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O ser humano: entre a vida e a morte Visão da Psicologia Analítica

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O ser humano: entre a vida e a morte
Visão da Psicologia Analítica
KOVÁCS, M. J. Morte e Desenvolvimento Humano. Cap. 7
O processo de Individuação
A consciência se desenvolve sobretudo a partir de polarizações entre opostos, isto é, da vivência do conflito.
A oposição básica entre a consciência e inconsciente, é concebido na psicologia analítica como inato, pleno de energia e constituindo um enorme manancial de possibilidades latentes.
A partir das percepções sensoriais o bebê desenvolve seu ego e a partir daí sua identidade. 
A criança no seu desenvolvimento se identifica com diversos personagens, reais ou não. Criando e ligando, por tanto, representações simbólicas do inconsciente.
Muitos distúrbios no sono das crianças podem ser entendidos como grande conflito no inconsciente, relacionado a perca da identidade ou da vida. 
Outra maneira de se lidar com a questão da morte é através da dimensão da natureza, que a apresenta com frequência em nossas vidas: o animal que morre, a planta que murcha...
A adolescência, coloca-se com muita ênfase a questão da individualidade: "Quem sou eu? Onde estão os meus limites?"
Quando os limites são testados no corpo físico pode acabar em tragédias. 
Na adolescência ocorrem também grandes períodos de depressão e apatia. Muitas mortes do que representa o velho precisa acontecer para vir o novo. 
Jung equipara a vida ao percurso do sol, com ápice e declínio. 
Jung enfatiza o momento do meio-dia, ou a metade da vida, que denomina metanóia, como constituindo a ocasião de a consciência abrir-se para o outro lado.
O corpo declina, porém, a consciência se encontra em constante expansão. 
A consciência vai-se fortalecendo, estruturando-se mais e mais, ampliando- se, mas não chega a dar conta da totalidade psíquica. Vivencia momentos em que se sente idêntica a ela, todo-poderosa, e outros em que se sente ínfima e frágil. E é entre esses dois extremos que ela se situa dinamicamente, sempre testando e procurando ampliar seus limites.
Na infância a consciência acha-se forte e poderosa. 
Na metanoia, há inversão dos valores e a vivência da morte do ego. O ego passa a reconhecer e a se preocupar com os aspectos que ainda não desenvolveu, aos quais ainda não se dedicou. 
A partir dessa vivência, pode-se construir um novo centro da personalidade, entre o ego e o self. É a descoberta do inconsciente não mais como um dragão ameaçador, mas como um interlocutor. 
Na segunda metade da vida a regulação psíquica pode se dar pelo diálogo mais fluente entre consciência e inconsciente. Contudo podem haver alguns desvios, como pessoas que tem uma idade e agem de forma que aparentem mais jovens. 
A neurose consiste numa alienação da própria natureza. E tão neurótico o idoso que não se preocupa com a morte quanto o jovem que reprime suas fantasias sobre o futuro. 
O único caminho criativo é reconhecer os opostos e suportá-los, apesar de advir então um grande sofrimento.
Pilger- Holdt estuda sobre o símbolo do desmembramento, que é um dos desvios possíveis no processo de individuação, na qual o indivíduo fica estagnado. 
Jaffé comenta que o processo de individuação não é somente uma escola de vida, mas também uma preparação para a morte.
Na velhice a contemplação, a reflexão e as imagens interiores vão assumindo importância crescente. 
Objetivamente, o que a consciência pensa a respeito da morte é indiferente. Mas subjetivamente a diferença é enorme, podendo significar saúde ou patologia, sentido de vida ou um vazio insuportável.
A alquimia e a Mortificatio 
A alquimia parece ter-se originado no Egito Antigo, mas seu auge foi na Idade Média. Contudo, foi reprimida por longos anos. 
Utilizava-se de muitas imagens e fórmulas, remetendo sempre ao nível objetivo e ao subjetivo.
