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NOTA CIENTÍFICA Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 918-920, jul. 2007 Introdução Em condições naturais e agriculturáveis, as plantas estão freqüentemente expostas ao estresse ambiental. Alguns fatores dessa natureza, como a temperatura do ar, por exemplo, podem se tornar estressantes em poucos minutos; enquanto outros, como conteúdo de água no solo, podem levar dias ou até semanas. Além disso, o estresse desempenha um papel importante na determinação de como o solo limita a distribuição de espécies vegetais, Taiz & Zeiger [1]. A deficiência hídrica é considerada a maior causa de redução na produtividade agrícola em clima tropical. Porém, como existe uma variabilidade na adaptação à seca entre espécies e dentro da espécie, deve-se avaliar o comportamento de diferentes materiais genéticos, em condições de seca, para a recomendação de cultivo de acordo com Blum [2]. Com o milho na região tropical verifica-se que 95% do cultivo são feitos em áreas sujeitas a um déficit hídrico, que causa uma queda de 10% a 50% da produção, em 80% da área cultivada, Bolaños & Edmeades [3]. Um dos mecanismos de adaptação à seca no milho é o acúmulo de solutos osmoticamente ativos na célula, em relação às plantas bem hidratadas. Tal fenômeno, chamado de ajustamento osmótico, permite a manutenção da turgescência, crescimento e fotossíntese, sob baixos valores de potencial hídrico de folha, Morgan [4]. Durante períodos de déficit hídrico, muitas mudanças ocorrem na planta. Essas mudanças dependem da severidade e da duração do estresse, do genótipo, do estádio de desenvolvimento e da natureza do estresse, Kramer [5]. A maioria dessas modificações visa a manter o crescimento e a reprodução da planta em ambientes com limitações na disponibilidade de água. Uma das mais bem documentadas respostas fisiológicas/moleculares ao déficit hídrico em plantas é a habilidade de algumas espécies de ajustar osmoticamente suas células. Durante a seca, plantas superiores ativamente acumulam açúcares, ácidos orgânicos e íons no citosol para diminuir o potencial osmótico e, conseqüentemente, manter o potencial hídrico e o turgor de suas células próximo do nível ótimo, Bray [6]. Acúmulos de prolina foram observados por Aspinall & Paleg [7] em tecidos foliares de diversas espécies quando submetidos às condições de estresse hídrico, calor e salinidade. Como variações genotípicas na capacidade de acumular prolina foram também constatadas, observadores estabeleceram correlações entre estas alterações e os níveis de tolerância ao estresse ambiental. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da desidratação sobre teor de prolina, carboidratos solúveis totais e conteúdo relativo de água em tecidos foliares de duas cultivares de milho [Zea mays L. (cv. Pontinha e cv. Dente de Cavalo)]. Material e métodos O experimento foi conduzido em condições de Casa de Vegetação do Instituto de Ciências Agrária (ICA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) sem controle de condições locais e ambientais. O substrato utilizado para o crescimento das plantas foi constituído de terra preta e esterco de pato curtido na proporção de 3:1, utilizando-se vasos de 2(dois) kg com o substrato citado. As sementes de milho (Zea mays L. cv. Pontinha e cv. Dente de Cavalo), foram fornecidas pela Universidade Federal Rural da Amazônia. