANSIOSOS • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). • Síndrome do Pânico (SP). • Síndrome do Estresse Pós-Traumático (TEPT). • Transtorno de Ansiedade Social (TAS). • Fobias Específicas. Transtorno Obsessivo Compulsivo NÃO é mais um transtorno ansioso, mas será abordado nesta aula por cursar com crises de angústia/ansiedade. O TOC cursa com sintomas ansiosos, mas desde a CID-10 é considerado um transtorno de controle dos impulsos. QUADRO CLÍNICO • Medo, antecipação, preocupação excessiva: é desproporcional ao evento. • Inquietação ou sensação de nervosismo. • Fatigabilidade: tendência a se cansar. • Dificuldade em concentra-se: não há momento de retenção de informação. • Irritabilidade. • Alteração do sono: dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto. Exemplo: paciente ansioso que faz uso de Zolpidem para insônia. O Zolpidem não é ansiolítico, é só um hipnótico, ou seja, apenas induz o sono. Se a pessoa está ansiosa e dorme, ela irá dormir de maneira ansiosa, e mesmo dormindo, estará com a FC mais alta, agitada, se mexe muito. Então, é importante lembrar que Zolpidem não é bom para insônia em ansiosos. Então, nesses casos, os benzodiazepínicos são uma boa escolha, pois além de induzir o sono irão acalmar o paciente. O Patz é o Zolpidem SL de ação muito rápida, o problema é que causa tolerância, dependência, e se a pessoa está acelerada, esse medicamento não vai “desacelerar”, ela continuará agitada. O Zolpidem tem uma meia vida curta, mas temos o Stilnox CR, que é um Zolpidem de liberação prolongada, então ele ajuda a induzir e a manter o sono, mas a substância em si (Zolpidem) não é boa para manter isso. NENHUM ZOLPIDEM É BOM PARA ANSIEDADE. INSÔNIA NO ANSIOSO → ansiolíticos ou quetiapina. Sinais e sintomas físicos: • Tremores. • Dispneia. • Sudorese. • Taquicardia. • Náusea/vômitos. • Parestesias. • ¨Bolo na garganta¨. • Tensão muscular → cefaleia occipital. CASO CLÍNICO I João, 52 anos, chega à emergência de um hospital geral acompanhado da esposa, apresentando dor torácica que irradia para o queixo há 30 minutos (intensidade: 8/10), ¨aperto no peito¨, angústia intensa, palpitações, náuseas e tonturas. Não tem história prévia de adoecimento clínico ou psíquico. Transtornos Ansiosos na Emergência 24 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre Ao exame, João está com fáceis de dor intensa/aguda, extremamente angustiado, com a mão fechada no tórax, leve cianose em extremidades (1+/4+), anictérico, hidratado, suando muito, taquipneico (26ipm), taquicárdio (128 bpm) e com pressão arterial de 170/130 mmHg e saturação de oxigênio 88%. Questão 1: Qual a primeira hipótese diagnóstica que deve ser afastada no caso de João? a) Asma. b) Infarto Agudo do Miocárdio. c) Crise de pânico. d) Crise de ansiedade inespecífica. Neste caso, o paciente teve cianose e queda da saturação, ou seja, observa-se clinicamenteque está havendo uma repercussão. A pressão pode e aumenta no paciente ansioso, assim como a frequência cardíaca e respiratória, portanto, se não houvessem os dados de cianose e queda da saturação, poderia deixar mais na dúvida, podendo ser um caso de crise de pânico. Porém, é um paciente de 52 anos que chegou na emergência e não tem história prévia de adoecimento clínico ou psíquico, então, deve-se ir pelo mais grave, que pode matar o paciente, sendo IAM nesse caso. Além do médico precisa ser rápido, deve levar em consideração primeiro a hipótese mais grave; e não for infarto e ele está ansioso, faz algum medicamento adequado, avaliando as possibilidades. Lembrar que a crise de pânico pode cursar com sintomas iguais aos do infarto, inclusive o punho cerrado no peito. Questão 2: Qual a primeira medicação que deve ser feita para João, mesmo antes de sabermos os resultados dos exames? a) Berotec inalatório. b) AAS sublingual. c) Clonazepam sublingual. d) Diazepam IM. Se o paciente pode estar infartando, o protocolo é usar AAS. O clonazepam sublingual não é errado, mas o principal é o AAS. CRISES/ATAQUES DE PÂNICO (4 OU + SINTOMAS) • Palpitações, coração acelerado, taquicardia. • Sudorese. • Tremores ou abalos. • Sensações de falta de ar ou sufocamento. • Sensações de asfixia. • Dor ou desconforto torácico. • Náusea ou desconforto abdominal. • Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. • Calafrios ou ondas de calor. • Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). • Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciando de si mesmo/ser outra pessoa). • Medo de perder o controle ou ¨enlouquecer¨. • Medo de morrer. SOBRE O CASO CLÍNICO 1 – INTERPRETAÇÃO PARA CRISE DE PÂNICO João, 52 anos, chega à emergência de um hospital geral acompanhado da esposa, apresentando dor torácica que irradia para o queixo há 30 minutos (intensidade: 8/10), “aperto no peito”, angústia intensa, palpitações, náuseas e tonturas. Não tem história prévia de adoecimento clínico ou psíquico. Ao exame, João está com fácies de dor intensa/aguda, extremamente angustiado, com a mão fechada no tórax, leve cianose em extremidades (1+/4+), anictérico, hidratado, suando muito, taquipneico(26irpm), taquicárdico (128 bpm) e com pressão arterial de 170/130 mmHg e saturação de oxigênio de 88%. Resumo: o paciente apresenta 6 critérios para crise do pânico. Aspectos que diminuem chances de ser uma crise de pânico: • Primeiro episódio aos 52 anos: lembrar que as doenças mentais são doenças de jovens. • Cianose. • Saturação: 88%. A hipocondria é um sintoma ansioso, mas pode ser também um transtorno (TAG, TOC, hipocondria ...). 