Edinger descreve sete operações alquímicas, que aplica também ao processo psicoterápico. Uma delas, a que se dá pela morte, é a mortificatio.
Mortificatio - pode ser considerada o fim do corpo, mas também remete a uma transformação sentida como enorme, da personalidade inteira e propiciadora da vivência do renascimento num novo modo de ser. 
A obra alquímica tem três estágios: nigredo, albedo e nmbedo. O nigredo, ou enegrecer, pertence à operação denominada mortificado, ou putrefactio, que se relaciona com escuridão, derrota, tortura, mutilação e morte.
Em termos psicológicos, mortificatio diz respeito à sombra.
O ego sendo um centro autônomo uma hora terá que encarar a decomposição e morte. 
Edinger comenta que talvez o primeiro par de opostos percebido pela consciência do homem primitivo tenha sido o contraste entre o vivo e o morto. 
Em resumo: Um sacrifício das perspectivas pessoais é necessário a cada avanço, e este é vivido como uma morte.
Sonhos Sobre a Morte e Próximos da Morte 
Os sonhos são produtos naturais e espontâneos da psique e mantêm grande independência em relação à consciência - prestam-se, portanto, a investigações sobre o inconsciente e a natureza psíquica do ser humano. 
A partir da meia-idade as pessoas, de acordo com Marie-Louise von Franz, sonham mais. E esses sonhos acabam apontando diversas vezes a morte. 
Os sonhos próximos a morte são carregados de símbolos relacionados a transformação, purificação ou até reencarnação.
Jung acreditava na reencarnação quando a pessoa ainda tinha desejos para realizar na terra. Relacionando o conceito de reencarnação ao de carma. 
 Alguns temas perto da morte são frequentes como: um homem incompleto, pela metade; casamento sagrado; alusões a barreiras separando mundo dos vivos e dos mortos. 
Experiências entre a Vida e a Morte
Após uma experiência de quase morte, Jung escreve alguns textos. Nestes textos Jung afirma que o espírito, ao contrário da capacidade de percepção, perdura além da morte.
Pag 123 até 124 – História dos sonhos de Jung e sua trajetória até a morte. 
O autor comenta que as relações afetivas são sempre carregadas de projeções, juízos de valor, desejos e exigências, e que é preciso se desprender de tudo isso para se chegar ao conhecimento objetivo e ao mistério central da coniunctio.
Outros relatos de pessoas que estiveram mortas e retornaram a vida, é sempre relacionado a vivência de uma espécie de cisão. O Eu parece se revitalizar e, embora não tenha uma forma corpórea, continua perceptível para si próprio, às vezes como um corpo astral. Outros elementos como luz, música, voz, seres luminosos, retrospectiva da vida. 
Os sonhos geralmente favorecem o preparo para a morte, as imagens das experiências no estado intermediário parecem ser relevantes sobretudo em relação à cura do corpo.
Para Jung, a natureza da psique parece ser transespacial e transtemporal. 
O arquétipo, da maneira como acabou sendo concebido por Jung, é um princípio que forma o mundo, organiza as relações psicofísicas e é também capaz de dispor dos atos criativos, independentemente do tempo. 
E nos permite compreender a sincronicidade dos eventos nas visões da morte como um ato criativo espontâneo, detonado pelo medo profundo diante da ameaça de morrer.
Um fator significativo para a cura é que os símbolos vivenciados nas visões da morte têm um caráter universal e coletivo, girando ao redor da questão da morte, sem ligação pessoal com o paciente. São imagens que trazem um sentido de liberdade e integrando opostos.
O Livro dos Mortos do Antigo Egito
Os egípcios nos apresentam uma interessante concepção de vida e de morte. 
Eles eram um povo concreto e materialista e seu livro dos mortos contém uma grande variedade de imagens universais.