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado em fatorial tipo 2 x 2 (condições hídricas x cultivares) com 6 repetições, totalizando 24 parcelas. Foram utilizados, um tratamento controle (mantido na capacidade de campo) e um tratamento com estresse hídrico de 5(cinco) dias. O desbaste foi feito 14 dias após a germinação das sementes, deixando-se 2(duas) plantas por vaso. As plantas ficaram em Casa de Vegetação durante 40(quarenta) dias, incluindo os cinco dias de estresse. Após esse período, as mesmas foram levadas para o laboratório de Fisiologia Vegetal da UFRA, onde foram realizadas as análises dos teores de prolina segundo o método de Bates, Waldren e Teare [8], os níveis de carboidratos solúveis totais foram obtidos de acordo com Dubois, Gilles, Hamilton, Rebers, Smith [9] e o conteúdo relativo de água pelo método de Slavick [10]. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos foram comparadas por Tukey ao nível de 5% de probabilidade segundo Gomes [11]. Resultados e Discussão Houve diferença significativa entre os tratamentos, no Conteúdo Relativo de Água, Teor de Prolina e Carboidratos Solúveis Totais em Folhas de Duas Cultivares de Milho submetidas a Estresse Hídrico Patrícia Surama Parise Maia1, Cândido Ferreira de Oliveira Neto1, Diana da Silva Castro2, Joze Melisa Nunes de Freitas3, Allan Klynger da Silva Lobato3e Roberto Cezar Lobo da Costa4 ________________ 1. Mestrando em Biologia Vegetal Tropical, UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil. E-mail: neto.fsvegetal@hotmail.com. 2. Acadêmica do Curso de Agronomia. UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil 3. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UFRA, UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil. 4. Professor e pesquisador da UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 918-920, jul. 2007 919 qual verificou-se um incremento nos teores de prolina nas folhas para ambas cultivares (Figura 1), os teores de prolina na cultivar dente de cavalo variaram e 0,179 μmol de prolina/g MS nas túrgidas a 0,591 μmol de prolina/g MS nas plantas sob estresse hídrico, revelando um acréscimo de 230,17%, enquanto que na cultivar pontinha, o acréscimo foi de 103,13%, variando de 0,192 μmol de prolina/ g MS no tratamento controle para 0,390 μmol de prolina/g MS nas plantas sob déficit hídrico (Tabela 1). Resultados semelhantes foram obtidos com trigo por Strauss & Agenbag, [12]. O aumento dos teores de prolina nas plantas de trigo sob déficit hídrico poderia ser atribuído ao aumento das atividades das enzimas envolvidas na síntese deste aminoácido Kandpal & Rao [13] ou à inibição da oxidação da prolina Kiyosue, Yoshiba, yamaguchi-shinozaki, Shinozaki [14]. Este experimento demonstrou que a diminuição do potencial hídrico da folha aumentou os níveis de prolina devido o mesmo ter a função de ajustador osmótico em plantas sob desidratação, segundo Costa [15]. O acréscimo deste aminoácido, está relacionado com a diminuição conteúdo relativo de água nos tecidos foliares (figura 3), confrontando os resultados verificou- se que a variedade de milho dente de cavalo obteve maior acúmulo de prolina em suas folhas quando comparada a variedade pontinha, este aumento nos níveis de prolina (Figura 1) ocorreu, provavelmente, através do aumento da atividade e/ou concentração de enzima P- 5CR e/ou diminuição da degradação mitocondrial desse iminoácido, Costa [15]. Nos carboidratos solúveis totais verificou-se a elevação de sua concentração nas folhas, o déficit hídrico de cinco dias aumentou significativamente os teores de carboidratos solúveis totais para ambas variedades, no qual os teores de carboidratos solúveis totais variaram na cultivar dente de cavalo de 0,754 mmol de GLU/ g MS nas túrgidas a 0,923 mmol de GLU/ g MS nas plantas sob estresse hídrico, portanto, houve um acréscimo de 80,74%. Nos teores de carboidratos solúveis totais da variedade Pontinha o aumento foi de 76,51% (Figura 2), tal aumento está relacionado à finalidade de se manter o nível de água da folha e induzir um ajustamento osmótico na planta, visando o equilíbrio osmótico da célula, Kerbauy [16]. Com relação ao conteúdo relativo