25 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre CASO CLÍNICO 2 Joanne, 19 anos, chega à emergência trazida pela genitora devido a quadro de angústia intensa, ¨aperto no peito¨, falta de ar, medo de morrer. Segundo a paciente, apresenta o quadro há 3 meses, desde que viu seu namorado ser assassinado. Genitora relata início do quadro há mais tempo (mais de 6 meses), desde que Joanne começou o relacionamento com esse namorado, que era traficante. Genitora também relata que Joanne anda muito irritada, e passa longos períodos fora de casa. Ao exame, Joanne está muito chorosa, apresentando tremores, taquipneia, taquicardia, sudorese. FC: 140 bpm, FR: 24 ipm, TA: 140X85mmHg, Sat O2: 98%. Questão 1: Qual a melhor opção medicamentosa, sabendo que Joanne nunca fez uso de medicamentos psicotrópicos? a) Alprazolam 0,5mg 01 cp SL. b) Haldol 5mg 02 amp. EV. c) Clonazepam 2 mg 01 comprimido VO a cada 20 minutos, até melhora do quadro. d) Fenergan 50 mg 02 ampolas IM. O medicamento SL age mais rápido, e como o Alprazolam é benzodiazepínico, vai ajudar no caso, porque a paciente está angustiada. Existe outra opção de benzo, que é o clonazepam, que na dose de 2mg é muito polêmico. Lembrar que Joanne nunca usou medicamentos psicotrópicos, então, esse 2mg iam derrubá-la, e a possibilidade de repetir a cada 20 minutos é mais pesada ainda. Questão 2: Quais outras possíveis causas para o adoecimento de Joanne? Namora um traficante, mudou o comportamento (irritada, passa longos períodos fora de casa e apresenta sintomas desde que começou o namoro → Intoxicação aguda por drogas? Pra ser TEPT, Joanne teria que ter crise de revivência (achar que está vivenciando novamente). Joanne tem uma vida turbulenta. Começou a namorar um traficante e passar muito tempo fora de casa. Será que ela não está se envolvendo com drogas? 26 Beatriz Machado de Almeida Emergências psiquiátricas – 8º semestre INTRODUÇÃO O delirium é diferente do delírio. O delirium é um quadro confusional AGUDO (normalmente abre de forma mais abrupta), secundário a CAUSAS ORGÂNICAS (ocorre mais em idosos - doença hepática, renal, neoplasia, infecção (muito comum); pode ser logo após uma cirurgia), de CURSO FLUTUANTE (oscilação que pode ocorrer no mesmo dia), caracterizado por alterações de: • Nível de consciência; • Atenção; • Pensamento; • Sensopercepção – ver coisas, ouvir vozes; • Cognição; • Orientação; • Psicomotricidade – motricidade pode estar mais acelerada ou mais lentificada. OBS.: no delirium (quadro completo citado acima) pode ter delírio. Quando a pessoa delira por drogas (zolpidem ou LSD) não é delirium. O zolpidem estreita o nível de consciência, então é como se a pessoa estivesse meio dormindo, meio acordada e o LSD também não, é um efeito agudo da droga. EPIDEMIOLOGIA • Muito mais incidente em IDOSO, com doenças crônicas (nefropatias, hepatopatias, neoplasias, AIDS, imunodeficiências em geral); Obs.: foi dito AIDS, não HIV, pois se trata da síndrome mesmo e não da infecção. Pode-se ter a infecção e estar tratando direitinho com o coquetel e aí estará tanto assintomático, quanto sem transmitir o vírus. Então clinicamente será uma pessoa imunocompetente. • Pode acometer mais de 50% de idosos internados, chegando a 70-80% deles em UTI; É uma incidência muito alta. • Taxa de mortalidade em pacientes internados: pode chegar a 22-76% (idosos/não-idosos). É um quadro frequentemente letal, e até por acontecer mais em idoso, a taxa de mortalidade já seja mais alta também. Idosos são pessoas que tem muitas doenças crônicas e quanto mais doenças crônicas mais chance de ter um desfecho ruim. GRAVIDADE • Quadro letal; • Maiores taxas de mortalidade – o paciente tende a ter uma taxa de mortalidade maior do que a pessoa que nunca teve delirium; • Prolonga tempo de hospitalização: é um dos motivos do delirium aumentar a taxa de mortalidade. • Maiores taxas de institucionalização: Institucionalização é basicamente tornar o paciente daquela instituição, não é só internar. É uma internação prolongada, por exemplo, 6 meses, 2 anos ou até mesmo pro resto da vida, até o paciente falecer. Lembrar que em hospitais, principalmente clínico, tem muita infecção/contaminação. Além disso, por serem menos observados, os idosos tem mais meios e maior êxito no suicídio. Então, o delirium tende a maiores taxas de institucionalização porque leva não só aquela quebra do convívio dele com a sociedade, mas também a novos transtornos e episódios. Quanto mais tempo o paciente está internado, mais complicação clínica ele tem. FISIOPATOLOGIA • Indefinida; • Mais aceita: mecanismo anticolinérgico; Então, o biperideno, por exemplo, é um anticolinérgico que é usado para tratar síndrome extrapiramidal e pra tratar impregnação em pacientes. VO ou IM (melhora rápida). O problema é que idoso impregnado não se faz o uso de nada para desimpregnar.
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