O livro dos mortos do Antigo Egito contém versículos, rezas, encantações, fórmulas mágicas e um rol de oferendas a serem levadas. 
Pág. 130 e 131 – Relato do mito de Osiris e Isis. Pág. 132 explicação do mito.
Para os egípcios o corpo físico era objeto de contemplação e meditação
A alma e o coração deviam ir se separando do corpo e dos desejos, abandonando as imagens que os representavam, para transcendê-los em imagens da alma e do espírito.
O Livro Tibetano dos Mortos
O Livro tibetano dos mortos, ou Bardo Thódol, consiste numa série de instruçõespara os mortos e moribundos, a fim de ajudá-los a ultrapassar o Bardo - período intermediário, de quarenta e nove dias após a morte, que culmina com a liberação e transformação em luz, ou com a reencarnação. 
O livro divide-se em três partes: 
· Chikhai Bardo, que descreve a situação psíquica no momento da morte; 
· Chiinyid Bardo, que trata do estado onírico e das ilusões cármicas que se dão logo após a morte; 
· Sidpa Bardo, que apresenta o estabelecimento do instinto de nascimento e dos eventos pré-natais. 
O objetivo último dos tibetanos era evitar a reencarnação, isto é, a entrada no Sidpa Bardo.
O livro tibetano dos mortos parte da crença na supratemporalidade da alma e da necessidade que têm os vivos de fazer algo em relação aos mortos. Por isso os vivos devem ler ao morto para ajudá-lo nas passagens. 
O estado Sidpa se caracteriza pela ferocidade do carma, aborda o inconsciente apenas com pressupostos biológicos.
Sidpa Bardo consiste no desejo de viver e renascer. Isto significa uma morte simbólica. 
O estado Chiinyid equivale a uma psicose deliberadamente induzida.
Pág. 134, 135 – Explicam melhor estes estados
Concluindo
Jung diz que a questão decisiva para o homem é saber se ele se refere ou não ao infinito. 
Se nos consideramos relacionados a ele, assumimos certos valores, desejos e atitudes, discriminando o que entendemos como essencial ou como futilidade, e nos conectamos a um sentido para a vida.
O homem deve valorizar as imagens simbólicas e não negar a morte. Assim, poderá vivenciar o campo onde ocorrem as transformações. 
A expressão "Morri e nasci de novo!" é comum, acompanhando momentos de grandes mudanças. De acordo com o autor, as civilizações que possuíam uma mitologia específica sobre a morte, e rituais criativos para vivenciá-la, apresentavam menos defesas psicológicas.
Os enterros muitas vezes se constituem apenas em formas rápidas e eficientes de dar um fim ao corpo. 
O período de luto é reduzido, os vivos logo reassumem suas atividades cotidianas da maneira habitual. 
Desta maneira, perdemos a oportunidade de elaborar criativamente o símbolo da morte em cada um de nós. E o que acontece é a perda de conexão com a totalidade.
O sofrimento mobiliza a energia psíquica, criando uma condição favorável à ação arquetípica e à reorganização da personalidade. 
Existe a possibilidade de se vivenciar o símbolo da morte de maneira criativa. O problema é que ele se encontra cercado de defesas também de nível cultural.
A questão do corpo também merece destaque. Mesmo considerando-o uma espécie de redutor da intensidade psíquica, reconhecemos que a consciência se apoia nele de maneira fundamental e necessária ao longo do processo de individuação, desde os primeiros momentos.
O corpo pode ser "ouvido", constituindo um rico canal de expressão psíquica, uma fonte de símbolos.
Atualmente, concebe-se o corpo como algo externo à psique, a ser moldado e treinado. Mas, num sentido mais profundo, corpo e psique não podem ser dissociados - o corpo é também a psique. Ao tentar constituir um corpo de conhecimentos que não dissocie as polaridades sujeito e objeto, a psicologia analítica se aproxima de todas as artes, ciências, religiões, enfim, das criações do ser humano.

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