de água observa-se que as cultivares mostraram comportamento semelhante (Figura 3), confrontando os resultados verificou-se que a variedade de milho Dente de Cavalo obteve maior acúmulo de carboidratosem suas folhas. Isto se deve ao fato de que com a diminuição do nível de água do solo, a planta responde osmoticamente com o aumento dos teores desses carboidratos, no sentido de se adaptar ou se ajustar ao ambiente com falta de água, concordando com Bray [17], durante a seca. Plantas adaptadas acumulam açúcares, ácidos orgânicos e íons no citosol para diminuir o potencial osmótico e, conseqüentemente, manter o potencial hídrico e o turgor de suas células próximo do nível ótimo, Bray [17]. Referências [1] TAIZ, L.; ZEIGER, E. 2004. Fisiologia Vegetal, Editora ARTMED, 3ªed, Porto Alegre/RS. [2] BLUM, A. 1997. Crop responses to drought and the interpretation of adaptation. In: BELHASSEN, E. . Drought tolerance in higher plants. Genetical, physiological and molecular biological analysis. Dordrecht: Kluwer Academic. p.57-70. [3] BOLAÑOS, J.; EDMEADES, G.O. 1995. Maize breeding for drought tolerance. In: International Symposium on Environmental Stress. Belo Horizonte. Maize in perspective: proceedings. Sete Lagoas: Embrapa-CNPMS / Ciudad del México: CIMMYT/UNDP. p.397-431. [4] MORGAN, J.M. 1984. Osmoregulation and water stress in higher plants. Annual Review of Plant Physiology, Bethesda, v.35, p.299-319. [5] KRAMER, P. J. 1983. Water relations of plants. Academic Press, Orlando, FL. [6] BRAY, E. A. 1997. Plant responses to water deficit. Trends in Plant Science. 2:48-54. [7] ASPINALL, D., PALEG, L. G. 1981. Proline accumulation: Physiologicala spectsI.n : PALEG, L. G., ASPINAL, D. The Physiology and Biochemistry of Drought Resistancein Plants. Australia: Academic Press. p. 206-241. [8] BATES, L. S., WALDREN, R. P. E TEARE, I. D. 1973. Rapid determination of free proline for water-stress studies. Short communication. Plant and Soil. V. 39: 205-207. [9] DUBOIS, M. GILLES, K. A. , HAMILTON, J. K. , REBERS, P. A. , SMITH, F. 1956. Colorimetric method for determination of sugars and related substances. Analitical Chemistry. V. 28, n.3, p. 350-356. [10] SLAVIK, B. 1974. 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Cultivar Tratamento Variáveis Carboidratos (mmol de GLU/ g MS ) Prolina (μmol/ g MS) CRA(%) Pontinha Controle 0,40 Aa 0,19 Aa 90,3 A* Estresse 0,75 Bb 0,39 Bb 64,1 B* Dente de cavalo Controle 0,52 Aa 0,18 Aa 91,0 A* Estresse 0,92 Ba 0,59 Ba 60,6 B* CV(%) 2,26 2,75 3,80 Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas na coluna e minúsculas na linha não diferem significativamente entre si, com relação as mesmas variáveis, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. * significa que não houve diferença significativa entre os tratamentos. Teor de Prolina 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 Milho Pontinha Milho Dente de Cavalo m m ol P ro /g M S Controle Estresse Figura 1. Teor de prolina em folhas milho [Zea mays L. (cv. Pontinha e cv. Dente de Cavalo)] submetidas a estresse hídrico durante 5 (cinco) dias. Teor de Carboidratos Solúveis Totais 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 Milho- pontinha Milho dente de cavalo m m ol d e G L U / g M S Controle Estresse Figura 2. Teor de carboidratos solúveis totais de folhas milho [Zea mays L. (cv. Pontinha e cv. Dente de Cavalo)] submetidas à estresse hídrico durante 5 (cinco) dias. Conteúdo Relativo de Água 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Milho- pontinha Milho dente de cavalo C R A (% ) Controle Estresse Figura 3. Conteúdo relativo de água em folhas milho [Zea mays L. (cv. Pontinha e cv. Dente de Cavalo)] submetidas a estresse hídrico durante 5 (cinco) dias.
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